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NOTÍCIAS

30 agosto 2020 / Número 1475


Esta revista faz parte integrante
do Jornal de Notícias n.º 90/133 e
não pode ser vendida separadamente

Dor
e revolta
Dois meses depois do início do
mortífero surto de covid, há indignação
e silêncio em Reguengos de Monsaraz

magazine
LEIRIA NO
PALCO DA DANÇA
MUNDIAL
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alma-
ESPELHO
MEU Pedro Emanuel Santos
POR
naque

ANDRÉ LUÍS ALVES/GLOBAL IMAGENS

MARLENE VEJO BEM... ❶ A noite, o silêncio da noi-


te nesta cidade (Lisboa) que tão bem me
ter destino, adoro conduzir.
VEJO MAL... ❶ Situações de injustiça.
VIEIRA acolheu e me abriu os braços. ❷ Adoro a
minha profissão e não me vejo a fazer ou-
Tenho sempre de defender alguém mais
fraco (deve ser o meu instinto mater-
Chef tra coisa. Gosto de tudo o que envolve nal). ❷ Lido mal com quem usa a fraque-
40 anos este negócio, de receber os clientes, de za de uma pessoa para lhe passar a perna.
geri-lo, de criar e de executar. ❸ Vejo bem E com situações de machismo extremo.
qualquer receita que use ovos. É fascinan- ❸ Não vejo bem acordar cedo, mas é um
te a versatilidade desse ingrediente. mal que tem muita força. ❹ Não gosto
❹ Gosto muito de ter tempo para mim, de má comida, feita sem amor e com
de organizar as minhas ideias, de isolar- maus ingredientes. ❺ Não gosto de lidar
Marlene Vieira foi fotografada no restau- -me do mundo, mas não abdico do tempo com o barulho ou com situações confu-
rante Zunzum Gastrobar, em Lisboa, que que passo com os meus amigos e com a sas. ❻ E vejo muito mal a falta de lealda-
inaugurou no final de julho. minha família. ❺ Vejo bem conduzir sem de das pessoas.

Notícias Magazine 30.08.2020 3


sumário#1475
HISTÓRIA
DA SEMANA

A tragédia
ainda pesa A festa que virou
na terra laboratório
O surto de covid em Reguengos
de Monsaraz, com epicentro Num ano de cancelamentos em massa
no lar da Fundação Maria dos festivais de verão, a realização da Festa
Inácia Vogado Perdigão Silva, do Avante alimenta polémicas que não
resultou em 18 mortos, 17 dos deverão terminar com a abertura das
quais ligados à instituição. Os portas na Quinta da Atalaia. Será esta uma
jornalistas Ana Tulha (texto) experiência em larga escala? A cronologia
e Rui Oliveira (fotos) foram dos eventos dos últimos quatro meses é
à cidade alentejana, ouviram feita pela jornalista Filomena Abreu. P. 22
familiares de vítimas e anota-
ram os silêncios. Descrevem
um luto incompleto que se vai ESTILOS
fazendo aos repelões. P. 14
DE SEDUTORES A MANIPULADORES
O gaslighting é um fenómeno cada vez mais presente.
No espaço público e privado. Corrói a autoconfiança das
vítimas. Pela mão da jornalista Sofia Teixeira, três psicólo-
gas explicam este tipo de comportamento tóxico. P. 34

DANÇANDO COM O MÉTODO CUBANO


A jornalista Alexandra Barata e o repórter fotográfico
Fernando Fontes mostram os cantos do Conservatório
Internacional de Ballet e Dança Annarella Sanchez,
em Leiria, onde se cruzam múltiplas nacionalidades. P. 26

magazine
NOTÍCIAS
Morada Edifício Jornal de ra de conta), Sofia Silva (gestora de
Impressão Lisgráfica, SA – Est. sidente do Conselho de Adminis- KNJ Global Holdings
Notícias, Rua Gonçalo Cristó- conta) Publicidade (Sul) Rua To- Consiglieri Pedroso, Casal de tração), Afonso Camões, Kevin Limited - 35,25%;
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/ Helena Béltran (diretora de conta)
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4 30.08.2020 Notícias Magazine


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Para os regimes totalitários Ponto intermédio na marcha Um documento à guarda da José Manuel Lopes Cordeiro,
que se impuseram na Europa sobre Lisboa da onda Torre do Tombo, testemunho docente da Universidade
ocidental, no século XX, o revolucionária desencadeada da viagem, no século XVI, de do Minho, é uma referência,
cinema foi uma preciosa no Porto, a cidade de um navio negreiro português dentro e fora de fronteiras,
arma de propaganda. Nesta Coimbra teve importante entre S. Tomé e o Congo, serve da arqueologia industrial
edição, aprofunda-se o caso do papel estratégico na decisiva para abordar com rigor e e da história da indústria.
salazarismo em comparação afirmação inicial do liberalismo, seriedade o papel de Portugal Uma conversa essencial para
com os seus paralelos alemão, precisamente há 200 anos. no tráfico atlântico de escravos. entender as raízes do atraso
espanhol e italiano. português.

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alma-
naque
OBJETOS RAIO-X
POR Pedro Emanuel Santos POR Pedro Emanuel Santos

ENSINO SUPERIOR
COM PROCURA
RECORDE
Há 24 anos que não se registava
tamanha busca por um lugar
na universidade. Foram 62 675
candidaturas para 51 mil vagas.
Os resultados saem a 28 de setembro.

6
em cada dez jovens portugueses com 20 anos a
frequentar o Ensino Superior. Essa é a taxa média
de frequência que o Governo pretende alcançar
até 2030.

“A pandemia veio trazer


uma maior consciência de
que é preciso estudar mais”
MANUEL HEITOR
Da Ásia para todas as mesas Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior

Ficou celebrizado na Europa,


mas antes disso muita história
se contou sobre o bule, esse
dos e trabalhadas as suas formas. Tornou-se
quase arte, portanto. Tanto assim foi que
quando os bules chegaram à Europa, no sé-
culo XVII, trazidos pela Companhia Britâ-
18,95
foi a média de entrada mais alta num curso supe-
recipiente simples que pode nica das Índias Orientais juntamente com rior em Portugal no ano passado. Engenharia Ae-
ser obra de arte. o chá, surgiram como objetos que marca- roespacial, do Instituto Superior Técnico, em Lis-
vam a diferença entre classes sociais. Entre boa, assegurou o primeiro lugar.
os mais abastados, era sinal de ostentação

9,5
O chá, fortemente associado à cultura possuir bules com desenhos elegantes, ori-
oriental, é o grande culpado do aparecimen- ginários das mais finas fábricas que se dedi-
to do bule. Atribuídas as responsabilidades, cavam em exclusivo ao seu fabrico, nomea-
passemos às apresentações. O bule nasceu damente em porcelana de Meissen, a pri-
na China e dizem os historiadores que, por meira porcelana fabricada em exclusivo no foi a média de entrada mais baixa no ano passado.
entre os século XIII e XIV, foi levado para o Velho Continente, originária de Dresden Os cursos de Educação Social e de Ciências Bio-
Japão por monges budistas. É um recipiente (Alemanha). médicas Laboratoriais (ambos do Politécnico
utilizado para servir bebidas quentes e da Em Inglaterra, cidades houve, como Stoke- de Bragança), de Gestão Hoteleira e de Solicita-
Ásia espalhou-se mais tarde para todos os -on-Trent, que centraram a indústria em doria (os dois do Politécnico de Castelo Branco)
cantos do Globo. De metal, de cerâmica, torno da produção de bules, sobretudo a e de Desporto (Politécnico da Guarda) ficaram
de porcelana, até de vidro, caracteriza-se partir do século XVIII. Especialistas britâni- na cauda da tabela.
por conservar o calor durante tempo consi- cos referem que o crescimento do negócio

5
derável e, assim, garantir a qualidade e a foi de tal forma substantivo que mais de
temperatura dos líquidos que armazena. 200 empresas se registaram como dedica-
Logo desde os seus primórdios que os bules das a tão exclusiva produção.
não demoraram a conquistar estatuto. De Nos Estados Unidos, o bule é tema de uma
simples utensílios para uma tarefa que pou- canção infantil cantada desde a década de instituições preencheram o total de vagas logo
co ou nada requeria de exigência, transfor- 30 do século passado. “I’m a little teapot” na primeira fase de candidatura em 2019. Foram
maram-se em objeto de culto. Bastou para (“Sou um pequeno bule”), assim se chama elas a Universidade Nova e o ISCTE, ambas em
isso que se fossem aprimorando em riqueza a melodia, entrou no imaginário popular Lisboa, e as escolas superiores de Enfermagem
os materiais com que foram sendo construí- e atravessou gerações. Até hoje. ●m de Lisboa, Porto e Coimbra.

6 30.08.2020 Notícias Magazine


PERFIL
POR Alexandra Tavares-Teles
Aleksander
Lukashenko
Pai tirano
ALEKSANDER Há 26 anos construiu um Estado autoritário.
GRIGORIEVITCH Era então chamado de Batjka (pai). Ainda hoje
LUKASHENKO
assim se considera. Filho de uma camponesa
Cargo solteira, sustentou a carreira política com denúncias
Presidente contra a corrupção. Partilha com o amigo Putin
da Bielorrússia o gosto pelo esqui e pelo hóquei no gelo.
Nascimento
30/08/54
(66 anos) O bigode autoritário de Aleksander Lukashenko o apoio das ruas, mas conserva, pelo menos assim
Nacionalidade não vacila: “Até que me matem, não haverá outra parece, o do Exército e o das forças de segurança,
Bielorrussa eleição”. Entrincheirado no poder que detém há que o sustentam no poder há 26 anos. Em 10 de ju-
26 anos, nem as vaias dos trabalhadores lho de 1994, quando o chefe de uma grande em-
da famosa fábrica de tratores de Minsk, presa agrícola estatal foi eleito o primeiro presi-
base do seu eleitorado, o fazem crer dente da Bielorrússia, havia apenas três anos que
que o país vive uma situação avaliada a antiga república soviética conquistara a indepen-
por várias analistas numa palavra: ir- dência.
reversível. Opositores e população O homem que no início da trajetória política fun-
não aceitam os resultados oficiais das dou dentro do Partido Comunista o grupo Comu-
eleições presidenciais de 9 de agosto, que nistas pela Democracia construiu um Estado au-
deram 80% dos votos a Lukashenko e 10% toritário, sem limite de mandato, com controlo so-
à surpreendente Svetlana Tikha- bre a máquina estatal. Era então chamado de Batjka
novskaya, nem a repressão a protes- (pai), e até hoje assim se considera. Filho de uma
tos pacíficos contra o que conside- camponesa solteira, sustentou a carreira política
ram ser fraude eleitoral. Exigem com denúncias contra a corrupção, perante elei-
a libertação dos presos políticos, tores assustados com a experiência dos países vi-
sob pena de manterem na rua a zinhos, criando “uma ilha de tranquilidade e se-
contestação, sem precedentes, gurança”, uma “pequena União Soviética” que em
ao regime. 2018 ocupava a 53.ª posição entre 189 países no
O líder da Bielorrússia perdeu Índice de Desenvolvimento Humano da ONU.
Com um sistema de saúde eficiente e taxa de mor-
talidade infantil baixa, ao invés da taxa de alfabe-
tização, estimada em 99%.
Conhecido o interesse do presidente em concur-
sos de beleza (as mulheres são proibidas de com-
petir para além das fronteiras), crítico do feminis-
mo (o que o levou ao erro de desvalorizar a candi-
datura de Tikhanovskaya) Lukashenko casou com
a namorada de colégio Galina Rodionovna, a pro-
fessora que há anos vive afastada da ribalta. Pai
de três filhos, tem uma ligação especial a Nikolai,
o mais novo, fruto de uma relação extraconjugal.
ES O adolescente acompanha o pai em viagens ao es-
EV
DAN
AL trangeiro e nas férias com Vladimir Putin, tradi-
AF
:M ção anual, conhecido que é o gosto dos dois presi-
ÇÃO
RA
ST dentes pelo esqui e pelo hóquei no gelo. Aliás, gran-
ILU
des eventos como futebol e hóquei no gelo conti-
nuam a ter lugar no país. Lukashenko chegou a di-
zer que jogar hóquei protege contra o vírus pan-
démico. “É melhor morrer de pé do que viver de
joelhos. Não há vírus no gelo. Isto é um frigorífi-
co. Eu vivo a mesma vida que sempre vivi, ainda
ontem tive uma sessão de treino com a minha
equipa. Encontrámo-nos, apertámos as mãos, abra-
çámo-nos, batemos uns nos outros.” Negacionis-
ta da pandemia, apresentou a receita para a cura:
“Vodca, sauna e trabalho no campo”.● m

Notícias Magazine 30.08.2020 7


alma-
naque
AS HISTÓRIAS A CULTURA
DOS DIAS Jorge Manuel Lopes
POR
POR Filomena Abreu
Música

CÃO SOBREVIVE DANÇANDO PELA


37 DIAS DEBAIXO IGUALDADE
DE ESCOMBROS
APÓS UM O gatilho foi o homicídio de George Floyd
em maio. Reforçado pelo assassinato de Bruno

DESLIZAMENTO
Candé Marques em Lisboa, a 25 de julho.
E se o racismo vem perdendo a vergonha (mas
também os meios para passar despercebido),

DE TERRA o antirracismo nunca foi tão mobilizador. E


urgente. “Labanta Braço” é uma compilação

NA CHINA de 37 criadores negros, portugueses ou aqui


residentes, organizada pela revista digital de
música Rimas e Batidas (ReB) e pelo programa
da NiTfm Raptiliário e que, lê-se no ReB, apela
Um cão chinês ganhou notoriedade soterrada. Os moradores só foram au- à união “por todas as vítimas do racismo e da
ao ser resgatado vivo, e relativamen- torizados a regressar no início de agos- opressão social”. Existe em formato digital no
te bem, após passar mais de um mês to. Foi nessa altura que Chen Yongen Bandcamp, onde é descarregável a partir de um
enterrado sob os escombros de um se surpreendeu com latidos vindos euro. As receitas seguem para a SOS Racismo.
deslizamento de terra que engoliu a dos escombros. Seria o seu cão? Em “Labanta Braço” não é bem o que se pensa
vila de Cangbaotian, na província de pouco tempo, juntou-se uma multi- quando se pensa em músicos que se reúnem
Guizhou, sudoeste da China. O desas- dão que escavou durante dez horas até por uma causa, protesto, celebração, em parte
tre aconteceu a 8 de julho. Um alerta encontrar o pequeno cão preto, que porque deixa praticamente de fora o meio mais
mobilizou os moradores da vila para não conseguiu conter a alegria ao vol- direto de passar mensagens: as palavras ditas
que evacuassem a região à pressa. O tar a ver o dono, depois de 37 dias pre- ou cantadas. Elas figuram, cerradas e fortes,
desabamento de terra deixou a aldeia so sob o entulho. na abertura, de Nástio Mosquito, “Sejamos
perigosos hoje!”. A que se seguem 36 temas
inéditos e onde, com uma exceção (Herlander),
a voz humana, quando aparece, é samplada ou

Algas que são tratada como uma camada sonora entre muitas.
A compilação surpreende pela consistência
estética. Mesmo não estacionando num
animais de género durante muitos minutos. Ainda assim,
abunda aquilo a que se pode chamar, correndo

estimação o risco de abrir um guarda-chuva demasiado


vago, hip-hop instrumental. Também abun-
dante, e particularmente vibrante, é a música
Já pensou em criar uma alga como se fosse um ani- de dança assente em ritmos de ADN africano,
mal de estimação? No Japão isso é possível. A mari- do sopro de vida que sai de “Uma das ilhas”, de
mo (aegagropila linnaei algae) é uma planta aquá- Danykas DJ, à festa contagiante de “Diamante
tica rara com um aspeto peculiar: uma grande bola negro” de DJ Lycox, ou a aproximação à eletró-
verde com textura aveludada. Pode ser encontrada nica surrealista dos Yello ao longo de “420” de
no norte da Europa, mas as maiores costumam Nigga Fox. Pelo meio, múltiplas peças difíceis
desenvolver-se no lago Akan, no leste de Hokkai- de catalogar, do funk motorizado e notívago
do, Japão. Trata-se de um local bastante plano, cu- de “Ruas tensas” de Ângela Polícia à trilha
jas características permitem que cresçam mais e al- sonora de uma cena de amor de um filme
cancem cerca de 40 centímetros de diâmetro. americano de 1985 contida nos mecanismos
Hoje, é possível comprar as algas e criá-las como lentos de “Scar tissue” de El
animais de estimação. Ter uma marimo requer Conductor. O otimismo que
poucos cuidados. Basta colocar as “bolinhas” num atravessa “Labanta Braço”
ambiente com bastante água, luz solar e espaço, é bem superior ao que seria l
para que possam rolar para vários lados. Dessa for- egítimo esperar. E para lá
ma, elas mantêm o aspeto fofinho. Apesar de o da causa nobre que o
crescimento ser lento (apenas cinco milímetros teceu, calha de ser um
por ano), a evolução desses seres vivos, que podem retrato do melhor,
durar muito mais tempo do que o dono, é visível a e mais generoso,
olho nu. E, ao contrário do que acontecia no passa- que a música moderna
do, quando não havia controlo, a adoção das mari- portuguesa tem para
mo não prejudica o meio ambiente. mostrar em 2020.

