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UNIVERSITAS i er eene Peer) Sree Rea emily E DIREITO 2012 Rene assis Deere eee ea Académico: Do Direito a Justiga Del 1: 10.7213/UNIVERSITAS.7488 Licenciado sob uma Licenga Creative Commons O PROBLEMA DA SOCIEDADE DE CONSUMO NA SOCIEDADE DE RISCO E A ALTERNATIVA PELA VIA DA SUSTENTABILIDADE THE PROBLEM OF CONSUMER SOCIETY IN RISK SOCIETY AND THE ALTERNATIVE FOR SUSTAINABILITY Cyntia Costa de Lima Mestranda em Direito Ambiental da Universidade Estadual do Amazonas (UEA). Bolsista da Fundagao de Amparo a Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM). Advogada. Cecilio Arnaldo Rivas Ayala Doutorando em Direito Econémico e Socicambiental da Pontificia Universidade Catélica do Parané (PUCPR). Mestre em Direito Ambiental e Urbanismo (Université de Limoges, Limoges - Franca). Advogado e Notério. Docente da Universidad Privada Del Este (Presidente Franco - Paraguai), RESUMO Objetiva-se apresentar no presente trabalho o problema desencadeado dentro da nova sociedade de consumo, em uma coletividade cujos parémetros de satisfacdo de necessidades foram radicalmente modificados na contemporaneidade, Nesse contexto se propde analisar tal comportamento contrastando-o com a Teoria da Sociedade de Risco, que desde seu inicio tenta identificar esses fatores, assim como a sua génese & consequéncias da realidade composta atualmente. Observase que 0 consumismo em excesso desencadeou diversos problemas ambientais, de dimensdes perigosas, tendo em vista a mudanga no perfil do lixo produzido diariamente. Com 0 avango da tecnologia, materiais como plésticos, isopores, pilhas, baterias de celular e lampadas s8o presence cada vez mais, constante na coleta de lixo, de dificil decomposic&o e absorcSo pela natureza e grandes causadores de poluig#o urbana. Nesse contexto pretende-se propor que existem multiplas formas de denominar a UNIVERSITAS i er eene Peer) Sree Rea emily E DIREITO 2012 Rene assis Deere eee ea Académico: Do Direito a Justiga Del sociedade que vivenciou a mudanga de paradigma da sociedade agraria para a industrial, e desta para atual. Ha, na verdade, um amplo debate entre os socidlogos acerca da passagem do periode moderno para 0 963- moderno. Merece preocupaclo dos gestores piiblicos e dos diversos setores da coletividade elaboraco de mecanismos para protecdo de nossos ecossistemas, nfo somente por meio da implementacdo de noves legislagées, mas também a aplicacéo de politicas publicas de conscientizagdo e educagio ambiental no intuito de gerar uma modificagéo, da conduta dos homens frente & natureza. Palavras-chave: Sociedade de Consumo, Sociedade de Risco. Sustentabilidade. ABSTRACT The goal of this paper is to present the problem triggered within the new consumer society, in a community whose satisfaction needs parameters, were radically modified in contemporary times. In this context the proposition is to analyze such behavior by contrasting it with the Theory of Risk Society, which since its inception attempts to identify these factors, a5, Well as its genesis and consequences in the reality composed today. It is, observed that the excessive consumerism has unleashed several environmental problems of dangerous dimensions, in view of the change in the profile of the garbage produced daily. With the advancement of technology, materials such as plastics, styrofoam, batteries, cell phone batteries and lamps are a increasingly constant presence in garbage collection, despite their difficult decomposition and absorption by nature and great cause of urban pollution. In this context the intention is to propose that there are multiple ways to name the society that hes experienced the paradigm shift from agrarian to industrial society, and for the current one. In fact there is a wide-ranging debate among sociologists about the transition from the modern period to the post-modern. The elaboration of mechanisms for the protection of our ecosystems deserves concern from public managers and the various sectors of the collectivity, not only through the implementation of a new legislation, but also the implementation of public policies for environmental education and awareness in order to generate a change in the conduct of men towards nature. Keywords: Consumer Society. Risk Society. Sustainability. Ter MEE Ea) eric 2111 a lett iN 0 Académico: Do Direito a Justia Del 1 INTRODUGAO A problematica ambiental é foco das grandes discussdes cientificas, politicas e sociais. Diante disto, a preservacao ambiental, uma das solugées apontadas para © problema, torna-se frequente nos discursos legais juridicos. Por este motivo, pretende-se neste trabalho, abordar a tematica de protecdo do meio ambiente, especialmente o Principio da Precaucdo, entendendo-o a partir da Teoria da Sociedade de Risco, de Ulrich Beck, buscando relacionar ao Direito ao Meio Ambiente ecologicamente equilibrado e aos Direitos Humanos. Ao iniciar este trabalho, faz-se necessdrio esclarecer que ndo se pode falar sobre meio ambiente distanciando-o dos seres humanos. Por