Neste texto, você compreenderá o que é um Sistema de Gestão
Ambiental (SGA) e a evolução dos principais sistemas de gestão ambiental ao longo do tempo. Verificará, também, quais são os requisitos necessários para uma organização estabelecer e implementar um sistema de gestão ambiental.
O QUE É SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL (SGA)
Vimos que a década de 1990 foi crucial para movimentar as empresas, principalmente no que diz respeito às preocupações com as questões ambientais.
As organizações responsáveis pela padronização e normalização
começaram a atender as demandas da sociedade e as exigências do mercado, estabelecendo procedimentos que refletissem suas preocupações com a qualidade ambiental e com a conservação dos recursos naturais.
Esses procedimentos tornaram-se os chamados Sistemas de
Gestão Ambiental. Estes sistemas, posteriormente, vieram a configurar-se como importantes componentes nas estratégias empresariais (NICOLELLA, 2004).
De acordo com o Regulamento nº 761/2001 estabelecido pela
Comunidade Europeia, os SGAs são:
uma metodologia construída a partir de instrumentos de gestão e
de atividades ambientais. Têm como objectivo a melhoria contínua do comportamento ambiental das organizações através da avaliação sistemática, objectiva e periódica dos aspectos ambientais da organização, da prestação de informações ao público e outras partes interessadas, e da participação activa dos trabalhadores da organização (LOPES et al, 2005).
Os países europeus deram o pontapé inicial nesse sentido,
destacando-se o Reino Unido, que por meio do British Standard Institution (BSI), criou, em 1992, a BS 7750. A Comunidade Europeia, em 1994, também criou uma legislação própria para os países membros, estabelecendo normas para a concepção e implantação de um sistema de gestão ambiental, como parte de um sistema de gerenciamento ecológico e plano de auditoria, conhecido pelo nome de EMAS – Eco Management and Audit Scheme. A Canadian Standard Association (CSA) padronizou procedimentos para a implantação de sistema de gestão ambiental e para a obtenção de rotulagem ecológica dos produtos. Estados Unidos, Alemanha e Japão adotaram normas para a rotulagem ambiental de produtos (REIS, 1995).
No Quadro 1 destacam-se as vantagens e as dificuldades de se
implementar um SGA.
Quadro 1: Vantagens e dificuldades de implementar um SGA
EVOLUÇÃO DOS SISTEMAS DE GESTÃO AMBIENTAL
Câmara de Comércio Internacional
A International Chamber of Commerce (ICC) ou Câmara de
Comércio Internacional, é uma instituição não governamental dedicada ao comércio internacional. Ela propôs um modelo de SGA e de auditoria ambiental de adesão voluntária, em resposta à problemática ambiental, no que se refere à competitividade das empresas no mercado internacional. Segundo Barbieri (2007, p. 154), para o ICC, o SGA é um método que possibilita “alcançar um desempenho sustentável em relação aos objetivos estabelecidos e atender às constantes mudanças na regulamentação, nos riscos ambientais e nas pressões sociais, financeiras, econômicas e competitivas”.
Para o ICC, o SGA tem como objetivos principais, segundo Barbieri
(2007, p. 154):
Assegurar a conformidade com as leis locais, regionais,
nacionais e internacionais; Estabelecer políticas internas e procedimentos para que a organização alcance os objetivos ambientais propostos; Identificar e administrar riscos empresariais resultantes dos riscos ambientais; Identificar o nível de recursos e de pessoal apropriado aos riscos e aos objetivos ambientais, garantindo sua disponibilidade quando e onde forem necessários.
Na Tabela 1 a seguir, há a identificação de um SGA, proposto pela
ICC, que é muito conhecido como P(plan) D(do) C(check) A(act).
