Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 14

Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Disciplina: Química Inorgânica Experimental I

Obtenção de vidros de Metais de Transição e Efeito do número de


ligantes em complexos de metais de transição
Aula Prática 7

Data de realização: 16/06/2023


Data de entrega: 23/06/2023
Integrantes: Igor de Souza Pinto
João Victor Tomaz dos Santos
Júlia Larrúbia D’Angelo
Luana Medeiros Santos
Grupo 2

Professora: Juliana Fonseca de Lima

Rio de Janeiro
2023
1. INTRODUÇÃO
Os vidros podem ser formados através de diversos processos, tais como:
a deposição química a vapor, pirólise, irradiação de nêutrons e processo sol-gel,
entre outros. Um exemplo é o vidro silicato de sódio, que pode ser obtido por
meio da evaporação de uma solução aquosa de silicato de sódio (conhecido
como "vidro líquido"), seguida de tratamento térmico para remover a água
residual. Uma definição mais completa a respeito do vidro foi proposta por Shelby
em 1997. Segundo ele, um vidro é um sólido amorfo que não possui ordem a
longo alcance e periodicidade, exibindo uma região de transição vítrea, ou seja,
apresenta uma região corresponde à faixa de temperatura em que ocorre a
passagem do estado vítreo para um estado "maleável", sem que haja uma
mudança estrutural. Assim, qualquer material, seja inorgânico, orgânico ou
metálico, formado por qualquer técnica, que apresente um fenômeno de
transição vítrea é considerado um vidro [1].

Vale ressaltar que materiais vítreos não solidificam da mesma maneira


que os materiais cristalinos. À medida que estes são resfriados, eles se tornam
cada vez mais viscosos, não havendo uma temperatura específica em que o
líquido se transforma em sólido, enquanto os materiais cristalinos possuem um
ponto de fusão bem definido, sendo a partir dessa característica que torna
possível os vidros serem moldados em diversas formas e tamanhos antes de
atingirem um estado sólido completamente rígido. Além disso, uma característica
interessante ocorre com a adição dos metais de transição na reação de formação
dos vidros já que à presença dos orbitais d e f impactam nas características do
produto, pois ao serem adicionados a uma matriz vítrea, esses metais que
apresentam propriedades modificadoras, são capazes de alterar cor em
pequenas quantidades, estruturas, durabilidade ou até mesmo uma mudança
nas temperaturas de transição vítrea.

Ao abordar os metais de transição, é importante destacar que ao citar


esses elementos, ainda é observado uma outra característica importante, ainda
devido a presença dos orbitais d e f, visto que, a presença desses orbitais resulta
na capacidade de formação de compostos complexos, pois esses metais
possuem orbitais atômicos disponíveis, permitindo a recepção de elétrons dos
ligantes. Dessa forma, a formação de compostos de coordenação refere-se ao

1
estudo desses complexos formados, nos quais um átomo metálico assume uma
forma iônica (ácido de Lewis), agindo como receptor dos elétrons doados pelo
ligante, e está rodeado por um conjunto de ligantes (bases de Lewis), agindo
como a átomo doador de elétrons, sendo o ligante um íon ou molécula que pode
existir de forma independente. O termo "composto de coordenação" é utilizado
para descrever um complexo neutro ou um composto iônico no qual pelo menos
um dos íons envolvidos é um complexo.

A teoria de Coordenação de Werner oferece uma explicação para a


ligação presente em complexos de coordenação. Segundo essa teoria, os
complexos apresentam dois tipos de valências: primárias, nas quais o complexo
existe na forma de um íon positivo, e secundárias, nas quais a valência é igual
ao número de átomos ligantes coordenados ao metal, também conhecido como
número de coordenação do composto. Dessa forma, ambos estados de oxidação
geram características ópticas que podem ser observadas no espectro de cores,
visto que, por exemplo, o segundo estado de oxidação pode causar diferentes
desdobramentos dos orbitais d do metal, levando a diferentes absorções de luz
e, consequentemente, a diferentes cores[2] [3].

2. OBJETIVOS
A prática teve como objetivo principal preparar vidro de fosfato de sódio e
analisar as propriedades resultantes da presença de íons dopantes, com o intuito
de compreender as propriedades das amostras preparadas. Além disso,
pretendeu-se investigar experimentalmente a variação da cor dos compostos de
coordenação em relação ao número de ligantes coordenados ao metal.

