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1. Introdução
Aos olhos de um profano a Câmara de Reflexões nada mais seria, enquanto parte
de um prédio maçônico, que apenas um lugar possivelmente subterrâneo ou em outra
parte anexa, que não deve receber a luz de fora (KLOPPENBURG, 1956). Lá estaria
uma cadeira, uma mesa com campainha, papel, tinteiro e uma pena3 (que poderia ser
substituída por uma caneta esferográfica), além de um esqueleto (ou um crânio) e
emblemas fúnebres. Haveria ainda figura de um galo, frases escritas em cartazes e uma
ampulheta. A pintura do ambiente seria de cor preta.
Mas seria apenas isto?Para entender o significado da peça, bem como dos itens
que a compõem, é necessário entrar na simbologia maçônica.
1
Trabalho apresentado para aumento de salário.
2
A.: M.: da A.: R.: L.: M.: Hermes 3608 do Or.: de Santa Maria - RS
3
O escritor citado, um profano, esquece de mencionar o sal, o pão, a foice, a bilha com água, o enxofre e
o mercúrio e as taças.
momento de aceitar o convite para a vida maçônica, morrer para os vícios do mundo da
matéria e para o apego ao referido mundo. É uma tarefa árdua e que requer profunda
meditação, pois contempla um processo de perfazimento do indivíduo em uma vida
pautada nos valores que deve abraçar. Daí a necessidade de um espaço de meditação,
que lembra a caverna onde os antigos egípcios colocavam seus neófitos antes de
receberem os ensinamentos. 4
Dividindo os objetos e inscrições que estão presentes na referida câmara, ter-se-ia
(CASTELLANI, 2005):
Esqueleto ou crânio: a morte, para que a contemplando aprenda a valorizar a
vida e decida o que fazer com o tempo que lhe é dado.
Ampulheta: o tempo que corre, no qual transcorre a vida do homem com as sua
responsabilidade de amadurecimento espiritual.
Galo: lembra o maçom de estar alerta, simboliza a vigilância que deve estar
imbuindo àquele que despertou para uma nova vida quanto ao assédio da tirania,
do erro, do despotismo, dos preconceitos e demais mazelas que assolam a
humanidade.
Enxofre: a energia que emana do homem (Coluna J do templo).
Mercúrio: a energia oposta a anterior (a Coluna B)
Sal: o equilíbrio entre as duas energias acima citadas. Simboliza a paz e a
alegria, a preservação da vida. Na alquimia o mercúrio, o sal e o enxofre seriam
o cósmico, o humano e o terrestre, os três princípios da grande obra da
transmutação do homem de um metal pesado e inferior, para um ser em
comunhão com a Divindade, o ouro do espírito.
Pão e água: o pão, a fraternidade entre os homens através da divisão e a água,
sua purificação. Ou ainda, o alimento do corpo e do espírito, respectivamente. 5
Taças: com o líquido amargo e doce são os símbolos dos prazeres mundanos e
do amargor que os mesmos podem trazem.
Foice: brevidade do tempo, a morte.
Inscrições
• V.T.R.I.O.L (Visita Interiora Terrae Retificandque Invienes Ocultum Lapide),
Visita o interior da Terra e retificando encontrarás a pedra oculta: algo como o
“Conhece-te a ti mesmo”.
• Vigilância e perseverança: sobre a figura do galo, lembram os futuros maçons
destes deveres espirituais que serão assumidos.
• Lembra-te que és pó e ao pó retornarás: Esta passagem bíblica relembra a
efemeridade da vida humana e a desnecessidade das vaidades e ambições.
• Ainda encontram-se frases que revelam a seriedade do compromisso maçônico e
a espiritualidade do mesmo: Se tens medo não vá adiante. Se a curiosidade aqui
te conduz retira-te. Se fores dissimulado serás descoberto. Se queres empregar
bem a tua vida, pensa na morte. Se tens apegos às distinções mundanas, vai-te,
pois nós não as reconhecemos. Se temes que teus defeitos não sejam
descobertos, não te darás bem entre nós.
4
É interessante observar que ainda hoje, outras culturas que não estiveram no cerne da construção da
cultura ocidental, como a negra e a ameríndia, também confinam os seus noviços em lugares escuros e
reclusos antes das cerimônias de iniciação à vida comunitária e religiosa. Percebe – se aí a universalidade
dos símbolos.
5
Dão a impressão de uma masmorra à Câmara de Reflexões.
ambiente, seguras a um castiçal. A cor escura com que está forrada a câmara, também
remete ao ocaso da vida.
Isto representa a sua morte profana. Em seguida chama o candidato chama guarda
com a campainha.
4. Conclusão
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Bibliografia:
CASTELLANI, José. Cartilha do Aprendiz. Londrina: Trolha, 2004.
FIGUEIREDO, Joaquim Gervásio de. Dicionário de Maçonaria. São Paulo:
Pensamento, 1986.
KLOPPENBURG, Boaventura, A Maçonaria no Brasil: orientação para os católicos.
Petrópolis: Vozes, 1956.
NAUDON, Paul. A Franco-Maçonaria. Póvoa de Varzim: Europa-América, 1984.