8 30.08.2020 Notícias Magazine


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PVP unitário: 4,95€ cont. (IVA incluído) + JN. PVP da coleção: 74,25€ cont. (IVA incluído) + 15 JN. Venda limitada ao stock existente.
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2 agosto 9 agosto 16 agosto 23 agosto 30 agosto
Para encomendar ou para qualquer esclarecimento:

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6 setembro 13 setembro 20 setembro 27 setembro 4 outubro
alma- Susana Romana
naque Partida, Largada, Fugida

1 2 3

Semana cansati- Em causa está um comentário negativo


va para António sobre médicos ligados a Reguengos. De-
Costa, que depois da pois de uma reunião com a Ordem, o pri-
chatice com a entrevis- meiro-ministro considerou os problemas É que o bastonário dos Médicos fez aquela
ta ao “Expresso” tem passado os dias “sanados”. Mas afinal a celeuma não es- coisa de não responder logo e vir para casa ter
a ver se todos os eletrodomésticos em tava nada curada – levou só com um pen- uma discussão imaginária enquanto se está no
seu redor estão no On ou no Off. Nun- so rápido mal colado. Curiosamente, duche. Vai daí, mandou no dia seguinte uma
ca se sabe para quem manda o micro- como se fosse o tratamento a um velhi- carta a algumas redações na qual diz que, cá
-ondas informação de que aqueceu de- nho no lar de Reguengos. fora com os jornalistas, Costa não foi fiel ao
masiado os restos de jardineira. que disse no encontro. Parece-me que Mi-
guel Guimarães tinha tido bom remédio:
era gravar a reunião e pôr o vídeo
a circular, claro.

5 4

Entret
Entretanto, o “Expresso” está a fazer uma investigação
Rui Pinto chamou 45 interna para perceber como é que o vídeo “off the re-
personalidades para cord” se tornou público. A bandalheira foi tal que não
testemunharem no caso ter ido parar ao Tik Tok foi uma sorte. A esta hora já ha-
Football Leaks, entre elas via a versão com o Kapinha.
Edward Snowden, Jorge Jesus
e Bruno de Carvalho. Não li a lista toda,
mas espero que também lá estejam a
Rainha de Inglaterra, o Freddie Mercury
e a Power Ranger cor-de-rosa. Se é para O problema da tal cláusula é que só pode ser ativada
pedir, que seja à grande. no fim da época, e, com toda esta confusão da pande-
mia, o clube e o jogador não se entendem sobre
quando é que isso foi exatamente. O contrato fala
em junho, mas o argentino alega que na
prática só acabou agora. De facto a
6 covid-19 baralhou a noção de
7 tempo a toda a gente. Para
mim, por exemplo, são
sempre oito da manhã
Messi estará de saída do Barcelona, apelando à em março, daí estar
cláusula de rescisão unilateral presente no seu sempre com o mesmo
contrato. Estão ainda a ser discutidos números entre pijama do Snoopy e
ambas as partes, mas acho que o número mais relevan- alimentar-me
te aqui foi mesmo os 8-2 que os espanhóis levaram do a Chocapic.
Bayern de Munique.

O opositor de Putin, Alexei Navalny, foi envenenado, segundo dia-


gnóstico feito por laboratórios independentes na Alemanha. Acho
essa polémica uma injustiça. Putin estava só a garantir que o seu
rival ficava esquelético neste verão, contribuindo assim para o
seu biquíni body mesmo pós-enfardanços da quarentena.

10 30.08.2020 Notícias Magazine


Cidadania Impura
Valter Hugo Mãe
Por

Não é por cobrirem a cara com uma máscara no momento


de entrarem na Primark que as pessoas mudaram no seu íntimo.

Debati muito com amigos, mesmo nas famosas “lives” de vingança, por inveja e preconceito, por frustração e
que se multiplicaram na internet, o facto de me parecer estupidez.
impossível que a pandemia mudasse as pessoas. Apostei Era minha convicção de que voltariam todos aos sho-
que poderia criar um tempo de certa ternura, mas para ppings, atarefados com cabeleireiros e pijamas da Pri-
mudar a Humanidade não teria hipótese alguma. A Hu- mark assim que fosse levantada a proibição. Não tive dú-
manidade caminha por uma benesse concreta da ciência vida alguma disso. Achei, e aí falhei, que a ternura, que
mas também por acentuados avanços e recuos nas cons- advinha do susto e daquilo já esquecido de não se abra-
ciências e na excelência dos gestos. Mais do que apren- çar netinhos, perduraria um bocado, talvez uns anos,
der a melhorar, é preciso lidar com o facto inequívoco de enquanto nos lembrássemos ainda da clausura, do
que uma perigosa multidão quer simplesmente ver a medo, dos mortos, das pessoas isoladas sem despedida
sangria dos seus pares, rendidos à maldade e à sensação possível. Falhei. A ternura foi por quinze dias e talvez
tenha sido sobretudo minha, que fartei de me comover a

A IDEIA
ver as notícias, e fui à janela escutar os vizinhos grita-
rem aleluia na Páscoa à falta de passar o Compasso.
Não mudou nada. Não é por cobrirem a cara com uma
máscara no momento de entrarem na Primark que as

DE MUDAR TUDO
pessoas mudaram no seu íntimo. Não entram senão para
garimpar a pechincha do costume, com a avidez do cos-
tume, pelos motivos do costume, independentemente
de haver gente pior, a crise a apertar, o desemprego à
mostra e prometido para piorar muito. Já não ouço fala-
rem aqueles que diziam que iam ser de outra maneira,
atentos ao essencial, mais sensíveis com as fragilidades
de todos, até para lerem mais livros, educarem-se, estu-
dar novamente ou deixar de fumar. Acabaram as pro-
messas. Agora anda tudo à pressa a ver se faz disto a mes-
ma coisa que fazia antes.
Estou na contracorrente. Não quero admitir que a
pandemia não me mudará. Nem que por pretexto cas-
murro, eu exijo de mim agir diferente. Estabeleci um
compromisso no sentido de rever tudo quanto me afas-
tava da paz. Quero existir na paz possível, desvinculado
da ansiedade a que ia sucumbindo. Quero amar acima de
tudo. Já não vejo isto como ternura mas como plano de
sobrevivência pura.
Passei anos a sonhar que, um dia, como um bruto, fu-
giria. Partiria em segredo para onde não soubessem de
mim, à cata da recuperação do tempo, do silêncio, de
uma meditação que sustentasse companhia e não me
soasse a solidão. Estar só na multidão é uma forma de
beco sem saída. A salvação é voltar para trás. Recuar até
começarmos tudo outra vez, a partir de nos descobrir-
mos a nós mesmos. Somos o primeiro plural. Temos de
ser o primeiro plural de nossas vidas. Nessa limpidez,
saibamos dar um passo em frente reencontrando os ou-
tros por alegria e dignidade. Importados. Maravilhados
ainda com o sonho de, um dia, erradicarmos a maldade.
Sermos pela paz, pares, pela paz. ● m

O AUTOR ESCREVE DE ACORDO COM A ANTERIOR ORTOGRAFIA.

Notícias Magazine 30.08.2020 11


alma-
naque
A SEMANA
QUE VEM
Filomena Abreu


POR

OS ROSTOS

Solidariedade, IRS e Sérgio


Godinho no Maria Matos
SEGUNDA-FEIRA
3ª TERÇA-FEIRA

DEBATE INSTRUTÓRIO
DO CASO ÉTER EM
No Dia Internacional da Solidarie-
dade, acaba a situação de contingência VILA NOVA DE GAIA
nos 18 municípios que englobam a
Alexei Navalny
Opositor de Vladimir Putin
Área Metropolitana de Lisboa, a maior
do país em número de habitantes.
Início do debate
O diagnóstico feito por labo- Os contribuintes que tiverem de pagar instrutório do
IRS e acertar contas com o Fisco têm
ratórios independentes na
Alemanha confirmou que também até ao final desta segunda- processo Éter
o político e líder da oposição -feira para regularizar a situação. Às 21
horas, Sérgio Godinho sobe ao palco
(Turismo do Porto
russa foi envenenado.
A chanceler alemã, Angela do Teatro Maria Matos, em Lisboa, e Norte de Portugal).
para um concerto de celebração do seu
Merkel, exigiu que as autori-
dades russas investigassem 75. aniversário, que comemora preci- Às 9.30 horas, no
o crime. Mas o Kremlin já samente nesse dia. A acompanhá-lo
terá os “Assessores”. Os bilhetes têm
Auditório Municipal
disse que não via necessi-
dade disso. o preço único de 20 euros. de Vila Nova de Gaia.

George Hill
4ª 5ª
QUARTA-FEIRA
Defesa Nacional
presencial e festa
internacional do
Cinema em Veneza
QUINTA-FEIRA

DEITAR BEATAS PARA


O CHÃO VAI RENDER
MULTAS PARA CLIENTES
E ESTABELECIMENTOS
Basquetebolista da NBA
Foi um dos porta-vozes dos O Dia da Defesa Nacional regressa
Milwaukee Bucks, que em formato presencial em cinco
boicotaram o jogo dos centros de divulgação (Maceda, Vila Até ao momento não havia conse-
playoffs da NBA, seguindo a Real, Viseu, Sintra e Portimão), após quências, mas a partir deste dia
onda de indignação na liga estar suspenso desde 9 de março, os fumadores que deitarem beatas
americana de basquetebol, devido à pandemia. Na mesma data, para a via pública podem ser punido
após a polícia de Wisconsin abre o Festival de Cinema de Veneza, com coimas que variam entre os 25
ter disparado sete tiros em Itália. O filme “The Shift”, e os 250 euros, no caso de pessoas indi-
sobre Jacob Blake, um da realizadora Laura Carreira, viduais. Já os estabelecimentos que
homem negro desarmado. e “Listen”, de Ana Rocha de Sousa, não colocarem cinzeiros à disposição
vão integrar a seleção oficial da 77.ª dos clientes podem ser multados entre
edição
ç do evento. 250 e 1 500 euros.


“ELE MERECE UMA VIDA DE SEXTA-FEIRA
SILÊNCIO TOTAL E ABSOLUTO” Julgamento de Rui
Pinto e Avante
Início do julgamento do “hacker” Rui
Pinto que terá, em média, três sessões
Jacin Ardern
Jacinda por semana, até novembro. O criador
Prime
Primeira-ministra da Nova Zelândia,
do “Football Leaks” vai responder por
sentin
sentindo “alívio” com a condenação
a prisão
pris perpétua de Brenton Tar- 90 crimes. Na mesma data em que
rant, autor do massacre de 51 mu- começa a Festa do Avante, na quinta da
çulma
çulmanos em 2019. É a primeira vez Atalaia, Seixal. O evento prolonga-se
que a pena é aplicada no país. até domingo, dia 6.

12 30.08.2020 Notícias Magazine


S
Portugal-Croácia e Beethoven
SÁBADO
Diretas e pena de morte no Chega,

É um dois em um. No mesmo dia em que o Chega realiza eleições


diretas – que deverão confirmar o atual líder,André Ventura –, os
militantes do partido pronunciam-se sobre a introdução da pena
de morte em Portugal, num referendo interno. Já às 19.45 horas,
a seleção portuguesa de futebol entra em campo com a Croácia, no
Estádio do Dragão, sem público nas bancadas, para iniciar a defesa
do título de campeã da Liga das Nações. A celebração dos 250 anos
do nascimento de Beethoven marca a reabertura do Teatro Nacio-
nal de São Carlos, em Lisboa. É apresentado o Triplo Concerto
estreado pelo compositor em Viena, em
1804, com a Orquestra Sinfónica do Porto, Portugal conquis-
tou a primeira edi-
dirigida pela maestrina titular, Joana
ção da Liga das
Carneiro, a ser acompanhada pelos solistas Nações, depois
Pedro Meireles (violino), Marco Pereira de bater, na final,
(violoncelo) e António Rosado (piano). a Holanda, por 1-0

DOMINGO
PROGRAMA DAS ALDEIAS HISTÓRICAS
E FIM DA OPERAÇÃO DE VERÃO DA GNR
A festa está de regresso às Aldeias Históricas de Portugal. E é em
Castelo Rodrigo que decorre o primeiro evento do Ciclo “12 em
Rede | Aldeias em Festa 2020”, este ano adaptado ao contexto de
pandemia, com participação limitada e transmissão via streaming.
O tema do evento, “Exodus”, recorda a presença de uma comuni-
dade judaica nessa aldeia. A inscrição é gratuita
e pode ser feita para a totalidade do evento
ou apenas para um momento específico.
No mesmo dia, termina a operação de
verão da GNR “Viajar em Segurança”
em que foi intensificado o patrulha-
mento, fiscalização e apoio aos uten-
tes das vias rodoviárias e ao cumpri-
mento das diretivas do Governo.

Notícias Magazine 30.08.2020 13


“ENTÃO MORREM
18 PESSOAS E
NÃO HÁ NINGUÉM
RESPONSÁVEL?”
TEXTO Ana Tulha FOTOGRAFIA Rui Oliveira/Global Imagens
REGUENGOS DE MONSARAZ

A pacata interioridade de Reguengos


de Monsaraz vê-se por estes dias
rasgada por uma polémica sem fim
à vista. Mais de dois meses depois
do início do mortífero surto de covid
que atingiu em cheio o lar da Fundação
Maria Inácia Vogado Perdigão Silva,
a terra ainda se contorce com as dores
da perda. Da revolta também. Mesmo
que a indignação só a custo fure
um teimoso manto de silêncio.

L
ucília Marques Botas, 92 anos. Antes de o vírus a apa-
nhar, “estava bem”, garante o filho. Depois, come-
çou com febre e tosse. Mas sempre que os familiares
ligavam para o lar da Fundação Maria Inácia Vogado
Perdigão Silva o que ouviam era que estava bem, “es-
tável”. Faleceu a 25 de junho, sem chegar a ser assis-
tida no hospital. Filipa Carrapato Poupinha, 93 anos,
sem problemas de saúde de maior. “Só mesmo as ar-
troses”, conta a neta. Morreu a 2 de julho, no Hospi-
tal do Espírito Santo de Évora. A médica transmitiu
a uma das filhas a surpresa pelo estado de desidrata-
ção em que a idosa lá chegou. Maria Rosa Aleixo, 71
anos. À custa da covid, esteve internada durante um bem no centro da terra, está, desde então, no olho do furacão. Des-
mês. O neto assegura que também chegou ao hospi- de logo pelos números. Aqui, 80 utentes contraíram o vírus, 26 fun-
tal desidratada. Mesmo que já só tivesse um rim a funcionar. Fale- cionários também. O surto irradiou daí para a comunidade, provo-
ceu após ter contraído uma bactéria hospitalar. Ludmila Istratuc, cando um total de 162 casos de infeção.
42 anos, natural da Moldávia, funcionária efetiva do lar de Reguen- No lar, a covid foi particularmente letal: 16 utentes morreram,
gos há oito, descrita como trabalhadora exemplar. Começou a sen- mais uma funcionária. Houve ainda a registar uma 18.ª vítima, um
tir-se cansada a 16 de junho, mas só a 23 foi para o hospital, onde homem de 52 anos que não tinha qualquer ligação ao lar. Mas nem
acabou por falecer, no primeiro dia do mês de julho. Antes disso, só os números da tragédia têm conferido à instituição um indese-
ainda passou o vírus ao marido e aos filhos. jado protagonismo. Há ainda os resultados de uma auditoria da Or-
Estas e outras histórias, duras, trágicas, todas elas dor e angústia, dem dos Médicos, divulgada este mês, onde constam acusações
ainda gravitam como fardo em todos os cantos de Reguengos de graves, que vão desde o incumprimento das normas impostas pela
Monsaraz, cidade de 10 mil habitantes colada ao extremo sudeste DGS à alegada falta de condições do lar. Com detalhes sórdidos e
de Évora, terra habitualmente mergulhada num manto de esque- particularmente angustiantes ao barulho. O próprio Ministério
cimento típico da interioridade, mas subitamente atirada aos ho- Público confirmou, a 7 de agosto, a abertura de um inquérito. A ins-
lofotes pelos motivos que nenhuma quer. Nesta localidade mor- tituição continua a refutar todas a acusações.
reram, entre 24 de junho e 24 de julho, 18 pessoas, 16 em apenas Um mês depois de a cidade se ter despedido da última vítima mor-
duas semanas. O lar da Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Sil- tal por covid, o peso da tragédia ainda manieta a terra, qual camisa
va (FMIVPS), uma imponente casa de fachada senhorial instalada de força sem data para sumir. No cemitério, duas dezenas de sepul-

16 30.08.2020 Notícias Magazine


“SE ACONTECEU É MUITO TRISTE”
turas ainda em tijolo são o retrato fiel de um luto incompleto, que
se vai fazendo aos repelões, sem paz nem tranquilidade, só uma
“A MINHA Como Vítor Gomes, filho de Lucília Marques Botas, a idosa de 92
imensa nuvem de polémica a encobrir à força os dias da perda. Nas AVÓ ENTROU anos que antes de apanhar o vírus “estava bem”, mas que acabou
ruas, o movimento regressa timidamente ao que era, as máscaras NO HOSPI- por falecer a 25 de junho sem sequer chegar a estar internada no
coladas ao rosto a contar a história de uma cidade que aprendeu a
cuidar-se à força. No lar, as janelas continuam quase invariavelmen-
TAL DESI- hospital. “Sempre achámos que o lar tinha todas as condições”, de-
sabafa Vítor, a meias com a mulher, Idalina. Mas depois vieram as
te fechadas, qual pedido desesperado por recato em tempos de fu- DRATADA, notícias das mortes, umas atrás das outras. E depois as conclusões
racão. Aqui e ali, o surto de Reguengos – e em particular do lar da Fun- COMO É POS- da auditoria da Ordem dos Médicos. E a inquietação foi tomando
dação – continua a ser motivo de conversa entre as gentes da terra.
Desde logo por culpa das notícias constantes que têm envolvido a
SÍVEL? ELA conta dele. “É uma dúvida que fica sempre. Se o que aconteceu foi
o que dizem é muito triste”, vai dizendo o filho de Lucília, antes de
localidade. Mas o assunto não é de trato simples. Entre os familia- NECESSITA- partilhar a história da mãe. Lucília, natural de Reguengos mas com
res das vítimas, vários recusam falar sobre o que se passou no lar. Ora VA DE quase 40 anos vividos nas redondezas de Lisboa, trabalhou a vida
porque não sabem “o que lá se passava”, ora porque já não têm “mais
nada a dizer sobre isso”. Também há quem vá deixando escapar umas
ÁGUA...” toda. Ora no campo, ora nas limpezas. Nos últimos tempos fora do
Alentejo estava com um dos filhos, em Massamá. Mas depois ele
frases, mas não queira ser identificado ou fotografado. Já as funcio- Leonardo Pereira deixou de ter condições para a albergar. E ela voltou à casa de parti-
nárias – as duas que conseguimos descobrir em casa – recolhem à pri- Neto de Maria Rosa da. Ainda passou pelo centro de dia da Santa Casa, mas não conse-
vacidade da porta fechada assim que percebem quem somos ou qual Aleixo guiram vaga para o lar residencial.
é o assunto. Mas também há quem fure o silêncio. Foi então para o lar da Fundação. Foi há uns seis anos. “Se soubes-