3. RESULTADOS e DISCUSSÕES
1. Obtenção de vidros de Metais de Transição
Após secar completamente os cadinhos de porcelana, pesou-se 2,60 g de
Na2CO3 e 5,70g de (NH4)2HPO4, ou de NH4H2PO4, ou de NaH2PO4 e, com auxílio
de um almofariz misturou-se muito bem os dois reagentes utilizados pelo grupo.
Logo em seguida, cada grupo adicionou um metal de transição a mistura e ela
foi colocada em um cadinho. O conjunto foi levado à mufla, que estava
inicialmente à 800ºC, mas precisou ser levada até 1000°C para a formação do
vidro do grupo 1, que usou um reagente diferente dos demais grupos.

2
É importante ressaltar que os metais utilizados foram: Co 2+, Eu3+, Ni2+,
Cu2+ e Mn2+. Cada um dos cinco grupos que compõe a turma de inorgânica
experimental utilizou um metal diferente para dopar o vidro, bem como reagentes
diferentes para formar o vidro de fosfato de sódio (Na 3PO4):

- Grupo 1:

O grupo 1 utilizou 2,60 g de Na2CO3 e 5,70g de NaH2PO4 para formar o


vidro de fosfato de sódio (Na3PO4) e, após misturar bem esses reagentes,
adicionou cloreto de cobalto (CoCl 2) e misturou bem novamente. Desse modo,
após ser levado para a mufla, as seguintes reações ocorreram:

Na2CO3(s) + 2NaH2PO4(s) → (Na2O)2(P2O5)(s) + CO2(g) + 2H2O(g)

3Na2O(s) + P2O5(s) → 2Na3PO4(s)

Em seguida, o gás carbônico (CO2), a água (H2O) e o gás cloro (Cl2) - que
é liberado quando os íons cobalto II (Co 2+)
migram para o vidro, dopando-o - evaporam na
mufla e, no cadinho, sobra apenas o vidro de
fosfato de sódio dopado com os íons Co 2+.
Esse vidro possuiu coloração azul escuro,
conforme pode ser visto na figura 1.1 ao lado.
Figura 1.1: Vidro de Na3PO4 dopado com íons Co2+.

- Grupo 2:

O grupo 2 utilizou 2,60 g de Na2CO3 e 5,70g de (NH4)2HPO4 para formar


o vidro de fosfato de sódio (Na3PO4) e, após misturar bem esses reagentes,
adicionou óxido de európio (Eu2O3) e misturou bem novamente. Desse modo,
após ser levado para a mufla, as seguintes reações ocorreram:

Na2CO3(s) + 2(NH4)2HPO4 → (Na2O)(P2O5)(s) + CO2(g) + 3H2O(g) + 4NH3(g)

3Na2O(s) + P2O5(s) → 2Na3PO4(s)

Em seguida o gás carbônico (CO2), a água (H2O), a amônia (NH3) e o gás


oxigênio (O2) - que é liberado quando os íons európio III (Eu 3+) migram para o
vidro, dopando-o - evaporam na mufla e, no cadinho, sobra apenas o vidro de

3
fosfato de sódio dopado com os íons Eu 3+. Esse
vidro ficou incolor e, ao entrar em contato com a luz
negra, ficou clara a propriedade luminescente do
európio, conforme pode ser visto na figura 1.2 ao
lado.

Figura 1.2: Vidro de Na3PO4 dopado


com íons Eu3+.

- Grupo 3:

O grupo 3 utilizou 2,60 g de Na2CO3 e 5,70g de NH4H2PO4 para formar o


vidro de fosfato de sódio (Na3PO4) e, após misturar bem esses reagentes,
adicionou cloreto de níquel II hexahidratado (NiCl 2.6H2O) e misturou bem
novamente. Desse modo, após ser levado para a mufla, as seguintes reações
ocorreram:

Na2CO3(s) + NH4H2PO4 → (Na2O)2(P2O5)(s) + 2CO2(g) + 3H2O(g) + 2NH3(g)

3Na2O(s) + P2O5(s) → 2Na3PO4(s)

Em seguida o gás carbônico (CO2), a água (H2O), a amônia (NH3) e o gás


cloro (Cl2) - que é liberado quando os íons níquel II
(Ni2+) migram para o vidro, dopando-o - evaporam na
mufla e, no cadinho, sobra apenas o vidro de fosfato
de sódio dopado com os íons Ni2+. Esse vidro
possuiu coloração amarelo, conforme pode ser visto
na figura 1.3 ao lado.

