Tese - Cultura de Amendoim Universidade Tecnica de Lisboa

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A Cultura do Amendoim, Arachis hypogaea L.

, na região do
Ribatejo.
Estudo preliminar

Inês Páscoa Paquete

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em


Engenharia Agronómica

Orientador: Doutora Maria Helena Guimarães de Almeida


Co-Orientador: Licenciada Inês Carvalho Soares Franco de Sousa Vinagre

Júri:
Presidente - Doutor Ernesto José de Melo Pestana de Vasconcelos, Professor Catedrático
do Instituto Superior de Agronomia
Vogais - Doutor Pedro Jorge Cravo Aguiar Pinto, Professor Catedrático do Instituto Superior
de Agronomia
- Doutora Maria Helena Guimarães de Almeida, Professora Auxiliar do Instituto
Superior de Agronomia
- Doutora Maria José Brito Monteiro da Silva Proença Santos, Investigadora Auxiliar
do Instituto de Investigação Científica Tropical
- Licenciada Inês Carvalho Soares Franco de Sousa Vinagre, na qualidade de
especialista

Lisboa, 2012
Agradecimentos
À professora Maria Helena Guimarães de Almeida, pela orientação deste trabalho,
dedicação, ajuda, paciência e disponibilidade que sempre demonstrou.

À engenheira Inês Vinagre, pelo apoio no trabalho experimental, pela amizade e


disponibilidade evidenciada.

Em memória dos meus avós, “vó” Aurora, “vovô” Paquete e avô Manel pelo orgulho que
sempre demonstraram ter por mim.

Aos meus pais, Fátima e Augusto, por todo o amor, apoio, disponibilidade, paciência e
dedicação, que me deram em todo o meu percurso escolar, sem eles nada tinha sido
realizado.

Ao meu irmão Tiago, pelo amor e pela força, que me tem dado desde de sempre, e por
simplesmente ser quem é.

Aos meus tios, Silvina e João Páscoa, por todo o carinho e disponibilidade, que sempre
tiveram para comigo.

Aos meus primos Renato, Mariana e Rita, pela amizade e todo o afecto que têm por mim.

À avó Bia, pelo orgulho e afecto que tem para comigo.

À TORRIBA S.A., por me ter possibilitado a realização deste estágio.

Ao meu colega de estágio Nuno Oliveira, por todo o apoio e amizade, que demonstrou ao
longo do tempo em que partilhámos o mesmo local de trabalho, o meu muito obrigado.

A todos os colegas da TORRIBA S.A., pelo apoio que demonstraram ao longo do meu
estágio.

Aos meus amigos, que sempre estiveram comigo, que ouviram os meus desabafos e que
tinham sempre uma palavra amiga, que me incentivaram e nunca me deixaram desistir,
pelos bons momentos que partilhámos juntos.

A todos os meus colegas que de alguma forma, contribuíram para o meu percurso no ISA.

i
Resumo
Neste trabalho faz-se o estudo preliminar sobre o desenvolvimento e produtividade da
cultura do amendoim, em sistema industrial, no Ribatejo, utilizando uma variedade tipo
runner, semeada em 17 parcelas.

As infestantes foram um dos problemas mais graves, muito devido à falta de homologação
de fitofármacos para a cultura em Portugal. Destacaram-se Amaranthus albus L.,
Amaranthus retroflexus L., Datura stramonium L. e Cyperus rotundus L.

O esquema de rega mais adequado envolveu regas intensas (aprox. 555 mm/ciclo) cada 2
dias.

A avaliação do grau de maturação através da cor do exocarpo da vagem após raspagem


bem como as enormes máquinas de arranque e colheita das plantas não são adequados
para o nosso país.

A produtividade da cultura variou entre 0,2 e 5 t/ha. A Análise em Componentes Principais


mostrou que a data de sementeira foi o principal condicionante (r = -0,62). O atraso da
sementeira implicou colheitas na época das chuvas, com perdas de vagens. As infestantes
também afectaram a produtividade.

A data ideal de sementeira (produtividade> 3,5 t/ha, ciclo de ≈150 dias) situou-se entre 29
de Abril e 16 de Maio.

Ensaios futuros deverão situar a data de sementeira atendendo às condições normais de


precipitação da região e controlar mais eficazmente as infestantes.

Palavras-chave: Amendoim, Arachis hypogaea L., Cultura, Condições edáfo-climáticas,


Produtividade, Ribatejo.

ii
Abstract
This work is a preliminary study on the development and yield of the peanut crop in an
adaptation experiment at industrial scale, run in 17 plots in Ribatejo, using a variety type
runner.

The weeds were one of the most serious problems to solve, as a result of the absence of
register pesticides in Portugal. The most important species were Amaranthus albus L.,
Amaranthus retroflexus L., Datura stramonium L. and Cyperus rotundus L.

The most appropriate irrigation scheme involving intense irrigation (about 555 mm / cycle)
every 2 days. The evaluation of the degree of maturity by the color of the pod exocarpo after
scaling and the huge machines used to harvesting the crop are not suitable for our country
without adaptation

Crop yield ranged from 0.2 to 5 t / ha. A Principal Component Analysis showed that the
planting date was the main yield determining factor (r = -0.62). The planting delay resulted
that harvest occurred during the rainy season with losses of pods. Weeds also affect yield.
The ideal planting date (yield> 3.5 t / ha, cycle of ≈ 150 days) was between April 29 and May
16.

Future trials should be able to locate more precisely the sowing date in view of the normal
rainfall in the region and will also be able to control weeds more effectively.

Keywords: Peanuts, Arachis hypogaea L., Crop, Soil and climatic conditions, yield, Ribatejo.

iii
Extended Abstract
The peanut is a crop of great economic importance. The idea to experiment this crop in
Portugal is strongly connected with the weather conditions which are compatible with the
ones needed by the crop. In connection this has been in the pas a common crop in family
agriculture in Portugal.

This work is a preliminary study of the development conditions and crop productivity
achieved in the Ribatejo region.

The different stages of crop development were followed in 17 different experimental sites,
recording the following parameters: plant length, pedicel number, pod number and the
starting dates of each developmental stage, germination, flowering, pedicel training and pod
formation. Recorded were also the watering schemes, crop enemies of culture and
phytosanitary treatments.

The variety used was of prostrate growth, type runner, that was seeded with the density of
about 194 000 seeds / ha.

The experiment duration was from 29 April and 29 November. Crop cycle varied among the
different parcels between 132 and 182 days.

Plant emergence, flowering, pedicel formation and frutification occurred, on average, about
9, 33, 53 and 63 days after sowing. Comparing this data with data available from the U.S.,
the major difference found were at the beginning of frutification due to the fact plants had
suffered water stress.

The low average rate of emergence, 61.7% (in the U.S. is 85-95%) was due to high rainfall
and low temperatures during the sowing period but also to the presence of damaged or
rotten seed (we found values of 9.5%).

One of the most serious problems encountered was the abundance of weeds. We identified
11 species, but the most abundant species were Amaranthus albus L. (pigweed),
Amaranthus retroflexus L. (pigweed), Datura stramonium L. (jimsonweed) and Cyperus
rotundus L. (nutsedge). Herbicide application was not, however, effectual what led to
situations of competition with culture.

Diseases arising pointed to Rhizoctonia, Stem rot and Sclerotinia blight, who attacked with
great intensity in certain areas which affected crop yield, although not as severely as weeds
because they caused problems only from the middle of the cycle. Leaf spot, which a disease
quite common in peanut was also identified, , but has not affected crop development.

iv
Pests found were the corn earworm (Heliothis zea (Boddie)), the Black cutworm (Agrotis
ipsilon (Hufganel)), aphids (aphis spp.), thrips and Rednecked peanutworm (Stegasta
bosquella (Chambers)), but without much relevance since they did not affect the crop
development or yield.

The absence of approved specific pesticides for this crop in Portugal is a weak point as
compared to the USA, where a peanut grower has many active substances approved for
use.

The irrigation scheme, similar to the one used in the state of South Carolina, totaled about
555 mm / ha distributed among different crop phases according to a plan that does not fit
well the conditions of the study area. It was found, for example that the quantity of water
supplied to the plant at the start of pod formation was deficient, resulting in plant water
stress. The water was still provided only to the first few centimeters of soil, not reaching
greater depths, where the roots have a higher absorption capacity. This led to an early
frutification, with two periods of intense fructification, instead of having just one; as well as
seed abortion. The change of the watering schedule, to an irrigation frequency of two days
keeping however the overall weekly amount, proved to have a positive effect.

Harvest time was determined assessing the degree of maturation, using the method of
scraping the pod exocarpo. This method, however, has shown to be ill-suited in our country
because, during maturation, the pods never reached the colors dark brown and black
described in the method. Harvesting were performed with specific peanut combine
harvesters that are used in the U.S.; their dimensions exceed those permitted by law,
according to the Institute of mobility and land transport.

Crop yields ranged between 0.2 and 5 t / ha, in the 17 experimental sites, reaching values up
to 3.52 t / ha. The evaluation of the factors that have limited productivity was carried using
Principal Components Analysis, taking into account the following variables: plant length (cm),
pedicel number , pod number , cycle length (days), planting date and yield ( t / ha). Planting
date was the main variable which affected the productivity of the plots (r = -0.62). In most
plots, seed was delayed due to bad weather conditions shortening the crop duration and
delaying harvest into the rainy season. The waterlogged soil hindered or prevented
harvesting operation. The most favorable crop cycle was about 150 days.

Among other factors affecting productivity, the most striking were weeds along with plant
losses during harvest. Sloppy terrain and diseases where also to consider.

Due to these reasons, the linear regression equation describing the relationship between
planting date and productivity, can predict the date of sowing that optimizes production.
However, high productivity values obtained in the plots seeded earlier seem to indicate that
v
for soil and climatic conditions like the ones in this experiment, the ideal planting date (which
led to yield over 3.5 t / ha) was until 17 days after planting began. However, due to the need
of higher soil temperatures (around 18 º C), this has only happened from April 29 until May
16.

In future trials in the same region it is important to predict more accurately the best planting
date, given the normal rainfall in the region, and overcome, the deleterious effect of weeds.

Keywords: Peanuts, Arachis hypogaea L., Crop, Soil and climatic conditions, yield, Ribatejo.

vi
Índice
Agradecimentos ...................................................................................................................... i

Resumo .................................................................................................................................. ii

Abstract ................................................................................................................................. iii

Extended Abstract ................................................................................................................. iv

Índice ................................................................................................................................... vii

Índice de Quadros ................................................................................................................. ix

Índice de Figuras .................................................................................................................... x

Lista de Siglas e Abreviaturas .............................................................................................. xii

1. Introdução e Objectivos ..................................................................................................... 1

2. Revisão Bibliográfica ......................................................................................................... 2

2.1 - Origem e expansão ................................................................................................... 2


2.2 - Produção e comércio ................................................................................................. 2
2.2.1 - No mundo ..................................................................................................... 2
2.2.2 - Portugal ........................................................................................................ 4
2.3 - A planta ..................................................................................................................... 5
2.3.1 - Descrição botânica ....................................................................................... 5
2.3.2 - Classificação botânica .................................................................................. 7
2.4 - Condições Edafo-climáticas ....................................................................................... 8
2.5 - Ciclo da Cultura ......................................................................................................... 9
2.6 - Práticas Culturais......................................................................................................11
2.6.1 - Preparação do solo......................................................................................11
2.6.2 - Sementeira ..................................................................................................12
2.6.3 - Fertilização ..................................................................................................12
2.6.4 - Rega ............................................................................................................13
2.6.5 - Colheita .......................................................................................................14
2.6.6 - Inimigos da Cultura ......................................................................................17
2.6.6.1 - Doenças ...................................................................................................17
2.6.6.2 - Pragas ......................................................................................................19
2.6.6.3 - Infestantes ................................................................................................20
3. Parte Experimental: Acompanhamento da Cultura ...........................................................21

3.1 - Material e Métodos ...................................................................................................21


3.1.1 - Caracterização da Zona de Estudo ..............................................................21
3.1.2 - Instalação e acompanhamento da cultura ...................................................24

vii
3.1.3 - Práticas Culturais.........................................................................................25
3.1.3.1 - Preparação do solo ...................................................................................25
3.1.3.2 - Sementeira ...............................................................................................26
3.1.3.3 - Restantes Práticas Culturais .....................................................................26
3.1.3.4 - Arranque e Colheita ..................................................................................27
3.1.4 – Tratamento dos Dados................................................................................29
3.2 - Resultados e Discussão ...........................................................................................30
3.2.1 - Desenvolvimento da Cultura ........................................................................30
3.2.2 - Tratamentos Fitossanitários .........................................................................32
3.2.3 - Rega ............................................................................................................37
3.2.4 - Colheita .......................................................................................................39
3.2.5 - Pós-colheita .................................................................................................42
3.2.6 - Produtividade e os factores que a condicionaram ........................................43
4 . Conclusões e Recomendações .......................................................................................47