isso, o segundo tépico trara ao debate conceitos e reflexdes relevantes para compreender esta relagao. Em seguida, faz-se importante para discussdo sobre o papel da nova Sociedade de Consumo no contexto da globalizagao, entender como o direito ao ambiente ecologicamente equilibrado ¢ considerado condigéio para uma qualidade de vida e reconhecimento da dignidade humana. Seguindo este pensamento, € relevante observar este direito na perspectiva da Sociedade de Risco, bem como 0 dilogo com os novos paradigmas trazidos pela sociedade de consumo atual e de como eles se inserem dentro do ambito da preocupagao com a protegao das geragées futuras 2 SOCIEDADE DE CONSUMO E GERAGAO DE RESIDUOS SOLIDOS Em um mundo onde os problemas ambientais se tornam cada vez mais agonizantes, o tema da preservacao se converte em requisito iniludivel para a supervivéncia dos povos. Uma significativa parte de tais problemas provém do manejo inadequado de substdncias, que se bem serviram a humanidade para SSIES Se renee ene ne Peer) Sree Rea emily E DIREITO 2012 Reto Heession Deere eee ea Académico: Do Direito a Justiga 17, 18 £19 DE OUTUBRO chegar ao nivel de avango tecnolégico que alcangou, tal avango foi produzido em troca do pagamento de um alto prego. ‘A Agenda 21 documento amplamente divulgado, produto da Conferéncia das NagGes Unidas sobre o Meio Ambiente e 0 Desenvolvimento que tem como objetivo fundamental a tentativa de promover em escala mundial, um novo padréo de desenvolvimento, conciliando métodos de protegéo ambiental, justica social e eficiéncia econémica estabelece em um dos seus capitulos: (...) 0 manejo ambientalmente saudavel dos residuos deve ir além do simples depésito ou aproveitamento por métodos seguros dos residuos gerados e buscar resolver a causa fundamental do problema, procurando mudar os padroes nao sustentéveis de produgao © consumo. Isso implica ‘na utllizagao do conceito de manejo integrado do ciclo vital, 0 qual apresenta oportunidade unica de coneiliar 0 desenvolvimento com a protegao do meio ambiente. (..) em consequéncia, a estrutura da acao necessaria deve apoiar-se em uma hierarauia de objetivos e centrar-se nas quatro principais areas de programas relacionadas com os residuos, a saber: a) redugao_ ao minimo de residuos; b) aumento ao maximo da reutiizagao © reciclagem ambientaiments saudaveis dos residuos; c) promogao do depésito © tratamento ambientalmente saudaveis dos residuos; ¢, d) ampliacao do alcance dos servigos que se ocupam dos residuos. Hoje, 0 estudo da sociedade de consumo, suas caracteristicas e seus Teflexos ocupa um espaco muito importante na operagaio das empresas, seja pelo seu potencial econémico, ou por sua importancia para a preservagao dos recursos @ protegao do meio ambiente. Por parte do Estado séo cada vez mais rigorosas as legislagdes no referente a protecao do consumidor, como por exemplo: o descarte de embalagens, sobrantes e outros produtos, ou pelo lado das empresas a implementagao da logistica reversa, s6 por citar uma, assim como também as empresas sao obrigadas a desenvolver estratégias que possam capter mais novos consumidores, e em consequéncia manté-los sob controle. * MIM. Ministério do Meio Ambiente. Agenda 21. Disponivel em: . Acesso,em: 12 set. 2012 Ter MEE Ea) eric 2111 a lett iN 0 Académico: Do Direito a Justia 17, 18 £19 DE OUTUBRO ‘Ao longo da histéria, os residuos gerados pelo ser humano eram basicamente formados por matéria organic, de facil absoreao pela natureza, razio pela qual nao se observavam profundas alteragdes no equilibrio ambiental, ou seja, na capacidade do meio ambiente de reciclar a matéria transformada pelo ser humano. Com 0 surgimento da atividade agricola e da produgdo de ferramentas e de armas — gragas ao dominio de técnicas de manuseio e exploragao de alguns metais, a produgdo destes residuos se dava em pequena escala, néo gerando grandes impactos sobre o meio ambiente (MORELLI; RIBEIRO, 2009, p. 9) Porém, no fim da Idade Média, houve a substituig&o gradual do modelo de fabricagao doméstica para o sistema fabril e das ferramentas de trabalho para maquinas. Gracas a este processo, somado ao avango das pesquisas cientificas, acumulagao de capital e utilizagao da energia a vapor, foi possivel o surgimento de induistrias capazes de gerar uma producao em série de bens e produtos (GIBRAN; EFING, 2011, p. 130). Esse fendmeno, o da Revolugdo Industrial, que ocorreu na segunda metade do século XVIII, representou um marco histérico para a humanidade, dando o inicio a fase Modema. O novo modelo inaugurado pés fim ao sistema mercantilista que predominava até entéo para dar origem a um novo modelo econémico, o Capitalismo. Dentre as diversas transformagdes ocorridas proporcionadas pela Revolugao Industrial 6 importante destacar 0 aumento populacional, o crescimento das concentragées urbanas e, especialmente, o avango tecnolégico que, somado ao desenvolvimento dos métodos dominantes de produgao, intensificou a apropriagao dos recursos ambientais, proporcionando o desenvolvimento industrial. Para Marx (2003, p. 582-283): a necessidade de controlar socialmente uma forca natural, de utilizé-la, de apropriar-se dela ou dominé-la por meio de obras em grande escala feitas pelo homem desempenhou um papel decisivo no surgimento e desenvolvimento da industria. SSIES Se renee ene ne Peer) Sree Rea emily E DIREITO 2012 Reto Heession Deere eee ea Académico: Do Direito a Justiga 17, 18 £19 DE OUTUBRO Sob a influéncia dessa linha de pensamento, o capitalismo emergiu sob 0 pensamento econémico baseado na escola classica, consolidada por Adam Smith, conforme explica Figueiredo (1998, p. 60-61): Com a. Revolucao Industrial, ocotre uma mudanga no pensamento econémico que vai desempenhar um papel fundamental nas relagdes entre © homem @ a natureza. Esta mudanga consiste basicamente na substituigao do pensamento fisiocrata, liderado por Frangois Quesney no século XVIll, pela escola classica, consolidada por Adam Smith na segunda metade do século XVIIL No que se referem ao meio ambiente, os fisiocratas consideravam a ‘natureza" como verdadeira forga produtiva e, portanto, eram muito valorizadas as atividades ligadas ao meio rural, ou ditas “atividades rurais" Ja a visdo dos adeptos da escola classica, a preocupagao com 0 meio ambiente era absolutamente inexistente e as relagSes de mercado deveriam ser estabelecidas pela livre concorréncia, regulada pela lei da oferta e da procura. Para Duarte (2003, p. 31), © modelo produtivo no qual se apoiou a Revolugao Industrial, comandado pela alta burguesia e executado pelo operariado, imprimiu um ritmo de desenvolvimento que exigia uma intensa produgao de bens de consumo e, consequentemente, uma continua e crescente exploragao dos recursos naturais, sem respeitar a capacidade de suporte dos nossos ecossistemas. A partir dal, surge a burguesia industrial, e 0 aumento significativo da classe dos trabalhadores assalariados Nesse contexto, as sociedades estamentais passaram por um processo de reconfiguragao, transformando-se em sociedades de classes, em que o poder politico e econémico se transfere das maos dos proprietarios de terra (aristocracia rural) para as mos dos proprietarios dos meios de produgao industriais (burguesia industrial). Como se verifica, tratava-se de uma sociedade verticalmente organizada, 0 que se evidenciava na valorizac&o do poderio e das fungées militares, nas quais se privilegiava a hierarquia em sua forma mais pura. O trabalho constituia 0 eixo identitério da sociedade industrial, determinando 0 papel do individuo. Ao descrever SSIES Se renee ene ne Peer) Sree Rea emily E DIREITO 2012 Reto Heession Deere eee ea Académico: Do Direito a Justiga Del essa nova sociedade, denominada por muitos como, sociedade industrial, Bauman (2008, p. 72) assinala as seguintes caracteristicas: Por conseguinte, a obediéncia as ordens ¢ a conformidade @ regra, a admissao da posigdo atribulda, ¢ sua aceitago como indiscutivel, a tolerancia a trabalhos pesados e a submissdo a uma rotina monétona, a disposigao de adiar a satisfacao © a aceitacao resignada da ética do trabalho (significando, em resumo, 0 consentimento em trabalhar por amor a0 trabalho, fosse ele importante ou nao) eram os principais padroes comportamentais trinados @ ensaiados com ardor por esses membros, na expectativa de que fossem aprendidos e internalizados, ‘A mudanga no comportamento da sociedade, com o advento da modemidade, tem sua origem atribuida, ainda, a dupla face da nova racionalidade implantada numa relagdo contraditoria entre a primazia do trabalho como gerador de capital, que seria ent, o fim ultimo da sociedade: ‘A necessidade constante de aumentar a produtividade do trabalho tornou 0 Capitalismo excepcionalmente dindmico, sempre a gerar novas tecnologias @ 0 assim chamado crescimento econémico. Mas a pressao do mercado que 0 torna dinamico tom efeitos contraditérios. [...] Ao mesmo tempo a pressao para reduzir os custos da mao-de-obra pode ao mesmo tempo reduzir a demanda de bens e servicos - que precisa que as pessoas, inclusive os trabalhadores, tenham dinheiro no bolso. (WOOD, 2003, p. 40) Como se nota, a nova racionalidade moderna traz a criagéo do ciclo “demanda pelo capital — necessidade de trabalhadores para produzir’. Contudo, posteriormente, no fim do século XX, as condigdes modemas, que, antes, valorizavam o trabalho, sofreram alteragdes na medida em que as inovagdes tecnolégicas deste periodo possibilitaram uma gradativa substituigao das praticas capitalistas anteriores. Nesse contexto, apés as crises do capitalismo ocorridas especialmente na década de 70, nota-se um movimento de reestruturagao do capitalism, que teve a SSIES Se renee ene ne Peer) Sree Rea emily E DIREITO 2012 Reto Heession Deere eee ea Académico: Do Direito a Justiga Del ténica de proporcionar uma gradativa anulagao do contrato social entre capital e trabalho, pela desregulamentagao e liberalizagao do mercado financeiro e por muitas mudangas empresariais. Essas medidas impuseram uma disciplina econémica comum aos paises da nova economia global, através da atividade dos bancos centrais