Figura 1.3: Vidro de Na3PO4 dopado


com íons Ni2+.

- Grupo 4:

O grupo 4 utilizou 2,60 g de Na2CO3 e 5,70g de NH4H2PO4 para formar o


vidro de fosfato de sódio (Na3PO4) e, após misturar bem esses reagentes,
adicionou sulfato cúprico pentahidratado (CuSO4.5H2O) e misturou bem
novamente. Desse modo, após ser levado para a mufla, as seguintes reações
ocorreram:

Na2CO3(s) + NH4H2PO4 → (Na2O)2(P2O5)(s) + 2CO2(g) + 3H2O(g) + 2NH3(g)

4
3Na2O(s) + P2O5(s) → 2Na3PO4(s)

Em seguida o gás carbônico (CO2), a água (H2O), a amônia (NH3) e o


sulfato (SO42-) - que é liberado quando os íons cobre
II (Cu2+) migram para o vidro, dopando-o - evaporam
na mufla e, no cadinho, sobra apenas o vidro de
fosfato de sódio dopado com os íons Cu 2+. Esse
vidro possuiu coloração azul claro, conforme pode
ser visto na figura 1.4 ao lado.

Figura 1.4: Vidro de Na3PO4 dopado


com íons Cu2+.
- Grupo 5:

O grupo 5 utilizou 2,60 g de Na2CO3 e 5,70g de (NH4)2HPO4 para formar


o vidro de fosfato de sódio (Na3PO4) e, após misturar bem esses reagentes,
adicionou sulfato de manganês (MnSO4) e misturou bem novamente. Desse
modo, após ser levado para a mufla, as seguintes reações ocorreram:

Na2CO3(s) + 2(NH4)2HPO4 → (Na2O)(P2O5)(s) + CO2(g) + 3H2O(g) + 4NH3(g)

3Na2O(s) + P2O5(s) → 2Na3PO4(s)

Em seguida o gás carbônico (CO2), a água (H2O), a amônia (NH3) e


sulfato (SO42-) - que é liberado quando os
íons manganês II (Mn2+) migram para o
vidro, dopando-o - evaporam na mufla e,
no cadinho, sobra apenas o vidro de
fosfato de sódio dopado com os íons Mn2+.
Esse vidro possuiu coloração roxo claro,
conforme pode ser visto na figura 1.5 ao
lado. Figura 1.5: Vidro de Na3PO4 dopado com íons Mn2+.

A dopagem, ou seja, a introdução de impurezas em uma substância pura


para alterar as propriedades físicas e/ou químicas dela, levou a avanços
revolucionários em diversas áreas. Isso porque diferentes tipos de interações
entre hospedeiro e dopante são responsáveis pelas novas propriedades, que
podem originar-se de interações de troca de spin entre o dopante e o hospedeiro,
presença de estados eletrônicos altamente isolados de longa duração ou

5
simplesmente de alta concentração de defeitos estruturais. Sabendo disso,
pode-se afirmar que, como foi visto experimentalmente, ao dopar o vidro de
fosfato de sódio com diferentes íons, ele adquiriu diferentes cores, ou seja, uma
propriedade química diferente da inicial, devido aos íons dopantes.

Ao explicar as cores dos compostos de coordenação, estamos lidando


com o fenômeno das cores complementares: se um composto absorve a luz de
uma cor, vemos o complemento dessa cor. Por exemplo, quando a luz branca
(que contém um amplo espectro de todos os comprimentos de onda visíveis)
passa através de uma substância que absorve a luz vermelha, a cor observada
é verde. Verde é o complemento de vermelho, portanto, o verde predomina
visualmente quando a luz vermelha é subtraída do branco [2].

No entanto, não é sempre possível fazer uma previsão simples da cor


diretamente a partir do espectro de absorção, em grande parte porque muitos
compostos de coordenação contêm duas ou mais bandas de absorção de
diferentes energias e intensidades. A cor final observada é a cor predominante
após as várias absorções serem removidas da luz branca. Se a luz de
intensidade Io num determinado comprimento de onda passa por uma solução
contendo uma espécie que absorve a luz, a luz emerge com intensidade I que
pode ser medida por um detector apropriado [2].