5 . Bibliografia ......................................................................................................................50

Anexos .................................................................................................................................53

Anexo 1 – Classificação Climática de Koppen para Portugal Continental. ........................54


Anexo 2 – Exemplo de uma análise de solo. ....................................................................55
Anexo 3: Folha de Campo – Registo de Visita ..................................................................57
Anexo 4 – Exemplo de pedido de utilização de um produto fitofarmacêutico para Uso
Menor. ..............................................................................................................................59
Anexo 5 – Extensão de Autorização para utilização em uso menor. Fonte: DGADR, 2011
.........................................................................................................................................66

Anexo 6 - Cronologia do início de cada estádio de desenvolvimento das parcelas em


estudo. ..............................................................................................................................67
Anexo 7 – Valores das variáveis quantificadas nas parcelas acompanhadas durante o
ensaio. ..............................................................................................................................68
Anexo 8 – Matriz de correlação entre as variáveis. ...........................................................68
Anexo 9 – Matriz dos valores próprios das componentes principais. ................................68

viii
Índice de Quadros
Quadro 1 - Maiores Importadores e Exportadores de amendoim com casca em 2009 em
toneladas............................................................................................................................... 4
Quadro 2 - Estádios de Desenvolvimento do Amendoim. ...................................................... 9
Quadro 3 - Desenvolvimento da planta e Uso de água.........................................................14
Quadro 4 - Relação entre data do período de Arranque e quebras de Produtividade. ..........14
Quadro 5 - Necessidade de água ao longo do ciclo da planta. .............................................27
Quadro 6 - Início dos diferentes estádios de desenvolvimento, após sementeira. ................31
Quadro 7 - Infestantes identificadas nas diferentes parcelas em que foi realizada a cultura.32

ix
Índice de Figuras
Figura 1 – Oleaginosas mais plantadas no mundo em 2009. Fonte: FAO, 2011. .................. 2
Figura 2 - Produção de amendoim nos diferentes continentes em 2009. Fonte: FAO, 2011 . 3
Figura 3 - Maiores Produtores de amendoim em 2009. Fonte: FAO, 2011 ............................ 3
Figura 4 - Evolução da Produção de Amendoim. Fonte: FAO, 2011...................................... 4
Figura 5 - Evolução da Produção em Portugal. Fonte: FAO, 2011. ....................................... 5
Figura 6 - Planta de amendoim. Fonte: http://4.bp.blogspot.com/_lxL-
EgkgjIM/Sae9DHiaaJI/AAAAAAAAKrI/6W7LvpvT0Eg/s400/AmendoimPeanut_Line_Drawing.
jpg ......................................................................................................................................... 5
Figura 7 - Raíz de amendoim com rizobactérias. Fotografia do autor .................................... 6
Figura 8 - Esquema representativo da divisão da espécie Arachis hypogaea L. ................... 7
Figura 9 - Emergência da planta do amendoim. Fotografia do autor. ...................................10
Figura 10 - Floração da planta do amendoim. Fotografia do autor. ......................................10
Figura 11 - Formação do pedicelo; Início do desenvolvimento da vagem, no solo, na ponta
do pedicelo. Fotografia do autor. ..........................................................................................11
Figura 12 - Planta de amendoim, com vagens em diversos estados de maturação, o que é
evidenciado pelos diferentes tamanhos de vagens. Fotografia do autor. ..............................11
Figura 13 - Uso de água ao longo do ciclo da planta. Fonte: Adaptado de Texas Water
Resources Institute, 2011. ....................................................................................................13
Figura 14 - Quadro de Previsão de Colheita do Amendoim através do estado de maturação
das vagens. Fotografia do autor. ..........................................................................................15
Figura 15 – Arrancador. Fotografia do autor. ........................................................................16
Figura 16 – Colhedora. Fotografia do autor. .........................................................................16
Figura 17 - Distribuição da área semeada pelas diversas zonas de sementeira. ..................21
Figura 18 - Região do Ribatejo. Fonte: Ecos do Ribatejo; http://pt.wikipedia.org/wiki/Ribatejo
.............................................................................................................................................21
Figura 19 - Normais climatológicas da precipitação em Santarém entre 1971 e 2000. .........23
Figura 20 - Normais climatológicas da temperatura do ar em Santarém entre 1971 e 2000. 24
Figura 21 - Termómetro digital, usado para medir a temperatura do solo. Fotografia do autor.
.............................................................................................................................................24
Figura 22 - Pulverização dos herbicidas de pré-emergência. Fotografia do autor.................25
Figura 23 - Inoculante em pó, Bradyrhizobium sp., utilizado. Fotografia do autor. ................26
Figura 24 - Exemplo de uma determinação da data de colheita através do método de
raspagem do exocarpo da vagem. Fotografia do autor.........................................................27
Figura 25 - Exemplo de um bom encordoamento na cultura do amendoim. Fotografia do
autor. ....................................................................................................................................28
Figura 26 - Operação de arranque das plantas. Fotografia do autor.....................................28
Figura 27 - Colheita do amendoim. Fotografia do autor. .......................................................29
x
Figura 28 - Descarga do tegão da colhedora para o camião de transporte. Fotografia do
autor. ....................................................................................................................................29
Figura 29 - Cálculo do número de sementes total e sementes partidas em 13 metros de
sementeira. ..........................................................................................................................30
Figura 30 - Semente de amendoim apodrecida. Fotografia do autor. ...................................31
Figura 31 - Comparação das datas de início de cada estádio de desenvolvimento em
Portugal e E.U.A...................................................................................................................31
Figura 32 - Competição entre a cultura e infestantes. Fotografia do autor. ...........................33
Figura 33 - Monda manual. Fotografia do autor. ...................................................................33
Figura 34 - Cercosporiose, identificada na planta no amendoim. Fotografia do autor. ..........34
Figura 35 – Estragos causados pela Rizoctónia (Rhizoctonia solani Kuhn). Fotografia do
autor. ....................................................................................................................................34
Figura 36 – Estragos causados pela podridão radicular (Sclerotium rolfsii Sacc). Fotografia
do autor. ...............................................................................................................................35
Figura 37 – Estragos causados pela podridão branca (Sclerotinia minor Jagger). Fotografia
do autor. ...............................................................................................................................35
Figura 38 - Danos causados pela Broca (Heliothis zea). Fotografia do autor. ......................35
Figura 39 – Rosca, Agrotis ipsilon (Hufganel). Fotografia do autor. ......................................36
Figura 40 - Danos provocados pela Rosca. Fotografia do autor. ..........................................36
Figura 41 – Afídeos. Fotografia do autor. .............................................................................36
Figura 42 - Danos provocados por Tripes. Fotografia do autor. ............................................37
Figura 43 - Lagarta de Pescoço-Vermelha (Stegasta bosquella (Chambers)). Fotografia do
autor. ....................................................................................................................................37
Figura 44 - Efeito do stress hídrico na parte aérea da planta. Fotografia do autor. ...............38
Figura 45 - Vagem apenas com uma semente. Fotografia do autor. ....................................38
Figura 46 - Sonda para ver a humidade do solo. Fotografia do autor. ..................................39
Figura 47 – Avaliação do grau de maturação das vagens em diferentes fases de
desenvolvimento, através do método de raspagem do exocarpo da vagem. Fotografia do
autor. ....................................................................................................................................40
Figura 48 - Dano característico devido à má posição das lâminas do arranque, denominado
"Efeito Estrela". Fotografia do autor......................................................................................41
Figura 49 - Perdas de vagens durante a colheita. Fotografia do autor..................................42
Figura 50 - Vagões de secagem do amendoim. Fotografia do autor.....................................42
Figura 51 - Projecção das variáveis sobre o plano F1xF2 definido pelas duas primeiras
componentes principais. .......................................................................................................44
Figura 52 - Projecção das parcelas sobre o plano F1xF2 definido pelas duas primeiras
componentes principais. .......................................................................................................45
Figura 53 – Regressão linear da relação entre a data de sementeira e a produtividade. ......45

xi
Lista de Siglas e Abreviaturas
ACP – Análise de Componentes Principais

DGADR – Direcção Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural

E.U.A. – Estados Unidos da América

GDD – Graus dias de Crescimento

Tmin – Temperatura mínima

Tmáx – Temperatura máxima

Tbase – Temperatura base

xii
1. Introdução e Objectivos
O cultivo do amendoim começou há 4000 anos atrás. Hoje em dia é cultivado em muitos
países tropicais e subtropicais, e até em temperados (Augstburger et al., 2000). O
amendoim é uma das oleaginosas mais cultivadas no Mundo (FAOSTAT, 2011).

Todas as partes da planta do amendoim podem ser usadas. É cultivado principalmente para
consumo humano, seja pela semente, consumida directamente ou transformada, em
manteiga, óleo e outros produtos. O amendoim é, também, usado para fabricar produtos não
alimentares, como cosméticos, sabonetes, medicamentos e lubrificantes. As folhas, caules e
algumas vagens que se perdem durante a colheita, são ricas fontes de proteínas e fibras
para a alimentação animal (Putnam et al., s.d.).

Sendo o amendoim uma cultura de grande importância económica, surgiu a ideia de ensaiar
a cultura em sistema industrial em Portugal, visto o clima ser compatível com as condições
exigidas pela cultura e ser uma cultura que em tempos fez parte da agricultura familiar em
Portugal, dada a ligação cultural com os países africanos, em particular com as ex-colónias.

Assim a PepsiCo, Inc., em parceria com a TORRIBA, Organização de Produtores


Hortofrutícolas S.A., iniciaram um projecto para o cultivo de amendoim em Portugal,
especificamente no Ribatejo, com a finalidade de produzir sementes de boa qualidade
destinadas ao consumo sob a forma de aperitivo, e verificar a viabilidade da implementação
da cultura no nosso país, introduzindo-a como uma possível rotação no esquema de
produção dos agricultores.

Foi no âmbito deste projecto que realizei um estágio entre Abril e Novembro de 2011, que
serviu de base a esta tese, abrangendo a preparação da campanha de amendoim e todo o
desenvolvimento da cultura, até ao final do ciclo. Este estágio foi precedido de um
acompanhamento dos primeiros ensaios realizados, ainda muito incipientemente, no Verão
de 2010.

O objectivo principal deste trabalho, é, assim, estudar o comportamento e a viabilidade da


cultura do amendoim na região do Ribatejo, em termos de adaptação às condições edáfo-
climáticas da região e em termos de produtividade.

Os ensaios e o acompanhamento da cultura foram realizados segundo as referências


americanas, baseadas na experiência tida com esta cultura nos E.U.A, com algumas
adaptações que atenderam às condições edáfo-climáticas da região do Ribatejo. Os
trabalhos foram liderados por um técnico americano especialista em amendoim, John
Baldwin, um técnico da PepsiCo, Inc., Raul Perez e por técnicos da TORRIBA S.A.

1
2. Revisão Bibliográfica

2.1 - Origem e expansão


O género Arachis é originário da América do Sul mais concretamente da área que se
estende desde o este dos Andes, sul da Amazónia e norte do rio de la Plata (Norman et al.,
1984).

Antes da chegada dos europeus à América do Sul o amendoim já era cultivado pelos Incas,
no Perú. A partir daí foi difundido para o México e para as Caraíbas. Os portugueses
introduziram o amendoim, especialmente, o amendoim do tipo prostrado, na África Ocidental
no séc. XVI. Os espanhóis transportaram, essencialmente o amendoim do tipo erecto para
as Filipinas de onde se difundiu para Japão, China, Malásia, Índia, Madagáscar e África
Oriental. Actualmente, o amendoim é cultivado em todos os continentes, em mais de 80
países de regiões tropicais, subtropicais e temperadas (Waele & Swanevelder, 2001).

2.2 - Produção e comércio

2.2.1 - No mundo
A planta do amendoim, é uma proteaginosa mas nas estatísticas é incluída no grupo das
oleaginosas, dado o elevado teor em gordura das suas sementes.

Entre as oleaginosas (Figura 1), o amendoim foi, em 2009, a quinta cultura mais semeada,
ocupando quase 24 milhões de hectares, entre os 262 milhões de hectares de oleaginosas
plantadas no mundo. É superada apenas pelo algodão, colza, girassol e soja que apresenta
uma área cultivada de 99 501 101 ha em 2009 (FAOSTAT, 2011).

Figura 1 – Oleaginosas mais plantadas no mundo em 2009. Fonte: FAO, 2011.

2
Em 2009 foram produzidas 36 599 056 t de amendoim. O continente asiático lidera o grupo
de maiores produtores com 23 381 mil toneladas, seguindo-se da África, América, Oceânia
e por fim a Europa com apenas 9 146 t de amendoim (Figura 2) (FAOSTAT, 2011).

