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Normas da série ISO 14000 | Juliana Augusta

Verona
Neste texto, você compreenderá com mais detalhes as normas da
série ISO 14000, lembrando que iniciamos uma introdução sobre
esse tema na aula anterior. Além disso, você aprenderá sobre o
ciclo de vida do produto (ISO 14040) e a importância da logística
reversa, em que conhecerá o “princípio do poluidor-pagador”,
fundamental para avançarmos neste sentido. Você aprenderá
sobre rotulagem ambiental (ISO 14020) e as definições dos
indicadores de desempenho e avaliação do desempenho ambiental
(ISO 14031). Esta aula está “recheada” de conteúdos
interessantes! Aproveite e bons estudos!

NORMAS DA SÉRIE ISO 14000


A série de normas ISO 14000 correspondem a um Sistema de
Gestão Ambiental (SGA) editado pela ISO (International
Organization for Standardization). É uma série de normas que
especifica os requisitos para um SGA, ou seja, requisitos para
realização de auditorias ambientais, avaliação do desempenho
ambiental, rotulagem ambiental e análise do ciclo de vida dos
produtos com a finalidade de possibilitar que as diferentes
organizações formulem políticas ambientais com metas e objetivos
que levem em conta os requisitos legais e as informações
referentes aos impactos ambientais significativos. (NBR ISO
14001, 1996).

Em 1993, as normas de gestão ambiental começaram a ser


elaboradas pelo Comitê Técnico 207 (TC 207), seus subcomitês
(SC) e grupos de trabalhos (WG). O Quadro 1 evidencia os
subcomitês do TC 207, com suas respectivas áreas temáticas e
exemplos de normas de gestão ambiental.

Quadro 1: Alguns exemplos de normas da Série 14000 publicadas


pelo TC 207 da ISO
Agora que
você observou exemplos que compõem a ISO 14000, vejamos com
mais detalhes a ISO 14001. A família de normas ambientais tem
como eixo central a norma ISO 14001, que estabelece os
requisitos necessários para implantação de um Sistema de Gestão
Ambiental (BARBIERI, 2016, p. 111).
REQUISITOS DA NORMA ISO 14001
A norma ISO 14001 orienta e dá subsídios para a implantação do
sistema de gestão ambiental, sendo, portanto, a norma mais
importante da série ISO 14000. É, ainda, a única norma da ISO
14000 auditável, e por isso, a única que a maior parte das
empresas implantam.

Sobre a norma ISO 14001, Donaire (1999, p. 117) diz:

Tem por objetivo prover às organizações os elementos de um


Sistema de Gestão Ambiental eficaz, passível de integração com
os demais objetivos da organização. Sua concepção foi idealizada
de forma a aplicar-se a todos tipos e partes de organizações,
independentemente de suas condições geográficas, culturais e
sociais.

Na Figura 1 é possível verificar novamente a presença do ciclo


PDCA (do inglês, Plan-Do-Check-Act) no sistema de gestão
ambiental proposto pela ISO 14001.

Figura 1: Sistema de Gestão Ambiental- ISO 14001

Segundo a ABNT (1996, apud DIAS, 2017, p. 111), o Sistema de


Gestão Ambiental, resumidamente, deve cumprir os seguintes
requisitos:

Tabela 1: Requisitos necessários para implantar um SGA - ISO


14001
*Destaca-se o termo não conformidade na Tabela 1, para
explicarmos que a não conformidade ocorre quando não há o
atendimento a um requisito. Seja ele definido pela norma ISO, por
um procedimento interno, requisito do cliente ou dificuldade/falha
em atender a um requisito legal. Quando isso ocorre, a empresa
deve executar ações corretivas em tempo hábil para eliminar as
causas das não conformidades e evitar sua repetição (exemplos de
não conformidade: em ISO 14001 quando da implementação de
sistemas de gestão ambiental, alguns aspectos relevantes à
atividade da empresa não são considerados durante a análise dos
cenários emergenciais; falta de envolvimento das pessoas com
sistemas de gestão, ou seja, assuntos de sistema de gestão
ambiental não são entendidos como de responsabilidades de todos
na organização etc.)