A figura 1.1 abaixo mostra os comprimentos de onda aproximados e as


cores complementares às cores principais do espectro visível:

Figura 1.6: Tabela mostrando a luz visível e as cores complementares. Fonte: MIESSLER, G.; FISCHER, P. J.; TARR, D.
A. Química Inorgânica. 5ª ed. São Paulo: Pearson Education, 2014.

Fica claro que a diferença de cor observada entre os vidros sintetizados


pelos grupos é devido aos diferentes íons que os doparam. Isso porque os
diferentes metais absorvem luz em diferentes comprimentos de onda, resultando

6
na excitação de elétrons de estados de baixa energia para estados de energia
mais alta, que por sua vez variam de metal para metal, e conferindo a eles e,
portanto, ao vidro dopado por eles, colorações diferentes, que são as
complementares médias da luz absorvida.

2. Efeito do número de ligantes sobre a cor dos compostos de coordenação

Após ser preparada previamente 200 mL de uma solução aquosa 0,2 mol
L-1 de cloreto de níquel (NiCl2.6H2O), bem como 1 L de uma solução aquosa 0,2
mol L-1 de etilenodiamina pelos técnicos do laboratório, 5 mL da solução de
cloreto de níquel (NiCl2.6H2O), foram adicionados a três béqueres de 50 mL
cada. Em seguida, no primeiro béquer foi acrescentado 5 mL da solução de
etilenodiamina, no segundo 10 mL e no terceiro 15 mL da mesma solução, ou
seja, teve-se uma relação de 1:1, 1:2 e 1:3 de NiCl2.6H2O:etilenodiamina.

Foi possível observar mudança na coloração da solução em cada béquer


após adição do etilenodiamina, como evidencia a figura 2.1:

Figura 2.1: Solução aquosa de cloreto de níquel, cloreto de


níquel com 5 mL de etilenodiamina, com 10 mL de
etilenodiamia e com 15 mL de etilenodiamina.
respectivamente.
Após observada a mudança de cores em cada béquer foi acrescentado,
a cada um, gota a gota de ácido clorídrico concentrado, até que a cor original da
solução de cloreto de níquel fosse restabelecida, como evidencia a figura 2.2:

Figura 1.2: Os mesmos béqueres da figura 1 após a adição


de HCl.

7
A etilenodiamina é um ligante bidentado (ou agente quelante) e se liga
através de mais de um átomo doador por ligante. Os agentes quelantes têm
como finalidade a formação de quelatos, ou seja, formar complexos
hidrossolúveis, onde íon metálico é envolvido por ligações covalentes do agente
quelante.

O metal níquel é dúctil e resistente a corrosão. Ocorre na natureza em


combinação com arsênio, antimônio e enxofre. Apresenta condutividade elétrica
e térmica elevadas. Em solução aquosa, o estado de oxidação +2 é o mais
importante, sendo pouco comuns as reações de oxidação de +2 para +3. No
primeiro béquer, o íon Ni2+ em solução aquosa é coordenado a seis moléculas
de água de carga zero em uma geometria octaédrica, formando o íon complexo
[Ni(H2O)6]2+ de coloração verde e sua nomenclatura é hexaaquaníquel (II).

No segundo béquer, foi observada a coloração azul clara, devido a


presença da solução de etilenodiamina, assim o Ni2+ fica ligado à quatro águas,
pois etilenodiamina substitui duas águas, e à uma etilediamina. Sendo assim, a
fórmula molecular é [Ni(H2O)4(en)]2+ e sua nomenclatura é
tetraaquaetilenodiaminaníquel (II). Nessa solução, foram adicionadas 8 gotas de
HCl para que a coloração voltasse ao normal.

A reação é dada por:

[Ni(H2O)6].Cl2(aq) + 1 en(aq) ↔ [Ni(H2O)4(en)]2+(aq) + 2H2O(l)

Figura 2.3: Esquema simplificado da reação que ocorre no béquer 2.

 Por que houve mudança de cor?

Primeiramente, é necessário entender que quando seis ligantes se


aproximam de um centro metálico para formar um complexo octaédrico, os cinco

8
orbitais d degenerados dividem-se em três orbitais t2g degenerados de baixa
energia e dois orbitais degenerados de alta energia, como mostra a figura abaixo:

A distância da divisão entre os orbitais t2g e eg é ditada pela força do ligante de


Figura 3.4: Esquema do desdobramento de orbitais do tipo d segundo a Teoria do Campo Cristalino.