Figura 2 - Produção de amendoim nos diferentes continentes em 2009. Fonte: FAO, 2011

Os maiores produtores de amendoim são a China com 14,8 milhões de toneladas, a Índia,
Nigéria e em quarto os Estados Unidos da América com 1,67 milhões de toneladas
produzidas (Figura 3), sendo que os estados com maior produção são: Georgia, Texas,
Alabama, Florida, Carolina do Sul e do Norte (Anón., 2011). Estima-se que em 2010, os
E.U.A. tenham produzido cerca de 1,8 milhões de t com uma produtividade de 3,52 t/ha
(Anón., 2010).

Figura 3 - Maiores Produtores de amendoim em 2009. Fonte: FAO, 2011

Como se pode verificar no Quadro 1, a China e os E.U.A. além de grandes produtores, são
também os maiores exportadores de amendoim com casca, de notar que a Holanda, país

3
europeu não produtor, é também um dos maiores exportadores, o que advém da intensa
actividade comercial deste país relativamente não só ao amendoim como às oleaginosas,
em geral. Os maiores importadores foram Indonésia, Filipinas, Alemanha e Itália (FAOSTAT,
2011).

Quadro 1 - Maiores Importadores e Exportadores de amendoim com casca em 2009 em toneladas.


Fonte: FAO, 2011
Importadores Exportadores

Indonésia 61933 China 62290


Filipinas 34296 E. U. América 27704
Alemanha 25272 Egipto 17388
Itália 16140 Holanda 15264

A produção de amendoim durante a última década sofreu oscilações (Figura 4), sendo
notórios diferentes ciclos onde se destacam as baixas produções dos anos 2002, 2006
(FAOSTAT, 2011) e 2010 com cerca de 33 milhões de toneladas (Anón., 2011). As
estimativas de produção para 2011 apontam para valores mais elevados, da ordem das 34
milhões de toneladas (Anón., 2010), o que parece apontar para uma fase ascendente de um
novo ciclo.

Figura 4 - Evolução da Produção de Amendoim. Fonte: FAO, 2011

2.2.2 - Portugal
Em Portugal, a cultura do amendoim não tem muita expressão. Em 2009, o ano com maior
produção da década passada, apenas de produziram 31 t (Figura 5) (FAOSTAT, 2011).
Contudo, os dados estatísticos indicam que Portugal consome amendoim, já que importa
mais do que exporta. Em 2009, importou 7 362 t e exportou 15 t (INE, 2011).
4
Figura 5 - Evolução da Produção em Portugal. Fonte: FAO, 2011.

2.3 - A planta

2.3.1 - Descrição botânica


O amendoim, Arachis hypogaea L. é uma planta dicotiledónea anual que pertence à família
das Fabáceas. O nome botânico deriva do Grego arachis que significa “leguminosa” e
hypogaea que significa “abaixo do solo” referindo-se à formação de vagens no solo (Figura
6) (Waele & Swanevelder, 2001).

Figura 6 - Planta de amendoim. Fonte: http://4.bp.blogspot.com/_lxL-


EgkgjIM/Sae9DHiaaJI/AAAAAAAAKrI/6W7LvpvT0Eg/s400/AmendoimPeanut_Line_Drawing.jpg

5
A planta possui raíz aprumada com inúmeras ramificações laterais sem pêlos radiculares,
onde se encontram muitos nódulos radiculares (Figura 7) resultantes da relação simbiótica
de rizobactérias do género Bradyrhizobium com a planta, que tira partido do azoto que é
fixado pelas bactérias a partir do azoto atmosférico (Waele & Swanevelder, 2001).

Figura 7 - Raíz de amendoim com rizobactérias. Fotografia do autor

O caule pode ser erecto ou prostrado. No primeiro caso o caule contém várias ramificações
erectas dando um aspecto denso à planta. No segundo caso o caule é mais curto mas as
ramificações estão junto ao chão dando uma aparência esparsa.

As folhas são paripinuladas com pares de folíolos opostos e obovados com cerca de 3 a 7
cm de comprimento e 2 a 3 cm de largura; são estipuladas e possuem movimentos de
dormir diurnos. As flores estão reunidas em inflorescência, que nascem nas axilas das
folhas. São sésseis, medem cerca de 1,5 cm e possuem cinco pétalas que podem ter cor
laranja, amarela, creme e muito raramente branca.

A floração é mais abundante na parte inferior da planta e é escalonada, isto é, as flores


abrem uma de cada vez.

De acordo com Waele & Swanevelder (2001) a polinização é essencialmente por auto-
polinização, a fecundação é cleistogâmica, uma forma de auto-fecundação por polinização
directa na flor ainda fechada antes de desabrochar. Posteriormente o pedicelo alonga-se em
direcção ao solo pela influência da gravidade empurrando o ovário para o solo. No solo a
extremidade do pedicelo perde o geotropismo e alonga-se horizontalmente e o ovário incha
formando-se a vagem. É comum encontrar flores três centímetros abaixo da superfície do
solo (Stephens, 1994), mas apenas 15 a 20% das flores irá originar uma vagem colhivél
(Lemon et al., s.d.).

6
A vagem madura é constituída por uma “casca” constituída pelo exo-, meso- e endocarpos
que cobre uma a sete sementes. Tem uma forma cilíndrica com um pequeno bico na
extremidade e com constrições no espaço entre as sementes. O exocarpo possui uma
aparência reticulada. O tamanho da vagem varia de 1 a 5 cm de comprimento e 0,5 a 2 cm
de largura com peso que pode ir desde 0,2 g até mais de 2 g por vagem.

A forma das sementes é quase esférica, elíptica ou alongada. A semente está envolvida por
um tegumento de coloração que varia de roxo a branco. As sementes correspondem a 75 -
80 % da vagem madura e o exocarpo a 20 - 25 % do peso total da vagem. As sementes
sem casca podem permanecer viáveis cerca de 1 ano, enquanto as sementes com casca
permanecem viáveis até ao princípio do ciclo de vida seguinte.

2.3.2 - Classificação botânica


A taxonomia da espécie Arachis hypogaea L. está esquematizada na Figura 8. As quatro
variedades são distintas em relação ao tamanho, flavour e composição nutricional da
semente. Dentro de cada variedade existem outras subvariedades que são usadas para
diferentes objectivos e possuem diferentes características que permitem ao produtor
escolher qual a mais adequada para o sistema de produção e mercado que pretende (Waele
& Swanevelder, 2001).

Figura 8 - Esquema representativo da divisão da espécie Arachis hypogaea L.


- Variedade tipo prostrado; - Variedade tipo erecto

Subespécie Arachis hypogaea ssp. hypogaea


A subespécie Arachis hypogaea ssp. hypogaea tem um crescimento baixo (tipo prostrado)
com um período mínimo de crescimento de 4 meses e as sementes exibem dormência. Esta
subespécie subdivide-se em: Arachis hypogaea ssp. hypogaea var. hypogaea (virginia), que

7
é uma planta muito ramificada com uma ou duas sementes grandes por vagem, e em
Arachis hypogaea ssp. hypogaea var. hirsuta (runner) (Waele & Swanevelder, 2001).

Subespécie arachis hypogaea ssp. fastigata


A subespécie Arachis hypogaea ssp. fastigata tem um crescimento do tipo erecto, com um
período de crescimento de 3 a 4 meses e sementes sem dormência. Esta subespécie é
subdividida em: Arachis hypogaea ssp. fastigata var. fastigata (valencia), planta de pouca
ramificação com mais de duas e usualmente de 4 a 7 sementes por vagem, e em Arachis
hypogaea ssp. fastigata var. vulgaris (spanish), planta pouco ramificada e com apenas duas
sementes por vagem (Waele & Swanevelder, 2001).

As variedades do tipo prostrado produzem sementes maiores e com teores em óleo mais
baixos que as do tipo erecto, sendo usadas sobretudo para consumo directo e em
confeitaria enquanto as sementes do tipo erecto são usadas sobretudo para extracção de
óleo (Waele & Swanevelder, 2001).

2.4 - Condições Edafo-climáticas


A principal área de cultivo situa-se entre 40º S e 40º N (Waele & Swanevelder, 2001).

O crescimento vegetativo é muito influenciado pela temperatura. A temperatura ideal para a


germinação deve de estar no intervalo 20 – 35 ºC. A temperatura óptima de
desenvolvimento vegetativo é de 30 ºC (Waele & Swanevelder, 2001). Abaixo dos 20 ºC, a
capacidade de germinação, a taxa de crescimento e desenvolvimento da planta decrescem
abruptamente (Augstburger et al., 2000). Quanto mais alta for a temperatura, menor o
período de crescimento e temperaturas abaixo do ideal podem atrasar a maturação em
cerca de 1 a 2 meses. As plantas podem sobreviver a temperaturas acima de 35º C durante
um curto período sendo sensíveis à geada, podendo até algumas cultivares apresentar
danos (cloroses) a 15º C (Waele & Swanevelder, 2001).

É uma planta pouco afectada pelo comprimento do dia, embora seja negativamente
afectada pela baixa intensidade luminosa. Uma redução na intensidade luminosa resulta
num decréscimo do crescimento vegetativo, redução da produção e redução da qualidade
das sementes, nomeadamente no teor de gordura (Waele & Swanevelder, 2001).

O amendoim é resistente à seca, dado desenvolver rapidamente o sistema radicular em


profundidade. No entanto, para uma maximização da produção e da qualidade, é essencial
uma irrigação adequada durante a época de crescimento vegetativo, bem como durante a
germinação, floração, formação do pedicelo no solo (é facilitada quando o solo está húmido)
e formação das vagens (Waele & Swanevelder, 2001). Porém, solos demasiado húmidos
resultam em germinação lenta das sementes, emergência retardada das plântulas, maiores

8
riscos de formação de podridão radicular e outras doenças nas plântulas. A humidade em
excesso é também prejudicial quando as vagens estão maduras, afectando negativamente a
produção, particularmente no caso de cultivares com curto período de dormência que
germinam assim que existem condições favoráveis. Valores de precipitação entre 400 a 800
mm permitem obter boas produções (IMN, s.d.), nos E.U.A. a produtividade da cultura do
amendoim é em média 3,7 t/ha (FAOSTAT, 2011).

Durante a colheita, o solo deverá estar pouco húmido para facilitar a remoção das vagens
(Waele & Swanevelder, 2001).

Solos bem drenados, franco-arenosos e franco-argilo-arenosos são os ideais para o


amendoim. Pode-se produzir também em solos de textura mais forte mas o risco de perder
vagens na altura da colheita é maior, para além de a penetração dos pedicelos ser mais
difícil (Waele & Swanevelder, 2001).

O pH óptimo do solo é de 6 – 6,5 (Johnson, 1987), mas valores entre 5,5 e 7 ainda são
aceitáveis (Augstburger et al., 2000).

2.5 - Ciclo da Cultura


A planta do amendoim é indeterminada, tanto no desenvolvimento vegetativo como no
reprodutivo. Tal significa que produz flores, pedicelos e vagens ao mesmo tempo, o que
conduz à competição das diferentes partes da planta pelos nutrientes. (Lemon et al., s.d.).

O ciclo de desenvolvimento do amendoim varia entre 130 e 170 dias. (Lemon et al., s.d.) e
divide-se em cinco estádios de desenvolvimento (Quadro 2): emergência, floração, formação
de pedicelos, formação de vagens e maturação (Chapin et al., 2010).

Quadro 2 - Estádios de Desenvolvimento do Amendoim.


Dias Após Sementeira Estádio Desenvolvimento

7 Emergência
35 Floração
50 Formação dos pedicelos
75 Formação de Vagens
130 - 140 Maturação
Adaptado de Chapin et al., 2010

O amendoim começa a sua emergência cerca de 7 a 14 dias após a sementeira (Figura 9),
dependendo da temperatura do solo (Lemon et al., s.d.).

9
Figura 9 - Emergência da planta do amendoim. Fotografia do autor.

Cerca de 30 dias após a sementeira, as plantas começam a florir (Figura 10). Temperaturas
elevadas, stress hídrico e baixa humidade, reduzem a floração, levando a baixas produções.
Contudo se as condições favoráveis retomarem, a produção floral pode voltar ao estado
normal.

Figura 10 - Floração da planta do amendoim. Fotografia do autor.

O pedicelo torna-se visível cerca de 7 dias após a fecundação, penetrando no solo 10 a 14


dias após a polinização. A vagem desenvolve-se na ponta do pedicelo e uma vez no solo
começa a aumentar de tamanho (Figura 11). Uma vez que o hábito de frutificação do
amendoim é indeterminado (Figura 12), a altura da colheita é definida pela presença de 70 –
80 % de vagens maduras. As vagens atingem o tamanho completo entre 3 a 4 semanas
após a penetração do pedicelo no solo, embora o desenvolvimento da semente ainda esteja
longe de estar completo, o que acontece apenas cerca de 80 dias depois.

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Figura 11 - Formação do pedicelo; Início do desenvolvimento da vagem, no solo, na ponta do pedicelo.
Fotografia do autor.