*Outros termos que aparecem também na execução da ISO 14001,


quando consideramos o controle operacional (na terceira etapa
que trata da implementação e operação), são os aspectos
ambientais e/ou impactos ambientais. O “aspecto” é definido pela
NBR ISO14001 como: “...elementos das atividades, produtos e
serviços de uma organização que podem interagir com o meio
ambiente”. O aspecto ambiental tanto pode ser um equipamento,
como também uma atividade realizada por ele ou por alguma
pessoa que resulte em algum efeito sobre o meio ambiente.
Também a NBR ISO14001, apresenta o termo impacto
ambiental como: “qualquer modificação do meio ambiente,
adversa ou benéfica, que resulte no todo ou em parte, das
atividades, produtos ou serviços de uma organização”. Assim,
classificamos os impactos ambientais em: adversos, quando
trazem alguma alteração negativa para o meio; e benéficos,
quando trazem alterações positivas para o meio.

A NORMA ISO 14001 A PARTIR DE 2015


Todas as normas ISO passam por revisões periódicas para inserir
mudanças e novas exigências do mercado. O processo de revisão
da norma ISO 14001 iniciou em 2012 e teve como base o
documento elaborado pela ISO (chamado Anexo SL), que fornece
uma base única para todas as normas de sistema de gestão. Essa
estrutura, sem dúvida, permite maior simplificação e integração
entre todas as normas de sistema de gestão. A norma revisada,
segundo Dias (2017, p. 115), tornou-se “mais acessível para as
pequenas e média empresas e as organizações do setor de
serviços”.

Segundo Dias (2017, p. 116), as novas mudanças na ISO


14001:2015, estão em sintonia com a necessidade de adaptação
das empresas às exigências relacionadas na solução dos
problemas ambientais que afligem o planeta (exemplo: redução
das emissões de gás carbônico - CO2).

CICLO DE VIDA DO PRODUTO E LOGÍSTICA REVERSA


A Análise do Ciclo de Vida (ACV, do inglês Life Cycle
Assessment) é uma metodologia que avalia os impactos
ambientais de um processo, produto ou serviço, levando em conta
todo o seu ciclo de vida. O termo ciclo de vida se refere ao
conjunto de todas as etapas no decorrer da vida útil do produto,
desde o processo de extração de matéria-prima, passando pelo
processamento de material, fabricação, distribuição, uso, até o fim
de sua vida útil.

A ACV é uma técnica utilizada para calcular os aspectos


ambientais e os potenciais impactos associados a um produto,
processo ou serviços, por meio das seguintes etapas:

1. Definição do escopo e dos objetivos: definir e descrever o


produto, processo ou atividade, além de estabelecer o contexto da
análise (aqui são analisadas, por exemplo, emissão de poluentes
como CO2, CH4 e NOx, consumo de energia e consumo de água);

2. Análise de inventário: identificar e quantificar as entradas de


energia e de materiais, como também as correntes emitidas para o
meio ambiente (emissões de poluentes, descarte de resíduos
sólidos, entre outros);

3. Avaliação de impacto: avaliar os potenciais impactos ambientais


associados às entradas e emissões identificadas na análise de
inventário;

4. Interpretação dos resultados: avaliar os resultados para selecionar


o produto, processo ou serviço, com o claro entendimento das
incertezas e das premissas utilizadas para gerar o resultado.

É importante destacar que a ACV inclui impactos que comumente


não são considerados nas análises tradicionais, o que possibilita
uma visão mais ampla dos aspectos ambientais do produto,
processo ou serviço.
Quando consideramos o ciclo de vida, o produto é analisado de
maneira “holística”, ou seja, considera-se todas as suas fases de
produção e seus deslocamentos, conforme a Figura 2 a seguir:

Figura 2: Ciclo de Vida do Produto

Para destacar o modelo de gestão voltado para o Ciclo de Vida


dos Produtos, o Programa das Nações Unidas para o Ambiente
(UNEP) e a Sociedade de Toxicologia e Química Ambiental (SETAC)
utilizam os “Seis R da Sustentabilidade”, conforme Figura 3:

Figura 3: Seis R’s da Sustentabilidade


Segundo IBICT
(2014), os três primeiros R’s fazem parte do planejamento do
produto (repensar, repor, reparar). Posteriormente, quando o
produto foi bem pensado e projetado, pode-se partir para os outros
três R’s: reduzir, reutilizar e reciclar.

