Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O Conceito de Pecado em Kierkegaard Um e
O Conceito de Pecado em Kierkegaard Um e
Vox Scripturae – Revista Teológica Internacional – São Bento do Sul/SC – vol. XXIV – n. 1 – jan-jun 2016 – p. 117-150
117
O conceito de pecado em Kierkegaard
ISSN 0104-0073
eISSN 2447-7443
Licenciado sob uma Licença Creative Commons
Atribuição – Não Comercial – Sem Derivações 4.0 internacional
RESUMO
ABSTRACT
This essay is a study of the meaning of sin inside the Kierkegaard’s work, starting from two
1
Artigo recebido em 17 de março de 2016, e aprovado pelo Conselho Editorial em reunião realizada
em 15 de junho de 2016, com base nas avaliações dos pareceristas ad hoc.
2
Bruno Bernardi Hintz é estudante do curso de Bacharelado em Teologia na Faculdade Luterana de
Teologia – FLT, com sede em São Bento do Sul, SC. E-mail: bruno.hintz@flt.edu.br.
3
Claus Schwambach (Dr.) é professor de Teologia Sistemática na FLT – Faculdade Luterana de
Teologia e Editor-Chefe de Vox Scripturae. E-mail: claus.schwambach@diretoria.flt.edu.br.
Vox Scripturae – Revista Teológica Internacional – São Bento do Sul/SC – vol. XXIV – n. 1 – jan-jun 2016 – p. 117-150
118
Bruno B. Hintz e Claus Schwambach
of his publications. Initially, to locate us in the subject, we will go through general aspects
of the philosophy and life of Kierkegaard. Following it will treat the concept of sin in the
work “The Concept of Anxiety”, and after in the work “The Sickness Unto Death” seeking
to understand the sin inside of the general frame of each writing, in its connection with
the facts of the human subjectivity discussed by the philosopher. Ultimately, it will make a
synthesis of the Kierkegaard’s thinking about the sin and it will think the relation between
anguish and desperate inside the relation of them with the sin.
Keywords: Sin. Anguish. Desperate. Philosophy. Theology.
1 INTRODUÇÃO
Vox Scripturae – Revista Teológica Internacional – São Bento do Sul/SC – vol. XXIV – n. 1 – jan-jun 2016 – p. 117-150
119
O conceito de pecado em Kierkegaard
4
KIERKEGAARD, Sören. Diário de um Sedutor; Temor e Tremor; O Desespero
Humano (Doença até a Morte). São Paulo: Abril, 1979, p. 10.
5
GONZALEZ, Justo L. A era dos novos horizontes: uma história ilustrada do cristianismo.
São Paulo: Vida Nova, 1988, v. 9, p. 103.
6
ALLEN, Diogenes; SPRINGSTED, Eric. Filosofia para entender teologia. 3. ed. Santo
André: Academia Cristã, 2010, p. 284.
7
GONZALEZ, 1988, p. 103.
8
BENDER, Germanio. A angústia como condição da existência humana: um estudo da
obra “O conceito de angústia” de Sören Kierkegaard. Ijuí: Unijuí, 1999, p. 15.
9
KIERKEGAARD, 1979, p. 11.
Vox Scripturae – Revista Teológica Internacional – São Bento do Sul/SC – vol. XXIV – n. 1 – jan-jun 2016 – p. 117-150
120
Bruno B. Hintz e Claus Schwambach
10
GONZALEZ, 1988, p. 101.
11
KIERKEGAARD, 1979, p. 13.
12
KIERKEGAARD, 1979, p. 13.
13
KIERKEGAARD, 1979, p. 10.
Vox Scripturae – Revista Teológica Internacional – São Bento do Sul/SC – vol. XXIV – n. 1 – jan-jun 2016 – p. 117-150
121
O conceito de pecado em Kierkegaard
14
KIERKEGAARD, Sören. O conceito de angústia: uma simples reflexão psicológico-
demonstrativa direcionada ao problema dogmático do pecado hereditário. Tradução de
Álvaro Luiz Montenegro Valls. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes; Brangança Paulista, SP:
Universitária São Francisco, 2013.