Figura 12 - Planta de amendoim, com vagens em diversos estados de maturação, o que é evidenciado pelos
diferentes tamanhos de vagens. Fotografia do autor.

2.6 - Práticas Culturais


O amendoim deve ser cultivado num sistema de rotação de culturas (Waele & Swanevelder,
2001), o que permite reduzir a incidência dos inimigos da cultura (Wright et al., 2000).

Deve-se fazer recolha de amostras de solo antes da sementeira, para ver o nível de
nutrientes e avaliar a necessidade de proceder à aplicação de produtos (Putnam et al., s.d.).

2.6.1 - Preparação do solo


Segundo Samples (1987), a primeira etapa na preparação da terra é a gestão dos resíduos
da cultura anterior, sendo a lavoura a melhor operação, a grade de disco também é
necessária quando o solo é fino ou quando a profundidade de solo arável varia
consideravelmente. As raízes vão penetrar na zona do solo onde a humidade é adequada e
existe oxigénio. A escarificação é pois benéfica, dado facilitar a penetração de água no solo

11
bem como o desenvolvimento radicular. Uma boa cama de semente facilita o maneio da
cultura ao longo do seu desenvolvimento bem como a colheita.

2.6.2 - Sementeira
O intervalo de sementeira vai de 15 de Abril à terceira semana de Maio, no estado da
Geórgia nos Estados Unidos da América. Contudo pode-se escalonar as datas, se as
condições não forem as mais favoráveis. Semear muito cedo, pode levar ao arrefecimento
da semente, já que os solos estão mais húmidos o que aumenta a probabilidade de
ocorrência de doenças na semente. Por outro lado semear muito tarde, resulta em perdas
de produção e qualidade (Beasley, 1987).

A sementeira deve ser efectuada com espaçamento de 91 a 96 cm nas entrelinhas, e com


cerca de 13 a 20 sementes por metro, na linha, o que perfaz uma densidade de 130 a 200
mil sementes por hectare (Chapin el al., 2010). A manutenção desta densidade está, porém,
dependente da taxa de germinação (Beasley, 1987).

2.6.3 - Fertilização
De acordo com Johnson (1987), o amendoim responde bem à fertilidade residual do solo,
não sendo geralmente necessário a aplicação de fertilizantes. A capacidade de estabelecer
associação com rizobactérias, assegura-lhe o fornecimento de azoto de forma natural.
Quando o pH está abaixo do ideal (pH 6), o alumínio e o manganês podem causar
toxicidade, enquanto o cálcio, o potássio e o magnésio, são catiões deficitários. Com valores
de pH baixos, a relação simbiótica das bactérias Rhizobium com a planta é inibida, e além
disso, aumenta a disponibilidade de zinco, tóxico para o amendoim.

O azoto é necessário durante a germinação e na fase inicial de crescimento da planta, até


que as raízes e as primeiras folhas estejam suficientemente desenvolvidas (Waele &
Swanevelder, 2001). A inoculação artificial com Rhizobium (Johnson, 1987) é vantajosa,
pois ao conduzir ao aumento de azoto no solo, proporciona economia em fertilizantes,
benefícios na rotação de culturas e melhoria das condições do solo (Baldwin, 1987).

O amendoim é um utilizador excepcionalmente eficiente de fósforo. De tal modo, que é


capaz de usar o fósforo que já não está acessível a outras culturas (Waele & Swanevelder,
2001).

O potássio raramente é deficiente na cultura do amendoim (Johnson, 1987). Além disso um


excesso de potássio na zona de penetração dos pedicelos interfere com a absorção de
cálcio, e pode causar podridão das vagens. É de evitar aplicações deste nutriente, a não ser
quando extremamente necessário (Chapin et al., 2010).

12
O cálcio é fundamental para o desenvolvimento das vagens e qualidade dos amendoins,
nomeadamente reduzindo o risco de formação de aflotoxinas (Chapin et al., 2010). É
absorvido através das raízes, embora fique indisponível quando se inicia a formação dos
pedicelos. Por esta razão são necessários altos teores de cálcio no solo na zona de
penetração dos pedicelos, pois o cálcio irá ser absorvido pelas vagens (Johnson, 1987).

O amendoim tem uma grande afinidade com o magnésio. Este nutriente e o potássio
competem com o cálcio na sua absorção pelas vagens. Por ser um catião, pode causar
desequilíbrios nutricionais, resultando em podridões nas vagens (Johnson, 1987).

O boro também afecta a qualidade da cultura. A sua deficiência causa o chamado “coração
oco” nas vagens, resultante do colapso das células no interior dos cotilédones. É importante
a aplicação deste nutriente, de forma precisa e uniforme, ao longo da área de cultura
(Johnson, 1987).

O zinco é um nutriente essencial para o amendoim, apesar da planta ser extremamente


sensível a este nutriente. Um sintoma da toxicidade do zinco é a separação do caule,
causando a morte da planta (Waele & Swanevelder, 2001).

O manganês é o elemento menos disponível. O défice deste nutriente, torna as folhas


amareladas e os seus sintomas são mais predominantes no fim do ciclo da planta (Wright et
al., 2000).

2.6.4 - Rega
A distribuição da chuva e a programação da rega são factores muito importantes na
resposta à água pela cultura. Quando as plantas se tocam na linha e na entrelinha, o uso de
água pela planta iguala a sua evapotranspiração (Baldwin & Harrison, 1987).

O uso da água pelo amendoim varia com o estádio de desenvolvimento e condições


climáticas (Figura 13) (Baldwin & Harrison, 1987).

Figura 13 - Uso de água ao longo do ciclo da planta. Fonte: Adaptado de Texas Water Resources Institute, 2011.
13
Existem três períodos cruciais, em que a disponibilidade de água é fundamental para a
produtividade da cultura: germinação, floração e formação de pedicelos e vagens (Quadro
3). A resposta do amendoim à água é frequentemente influenciada por factores que limitam
a produção, tais como os inimigos da cultura e factores ambientais (Baldwin & Harrison,
1987).

Quadro 3 - Desenvolvimento da planta e Uso de água.


Estádio de Desenvolvimento Uso de Água

Germinação Muito Alto


Desenvolvimento Vegetativo Baixo a Moderado
Floração Muito Alto
Formação de Pedicelos e Vagens Muito Alto
Maturação Moderado
Adaptado de Lemon, et al., s.d.

2.6.5 - Colheita
A colheita da cultura do amendoim, divide-se em duas operações distintas, o arranque da
planta e a colheita da vagem.

O grau de maturação afecta a produtividade e a qualidade do amendoim. Daí que a sua


avaliação seja decisiva na determinação da altura ideal para se fazer a colheita. Na colheita,
as vagens encontram-se em diferentes estados de maturação (Waele & Swanevelder,
2001). Por isso, tem que se decidir, se se rejeita algumas vagens velhas privilegiando as
mais novas, ou inversamente, se se justifica a colheita das vagens mais maduras, em
detrimento de mais novas (Johnson, 1987).

No Quadro 4, é possível verificar que existem sempre perdas, quando o amendoim não é
arrancado no ponto óptimo. A colheita deve ser realizada quando 70 – 80% das vagens
estão maduras, no caso da variedade runner, 60 – 70% para a variedade virginia e 75 –
80% nas variedades spanish e valencia (Lemon et al., s.d.).

Quadro 4 - Relação entre data do período de Arranque e quebras de Produtividade.


Quebras de Produtividade
Arranque
(kg/ha)
14 dias mais cedo 828,8
7 dias mais cedo 280
Óptimo -
7 dias mais tarde 560
14 dias mais tarde 604,8
Adaptado de Lemon et al. (s.d.)

14
Existem dois métodos principais de determinação da data de colheita, o método da
raspagem do exocarpo da vagem e o método de acumulação de graus dia (GDD).

No método da raspagem do exocarpo da vagem, a cor das vagens e sementes é usada para
determinar uma possível data de colheita (Figura 14) (Waele & Swanevelder, 2001). A
coloração da vagem evolui de branco para preto, passando por amarelo, laranja e castanho,
sendo o preto a cor correspondente ao maior estado de maturação (Johnson, 1987). Na
semente, os estados mais imaturos apresentam cotilédones de cor branca, enquanto os
estados mais maduros apresentam coloração rosa. (Waele & Swanevelder, 2001).

O método de acumulação de graus dias tem sido aplicado com muito sucesso em diferentes
culturas. A sua precisão e simplicidade fazem dele uma alternativa simples para o método
da raspagem do exocarpo da vagem. Os graus dias (GDD) são calculados através da
temperatura máxima e mínima do dia e da temperatura base da cultura que, no caso do
amendoim é 10 ºC (Rowland et al., 2006).

GDD = [(Tmáx + Tmin)/2] - Tbase

Figura 14 - Quadro de Previsão de Colheita do Amendoim através do estado de maturação das vagens.
Fotografia do autor.

O arranque do amendoim é realizado com uma alfaia própria para a operação (Figura 15).
As plantas são arrancadas com a ajuda de aivecas, depois passam por um agitador que
solta alguma da terra das vagens, posteriormente as plantas são encordoadas e reviradas,
ou seja, cada duas linhas ficam em cordão com as vagens voltadas para cima (Jordan et al.,
2011).

15
Figura 15 – Arrancador. Fotografia do autor.

Depois de arrancado, o amendoim fica a secar no campo até atingir o grau de humidade
desejado (8 – 10% de humidade), desde que as condições atmosféricas permitam. Durante
a secagem, procede-se à avaliação da humidade das sementes. O amendoim é então
classificado em “molhado”, “semi-seco” ou “seco” se tiver 35 - 50%, 18 - 35% e 8 - 10 % de
humidade, respectivamente. Dependendo destes níveis, determina-se se o amendoim é
colhido ou não. Se as condições climáticas forem adequadas, ou seja sem chuva, o nível de
semi-seco é atingido em 3 dias, enquanto o seco atinge-se em 5 a 10 dias. Se não for
possível que a semente atinja a humidade ideal através de secagem natural, procede-se à
secagem artificial da vagem (Putnam et al., s.d.).
A colheita é facilitada quando realizada por máquinas específicas para o amendoim, como a
que se vê na Figura 16. Nesta operação, as plantas são colhidas, e as vagens são
separadas e limpas, ficando armazenadas num tegão. Os caules e folhas são expelidos pela
máquina no decorrer da operação (Jordan et al., 2011).

Figura 16 – Colhedora. Fotografia do autor.

16
2.6.6 - Inimigos da Cultura

2.6.6.1 - Doenças
 Podridão do Colo e Fungo Amarelo

Podridão do Colo e Fungo Amarelo, são as principais doenças das sementes de amendoim
e são provocadas pelos fungos Aspergillus níger Van Tiegh e Aspergillus flavus,
respectivamente. Ambos atacam durante a germinação e nas plântulas (Waele &
Swanevelder, 2001).

Um dos primeiros sintomas de A. níger é a coloração acastanhada das plântulas, que vão
murchando, acabando por morrer; na zona do solo em torno da planta aparecem muitos
esporos pretos (Shew, s.d.). Quando atacadas por A. flavus as plântulas ficam murchas e
castanho-escuras, os esporos do fungo são amarelo-esverdeados. Nas plantas maduras, a
infecção espalha-se ao longo dos ramos provocando murchidão e desfiamento (Waele &
Swanevelder, 2001).

Estes dois fungos, produzem uma toxina, denominada aflotoxina, que é altamente
cancerígena. A sua incidência é maior em vagens sobre maduras e quando a humidade da
semente se encontra entre 9 a 35 %, devido ao fungo A. flavus (Waele & Swanevelder,
2001).

 Cercosporiose

A Cercosporiose é a doença causada por dois fungos: Cercospora arachidicola Hori,


denominado “Early leafspot”, e Cercosporidium personatum (Berk. & M.A. Curtis) Deighton
designado por “Late leafspot”. A Cercosporiose é considerada a principal doença foliar no
amendoim (Thompson, 1987).

Os sintomas da “Early leafspot” são manchas castanhas circulares, rodeadas por uma
auréola amarela; na página superior da folha observam-se esporos (Shew, s.d.). As lesões
podem também surgir no caule, pecíolos e pedicelos (Waele & Swanevelder, 2001). Os
sintomas da “Late leafspot” são semelhantes aos da “Early leafspot”, diferindo apenas no
facto de que as manchas apresentam uma tonalidade de castanho mais escuro podendo ter
ou não a auréola amarela, e os esporos podem ser encontrados na página inferior da folha
(Shew, s.d.).

Em condições favoráveis para o seu desenvolvimento estas doenças podem conduzir a


perdas que atingem, cerca de 50% da produtividade da cultura (Waele & Swanevelder,
2001).

17
 Ferrugem

A ferrugem é uma doença rara causada pelo fungo Puccinia arachis Speg. (Thompson,
1987). Revela-se através de pontuações alaranjadas na página superior da folha, que não
são mais do que esporos (Shew, s.d.).