Ainda sobre a ACV, como forma de sintetizar sua importância,


destaca-se que ela apoia a tomada de decisões por meio de
estudos dos aspectos ambientais e dos impactos ao longo da vida
de um produto (desde a extração de recurso, passando por
produção, uso, tratamento pós-uso, reciclagem e disposição).

Além disso, cria relações entre aspectos e categorias de impacto


potencial, ligados ao consumo de recursos naturais, à saúde
humana e ao ambiente (IBICT, 2014).

A Figura 4 representa todo o processo da Avaliação do Ciclo de


Vida:

Figura 4: Avaliação do Ciclo de Vida


Logística reversa
Dentre as diversas definições existentes para a logística reversa, a
definição de Leite (2009) é uma das mais completas e atuais:

Logística reversa é a área da logística empresarial que planeja,


opera e controla o fluxo e as informações correspondentes, do
retorno dos bens de pós-venda e de pós-consumo ao ciclo de
negócios ou ciclo produtivo, por meio dos canais de distribuição
reversos, agregando-lhes valor de diversas naturezas: econômico,
ecológico, legal, logístico, de imagem corporativa, entre outros.
(LEITE, 2009, p. 16-17)

A Lei 12.305, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos


(PNRS), define os produtos que são obrigados a logística reversa.
São eles: embalagens de agrotóxicos e de óleos lubrificantes,
pilhas e baterias, pneus, lâmpadas fluorescentes e produtos
eletroeletrônicos e seus componentes. Para contribuir e reduzir
distâncias, o Decreto nº 7.404, de 2010, que regulamenta a
PNRS, considera como prioridade ações com catadores ou
cooperativas de catadores de materiais recicláveis. A Política
Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) contempla vários princípios.
Para esta aula, é importante que você compreenda o princípio do
poluidor-pagador, pois ele está relacionado à logística reversa e à
aplicação da ACV.

O princípio do poluidor-pagador tem grande importância na


aplicação da responsabilidade compartilhada, considerando que a
principal vocação desse princípio é redistributiva: deve-se atribuir
ao(s) poluidor(es) os custos de prevenção, reparação e repressão
de danos ambientais, que hoje recaem sobre a sociedade em geral.
Ainda, “pretende-se corrigir os problemas da existência de
externalidades ambientais negativas", promovendo sua
internalização nos processos de produção e consumo que lhes dão
origem (MOREIRA, 2011, p. 164). Tem como finalidade conduzir a
interpretação sobre a responsabilização ambiental pós-consumo
pela percepção de que os instrumentos jurídicos de proteção do
meio ambiente devem garantir a todos o direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado.

O princípio do poluidor-pagador constata que os recursos


ambientais são escassos e que seu uso na produção e no consumo
acarreta a sua redução e degradação (ANTUNES, 2010, p. 49). Para
que o princípio do poluidor-pagador ocorra, é fundamental a
existência da logística reversa no planejamento do Ciclo de Vida
do Produto.

Segundo Leite (2009), a logística reversa pode ser dividida em


duas áreas de atuação, temos a logística reversa de pós-
venda e logística reversa de pós-consumo. A logística reversa de
pós-venda, diz respeito a devolução de produtos com pouco ou
nenhum uso. Já a logística reversa de pós-consumo, trata dos
produtos que foram utilizados até o fim de sua vida útil, mas que
mesmo após seu descarte podem ser reutilizados através da
reciclagem ou descartados com segurança através da logística
reversa. Algumas das formas de reaproveitamento dos produtos
são: a reciclagem, o reuso, o desmanche ou o próprio descarte.