e do Fundo Monetario Internacional (CAPRA, 2006, p. 147). E nesse contexto que se observa, por meio dos fluxos financeiros globais, a tentativa de desagregacdo entre os elementos trabalho e capital, uma vez que este ultimo passou a ser constituido de forma virtual, gragas ao avango da tecnologia, desvinculando-se do trabalho humano (CAPRA, 2006, p. 148-149). ‘Além da separago entre mercado e capital, as novas tecnologias acabam trazendo influéncias no que tange a oferta excessiva de produgao pela via do fomento dos processos de automagao registrado nesse periodo, ocasionando um excedente na produgdo, fato que determinou a abertura de novos polos de consumo. No campo econémico, por exemplo, péde-se notar o surgimento de um mercado global e de empresas globais com 0 consequente declinio das empresas nacionais; especializagao flexivel e descentralizagao da produgdo, modemizagao das estratégias de marketing e a técnica de produgdo em massa; aumento da terceirizagao, franquias; aumento de trabalhadores etc. (KUMAR, 2006, p. 91) No campo social, houve a intensificagao da cultura e ideologia em diregao ao desenvolvimento e promogao de modos de pensamento e comportamento mais individualistas. Nesse contexto, o consumismo passou a ser um dos instrumentos do novo capitalismo (BAUMAN, 2008). Merece destaque, ainda, o fendmeno da globalizagao”, que alavancado pela virtualizagéo das comunicagées proporcionada pela internet, foi fator determinate * Fenémeno de aprofundamento da integracéo politica, econémica, social, cultural, possibilitada pela abertura das economias e das respectivas fronteiras entre os palses (tanto desenvolvidos quanto subdesenvolvidos), resultante do acentuado crescimento das trocas de mercadorias, da intensificago dos movimentos de capitals, da circulagdo de pessoas, do conhecimento e da informagao. Para Fritjot Capra (2006, p. 141-143], no decorrer da dltima década do século XX, cresceu entre os empresérios, pollticos, cientistas socials, ideres comunitérios, ativistas de movimentos populares, artistas, historiadores da cultura e mulheres e homens comuns a todas as classes socials a percepsio de que um novo mundo estava surgindo — um mundo para designar as Ter MEE Ea) eric 2111 a lett iN 0 Académico: Do Direito a Justia 17, 18 £19 DE OUTUBRO para a insergéo dos paises considerados subdesenvolvidos no mercado de potenciais consumidores de bens produzidos pelos paises centrais. Em decorréncia houve uma significativa mudanga no cenario econémico mundial, transfigurou-se a sociedade de produgao em sociedade de consumo. Para fins didaticos, neste trabalho sera utilizado 0 termo “sociedade de consumo” adotado por Baudrillard (2006) para se referir ao atual estagio da sociedade, iniciado nos fins do século XX, momento em que se registrou um significativo aumento da oferta e consumo de bens e produtos diversificados, desencadeando diversos problemas ambientais associados ao actimulo de residuos pés-consumo, conforme sera visto mais adiante. Para o referido autor, a sociedade de consumo ndo se refere apenas a profusao dos bens e dos servigos, mas também pelo fato ainda mais importante de que tudo é servigo: “o que se oferece para consumir nunca se apresenta como produto puro e simples, mas como servigo pessoal e como gratificaco” (BAUDRILLARD, 2006) 3 A TEORIA DA SOCIEDADE DE RISCO E OS PROBLEMAS AMBIENTAIS Quanto a caracterizagéo da nova racionalidade adotada pela sociedade, Beck (1998, p. 5-6), por sua vez, utiliza 0 termo “sociedade de risco" que segundo ele, ainda encontra-se em fase de compreensao, pois nao se pode definir com clareza esse tipo de sociedade, assim como todas as outras denominagdes que tentam dar conta da contemporaneidade, dai as hesitagdes e a profuséo de nomes e perspectivas teoricas. Para este autor: Assim como no século XIX a modemizacao dissolveu a esclerosa sociedade agréria estamental ©, a0 depuré-la, extraiu a imagem estrutural da sociedade industrial, hoje a modemizagao dissolve os contornos da extraordinarias mudangas @ © movimento aparentemente irresistivel por milhGes de pessoas foi a “globalizacao”. UNIVERSITAS i er eene Peer) Sree Rea emily E DIREITO 2012 Reto Heession Deere eee ea Académico: Do Direito a Justiga Del sociedade industrial e, na continuidade da modemidade, surge uma outra configuragao social. (BECK, 2003, p. 12-13) Assim, a sociedade de risco, para Beck se traduz pela presenga constante de diversos paradoxos: enquanto a modernidade trabalhou no sentido de trazer mais certeza as informagées, no entanto, o que se nota como resultado € que a incerteza aumenta juntamente com a diversidade de informagées. Enquanto a ciéncia trabalha para conseguir compartimentar os saberes e aumentar a eficiéncia tecnologica para melhorar a qualidade de vida, vé-se que as consequéncias negativas desse processo acabam sem solucao, havendo o que Beck chamou de “irresponsabilidade organizada’, pois ninguém assume a responsabilidade pelas incertezas e riscos (BECK, 2002, p. 9). Esse paradoxo, portanto, redunda em que somente uma minoria