15
“A rigor, a expressão usada sempre por SK é ‘pecado hereditário’, que nós costumamos
chamar pecado original [N.T.]”. Cf. KIERKEGAARD, 2013, p. 21.
16
Cf. KIERKEGAARD, 2013, p. 16-26.
17
KIERKEGAARD, 2013, p. 18.
18
KIERKEGAARD, 2013, p. 16.
Vox Scripturae – Revista Teológica Internacional – São Bento do Sul/SC – vol. XXIV – n. 1 – jan-jun 2016 – p. 117-150
122
Bruno B. Hintz e Claus Schwambach
19
KIERKEGAARD, 2013, p. 27.
20
KIERKEGAARD, 2013, p. 30.
21
KIERKEGAARD, 2013, p. 32.
22
KIERKEGAARD, 2013, p. 31. Esse pensamento é constantemente retomado por
Kierkegaard, o que demonstra a sua centralidade dentro da obra estudada. Cf. p. 30, 50,
104.
23
BENDER, 1999, p. 50.
24
KIERKEGAARD, 2013, p. 31.
Vox Scripturae – Revista Teológica Internacional – São Bento do Sul/SC – vol. XXIV – n. 1 – jan-jun 2016 – p. 117-150
123
O conceito de pecado em Kierkegaard
25
KIERKEGAARD, 2013, p. 172.
26
KIERKEGAARD, 2013, p. 34.
27
KIERKEGAARD, 2013, p. 34.
28
KIERKEGAARD, 2013, p. 51.
29
Em O conceito de angústia, Kierkegaard não intenciona definir o que é o pecado, apenas
trabalha a sua relação com o ser humano e a angústia, tendo o conceito como pressuposto.
30
KIERKEGAARD, 2013, p. 118.
31
KIERKEGAARD, 2013, p. 44.
32
KIERKEGAARD, 2013, p. 40.
Vox Scripturae – Revista Teológica Internacional – São Bento do Sul/SC – vol. XXIV – n. 1 – jan-jun 2016 – p. 117-150
124
Bruno B. Hintz e Claus Schwambach
3.3 A angústia
33
KIERKEGAARD, 2013, p. 45.
34
KIERKEGAARD, 2013, p. 47.
35
KIERKEGAARD, 2013, p. 45.
36
KIERKEGAARD, 2013, p. 45.
37
BENDER, 1999, p. 57.
Vox Scripturae – Revista Teológica Internacional – São Bento do Sul/SC – vol. XXIV – n. 1 – jan-jun 2016 – p. 117-150
125
O conceito de pecado em Kierkegaard
38
KIERKEGAARD, 2013, p. 48.
39
KIERKEGAARD, 2013, p. 45.
40
KIERKEGAARD, 2013, p. 51.
Vox Scripturae – Revista Teológica Internacional – São Bento do Sul/SC – vol. XXIV – n. 1 – jan-jun 2016 – p. 117-150
126
Bruno B. Hintz e Claus Schwambach
vez, a angústia”42. Ele distingue, então, entre duas formas de angústia: a angústia
que põe o pecado e a que sobrevém ao pecado. A primeira é a que ele chamou
angústia subjetiva. Esta é parte da natureza do homem, e já está presente antes do
pecado. Sobre ela Kierkegaard diz: “Angústia pode-se comparar com vertigem.
Aquele, cujos olhos debruçam a mirar uma profundeza escancarada, sente tontura.
[...] Deste modo, a angústia é a vertigem da liberdade, que surge quando o espírito
quer estabelecer a síntese”43.
A outra angústia é a angústia objetiva, que é decorrente do pecado, é
sua consequência. A angústia objetiva afeta toda a criação, coloca-a toda em um
estado de imperfeição, embora não tenha sido produzida pela criação. Kierkegaard
confirma essa forma de angústia através do texto de Romanos 8.19, que fala da
“ardente expectativa da criação”44, que aguarda a redenção. O autor, contudo, não
explica de qual forma o pecado afeta a criação, quais são os seus efeitos sobre ela.