Essa preocupação levou a formação de organizações públicas e


privadas - entidades independentes -, que certificam os produtos e
serviços rotulados a partir de critérios pré-estabelecidos.

Assim, a Organização Internacional de Normalização (ISO)


determinou um conjunto de critérios para avaliar os esquemas de
rotulagem ambiental, conhecida pela série ISO 14020. De acordo
com a classificação ISSO, existem três tipos de rótulos
ambientais:

Tipo I: rótulos ambientais certificados que são programas


voluntários que concedem rótulos refletindo uma preferência
ambiental global de um produto dentro de uma categoria
particular, baseados em considerações do ciclo de vida.
Tipo II: autodeclarações feitas pelos produtores, importadores ou
distribuidores, de modo a comunicar informação sobre aspectos
ambientais dos seus produtos e serviços. Surgiram no mercado no
final dos anos 80 e início dos anos 90. Os produtos normalmente
exibiam declarações ambientais tais como "amigo do ambiente",
"livre de CFC" e "reciclado”.

Tipo III: Declarações Ambientais do Produto (EPDs) é um conjunto


de dados ambientais quantificáveis ao longo do ciclo de vida do
produto, baseados nos Requisitos Específicos para as diferentes
categorias de produto (PSRs) - (categorias predefinidas de
parâmetros para a elaboração de declarações ambientais do
produto estabelecidas de acordo com a norma ISO/TR 14025).
Estes incluem as categorias de impacto que foram estudadas no
âmbito de cada produto e as linhas diretrizes para o estudo do
ACV.

Ressalta-se que as declarações tipo II são autodeclarações


ambientais, sem certificação independente, não são predefinidas e
nem os critérios usados correspondem aos comumente
considerados. Assim, a exatidão, a credibilidade e a confiabilidade
dessas autodeclarações são questionáveis em relação às
declarações ambientais do tipo I e III. De qualquer forma, as
autodeclarações dos produtos têm uma vantagem sobre as do tipo
I e III, pois são mais econômicas, dado que não estão envolvidos
custos de certificação ou de validação.

O programa brasileiro de rotulagem ambiental está em fase de


implantação e tem por coordenação a Associação Brasileira de
Normas Técnicas. A ABNT escolheu o colibri como símbolo para
representar a qualidade ambiental, conforme indicado na Figura 5:

Figura 5: Selo de Qualidade Ambiental - Brasil


A forma mais disseminada de
rotulagem ambiental é regulada pela norma ISO 14024 - Rotulagem
Ambiental - Guia para avaliação da conformidade com base em
análise multicriterial. A norma ISO 14024 estabelece quinze
princípios e práticas para a rotulagem ecológica.

Agora você aprendeu que o selo verde é um rótulo colocado em


produtos comerciais, trazendo informações que asseguram que
eles não foram produzidos à custa de um bem natural que foi
degradado ou que seu uso, embalagem ou o resíduo que dele
resultar, não irá causar malefício ambiental.

Indicadores de desempenho ambiental e avaliação de


desempenho ambiental
É fundamental que você entenda alguns termos para poder realizar
o Ciclo de Vida do Produto ou implantar um Sistema de Gestão
Ambiental. Por isso, abordaremos a seguir o que são indicadores
de desempenho ambiental e avaliação do desempenho ambiental.

Segundo Barbieri (2016, p. 152):

(...)desempenho ambiental refere-se aos resultados mensuráveis


relacionados à gestão de aspectos ambientais. No contexto do
SGA, esses resultados podem ser medidos em relação à política
ambiental, os objetivos ambientais e outros critérios, usando
indicadores ambientais. Estes, por sua vez, são representações
mensuráveis das condições de operações, gestão ou
condicionantes.

Agora, quando se trata de avaliação do desempenho ambiental,


considera-se como uma ação contínua de coleta e avaliação de
dados que ofereça uma avaliação atual de desempenho e as
tendências de desempenho ao longo do tempo. Vale ressaltar que
é fundamental que ocorra o monitoramento nesse processo, pois
permite identificar as correções e ajustes necessários dentro da
ideia de melhoria contínua. (BARBIERI, 2016, p. 153).

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