Podemos classificar os ligantes como fortes ou fracos de acordo com a


série espectroquímica, do mais fraco ao mais forte:

I- < Br- < Cl- < SCN- < F- < OH- < ox2- < ONO- < H2O < NCS- < EDTA4- < NH3<
en < NO2- < CN-

Os ligantes altos na série espectroquímica tendem a causar grande


fracionamento de energias orbitais d e a favorecer os complexos de spin baixo.
Já os ligantes baixos na série não são tão eficazes para causar a divisão do
orbital d e para produzir valores mais baixos de campo ligante[2].

Seguindo a regra de Hund, os elétrons preenchem os orbitais um de cada


vez. No entanto, eles preenchem de acordo com o tamanho da divisão dos
orbitais t2g. Se a divisão for pequena, os elétrons preencherão todos os orbitais
individualmente antes do emparelhamento. Isso maximiza o número de elétrons
desemparelhados e é chamado de spin alto. Da mesma forma, um campo forte
causa uma grande divisão t2g-eg: os elétrons emparelham-se no conjunto t2g
antes de preencher os orbitais de maior energia, por exemplo. Isso minimiza o
número de elétrons desemparelhados e é chamado de spin baixo. O impulso
para os elétrons se emparelharem é comandado pela energia (ou tamanho) da
divisão orbital em comparação com a energia do emparelhamento de elétrons.
Se a energia do emparelhamento for alta em comparação com a energia do
movimento para os orbitais, então, os elétrons têm spin alto. Se a energia do
emparelhamento for baixa em comparação com a energia de movimento para os
orbitais mais altos, por exemplo, os elétrons são de rotação baixa [4].

A distância que os elétrons têm para se mover do estado t 2g inferior para


o estado superior, por exemplo, no centro do metal determina a energia da

9
radiação eletromagnética que o complexo absorve. Se essa energia estiver na
região visível o complexo geralmente tem uma cor. Ligantes de campo fraco
causam pequenas divisões e os complexos absorvem luz de baixa energia
(vermelha) que aparece na cor verde. Ligantes de campo forte absorvem luz de
alta energia (ou seja, azul-violeta) e aparecem na cor vermelho-amarelo.
Complexos com ligantes que estão entre fortes e fracos na série
espectroquímica, como a amônia, podem adotar uma geometria de campo fraco
ou forte[4].

A relação cor-ligante é a justificativa para o nome "série espectroquímica".

Portanto, como a distância na divisão orbital varia com a força do ligante,


um complexo de coordenação com o mesmo centro de metal pode ter uma
variedade de cores com base no ligante de coordenação. A solução aquosa de
[Ni(H2O)6]2+ tem uma cor verde claro, porém [Ni(en)3]2+ é azul.

Tal fato se dá devido a mudança de energia entre os orbitais t2g-eg. A


etilenodiamina é um ligante de campo mais forte, que afasta os orbitais um do
outro e desloca os ligantes H2O do centro metálico.

No terceiro béquer, foi observada a coloração azul escuro, pois foi


adicionada uma quantidade maior de etilenodiamina à solução de cloreto de
níquel. Tendo isso em vista, o Ni2+ desta vez fica ligado a duas águas e a duas
etilenodiaminas, tendo a fórmula molecular [Ni(H2O)2(en)2]2+ de nomenclatura
diaquabis(etilenodiamina)níquel (II). Nessa solução, foram adicionadas 15 gotas
de HCl para que a coloração voltasse ao normal.

A reação é dada por:

[Ni(H2O)6].Cl2 (aq) + 2en (aq) ↔ [Ni(H2O)2(en)2]2+(aq) + 4H2O(l)

Figura 4.5: Esquema simplificado da reação que ocorre no béquer 3.

10
No quarto béquer, foi observada a coloração roxa, devido a presença de
uma quantidade ainda maior de etilenodiamina, dessa forma todas as moléculas
de H2O foram substituídas, tendo a fórmula molécula [Ni(en)3]2+ de nomenclatura
tris(etilenodiamina)níquel (II). Foram adicionadas a essa última solução 18 gotas
de HCl para obter-se a coloração original.