Como mais uma consequência do pecado, Kierkegaard fala do efeito
da relação de geração. Ele diz que “o indivíduo que vem depois é essencialmente
tão primordial como o primeiro”45, pelo salto qualitativo, Adão e qualquer homem
posterior a ele são iguais46, são a síntese sustentada pelo espírito, que define o
gênero humano. Porém existe um aumento a cada geração, que difere os indivíduos
posteriores de Adão, sem que eles se tornem essencialmente diferentes de Adão, do
41
Kierkegaard aborda detalhadamente em O Conceito de Angústia manifestações da
angústia no indivíduo posterior a Adão, que infelizmente, não poderão ser trabalhadas
aqui, devido às delimitações desta pesquisa. Essas formas são: a) a angústia da falta de
espírito (p. 99-101); b) a angústia no sentido de destino, característica do paganismo (p.
102-108); c) a angústia no sentido da culpa, típica do judaísmo, que está diante da Lei (p.
108-115); d) a angústia diante do mal, em que o indivíduo está no bem e angustia-se do
mal (p. 119-124); e e) a angústia diante do bem, definida pelo autor como “o demoníaco”,
e nesta o indivíduo está no mal (p. 124-160). KIERKEGAARD, 2013.
42
KIERKEGAARD, 2013, p. 58.
43
KIERKEGAARD, 2013, p. 66.
44
BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudo Almeida. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do
Brasil, 2006.
45
KIERKEGAARD, 2013, p. 69.
46
KIERKEGAARD, 2013, p. 118.
Vox Scripturae – Revista Teológica Internacional – São Bento do Sul/SC – vol. XXIV – n. 1 – jan-jun 2016 – p. 117-150
127
O conceito de pecado em Kierkegaard
qual nenhum indivíduo escapa47. Esse algo mais é a angústia crescente, refletida,
intensificada – essa é a relação de geração. Essa progressão já se evidencia com
Eva, que embora não fosse gerada, já foi derivada do ser humano existente, Adão48.
47
KIERKEGAARD, 2013, p. 69.
48
KIERKEGAARD, 2013, p. 67-68.
49
KIERKEGAARD, 2013, p. 52.
50
KIERKEGAARD, 2013, p. 73.
51
KIERKEGAARD, 2013, p. 52.
52
KIERKEGAARD, 2013, p. 68.
53
KIERKEGAARD, 2013, p. 52.
54
KIERKEGAARD, 2013, p. 86.
Vox Scripturae – Revista Teológica Internacional – São Bento do Sul/SC – vol. XXIV – n. 1 – jan-jun 2016 – p. 117-150
128
Bruno B. Hintz e Claus Schwambach
o que os distingue sexualmente, porque antes da queda, eles não percebiam essa
distinção de gênero55.
55
Dentro dessa discussão, Kierkegaard demonstra que a mulher é mais sensual que o
homem, e, por conseguinte, a angústia está mais presente nela. Não cabe ao presente
trabalho adentrar a essa discussão. Caso o leitor tenha interesse, cf. KIERKEGAARD,
2013, p. 67-79.
56
KIERKEGAARD, 2013, p. 87. Kierkegaard várias vezes retoma essa síntese e a partir
dela constrói sua argumentação. Cf. KIERKEGAARD, 2013, p. 47, 52, 66.
57
KIERKEGAARD, 2013, p. 90.
58
KIERKEGAARD, 2013, p. 94.
59
KIERKEGAARD, 2013, p. 87-98.
Vox Scripturae – Revista Teológica Internacional – São Bento do Sul/SC – vol. XXIV – n. 1 – jan-jun 2016 – p. 117-150
129
O conceito de pecado em Kierkegaard
60
KIERKEGAARD, 2013, p. 38.
61
KIERKEGAARD, 2013, p. 117.
62
KIERKEGAARD, 2013, p. 50.
63
KIERKEGAARD, 2013, p. 40.
64
KIERKEGAARD, 2013, p. 55.
65
KIERKEGAARD, 2013, p. 67.
66
KIERKEGAARD, 2013, p. 33-34.
