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Os Símbolos Alquímicos.

Grau de Aprendiz Maçom


Autor: Rayan Orlando Kinalski
Confederação Maçônica do Brasil – COMAB
Grande Oriente de Santa Catarina – GOSC
Luz do Oriente nº27
18/11/2019

“Só é útil o conhecimento que nos torna melhores.”


Lúcia Helena Galvão

Alquimia é uma ciência que caminha junto com a humanidade desde


tempos imemoriáveis. Conhecida como a “Arte da Transformação”, a Alquimia
teve suas origens no antigo país de Khem, atual Egito. Sua etimologia vem de
Al Khemia, ou “arte do Egito”.

Sua gênese é incerta. Vários textos alquímicos apontam para Hermes


Trismegistos como sendo o Pai desta arte. Não se sabe dizer se Hermes foi
uma pessoa de fato, ou se foi um ser mitológico a quem se atribui sua origem,
pois não existem registros de sua vida. Sua suposta existência provavelmente
ocorreu entre 1.200 a.C. a 2.500 a.C. Alguns dizem que foi contemporâneo de
Abraão (1812 a.C), outros dizem que foi mestre de Moisés (1273 a.C).

A Escola Hermética impulsionou o surgimento de diversas outras


Sociedades Iniciáticas. Estas escolas escolhiam seus adeptos buscando
homens que já possuíam um avanço moral, intelectual e espiritual. A partir daí,
os ensinamentos eram passados dos lábios da sabedoria aos ouvidos do
entendimento, e isso acelerava o processo de evolução individual.

O conhecimento Hermético foi tão impactante que se espalhou por todo


o mundo clássico e oriente médio, alcançando até a China e Índia. Ao chegar
na idade média, a Alquimia adotou símbolos próprios e toda uma roupagem
que servia bem ao contexto da época.
Publicamente, os Alquimistas Medievais buscavam transformar metais
inferiores em ouro, o que chamavam de Magnum Opus, ou Grande Obra. O
trabalho alquímico relacionado com os metais era, na verdade, uma
conveniente metáfora para o trabalho espiritual. Basicamente eles buscavam
transformar o chumbo da ignorância no ouro da sabedoria, tornando o homem
mais próximo do Divino. Desta forma, fica evidente essa necessidade de
ocultar toda e qualquer conotação espiritual da Alquimia, sob a forma de
manipulação de "metais". Na Idade Média, ser um buscador de coisas
transcendentais trazia o risco de ser acusado de heresia, e heresia dava
fogueira.

Estudar Alquimia Medieval sem ter uma base sólida da Alquimia


Hermética é como tentar montar um quebra-cabeças onde faltam peças.
Portanto, devemos compreender as 2 primeiras Leis do Hermetismo antes de
prosseguir:

Lei Do Mentalismo

“O TODO é Mente; O Universo é Mental.”

Este princípio possui infinitas interpretações. Utilizarei duas:

 O TODO é a Inteligência Universal, o Divino, a Consciência que


organiza, permeia, penetra e preenche tudo. Aqui, a palavra “MENTE”
faz alusão à Consciência. A tradição Hindu costumava dizer que só a
Unidade (Consciência) é real, e toda a multiplicidade - a ideia de
separação - é ilusória. Ora, se somos partes de uma coisa só, qual o
sentido de querer o mal de algum irmão? Não seria o mesmo que a mão
querer o mal do pé, sabendo que pertencem ao mesmo corpo? O
homem contribui para o Todo, e o Todo contribui para a manutenção do
Homem. Ambos trabalham unidos, pois na verdade são.
 Outra interpretação seria a de que o universo que experienciamos é um
reflexo do que se passa em nossa mente. Se estamos em um estado
vibracional negativo, vemos o universo como negativo. Se temos boa
vontade para com o universo, ele reflete isso. Esta interpretação tem
relação com o próximo princípio.
Lei Da Correspondência

“O que está em cima é como o que está embaixo”.

De maneira simplista, esta Lei revela que existe uma correlação


entre tudo (dos átomos às galáxias) e que as mesmas leis se aplicam,
tanto no plano superior quanto no inferior, tanto no macrocosmo
quanto no microcosmo, no interno e no externo, no corpo e na mente,
na Matéria e no Espirito.

Na tradição Cristã diz-se que Deus fez o homem a sua imagem e


semelhança. Logo, quem entende profundamente o Homem, consegue
compreender o Divino através da correspondência.