desfrute dos beneficios do capitalismo, enquanto os riscos financeiros sao suportados indistintamente por todas as classes (BECK, 2002, p. 10) Essa nova configuragdo social, voltada agora para o consumo possul tragos distintos, cujos mecanismos estéio em constante inovac&o e cujas caracteristicas podem ser descritas da seguinte forma: Pode-se caracterizar empiricamente a “sociedade de consumo’ por diferentes tragos: elevagao do nivel de vida, abundancia das mercadorias € dos servigos, culto dos objetos @ dos lazeres, moral hedonista materialista, etc, Mas, estruturalmente, 6 a generalizacao do processo de moda que a define propriamente. A sociedade centrada na expansao das necessidades ¢, antes de tudo, aquela que reordena a produgdo e 0 consumo de massa sob a lei da obsolescéncia, da seducao e da diversificagao, aquela que faz passar 0 econdmico para a érbita da forma moda, (LIPOVETSKY, 1989, p. 159) Observa-se, com isso, 0 deslocamento da produgao para o consumo, onde o exército de trabalhadores, disciplinados e alienados foi gradualmente substituido pela grande massa agora engajada e inserida na sociedade para desempenhar o papel de consumidores, papel este responsdvel por classificar o nivel de vida das UTS ee yee eee gente Ter MEE Ea) eric L130) a ertonntreee IV Simpésio Acadmico: Do Direito a Justica 17, 18 £19 DE OUTUBRO pessoas. Conforme Beck (2010, p. 14), anteriormente (na fase moderna), o trabalho era o principal meio de identidade, protegao e integrag&o social do individuo. Baudrillard (1995, p. 70) afirma que, durante o século XX, os muitos mecanismos através dos quais © capitalismo ocultou seu carater explorador tém mudado seu centro de gravidade, do campo da produgao para o do consumo. O consumo tem substituido a produgo como o principal reino da atividade social, no mundo crescentemente das sociedades ditas “pos-modernas’. Para Rodrigues (1996, p. 74), 0 proprio corpo humano nas sociedades pés- industriais® sofre uma mutagéo: de corpo-ferramenta (deformado pelas linhas de montagem, misculo e forga para dar impulso ao sistema de produgao) para corpo consumidor (livre para ser estetizado, vestido, moldado e medicalizado, cuja miss4o € comprar e digerir toda a produgao de bens e servigos). Instala-se, assim, em seu interior, uma “epifania do objeto”, em que sua natureza corpérea, tal como a conhecemos, esté em vias de desaparecimento. Ha multiplas formas de denominar a sociedade que vivenciou a mudanga de paradigma da sociedade agraria para a industrial, e desta para atual. Ha, na verdade, um amplo debate entre os socidlogos acerca da passagem do periodo moderno para 0 pés-moderno. Enquanto alguns autores como Lyotard e Bell, entendem que a era Moderna teve inicio no final do século XX (KUMAR, 2006, p. 174-175), dando origem a outro periodo denominado pés-modernidade, outros como Bauman e Giddens acreditam que o atual estagio do capitalismo nao rompeu totalmente com as estruturas sobre as quais se apoiaram as praticas anteriores deste modelo econdmico, havendo uma modemizagao das mesmas, possibilitando uma nova configuragao social engendrada pelas transformagdes registradas nesse periodo (KUMAR, 2006, p. 178-179). 3 Na décade de 60 e principio da década de 70, vérios socidlogos ilustres formularam uma interpretagao da sociedade moderna que rotularam de teoria da sociedade pés-industrial. O proponente mais conhecido dessa ideia foi 0 socidlogo de Harvard, Daniell Bell (KUMAR, 2005, p. 13). Tal termo, 2 semelhanga do também utiizado sociedade pés-moderna, ¢ utiizado para denominar 0 estigio da sociedade iniciado a partir das transformagées ocorridas no fim do século XX. Ter MEE Ea) eric 2111 a lett iN 0 Académico: Do Direito a Justia Del Sobre esta diviséo da modernidade, no contexto da sociedade de risco, vem afirmar a existéncia de uma primeira modemidade, a qual ele caracteriza pela via histérica do surgimento dos Estados-Nacdes e ideias de progresso por meio do controle da natureza; e, apés, uma segunda modernidade, que seria caracterizada pelo desatio constante de responder aos problemas ocasionados pela primeira modemidade, que poriam em xeque as certezas e 0 controle tipicos da condigao moderna (BECK, 2002, p. 2). Na sociedade de consumo, configurada nos fins do século XX, a aquisigao de bens e servigos menos utilitarios que simbdlicos e repletos de significagao cultural passou a refietir com mais vigor os valores sociais pautados hedonismo, ambigao material e opuléncia, fundados em infinitas possibilidades (pois dependem unicamente da criatividade humana), devendo ser aproveitadas ao maximo, independentemente do meio escolhido para sua fruic4o. Sobre o assunto, manifesta- se Bauman (2009, p. 105): ‘A sociedade de consumo tem por premissa satisfazer os desejos humanos de uma forma que nenhuma sociedade do pasado péde realizar ou sonhar. A promessa de satisfacao, no entanto, s6 permanecera sedutora enquanto © desejo continuar irrealizado; o que € mais importante, enquanto houver uma suspeita de que 0 desejo nao foi piena e totalmente satisfeito 4 