Vox Scripturae – Revista Teológica Internacional – São Bento do Sul/SC – vol. XXIV – n. 1 – jan-jun 2016 – p. 117-150
130
Bruno B. Hintz e Claus Schwambach
Disso, o autor ainda escreve que “aquele que é formado pela angústia é
formado pela possibilidade, e só quem é formado pela possibilidade está formado
de acordo com sua infinitude. A possibilidade é, por conseguinte, a mais pesada de
todas as categorias”69. Para ele, a possibilidade é mais difícil de encarar do que a
realidade, porque na “possibilidade tudo é igualmente possível”70, e com ela nos
angustiamos pois vemos o horrível como algo possível. Depois de angustiar-se
corretamente, o homem tem uma nova explicação para a realidade. E a angústia
correta é justamente essa que coloca o indivíduo diante da possibilidade e o leva
a aprender. Essa angústia correta liberta o homem de se preocupar com as coisas
finitas, e desse modo forma o indivíduo para a liberdade.
Concluindo o assunto, Kierkegaard afirma: “Para que um indivíduo
venha a ser formado assim tão absolutamente e infinitamente pela possibilidade,
ele precisa ser honesto frente à possibilidade e ter a fé”71. Por fé, ele entende o
conceito de Hegel, de que fé é a certeza interior que antecipa a infinitude. Como
bem compreendeu Bender, para Kierkegaard “a fé não se fundamenta em algo
externo, mas é uma certeza interior, o que confirma a importância da interioridade
67
KIERKEGAARD, 2013, p. 58.
68
KIERKEGAARD, 2013, p. 161.
69
KIERKEGAARD, 2013, p. 162.
70
KIERKEGAARD, 2013, p. 162.
71
KIERKEGAARD, 2013, p. 163.
Vox Scripturae – Revista Teológica Internacional – São Bento do Sul/SC – vol. XXIV – n. 1 – jan-jun 2016 – p. 117-150
131
O conceito de pecado em Kierkegaard
72
BENDER, 1999, p. 77.
73
KIERKEGAARD, 2013, p. 123.
74
KIERKEGAARD, 2013, p. 168.
75
KIERKEGAARD, 2013, p. 169.
76
KIERKEGAARD, Sören. O desespero humano. São Paulo: Martin Claret, 2004, p. 73.
Vox Scripturae – Revista Teológica Internacional – São Bento do Sul/SC – vol. XXIV – n. 1 – jan-jun 2016 – p. 117-150
132
Bruno B. Hintz e Claus Schwambach
77
KIERKEGAARD, 2004, p. 19.
78
Cf., por ex., KIERKEGAARD, 2004, p. 33, 34, 45. Essa estrutura, como síntese do
temporal e eterno, já foi apresentada pelo autor na obra anteriormente analisada (cf.
KIERKEGAARD, 2013, p. 90). Em O Desespero Humano, Kierkegaard não retoma
a síntese entre corpo e alma sustentada pelo espírito, apresentada em O Conceito de
Angústia (cf. KIERKEGAARD, 2013, p.47), mas a encara como pressuposto e trata
diretamente da síntese entre temporal e eterno, gerada pela anterior, que também se
sustenta pelo espírito, pois no momento em que esse está posto, existe o instante, que
liga o temporal ao eterno (cf. KIERKEGAARD, 2013, p. 94).
79
KIERKEGAARD, 2004, p. 34.
80
KIERKEGAARD, 2004, p. 15.
81
KIERKEGAARD, 2004, p. 16.
82
Kierkegaard usa o texto bíblico de João 11.1-44 para comprovar que a morte não é a
doença mortal. Cf. KIERKEGAARD, 2004, p. 15-16.
83
KIERKEGAARD, 2004, p. 16.
84
KIERKEGAARD, 2004, p. 21.
Vox Scripturae – Revista Teológica Internacional – São Bento do Sul/SC – vol. XXIV – n. 1 – jan-jun 2016 – p. 117-150
133
O conceito de pecado em Kierkegaard
85
KIERKEGAARD, 2004, p. 23.
