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Descobrindo a Função do Comportamento
Lucelmo Lacerda

Uma frase pode definir bem o espírito deste tema: “Sem reforço não há
comportamento”, com exceção ao comportamento respondente. Se isto é
verdade, sempre que uma pessoa emite qualquer comportamento, há algum
reforçador que o mantém, por mais estranho que possa parecer.
Vejamos o caso de crianças com autismo que batem a cabeça na parede
com bastante força. Provavelmente sua tendência é dizer “Este comportamento
é diferente, ele é punitivo, ele não tem reforçador, mas é porque ele tem
autismo”, Ledo engano... Vamos voltar à frase “Sem reforço não há
comportamento”, observe que, ao fim da frase, não tem uma ressalva do tipo “a
não ser que seja uma pessoa com autismo” (a exceção colocada é sobre o
comportamento respondente, ou reflexo, que é uma lista bem específica de
comportamentos muito mais simples, como salivar ou dilatar a pupila). Então,
se a criança bate a cabeça na parede, há sim, algum reforçador. A dificuldade
é descobrir qual é este reforçador e este é o objetivo da Análise Funcional.
Muitas vezes, uma entrevista com os pais de uma criança pode ajudar e
até revelar uma boa hipótese sobre qual seja a função de um certo
comportamento. Acontece, no entanto, muitas vezes, de os pais terem todas as
informações necessárias para saberem a função do comportamento, mas não
terem ainda descoberto a função com exatidão. Isso acontece porque o senso
comum é mentalista e a estes pais foi ensinado que a forma como uma pessoa
se comporta “está no sangue”, “puxou o pai” ou “cada cabeça, uma sentença”
ou, ainda, “isso é coisa do autismo”. Daí que esta nova perspectiva teórica, a
da Análise do Comportamento, pode ajudar estes pais a simplesmente
juntarem os pontos. Mas nem sempre isso funciona.
É por isso que, para além da entrevista, os profissionais podem e
normalmente devem fazer observações diretas do comportamento da pessoa a
ser atendida. Este tipo de observação segue o padrão A-B-C, em que A é o
ambiente em que ocorre, B é a resposta propriamente dita, a ação do sujeito
que se está observando, e C é tudo o que vem depois da resposta. Esta
observação não é feita em um só momento, mas de maneira sistemática.

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Quando isso ocorre, começam a se revelar padrões, isto é, certas
circunstâncias em que a Resposta é emitida e outras em que ela não aparece.
Ficam visíveis, também, algumas coisas que normalmente seguem à resposta
e que podem ser as consequências reforçadoras. Isso nos ajuda com boas
hipóteses sobre a função daquele comportamento.

As 7 Dimensões da ABA
Se você faz qualquer processo de ensino para pessoas com TEA, já deve
ter percebido de que muito do que aqui já foi dito coincide com o que você faz e
deve estar se perguntando coisas como “Então já trabalho baseado em ABA?”
ou ainda “Se isso eu já faço, porque estou fazendo este curso?” (espero que
não esta última pergunta). Explico que, na verdade, simplifiquei bastante o que
seja a ABA, porque ainda estamos no começo do curso, ainda tem muito mais
pela frente, mas isso não quer dizer que você não esteja no caminho.
Normalmente, só é necessário incrementar o que já se faz para que isso seja
“baseado em ABA”.
Imaginemos o seguinte, que você seja uma professora ou terapeuta ou
mãe que está tentando ensinar sua criança a imitar, digamos que você diz a
esta criança “faz igual” e põe o dedo no nariz e se a criança eventualmente
acerta, você a elogia e diz “muito bem, parabéns, que bonito”. Este é só um
exemplo, eu poderia dar centenas de outros que são coisas que as pessoas
fazem no dia-a-dia com pessoas com autismo ou outros atrasos no
desenvolvimento e que pode ser considerado como muito próximo de uma
intervenção “baseada em ABA”.
Neste caso, eu diria que esta pessoa está quase lá, basta um
empurrãozinho para que ela trabalhe “baseado em ABA” e isso está escrito
neste módulo porque têm tudo a ver com as dimensões apresentadas, pois
este é o cerne desta ciência. Vou elencar aqui resumidamente as 7 dimensões
da ABA, que são justamente o que esta pessoa precisaria fazer para melhorar
sua prática, torná-la mais eficaz e poder dizer que ela é “baseada em ABA”.
1ª - DIMENSÃO APLICADA – é preciso que a intervenção tenha como
objetivo uma mudança de comportamento realmente significativa para o sujeito.
Sem nenhuma dúvida, o ensino de imitação é simplesmente fundamental. Esta