 Podridão radicular

Esta doença é causada pelo fungo Sclerotium rolfsii Sacc. O primeiro sintoma é o
amarelecimento e murchidão dos ramos da base da planta. Há desenvolvimento de um
micélio branco na base da planta, as lesões são inicialmente castanho claro e com a
evolução da doença tornam-se pretas (Waele & Swanevelder, 2001). Os ramos e os
pedicelos apresentam-se desfiados, as vagens finas e quebradiças, e há produção de
esclerotos pelo micélio (Shew, s.d.).

 Podridão Branca

É originada pelo fungo Sclerotinia minor Jagger (Thompson, 1987). É caracterizado pelo
desenvolvimento de um micélio branco e fofo, semelhante a algodão que cresce no caule e
nas axilas das folhas (Lee et al., 1995). Os caules da planta tornam-se esbranquiçados e
desfiados, e há formação de esclerotos pretos irregulares nos ramos e vagens (Shew, s.d.).

 Podridão Cinzenta

O organismo causal desta doença é o fungo Botrytis cinerea Pers. Quando as plantas são
atacadas no início do crescimento, há formação de esclerotos nas vagens e ramos
infectados. As lesões são cobertas por um micélio acinzentado (Waele & Swanevelder,
2001).

 Rizoctónia

É uma doença muito comum no amendoim (Lee et al., 1995). O fungo causador desta
doença é Rhizoctonia solani Kuhn, destaca-se como um dos mais importantes agentes
causadores de doenças de pós-emergência (Thompson, 1987). O fungo pode invadir e
destruir as sementes, que morrem antes da germinação, infectar plântulas e em plantas
adultas pode infectar folhas, caules, pedicelos, junto ao nível do solo, e vagens, que ficam
enegrecidas, com sementes enrugadas e de coloração alva ficando menos resistentes
(Shew, s.d.).

 Vírus do Mosaico do Tomate

Este vírus é transmitido por tripes. As plantas jovens apresentam manchas anelares, com
um padrão de várias cores desde verde-amarelado a castanhas (Lee et al., 1995). Quando

18
as plantas são infectadas no início do seu desenvolvimento, ficam raquíticas e com as folhas
distorcidas e manchadas (Thompson, 1987).

2.6.6.2 - Pragas
 Tripes

As tripes são insectos minúsculos, com cerca de 1,5 mm, cuja coloração pode variar deste
amarelo ao preto, nos diferentes estádios desde o adulto até ao mais imaturo. Os danos das
tripes são maiores nas plantas mais pequenas que nas plantas maiores. Quando os danos
são severos, ocorre nanismo, as plantas danificadas vão lentamente recuperando mas não
totalmente. Estes danos geralmente desaparecem ou tornam-se menos perceptíveis com o
desenvolver da planta. Após a floração as tripes concentram-se nas flores (Womack, 1987).

 Afídeos

Os afídeos mais frequentes são do género Aphis spp. Apresentam uma coloração desde o
verde-amarelado até ao verde-escuro. Os afídeos alimentam-se da seiva das plantas, o que
vai interferir nas funções das folhas deixando-as enrugadas. Se a infestação for feroz, o
vigor da planta decresce severamente (Womack, 1987).

 Cigarrinha

A cigarrinha, Empoasca fabae (Harris), é uma das pragas mais comuns no amendoim.
Alimenta-se na página inferior das folhas, ficando a folha amarela no início do ataque e
depois castanha, tendendo a curvar-se para baixo (Herbert, 2010). Se as lesões forem
graves podem levar à desfolha da planta de amendoim (Womack, 1987).

 Broca

A broca, Heliothis zea (Boddie), pode ser uma praga muito séria para o amendoim. É no
estádio larvar que provoca mais danos. A alimentação precoce (enquanto as folhas ainda
estão fechadas) provoca danos nas folhas, que quando estas abrem têm aspecto simétricos,
parecendo uma imagem reflectida no espelho. Se o ataque persistir durante o
desenvolvimento da planta, os danos da broca podem levar ao desfolhamento completo
(Womack, 1987).

 Rosca

A rosca, Agrotis ipsilon (Hufganel) alimenta-se das folhas tenras originando uma
considerável perda da superfície foliar da cultura. Quando as larvas são maiores, causam
estragos ao nível do colo originando a morte da planta ou favorecendo a entrada de fungos
patogénicos. Os estragos são mais importantes e frequentes em plântulas e/ou plantas
jovens, destruindo, nalgumas casos, um grande número de plantas. Nas plantas mais
19
desenvolvidas os estragos ocorrem ao nível do sistema radicular, bem como em vagens
(Direction de la Protection des Végétaux, 2011).

 Lagarta do Pescoço Vermelho

Trata-se de Stegasta bosquella (Chambers), que causa danos ocasionais no amendoim. As


larvas alimentam-se das raízes e, se a infestação ocorrer no início do crescimento
vegetativo, as plantas ficam atrofiadas (Womack, 1987).

 Ácaros

Os ácaros que mais atacam o amendoim pertencem à espécie tetranychus urticae (Koch),
que se alimentam sugando a seiva, na página inferior da folha (Womack, 1987). As
infestações mais severas ocorrem primeiro nas bordas do campo de amendoim (Herbert,
2010). O principal sintoma deste ataque é a descoloração das folhas que se tornam
amareladas e morrem (Womack, 1987).

 Nemátodos

Os nemátodos são seres microscópicos que vivem no solo e que infectam as plantas. A
espécie mais comum é a Meloidogyne spp (Womack, 1987). Esta espécie forma galhas nas
raízes, pedicelos e vagens. As plantas severamente infectadas são raquíticas e apresentam
uma cor mais clara (Baker et al., 1998). Estes sintomas podem-se observar em várias zonas
distintas do campo da cultura (Womack, 1987).

2.6.6.3 - Infestantes
As infestantes competem com a planta na absorção de nutrientes, água e luz, causando, por
isso, redução na produtividade da cultura (Swann, 1987). As infestantes podem também
afectar as operações de colheita, nomeadamente causando o arranque prematuro das
vagens, danificando-as, inviabilizando-as para a colheita (Lemon et al., s.d.). É, pois,
importante proceder a um eficiente e eficaz controlo de infestantes, de modo a garantir boas
produtividades (Wilson, 2010).

Algumas das infestantes que mais aparecem nos campos de amendoim são: junça (Cyperus
spp.), milhã (Digitaria spp.), figueira-do-inferno (Datura stramonium), bredos (Amaranthus
spp.), erva-pessegueira (Polygonum spp.) (Wilson, 2010).

20
3. Parte Experimental: Acompanhamento da Cultura

3.1- Material e Métodos

3.1.1 - Caracterização da Zona de Estudo


A cultura foi instalada no Ribatejo, nas zonas de Almeirim, Salvaterra de Magos, Benavente
e Coruche, e na Comporta (Figura 17). No total foram semeados 311,68 ha, distribuídos por
19 parcelas. A área semeada na Comporta, foi determinante para se poder comparar
regiões de produção diferentes.

Figura 17 - Distribuição da área semeada pelas diversas zonas de sementeira.

O Ribatejo (Figura 18) foi criado como província em 1936, mas extinta como tal na Nova
Constituição de 1976. A região situa-se no Centro do território de Portugal continental,
abrange os terrenos da bacia do Tejo entre Abrantes e o começo do Mar da Palha. Limitado
a O e a SO pela Estremadura, a NO pela Beira Litoral, a N e NE pela Beira Baixa, E e S pelo
Alentejo, tem 7500 km2 de área (Anón., 1985).

Figura 18 - Região do Ribatejo. Fonte: Ecos do Ribatejo; http://pt.wikipedia.org/wiki/Ribatejo


21
O distrito de Santarém divide-se em três zonas distintas (Anón., 1985):
1. O Ribatejo Norte, o "Bairro" é constituído por terras "argilo-arenosas ou argilo-
calcáreas, férteis e de boas qualidades físicas, entremeadas com arenitos pobres e
de fraca aptidão cultural. São medianamente acidentadas, onduladas, e
correspondem geologicamente às formações terciárias da margem direita do Tejo,
especialmente o Miocénio Lacustre, coberto num ou noutro ponto por depósitos
lenticulares de areias pliocénicas ou terraços quaternários ainda imperfeitamente
reconhecidos. Constituem uma subregião perfeitamente delimitada, a Sul e a Este
pela planície aluvionar do Tejo, a Norte e a Oeste por terrenos mais elevados e
acidentados das formações mesozóicas da Serra do Montejunto e do Maciço de
Porto de Mós desde Vila Franca, Rio Maior, Torres Novas até um pouco além de
Tomar. Tem aptidões para as culturas arbustivas e arborícolas, especialmente a
oliveira e a vinha.
2. O Ribatejo Sul, a "Charneca" é uma zona de montado, de solo predominantemente
arenoso formado por areias miocénicas e pliocénicas situada para além da margem
esquerda do Tejo há que considerar geologicamente duas formações distintas,
embora litologicamente bastante semelhantes. São elas, o Miocénico lacustre,
natural prolongamento da mancha dos "Bairros" da margem direita, que constitui, na
parte mais setentrional, uma vasta planície ondulada, para o Norte de Almeirim,
Coruche, Mora e Pavia e estendendo-se nesta direcção e para leste um pouco para
além de Ponte de Sor e Alvega, até findar no Tejo; e o Pliocénico, numa grande
planície arenosa, cortada pelo curso inferior do Sorraia e do Almansor. No conjunto,
os depósitos terciários da margem esquerda do Tejo dão origem a solos arenosos ou
areno-argilosos muito pobres e quase exclusivamente revestidos, para o interior e
para o sul, de montados de sobro e azinho, ou matos em regime pastoril. É certo que
nas zonas mais próximas do Vale do Tejo e dentro dos concelhos da Chamusca,
Alpiarça e Almeirim, as terras miocénicas se apresentam por vezes mais
encorpadas, argilo-arenosas e medianamente férteis, ainda na sua maior parte
revestidas com sobreiros, mas também permitindo a cultura da oliveira associada à
vinha e aos cereais. Outra excepção é a que resultou do desbravamento de grandes
extensões de charnecas arenosas nos termos de Salvaterra de Magos, Muge,
Marinhais, Coruche, etc, levada a efeito, desde a última metade do século passado,
pelos núcleos populacionais da Beira Litoral que ali se fixaram, em consequência do
aforamento dos baldios municipais. A sucessiva incorporação de estrumes ao solo e
a existência de água a pequena profundidade permitiram que terras pobríssimas se
tornassem fecundas e hoje se apresentem em grande parte revestidas de vinha ou
produzindo quantidades apreciáveis de milho, trigo, centeio e legumes. São os
chamados "foros" e alargam-se nas imediações de Salvaterra de Magos, Marinhais,

22
Coruche, etc. Também as faixas pliocénicas que correm ao longo dos aluviões do
Tejo e dos seus afluentes se apresentam com um importante revestimento florestal
em que abundam o pinheiro bravo e o eucalipto.
3. A Lezíria, o "Campo" situada na planície marginal do Rio e do curso inferior dos seus
afluentes os solos são de aluviões modernos, inteiramente constituídos à custa de
materiais detríticos minerais e orgânicos, transportados pelas águas fluviais, desde
os saibros e areias grosseiras às partículas finíssimas de argila e nateiro. Assentam,
a uma profundidade variável mas sempre superior à espessura normal da camada
de desenvolvimento radicular, sobre leitos de calhaus rolados, alternando com
estratos de saibros mais ou menos grosseiros, camadas de areia e leitos de argila.
Estes terrenos abrangem sobretudo os concelhos de Golegã (por inteiro), parte da
Chamusca, Alpiarça, Almeirim, Salvaterra de Magos e Benavente, e as suas
principais culturas são a vinha, o arroz, o milho, o trigo, os pomares e as produções
hortícolas.

De acordo com as normais climatológicas de 1971 – 2000, o clima de Santarém é, pela


classificação de Köppen-Geiger (Anexo 1), temperado, do tipo C, com subtipo Cs que
corresponde a clima temperado com Verão seco e com a variedade Csb, clima temperado
com Verão seco e suave (IM, 2011).

No período de 1971 – 2000, os meses de maior precipitação foram de Novembro a Abril,


com 66% da precipitação média anual, enquanto que os meses mais secos foram Julho e
Agosto (Figura 19). O número de dias de insolação é elevado, com maior percentagem de
sol entre Maio a Setembro e menor de Novembro a Março.

Média mensal Valor máximo diário

Figura 19 - Normais climatológicas da precipitação em Santarém entre 1971 e 2000.


Fonte: Instituto de Metereologia de Portugal, 2011

Os meses mais quentes são Junho, Julho, Agosto e Setembro, nos quais as temperaturas
absolutas diárias chegam a atingir 45 ºC. Nestes meses, as médias diárias variam entre os
23
31 e 15,5 ºC, respectivamente. Os meses mais frios são Dezembro, Janeiro e Fevereiro,
com temperaturas médias diárias de cerca de 10,0 ºC, e mínimas que atingiram – 3 ºC,
embora esporadicamente (Figura 20).

