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, Os sacramentos

símbolos do Espírito

capacidade de entendimento dos ApóSt ºlos e, "aind ª mais, a explica _


,. . 1 t . d Çao
deste mistério ultrapassa todas as potencias c~ es es_ cr,~a as"36•
O Logos passou pela humildade e pel~ mentira da letra e d
sentido, antes de chegar ao espírito, como di~ B~lthasar comentand:
Orígenes37. Aqui finalmente aparecem os sinais em auxílio do
r • O , ~ 1 co-
nhecimento intelectual. Com e1e1to, ngenes ormu a um cone .
. d d h etto
muito genérico de sinal, que - compara O ao e eneu - se pod .
·1 . . . d· ena
qualificar de light: "há sinal quand o aqui O que se ve 1n 1ca algu
coisa (que não se vê)" 38 • Contud 0 , e' d·if'i~i·1 para O ngenes
' passar rna
do
conhecimento sensível ao espiritual, da vida corporal à vida intel
tual, do que é humano e temporal ao ~ue é ~ivino e :t:rno, porq:~
a mentalidade origeniana procede mais por superaçao do que po
" . r
"encarnação': Segundo J. Rius-Camps, as sucessivas etapas ou mo-
mentos desta ascensão da mente são os seguintes: planetas, estrelas
fixas ( todas elas pertencentes ao mundo sensível); terra nova, céu novo
39
(pertencente ao Mundo inteligível)" •

SINAL
Apesar de tudo, Orígenes chega à idéia de sinal em dois sentidos:
como milagre ou ponto de intervenção benévola de Deus no
mundo, como as curas ou a concepção virginal de Maria4º;
como typos de realidades espirituais, e neste sentido o sinal
da Eucaristia é símbolo de ação de graças espiritual. O Ba-
tismo, como banho espiritual, também é símbolo do banho
e limpeza espiritual operado pelo Logos de Deus41 • Nessa
linha, temos três níveis no Batismo: o sinal é a água; o typos
é a água e o espírito, já que o typos não pode designar apenas
uma realidade exterior e material; e, finalmente, a verdade é
o Espírito. Chegamos aqui a uma concepção muito perfeita

36. Ibid., II, 6, 2, p. 196.


37. H. lfRS VON BALTHASAR, Parole et Mystere chez Origene, 95.
38. ORIGENES, ln Rom. Comm. 4, 2; MG 14, 968A.
39. Tra:tat sobre els Principis, 250, nota 242.
4 o. O RI GENES, Contra Celso, introd., versão e notas Daniel Ruiz Bueno, Madrid,
BAC, 1967, 70, 193-194.
41. Ibid., VIII, 57, p. 569; ln loh. Comm. 6, 17.

58
Ponto central:
.
"Na linguagem da Bíblia 'cora - , . .
, çao significa o ce t d
existência humana, a confluência da razão, da vontad d n ro a
rnento e d a sensi·b·I·d
i i ad e, centro em que a pessoa s e, tempera-
0
e encontra em
unidade e sua orientação interior"46 • Sua
É nesse ponto
, central que, por meio do símbolo e, portanto, na
mediação do s1mbolo, o que vem do Transcendente é comunicado aos
corações humanos. Esse ponto é apto para que Deus encha a pessoa
humana com sua Luz, seu Amor e sua Vida divinos. Assim, no símbolo
do "murmúrio silencioso" - o sopro tênue de 1 Reis 19, 12 -, Deus
- d e El'ias47.
enche o coraçao
Do ponto de vista teológico. Toda a imensidade de Deus se faz pre-
sente na pequenez do símbolo, que aparece assim como uma contradictio
in terminis: um som que não se ouve; uma "música silenciosa'; como
intuiu São João da Cruz e como o músico Federico Mompou tentou
expressar em seus cadernos de Música silenciosa48•
Os escritores franceses chamam de "oximoro"49 esse contraste,
ou contradição em termos, entre a infinitude divina e a concreta
humildade do símbolo. São metáforas ou simbolismos portadores
de contradição em si mesmos, como "silêncio eloqüente" ou "imensa
pequenez': No Natal, contemplamos a imensidade infinita de Deus na
fragilidade do Menino. Os místicos também conhecem as antíteses

46.J. Card. RATZINGER, Commento teologico, in CONGREGAZONE PER


LA DOTTRINA DELLA FEDE, n Messagio di Fatima, Supplemento a I'Osservatore
Romano, 147, Roma, 26-27 junho 2000, 39.
47. Cf. D. ALEIXANDRE, De Elías a Juan de la Cruz. Un itinerario de silencio,
in La Humanitat a la recerca de Déu, Revista Catalana de Teología XXV, 200, 191-201.
48. A música silenciosa, a solidão sonora, tenta "expressar a idéia de uma música que
seria a voz do silêncio [ ... ] que cala, enquanto a solidão se transforma em música" (F.
MOMPOU, Proyecto de musicar Cantar dei alma, l 951). "É muda, porque sua audição
é interna": Discurso de entrada em la Academia de sant Jordi, l 7.V.1952) .
. _49~O dicionário Grand Larousse Encyclopedique, 8, Paris, 1963, dá a seguinte de-
firuçao: Oxymoron ( Oxymoron ): de oxys (agudo) e morós (insensato) : procedimento
~~~ consiste em unir duas palavras aparentemente contraditórias para expressar uma
ideia de caráter inesperado: 'silêncio eloqüente": Esta definição é melhor que a do
Espasa· "fi
d ,, ( · . gura que consiste em ocultar um agudo sarcasmo sob um aparente absur-
0, Enczclopedia Universal Ilustrada XL Madrid Espasa, Calpe, 1973). Ver o uso de
ox,rno~ ' ' '
on em J. P. Jossua, Literatura i Absolut, Barcelona, Cru:illa, 2000, 70.

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