Notícias Magazine 30.08.2020 17


REGUENGOS DE MONSARAZ

se tinha ficado na Santa Casa”, lamenta o filho. “Parecia que tinha levisão. É complicado ver certas coisas. Diz-se que os velhotes es- “ERA IMPOR-
condições e afinal é isto. Se tinha sido logo tratada, às tantas tinha
ficado bem.” E põe-se a recapitular o filme dos últimos meses. De
tavam ali sem medicação, sem nada. Olhe, coitado de quem mor-
re.” E a última frase sai-lhe numa espécie de suspiro conformado. TANTE QUE
como em março deixaram de a poder visitar. De como, desde então, SE ARRAN-
iam ligando para saber dela. De como foram informados de que Lucí- “CHEIRO HORRÍVEL, LIXO NO CHÃO, VESTÍGIOS DE URINA” JASSEM
lia estava infetada, mas lhes foram dizendo que, apesar da febre e
da tosse, estava bem, estável. Tanto que não precisava de ser inter-
Os relatos encontram paralelo no retrato traçado no relatório da
comissão de inquérito da Ordem dos Médicos, cujas conclusões PESSOAS
nada. Naquele dia de 25 de junho de manhã, uma das filhas, irmã foram conhecidas durante este mês. Numa longa lista de proble- COMPETEN-
de Vítor, tornou a ligar. E voltaram a dizer que estava estável. “De- mas, destaca-se o alegado incumprimento das orientações da DGS, TES PARA
pois, ao fim da tarde, ligaram a dizer que tinha morrido”, recorda
Idalina, a esposa. É uma das pontas do novelo que desassossega o fi-
como “o isolamento diferenciado para os infetados ou sequer o
distanciamento social para os casos suspeitos”. “Não existia, por LÁ ESTAR
lho e o leva a questionar-se sobre o que fazer a seguir. “Já me estive exemplo, definição de circuitos de limpos e de sujos, o que foi fei- E AS COISAS
a aconselhar com um advogado. Não é fácil fazer algo porque não to apenas a 26 de junho, nove dias depois de ter sido confirmado o PUDESSEM
temos provas. Mas acho que era importante fazer-se uma vistoria
lá, para que se arranjassem pessoas competentes para lá estar e as
primeiro caso”, sublinha o relatório da auditoria. A referida comis-
são aponta ainda o dedo à falta de recursos humanos necessários MELHORAR”
coisas pudessem melhorar.” para assegurar a “prestação de cuidados adequados no lar, mesmo Vítor Gomes
Já Leonardo Pereira, neto de Maria Rosa Aleixo, a idosa de 71 anos antes da crise de covid-19, uma situação que se agravou com os tes- Filho de Lucília Marques
que já só tinha um rim a funcionar e que mesmo assim terá chega- tes positivos entre os funcionários, que os impediram de traba- Botas
do ao hospital com sinais de desidratação, está determinado a to- lhar”. Ainda segundo o documento, em consequência dessa falta
mar medidas. “Estamos só à espera do relatório do hospital para de recursos humanos, “vários doentes estiveram alguns dias sem
avançar”, promete à NM por telefone, a partir de Safara, localidade as terapêuticas habituais, por falta de quem as preparasse ou ad-
de Moura. Lembra que a avó tinha já uma série de complicações de ministrasse”.
saúde. As mais preocupantes relacionadas com diabetes e proble- Entre vários problemas detetados, que vão desde a falta de equi-
mas renais – não tinha um rim e o outro não funcionava sequer a pamento de proteção necessário ao facto de, durante dias, os uten-
100%. “A minha avó deu entrada no hospital desidratada, como é tes terem continuado a circular sem máscara, surge ainda a alega-
possível? Uma idosa que necessitava de água para o funcionamen-
to dos órgãos...”, questiona, explicando que Maria Rosa faleceu de-
pois um mês de internamento, após ter apanhado uma bactéria.
Ressalva que o lar tinha “funcionárias muito boas, excelentes pro-
fissionais”, mas que “não eram suficientes”. Diz até que a avó teve
que andar bastante a tempo a aplicar uma pomada cicatrizante, por
lhe terem colocado um creme que lhe “queimou a pele”. Leonardo
frisa, ainda assim, que não pretende qualquer indemnização. “Só
quero que futuramente o lar seja um lugar melhor”, explica, afian-
çando ainda que, além dele, “há várias pessoas que vão avançar”
com ações judiciais.
Certo é que há outros familiares com queixas da instituição, nal-
guns casos ainda anteriores ao surto que levou 16 utentes e uma
funcionária. Os de Filipa Carrapato Poupinha, que tinha 93 anos e
morreu a 2 de julho “com sinais de desidratação”, são um exemplo
disso mesmo. José Mendes, o filho, aparece atrás da porta entrea-
berta, quase só de relance, para dizer... que não tem nada para dizer.
A custo, lá diz que pouco visitava a mãe porque “não suportava o
cheiro”. A urina. “Mesmo quando lá ia não aguentava muito.” Mas
que de resto não tem que dizer. E faz questão de agradecer ao anti-
go presidente da Câmara [Victor Martelo] por o ter ajudado a que a
mãe lá entrasse. “Senão ainda tinha morrido mais cedo.” E logo pede
licença para voltar para dentro.
A mulher, Maria Rosa Mendes, nora de Filipa Poupinha, e a filha,
Cristina Mendes, neta da idosa falecida, vão dando mais pormeno-
res. “O asseio não era muito, foi sempre assim. Volta e meia havia
sujidade no chão e cheirava a urina, por causa das fraldas. Mas ela
gostava, no geral”, salienta Maria Rosa, que também tem lá um ir-
mão, de 64 anos. Cristina, a filha, realça o desabafo que a médica do
hospital teve com a tia, quando lhe deu a notícia de que Filipa tinha
falecido. “Disse que não sabia que condições eles tinham no lar, que
estavam a chegar todos desidratados, morriam todos do mesmo. A
minha avó tinha os rins parados. Não tem jeito, não é? Deixar as-
sim as pessoas a morrer à fome e à sede. A minha avó estava bem. Só
tinha umas artroses. Se não fosse isto ainda estava viva.” E a mãe
toma-lhe o desalento, estão ambas cabisbaixas, um misto de tris-
teza e incredulidade. “Isto agora todos os dias vemos notícias na te-

18 30.08.2020 Notícias Magazine


da falta de condições do lar. “Quartos de quatro ou cinco camas “O ASSEIO
numa parte do edifício antigo, degradado, com calor extremo, chei-
ro horrível, lixo no chão, vestígios de urina seca no pavimento”, NÃO ERA MUI-
descreve a equipa de dois médicos e de três enfermeiros que foi à TO, FOI SEM-
instituição fazer testes de rastreio. “A maioria das mortes não ocor- PRE ASSIM.
reu por pneumonia covid-19, mas sim por outras causas, nomea-
damente falência renal, provavelmente por impossibilidade de VOLTA
uma monitorização contínua clínica e laboratorial adequada”, con- E MEIA HAVIA
cluem os médicos que assinam o relatório, com perto de meia cen- SUJIDADE NO
tena de páginas.
As conclusões do documento elaborado pela Ordem dos Médicos CHÃO E CHEI-
mereceram contestação por parte da FMIVPS. Num comunicado RAVA A URI-
publicado a 11 de agosto, a instituição assevera ter feito “tudo o que NA, POR CAU-
estava ao seu alcance e dentro das suas competências, com a ajuda
de várias dezenas de instituições e pessoas para salvar vidas huma- SA DAS FRAL-
nas, numa crise de saúde pública que assumiu contornos absoluta- DAS. MAS ELA
mente dramáticos”. O lar garante ainda cumprir “nos termos da lei GOSTAVA,
todos os requisitos de prestação de cuidados de saúde ao nível de
cuidados clínicos (através dos respetivos médicos de família), cui- NO GERAL”
dados de enfermagem” e outros, além de possuir “um quadro de Maria Rosa Mendes
pessoal composto por mais de 50 trabalhadores, respeitando inte- Nora de Filipa Carrapato
gralmente os indicadores definidos (...)”. Poupinha
Confrontada pela “Notícias Magazine” com as queixas de fami-
liares de utentes do lar, relativas à falta de asseio e ao forte odor a
urina na instituição, mesmo antes do surto de covid, a Fundação
também repudiou as acusações. “Esta oferta social da FMIVPS é tu-
telada pela Segurança Social que verifica com regularidade o fun-
cionamento desta ERPI”, fez saber, via email, o presidente do Con-
selho de Administração da instituição, José Calixto, também pre-
sidente da Câmara. Quanto às queixas relativas à desidratação dos
idosos e às promessas de processos judiciais, o líder da instituição
também refuta qualquer responsabilidade. “Na história desta ER-
PI [Estrutura Residencial para Pessoas Idosas] não conhecemos
qualquer situação desta natureza”, remetendo qualquer questão
sobre o assunto para a Autoridade de Saúde Pública. “Nessa altura

Notícias Magazine 30.08.2020 19


REGUENGOS DE MONSARAZ

[após a eclosão do surto, em 18 de junho], o lar deixou de ser lar e xa. Se eu achasse que o lar não tinha condições tinha tirado os meus
passou a ser um alojamento sanitário sob a responsabilidade da Saú- pais de lá. E mesmo eles sempre disseram que só queriam sair dali
de”, refere. Oficialmente, o presidente da Administração Regional quando morressem. Estavam confortáveis.” Balbina ia visitá-los
de Saúde (ARS) do Alentejo, José Robalo, remeteu a investigação duas vezes por semana, mais coisa, menos coisa, e diz que “a úni-
do surto de covid-19 em Reguengos de Monsaraz para as entidades ca coisa que notava, volta e meia, era o cheiro a urina, por causa das
competentes. fraldas dos velhotes”. “Mas os meus pais sempre estiveram mui-
De resto, entre os familiares dos utentes do lar em questão, tam- to asseados e sempre foram bem tratados.” Entre elogios às fun-
bém há quem garanta que nunca teve nada a apontar. É o caso de cionárias, que “eram poucas mas faziam o melhor possível”, ad-
Balbina Fevereiro, 65 anos. Tinha ambos os pais nas instalações da mite apenas que, “nos últimos dois anos, as coisas se estavam a de-
Fundação há 12 anos. O pai ainda lá está. A mãe faleceu a 6 de ju- gradar um bocadinho”. Mais ao nível da comida, pormenoriza, que
lho, infetada com covid. A sogra também está no lar. Foi a primei- “estava a ficar mais ruim”. Apesar de ainda estar “muito triste”
ra utente a quem foi detetado o vírus, mas sobreviveu. E o balan- com a morte da mãe, não culpa o lar, que sempre a foi pondo ao cor-
ço de todos estes anos é positivo, atesta. “Nunca tive razões de quei- rente da evolução do estado de saúde da progenitora. E sublinha

20 30.08.2020 Notícias Magazine


“DA SAÚDE covid-19, 688 – mais de um terço, portanto – tinham sido de pes-
24 DIZIAM soas que residiam em lares.
Entre as 18 mortes que varreram Reguengos, uma, a de Lud-
PARA LHE mila Istratuc, funcionária do lar de apenas 42 anos, causou par-
DAR BEN-U- ticular choque e revolta. Efetiva no lar há oito anos, acarinhada
-RON. DE- por todos, acentua o marido, começou a sentir-se muito cansa-
da a 16 de junho, teve febre a 17, fez o teste a 18. O resultado con-
POIS, À MEDI- firmou a presença do vírus e ela foi piorando desde então, mas
DA QUE ELA só a 23 foi hospitalizada. A cronologia dos acontecimentos é tra-
FOI PIORAN- çada pelo marido enlutado, Adrian Istratuc, agora encarregue de
cuidar sozinho dos três filhos do casal. “Eu ligava para a Saúde
DO, IA LIGAN- 24 e diziam para lhe dar ben-u-ron. Depois, à medida que ela foi
DO PARA OS piorando, ia ligando para os bombeiros para a irem buscar, mas
BOMBEIROS diziam-me que era preciso um papel do centro de saúde. Só com
a ajuda do antigo presidente da Câmara é que consegui que a le-
PARA A IREM vassem.” Mas as coisas não melhoraram. A 25 de junho, Ludmi-
BUSCAR, la, Mila como era carinhosamente chamada, foi ligada às máqui-
MAS DIZIAM- nas. Antes, ainda falou com o marido e os meninos. “Força para
vocês todos”, atirou.
-ME QUE ERA Entretanto, também Adrian e os filhos tinham ficado infeta-
PRECISO dos e confinados. Mesmo que, no caso deles, os sintomas nunca
UM PAPEL tenham sido graves. Mila não teve essa sorte. Nos dias seguin-
tes, o feedback era o mesmo. “Diziam que estava mal, mas que
DO CENTRO estava controlado.” Até que a 1 de julho o telefonema trouxe a
DE SAÚDE” pior das notícias. O rosto de Adrian, que se mudou para Portugal
em 2005 em busca da uma vida melhor, é todo dor. Indignação
Adrian Istratuc também. “Então morrem 18 pessoas e não há ninguém respon-
Marido de Ludmila sável?” Tanto que promete processar o lar por negligência. Em-
bora saiba que a missão se antevê difícil. “É como lutar contra
um furacão”, acrescenta a prima, Cornélia Cojocaru, que tam-
bém se mudou da Moldávia para Portugal. Adrian lamenta ain-
da que, em Reguengos, todos comentem o sucedido nos cafés,
mas depois ninguém queira dar a cara. “Têm medo”, diz.
Na terra, há quem diga que a resistência se deve a um certo “am-
biente autocrático”. Que uma boa parte dos empregos locais de-
pende da Autarquia e que há, por isso, quem tema represálias.
Mas ninguém ousa dar a cara por estas afirmações. Há também
quem avance com uma explicação mais simples, sempre sem
rosto e sem nome: a de que alguns familiares dos utentes faleci-
dos no lar se estão a preparar para avançar com processos contra
a Fundação e já foram, por isso, aconselhados pelos advogados a
não fazer declarações públicas sobre o assunto.
Entretanto, o PSD vai denunciando uma “teia de relações par-
tidárias” entre Administração de Saúde e Segurança Social no
Alentejo, exigindo o apuramento de responsabilidades pela mor-
te de 18 doentes com covid-19 em Reguengos de Monsaraz. Já a
única vereadora da oposição a integrar o Executivo da Câmara,
Marta Prates, anuncia não estar disponível para “fazer aprovei-
tamento político da situação”. “O PSD já se pronunciou sobre o
que o pai, com quem continua a falar por videochamada, continua assunto mas localmente não o vamos fazer. Considero que a ques-
a ser bem tratado. tão é sobretudo humanitária. A serem provados os factos em cau-
sa estamos perante um crime humanitário grave. Não queria le-
A MORTE DE MILA, A REVOLTA DE ADRIAN var isto para o campo do conflito extra-luto, porque acho que isso
O caso de Reguengos veio novamente colocar os lares no epicen- não é bom para a comunidade”, disse à “Notícias Magazine”.
tro das preocupações relacionadas com a covid. A 19 de agosto, a mi- Também o padre de Reguengos de Monsaraz, Manuel José, a
nistra da Saúde revelou que havia à data 69 lares com casos positi- quem coube a realização de praticamente todos os funerais das
vos, num total de 563 utentes e 225 funcionários infetados. A go- vidas de reguenguenses que o vírus levou – e que fez questão de
vernante falou, no entanto, numa evolução positiva, lembrando telefonar a todos os infetados –, fala num “surto avassalador”,
que houve alturas, desde o início da pandemia, em que foram con- na preocupação do povo, no “peso emocional muito grande”, na
tabilizados cerca de 2 500 idosos infetados e mais de mil funcioná- dor que se abateu sobre a terra. E Adrian insiste na pergunta, de-
rios em 365 instituições. Marta Temido referiu ainda que das 1 786 terminado a não deixar esmorecer a indignação: “Então mor-
mortes registadas até àquele momento em Portugal associadas à rem 18 pessoas e não há ninguém responsável?” ● m

Notícias Magazine 30.08.2020 21


AVANTE CO

FILIPE AMORIM/GLOBAL IMAGENS

22 30.08.2020 Notícias Magazine


ONTRA TUD
C
TEXTO Filomena Abreu

ontagem decrescente para o desfe-


cho da novela mais seguida do ve-
rão. Faltam cinco dias para que a
Quinta da Atalaia abra (de 4 a 6 de se-
tembro) as portas aos milhares de
militantes e simpatizantes que não
abdicam do convívio anual comu-
nista. Se tudo correr como o PCP es-
pera, a Festa do Avante realiza-se,
contra tudo e contra todos. Para trás,
ficam meses de polémica, ataques e
contra-ataques, verdades e impre-
cisões. A cronologia dos principais
momentos está mesmo aqui ao lado.
“A operação para impedir a Festa do Avante foi der-
rotada”, regozijou-se Jerónimo de Sousa. “Sabere-
mos preparar e realizar a festa com as medidas de pro-
teção necessárias.” A lotação foi reduzida para um
terço da capacidade habitual (100 mil pessoas). As-
sim, deverá juntar, no máximo, 33 mil apoiantes,
numa área disponível de 30 mil metros quadrados
(mais dez mil do que no ano passado). A 44.ª edição
do Avante, tida como o ganha-pão do PCP, tem en-
quadramento legal. De ouvido atento ao secretário-
-geral do partido, as desconfianças e medos de mui-
tos dos militantes foram sendo esbatidos. A ordem
foi clara, o partido cerrou fileiras em resposta aos su-
cessivos ataques públicos. Prova disso foi o facto de a
“Notícias Magazine” ter tentado falar com diversos
militantes que se revelaram sempre reticentes em
responder. Houve mesmo quem tivesse sido incita-
do a desistir depois de já ter dado testemunho, em
que apenas reafirmava a confiança de que a festa tem
tudo para ser um êxito. Os promotores dos maiores
festivais cancelados também preferiram nada dizer.
Numa altura em que a imunidade de grupo à covid-
-19 e mesmo a imunização da tão aguardada vacina
levantam muitas dúvidas, a única certeza é que a con-
vivência com o vírus está para durar. Posta de parte a
ideia de uma total paralisação, e vendo o outono e o
inverno a aproximarem-se, torna-se imperativo pen-
sar em novos modelos de vida que não passem só pela
proibição. Nessa medida, a rentrée comunista pode
mesmo ser vista como uma experiência de larga es-
cala. A bola de fogo está, mais uma vez, nas mãos da
DGS. Poderá dividir as culpas com o PCP, se as regras
de segurança falharem e o evento se transformar num
grande foco de propagação. Se o risco valer a pena, o
país passa a ter um exemplo por onde se guiar.