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dimensão já está sendo atendida por esta pessoa. Não dá para fazer uma
pesquisa que se diga de ABA só por curiosidade científica (como é possível na
Análise Experimental do Comportamento) é necessário melhorar a vida
humana.
2ª - DIMENSÃO COMPORTAMENTAL – aqui a coisa se complica um
pouco. É preciso lidar com o comportamento de forma objetiva, medindo,
avaliando, e há uma base conceitual para isso. É preciso avaliar este ensino
como uma contingência. Ou seja, não basta que a consequência do
comportamento pareça reforçadora, como o elogio parece, mas que se tenha
certeza se o é, assim, é necessário avaliar se esta consequência, o elogio, está
reforçando o comportamento. E esta avaliação não é subjetiva, é medindo a
frequência do comportamento. Se ele ocorre com maior probabilidade ao ser
consequência do com elogios, então o elogio é reforçador, se não, não é. E se
o elogio não for reforçador, ou não for o suficiente, usar testes de preferências
para selecionar outros reforçadores e utilizá-los como consequência para o
comportamento a ser ensinado.
Não existe intervenção que se possa chamar de “baseada em ABA” sem
registro. Um ensino de imitação com este modelo deve ser feito com uma
tabela do lado, anotando cada resposta, se houve erro, acerto com ou sem
ajuda e esses dados devem ser utilizados para avaliar e replanejar sempre a
intervenção.
3ª - DIMENSÃO CONCEITUALMENTE SISTEMÁTICA – isso indica que o
sujeito irá mobilizar os conceitos a Análise Experimental do Comportamento,
como antecedente, reforçamento, contingência, para avaliar este ensino e
planejar seu trabalho. Também irá se servir daquilo que já foi escrito, se basear
na literatura sobre o tema – neste caso, ensino de imitação. E esta é a base
que instrui as demais transformações necessárias. O Analista do
Comportamento é um rato de biblioteca (ok, esta metáfora não é mais tão boa
em tempos de google acadêmico), ele lê os artigos mais novos e sempre se
atualiza sobre como ensinar mais e melhor.
Se ele se baseia na literatura científica, vai descobrir que para ensinar
imitação motora fina (colocar a mão no nariz está nesta categoria), a criança
precisa, antes, ter aprendido uma série de coisas, como controle instrucional e

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imitação motora grossa, então esta pessoa vai avaliar, antes do começo do
ensino, se estas outras habilidades estão presentes.
Se ele se basear na literatura, ele irá dar ajuda quando necessário. Se
este educador recorre à literatura científica, vai ver que embora frases como “A
gente aprende é pelo erro” sejam clássicos dos pais da velha guarda, as
evidências demonstram o contrário, o ideal é uma aprendizagem sem erros, o
erro desmotiva. Então, ao ensinar imitação, existe uma hierarquia de ajudas a
serem dadas à criança até ela atingir a autonomia, para que ela erre o mínimo
possível.
4ª - DIMENSÃO TECNOLÓGICA – para atender a esta dimensão, é
preciso que o procedimento seja escrito e que esteja muito claro o que se faz
para que ensinar à criança o comportamento de imitar. Assim, o terapeuta, o
professor, os pais, podem realizar este procedimento em diversas
circunstâncias.
5ª - DIMENSÃO DA GENERALIZAÇÃO – o objetivo desta intervenção
não é que a criança aprenda a imitar na terapia, mas em sua vida. Assim, se
planejará a aplicação de diversas estratégias para que esta criança, sempre
que necessário, em sua vida, imite.
6ª - DIMENSÃO ANALÍTICA – o Analista do Comportamento terá também
que ter certeza de que é a sua intervenção que está realmente ensinando esta
criança a imitar. Isso não é nada fácil, mas uma linha de base múltipla é uma
das possibilidades para isso.
7ª - DIMENSÃO DA EFICÁCIA – para atender a esta dimensão, é preciso
garantir que a criança aprenda. Se ela não aprender, ao invés de colocar a
culpa nela, é preciso reconhecer que a intervenção é que não foi adequada (já
que sabemos que todos os seres humanos aprendem) e mudar nossa
estratégia.
O que acha de incorporarem esses ensinamentos àquilo que vocês já
fazem?

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