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À G∴ D∴ G∴ A∴ D∴ U∴

A∴ R∴ L∴ S∴ CAVALEIROS DE AÇO Nº 4579

Federada ao GOB

Filiada ao GOB/SP
Oriente de São Paulo- São Paulo

Ir∴ Edmar Dourado dos Santos Junior

TRABALHO DE APRENDIZ MAÇOM

A Câmara de Reflexão

Além do Átrio e da Sala dos Passos Perdidos existe, em um local discreto do


edifício, uma câmara cujas paredes são forradas de preto, sem recebimento de
luz do exterior, iluminada por uma única fonte de luz, onde estão gravadas, de
maneira ostensiva, várias inscrições e emblemas fúnebres nas paredes, formando
um conjunto. É o local em que o candidato é recolhido antes de sua introdução no
Templo, onde cada um deve entrar uma única vez em sua vida maçônica.

O presente trabalho versa sobre a Câmara de Reflexão, e sua simbologia no 1º


Grau Simbólico da Maçonaria, o Grau de Aprendiz, no Rito Escocês Antigo e
Aceito – REAA.

Descrição da Câmara de Reflexão

Está no Ritual de Aprendiz, do REAA, que na Câmara de Reflexão haverá um


único foco de luz, um esqueleto humano, ou pelo menos um crânio, um pedaço
de pão, um recipiente com água, sal, enxofre, mercúrio (elementos alquímicos
que nos remetem à ideia de transmutação, purificação e a consequente evolução.
É a alquimia filosófica), uma cadeira, uma mesa, uma campainha, papel e uma
caneta.

Sobre a mesa estará uma ampulheta e a representação de um galo em posição


de canto e, debaixo do galo, as palavras “Vigilância e Perseverança”.

As iniciais da frase “Visitae Interiora Terrae, Retificandoque Invenies Occultum


Lapidem”, formando a sigla V.I.T.R.I.O.L., cuja tradução é “Visitai o Interior da
Terra, Retificando encontrarás a Pedra Oculta.”

A figura da Morte, com o seu alfanje e, sob a figura, uma inscrição bem visível:
“Lembra-te que és pó e ao Pó Voltarás”.

Grafadas sobre as paredes deve haver as seguintes inscrições:

 Se a curiosidade aqui te conduz, retira-te.

 Se queres bem empregar a tua vida, pensa na morte.

 Se tens receio de que se descubram os teus defeitos, não estarás


bem entre nós.

 Se és apegado às distinções mundanas, retira-te; nós aqui, não as


reconhecemos.

 Se fores dissimulado, serás descoberto.

 Se tens medo, não vás adiante.

É neste ambiente que o profano e então candidato tem o primeiro contato ativo
com a Ordem Maçônica. É o primeiro empecilho do caminho iniciático. Nessa
fase, embora ajudado por um guia, o candidato caminha nas trevas.

É o momento que o candidato é levado a preencher o testamento moral e


filosófico e a responder às seguintes questões:

 Quais os deveres do homem para com Deus?


 Quais os deveres do homem para com a humanidade?
 Quais os deveres do homem para com a pátria?
 Quais os deveres do homem para com a família?
 Quais os deveres do homem para consigo mesmo?
Simbolismo da Câmara de Reflexão

A Câmara de Reflexão é rica em símbolos, tendo cada um o seu significado.


Todavia, o mais importante é a significação do conjunto apresentado, que nos
coloca numa condição de receptividade apta a realizarmos um trabalho de
interpretação pessoal através da reflexão e intuição.

V.I.T.R.I.O.L - é um convite à busca do conhecimento de si próprio. Simboliza a


volta a consciência do candidato sobre si mesmo para examinar, refletir sobre seu
próprio conteúdo.

Atribui-se a origem desta expressão iniciática a um alquimista alemão do século


XV, monge beneditino, cujo nome hermetista foi Basile Valentin.

O Foco de Luz - é a única fonte de luz que ilumina a Câmara de Reflexão.


Simboliza a luz da Maçonaria que o profano recebe. É a representação da
divindade, da esperança e do renascimento.

Galo - anuncia o raiar de um novo dia. A vitória da luz sobre as trevas, a luz que o
iniciado vai receber. Também simboliza a vigilância que o iniciado deve manter
em relação ao seu papel na sociedade. É o emblema do despertar da consciência
e da ressurreição do candidato que morre para a vida profana e ressurge na nova
vida espiritual (neófito).

Foice é o objeto da morte. A morte é certa e niveladora de todos os homens


enquanto matéria. Tudo é transitório, finito.

Crânio nos faz refletir sobre a morte como fato inexorável.

Vigilância e Perseverança - são as palavras inscritas na bandeirola. Simboliza o


entendimento de que deveremos nos esforçar no árduo trabalho de desvencilhar
das nossas imperfeições e sempre nos mantermos atentos e vigilantes no
caminho da virtude sem os desvios dos vícios, por mais estreito e dificultoso que
possa ser o caminho de nossa jornada iniciática. É através dos sacrifícios e
renúncias aos vícios que podemos evoluir em direção à luz do conhecimento.

Ampulheta nos dá a dimensão do tempo escasso e soberano. Por isso é


necessário dedica-lo aos verdadeiros valores da vida.