Notícias Magazine 30.08.2020 23


DO E CONTR
FESTA DO AVANTE

7 DE MAIO ponto seguinte faz a inflexão, permitindo que os es-


petáculos possam “excecionalmente ter lugar, em re-
O Governo apresenta uma proposta de lei que, em cinto coberto ou ao ar livre, com lugar marcado”.
definitivo, proibia “os festivais de verão e outros de Ao promulgar o diploma, Marcelo Rebelo de Sousa
natureza análoga”, até 30 de setembro. esclarece: “Se uma entidade promotora qualificar como
iniciativa política, religiosa, social o que poderia, de

8 DE MAIO outra perspetiva, ser encarado como festival ou espe-


táculo de natureza análoga, deixa de se aplicar a proi-
As perguntas e as indignações não se fizeram espe- bição específica prevista no presente diploma”. Aler-
rar. O primeiro-ministro, António Costa, foi célere a tando que “mesmo os assim qualificados” se podem
reiterar que as atividades partidárias, na qual se en- realizar “desde que haja lugares marcados e a lotação
quadra a “rentrée” comunista, não estavam proibi- mos da Festa do Avante se estiverem reunidas as con- e o distanciamento físico sejam respeitados”. Isto é, o
das. Só tinham de respeitar as normas de saúde. dições”. Faltavam quatro meses para o evento. decreto deixou a porta aberta a eventos de grande di-
Álvaro Covões, dono da Everything Is New, que mensão – sejam classificados como políticos ou não –

11 DE MAIO produz o festival NOS Alive, vaticina uma “tragédia”


de 600 milhões de euros para a economia portugue-
desde que devidamente coordenados com a DGS. Mas
poucos foram os que se atreveram a arriscar.
sa. Em 25 anos, é o primeiro verão sem festivais de
música. Já antes da medida, vários eventos tinham
sido cancelados ou adiados. As notícias fazem contas 28 DE MAIO
em forma de balanço. Sumol Summer Fest, NOS Ali- Jerónimo de Sousa pede calma “às almas mais inquie-
ve, Super Bock Super Rock, MEO Marés Vivas, MEO tas” e admite que “não seria um drama” cancelar o
Sudoeste, Vodafone Paredes de Coura, EDP Vilar de evento.
Mouros, Boom Festival e NOS Primavera Sound fo-
ram riscados da agenda de 2020.
O PCP demarca-se imediatamente. O Avante não 7 DE JUNHO
era como as restantes festas. O esclarecimento che- A página oficial da Festa do Avante partilha as primei-
ga num comunicado: “Não é um simples festival de ras imagens da preparação do evento.
As trocas de acusações são uma constante entre os música, é uma grande realização político-cultural
partidos. O CDS-PP pressiona António Costa sobre o
“privilégio” concedido ao PCP. A líder do Bloco de Es-
que se realiza desde 1976, muitos anos antes da exis-
tência daquele tipo de festivais”. Álvaro Covões re- 25 DE JUNHO
querda, Catarina Martins, admite que o Avante é uma corda que Vilar de Mouros se fazia desde 1971. João O PCP divulga um vídeo explicativo das melhorias
ação política e uma grande festa, “é as duas coisas”, Carvalho, diretor da Ritmos, empresa promotora do do recinto em termos de espaço e de equipamentos.
mas prefere não se envolver na polémica. “Não sou Festival Vodafone Paredes de Coura, também não se O partido quer passar a mensagem de que tenciona
do PCP, nem sou da Direção-Geral da Saúde, não me cala. “Se a Festa do Avante acontecer da mesma for- responder a todas as exigências das autoridades sani-
cabe comentar. Creio que devem estar a trabalhar ma que nos anos anteriores é uma absoluta injustiça tárias, procurando amainar as críticas.
como é suposto”, acrescenta mais tarde. e deixa-me com uma indignação enorme.”

1 DE JULHO
14 DE MAIO 21 DE MAIO É divulgado o cartaz da Festa do Avante: os artistas
O CDS-PP une-se ao Chega numa proposta que re- A proposta de lei é aprovada no Parlamento, por maio- que atuarão são portugueses ou de países lusófonos.
sultaria na interdição do Avante. ria, em votação final global, com os votos a favor do PS,

16 DE MAIO
PSD, PAN, BE e da deputada não inscrita Joacine Katar
Moreira, e com a abstenção do CDS, PCP, PEV e Inicia- 19 DE JULHO
tiva Liberal. O decreto do Executivo, que viria a ser pro- Segundo a Entidade das Contas e Financiamentos Po-
Sábado. O Comité Central do PCP reúne-se para ava- mulgado pelo presidente da República, não se tratava líticos, o Avante é a segunda maior fonte de receita dos
liar os elementos da preparação da Festa do Avante, de uma simples proibição. Se num primeiro ponto se comunistas. Apesar dos números, o PCP desvaloriza a
face às circunstâncias da pandemia. Fazer ou não fa- pode ler que “é proibida, até 30 de setembro de 2020, importância da festa para a saúde financeira do parti-
zer? No dia seguinte, Jerónimo de Sousa responde à a realização ao vivo em recintos cobertos ou ao ar livre do e reitera que o evento todos os anos dá prejuízo. Há
questão em conferência de imprensa: “Não abdica- de festivais e espetáculos de natureza análoga”, um muito que essa é uma questão sensível. As contas de

24 30.08.2020 Notícias Magazine


RA TODOS
2019, entregues à Entidade de Contas e Financiamen-
to Político, revelam que o partido angariou 2,9 milhões
de euros em fundos. A maior fatia desse valor veio do
Avante: mais de 2 milhões terão saído da Quinta daAta-
laia para os cofres do partido. Em relação à receita da Fes-
ta do Avante, o partido afirma que “confundir volume
de receita total da Festa com proveitos é, mais do que
13 DE AGOSTO do Avante, festa que inclui concertos, campismo,
exposições, espaços de comes e bebes e debates.
“Quer Governo quer o PCP estão a dar um mau exem-
plo ao país”, disse, acusando o primeiro de não ter o
mesmo rigor para todas as situações e o segundo de
prepotência. Para o social-democrata só havia uma
solução: “Cancelar a festa”.
uma lamentável prova de ignorância, pura manipula- Nesse mesmo dia, o empresário palmelense Car-
ção”. A entidade acredita que as receitas da Festa do los Valente, distribuidor de uma marca internacio-
Avante podem ser muito superiores. É público que há nal de equipamentos de som para festivais, apre-
vários anos identifica irregularidades nas contas do par- senta uma providência cautelar contra a realização
tido, nomeadamente na “falta de faturação”, e chega a da Festa do Avante. Como argumento invoca a ques-
acusar o PCP de “falta de transparência nas contas”. tão da manutenção da atividade económica que está
Marcelo Rebelo de Sousa frisa que a compreensão vedada a outros. O empresário, de 50 anos – que foi

4 DE AGOSTO dos portugueses em relação às regras do evento é


essencial. “Os portugueses sabem que estão peran-
candidato pelo PSD ao município de Moura em 2013
–, concorda com as medidas restritivas à realização
Na apresentação da Festa do Avante, o principal res- te uma epidemia que está para durar e não podem de festivais e outras concentrações para impedir a
ponsável pela organização, Alexandre Araújo, garan- descolar das autoridades em geral em termos de cre- propagação do covid-19. “Se temos as discotecas fe-
te que serão cumpridas escrupulosamente as regras dibilidade.” E esclarece que a definição de regras chadas, os festivais adiados, indigno-me perante a
de distanciamento e higiene impostas pelas autori- tem dois objetivos: garantir que não há problemas realização de um evento como o Avante que vai reu-
dades. O membro do Secretariado do Comité Central de saúde pública e que os portugueses olhem para nir mais de 33 mil pessoas que vão partilhar o mes-
do PCP evita adiantar números de bilhetes já vendi- a Festa do Avante como um exemplo de boa condu- mo espaço durante três dias, comer juntos e acam-
dos e qualquer previsão de visitantes ou mesmo es- ta das autoridades sanitárias. “Eu tenho fugido a par durante a noite”, diz. Caso a providência seja
clarecer se vai haver um limite à entrada de pessoas. pronunciar-me [sobre a Festa do Avante] porque aceite, a Festa do Avante é suspensa, podendo o PCP,
acho que ainda não é o tempo, mas há de chegar o organizador do evento, recorrer da decisão.

5 DE AGOSTO tempo em que as autoridades sanitárias hão de di-

O subdiretor-geral da DGS, Rui Portugal, admite, já


zer o que faz sentido.”
25 DE AGOSTO
depois de se ter reunido com o PCP, que podiam ser
recomendados “eventuais ajustes” ao evento após 16 DE AGOSTO O PCP considera a providência cautelar “desprovida
de qualquer fundamento” e fruto “de animação arti-
se concluir a análise do plano enviado pela organiza- Jerónimo de Sousa garante que o partido não está a ficial da campanha reacionária” contra o evento. OTri-
ção comunista. teimar fazer a Festa do Avante “por questões finan- bunal do Seixal remete para um tribunal de Lisboa a
ceiras”, mas para “dar esperança e confiança na luta apreciação da providência. Entretanto, a ministra da

10 DE AGOSTO pelo futuro, face à pandemia de covid-19”. Saúde, Marta Temido, diz acreditar que esta “não terá
qualquer efeito suspensivo”.
Os encontros, com “caráter técnico”, entre a DGS e
o PCP, visavam “um trabalho conjunto a fazer com 24 DE AGOSTO 26 DE AGOSTO
grande ponderação”, fruto de avaliação do risco e da
atividade epidémica, explica o secretário de Estado A DGS emite um primeiro parecer “com muitas
da Saúde, António Sales. orientações” para este que é um “evento complexo”,
refere a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas. “Num

12 DE AGOSTO único evento há vários setores diferentes. Ao setor


dos restaurantes aplicam-se as regras da restauração.
A ministra da Saúde, Marta Temido, assegura que No setor dos espetáculos aplicam-se as regras de ou-
à organização da Festa do Avante “não será per- tros espetáculos. É por isso que este evento é com-
mitido o que está proibido nem proibido o que plexo”, afirma. O PCP, que recusou divulgar o docu-
está permitido” e que “não haverá exceções” às mento emitido pela DGS, rejeita “veementemente
regras adotadas pelas autoridades de saúde para quaisquer atitudes e decisões discricionárias e arbi-
conter o contágio do novo coronavírus. Rui Rio mostra-se muito crítico quanto à realização trárias” depois de ouvir Graça Freitas.●m

Notícias Magazine 30.08.2020 25


VOAR
DE PÉS BEM
ASSENTES
NO CHÃO
A participação em competições internacionais colocou no mapa
da dança a escola de uma bailarina cubana que vive em Leiria
há 24 anos. A qualidade do ensino ministrado e a sucessão
de prémios atraem jovens das mais diversas nacionalidades.
Inscrevem-se em cursos de verão, mas muitos acabam por ficar.
O Conservatório Internacional de Ballet e Dança Annarella
Sanchez abre-lhes a porta do sonho de virem a integrar
algumas das mais famosas companhias do Mundo.

TEXTO Alexandra Barata FOTOGRAFIA Fernando Fontes/Global Imagens


26 30.08.2020 Notícias Magazine
Margarita Fernandes e
António Casalinho.
O jovem, de 17 anos, é o
bailarino português mais
premiado na atualidade

Notícias Magazine 30.08.2020 27


E
VOA R D E P É S B E M A S S E N T E S N O C H ÃO

dna Gonçalves, 40 anos, não hesitou


por um instante sequer em mudar-se
com a família de Jundiaí, em S. Pau-
lo, Brasil, para Leiria, assim que sou-
be que a filha mais velha tinha sido
admitida no Conservatório Interna-
cional de Ballet e Dança Annarella
Sanchez. A pesquisa na internet por
uma escola de referência, onde fosse
aplicado o método cubano, que não
exclui alunos por não serem “perfei-
tos” fisicamente, sugeriu-lhe o con-
servatório frequentado pelo bailari-
no português mais premiado na atua-
lidade, António Casalinho.
Em sete meses, o casal preparou a empresa de con- ➊
sultadoria, onde Edna Gonçalves é jurista e João Pin-
to gestor, para ser acompanhada à distância, arran-
jou uma casa em Leiria e matriculou os filhos na es- Ballet de Londres. Caso não seja possível, gostaria de
cola. Em dezembro de 2018, a vida da família brasi- dançar no American Ballet Theatre, nos EUA, ou no
leira mudou de rumo, devido ao desejo de Larissa, Dutch National Ballet, na Holanda, onde nasceu.
12 anos, ser bailarina profissional. “Sou eternamen- Antes de se mudar para Leiria, há dois anos, frequen-
te grata à Annarella por ter dado esta oportunidade tou aulas de dança na Holanda, em Inglaterra e em
à minha filha”, afirma Edna, emocionada. Espanha. “Na escola de Barcelona, ia a competições
Um ano e oito meses depois, está certa de que a de- e adorava ver dançar a Margarita, o António, o Fran-
cisão foi a mais correta. “A Larissa vinha com mui- cisco, a Margarida e a Laura [alunos da Annarella]. E
tas falhas técnicas. Ao nível da posição do pé e do nas entregas de prémios diziam sempre o nome do
joelho”, exemplifica a mãe. “A evolução deles é im- António Casalinho. Eu era apaixonada por esta es-
pressionante”, garante. A brasileira refere-se a cola”, revela Maia, num português quase perfeito.
“eles”, porque o filho Alessandro, de oito anos, e a A aluna holandesa não perdeu, por isso, a oportu-
filha Lourena, de cinco, também começaram a fre- nidade de fazer o curso de verão do conservatório
quentar a escola de Annarella Sanchez. de Annarella Sanchez, em 2018, e ficou de tal for-
O talento de Alessandro para a dança tinha passa- ma encantada, que, em outubro desse ano, foi viver
do despercebido aos pais, que o inscreveram numa para Leiria. Mas, afinal, o que é que distingue esta
escola de futebol, quando chegaram a Portugal. A escola? “A técnica”, responde, sem hesitar. Face à
participação num curso de Teatro Musical, na An- dificuldade em encontrar a palavra certa para se re-
narella, mudou tudo. “Depois da segunda aula, dis- ferir aos professores, diz que são “rígidos”, para logo
se que não queria voltar para o futebol. Ficou exta- depois acrescentar “mas não demasiado”. “Na es-
siado”, conta Edna. “Nunca imaginei”, confessa. cola de Barcelona eram mais relaxados e os alunos
Em 15 dias, o filho conseguiu aprender uma dança não trabalhavam tanto. O ballet é muito melhor
do Cáucaso, o que a mãe achava impossível. “Cho- aqui”, assegura.
rei tanto quando o vi dançar”, recorda. Alberto Gil Vicente, 14 anos, também trocou Ma-
Fundada em 1998, a escola da cubana Annarela drid, em Espanha, por Leiria, aos 13 anos e, tal como
Sanchez não pára de crescer. Nos últimos cinco anos, Maia, gostava de ser bailarino profissional no Royal ➋
passaram pelos cursos de verão 460 alunos estran- Ballet de Londres. Ou melhor, primeiro bailarino. Só
geiros e há três anos foi transformada num conser- que, no caso do jovem espanhol, foi Annarella quem
vatório, onde os bailarinos são preparados para voos o convidou a integrar o conservatório de Leiria, de- narella Sanchez foi a que mais se destacou. “A ma-
mais altos. Como é o caso de Matilde Rodrigues, 18 pois de o ter visto atuar num concurso de dança em neira de ensinar deixou-me de boca aberta, porque,
anos, que vai integrar o corpo de baile do Bir- Barcelona. “Tem sido incrível. Lá tratavam-me como além de prepararmos o corpo, também trabalhamos
mingham Royal Ballet, em Inglaterra. “É real, mas se fosse uma menina. Aqui, comecei a saltar e a fazer para sermos boas pessoas, termos bom coração e ser-
acho que ainda não acredito. Só quando entrar na double tour [duas piruetas seguidas no ar]”, sublinha, mos humildes, o que nos converte em artistas com-
companhia”, diz, radiante. O convite surgiu depois com os olhos a brilhar e de sorriso rasgado. pletos”, frisa. A viver há um ano em Leiria, diz que
de ter atuado na semifinal do Youth America Grand “Aqui, os professores estão sempre a falar connos- no México o nível técnico não era tão elevado e con-
Prix, em Barcelona, em dezembro, competição em co e a animar-nos”, refere Alberto. Um acompanha- sidera “única” a maneira dos bailarinos da escola de
que, desde 2015, na final, em Nova Iorque, o baila- mento que considera determinante para a evolu- Annarella se expressarem a dançar. A jovem ambi-
rino António Casalinho ganha o grand prix ou a me- ção, em termos técnicos e de conhecimentos, e para ciona ser a bailarina principal da Ópera de Paris.
dalha de ouro. Aluna da escola de Leiria desde os oito o qual contribui o convívio com pessoas de outras Apesar de ser o bailarino português mais premia-
anos, Matilde Rodrigues diz que, além da discipli- nacionalidades. O bailarino espanhol não esconde do do Mundo na atualidade, António Casalinho, 17
na e do cuidado em transmitirem uma imagem pro- que, no início, sentia saudades da família, mas, as- anos, é discreto e humilde, características incutidas
fissional, a possibilidade de frequentarem aulas de sim que começava as aulas de ballet, concentrava- pelos professores do conservatório de Leiria, que fre-
ballet clássico, de contemporâneo e de caráter (dan- -se de tal forma que se esquecia de tudo. “Venho quenta desde os oito anos. “Quando era pequeno,
ças de outros países) faz com que se destaquem nas muito feliz para aqui e com muita garra.” ganhei um prémio importante e vim para aqui a pen-
competições internacionais. “A Annarella prepara- sar que era o melhor. Fui chamado a uma sala por um
-nos para o ballet e para a vida”, realça. LIÇÕES DE HUMILDADE professor, que me explicou a importância da humil-
Matilde está de partida para Inglaterra, mas Maia Natural do México, Catalina Sepúlveda, 16 anos, an- dade. Disse-me que subir era fácil, manter era difí-
Roberts, 15 anos, só pretende regressar dentro de dou à procura de escolas de ballet na Europa e diz que cil e descer era ainda mais fácil.” Desde então, nun-
três anos, para ser bailarina profissional do Royal o Conservatório Internacional de Ballet e Dança An- ca mais se esqueceu da lição.