86
KIERKEGAARD, 2004, p. 22.
87
Devido às delimitações da pesquisa, não será possível descrever aqui cada maneira
em que o desespero se manifesta. Contudo, todas essas formas de desespero no fim
constituem uma única: o homem desespera de si mesmo. Caso o leitor tenha interesse em
aprofundar-se nas formas de desespero que Kierkegaard trabalha, cf. KIERKEGAARD,
2004, p.34-70.
88
KIERKEGAARD, 2004, p. 29.
89
KIERKEGAARD, 2004, p. 58.
90
KIERKEGAARD, 2004, p. 52.
Vox Scripturae – Revista Teológica Internacional – São Bento do Sul/SC – vol. XXIV – n. 1 – jan-jun 2016 – p. 117-150
134
Bruno B. Hintz e Claus Schwambach
91
KIERKEGAARD, 2004, p. 31.
92
KIERKEGAARD, 2004, p. 34.
93
KIERKEGAARD, 2004, p. 25.
94
KIERKEGAARD, 2004, p. 27.
95
KIERKEGAARD, 2004, p. 45.
96
KIERKEGAARD, 2004, p. 49.
97
KIERKEGAARD, 2004, p. 33.
Vox Scripturae – Revista Teológica Internacional – São Bento do Sul/SC – vol. XXIV – n. 1 – jan-jun 2016 – p. 117-150
135
O conceito de pecado em Kierkegaard
não existe. Aqui Kierkegaard fala do mesmo eu da primeira parte do livro, porém
aqui ele está em face de Deus, se torna “eu teológico”. Enquanto na primeira
98
KIERKEGAARD, 2004, p. 14.
99
KIERKEGAARD, 2004, p. 73.
100
KIERKEGAARD, 2004, p. 83.
101
KIERKEGAARD, 2004, p. 77.
102
KIERKEGAARD, 2004, p. 75.
Vox Scripturae – Revista Teológica Internacional – São Bento do Sul/SC – vol. XXIV – n. 1 – jan-jun 2016 – p. 117-150
136
Bruno B. Hintz e Claus Schwambach
parte do livro o homem era sua própria medida, aqui Deus é medida do homem.
Ele acrescenta que “apenas a consciência de estar frente a Deus faz do nosso eu
concreto, individual, um eu infinito. É esse eu infinito que então peca frente a
Deus”103.
O homem natural e o pagão104 não conhecem o pecado. De acordo com
a obra aqui estudada, o homem não pode dizer o que é pecado porque vive nele,
porque todos os seus discursos sobre pecado serão uma desculpa para si mesmo.
“É por isso que o cristianismo começa por outro modo, pondo a necessidade duma
revelação de Deus, que instrua o homem sobre o pecado, [...] sobre a profundidade
de suas raízes”105. O homem precisa saber o que é ao certo o pecado para perceber
que está nele, e isso só se dá através de uma revelação que ponha essa ideia diante
do ser humano106.
O que Kierkegaard quer comprovar com esse raciocínio é que o pecado
só pode ser assim chamado a partir do estar em face de Deus e da Revelação. Por
isso ele também diz que “a vida da maioria dos homens está [...] tão afastada do
bem – a fé –, que é quase demasiado a-espiritual para se poder chamar pecado,
quase demasiado mesmo para se chamar desespero”107. O autor aqui mostra
que o cristianismo necessita da consciência do pecado, o que não ocorre numa
existencial a-espiritual, desligada da fé. Isso não significa que aquele que não foi
instruído sobre o pecado não seja pecador, pois ele é um desesperado, ainda mais
se não possui essa consciência. Porém é somente diante de Deus e sua revelação
que o desespero se torna conscientemente pecado.
103
KIERKEGAARD, 2004, p. 76.
104
Os termos homem natural e pagão são constantemente empregados em oposição ao
cristão. A grande diferença é que só o cristão conhece o elemento “frente a Deus”. Cf.
KIERKEGAARD, 2004, p. 21, 46, 76, 80, 82-83, etc.
105
KIERKEGAARD, 2004, p. 88-89.
106
KIERKEGAARD, 2004, p. 83.