Figura 20 - Normais climatológicas da temperatura do ar em Santarém entre 1971 e 2000.


Fonte: Instituto de Metereologia de Portugal, 2011

3.1.2 - Instalação e acompanhamento da cultura


Antes da instalação da cultura, foram realizadas colheitas de amostra de solo, que foram
analisadas a fim de saber os níveis de pH e dos nutrientes (Anexo 2).

A instalação foi iniciada em 29 de Abril, tendo sido marcada por períodos consecutivos de
chuva, que determinaram o escalonamento da sementeira. A temperatura do solo foi
monitorizada através de medições periódicas, realizadas com um termómetro digital (Figura
21), visto serem necessários valores na ordem dos 18ºC (Jordan et al., 2011) para uma boa
germinação.

Figura 21 - Termómetro digital, usado para medir a temperatura do solo. Fotografia do autor.

24
Antes da sementeira, procedeu-se à formação dos produtores, bem como dos prestadores
de serviços que iriam desempenhar o trabalho de semear, arrancar e colher o amendoim.
A evolução da cultura foi acompanhada, através de visitas semanais a todas as parcelas,
nas quais se registaram, em folhas de campo (Anexo 3), os seguintes parâmetros: tamanho
da planta, quantidade de pedicelos, quantidade de vagens e as datas de início de cada
estádio de desenvolvimento: germinação; floração; formação de pedicelos e formação de
vagens. Foram também registadas as regas, tratamentos fitossanitários e os inimigos da
cultura.

Na cultura foi usada a variedade, de tipo runner, M04-0149.

3.1.3 - Práticas Culturais

3.1.3.1 - Preparação do solo

De acordo com os níveis indicados nas análises, foi efectuada calagem em campos em que
o pH era baixo, de modo a eleva-lo, e redobrou-se a atenção em carências nutritivas que
pudessem afectar o amendoim.

As operações realizadas no solo foram a lavoura, principalmente para auxiliar no controlo de


infestantes, e a gradagem para destruir o alqueive e alisar o solo, de forma a preparar uma
boa cama de semente, em algumas parcelas foi também usado o rototerra. Antes da
sementeira foi aplicado o herbicida de pré-emergência, pendimetalina (Figura 22), que foi
incorporado com uma gradagem.

Figura 22 - Pulverização dos herbicidas de pré-emergência. Fotografia do autor.

25
3.1.3.2 - Sementeira
As sementes foram semeadas, utilizando um semeador de linhas, num compasso de 15
sementes por metro, com entrelinhas de 75 cm, perfazendo uma densidade de
aproximadamente 194 mil sementes/ha. Às sementes, foi previamente adicionado o inóculo
Bradyrhizobium sp. sob a forma de pó (Figura 23).

Figura 23 - Inoculante em pó, Bradyrhizobium sp., utilizado. Fotografia do autor.

3.1.3.3 - Restantes Práticas Culturais


Os restantes tratamentos com herbicidas, foram feitos com fluazifope-p-butilo e molhante,
depois de uma avaliação das infestantes existentes, e de acordo com as recomendações
existentes nos rótulos das embalagens.

Dadas as grandes limitações em termos de produtos disponíveis foram realizadas mondas


manuais e aplicação localizada de glifosato com recurso a uma máquina habitualmente
utilizada para o controlo do “arroz bravo” na cultura do arroz.

Relativamente às doenças não existem actualmente quaisquer soluções, pelo que apenas
foram realizados pequenos testes muito pontuais, para avaliar a eficácia de alguns
fungicidas nas finalidades detectadas.

Dada a falta de substâncias activas fitossanitários homologados, em Portugal, para a cultura


do amendoim (excepção para fluazifope-p-butilo), foi necessário fazer um pedido à DGADR
para a utilização de alguns produtos em uso menor (Anexo 4), tanto para infestantes, como
para pragas e doenças. Em resposta a esses pedidos já foram autorizadas as substâncias
activas pendimetalina e lamba-cialotrina (Anexo 5).

A rega inicialmente foi executada de acordo com a necessidade da cultura, com base nos
valores propostos por Chapin et al. (2010) (Quadro 5):
26
Quadro 5 - Necessidade de água ao longo do ciclo da planta.
Período Quantidade
Emergência até – 45 dias após
12,7 – 25,4 mm
sementeira
45 – a 60 dias após sementeira 25,4 – 50,8 mm/semana
60 – a 110 dias após sementeira 38,1 – 57,15 mm/semana
110 dias após sementeira até - Colheita 19,05 – 25,4 mm
Adaptado de Chapin, et al., 2010

Esta distribuição da quantidade de água veio a revelar-se deficitária, tendo sido aferida,
assunto que discutiremos em 3.2.3 - Rega.

3.1.3.4 - Arranque e Colheita

A determinação da data de colheita, foi feita através do método de raspagem do exocarpo


da vagem, onde através da maturação das vagens (Figura 24) se consegue prever uma
possível data, contudo este método revelou-se falível.

Figura 24 - Exemplo de uma determinação da data de colheita através do método de raspagem do exocarpo da
vagem. Fotografia do autor.

O arranque foi efectuado com uma máquina específica para o amendoim, que veio
directamente dos Estados Unidos da América (Figura 15). Esta alfaia, arranca a planta do
solo e vira-a, colocando as vagens para cima, ao mesmo tempo que encordoa (Figura 25). É
muito importante que o encordoamento fique bem feito, pois isso irá facilitar e melhorar a
operação da colheita (Figura 26).

27
Figura 25 - Exemplo de um bom encordoamento na cultura do amendoim. Fotografia do autor.

Figura 26 - Operação de arranque das plantas. Fotografia do autor.

Nas condições ideais, a colheita foi realizada cerca de 6 dias após o arranque, período
necessário para as sementes atingirem a humidade adequada. Esta operação também foi
realizada com uma máquina específica para o amendoim que separa as vagens das folhas e
dos caules da planta. Depois de limpas, as vagens eram armazenadas no tegão da alfaia
enquanto que as folhas e os caules eram expelidos para o exterior (Figura 27). Quando o
tegão se encontrava cheio, as vagens eram descarregadas para um camião (Figura 28), que
as transportava até á fábrica, onde se procedia à sua secagem.

28
Figura 27 - Colheita do amendoim. Fotografia do autor.

Figura 28 - Descarga do tegão da colhedora para o camião de transporte. Fotografia do autor.

3.1.4– Tratamento dos Dados


Neste trabalho foi realizado um tratamento estatístico, que foi efectuado através da
©
utilização do software Statistica (data analysis software system) version 8 – Copyright
StatSoft, Inc. (2008).

O teste estatístico efectuado foi a Análise de Componentes Principais (ACP), que consiste
basicamente na diagonalização de uma matriz simétrica: matriz de correlação ou de
covariância, dependendo se os dados precisam de ser padronizados ou centrado sobre os
valores médios. Em ambos os casos, o resultado é um novo conjunto de variáveis
(componentes principais) que são combinações lineares das variáveis originais e são
correlacionadas. Na verdade, um novo espaço (espaço factor) é gerado no qual os casos e
as variáveis podem ser projectadas e classificados em categorias.

29
3.2- Resultados e Discussão
3.2.1 - Desenvolvimento da Cultura
A sementeira da cultura começou em 29 de Abril, mas só acabou a 16 de Junho, esta
diferença apenas se deveu às intempéries, períodos de chuva bastante forte, que se fizeram
sentir neste intervalo de tempo, o que impediu a realização das operações no terreno.

A emergência das plantas ocorreu, em média, cerca de 9 dias após a sementeira. Após a
emergência, procedeu-se à contagem das plantas, em zonas aleatórias do campo, com três
repetições, a fim de determinar a taxa média de emergência.

Com o objectivo de potenciar uma maior concorrência da cultura face às eventuais


infestantes e de modo a facilitar o uso dos nossos semeadores, foi adoptada uma entrelinha
de 75 cm (menos 15 cm do que as utilizadas nos E.U.A.) e preconizadas 15 sementes por
metro para obtermos uma densidade de 200 mil sementes por hectare.

A semente do amendoim revelou-se muito sensível a agressões mecânicas e chegou algo


desidratada, como tal observamos muitas sementes partidas e bastante perda de
tegumento. Esta situação provocou uma menor eficiência na sementeira, pela ocupação
indevida de espaços destinados á semente.

A densidade efectiva de sementeira foi de cerca 194 mil sementes/ha, mas só se obteve,
120 mil plantas emergidas, o que corresponde a 61,7 % de taxa média de emergência. Tal
facto deveu-se às condições climáticas adversas, tendo chegado a chover cerca de 10 mm
num só dia, mas também devido à presença de tegumento, sementes partidas e podres.
Numa das contagens realizadas chegámos a obter cerca de 9,5 % de sementes sem
potencial germinativo, partidas (Figura 29) e/ou apodrecidas (Figura 30).

Figura 29 - Cálculo do número de sementes total e sementes partidas em 13 metros de sementeira.

30
Figura 30 - Semente de amendoim apodrecida. Fotografia do autor.

No Anexo 6 apresenta-se a cronologia do início de cada estádio de desenvolvimento das


parcelas em estudo. No Quadro 6 apresenta-se a cronologia dos diferentes estádios de
desenvolvimento da cultura.

Quadro 6 - Início dos diferentes estádios de desenvolvimento, após sementeira.


Estádio de desenvolvimento Dias após sementeira (Média)

Emergência 9
Floração 33
Formação do pedicelo 53
Frutificação 63

Comparando a nossa cultura, com a realizada nos E.U.A., com a mesma variedade, verifica-
se que esta cronologia é semelhante nos dois países, nos quais o início dos diferentes
estádios de desenvolvimento foi semelhante (Figura 31).

Figura 31 - Comparação das datas de início de cada estádio de desenvolvimento em Portugal e E.U.A.
31
Contudo, são de notar algumas diferenças importantes em alguns aspectos da cultura. No
que diz respeito à taxa de emergência, os resultados obtidos em Portugal (cerca de 62%)
foram marcadamente diferentes dos observados no E.U.A. (85 – 95 %), facto que atribuímos
à elevada precipitação e baixas temperaturas que se fizeram sentir na época de sementeira,
o que favoreceu o desenvolvimento de fungos que atacaram as sementes, tornando-as
inviáveis.
A diferença maior, encontra-se no início da frutificação, que teve início cerca de 10 dias
antes. Provavelmente, este facto esteve associado às condições de stress hídrico que a
planta esteve sujeita durante o seu desenvolvimento. No entanto não foram observados
problemas de sobre maturação, apesar de a colheita ter ocorrido por volta dos 150 dias de
ciclo de vida, ou seja, após o término do mesmo.

3.2.2- Tratamentos Fitossanitários


Um dos problemas mais graves com que a cultura se deparou foi as infestantes (Quadro 7).

Quadro 7 - Infestantes identificadas nas diferentes parcelas em que foi realizada a cultura.
Nome Científico Nome Vulgar

Cyperus rotundus L. Junça-de-conta


Amaranthus albus L. Bredo
Amaranthus retroflexus L. Moncos-de-Perú
Figueira-do-
Datura stramonium L.
Inferno
Solanum nigrum L. Erva-Moira
Echinochloa crus-galli (L.) P. Beauv. Milhã
Portulaca oleracea L. Beldroega
Solanum tuberosum L. Batateira
Daucus carota L. Cenoura
Raphanus raphanistrum L. Saramago
Polygonum persicaria L. Erva-Pessegueira

As infestantes mais preocupantes foram os bredos, os moncos-de-perú, as figueiras-do-


inferno e a junça. Apesar dos tratamentos usados, não se conseguiu controlar estas
infestantes completamente, o que conduziu a situações de competição com a cultura (Figura
32).

32
Figura 32 - Competição entre a cultura e infestantes. Fotografia do autor.

Como alternativa a um tratamento químico, foi realizado uma monda manual em algumas
parcelas, com o objectivo de controlar os bredos, os moncos-de-perú e a batateira (Figura
33).

Figura 33 - Monda manual. Fotografia do autor.

Surgiram também, doenças, embora não com tanta gravidade como as infestantes, dado só
causarem problemas a meio do ciclo da cultura. Foi identificada a cercosporiose (Figura 34),
uma doença bastante comum no amendoim, que contudo não afectou o desenvolvimento da
cultura.

33
Figura 34 - Cercosporiose, identificada na planta no amendoim. Fotografia do autor.

O mesmo não aconteceu com outras doenças como a rizoctónia (Figura 35), a podridão
radicular (Figura 36) e a podridão branca (Figura 37), que prejudicaram a produtividade da
planta. Com o intuito de controlar estas doenças, que atacaram com bastante intensidade
algumas parcelas, foram testados de forma pontual outros fungicidas. Devido á semelhança
entre os sintomas da rizoctónia e a podridão radicular, a sua identificação foi feita
recorrendo a análises micológicas das plantas infectadas.