28 30.08.2020 Notícias Magazine


António desconhece quantos prémios ganhou des-
de que começou a participar em competições. E
quando lhe é pedido para destacar os mais importan-
tes, recorre aos dedos para os contar. Oito. E desses
resume a dois os mais relevantes, pela qualidade dos
bailarinos. O primeiro foi a medalha de ouro na ca-
tegoria de juniores, o prémio especial para jovens ta-
lentos Emil Dimitrov, no Concurso Internacional
de Ballet de 2018, em Varna, na Bulgária. O outro foi
o grand prix no Beijing International Ballet and Cho-
reography Competition, em 2019, na China. A nível
nacional, António Casalinho refere a importância
de ter vencido o Got Talent, em 2017, por considerar
que foi uma distinção para o ballet em Portugal. “Re-
cebi mensagens de mães a dizerem que os filhos tam-
bém iam participar [noutras edições], porque que-
➌ riam ser como eu”, salienta. “Mais importante foi
ver que inspirei outros meninos mais novos a não
terem medo de serem bailarinos”, afirma, orgulho-
➊ Edna Gonçalves so. “Não me distingo por ser o melhor, mas por as
e os filhos Larissa, pessoas gostarem de me ver dançar.”
Lourena e Alessandro O desempenho de António em palco não passa des-
➋ Os cubanos percebido, pelo que já foi abordado por algumas com-
Alexander Sanchez, panhias. “O sonho de qualquer bailarino é ir para o
Annarella Sanchez Royal Ballet de Londres, porque é a companhia mais
e Raquel Aguero, famosa e tem grandes bailarinos.” Em alternativa,
três rostos do sucesso gostava de ser bailarino profissional no Ballet Ma-
do conservatório riinsky, na Rússia, no American Ballet Theatre ou
leiriense ➌ Nove no Pennsylvania Ballet, ambas nos EUA. “Quero che-
bailarinas em mais um gar ao patamar dos bailarinos que admiro, como o cu-
dia de muito trabalho bano Carlos Acosta ou o argentino Júlio Bocca, que
➍ Margarida já nos deu algumas aulas.”
Gonçalves e Francisco
Gomes numa atuação PRÍNCIPE AUSTRÍACO
perfeita ➎ Valentim Cerca de 50% dos alunos do Conservatório Interna-
Martins, Alessandro cional de Ballet e Dança Annarella Sanchez são pro-
e Alberto Gil Vicente venientes do Brasil, de Espanha, de França, da Ho-
realizam trabalho físico landa, de Itália, do México, da Roménia e do Uruguai.
No próximo ano, vai ter também bailarinos dos EUA,
do Japão e da Ucrânia. A maioria frequenta a escola
de verão e acaba por ficar. Annarella Sanchez, 48
anos, revela que teve um aluno príncipe, que viveu
com a família de um dos bailarinos de Leiria, entre
os 12 e os 14 anos. Contudo, os pais ficaram desagra-
➍ dados por não ter mantido os padrões de educação,
pelo que regressou à Áustria. Os dois anos que pas-
sou em Leiria foram um período de descoberta.
“Nunca tinha ido a um supermercado, não usava re-
des sociais, não conhecia mulatas”, especifica An-
narella. “Para nós, a interculturalidade é importan-
te, assim como é importante que as pessoas sejam
como são.” A residir em Leiria há 24 anos, a cubana
considera ainda fundamental que os bailarinos não
deixem de estudar. “Um dia, podem ter uma lesão
ou concluir que não querem seguir dança.”
Os jovens são incentivados a acompanhar as aulas
à distância a partir dos países de origem ou a frequen-
tar o regime de ensino articulado na EB 2/3 Correia
Mateus ou na Escola Secundária Afonso Lopes Viei-
ra, em Leiria, onde existe uma Unidade de Apoio ao
Alto Rendimento na Escola, que permite conciliar
os estudos com competições no estrangeiro. Ales-
sandro e Larissa frequentam essas escolas. Regres-
sar ao Brasil não está nos planos da família. “O nos-
so foco é a formação deles como bailarinos”, vinca
Edna Gonçalves, que se sente realizada ao ver a feli-
➎ cidade dos filhos. “Espero que consigam alcançar o
sonho de dançar numa grande companhia.” ● m

Notícias Magazine 30.08.2020 29


avenida POR Miguel Pataco

COMUNIDADE VALENCIANA,
8 DE NOVEMBRO DE 2015
O FINAL DA TEMPORADA DE 2015 FOI
INCRÍVEL PARA OLIVEIRA. OS SEGUNDOS
LUGARES EM SÃO MARINO E NO JAPÃO E AS
VITÓRIAS EM ARAGÃO, AUSTRÁLIA E
MALÁSIA FIZERAM COM QUE O TÍTULO
MUNDIAL DEIXASSE DE SER UMA MIRAGEM
E PASSASSE A SER UMA POSSIBILIDADE
REAL. NA ÚLTIMA CORRIDA DO ANO, EM
VALÊNCIA, FEZ O QUE LHE COMPETIA –
VENCER A PROVA –, MAS O NONO LUGAR DE
DANNY KENT BASTOU PARA O BRITÂNICO SE
SAGRAR CAMPEÃO, COM APENAS SEIS ASSEN, 27 DE JUNHO DE 2015
PONTOS DE VANTAGEM SOBRE MIGUEL MENOS DE UM MÊS DEPOIS,
OLIVEIRA. SEGUNDA VITÓRIA DO FALCÃO EM
BARCELONA, 3 DE JUNHO DE 2012 MOTO3, DESTA VEZ NA HOLANDA. O
JÁ AOS COMANDOS DE UMA SUTER HONDA E NO NOVO PORTUGUÊS SUBIA NA
CAMPEONATO DE MOTO3, ESTREIA-SE NUMA SUBIDA AO CLASSIFICAÇÃO DO MUNDIAL, MAS
PÓDIO. DEPOIS DE TRÊS DESISTÊNCIAS CONSECUTIVAS, O COLEGA DE EQUIPA NA KTM AJO,
TERMINA O GRANDE PRÉMIO DA CATALUNHA NO TERCEIRO DANNY KENT, TINHA QUATRO
POSTO E ABRE O CHAMPANHE PELA PRIMEIRA VEZ. VITÓRIAS E TRÊS OUTROS PÓDIOS
EM OITO CORRIDAS DISPUTADAS. O
TÍTULO PARECIA IMPOSSÍVEL PARA
O PORTUGUÊS…

PORTUGAL, 1 DE MAIO DE 2011


CORRE PELA PRIMEIRA VEZ EM PORTUGAL INTEGRADO NO
MUNDIAL DE MOTOCICLISMO. NO CIRCUITO DO ESTORIL, FOI
O TERCEIRO MAIS RÁPIDO NA QUALIFICAÇÃO E CONSEGUIU O
SÉTIMO LUGAR NA CORRIDA. ESTE ANO, OLIVEIRA E O
MOTOGP REGRESSAM AO NOSSO PAÍS, COM O AUTÓDROMO
INTERNACIONAL DO ALGARVE, EM PORTIMÃO, A RECEBER A
ÚLTIMA CORRIDA DA ÉPOCA, A 22 DE NOVEMBRO.

AUSTRÁLIA, 22 DE OUTUBRO DE 2017


ASSINA PELA KTM AJO NO ANO DE ESTREIA DA
EQUIPA EM MOTO2, E A EVOLUÇÃO DOS
RESULTADOS NÃO ENGANA. DOIS SEGUNDOS
LUGARES E QUATRO TERCEIROS LANÇARAM Ç
( ) UM FINAL DE ÉPOCA ESPETACULAR
(MAIS) ESPETA
ACULAR DO
PILOTO PORTUGUÊS, QUE ENCERRO
ENCERROUOU O ANO
COM TRÊS TRIUNFOS CONSECUTIVO
CONSECUTIVOS OS –
AUSTRÁLIA, MALÁSIA E COMUNIDAD
COMUNIDADE DE
PERMITIRA
VALENCIANA – QUE LHE PERMITIRAM AM FICAR A
APENAS DOIS PONTOS DO SEGUNDO.
SEGUNDO O. EM 2018
SOBE MAIS UM PATAMAR, SENDO SEGUNDO
CLASSIFICADO NO CAMPEONATO E SOMANDO
MAIS TRÊS VITÓRIAS PARA O CURRÍ ÍCULO.
CURRÍCULO.

CATAR, 20 DE MARÇO DE 2011


FAZ A ESTREIA NO MUNDIAL DE VELOCIDADE, AINDA
NAS VELHINHAS 125 CC, E MOSTRA DE IMEDIATO
TODA A QUALIDADE, FECHANDO A CORRIDA NO ARAGÃO, 23 DE SETEMBRO DE 2016
DÉCIMO LUGAR E SOMANDO OS PRIMEIROS PONTOS O TÍTULO DE VICE-CAMPEÃO ÃO MUNDIAL DE
DE UMA CARREIRA CONSTRUÍDA COM PASSOS MOTO3 ABRE-LHE AS PORTAS TAS DA CATEGORIA
SEGUROS E SEM SALTAR QUALQUER ETAPA. SUPERIOR, MAS A PRIMEIRA RA ÉPOCA, COM A
LEOPARD RACING, NÃO FOI OI BRILHANTE. O
OITAVO LUGAR NA CATALUNHA UNHA FOI O MELHOR
RESULTADO. O PIOR MOMENTO ENTO ACONTECEU
EM ARAGÃO, QUANDO CAIU U NOS TREINOS
AVÍCULA. FALHOU
LIVRES E FRATUROU A CLAVÍCULA.
QUATRO CORRIDAS E FECHOU HOU O ANO COM UM
13.º POSTO EM VALÊNCIA

30 30.08.2020 Notícias Magazine


AS DEZ CURVAS
PARA A GLÓRIA
FOI NA ÁUSTRIA QUE MIGUEL OLIVEIRA OFERECEU A
PORTUGAL A PRIMEIRA VITÓRIA DE SEMPRE NO
C A M P E O N AT O D O M U N D O D E M O T O G P, G R A Ç A S A U M A
D U P L A U LT R A PA S S A G E M À E N T R A D A D A R E TA D A M E TA , J Á
N A Ú LT I M A V O LTA , Q U E VA I F I C A R PA R A A H I S T Ó R I A D A
D I S C I P L I N A . I N S P I R A D O S P E L A S D E Z C U R VA S Q U E
COMPÕEM O TRAÇADO DE RED BULL RING, EIS OS DEZ
P R I N C I PA I S M O M E N T O S D A C A R R E I R A D E U M FA L C Ã O D A S
DUAS RODAS QUE, GRAÇAS À FORMA CEREBRAL COMO
C O R R E , J Á É C O N H E C I D O C O M O O E I N S T E I N D O PA D D O C K .

MUGELLO, 31 DE MAIO DE 2015


DEPOIS DE DOIS ANOS NA MAHINDRA, OFERECENDO O
PRIMEIRO PÓDIO DE SEMPRE À MARCA INDIANA, ASSINA
PELA KTM AJO E ATINGE OUTRO NÍVEL. DEPOIS DE UM
SEGUNDO LUGAR NO GP DE ESPANHA, CONQUISTA A
PRIMEIRA VITÓRIA DA CARREIRA EM MOTO3, APÓS UMA
CORRIDA ÉPICA E NA QUAL PARTIU DA 11.ª POSIÇÃO.

ÁUSTRIA, 11 DE AGOSTO DE 2019


DEPOIS DE TER SIDO ELEITO O DESPORTISTA
PORTUGUÊS DE 2018, MIGUEL OLIVEIRA CHEGA À CLASSE
RAINHA
NHA DO MOTOCICLISMO. COM A TECH 3, EQUIPA
RAIN
SATÉLITE
TÉLITE DA KTM QUE TAMBÉM SE ESTREAVA EM
SAT
MOTOGP,
MOTTOGP, FOI-SE ADAPTANDO À NOVA, E BEM MAIS
EXIGENTE,
EXIG
GENTE, REALIDADE. SOMOU PONTOS EM SEIS DAS
PRIMEIRAS
MEIRAS DEZ CORRIDAS, ANTES DE SE ESTREAR NO
PRIM
P 10, EM RED BULL RING, NA ÁUSTRIA. ERA UM BOM
TOP
PRENÚNCIO
PRE
ENÚNCIO PARA O FUTURO.

ÁUSTRIA, 23 DE AGOSTO DE 2020


A PANDEMIA ATRASOU O INÍCIO DO CAMPEONATO E
CANCELOU 11 CORRIDAS, MAS NÃO IMPEDIU MIGUEL
OLIVEIRA DE ESCREVER A PÁGINA MAIS DOURADA
DO MOTOCICLISMO DE VELOCIDADE PORTUGUÊS.
DEPOIS DE UM OITAVO LUGAR EM ESPANHA E DE
UM SEXTO NA REPÚBLICA CHECA, A PRIMEIRA
PASSAGEM PELO RED BULL RING ACABOU NO
CHÃO E EM POLÉMICA, MAS O REGRESSO, OITO
DIAS DEPOIS, FOI BEM DIFERENTE. QUANDO
PORTUGAL JÁ SE PREPARAVA PARA FESTEJAR
O PRIMEIRO PÓDIO DE SEMPRE EM MOTOGP,
MIGUEL OLIVEIRA DECIDIU QUE O TERCEIRO
LUGAR NÃO BASTAVA: O FALCÃO VOOU BEM
ALTO NA ÚLTIMA CURVA, ULTRAPASSOU DOIS
ADVERSÁRIOS E SOLTOU O GRITO DA VITÓRIA.
AS LENDAS COMEÇAM ASSIM.

Notícias Magazine 30.08.2020 31


EU GOVERNO

Vê o vídeo em
tag.jn.pt

Ana Abrunhosa é ministra


da Coesão Territorial
e comenta as sugestões
de três pequenos governantes.

“Fazia com que “Criava mais “Daria


as pessoas empregos no terrenos
doentes não Interior do agrícolas e
tivessem que se país para não adubo natural
“Vais descobrir afastar de casa ficar deserto” a todos os
que no Interior para receber MAFALDA, 8 ANOS agricultores”
temos tratamentos” ÍRIS, 9 ANOS
agricultura, AFONSO, 12 ANOS Mafalda, a ministra não podia es-
tar mais de acordo contigo. Uma Íris, qualquer ministro gostaria
temos das medidas que acabámos de lan- de dar terrenos, de dar adubos
florestas, Não podia estar mais de acordo
contigo. De facto, quando olha-
çar, e que se chama +CO3SO Em-
prego, tem como objetivo apoiar
naturais. Deixo uma nota muito
positiva, porque já estás a pensar
temos praias mos para o Interior do país, vemos
uma região envelhecida. Feliz-
as empresas e entidades da econo-
mia social como as IPSS, os lares,
numa agricultura biológica com
a tua idade. Queria dizer-te que os
fluviais mente, vivemos mais anos, mas contratando pessoas com salários agricultores têm o papel de guar-
maravilhosas, também precisamos de mais cui-
dados de saúde. Um dos objetivos
dignos. Um problema que temos
no nosso país é que as empresas
diões dos nossos territórios, sobre-
tudo dos territórios do Interior,
temos deste Governo é que os cuidados
de saúde de proximidade, que são
têm que começar a pagar salários
que permitam às famílias uma
mas também te deixo aqui o con-
vite para ires com a tua família
empresas de feitos através dos centros de saú- boa casa, educar os filhos. Esse passear nas férias para o Interior,
tecnologia com de, estejam cada vez mais dotados
com equipamentos e que tenham
é o nosso objetivo, mas nós não
apoiamos só as empresas, as asso-
e vais descobrir que por lá temos
agricultura, temos florestas, te-
centenas de médicos. Médicos jovens, com
uma formação recente. Não te-
ciações e as IPSS na contratação.
Também apoiamos as empresas
mos praias fluviais maravilhosas.
Temos empresas de tecnologia
engenheiros” mos necessidade de construir a fazer projetos de investimento, onde trabalham centenas de enge-
mais centros de saúde, basta fazer porque se não investirem, se não nheiros, temos cidades onde
com que os profissionais cheguem construírem fábricas, não há em- te podes divertir nos parques.
às pessoas, cheguem a casa das prego. Também ajudamos as em-
pessoas. Temos cada vez mais pro- presas a trabalharem com as uni-
jetos em que na mesma viatura versidades, pois é a maneira que
vão um enfermeiro e um médico temos de fazer chegar o conheci-
que se dirigem a casa das pessoas mento de quem investiga, de
para prestar cuidados de saúde. E quem trabalha com o conheci-
temos até projetos em que as pes- mento, a quem gera trabalho.
soas estão menos tempo interna- É assim que tem que ser feito
das nos hospitais: saem mais cedo o desenvolvimento no Interior.
e depois são acompanhadas em
casa. Além disso, como as tecnolo-
gias hoje permitem fazer uma
consulta à distância, também é
possível, sem estar a multiplicar
edifícios pelo território, porque
exigem dinheiro, levar o serviço
às pessoas.