PLEITEANDO NOVOS PARADIGMAS PARA A PROBLEMATICA GERADA PELA SOCIEDADE DE CONSUMO Segundo Portilho (p. 22-23), além da sociedade de consumo nao ter sido eficiente em prover a todos uma vida digna, criou um mito de felicidade mensuravel através de bem-estar, objetos, conforto e signos, reduzindo 0 cidadao a esfera do consumo, que € constantemente cobrado por uma espécie de “obrigacao moral e civica de consumir’. A ideia mostra-se claramente corroborada por Bauman (2008, p. 75), para quem consumir significa “investir na afiliagéio social de si proprio”. Dai SSIES Se renee ene ne Peer) Sree Rea emily E DIREITO 2012 Reto Heession Deere eee ea Académico: Do Direito a Justiga 17, 18 £19 DE OUTUBRO infere-se que 0 consumo de bens e as préprias necessidades sao dirigidas por uma elite para as outras categoriais sociais. O mesmo autor acrescenta ainda que 0 consumismo nao sé constitui um fator que confere a uma sociedade o status de éxito econdémico, mas também ressalta as diferengas e as desigualdades existentes entre as classes sociais: Quanto mais elevada a “procura do consumidor” (isto &, quanto mais eficaz a sedugao do mercado), mais @ sociedade de consumidores ¢ segura € prospera. Todavia, simultaneamente, mais amplo e mais profundo é 0 hiato entre os que desejam © os que podem satisfazer seus desejos, ou entre os, que foram seduzidos e passam a agir do modo como essa condigao 0s leva a agir e os que foram seduzidos, mas se mostram impossibilitados de agir do modo como se espera agirem seduzidos. A sedugao do mercado 6, simultaneamente, a grande igualadora @ a grande divisora. Os impulsos. sedutores, para serem eficazes, devem ser transmitidos em todas as diregdes € dirigidos indiscriminadamente a todos aqueles que ouvirao. No entanto, existem mais daqueles que podem ouvi-lo do que daqueles que podem reagir do modo como @ mensagem sedutora tinha em mira fazer aparecer. O consumo abundante é-Ihes dito e mostrado, é a marca do sucesso @ a estrada que produz aplauso publico e 2 fama. (BAUMAN, 1998, p. 55.56) Porém, © consumismo em excesso desencadeou diversos problemas ambientais, de dimenséo perigosa tendo em vista a mudanga no perfil do lixo produzido diariamente. Com o avango da tecnologia, materiais como plasticos, isopores, pilhas, baterias de celular e lampadas so presenga cada vez mais constante na coleta de |ixo, de dificil decomposicéo e absoreao pela natureza e grandes causadores de poluicdo urbana. Nessa linha se posiciona Freitas (2005, p. 240): E importante que todos se déem conta que, ao consumir exageradamente ou a0 omitir-se, estao colaborando para a extingdo dos recursos naturais. Assim, através de praticas diarias, pode 0 consumidor fazer sua parte © contribuir em muito para a preservacao do meio ambiente. Isso pode ocorrer através de praticas negativas (por exemplo, deixar de comprar um produto explorado irracionalmente) e por praticas positivas (por exemplo, apontar 0 Uso racional da agua para um empregado encarregado da limpeza), UNIVERSITAS i er eene Peer) Sree Rea emily E DIREITO 2012 Reto Heession Deere eee ea Académico: Do Direito a Justiga 17, 18 £19 DE OUTUBRO Conforme assinala Portilho (2005, p. 23), o consumo total da economia humana tem excedido a capacidade de reprodugao natural e assimilagao de rejeitos da ecosfera, enquanto fazemos uso das riquezas produzidas de uma forma socialmente desigual e injusta. Essas duas dimensdes, exploragao excessiva dos recursos naturais e iniquidades inter e intrageracional na distribuigao dos beneficios oriundos dessa exploragao, conduziram a reflexao sobre a insustentabilidade ambiental e social dos atuais padroes de consumo e seus pressupostos ético- normativos. Assim, 0 modelo econémico atual traz consigo o desenvolvimento tecnolégico, criado gerado para 0 conforto e 0 bem-estar do individuo, levando a intensificagdo do uso de materiais descartaveis, ocasionando, por conseguinte, um aumento da quantidade de residuos gerados e nao utilizados pelo individuo, E curioso notar que a quantidade de lixo € considerada um indicador de desenvolvimento de uma nagao, confirmando a implementacdo da légica do consumismo como fator medidor de sucesso, a que se referiu Bauman anteriormente. Quanto mais pujante for a economia, mais rejeitos o pais produzira. Portanto, 0 descarte de residuos, notadamente, assinala que o pais analisado esta crescendo, pois as pessoas estéio consumindo mais (LIMA, 1999). Assim, superou-se, com o passar do tempo, a ideia de inesgotabilidade dos recursos naturais vigente até a Revolucdo Industrial, ganhando forca, por isso, a preocupagao dos ambientalistas de todo 0 mundo ao sinalizar a faléncia do modelo de produgao econémica praticado pela sociedade avida por consumismo. Essa possibilidade de esgotamento dos recursos naturals, bem como as demais preocupagdes levantadas pelos ambientalistas precede uma captura das ideias de preservagao ambiental pelos mercados com vistas a sua propria sobrevivéncia, uma vez que a desigualdade social e a degradagao ambiental comegam a aparecer — junto com 0 desenvolvimento