Pão e Água - emblema da simplicidade que deve nortear a nova vida. Representa
a dualidade do homem enquanto corpo e espírito. Simbolizam o alimento do
corpo e do espírito e a purificação.

Trigo - simboliza a ressurreição.

Sal - simboliza a sabedoria, ciência e ponderação. É um elemento neutro.


Enxofre - é a força ativa, força criativa do espírito. O elemento masculino. Pode
simbolizar nossas paixões e desejos excessivos.

Mercúrio - símbolo alquímico universal e do feminino passivo. Também


representado pelo Galo. É considerado como princípio da inteligência e
sabedoria.

Testamento - Todos os símbolos e escritos presentes na Câmara de Reflexão


são prestáveis para infundir o respeito e a reflexão ao profano, no ambiente
inédito onde se encontra, sobre os seus valores, sua vida material e espiritual,
sobre os deveres e seriedade do ato que está prestes a praticar, bem como sobre
o conteúdo dos ideais que devem ser aceitos. Nesse sentido que é elaborado o
seu testamento simbólico. Não se trata apenas de responder as perguntas, mas
de expressar-se e testemunhar suas intenções filosóficas, assumindo
previamente uma obrigação moral.

Podemos analisar a Câmara de Reflexão sob três configurações, numa estrutura


ternária, no REAA:

A primeira como um local de meditação e interiorização. O candidato fica de


frente com a materialidade e a espiritualidade. Os símbolos e frases chamam a
atenção para a brevidade e finitude da vida.

Nos leva a refletir sobre os bens imutáveis e imortais, as riquezas mentais, morais
e espirituais.

A segunda simboliza a masmorra, símbolo da tirania que aprisiona o homem,


que, figuradamente, encarcera a consciência humana. Nos induz a perceber que
são os vícios e maus costumes os deformadores da conduta humana. Sendo
assim, simboliza um marco referencial para que o homem busque se libertar
dessas amarras.

A terceira sugere a morte o renascimento. É a prova da terra, o ventre da terra,


que simboliza o interior de cada um de nós. É primeiro ciclo do futuro iniciado.
Será mais adiante o neófito que decidirá sair das profundezas da terra em direção
à luz.

É onde o futuro maçom morre para a vida profana e renasce como um novo ser,
um neófito apto a ser trabalhado e moldado nos verdadeiros valores da virtude e
fins supremos da Maçonaria: liberdade, igualdade e fraternidade.

O elemento terra é a própria Câmara de Reflexão. É o emblema das entranhas da


terra. É o berço da transformação, ou seja, a semente é fecundada para que
ocorra o início de uma nova vida (Neófito). A morte simbólica do profano para o
renascimento na vida iniciática espiritual.
Conclusão

A Câmara de Reflexão acolhe o homem profano e devolve o neófito, que é o


embrião para a formação do novo homem. Simboliza o início do surgimento do
neófito no mundo maçônico, pois a permanência do iniciante profano no seu
interior simboliza uma espécie de gestação do futuro Maçom.

Os símbolos demonstram a instabilidade da vida humana e que devemos dar


prevalência aos valores espirituais sobre os materiais. Simboliza a morte do
profano com o despojo de suas vaidades e preconceitos, abrindo caminho para a
nova vida iniciática.

A Câmara de Reflexão, além de simbolizar um dos quatro elementos alquímicos


da antiguidade (a terra), representa a masmorra que, figuradamente, encarcera a
consciência humana, retirando a livre determinação do homem, regida pelo
raciocínio crítico. Mostra que a Maçonaria rejeita esse encarceramento da
consciência. Esta prática maçônica quer mostrar que o candidato deve
desprender-se das convenções sociais e mundanas trazidas de fora que, mesmo
inadvertidamente, podem escravizar a sua consciência.

Os escritos despertam o interesse para o além da vida.

Nos induz a refletir sobre o desembaraçar de tudo que a vida profana impingiu, de
todos os vícios, preconceitos e vaidades. Conhecer e encarar nosso lado sombrio,
nossos defeitos, fraquezas e limites para que possamos evoluir.

Nessa atmosfera refletimos sobre o que vivenciamos até então na nossa vida
profana, sobre aquilo que verdadeiramente importa, sobre a necessidade de nos
despojarmos das coisas inúteis, dos vícios, dos medos e das imperfeições.

Assim, a Câmara de Reflexão no REAA encerra toda a simbologia da


transformação pela morte e renascimento simbólico do iniciado. O ambiente nela
preparado instiga silêncio e meditação e é, na verdade, o primeiro contato do
candidato com os costumes da Sublime Instituição.

OR∴ de São Paulo - SP, 10 de agosto de 2023 da E∴V∴

Edmar Dourado dos Santos Júnior


Apr∴ M∴
Referências:
Rizzardo da Camino
Pedro Juk (Secretário Geral de Orientação Ritualística do GOB)
Biblioteca virtual do GOB
Periódicos no Site do Gob: Revistas “Jovem Aprendiz”
Ritual de Aprendiz Maçom do Rito Escocês Antigo e Aceito- REAA/GOB
Dicionário Maçônico
Dicionário secreto da Maçonaria / Sérgio Pereira Couto.

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