32 30.08.2020 Notícias Magazine


À V O LTA D O M U N D O VÊ MAIS EM

QUANDO EU ERA PEQUENIN@ TAG.JN.PT


VÍTOR SILVA
COSTA
O ATOR QUE ÁFRICA
FINALMENTE É GRAVE

JÁ QUIS SER
LIVRE DE PÓLIO NÃO TERMOS
MUITOS
As autoridades de saúde
TURISTAS?

FUTEBOLISTA
declararam África livre
do vírus da poliomielite. O turismo é um dos
Paralisias musculares, setores de atividade
sobretudo nos membros mais importantes
inferiores, são os sinto- de Portugal. Muito
A representação corre nas veias de Ví- lhos em televisão e em todos os canais. mas nos casos mais gra- afetado pela pande-
tor Silva Costa, se bem que só tenha O último foi “Conta-me como foi”, na ves. Após décadas de mia de covid-19,
percebido isso quando o destino o RTP. Mas não deixou de apostar no pal- esforços, dá-se um pas- recebemos em meio
conduziu para o teatro. Antes de de- co onde, no dia 10 de setembro, se es- so importante para ex- ano pouco mais es-
cidir ser ator, jogou futebol (dos sete treia em mais um espetáculo, “Fora de tinção da doença. A luta trangeiros do que
aos 16 anos) e o desporto deu-lhe “dis- Campo”, que estará em cena até dia 13 no Afeganistão e no Pa- em agosto de 2019.
ciplina, organização, foco e concen- no Teatro Taborda, em Lisboa, abor- quistão continua. Muitas empresas
tração”. A bola ficou para trás quando dando “as questões da emancipação”. não serão capazes
surgiu a escola de teatro, mesmo que “Era uma criança muito tranquila, de manter as portas
não saiba o que o motivou: “Eu esta- calma, muito observadora e bastante abertas e milhares
va naquela fase da escola em que te- obcecada com a descoberta de cada per- de pessoas estão
mos de escolher um curso e, na altu- sonalidade que me rodeava. Creio que em risco de perder
ra, não me agradavam muito as saídas transportei isso da infância para os dias o emprego. Sabe
académicas. Não queria optar só para de hoje. E gosto disso”, recorda o artis- mais em tag.jn.pt.
cumprir calendário, mas ainda não te- ta. Desses tempos, guarda várias foto-
nho uma resposta concreta para ter grafias, entre elas aquela que publica-
escolhido teatro”. mos e que ilustra um Carnaval ainda
Vítor vivia ainda no Porto, onde cres- antes de entrar na escola primária. “Era
ceu, apesar de ter nascido em Espinho, muito pequeno e adorava os desenhos
até que o casting para entrar nos “Mo- animados dos ‘Power Rangers’, o ver-
rangos com açúcar”, em 2012, o lan- melho era o meu favorito. Sempre gos- IMPRESSÃO 3D
çou. Atualmente, soma vários traba- tei da cor vermelha.” ● mm SARA OLIVEIRA
PARA SALVAR
CORAIS
ZÉ CARLOS,
PEDRO ROCHA/GLOBAL IMAGENS

Em 2018, um super tufão


destruiu a baía de Hoi Ha A RAIA COM
Haw, na península FOCINHO
de Sai Kung, em Hong DE PORCO
Kong. De maneira
a restaurar os recifes, O mais recente
uma equipa de cientistas membro do Sea Life
marinhos e arquitetos Porto faz em setem-
da Universidade de Hong bro um ano. Escolhi-
Kong recorreu a um mé- do em votação onli-
todo de impressão 3D ne, o seu nome é Zé
de blocos com o formato Carlos. Encontra-se
de hexágonos, que fo- na baía das raias
ram colocados no fundo e a sua raça é foci-
do mar, ajudando ao nho-de-vaca. Cama-
crescimento dos corais, rão e mexilhão são
já que lhes permitem ter as suas comidas fa-
melhor acesso ao sol voritas. Conhece-o
e a alimentos. melhor em tag.jn.pt.

Notícias Magazine 30.08.2020 33


esti-
los COMPORTAMENTO
POR Sofia Teixeira

Gaslighting:
relações tóxicas que
levam à loucura

Há quem consiga colocar os outros a


duvidarem da própria sanidade mental.
Depois de destruídas a autoconfiança
e a autoestima de uma pessoa, as vítimas
começam a perder a capacidade de dizerem
o que pensam, de tomar decisões
e de acreditar em si próprias.
34 30.08.2020 Notícias Magazine

I
sso nunca aconteceu e eu nunca disse isso.” sobretudo no início da relação. “Até sentirem que
“Não sabes fazer nada bem feito.” “Toda a têm o seu terreno conquistado, são geralmente pes-
gente acha que és maluca e que precisas de soas extremamente simpáticas, prestáveis e cola-
ajuda.” “Estás a levar isso muito a peito, eu borativas”, alerta a psicóloga Diana Gaspar. “É aque-
estava só a brincar.” “Se não fosse eu, estavas la pessoa que consegue resolver tudo, que apoia em
sempre a meter-te em problemas.” “ Não vais tudo, quase a pessoa perfeita. Ora, a perfeição só
conseguir resolver isso.” “Pára de fazer um existe quando é encenada.” Só com o tempo e evo-
drama por tudo e por nada.” Estas são algu- lução da relação este comportamento tende a ate-
mas das frases que ouve quem está a ser víti- nuar-se, revelando-se outro tipo de atitudes e pa-
ma de gaslighting. Esta técnica de manipulação é drões, nomeadamente a violência verbal, o humor
usada para “invalidar a perceção do outro, tenden- sarcástico ou a chantagem. “O agressor
do a distorcer ou a omitir seletivamente partes da
realidade da vítima, ao ponto de esta começar a Viver segundo os limites dos outros cria na víti-
duvidar do seu próprio julgamento e questionar a No caso do gaslighting, a manipulação é sempre de- ma uma de-
sua própria razão”, explica Sara Ferreira, especia- clarada e intencional – sendo este padrão de com-
lista em psicologia clínica. “Como disse Joseph portamento associado sobretudo a pessoas que ten-
pendência
Goebbels, ministro da Propaganda de Hitler, ‘Uma dem a desprezar as necessidades dos outros –, mas emocional
mentira repetida mil vezes torna-se verdade’, há outros tipos de manipulação que nem sempre são
sendo que, para quem usa o gaslighting como for- deliberados. “Todos nós temos a potencialidade de
ou psicoló-
ma de manipulação psicológica e emocional, esta sermos tóxicos e, muitas vezes, podemos tentar ma- gica exces-
frase pode ser considerada um verdadeiro man- nipular os outros sem nos apercebermos que o esta-
tra.” A psicóloga considera que este é um proble- mos a fazer. Em certos momentos, e como seres im-
siva”
ma cada vez mais comum em relacionamentos perfeitos que todos somos, podemos desenvolver SARA FERREIRA
pessoais, afetivos e profissionais. ciúmes, inveja e desenvolver um comportamento Psicóloga clínica
O termo gaslighting tem origem na peça teatral manipulador e tóxico”, esclarece Diana Gaspar.
“Gas Light”, de 1938, posteriormente adaptada ao Mas a especialista em psicologia positiva, e auto-
cinema e celebrizada no filme com o mesmo nome, ra do livro “Atrai pessoas fantásticas para a tua vida
de George Cukor, com Charles Boyer e Ingrid Berg- – 11 passos para te libertares de relações tóxicas, ma-
man. A história retrata precisamente um marido nipuladoras e das expectativas dos outros”, tam-
que, na tentativa de institucionalizar a mulher para bém defende que são precisos dois para dançar esta
lhe ficar com a fortuna, manipula todo o ambiente valsa: “Só há manipuladores enquanto houver pes-
doméstico para a levar a pensar que está louca. As- soas que se deixam manipular”. Diana Gaspar ga-
sim, o termo começou a ser usado na literatura clí- rante que, com esta frase, não pretende atribuir cul-
nica para descrever esta forma de manipulação. pa à vítima, mas antes alertar para o padrão de com-
Como no filme, o agressor costuma ser alguém portamento que ela apresenta e que é necessário
próximo da vítima. Regra geral é mesmo uma das para que o agressor seja bem-sucedido. “As pessoas
pessoas em quem ela mais confia: o marido, a mãe, que se deixam envolver neste tipo de relação, ou es-
o melhor amigo ou um chefe muito próximo. “Na tão num momento mais frágil da sua vida, ou têm
maioria das vezes, o(a) agressor(a) consegue criar um grande desejo de aceitação, ou estão a precisar
na vítima uma dependência emocional ou psicoló- de se sentir mais integradas, e têm dificuldade em
gica excessiva. Neste sentido, a insegurança e a an- perceber quais são os limites relacionais. São pes-
siedade provocadas com as investidas de gaslighting soas com dificuldade em traçar os seus limites e, por
fazem com que a pessoa aceite sem questionar os isso, vivem em função dos limites dos outros, se-
‘pontos de vista’ do agressor”, refere Sara Ferreira. cundarizando as suas necessidades.”
Isto é possível também porque o agressor – tal Apesar desta tática de controlo psicológico e emo-
como noutros tipos de violência ou abuso – tenta cional ser transversal em termos de idade, condição
que a vítima esteja o mais isolada possível dos ou- socioeconómica, cultural e de género, ela é usada “Só há mani-
tros. “O agressor sabe que é menos provável que al- com mais frequência contra as mulheres. “‘Funcio- puladores
guém esteja sob o seu domínio se tiver outras pes- na mais’, em parte, porque o próprio gaslighting ali-
soas para lhe fornecer um ‘teste de realidade’ ou menta-se também dos estereótipos de género, se- enquanto
validar as suas experiências. Portanto, não é sur- xistas, que muito mais facilmente tendem a rotu- houver pes-
preendente que digam sempre coisas como ‘os teus lar as mulheres como loucas, ciumentas, emocio-
amigos são todos uns imbecis’, ‘eu sou a única pes- nais, descontroladas, confusas, fracas ou incapa- soas que se
soa em quem podes confiar’, ‘as outras pessoas só zes”, sublinha Sara Ferreira. deixam ma-
se querem aproveitar de ti’.” Quem procura ajuda sabe que se sente mal, apesar
Quem imagina os manipuladores como pessoas de muitas vezes não identificar claramente a causa nipular”
execráveis logo à primeira vista não podia estar mais do mal-estar. A psicóloga clínica e coach Filipa Jar- DIANA GASPAR
enganado. Tipicamente, eles são sedutores natos, dim da Silva revela que a pessoa manipulada, geral- Psicóloga

Notícias Magazine 30.08.2020 35


esti-
los COMPORTAMENTO

mente, chega a uma sessão de psicoterapia com de e responsabilidade na organização.


queixas de ansiedade e/ou depressão, podendo tam- “Várias interações eram desrespeitadoras, crian-
bém existir ataques de pânico, alterações de sono e do a perceção de que nada do que fazia era suficien-
apetite. Exibe também um conjunto de sinais e com- temente bom, gerando uma tensão permanente
portamentos muito sugestivos, fruto do estrago que com telefonemas que tinham de ser atendidos no
já foi feito: “Há dificuldade em queixar-se da rela- imediato e emails escritos em letras maiúsculas sa-
ção e do outro, assumindo a responsabilidade abso- lientando erros.” João estava focado em receber os
luta por não se estar a sentir bem; um autoquestio- difíceis mas tão desejados elogios do chefe, apesar
namento permanente em relação ao que sente, ao de três anos de críticas permanentes e coação. “Não
que pensa, ao que faz; crenças negativas que minam tinha consciência do nível de toxicidade desta rela-
a perceção de si; dificuldade em tomar decisões e ex- ção, colocando em si a responsabilidade de tudo o “Quando as
pressões verbais que traduzem insegurança e sub- que corria menos bem e naturalizando a exigência
missão, como o pedir desculpa várias vezes, um tom e estilo de comunicação como sendo algo comum interações
de voz mais baixo e, com frequência, um contacto na sua área de trabalho.” com uma
visual fraco”. Segundo a profissional, há várias “bandeiras ver-
melhas” que nos devem deixar alerta para este tipo pessoa ge-
Bandeiras vermelhas de manipulação: sentirmos que as nossas emoções, ram em nós
Para quem sofre este tipo de abuso, reconhecê-lo necessidades e opiniões são minimizadas; não exis-
como um problema, sair da relação tóxica e voltar a tir espaço para diálogo em caso de conflito; haver si- inseguran-
acreditar em si próprio pode ser um percurso longo. tuações e factos verdadeiros que são negados e des- ça, há algo
João, de 30 anos, procurou ajuda psicológica por se construídos pelo outro; e, em todas as situações, a
sentir ansioso, ter diminuído a produtividade no culpa acabar invariavelmente por ser nossa no dis- menos bom
trabalho e por estar, no geral, insatisfeito com a vida. curso do outro. Mas Filipa Jardim da Silva assegura na dinâmica
Mas quando Filipa Jardim da Silva lhe começou a fa- que a forma melhor e mais simples de avaliamos o
lar sobre o chefe, percebeu que o problema talvez tipo de relação que temos com os outros é sempre a relacional”
viesse daqui. “Havia imensa tensão física, suor, mo- forma como nos sentimos. “Uma relação saudável FILIPAJARDIM
vimento na cadeira”, recorda a psicóloga. Seguindo tem o poder de nos fazer sentir apoiados, seguros e DA SILVA
essa pista, aprofundando o tipo de relação entre o valorizados pela pessoa que somos. Quando, pelo Psicóloga clínica e coach
paciente e o chefe em questão, percebeu que João o contrário, as interações com uma pessoa tendem a
admirava profundamente mas, apesar de noutros gerar em nós desconforto, inquietude, autoques-
tempos ter existido respeito e incentivo, a dinâmi- tionamento e insegurança é sinal de que há algo me-
ca transformou-se quando João ganhou visibilida- nos bom na dinâmica relacional.” ● m

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RECEITAS DA ÉPOCA
POR Ana Bravo
Nutricionista, autora e blogger (Nutrição com Coração)

TODOS OS MESES, AS MINHAS


RECEITAS TÊM UM ALIMENTO EM
DESTAQUE. EM AGOSTO, A CENOURA
É A PROTAGONISTA

Todos ouvimos os
conselhos da sabedoria
popular: comer
cenoura torna os olhos
mais bonitos. E essa
beleza vem de dentro,
já que os olhos ficam
mais saudáveis.
Os carotenos,
responsáveis pela cor
INGREDIENTES Preparação ❶ Coloquei o azeite num laranja da cenoura,
CENOURA tacho e adicionei a cebola em meias- são convertidos em
À BRÁS 1 cenoura
100 g espinafres
-luas e o alho picado. ❷ Deixei cozinhar
a cebola em lume brando até ficar mole.
vitamina A no nosso
organismo. Esta
1/2 cebola roxa Juntei a cenoura cortada em rodelas,
Este Brás não deixará 1 dente de alho temperei com tomilho e deixei cozi- vitamina é, entre
ninguém indiferente. 1 ovo nhar a gosto (se for preciso, adicione outros compostos,
E as opções para fazer 1 colher de sobremesa de azeite água aos poucos). ❸ Quando a cenoura um componente dos
q.b. azeitonas pretas ficou pronta, envolvi os espinafres.
companhia à cenoura q.b. sementes de papoila Logo que murcharam, misturei o ovo pigmentos visuais cuja
são tantas que podíamos q.b. tomilho bela-luz ligeiramente batido.❹ Servi com azei- função é receber a luz
ter uma diferente por dia. 1 pessoa tonas pretas e sementes de papoila. na retina dos olhos.
Notícias Magazine 30.08.2020 37
esti-
los BEM-ESTAR
POR Joana M. Soares
GETTYIMAGES

Gisélia Pereira Machado, de 36 anos, é


enfermeira e hipnoterapeuta e acon-
selha o hipnoparto como o veículo cer-
to para empoderar a família “na hora
TOMAR
de parir”. A especialista é também au-
tora de um livro sobre esta terapia
(“Hipnoparto – Princípios e técnicas
para uma gravidez e parto mais positi-
O CONTROLO
vos”) e responsável pelo blogue A Mi-
nha Enfermeira Parteira, onde escre-
ve todas as dicas para se viver em ple-
DO PARTO
COM A MEDITAÇÃO
no cada gravidez como única através
deste método. A mãe é a âncora para o
que é hoje a vida profissional de Gisé-
lia: “Com as suas histórias de parto, ins-
pirou-me a encontrar outra forma de
ver o nascimento”. Hipnoparto é um método de dar à luz que já
Explorar formas de capacitar quem se é praticado há décadas pelo Mundo fora. A meditação
prepara para dar à luz foi o que permi- é um dos segredos desta terapia. Portugal vai dando
tiu à profissional de saúde chegar ao hip-
noparto, “uma forma de empoderar as passos de bebé na matéria.
mulheres e as famílias, trazer consciên-
cia do corpo e do parto, mais tranquili-
dade e segurança, quase uma forma de