Figura 35 – Estragos causados pela Rizoctónia (Rhizoctonia solani Kuhn). Fotografia do autor.

34
Figura 36 – Estragos causados pela podridão radicular (Sclerotium rolfsii Sacc). Fotografia do autor.

Figura 37 – Estragos causados pela podridão branca (Sclerotinia minor Jagger). Fotografia do autor.

As pragas encontradas foram a broca (Figura 38), a rosca (Figura 39), afídeos (Figura 41),
tripes (Figura 42) e lagarta do pescoço-vermelho (Figura 43), que causaram apenas danos
pontuais, e sem grande relevância que não afectaram o desenvolvimento da cultura nem a
sua produtividade. Foi feito apenas um tratamento e só numa parcela.

Figura 38 - Danos causados pela Broca (Heliothis zea). Fotografia do autor.

35
Figura 39 – Rosca, Agrotis ipsilon (Hufganel). Fotografia do autor.

Figura 40 - Danos provocados pela Rosca. Fotografia do autor.

Figura 41 – Afídeos. Fotografia do autor.

36
Figura 42 - Danos provocados por Tripes. Fotografia do autor.

Figura 43 - Lagarta de Pescoço-Vermelha (Stegasta bosquella (Chambers)). Fotografia do autor.

A falta de homologação de fitofármacos para a cultura em Portugal, dificultou o controlo dos


inimigos da cultura. Situação desfavorável relativamente a países como os E.U.A., um pais
produtor de amendoim, que dispões de muitas substâncias activas homologadas para a
cultura.
Num segundo ano de instalação da cultura, prevemos que a pressão fitossanitária venha a
ser maior, pelo que urge uma homologação de produtos para as finalidades a descoberto.

3.2.3- Rega
Seguindo os concelhos do técnico John Baldwin, foi inicialmente proposto um plano de rega,
baseado nos valores apontados por Chapin et al. (2010) (Quadro 5), sendo a frequência de
rega estabelecida por nós, de modo a atingir a dotação total recomendada, para cada
período.

37
O esquema de rega seguido, revelou-se, porém, desadequado, pois aquando do início da
formação de vagens, a quantidade de água fornecida à planta não colmatou as suas
necessidades, resultando num stress hídrico das plantas por vezes extremamente severo
(Figura 44), o que levou a um atraso na frutificação, com duas épocas de frutificação
intensa, em vez de haver só uma, e também a abortamento de sementes, o que conduziu à
formação de vagens apenas com uma semente (Figura 45).

Figura 44 - Efeito do stress hídrico na parte aérea da planta. Fotografia do autor.

Figura 45 - Vagem apenas com uma semente. Fotografia do autor.

Verificou-se pois que a frequência com que foi realizada a rega não era a mais adequada. A
água fornecida apenas se mantinha nos primeiros centímetros do solo (Figura 46), e não ia
a maiores profundidades, onde as raízes se desenvolvem, dado tratar-se de uma planta com
raízes profundas.

38
Figura 46 - Sonda para ver a humidade do solo. Fotografia do autor.

Face a estas observações, procedeu-se à modificação do plano de rega, regando de dois


em dois dias e com maiores dotações, mantendo, contudo a mesma dotação semanal
originalmente planeada, o que veio a revelar-se uma mais-valia para a planta.
A dotação total de água no ciclo da cultura foi semelhante à utilizada nos E.U.A. Diferiu,
contudo, no regime de rega praticado, já que, por exemplo nos E.U.A., o amendoim chega a
ser regado durante uma semana inteira, parando na semana seguinte.

3.2.4 - Colheita
Com o aproximar do fim do ciclo da cultura, procedeu-se à avaliação do grau de maturação
através do método de raspagem do exocarpo da vagem. Este método, contudo, veio a
mostrar-se pouco adequado, para o nosso país, visto as nossas vagens nunca atingirem,
durante a maturação, as colorações castanho-escuras e preto, previstas no método (Figura
47).

39
27/09/2011

13/10/2011

20/10/2011

Figura 47 – Avaliação do grau de maturação das vagens em diferentes fases de desenvolvimento, através do
método de raspagem do exocarpo da vagem. Fotografia do autor.

As máquinas utilizadas no arranque e na colheita das plantas eram da marca KMC e foram,
montadas, no nosso país por dois técnicos da empresa fabricante, já que foram
transportadas desmontadas. Como as máquinas tinham dimensões que excediam o
permitido por lei, de acordo com o Instituto da mobilidade e dos transportes terrestres, foi
necessário proceder a modificações (realizadas em Espanha) após aprovação da marca.

40
Mesmo com as alterações efectuadas, foi necessário recorrer a uma empresa de
transportes especiais, para a deslocação das máquinas.
A operação de arranque das plantas, é um factor crítico, dado que se o arranque não for
feito sempre direito e a uma velocidade constante, vai provocar perdas consideráveis de
vagens, devido aos embates na máquina que quebraram o pedicelo e separam a vagem.
Outro aspecto muito importante nesta operação é o angulo de colocação das lâminas
(aivecas), pois se não for bem ajustado em função do tipo de solo, estas vão arrancar
prematuramente as vagens das plantas, provocando um dano muito característico, o “Efeito
Estrela” (Figura 48)

Figura 48 - Dano característico devido à má posição das lâminas do arranque, denominado "Efeito Estrela".
Fotografia do autor.

O encordoamento que se segue ao arranque das plantas, é bastante importante, pois facilita
a colheita das plantas, sem causar muitos danos. É fundamental que a parte aérea das
plantas esteja bem desenvolvida pois, caso contrário, e uma vez que após a secagem o seu
volume se reduz consideravelmente, o cordão vegetal torna-se mais débil ou mesmo
descontinuo, originando bastantes perda na colheita. Outro factor importante, é a presença
de infestantes pois, se existirem muitas, o processo de separação das vagens do resto da
planta durante a colheita, para além de ser mais moroso, leva a uma maior perda de vagens
devido à dificuldade em separar de entre o emaranhado das plantas: amendoim e infestante.

A percentagem de humidade das vagens, é igualmente relevante, pois, se for elevada, vai
propiciar a formação de fungos, para obviar este crescimento, o transporte tem de ser
rápido. Se por outro lado a humidade for muito baixa, ou seja, muito seco, o pedúnculo da
vagem torna-se demasiado frágil, quebrando-se com facilidade, provocando perda de
vagens (Figura 49) e, consequentemente, perda de produtividade.

41
Figura 49 - Perdas de vagens durante a colheita. Fotografia do autor.

3.2.5 - Pós-colheita
Depois de colhidas, as vagens foram transportadas para a empresa Mercoguadiana S.L.
(Espanha), onde eram secas em vagões se fosse necessário (Figura 50), e ficaram
armazenadas a granel no armazém.

Figura 50 - Vagões de secagem do amendoim. Fotografia do autor.

Houve o cuidado de que o transporte das vagens fosse realizado de forma rápida, de modo
a evitar a degradação das vagens, bem como alterações bruscas na temperatura das
mesmas, que levariam a alterações nas sementes que prejudicariam a sua qualidade.
A secagem foi feita em secadores, com injecção de ar ascendente a 35 ºC. Para se diminuir
1 % de humidade das vagens são necessárias duas horas no secador. Dada a temperatura
a que as vagens são submetidas durante a secagem, bem como o teor de humidade
relativamente elevado destas, entre 11 e 35 %, esta operação acarreta riscos pois, estas
condições favorecem o desenvolvimento de fungos produtores de aflotoxinas. De facto,

42
houve casos em que foram detectadas toxinas após secagem das vagens que, ao entrar no
secador, estavam isentas delas.

No final da secagem, o amendoim foi submetido a testes de qualidade definidos pela


PepsiCo, Inc., na mesma fábrica.

3.2.6 - Produtividade e os factores que a condicionaram


Durante o ensaio registaram-se, para cada parcela, as seguintes variáveis: comprimento da
planta (cm), quantidade de pedicelos, quantidade de vagens, duração do ciclo (dias), data
de sementeira (diferença de dias em relação ao início da sementeira do primeiro ensaio,
registado com o valor 1) e produtividade (t/ha). Os dados quantificados estão apresentados
no Anexo 7.

A produtividade da cultura variou entre 0,2 e 5 t/ha nas 17 parcelas do ensaio, algumas
parcelas terem excedido a média do valor de produtividade nos E.U.A. (3,52 t/ha).

Submetendo os dados a ACP (Figura 51 e Figura 52 e anexos 7, 8 e 9) é possível verificar


que as variáveis “produtividade” e “duração ciclo” se situam em quadrantes opostos à “data
sementeira” (Figura 51). Tal significa que na maior parte das parcelas, quanto mais tarde se
fez a sementeira (e menor foi o ciclo da cultura), menor foi a produtividade.

A principal variável que condicionou a produtividade das parcelas, foi a “data sementeira”,
facto que é evidenciado também através do coeficiente de correlação (r = -0,62) entre estas
duas variáveis. Tal deve-se ao facto de, quanto mais tarde foi a parcela semeada, mais
tarde foi realizada a colheita, o que levou a que esta se tenha efectuado na época das
chuvas. O encharcamento do solo dificultou, a operação de colheita, impedindo, em
algumas parcelas a colheita de parte das plantas, levando a que as perdas ultrapassem os
ganhos, como aconteceu nas parcelas P11, P13, P15 e P17.

De notar que a sementeira se realizou entre 29 de Abril e 16 de Junho, período alargado


devido à ocorrência de períodos de chuva bastante forte, que se fizeram sentir neste
intervalo de tempo, o que impediu a realização das operações no terreno. A colheita
decorreu entre 27 de Setembro e 29 de Novembro, altura em que a elevada precipitação
impediu a conclusão desta operação nas parcelas semeadas mais tardiamente.

Contudo existiram também outros factores que afectaram a produtividade. É o caso do


declive da parcela P5, que levou a perdas de água de rega por escorrimento superficial. As
infestantes também foram outro factor que influenciou negativamente a produtividade na
parcela P13, devido ao efeito de competição com a planta de amendoim bem como ao facto
de provocarem perda de vagens durante a colheita, como referido em 3.2.4.

43
No caso da parcela P10, esta foi afectada negativamente pelas infestantes, mas também
por fungos no fim do ciclo da cultura, pois como as infestantes se encontravam com um
tamanho demasiado grande, formavam um micro clima em torno das plantas de amendoim,
que era propício ao desenvolvimento de fungos.

Projection of the variables on the factor-plane ( 1 x 2)

1,0

Produtividade

0,5
Duração Ciclo
Factor 2 : 16,83%

0,0
Comp. Plantas Data Sementeira

Nº Vagens
Nº Pedicelo
-0,5

-1,0

-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0


Active
Factor 1 : 52,96%

Figura 51 - Projecção das variáveis sobre o plano F1xF2 definido pelas duas primeiras componentes principais.

Na distribuição das parcelas no plano F1xF2 face às variáveis consideradas (Figura 52), é
possível observar, que os campos que foram semeados mais cedo, e que tiveram a duração
do ciclo de cerca de 150 dias, foram os que apresentaram maiores produtividades (parcelas
destacadas pela linha preta). A parcela P16 foi uma excepção visto ter sido semeada mais
tarde e ter obtido uma produtividade bastante alta, facto que se deveu à coincidência de a
colheita ter sido realizada num período em que deixou de chover. A parcela P17, está
bastante afastada das restantes, pois foi a última a ser semeada, e a sua produtividade foi
muito baixa, e devido à elevada precipitação ocorrida na altura da sua colheita (que
impossibilitou as operações das máquinas no campo), ela não foi totalmente colhida, pois
era inviável a operação. A baixa produtividade das restantes parcelas deveu-se não só ao
atraso na sementeira, mas, também, a outros factores anteriormente referidos.

44
Projection of the cases on the factor-plane ( 1 x 2)
Cases with sum of cosine square >= 0,00
3,0

2,5

2,0 P16
1,5
P14 P2
1,0 P6 P7
P8
Factor 2: 16,83%

0,5
P4 P5
0,0 P3

-0,5 P1 P12
P10
P17
-1,0 P11

-1,5 P9
-2,0

-2,5

-3,0

-3,5
-5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 6
Active
Factor 1: 52,96%

Figura 52 - Projecção das parcelas sobre o plano F1xF2 definido pelas duas primeiras componentes principais.

Devido às razões expostas, a equação da regressão linear que descreve a relação entre a
data de sementeira e a produtividade (Figura 53), não permite predizer com exactidão a data
de sementeira que optimiza a produção.

Produtividade vs. Data Sementeira


X:Y: y = 4,7648 - 0,0999*x;
r = -0,6903; p = 0,0022; r2 = 0,4765
Produtividade = 4,7648 - ,0999 * Data Sementeira
Correlation: r = -,6903
6

#1 #6 #14
5
#3 #8
#7
4 #2 #4
#16
Produtividade

3 #5 #10

2 #12
#11

#17
1
#9 #15
#13
0
-5 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Data Sementeira 0,95 Conf.Int.