Os alquimistas medievais almejavam a Grande Obra, que ABAIXO


significava a transmutação de metais inferiores em ouro. E ACIMA seria a
divinificação do homem comum. Este processo alquímico, necessariamente
passaria por 3 etapas:

1- Nigredo, ou obra em negro, seria a “descida do homem


aos infernos”, e o reconhecimento daquilo que precisava ser trabalhado.
Na escola Pitagórica, este processo tem o nome de Preparação, e na
Maçonaria, representa o grau de Aprendiz, onde ele VISITA O
INTERIOR DA TERRA.

2- Albedo, ou obra em branco, seria o processo pitagórico de


Purificação, onde o homem, tendo reconhecido seus defeitos, trabalharia
incessantemente pela RETIFICAÇÃO, representado pelo Companheiro.

3- Rubedo, ou obra em vermelho, seria o processo onde o


Iniciado, depois de anos de Purificação, alcançaria a Perfeição. Este
processo é onde o Mestre ENCONTRA a LÁPIDE OCULTA, e agora tem
o dever de contribuir com a evolução humana.
AS MANIFESTAÇÕES DA UNIDADE:

O TODO (unidade) se manifesta em 3 aspectos


observáveis: Sutil, Concreto e Volátil. Esta
manifestação é bem conhecida pela tradição cristã:
Pai, Filho e Espírito Santo.

Em toda a criação, estas 3 manifestações estão


presentes. O princípio Sutil é fonte criadora e dá
suporte/nutrição para tudo. O princípio Concreto é
fixo e palpável. Por último existe um princípio Volátil
que une o Sutil ao Concreto. Isto que os alquimistas
medievais descreveram como Enxofre, Sal e
Mercúrio, respectivamente.

Utilizando a Lei Hermética da Correspondência, chegamos à conclusão


de que, no homem, o Enxofre representa a Consciência; o Sal representa o
Corpo e o Mercúrio representa o elo entre os dois anteriores: a Mente.

Ao observar o Plano da Matéria, a Alquimia se propunha na


compreensão intelectual do Universo através da mente. Pode se dizer que a
Arte da Transmutação é uma verdadeira arte mental. Dessa forma seria
possível compreender todos os segredos da natureza, e como todas as coisas
são na verdade, uma coisa só (o TODO).

Devido a imperfeição da Mente, à sua agitação, falta de discernimento e


de percepção ela se identifica com o corpo (persona, ego, status), e não com a
Consciência, ou seja, o Homem não percebe seu lado Divino. Logo, é preciso
purificar a Mente, para que ela se dê conta de sua verdadeira identidade.
OS ELEMENTOS APLICADOS À MENTE

A Lei Hermética da Correspondência mostra que podemos utilizar


princípios de uma área em qualquer outra área, sendo possível utilizar os 4
elementos em qualquer plano. Se tratando de uma Arte Mental, aplicaremos os
princípios dos 4 elementos à mente (Mercúrio) e a psicologia humana. Eles
podem ser interpretados como 4 etapas necessárias em que o Enxofre se liga
com o Sal.

O Fogo é o elemento
considerado o mais próximo do
Divino, por ser o mais sutil, está
associado a Intuição. Uma
Intuição é percebida pela mente
como “Sei que sei, mas não
como sei.”, ou um momento
“eureka”. Em seguida, a mente
ativa o elemento Ar, criando o
Pensamento, gerando conexões
lógicas e padrões mentais para
compreender a Intuição. Após
esta racionalização, ocorre uma mudança do elemento Água, onde as
Emoções começam a agir de acordo com os pensamentos. Essas emoções
são a expressão das crenças que criamos através dos pensamentos. Isso gera
um efeito dominó sobre o elemento Terra, gerando Sensações que são
percebidas como positivas ou negativas. Aqui é criado um espaço entre o Eu e
os objetos, gerando a ilusão de separação, ou multiplicidade.

Assim, o processo parte da Consciência, passando pelos 4 estágios,


chegando no Corpo físico. O processo inverso também pode ser logrado.
AS PROVAÇÕES.

Na Maçonaria temos representado os 4 elementos nas viagens, que são


provações simbólicas que o iniciado deve passar, tendo seu caráter e controle
mental testado. As mesmas podem ser observadas no cotidiano do homem
comum, onde cada provação tem propriedades referentes a algum dos 4
elementos.

PROVAÇÕES DE FOGO: somos atacados por “inimigos” (internos e


externos) que nos insultam para aflorar as emoções, testando a temperatura,
ou o temperamento. O iniciado falha neste teste caso se deixe influenciar pelas
críticas, se tornando colérico. Com serenidade, desejando amor aos seus
inimigos, ele passa pelo fogo sem ser queimado. Em sonhos nos vemos sendo
queimados, ou sendo roubados, por vezes sonhando com levar tiros ou
facadas, indicando o ataque externo.