38 30.08.2020 Notícias Magazine


cios físicos. A técnica consiste no em- ta, ele de Southport, Inglaterra. Têm
prego de meditações com guiões espe- um bebé de sete meses e Adriana tem
cíficos em cada fase da gravidez. A ideia um filho mais velho, de sete anos. Uma
é ajudar a mente a criar as condições fa- “A mente comanda vez mais, dois filhos, duas gravidezes
voráveis para experiências positivas. e episódios de dar à luz totalmente di-
Ao mesmo tempo, há um quadro de vi-
o corpo e na gravi- ferentes. O primeiro com epidural.
sualizações e afirmações que a família dez, no trabalho de “Com muita pena”, nem sentiu o bebé
deve seguir para que gravidez, traba- nascer, nem contou com uma presen-
lho de parto e parto sejam bem-sucedi-
parto e no parto a ça ativa do outro progenitor. Com o
dos. Em conclusão: “Digamos que a mulher quer estar hipnoparto, Adriana é sucinta na des-
mente comanda o corpo e na gravidez, crição da experiência: “O parto do meu
trabalho de parto e parto a mulher quer
descontraída, con- segundo filho foi a experiência mais
estar descontraída, confiante e sentir- fiante e sentir-se extraordinária e ‘empoderante’ que
-se segura. Os exercícios têm como pro- tive na vida”.
pósito ajudar a mente”.
segura. Os exercí- O método do hipnoparto inclui am-
Os benefícios do hipnoparto são cios têm como pro- bos os progenitores na gravidez e no
“imensos”, podendo ser resumidos em nascimento. “Foi, do principio ao fim,
maior autonomia, menor necessidade
pósito ajudar a uma aventura a dois. O apoio dele,
de medicamentos e maior satisfação mente” emocional e físico, foi fundamental.
com a experiência. Além disso, “para Ouvimos juntos e fizemos juntos as
quem acompanha a mulher existe um GISÉLIA PEREIRA MACHADO práticas das meditações orientadas, da
enfermeira e hipnoterapeuta
maior conhecimento do processo e de respiração e do relaxamento.” No dia
como pode ajudar, pelo que todos se da chegada da criança, Adriana estava
sentem mais empoderados”, diz a en- tranquila e relaxada. “Com a ajuda do
fermeira e hipnoterapeuta. “O casal Al e das faixas de meditação orientada
cria o plano de parto mais cedo, discu- com que tinha praticado, senti-me ver-
te-o com os profissionais de saúde mais “O parto do meu dadeiramente em transe, embora sem-
cedo e tudo isso permite-lhe escolher
o melhor local para parir.”
segundo filho foi a pre totalmente ciente do que se passa-
va dentro do meu corpo, do aumento
Esta técnica não se aplica apenas ao experiência mais da contração da barriga, da pressão cada
trabalho de parto natural. “Mesmo
quando já sabemos que existe um mo-
extraordinária vez maior do bebé sobre a pélvis, do
meu corpo que fervia”, relembra, con-
tivo que obriga à realização de uma ce- e ‘empoderante’ tinuando: “O Al segurou-me as mãos
sariana, estas técnicas são muito úteis”,
prossegue Gisélia Machado, “pois per-
que tive na vida” e guiou-me no relaxamento, susten-
tou-me durante contrações, massajou-
mitem diminuir a ansiedade, aumen- ADRIANA 43 anos, Lisboa, -me as costas, refrescou-me o rosto e o
tar a perceção do que se vai passar e ex- a propósito da experiência do parto corpo”.
plorar formas de tornar a experiência do segundo filho E como foi para o homem? “Nunca
o mais especial possível para todos”. me senti mais ligado a outra pessoa, e
os momentos após o nascimento, de-
Superar as dificuldades pois de ter cortado o cordão, são os mais
Foi o Google que despertou Andreia marcantes da minha vida”, atira Al.
Gomes, de 40 anos, residente em Faro,
para o hipnoparto. É mãe de dois me- Pouco conhecido em Portugal
ninos, o mais velho tem seis anos, o se- Foi uma amiga inglesa de Adriana que
gundo é recém-nascido e chegou após lhe recomendou o método, mais enrai-
devolver à mulher o seu poder”. uma gravidez com sobressaltos e en- firmou”, conta Andreia Gomes. Depois zado em Inglaterra. Por cá, ainda se dão
Os primeiros registos do uso de hip- sombrada pela atual crise sanitária. foram a tensão arterial elevada, os dia- passos de bebé na implementação da
nose na preparação para o parto datam “Precisava de algo que me ajudasse com betes gestacionais e, entretanto, che- técnica nos hospitais públicos. Gisélia
de 1920 e pertencem ao neuropsicólo- as dificuldades que estava a ter nesta gou a pandemia. “Uma gravidez duran- Machado acredita que se vivem tem-
go russo Platonov. Há três décadas, a segunda gravidez, que desde o início te uma pandemia nunca será igual a ne- pos de mudança, afirmando que mui-
médica americana Michelle Leclaire foi conturbada e que me trouxe muita nhuma outra. Ainda por cima, no últi- tos colegas enfermeiros têm feito for-
O’Neill introduziu o termo “hypno- ansiedade e stresse. A minha gravidez mo trimestre de gravidez, houve uma mação na área a expensas próprias.
birthing” (hipnoparto). Gisélia Macha- era de risco clínico acrescido e estáva- suspeita de um problema cardíaco no “Não existe ainda algo estruturado nes-
do explica que este método nasceu da mos todos perante uma pandemia.” bebé”, salienta Andreia. Contudo, e se sentido, varia muito de instituição
necessidade de várias mulheres “res- Há seis anos, quando deu à luz pela apesar da “necessidade de um parto in- para instituição. Mas sabendo que
gatarem a normalidade do que era pa- primeira vez, Andreia não percebeu o duzido devido ao risco clínico”, o tra- quem é responsável pela preparação
rir”, numa época em que, nos Estados excesso da dose de epidural adminis- balho de parto “foi muito rápido, e o para a parentalidade e nascimento são
Unidos, o parto “implicava serem se- trada, atravessou um trabalho de par- pós-parto foi fantástico”. os enfermeiros especialistas em saúde
dadas e o bebé ser removido por médi- to longo e deparou-se com um pós-par- Andreia descreve o processo de hipno- materna e obstetrícia, a Ordem dos En-
cos usando ventosas ou fórceps”. A mãe to “horrível. Não há outra palavra para parto como “a consciencialização da mu- fermeiros, através do Colégio da espe-
apenas contactava com o bebé várias o descrever”. Na segunda gravidez, mu- lher para a gravidez, bebé e parto”. Au- cialidade, emitiu um livro de bolso so-
horas depois. “A ideia é a mulher con- niu-se do trabalho da Gisélia para ten- menta a segurança e tranquilidade da mu- bre essa temática, onde inclui a possi-
seguir controlar-se e assim não neces- tar acautelar processos penosos, até lher. “São vantagens que ficam e que me bilidade de uso de várias técnicas, in-
sitar de qualquer medicação para poder porque já se deparava com problemas: deixaram predisposta para experimen- cluindo hipnose”, assinala a enfermei-
estar acordada no momento do nasci- “No rastreio do primeiro trimestre, tar outras vertentes da hipnoterapia.” ra e hipnoterapeuta. “Vejo cada vez
mento do bebé”, resume Gisélia. uma médica disse-me que quase de cer- mais mulheres a procurarem estas téc-
teza que o meu bebé teria trissomia 21. Conexão entre mãe, pai e bebé nicas e essa procura traz a vontade das
As técnicas e as vantagens Chorei durante duas semanas. Mas Adriana e Al, de 43 e 42 anos respeti- instituições investirem”, remata Gisé-
O hipnoparto não se traduz por exercí- após a amniocentese isso não se con- vamente, vivem em Lisboa. Ela lisboe- lia Machado. ● m

Notícias Magazine 30.08.2020 39


esti-
los CONSUMO
POR Carla Ferreira

A FAMÍLIA AUMENTA,
AS CAMAS SOBEM
No modelo de castelo, camas sobrepostas podem dar origem ça das crianças. E os moradores do pri-
a um castelo, a uma casa na árvore e a meiro andar dos beliches devem ter
casa na árvore ou com muito mais”, realça Rita Ferreira, ge- o dobro dos cuidados para não existi-
escorrega, os beliches rente da Nitta Kids, loja de mobiliário, rem acidentes. Portanto, uma luz de
podem concretizar decoração e têxteis, em Lisboa. presença nas escadas e uma proteção
os sonhos dos miúdos. Partilhar um quarto é uma fonte de nas grades são excelentes maneiras
aprendizagem. Criam-se hábitos de de os prevenir.
Os graúdos economizam convivência saudável entre irmãos e Entre brinquedos, roupa, livros e ca-
o espaço de casa. um sentido de empatia mais apurado. dernos espalhados por todo o lado, o
Além disso, a diversão é a dobrar. “Per- espaço para arrumação nunca é de
mite brincar às casinhas ou às tendas, mais. Uma das vantagens do beliche
colocando um lençol sobre o beliche”, é permitir a personalização com pra-
Dois filhos ou mais e um quarto para exemplifica Raquel Oliveira, geren- teleiras, secretárias, mesas de cabe-
cada um muitas vezes não é viável. te da marca Piolhitus, fabricante de ceira e gavetões embutidos.
Uma forma de ganhar espaço e ampli- mobiliário. Apesar de volumosa, esta é uma peça
tude de circulação passa pelos beliches. Porém, nem todos os jogos são segu- multifacetada que se adapta a muitos
Cada vez mais compactos e inventi- ros. E saltar em cima da cama é um de- espaços e ainda mais gostos. E se está
vos, têm-se afastado do formato tradi- les. Elas não estão preparadas para se- a precisar de um neste momento, sai-
cional. “Hoje em dia existem diversas rem forçadas dessa forma e podem ba que pode oferecer um castelo às
ideias originais que os enriquecem. As partir, colocando em risco a seguran- suas princesas e/ou príncipes.● m

40 30.08.2020 Notícias Magazine


➊ La Redoute ➋ Nitta Kids


➌ IKEA ➍ Piolhitus ➎ Móveis Store
➏ Conforama

➏ ➎ ➍

Notícias Magazine 30.08.2020 41


esti-
los SABORES
POR Pedro Emanuel Santos

As salsichas alemãs
são a especialidade
do Letzte Bratwurst
vor Amerika, um
clássico algarvio

ANDRÉ VIDIGAL/GLOBAL IMAGENS


SALSICHAS DE mais famosas do Mundo. “São de três
tipos, provenientes diretamente do
estado da Turíngia e da cidade de Nu-
damente com o prémio “Salsicha do
Ano 2005 de Nuremberga”, e que
consta como referência no Museu Ale-

TODO O MUNDO, remberga e preparadas aqui”, conta


Wolfgang. “As portuguesas são mui-
to salgadas, o sabor não é tão inten-
mão da Salsicha.
Se Alemanha e Áustria dominam a
tradição salsicheira na Europa – exis-

UNI-VOS so”, compara.


Salsichas há muitas, de várias prove-
niências e algumas podem ser encon-
tradas em Portugal. Na Wurst, salsi-
tem mais de 1500 variedades só na
Alemanha –, na América do Sul o Bra-
sil é o campeão desta iguaria. Encon-
trar salsichas dessas em Portugal não
Já é possível encontrar em Portugal salsichas charia austríaca que se encontra no é tarefa que obrigue a muita paciên-
das mais diversas proveniências. Originais, Mercado de São Bento, em Lisboa, a cia, já que quase todos os restaurante
trazidas diretamente da origem e com o sabor especialidade tem origem a um passo de gastronomia brasileira as servem.
que as caracteriza. da Alemanha. Com a particularidade E de diferentes géneros e regiões, com
de seguirem os preceitos locais mas destaque para as gaúchas, do Rio Gran-
serem biológicas e produzidas numa de do Sul, feitas à base de porco e que
“Letzte Bratwurst vor Amerika”. As- ponta mais a sul da Europa, onde a ter- herdade do Alentejo. também podem ser compradas em su-
sim mesmo, em alemão, se apresenta ra acaba e o mar começa, vendem-se Para umas e para outras, o método de permercados.
a colorida rulote que desde há mais de salsichas germânicas. As originais, cla- preparação é simples. “Primeiro, as Salsichas de outras paragens, como
20 anos é local de culto no Cabo de São ro está, nada de imitações. salsichas são fervidas e depois grelha- dos países do Leste da Europa, são
Vicente, em Sagres. E o nome – que em A ideia partiu do casal Wolfgang e das durante cerca de dez minutos”, ex- mais raras. No entanto, existem já es-
português pode ser traduzido para Petra Bald, que em 1996 deixou Nu- plica Wolfgang Bald, cuja “Letzte paços que as comercializam. Boa
“Última Salsicha Antes da América” – remberga e se aventurou a vender no Bratwurst vor Amerika” já foi distin- oportunidade para provar sabores di-
não podia ser mais apropriado. Ali, na Algarve aquelas que são das salsichas guida a nível internacional, nomea- ferentes e originais. ●m

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MODA
POR Sara Oliveira

SEDUÇÃO NA
ral dos seios, de forma desprendida WACOAL
mas com a sofisticação das rendas e 35 euros
outros pormenores.

MEDIDA CERTA
Os bralettes são notoriamente ver-
sões sofisticadas dos tops de desporto
mas, recuando no tempo, também se
pode perceber alguma inspiração dos
soutiens dos anos 1920/30, que não
Inspirados nos tops de desporto, os bralettes tinham aros, nem copa ou até mesmo
pautam-se por rendas macias e pormenores que forro. Hoje em dia, apresentam-se em
se querem à vista. Subtilmente, com um toque versões sexy, misturadas com notas
de elegância que não resvala para a vulgaridade. de romantismo e a sensualidade ine-
rente à lingerie feminina.
Andreia nota que se usam “à mostra”
Blusas e túnicas a descaírem nos om- tando que a tendência também se ou, “como estamos no verão, com rou-
bros, camisolas cavadas ou transpa- prende com questões de saúde. Isto pa exterior mais leve”. Há ainda quem
rências convidam ao atrevimento e porque “as pessoas começam a preo- combine com uma camisa de corte
servem de pretexto para se mostrar a cupar-se em não usar soutiens com masculino aberta, ou com um nó na
lingerie. Com peso e medida, pois aros – que, para algumas, são contrain- cintura, ou até com um blazer se- STELLA MCCARTNEY
tudo o que é demasia pode parecer dicados – e os bralettes são uma boa miaberto, provando a inegável versa- 89 euros
vulgar, mas os bralettes surgiram opção. Se bem que também existam tilidade, como se pode ver nos perfis
como aliados perfeitos para quem opções com aros, a maioria não tem e de conhecidas influencers no Insta-
quer afirmar estilo sem beliscar a ele- é bastante confortável e oferece um gram. O resultado dependerá sempre
gância. E “estão em alta”, assume a bom suporte”. Também há versões do gosto pessoal, mas com ordem para
responsável pela comunicação do gru- com almofada e forro, adaptando-se arriscar e, claro, ousar. Nunca esque-
po Hélix (que detém as marcas Rêve- a todos os tipos de peito, embora o ob- cendo que o bem-estar é condição pri-
rie e Simel), Andreia Carvalheiro, no- jetivo seja potenciar o formato natu- mordial na escolha do modelo ideal. ●m

BERSHKA
15,99 euros

RÊVERIE OYSHO
52,90 euros 19,99 euros

Notícias Magazine 30.08.2020 43


esti-
los
6 Tiago Custódio e Patrícia
Simões dão cor à calçada
lisboeta com as criações
do projeto neoFOFO
IDEIAS
POR Carla Ferreira

ARTE CONTRA
A arte pode tornar tudo mais belo mas
também possui um enorme potencial
de intervenção. No percurso desde a Es-
tação de São Bento até à Faculdade de

O VAZIO Belas Artes do Porto, Joana Abreu, na-


tural de Valongo, despertou para uma
realidade: as inúmeras fachadas de edi-
fícios antigos com azulejos em falta.

E O CINZENTO Uma inquietude que, em 2015, se trans-


formou no projeto Preencher Vazios.
Joana trabalha sozinha no seu ateliê
e o processo é simples. Quando vê uma
Ora falta um azulejo numa fachada, ora falta fachada com potencial de intervenção,
um paralelo na calçada. São anomalias tira uma fotografia ao vazio e ao padrão
nas paisagens de Lisboa e Porto que inspiraram de azulejos que ainda existem e mede-
-os com uma fita métrica. De seguida,
dois projetos: Joana Abreu preenche os vazios recria o padrão em programa de edição
dos edifícios, Patrícia Simões e Tiago de imagem, mas com cores diferentes.
Custódio tratam do pavimento. O objetivo é criar um contraste notó-

44 30.08.2020 Notícias Magazine


a Através do Preencher
Vazios, Joana Abreu alerta
para o estado de fachadas
antigas no Porto, em Braga
e na capital

rio entre o novo e o antigo. A seguir, in- prietário da casa ou com a Câmara – e isso mões e Tiago Custódio com a iniciati- çada, a dupla partilhou a ação nas suas
sere uma frase de um autor português envolve diversas burocracias e tempo.” va neoFOFO. redes sociais, recebendo um feedback
e, após a impressão em papel, cola-o no A criadora do Preencher Vazios já fez Tudo começou numa parede cinzen- positivo que levou a avançar para a cria-
azulejo de madeira e enverniza. Além alguns workshops no seu ateliê, mas ta. Pintada por ocasião das eleições au- ção de uma página.
da Invicta, encontram-se exemplos do conta realizá-los com mais regularida- tárquicas de 2013, assim eliminando É possível ver o resultado deste tra-
seu trabalho em Braga e Lisboa. de. “Consistem em dar a conhecer toda mensagens escritas que acompanha- balho na zona de Lisboa. Ainda não
“A iniciativa pretende chamar a aten- a história do projeto e, em conjunto, ram, durante muito tempo, os percur- avançou para mais locais devido aos tra-
ção para os pequenos detalhes que nos desenvolver os azulejos para depois ir- sos de Patrícia. Desse modo, surgiu a balhos de cada um. “Nunca fomos pen-
rodeiam diariamente e surpreender os mos colá-los nas fachadas a intervir”, opção de um protesto fofo com cora- sando em nada, as coisas foram acon-
transeuntes com algo que não estavam esclarece. O limite de pessoas é de qua- ções em lã. Foi um caso de juntar a fome tecendo. Apesar de estarmos parados a
habituados a ver durante o seu percur- tro e, para se inscrever, basta estar à vontade de comer, uma vez que já ti- título individual, ainda fiz duas ‘pedras
so”, elucida a designer. atento às redes sociais e enviar mensa- nha pensado em espalhar tricô, croché fofas’ em tamanho gigante. Basica-
Em habitações ou nos restantes edifí- gem privada ou email para ter acesso a e similares enquanto forma de arte ur- mente, são pedras que estão num gé-
cios, Joana não pede para deixar a sua informação detalhada. bana – uma arte denominada yarnbom- nero de metamorfose”, define Tiago.
marca. A menos que veja algum mora- bing. No entanto, essa possível mani- Algo que surgiu na sequência de um
dor, claro. “Porque se tiver de pedir au- A cor das pedras festação deu lugar a um projeto, após projeto de final de curso, nas Belas Ar-
torização a quem lá mora, a resposta é Por trás de outra ideia que preenche va- Tiago verificar uma falha na calçada em tes do Porto, e que permitiu continuar
quase sempre a mesma – que não é nada zios, neste caso o pavimento das cida- forma de coração. a utilizar o género de material que con-
com eles, que tenho que falar com o pro- des, está a dupla algarvia Patrícia Si- Após colocar a primeira pedra na cal- sidera fofo. ●m

Notícias Magazine 30.08.2020 45


esti-
los BELEZA
POR Joana Ribeiro

50 SOMBRAS
DE NEGRO
Quando muito se fala de representatividade,
eis alternativas da indústria da maquilhagem
para pessoas de pele escura.

