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Toda Loja deve ter um local especial chamado câmara de reflexões.

Na Câmara de Reflexões onde o neófito fez o vosso Testamento, representa um subterrâneo,


onde esteve na escuridão e no silêncio, como um encarcerado numa masmorra. Simboliza a primeira
prova, a da TERRA. Os antigos admitiam a existência de quatro elementos: a TERRA, o AR, a ÁGUA
e o FOGO, havendo, para cada um deles, uma prova iniciática.
Todo homem, ao fechar os olhos, se acha em sua câmara de reflexão, com asilo e trevas, a
qual representa o período das trevas da matéria física que rodeia a alma para completa maturação
sua.
A câmara escura da reflexão é o símbolo do estado de consciência do profano que anda nas
trevas e, por isso, nela se encontram os emblemas da morte e uma lâmpada sepulcral.
Nesse local, pintado de preto, figurando catacumba, cercado dos símbolos de destruição e de
morte, coloca-se um tamborete e uma mesa coberta com tapete branco, sobre o qual uma caveira
(morte), algumas migalhas de pão (insignificância que procuram obter os cinco sentidos), um prato
de cinza (o fim da matéria), um relógio dágua/ampulheta (o corredor do tempo que tudo envolve); um
galo (o dever de ser vigilante e alerta); um tinteiro, penas e algumas folhas de papel para escrever
seu testamento, cujo significado será dito alhures(noutro lugar).
O recinto acha-se iluminado pela débil luz que expande a lâmpada sepulcral (lâmpada dos
conhecimentos físicos adquiridos pela mente carnal); num dos ângulos vê-se um ataúde junto a uma
fossa aberta, ou um hipogeu também aberto numa das paredes, deixando ver um cadáver
amortalhado (como deve o iniciado contemplar seu corpo físico). A câmara de reflexões significa
aquela crise, aquela luta entre o corpo de seus desejos com o espírito e seus ideais; essa negra e
escura câmara é o mesmo corpo que serve de prisão, de tumba e ataúde ao verdadeiro Ser Interior.
Por esse motivo, perto dos emblemas da morte se acham também certas inscrições nas paredes,
cujo objetivo é levantar as energias e desenvolver vontade do neófito.
Ao ingressar nessa câmara, tem o candidato de despojar-se dos metais, tem de volver ao seu
estado de pobreza edênica, a desnudez adâmica antes de cobrir-se com a pele de todas aquelas
aquisições que até então lhe foram úteis para chegar a seu estado atual e que são obstáculos para
tornar ao seu primitivo estado. Deve afastar todo desejo, ambição, cobiça dos valores externos para
conhecer-se a si mesmo; então, em seu interior, achará os verdadeiros valores espirituais. Dinheiro,
bens, ciências são vaidades ante o conhecimento de si mesmo.
O candidato deve estar livre e despojado dos metais: qualidades inferiores, vícios, paixões do
seu intelecto, de suas crenças e preconceitos; deve aprender a pensar por si mesmo e tio seguir,
como cego, o conhecimento e crenças dos outros. Por último, a câmara de reflexão significa o
isolamento do mundo exterior para poder concentrar-se no estado Intimo, no mundo interior aonde
devem ser rígidos nossos esforços para chegar à Realidade. É o Conhece-te a ti mesmo dos
iniciados gregos. É a fórmula hermética que diz: “Visita o interior da terra; retificando encontrarás a
pedra escondida”. Quer dizer: desce is profundezas do ser e encontraras a pedra filosofal que
constitui o segredo dos sábios.
Assim como os ossos e imagens da morte que se acham nas paredes da câmara indicam a
morte simbólica do neófito para renascer no mundo do espírito e indica a morte aparente da verdade
no mundo externo; assim também as inscrições que revestem as paredes do quarto indicam os con -
selhos do Ser interno que têm por mira guiar o homem à verdade e ao poder. Essas inscrições são
várias. Citaremos algumas:

“ Se te traz aqui a mera curiosidade, vai-te”.


“Se prestas homenagem às distinções humanas, vai-te, porque aqui não se conhecem”.
“Se temes que te lance em rosto alguém os teus defeitos, não prossigas”.
“Espera e crê. Porque entrever e compreender o infinito, é caminhar para a perfeição”.
“Ama os bons; compadece-te dos maus e ajuda-os; foge dos embusteiros e a ninguém ouças”.
“O homem mais perfeito é aquele que é mais útil a seus irmãos”.
“Não julgues levianamente as ações dos homens; elogia pouco, adula menos. Não censures
nem critiques nunca”.
“Lê e aproveita; olha e imita; reflete e trabalha; procura ser útil à teus irmãos e trabalharás para
ti mesmo”
“Pensa sempre que do pó saíste e em pó te converterás”.
“Nasceste para morrer”, etc. etc.

Nessa Câmara encontramos sempre a palavra VITRIOL, formada com as iniciais de uma frase
e, às vezes, em lugar desse anagrama, a própria frase, ou seja, a fórmula hermética que ele
representa: “VISITA INTERIORA TERRAE RECTIFICANDO INVENIES OCCULTUM LAPIDEM”, que
se traduz por “Visita o interior da Terra, rectificando acharás a pedra oculta”. Vários autores têm
desenvolvido a recomendação do preceito posto aos olhos do que vai ser iniciado. J. Boucher
entende que a inscrição constitui um convite à pesquisa do EGO (do EU) profundo, ou seja da
própria alma, no silêncio e na meditação, para achar a centelha divina (o Cristo Interno) existente no
âmago de cada um.

Todos esses conselhos na câmara de reflexões e as demais figuras tétricas nos mostram que
dentro do homem se acham a morte e a vida, a dor e a ventura, o engano e a iluminação. Se os
cinco sentidos oferecem a morte, o espírito dá a vida eterna.

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