da globalizag4o — como fatores que geram certo ressentimento da sociedade, em vista das consequéncias negativas ocasionadas (CAPRA, 2006, p. 167). Assim, nota-se uma tendéncia de UNIVERSITAS i er eene Peer) Sree Rea emily E DIREITO 2012 Reto Heession Deere eee ea Académico: Do Direito a Justiga 17, 18 £19 DE OUTUBRO reestruturagao do sistema econémico para que possa subsistir diante das demandas ecoldgicas e sociais. ‘Aos poucos, 0s problemas de individuos e pequenos grupos passaram a ganhar uma outra dimensao, aleangando a toda uma comunidade e suscitando a atengao dos governos. No século XX, notadamente com a explosa demografica @ industrial, a relagao do homem com o meio ambiente circundante passou ganhar outros contomos, nao se limitando a preocupacao com os recursos naturais, mas se desiocando para o problema da garantia da prépria vida do homem na Terra, essénoia do que hoje se compreende como questéo ou problemética ambiental, como aqui denominamos. (DUARTE, 2003, p. 22) Portanto, 0 avango das tecnologias e incentivo ao consumismo gera consequéncias negativas, na forma de extemalidades, prejudiciais propria sociedade: Quanto mais a sociedade se torna “préspera, urbana, tecnologicamente avancada, economicamente dindmica, ¢ inovadora no campo da quimica’, mais complexos e urgentes se torna 0 problema das externalities, pelo que 86 acenttia a necessidade de intervengao @ controle governamental (CAPPELETTI, 1993. p. 36) Porém, tendo em vista essas negatividades, a partir da segunda metade do século XX, nota-se um ganho de forga advindo do discurso ambientalista, tendo-se alguns marcos, desde a publica¢ao de “Silent Spring’, de Rachel Cason, passando pelos alertas de Thomas Malthus, até o Relatério ‘Limites do Crescimento’, elaborado pelo Clube de Roma em 1972 (SILVA, 2009, p. 12-13), quando se buscou chamar a atengao para as consequéncias do modo de produgao atual para o meio ambiente e para a sociedade. Assim, nota-se 0 inicio da constituigao de uma preocupacdo internacionalizada com a questao do meio ambiente: “no final dos anos 60, 0 grito de alarme dos cientistas [...] ¢ a mobilizagdo da opiniao publica deram impulso 4 emergéncia do direito ambiental internacional” (SILVA, 2009, p. 27) SSIES Se renee ene ne Peer) Sree Rea emily E DIREITO 2012 Reto Heession Deere eee ea Académico: Do Direito a Justiga Del E nesse sentido que os problemas ambientais ganham notoriedade na arena internacional, pois ha a necessidade de uma solugao global para a questéo ambiental. Dentre os problemas ambientais destacam-se entao (alterei um pouco a redag&o) 0 buraco na camada de oz6nio, 0 aquecimento global da Terra, e a escassez de recursos naturais em geral, que despertaram a populagéo mundial sobre as consequéncias da exploragao abusiva dos recursos. Nesse sentido, Leff (2002, p. 59) assinala que: A problematica ambiental — a poluigao e degradagao do meio, a crise de recursos naturals, energéticos de alimentos — surgiu nas vilimas décadas, do século XX como uma crise de civlizaao, questionando a racionalidade econémica e tecnolégica dominante. Esta crise tem sido explicada a partir de uma diversidade de perspectivas ideolégicas. Por um lado, é percabida como resultado da presséo exercida pelo crescimento da populacao sobre 0s limitados recursos do planeta. Por outro, é interpretada como 0 efeito da acumulacao de capital e da maximizagao da taxa de lucro a curto prazo, que induzem a padrdes tecnolégicos de uso e ritmos de explorago da natureza, bem como formas de consumo. que vem esgotando as reserves, de recursos naturais, degradando a fertiidade dos solos e afetando as, condigbes de regeneragao dos ecossistemas naturais. Nesse “despertar’, a questo da geragao e destinacao final do lixo ganhou relevo nos debates dos atores sociais e passou a fazer parte das agendas politicas, inclusive em Ambito internacional - considerando-se, por exemplo, a questéo do movimento transfronteirigo. de residuos perigosos e até mesmo, questdes econémicas, como no caso dos pneumaticos recauchutados* Nesse sentido, cabe ressaltar que o Principio 8 da Declaragao sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92) faz referéncia expressa aos padrées de consumo, ao afirmar que “para aleangar o desenvolvimento sustentével e uma * 0 Brasil, por meio da Resolugdo Conama 258/99, adotou medidas que afetaram as importagbes de pneus reformados, Posteriormente, a Unio Europela questionou tal medida adotada pelo governo brasileiro perante ‘0 OMC (Organiza¢o Mundial do Comércio) sob a alegaco de o pais estava descumprindo normas previstas no GATT (General Agreement of Tarifs and Trade), com 0 intuito de eliminar obstaculos & entrada desses residuos no mercado brasileiro. Assim, em 2006, foi criado um painel arbitral a pedido da Comunidade Europeia, que decidiu 0 caso a favor da aplicago da politica ambiental brasileira e de satide no que se refere a proibicao de pneus inserviveis. UTS ee yee eee gente Ter MEE Ea) eric L130) a ertonntreee IV Simpésio Acadmico: Do Direito a Justica 17, 18 £19 DE OUTUBRO