Se antigamente era preciso improvi- balhar com bases muito escuras, o


sar e fazer misturas com os produtos mais escuro que o mercado oferecer.
disponíveis, hoje em dia maquilhar Se não há para nós, desenrascamo-
peles negras, nas suas várias grada- -nos”. Outras dicas passam por ter
ções, é bem mais fácil. “As marcas fo- atenção ao protetor solar – “Embora
ram alargando as gamas, e agora é pos- já haja mais oferta, geralmente não
sível encontrar produtos adequados são feitos para a nossa pele, fazem
a peles negras, tanto nas mais caras com que fiquemos acinzentadas, es-
como nas mais acessíveis”, diz a ma- branquiçadas” – e ao tom da base – “a
quilhadora Patrícia Santos. nossa pele não é uniforme. Devemos
A pele negra é habitualmente mais escolher o tom da base pelo tom da bo-
oleosa, explica a profissional que tra- checha, mas nas zonas mais escuras
balhou como maquilhadora na RTP temos de dar sombra com o contorno,
África. “Existe uma diferença entre para equilibrar”.
oleosidade e luminosidade. Muitas A questão da representatividade é
vezes as peles negras são oleosas mas central para Yara Lacerda. E atual-
baças. Nesse caso, usaria um primer mente, reconhece, alargou-se a op-
que oferecesse luminosidade.” ção de escolha. A Black Up é uma mar-
Algumas dificuldades, no entanto, ca que surgiu para preencher esse es-
persistem, e quanto mais escura a paço no mercado da maquilhagem
pele, mais complicado. Por exemplo, destinada às mulheres negras – po-
no que toca a contornos. A maquilha- dendo, no entanto, ser usada em
dora angolana Yara Lacerda utiliza qualquer tom de pele. A par da Lan-
como exemplo o tom de pele da atriz côme, Yara destaca a M.A.C, tanto
Lupita Nyong’o: “O contorno tem de pela qualidade dos produtos para pe-
ser dois a três tons mais escuro do que les escuras como por ser pioneira em
a base, é impossível encontrar em ter como imagem mulheres negras.
marca alguma um contorno em pó Já Patrícia Santos tem como referên-
para uma pessoa tão escura. As alter- cia a Guerlain, a Yves Saint Laurent
nativas são produtos em creme, tra- ou a Sleek. ●m

46 30.08.2020 Notícias Magazine


MOTORES ALTA VOLTAGEM NO REINO
POR Reis Pinto

DOS CARROS ELÉTRICOS

PEDRO CORREIA/GLOBAL IMAGENS


O Honda “e”, não sendo o Se o sucesso que o Honda “e” fez na rua durante os dias ❶ Agilidade
primeiro carro elétrico da marca, que com ele andámos se traduzir em vendas, este O Honda “e” tem um
carro vai ser um caso sério. Na verdade, esteticamente impressionante raio de
traduz uma grande aposta é muito apelativo, com uma linguagem que mistura o viragem de 4,3 metros,
no segmento dos citadinos. modernismo (muito bom a traseira ser praticamente só possível pela colo-
A “Notícias Magazine” já igual à frente) com um apelo assumido ao passado cação do motor elétrico
o conduziu e adorou o ar retro e representado pelo Honda N 360/600. E se o exterior na traseira. Quase dá a
agrada, o interior surpreende, com cinco ecrãs a toda a volta sobre ele mesmo bem, mesmo à noite ou
um comportamento de alto nível. largura do habitáculo, sendo os dos extremos usados e permite uma agilida- com chuva.
para projetar as imagens colhidas pelas câmaras de de raramente vista num
vídeo nas portas, uma vez que não há retrovisores automóvel. ❸ Brincadeira
exteriores. O espaço interior é correto, embora um Conduzi-lo é brincadei-
tudo-nada acanhado no banco de trás, em especial ❷ Bem equipado ra de crianças. Liga-se,
para as pernas, e o equipamento pletórico. A colocação Dispõe de inúmeros carrega-se no D (de Dri-
do motor atrás permite um equilíbrio de pesos sistemas de ajuda à ve), aceleramos e esta-
perfeito e um comportamento muito bom, mas condução, como o La- mos em movimento.
condena a mala. As acelerações são vigorosas, a veloci- ne Centering, que man- Podemos selecionar o
dade máxima limitada aos 145 km/h e a autonomia é tém o carro no centro modo Sport ou Normal
de 220 quilómetros na versão mais barata, que tem da faixa de rodagem, e controlar o nível de re-
136 cavalos e custa 36 mil euros. Com o motor a debi- ou as câmaras de vídeo generação nas patilhas
tar 154, a autonomia fica-se pelos 213 quilómetros e o a substituir os retrovi- do volante. Num silên-
preço chega aos 38 500 euros. ● m sores. E funcionam cio de catedral.

Notícias Magazine 30.08.2020 47


esti-
los A SAIR

GELATINAS
A ZERO
O número em destaque nas novas gelatinas Condi é o zero:
0% de açúcar, 0% de aspartame. (E 8 kcal.) A chegada das
Gelatinas Prontas Zero% desta marca portuguesa coincide
propositadamente com o verão, existindo em quatro sabo-
res: amora, morango, ananás e tangerina. Vendem-se VERÃO BARATO
em packs de quatro, monotemáticos ou com dois sabores.
A Seaside anuncia “enormes descidas de preços”
(assim se lê no press release) na coleção de verão.
Ele é botins, sandálias, sapatos & etc. a preços enco-
lhidos. Saldos nas lojas físicas salpicadas pelo conti-
nente e ilhas, e também na encarnação online.
AMOR EM VERSÃO
RECICLADA
Love Letter é o nome da coleção-
-cápsula que junta os esforços
da Levi’s e da marca de moda O BOM DIA
dinamarquesa GANNI. Uma DE UM NOVO ROSÉ
coleção caracterizada pelo mini-
malismo das propostas e pelo Boa Noite Lisboa Rosé 2019 alarga uma
facto de ter como matéria-prima família em que já se bebia o Branco 2018
peças antigas da Levi’s sujeitas e o Tinto 2017. Vinhos da Vidigal Wines,
a reciclagem. Nesta Love Letter com sede em Cortes, Leiria. É um rosé que
há espaço para uma camisa clás- combina as castas Castelão (80%) e Syrah
sica, uns jeans 501 e um vestido- (20%). Diz a marca que vai bem como aperi-
-camisa, criações marcadas pelo tivo, e também “é bom parceiro de saladas,
patchwork e pela generosidade pizas, cocktail de camarão, mariscos cozidos
de mangas e golas. ao natural ou peixes brancos cozidos
e grelhados”.

MATERIAL Para rimar com o regresso às aulas e ao trabalho, a BIC


DE RISCO propõe uma seleção do que chama de “produtos essen-
ciais”. Inclui as esferográficas Cristal, Colours e Gel-
-ocity Quick Dry, os corretores Micro Tape Twist
e as canetas de feltro Kids Kid Couleur, os lápis de cera
Plastidecor e os lápis de cor Tropicolors.

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HORÓSCOPO
POR Isabel Guimarães
Astróloga — ISAR/CAP

ANIVERSÁRIO
31 de agosto a 6 de setembro

Carneiro Touro Gémeos Caranguejo


21.03 a 20.04 21.04 a 21.05 22.05 a 20.06 21.06 a 22.07

Forte ligação ao sofri- Uma forte tensão afetará Semana marcada por si- Predisposição para uma
mento coletivo. Quererá os seus projetos e inves- tuações do passado e forte sensibilidade, prin-
criar ações que ajudem timentos. Importa rever questões ligadas a inves- cipalmente ligada a as-
quem mais sofre. No en- as suas ideias e os contra- timentos em imóveis. suntos do passado. A
tanto, todos os resulta- tos que realizou, quer de Procure analisar tudo área de vida da criativi-
dos serão fruto do que forma escrita, quer ver- com muita atenção e dade é ativada, condu-
semeou no início do ano. balmente, para efetuar apoie-se em pessoas com zindo-o a assuntos que
Invista na relação afetiva os devidos ajustes. Cuide os conhecimentos ne- iniciou em fevereiro. Po-
e tenha atenção à impul- da sua saúde adotando cessários para decisões. derá começar a ter maior
sividade. novos hábitos. Cuide da saúde. clareza nos resultados
que pretende obter.

Leão Virgem Balança Escorpião Richard Gere


Ator e produtor, 70 anos
23.07 a 23.08 24.08 a 22.09 23.09 a 23.10 24.10 a 22.11
Richard Tiffany Gere nasceu a 31
As responsabilidades Sentirá maior sensibili- Estado emocional mais Semana com maior capa- de agosto de 1949 nos EUA, sob o
no trabalho estarão dade, o que pode levar a sensível e introspetivo, cidade de entender al- signo solar Virgem. O ascendente
a dificultar a necessidade alguma confusão e até pela necessidade que guns processos emocio- em Caranguejo permite uma forte li-
de se divertir, ter mo- mal-entendidos. No en- tem de analisar os seus nais e a forma como tem gação à família e às pessoas que o
mentos a dois e relaxar. tanto, este é um ótimo projetos e ideias, em es- lidado com as questões li- rodeiam mais em geral, tendo a ten-
As obrigações no dia a momento para analisar pecial os que iniciou em gadas à família e aos rela- dência para ajudar quem precisa.
dia começam a dificultar os seus projetos e con- fevereiro deste ano. Ne- cionamentos. Esta ten- A Lua em Sagitário leva-o a explorar
a concentração. Procure cluí-los. Aproveite para cessidade de se recolher dência trará uma necessi- novos horizontes e encontrar a sua
reorganizar-se. Cuide se focar no mundo emo- e estar consigo para en- dade de se envolver mais ideologia de vida, de forma a sentir-
da alimentação. cional e entender rela- tender como vai agir. com os amigos e com -se ligado à fé e à capacidade de in-
ções entre causa e efeito. aqueles de que gosta. fluenciar os outros. De forte criativi-
dade, procura interagir com o seu
meio, usando um humor peculiar.

PLANETAS
Sagitário Capricórnio Aquário Peixes Ainda sob a influência da Lua no signo
23.11 a 21.12 22.12 a 20.01 21.01 a 18.02 19.02 a 20.03 de Aquário e a caminho da Lua cheia de
Peixes, recebemos o ingresso de Mer-
Alguns projetos come- Tendência para observar Estará mais voltado para Poderá sentir uma forte cúrio no signo de Balança e de Vénus
çam a expandir-se, ge- os resultados do que tem o seu mundo emocional sensibilidade, que o dei- no signo de Leão. As influências plane-
rando o otimismo neces- investido nos últimos mais profundo, para as- xará muito mais reativo. tárias continuam tensas e agravam-se
sário para levar ao cum- sete meses e dar uma sim se libertar e restru- Ao mesmo tempo, sen- com esta Lua cheia, fazendo exacerbar
primento dos objetivos. estrutura profunda aos turar o equilíbrio a esse tir-se-á mais negativo e os ânimos, com profunda ligação à dor
Muitas mudanças mani- seus objetivos – seja sob nível. Boa altura para com aquela sensação de do coletivo e da nossa família. Os regen-
festar-se-ão de forma a forma de trabalho, de refletir sobre o que deve que nada de bom aconte- tes desta Lua, Júpiter/Neptuno, estão
bem profunda. Faça investimentos financei- permanecer na sua vida, ce. Momento para obser- em tensão com a forma como comuni-
exercício físico. ros, ou até na relação incluindo a relação var e analisar com clare- camos e apoiamos quem nos rodeia.
afetiva. Cuide do seu afetiva. Cultive novos za os objetivos. Neptuno cria oposição com Mercúrio,
corpo. hábitos. trazendo autoengano e ilusões.

Notícias Magazine 30.08.2020 49


cró-
nica LEVANTE-SE
O RÉU
POR Rui Cardoso Martins

ILUSTRAÇÃO: JOÃO VASCO CORREIA

NEM NÓS SABEMOS


do. Fiz queixa na PSP há dois anos, mas esse processo acabou ar-
quivado, porque eu, burra, acabei por levantar a queixa, mas vou
reabri-lo. Ele é responsável por duas depressões minhas e por in-
fluenciar desrespeito por parte do meu filho. Tenho vivido mo-
mentos de inferno e ninguém faz uma pequena ideia e dou comi-
A crónica “Nem sabes”, aqui publicada a 14 de Junho, falava de um go a pensar ‘como é que tenho aguentado isto há 30 anos para cá?’”.
polícia vítima de violência doméstica por parte da mulher. Um A advogada continuou: quando o filho estava para nascer, ela a
amigo dele lembrava mensagens que lera no telemóvel: entrar em trabalho de parto, ele disse que chamasse os bombei-
— Meritíssima, diziam és isto, és um merda... nem para... ser- ros, se precisasse. Quando teve o tumor na próstata e teve de ser
ves. operado rapidamente, “no dia em que tivemos de nos deslocar ao
— Nem para quê? Pode dizer. hospital, mais uma vez me pediu perdão por tudo o que me tinha
— Com todo o respeito pelos meritíssimos juízes, “nem para fo- feito e eu respondi que naquele momento não pensasse nisso”.
der serves”. Finalmente, disse a advogada, “sem querer tornar-me aqui ma-
Esta é uma página nova do caso, passada nos dias seguintes no çadora”, diz aqui que “quando tomei esta decisão foi a pensar que
Campus de Justiça de Lisboa. É a outra cara do caso terrível (e tam- me tinha de separar e essa é a posição que vou tomar, e tenho medo
bém banal) de um homem operado a cancro da próstata, impo- que no meio destas discussões haja uma tragédia”.
tente, mas que – disse a ex-mulher, e repetiu a sua advogada – ape- Não houve. Separaram-se. A mulher foi condenada a dois anos
nas sofreu a resposta desesperada aos males que ele mesmo ge- de prisão, com a pena suspensa e a proibição de voltar a contactar
rou. A advogada leu, nas alegações, uma extensa lista de queixas o ex-marido. Terá também de lhe pagar 500 euros. Antes de saber
anteriores da mulher, sucessivamente silenciadas pela hierar- a sentença, a mulher e a juíza conversaram. A mulher tremia.
quia da polícia. E também por ela: se o então marido levasse cas- — Quer dizer mais alguma coisa em sua defesa?
tigo disciplinar, veria a reforma cortada e, assim, o filho não po- — Eu obviamente lamento. Foi num contexto também da de-
deria estudar na universidade. A advogada começou: pressão nervosa e por uma vivência familiar muito complicada.
— Foram mais de 30 anos de casamento a ser vítima de violên- Daí ter tentado retaliar e tentar... no fundo era a minha revolta
cia doméstica. contra a situação que estava a viver, sem saída.
E leu um texto enviado pela mulher aos superiores da PSP. — Mas estas mensagens são de um teor muito intenso. Tão mau
— Este mail é um grito de ajuda, de desespero, de uma mulher ou pior do que aquelas situações que a senhora descreve como ví-
que é vítima de violência doméstica. tima... É que eu tenho aqui mensagens...! “Esterco, velhaco, cíni-
O filho de ambos “cresceu a ouvir o pai a insultar-me de tudo, só co, ordinário, reles, estúpido, cabrão, merdoso, cobarde, malfor-
não me chamava de santa por dá cá esta palha, eram gritos e insul- mado e mentiroso, parvalhão de merda, enforca-te de uma vez,
tos, coisas a voar e que acabavam partidas no chão, muitas vezes ordinário da pior espécie, cancro da nossa vida, és um banana com
agressões físicas. Tive de aprender a defender-me e, se não fosse ele, mas perigoso, és um triste, destrambelhado de merda, este
assim, hoje ainda estava a apanhar dos dois quando calhasse. Há gajo saiu doido como tu, sem paciência para nada.” Quer dizer, a
30 anos atrás não era assim, eu encolhia-me e ele agredia, chegou senhora sente-se ofendida com as mensagens de que foi vítima,
a encostar-me a arma à cabeça por duas vezes, deu-me bofetadas, mas depois escreve “tens sangue de cobra venenosa, és um triste
arrastava-me pelos cabelos. Ainda hoje a forma que ele tem de me sem tomates para nada”. Ao escrever estas coisas, está a fazer tan-
agredir, além dos insultos, é agarrar-me pelos cabelos para não to ou mais do que...!
deixar marca. Já o tenho agredido para me defender e ele come-
çou a ganhar algum receio, mas depois alega que sou eu que o agri- O AUTOR ESCREVE DE ACORDO COM A ANTERIOR ORTOGRAFIA.

50 30.08.2020 Notícias Magazine


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