PROVAÇÕES DE AR: se irá encarar a perda daquilo que ama, e daquilo


que dá segurança emocional, material ou psicológica. Quando temos apego a
coisas, pessoas, status, nós temos egos. Para que consigamos reconhecer
este ego, a Consciência tira a estabilidade das nossas bases, como se fossem
agitadas por um vento forte. Somos testados por nossa capacidade de se
desprender das coisas materiais. Durante a noite, é possível sonhar com
quedas, beira de penhascos e lugares altos, que provocam o medo de se
machucar ou perder a vida.

PROVAÇÕES DE ÁGUA: nossas circunstancias mudam drásticamente e


testam nossa adaptabilidade e fluidez, bem como nosso altruísmo. Por nossa
tendência natural ao egoísmo, geralmente consideramos as circunstancias
visando nosso bem-estar pessoal. Sonhos relacionados com ondas gigantes,
ser afogado, estar sozinho no meio do oceano ou mesmo chuvas demonstram
esta provação.

PROVAÇÕES DA TERRA: Em geral está relacionado com a teimosia, e


nos afeta quando somos rígidos em nossos posicionamentos. Nos sentimos
barrados, não conseguimos progresso nos objetivos, queremos as coisas de
determinada maneira e a vida impede que nos “movamos”. Esta provação testa
nossa perseverança, habilidade de lidar com inconvenientes, solidez. Em
sonhos somos enterrados vivos, terremotos, ser esmagados.

Para se purificar, a Consciência traz à tona nossos egos, para que


reconheçamos, e tomemos a atitude de mudá-lo. O aspirante genuíno que
busca total iluminação tem que encarar a totalidade do ego, degrau a degrau, e
isso não é algo que nós fazemos de boa-vontade. Não queremos encarar nós
mesmos, não queremos ver quão tolo somos. Não queremos ver como somos
animalescos, impuros.

Falhamos nas provações quando nos identificamos com as situações.


Falhamos, quando usamos a perspectiva do Ego e esquecemos a perspectiva
da Consciência. Então, a experiência se repete com mais intensidade pois
nosso ego tem que ser praticamente esfregado na nossa cara. Por vezes as
inquietações e a depressão são consequências de uma provação não vencida.

Entendendo os 4 elementos, podemos neutralizar com o elemento


oposto. A ira do Fogo pode ser amenizada pela fluidez da Água; A rigidez da
Terra pode ser amenizada pela mobilidade do Ar.

Sendo tudo Consciência, logo, tudo é perfeito. Estas provações são


perfeitas oportunidades de crescimento. Vale lembrar que nenhum fardo nos é
dado sem que tenhamos a força necessária para carregá-lo.

Quanto mais nos dispomos a evoluir, mais situações enfrentaremos, as


vezes no plano físico, mental ou espiritual. Enfrentando as batalhas, é possível
lograr o avanço acelerado que as Escolas Iniciáticas preconizavam.

CONCLUSÃO

Nós, Maçons, buscamos a verdade, e temos o direito de procurar onde


quisermos. Os estudos alquímicos oferecem um mapa, e o destino final é a
Consciência, que é Deus, que é a Verdade.

A urgência de encontrar a si próprio é sinal de que se está fincando


pronto. O impulso sempre vem de dentro. A não ser que sua hora tenha
chegado, você não terá nem desejo nem força para se dedicar por inteiro a
auto-investigação.

Ao iniciar no caminho, deve-se ter em mente que as provações serão


constantes, pois só assim se acelera o crescimento. Estas adversidades
podem ser vencidas quando o Maçom encara seus desafios, “armado” com o
conhecimento e a confiança no TODO.

Vencer as provas faz com que nosso nível de percepção da Consciência


vá se expandindo, até que a ilusão da separação entre o Homem e Deus se
dissolva.

Ao realizar a Transmutação Mental, o Homem se conecta à Consciência,


tendo a cabeça nos céus e os pés na terra. Ele se torna uma ponte, um reflexo
do Espírito atuando sobre a o mundo material. O Corpo se torna a ferramenta
da expressão Divina sobre a Terra. Desta forma ele consegue trazer um
benefício real ao seu entorno, assim como os grandes Avatares fizeram,
deixando rastros que perduram até hoje.

Referências Bibliográficas:

O Caibalion – Os Três Iniciados

Operative Alchemy - Avery Hopkins

Nova Acrópole – Canal do Youtube

Transcending the Levels of Conciousness – David R. Hawkins

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