A reação é dada por:

[Ni(H2O)6].Cl2(aq) + 3en(aq) ↔ [Ni(en)3]2+(aq) + 6H2O(l)

Figura 5.6: Esquema simplificado da reação que ocorre no béquer 4.

Em suma, a Teoria do Campo Cristalino (TCC) atribui o aparecimento de


cor nos complexos pelo desdobramento do campo cristalino. Nesse
desdobramento de campo teremos dois conjuntos de orbitais diferentes onde
pode ocorrer transição eletrônica entre esses orbitais, t2g e eg, que está
relacionada a uma energia. Dessa forma, a energia está relacionada a um
comprimento de onda que por sua vez está relacionado a determinada cor. O
desdobramento pode ser diferente dependendo do metal, ligante ou estado de
oxidação.

Portanto, desdobramentos diferentes estão diretamente relacionados a


energias diferentes, logo, teremos comprimentos de onda e, como consequência
visível, cores diferentes.

Por fim, ao adicionar ácido clorídrico (HCl), a água volta a ser a base mais
forte, pois a etilenodiamina protona o NH2 (pertencentes a etilenodiamina,
conforme pode ser visto na figura 2.7 abaixo), voltando, assim, ao complexo do
primeiro béquer e retornando à coloração original. Os diferentes béqueres
precisaram de diferentes quantidades de HCl, pois quanto mais etilenodiamina,

11
pois quanto mais etilenodiamina, mais HCl é necessário para reagir com essa
quantidade maior de etilodiamina.

Figura 6.7: Fórmula


molecular da etilenodiamina.

4. CONCLUSÕES
Portanto, notou-se que os íons dopantes escolhidos para reagirem na
formação dos vidros são metais de transição, ou seja, cátions metálicos. Eles
foram selecionados por causa de suas propriedades ópticas únicas. A exemplo
do níquel que pode oferecer ao vidro um conjunto de cores que vão do amarelo
ao verde escuro, sendo a cor amarelada obtida no experimento. Várias bandas
de absorção visíveis e no infravermelho próximo das regiões das do estado
bivalente os tornam viáveis para uso desse tipo. Além disso, os diferentes
estados de oxidação dos metais, também, afetam a cor dos vidros. Outrossim,
na análise de como o ligante afeta um complexo e afinidade dele por diferente
ligantes observou-se mudança de cor do cloreto de níquel após entrar em
contato com o etilenodiamina, visto que é energeticamente mais favorável ligar-
-se a etilenodiamina que a água.

Ademais, cabe ressaltar que o níquel é colocado sobre um campo


octaédrico de pares de elétrons dos ligantes e, desse modo, a repulsão desse
campo eletrostático gerado força o desdobramento do campo cristalino. Ou seja,
o orbaital d é dividido em eg e t2-g. O impacto dos ligantes sobre esse efeito pode
fazer com que a diferença de energia entre ambos orbitais seja em maior ou
menor magnitude. Logo, quanto maior a diferença energética menor é o
comprimento de onda absorvido, nessa lógica, maior é o desdobramento do
campo cristalino. Nesse sentido, o aumento da quantidade de volume de
etilenodiamina oferecido a solução de cloreto de níquel faz com que
gradativamente seja observado espectros no visível que absorvem
comprimentos de onda menores. Assim, a gradativa substituição de água pelo
etilenodiamina faz com que a diferença de energia entre os orbitais eg e t2-g
tornem-se cada vez mais proeminentes. Por fim, pode-se reverter a coloração

12
das soluções ao adicionar HCl, que faz com que a água volte a ser a base mais
forte, revertendo o processo inicial.

5. REFERÊNCIAS

[1] ZANOTTO, E.D. Vidros: arte, ciência e tecnologia de 4000 A.C. a 2000 D.C.
Engenharia de Materiais, v.1, 1989.

[2] MIESSLER, G.; FISCHER, P. J.; TARR, D. A. Química Inorgânica. 5ª ed. São
Paulo: Pearson Education, 2014.

[3] Brown, T. L.; Bursten, B. E.; LeMay H. E.; Burdge, J. R.; Química: a ciência
central. Editora Pearson Education do Brasil. São Paulo, 2016.

[4] Coordination Compounds - What are t2g and eg in CFT? Chemistry Stack
Exchang. 2021. Disponível em:
https://chemistry.stackexchange.com/questions/17284/what-are-t2g-and-eg-in-
cft. Acesso em: 18 de jun de 2023.

13

Você também pode gostar