Figura 53 – Regressão linear da relação entre a data de sementeira e a produtividade.

45
Contudo, os elevados valores de produtividade obtidos nas parcelas semeadas mais cedo
parecem indicar que, para condições edáfo-climáticas semelhantes às dos ensaios
realizados neste ano, a data ideal de sementeira (que conduziu a produtividades superiores
a 3,5 t/ha) se deve situar até 17 dias após o início da sementeira do ensaio. Como, devido à
necessidade de temperaturas do solo relativamente elevadas (à volta de 18ºC), tal
aconteceu em 29 de Abril, resulta que o período de sementeira que conduziu a maiores
produtividades foi de 29 de Abril até 16 de Maio

46
4 . Conclusões e Recomendações

Neste trabalho descreve-se um estudo preliminar sobre o desenvolvimento e produtividade


da cultura de amendoim na região do Ribatejo, baseado na experiência com a cultura no
estado da Georgia, nos Estados Unidos da América (E.U.A.). Foi realizado um trabalho de
campo em que foram acompanhadas as diferentes fases de desenvolvimento da cultura
instalada em 17 parcelas distintas, registando-se os seguintes parâmetros: comprimento da
planta, quantidade de pedicelos, quantidade de vagens e as datas de início de cada estádio
de desenvolvimento: germinação; floração; formação de pedicelos e formação de vagens.
Foram também registadas as regas, os inimigos da cultura e os tratamentos fitossanitários.
Foi utilizada uma variedade de crescimento prostado, tipo runner, que foi semeada com a
densidade de cerca 194 mil sementes/ha.

Relativamente ao desenvolvimento da cultura, destacamos as seguintes conclusões:

A cultura decorreu, na globalidade do ensaio, entre 29 de Abril e 29 de Novembro (datas da


primeira sementeira e última colheita, respectivamente). O ciclo variou, entre as diferentes
parcelas entre 132 e 182 dias.

A emergência das plantas, a floração, a formação do pedicelo e a frutificação ocorreram, em


média, cerca de 9, 33, 53 e 63 dias após a sementeira. Relativamente ao que se verifica nos
E.U.A. a diferença maior, encontra-se no início da frutificação, devido ao facto de durante o
ciclo a planta, ter estado em stress hídrico.

A taxa média de emergência foi de 61,7 %, valor baixo (nos EUA é de 85 – 95 %) que se
deveu à elevada precipitação e baixas temperaturas que se fizeram sentir durante o período
de sementeira, mas, também, à presença de sementes partidas (foram encontrados valores
de 9,5 %) ou apodrecidas.

Um dos problemas mais graves com que a cultura se deparou foi as infestantes. Foram
identificadas 11 espécies mas as mais abundantes foram Amaranthus albus L. (bredo),
Amaranthus retroflexus L. (moncos-de-perú), Datura stramonium L. (figueira-do-inferno) e
Cyperus rotundus L. (junça-de-conta). A aplicação de herbicidas não foi contudo eficaz, o
que conduziu a situações de competição com a cultura

Das doenças surgidas destacaram-se a rizoctónia, a podridão radicular e a podridão branca


que atacaram com bastante intensidade algumas parcelas. Prejudicaram a produtividade da
planta, embora não com tanta gravidade como as infestantes, dado só terem causado
problemas a meio do ciclo da cultura. Foi também identificada a cercosporiose, uma doença
bastante comum no amendoim, mas que não afectou o desenvolvimento da cultura.

47
As pragas encontradas foram a broca (Heliothis zea (Boddie)), a rosca (Agrotis ipsilon
(Hufganel)), afídeos (aphis spp), tripes e lagarta do pescoço-vermelho (Stegasta bosquella
(Chambers)), que causaram apenas danos pontuais, e sem grande relevância, que não
afectaram o desenvolvimento da cultura nem a sua produtividade

A falta de homologação de fitofármacos para a cultura em Portugal, dificultou o controlo dos


inimigos da cultura. Situação desfavorável relativamente a países como os E.U.A., um país
produtor de amendoim, que dispõe de muitas substâncias activas homologadas para a
cultura.

O esquema de rega, com dotações entre cerca de 555 mm/ciclo distribuídas pelas diferentes
fases culturais não se adequou às condições da região em estudo. Verificou-se aquando do
início da formação de vagens um stress hídrico nas plantas, já que a água não atingia a
zona radicular com maior capacidade de absorção, situada a maior profundidade. Tal levou
a um início precoce na frutificação, com duas épocas de frutificação intensa, em vez de
haver só uma, e também a abortamento de sementes, o que conduziu à formação de
vagens apenas com uma semente. A modificação do plano de rega, regando cerca de dois
em dois dias e com maiores dotações, mantendo, contudo a mesma dotação semanal
originalmente planeada, veio a revelar-se uma mais-valia para a planta.

O método de raspagem do exocarpo da vagem utilizado na avaliação do grau de maturação


com o fim de determinar a data de colheita, mostrou-se pouco adequado para o nosso país,
visto as nossas vagens nunca atingirem, durante a maturação, as colorações castanho-
escuras e preto previstas pelo método.

A colheita das plantas foi realizada cerca de 6 dias após o arranque. As máquinas utilizadas
no arranque e colheita das plantas, específicas para o amendoim e de origem americana,
tinham dimensões que excedem o permitido por lei, de acordo com o Instituto da mobilidade
e dos transportes terrestres, o que dificultou a logística do seu transporte.

A produtividade da cultura variou entre 0,2 e 5 t/ha nas 17 parcelas do ensaio, atingindo
valores superiores á média obtida nos EUA (3.52 t/ha). A avaliação dos factores que
condicionaram a produtividade foi realizada através da metodologia de Análise em
Componentes Principais, atendendo às seguintes variáveis: comprimento da planta (cm),
quantidade de pedicelos, quantidade de vagens, duração do ciclo (dias), data de sementeira
e produtividade (t/ha).
A data de sementeira foi a principal variável que condicionou a produtividade das parcelas (r
= -0,62). Na maior parte das parcelas, quanto mais tarde se fez a sementeira (e menor foi o
ciclo da cultura), mais tarde foi realizada a colheita, o que, em algumas parcelas, levou a
que esta se tenha efectuado na época das chuvas. O encharcamento do solo dificultou ou

48
impediu a operação de colheita. O ciclo da cultura nas condições mais favoráveis foi de
cerca de 150 dias.

Entre outros factores que afectaram a produtividade, o mais marcante foram as infestantes
que para além de competirem com a planta provocaram perdas durante a colheita. O declive
e as doenças também prejudicaram a produtividade.

Devido às razões expostas, a equação da regressão linear que descreve a relação entre a
data de sementeira e a produtividade, não permite predizer com exactidão a data de
sementeira que optimiza a produção. Contudo, os elevados valores de produtividade obtidos
nas parcelas semeadas mais cedo parecem indicar que, para condições edafo-climáticas
semelhantes às dos ensaios realizados neste ano, a data ideal de sementeira (que conduziu
a produtividades superiores a 3,5 t/ha) se deve situar até 17 dias após o início da
sementeira do ensaio. Como, devido à necessidade de temperaturas de solo relativamente
elevadas (à volta de 18ºC), tal aconteceu em 29 de Abril, resulta que o período de
sementeira que conduziu a maiores produtividades foi de 29 de Abril até 16 de Maio.

Nos ensaios a fazer futuramente na mesma região haverá que prever com maior precisão a
melhor data de sementeira, atendendo às condições normais de precipitação da região, e
obviar, principalmente, o efeito das infestantes.

49
5 . Bibliografia
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52
Anexos

53
Anexo 1 – Classificação Climática de Koppen para Portugal Continental.

Fonte: Instituto de Metereologia de Portugal, 2011.

Csb - clima temperado com Verão seco e suave, em quase todas as regiões a Norte do
sistema montanhoso Montejunto-Estrela e nas regiões do litoral oeste do Alentejo e Algarve;
Csa - clima temperado com Verão quente e seco nas regiões interiores do vale do Douro
(parte do distrito de Bragança), assim como nas regiões a sul do sistema montanhoso
Montejunto-Estrela (excepto no litoral oeste do Alentejo e Algarve); BSk - Clima Árido – Tipo
B, Subtipo BS (clima de estepe), variedade BSk (clima de estepe fria da latitude média).

54
Anexo 2 – Exemplo de uma análise de solo.

55
56
Anexo 3: Folha de Campo – Registo de Visita
Cultura do Amendoim - Folha de Campo - Registo de Visita

Produtor: Data:
Parcela: Área:

Sementeira
Data: Densidade:
Prest. Serviços:
Nº sementes/m: DAP:

Desenvolvimento da Cultura

Germinação Crescimento Floração

Pegging Frutificação Maturação

Fitossanidade

Pragas: Intensidade Baixo Médio Alto


Praga obv.
Praga obv.
Praga obv.

Doenças: Intensidade Baixo Médio Alto


Doença obv.
Doença obv.
Doença obv.

Infestantes: Intensidade Baixo Médio Alto


Infestante obv.
Infestante obv.
Infestante obv.

57
Rega

Data

Débito

Tratamentos Fitosanitários

Data Produto Quantidade Finalidade

Outras Observações

Técnicos presentes:

58
Anexo 4 – Exemplo de pedido de utilização de um produto fitofarmacêutico
para Uso Menor.

59
60
61
62
63
64
65
Anexo 5 – Extensão de Autorização para utilização em uso menor. Fonte:
DGADR, 2011

66
Anexo 6 - Cronologia do início de cada estádio de desenvolvimento das parcelas em estudo.
Dias Após Sementeira
Parcelas 1 1 1 1 1 2 2 2 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 4 4 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 6 6 6 6 6 6 6 6 .. 7
0 … 5 6 7 8 9 … … … 72
0 1 2 3 4 1 8 9 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 8 9 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 0 1 2 3 4 5 6 7 . 1
P1
P2
P3
P4
P5
P6
P7
P8
P9
P10
P11
P12
P13
P14
P15
P16
P17

Legenda
: Sementeira
Emergência
1ª Flor
Formação de
pedicelo
Frutificação

68
Anexo 7 – Valores das variáveis quantificadas nas parcelas acompanhadas
durante o ensaio.
Data Sementeira Nº Vagens Nº pedicelos Comp. Plantas Produtividade Duração Ciclo
P1 1,0 54,8 24,8 55,0 5,0 148,0
P2 4,0 35,1 10,1 38,4 3,7 147,0
P3 4,0 45,3 20,6 50,1 4,6 146,0
P4 8,0 37,6 15,9 59,0 3,8 151,0
P5 10,0 27,4 15,9 38,2 2,8 146,0
P6 11,0 54,5 11,3 61,5 5,0 154,0
P7 11,0 38,6 13,0 38,4 4,2 149,0
P8 14,0 43,8 12,3 44,3 4,5 147,0
P9 22,0 47,6 17,0 38,2 0,5 147,0
P10 19,0 56,5 14,8 62,9 2,9 153,0
P11 21,0 49,0 14,3 47,8 1,6 148,0
P12 22,0 52,3 12,5 44,0 1,8 152,0
P13 29,0 0,2 182,0
P14 24,0 35,8 16,3 43,6 4,8 163,0
P15 32,0 0,6 174,0
P16 30,0 6,0 5,8 33,4 3,6 144,0
P17 45,0 7,0 11,5 37,4 0,9 132,0

Anexo 8 – Matriz de correlação entre as variáveis.


Correlations (Spreadsheet2)
Data Comp. Nº Nº Duração
Produtividade
Sementeira Plantas Vagens pedicelo Ciclo
Data
1,000000 -0,408236 -0,569772 -0,492927 -0,619446 -0,359949
Sementeira
Comp. Plantas -0,408236 1,000000 0,674592 0,404923 0,357340 0,433917
Nº Vagens -0,569772 0,674592 1,000000 0,519668 0,184856 0,573319
Nº Pedicelo -0,492927 0,404923 0,519668 1,000000 0,185709 0,184868
Produtividade -0,619446 0,357340 0,184856 0,185709 1,000000 0,467896
Duração Ciclo -0,359949 0,433917 0,573319 0,184868 0,467896 1,000000

Anexo 9 – Matriz dos valores próprios das componentes principais.


Eigenvalues of correlation matrix, and related statistics (Spreadsheet2) Active variables only
Valor próprio % Variância Total Valor próprio - Cumulativo % Variância - Cumulativo
1 3,177432 52,95720 3,177432 52,9572
2 1,009747 16,82911 4,187179 69,7863
3 0,829840 13,83066 5,017018 83,6170
4 0,491084 8,18473 5,508102 91,8017
5 0,386853 6,44755 5,894956 98,2493
6 0,105044 1,75074 6,000000 100,0000

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