107
KIERKEGAARD, 2004, p. 93.
Vox Scripturae – Revista Teológica Internacional – São Bento do Sul/SC – vol. XXIV – n. 1 – jan-jun 2016 – p. 117-150
137
O conceito de pecado em Kierkegaard
e até cada um dos instantes em que esse pecado permanece sem arrependimento
é um novo pecado”108. Dessa forma, pecado não é cada falha em particular;
cada pecado específico apenas manifesta a continuidade do pecado. Segundo o
autor, “estacionar no pecado é pior do que cada pecado isolado, é o pecado por
excelência”109. Assim, enquanto esse círculo cumulativo não for interceptado, o
homem permanecerá constantemente no pecado, caminhando para a perdição.
108
KIERKEGAARD, 2004, p. 97.
109
KIERKEGAARD, 2004, p. 98.
110
KIERKEGAARD, 2004, p. 101.
111
KIERKEGAARD, 2004, p. 102.
112
KIERKEGAARD, 2004, p. 105.
113
KIERKEGAARD, 2004, p. 107.
Vox Scripturae – Revista Teológica Internacional – São Bento do Sul/SC – vol. XXIV – n. 1 – jan-jun 2016 – p. 117-150
138
Bruno B. Hintz e Claus Schwambach
114
KIERKEGAARD, 2004, p. 111.
115
KIERKEGAARD, 2004, p. 108.
116
KIERKEGAARD, 2004, p. 79.
117
KIERKEGAARD, 2004, p. 110.
118
KIERKEGAARD, 2004, p. 109.
119
KIERKEGAARD, 2004, p. 112.
120
KIERKEGAARD, 2004, p. 110.
Vox Scripturae – Revista Teológica Internacional – São Bento do Sul/SC – vol. XXIV – n. 1 – jan-jun 2016 – p. 117-150
139
O conceito de pecado em Kierkegaard
121
KIERKEGAARD, 2004, p. 113.
122
KIERKEGAARD, 2004, p. 116.
123
KIERKEGAARD, 2004, p. 119.
124
BÍBLIA de Estudo Almeida, 2006.
125
KIERKEGAARD, 2004, p. 49.
Vox Scripturae – Revista Teológica Internacional – São Bento do Sul/SC – vol. XXIV – n. 1 – jan-jun 2016 – p. 117-150
140
Bruno B. Hintz e Claus Schwambach
126
KIERKEGAARD, 2004, p. 77.
127
KIERKEGAARD, 2004, p. 119.
128
KIERKEGAARD, 2004, p. 78. Kierkegaard cita essa mesma fórmula mais de uma vez.
Cf. KIERKEGAARD, 2004, p. 49, 119.
129
KIERKEGAARD, 2004, p. 105.
Vox Scripturae – Revista Teológica Internacional – São Bento do Sul/SC – vol. XXIV – n. 1 – jan-jun 2016 – p. 117-150
141
O conceito de pecado em Kierkegaard
130
GOUVÊA, Ricardo Quadros. Paixão pelo paradoxo: uma introdução aos estudos de
Sören Kierkegaard e de sua concepção de fé cristã. São Paulo, SP: Novo Século, 2000,
p. 251.
131
GOUVÊA, 2000, p. 202.
132
GOUVÊA, 2000, p. 202-203, 266, 268.
Vox Scripturae – Revista Teológica Internacional – São Bento do Sul/SC – vol. XXIV – n. 1 – jan-jun 2016 – p. 117-150
142
Bruno B. Hintz e Claus Schwambach
133
KIERKEGAARD, 2013, p. 118.
134
KIERKEGAARD, 2013, p. 31.
135
Cf. KIERKEGAARD, 2013, p. 77.
136
KIERKEGAARD, 2013, p. 103.
Vox Scripturae – Revista Teológica Internacional – São Bento do Sul/SC – vol. XXIV – n. 1 – jan-jun 2016 – p. 117-150
143
O conceito de pecado em Kierkegaard
137
ROOS, Jonas. Kierkegaard e a antropologia entre a angústia e o desespero. In: IV
JORNADAS KIERKEGAARD, 2008, Buenos Aires. In: La Mirada Kierkegaardiana
nº1, p. 71.