qualidade de vida elevada para todos, os Estados devem reduzir e eliminar os padrées insustentaveis de produgo e consumo, e promover politicas demograticas adequadas’. O reconhecimento da necessidade de reducao e eliminacao de padrdes insustentaveis de produgdo e consumo, ainda que em um texto internacional de soft law — Declaragao do Rio de 1992 - marca um importante salto rumo ao reconhecimento da urgéncia na mudanga de tais padrées das sociedades contemporaneas. Ainda no plano internacional, outro documento conferiu especial atengao ao ideal do consumo sustentavel. Trata-se da Agenda 21, programa de ago elaborado com o objetivo de dar efeito pratico aos principios adotados na Declaragao do Rio 92, dedicando um capitulo especifico para tratar do tema “Mudancas dos padrées de consumo” (Capitulo 4), destacando, igualmente, a importancia do tratamento da questéo. Destaque-se ainda, que o documento final aprovado pela Rio+20 (2012, p. 29) nao s6 reafirmou os principios j4 previstos na ocasiao daquele evento, como também se manifesta o apoio a gestao sustentavel dos residuos mediante a aplicagdo dos 3Rs (redugao, reutilizacao e reciclagem)°, Assim, a realidade ambiental presenciada atualmente remete a consideragao da necessidade de mudangas imediatas na utilizagéo e destinagdo dos recursos naturais e, principalmente, no repensar o modo de vida da sociedade © sistema de produgo capitalista tem como fundamento a redugao de custos. Por consequéncia, as medidas adotadas para alcangar tal objetivo nao levam em conta os impactos causados durante a etapa de fabricagao dos bens de consumo. Daj a necessidade de o Poder Publico editar normas voltadas para a prevengao de danos ambientais. Ha multiplas formas de denominar a sociedade que vivenciou a mudanga de paradigma da sociedade agraria para a industrial, e desta para atual. Ha, na verdade, um amplo debate entre os socidlogos acerca da passagem do periodo moderno para 0 pos-modemo (COSTA, 2004, p. 35). Tal fato merece preocupacdo 5 CE documento final produzido na Conferéncia Rio+20, intitulado El futuro que queremos. Disponivel em: _chttp://daccess-dds-ny.un.org/dec/UNDOC/ATD/N12/436/31/PDF/N1243681pdf?0pentlement>. Acesso em: 15 ago. 2012. c Dem CRB rel} Peer) Sree Rea emily E DIREITO 2012 Rene assis Deere eee ea Académico: Do Direito a Justiga 17, 18 £19 DE OUTUBRO dos gestores piblicos e dos diversos segmentos da sociedade, tendo em vista que as propriedades fisico-quimicas deste material constituem uma ameaga & qualidade ambiental de nossos ecossistemas. 5 CONSIDERAGOES FINAIS Sem duvida, a conscientizago da populagao, e a modificagéo de condutas estabelecendo um novo modelo de consumo, 0 consumo consciente constitui fetramenta indispensavel para o desenvolvimento sustentével, para a tutela efetiva do meio ambiente e logicamente também para que o Brasil ocupe um lugar de destaque como pais que possui uma politica séria que amalgama crescimento, progresso e sustentabilidade, no entanto sabemos que no caminho existiram dificuldades, como um maior conhecimento dos processos de elaboragao e até do retorno dos produtos, e a escolha desses produtos tendo em conta varios elementos de importncia relevante. A maior parte da responsabilidade sera do governo, pois bem sabido que o Brasil € um pais eminentemente normativista, uma nac&o que se caracteriza por regulamentar tudo, mas isso nos chama a refletir que, efetivamente 0 marco normativo € uma condig&o necessaria, quase imprescindivel, para a governabilidade do sistema, porém nao € 0 suficiente. Nao € possivel modificar a realidade mediante um decreto. Pensar o planificar ecologicamente exige consideragdes sobre um horizonte de tempo e uma adequada percepoao do meio. Implica entender a realidade que nos cerca como um ‘espago multidimensional de grande complexidade. Pensar ou planificar ecologicamente significa considerar ao meio em sua dimensao natural e social. Implica identificar os problemas de hoje e de amanha: sintonizar presente e futuro. UNIVERSITAS er poe aaNet oe 17, 18 £19 DE OUTUBRO Para isso, os dirigentes ao formular politicas, arriscar estratégias, legislar, desenhar e planificar agdes ambientais concretas, que devem transpor os limites temporais e espaciais, a formagao e a conscientizagao devem apontar para esse rumo. No entanto, o que fazer, enquanto os que tém o poder de resolver a sorte de muitas pessoas entendam que sua decisdo deve ser a mais correta e adequada a necessidade existente e 20 tempo? Que bem sabemos de fato exige uma modificagéo urgente. Esse € 0 maior dos nossos desafios, e conforme nos coloquemos a altura dele, chegaremos a nos converter nos arteséos de uma transformacao positiva na condigao humana, nossa geracao tem essa ferramenta nas maos, e se nao a utilizarmos, para a outra geragao restaré somente recolher os cacos. REFERENCIAS BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. Lisboa: Edigdes 70, 2000. BAUMAN, Zygmunt. Vida para 0 consumo: A transformagao das pessoas em mercadorias. 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