138
ROOS, 2008, p. 70.
Vox Scripturae – Revista Teológica Internacional – São Bento do Sul/SC – vol. XXIV – n. 1 – jan-jun 2016 – p. 117-150
144
Bruno B. Hintz e Claus Schwambach
ponto de partida para uma reflexão não-teológica, os cita sem explicar em detalhes,
mas isso não pode levar o leitor a afirmar que o filósofo não os tinha em mente
e que não tenha encarado o pecado conforme a definição bíblica. Kierkegaard
menciona que os pecados isolados também constituem pecado, mas estes não
são o objeto de reflexão do autor, que procura uma ideia que englobe inclusive
as falhas isoladas, porém nesse caminho por vezes sai da ideia cristã de pecado.
Ainda assim, Kierkegaard não fecha o pecado exclusivamente no indivíduo, como
algo que não tenha realidade externa ao eu.
139
KIERKEGAARD, 2013, p. 52.
140
KIERKEGAARD, 2004, p. 21.
141
KIERKEGAARD, 2013, p. 161
142
Aqui se parte da ideia de que o indivíduo é ele mesmo e o gênero humano. Cf.
KIERKEGAARD, 2013, p. 30, 31, 50, 104.
143
Oliviéri faz um estudo detalhado sobre o papel da angústia kierkegaardiana na
construção da subjetividade do indivíduo, também relacionando à angústia o desespero
kierkegaardiano. Cf. OLIVIÉRI, Maria de Fatima. Angústia existencial: o papel
Vox Scripturae – Revista Teológica Internacional – São Bento do Sul/SC – vol. XXIV – n. 1 – jan-jun 2016 – p. 117-150
145
O conceito de pecado em Kierkegaard
5.3 A fé
148
GOUVÊA, 2000, p. 252.
149
KIERKEGAARD, 2004, p. 119.
150
KIERKEGAARD, 2013, p. 123.
151
KIERKEGAARD, 2013, p. 161, 168.
152
KIERKEGAARD, 2013, p. 110.
153
RAMM, Bernard. Diccionario de Teologia Contemporanea. Versión castellana por
Roger Valle. 4. ed. El Paso, Texas: Casa Bautista de Publicaciones, 1990, p. 59. “El
Vox Scripturae – Revista Teológica Internacional – São Bento do Sul/SC – vol. XXIV – n. 1 – jan-jun 2016 – p. 117-150
147
O conceito de pecado em Kierkegaard
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Kierkegaard não pode ser tomado como norma para a fé cristã nem
como dogma para a Teologia, pois sua discussão não se limita a esse âmbito.
Contudo, ele deve ser explorado, pois tem muito a contribuir dentro da Teologia
pelos temas que retoma e a maneira que os encara, por colocar diante da Teologia o
indivíduo concreto e não idealizado, com sua interioridade, suas mazelas, anseios
cristãos na sua análise, Balthasar toma o conceito produzido por Kierkegaard e volta para
o cristianismo, tentando melhor compreender a angústia humana a partir de uma análise
bíblica sobre o assunto.
157
KIERKEGAARD, 2013, p. 172.
Vox Scripturae – Revista Teológica Internacional – São Bento do Sul/SC – vol. XXIV – n. 1 – jan-jun 2016 – p. 117-150
149
O conceito de pecado em Kierkegaard
REFERÊNCIAS
ALLEN, Diogenes; SPRINGSTED, Eric. Filosofia para entender teologia. 3. ed. Santo
André: Academia Cristã, 2010.
158
KIERKEGAARD, 2004, p. 13.
Vox Scripturae – Revista Teológica Internacional – São Bento do Sul/SC – vol. XXIV – n. 1 – jan-jun 2016 – p. 117-150
150
Bruno B. Hintz e Claus Schwambach
Vox Scripturae – Revista Teológica Internacional – São Bento do Sul/SC – vol. XXIV – n. 1 – jan-jun 2016 – p. 117-150