Tabela 1: Elementos de um Sistema de Gestão Ambiental
Fonte: Barbieri (2007). Adaptado de ICC. “Guide to effective environmental
auditing. Paris: OCDE, 1991. P. 6-7. A Tabela 1 evidencia que o SGA estabelecido pela ICC é formado por um conjunto articulado de processos administrativos: planejamento, organização, implementação e controle. Esse conjunto está integrado à gestão empresarial global, mediante uma política ambiental formulada pela própria empresa e coerente com a política global (BARBIERI, 2007).
É fundamental que você perceba a importância da política
ambiental, pois ela indica o caminho em que a empresa pretende chegar. Para que uma empresa implante um SGA, antes de mais nada, ela precisa ter uma política ambiental explicada em documentos da empresa. Essa política ambiental deve destacar propostas que levem à melhoraria do desempenho ambiental da empresa, seguindo sempre as disposições legais relacionadas
Sistema Comunitário de Ecogestão e Auditoria (EMAS)
Em 1993, estabeleceu-se outra proposta de SGA denominada de
Sistema Comunitário de Ecogestão, que também ficou conhecida pela sigla EMAS (Eco Management Audit Scheme). Inicialmente era um SGA voltado apenas à participação voluntária das indústrias. Posteriormente, o regulamento 761/2001 do Parlamento Europeu e Conselho da União Europeia tornou o EMAS acessível a qualquer organização interessada em melhorar seu desempenho ambiental (resultado da gestão de seus aspectos ambientais), segundo Barbieri (2007, p. 156).
O Sistema Comunitário de Ecogestão e Auditoria (EMAS) é
estabelecido numa organização que busca a melhoria contínua do comportamento ambiental através de: a) complementação e implementação de um SGA conforme os requisitos estabelecidos pela Resolução 761/2001; b) avaliação sistemática, objetiva e periódica do desempenho desse SGA; c) fornecimento de informações sobre o comportamento ambiental e um diálogo aberto com o público e outras partes interessadas; d) participação ativa do pessoal da organização e aperfeiçoamento de profissionais adequados às atividades exigidas e pelo SGA. (BARBIERI, 2007, p. 156).
O EMAS é visto como um SGA de grande credibilidade no mercado,
se complementando aos requisitos da norma ISO 14001 (detalharemos na aula 5).
A qualidade do EMAS se dá em função dos itens elencados abaixo:
Possui requisitos mais exigentes em relação à medição e avaliação do desempenho ambiental face aos objetivos e metas, e melhoria contínua desse desempenho ambiental; Conformidade com a legislação ambiental, assegurada pela supervisão dos governos; Forte envolvimento dos colaboradores; Indicadores ambientais essenciais, que proporcionam uma comparabilidade plurianual dentro de uma organização e entre organizações; Fornecimento de informações ao público por meio da declaração ambiental validada; Registro por uma entidade pública após verificação por um verificador ambiental acreditado.
A seguir destacam-se os passos necessários que uma empresa
precisa realizar para obter o registo no EMAS:
Efetuar um levantamento ambiental, considerando todos os
aspetos ambientais das atividades, produtos e serviços de uma organização, os métodos para avaliar esses aspetos, os requisitos legais aplicáveis e as práticas e os procedimentos de gestão ambiental existentes.
Desenvolver e implementar um sistema de gestão ambiental que
permita melhorar continuamente o desempenho ambiental.
Realizar uma auditoria interna para avaliar, em particular, o
sistema de gestão ambiental, bem como o cumprimento com os requisitos legais.
Elaborar uma Declaração Ambiental que forneça indicações sobre
o desempenho ambiental da organização.
O levantamento ambiental, o sistema de gestão ambiental, o
procedimento de auditoria e a declaração ambiental têm que ser verificados por um verificador ambiental acreditado.
Segundo Barbieri (2007, p. 157), enquanto o sistema de gestão
ambiental proposto pelo ICC não define abordagem dos problemas ambientais, o EMAS preocupa-se com a prevenção da poluição, como também busca o compromisso de melhoria e de prevenção da poluição. É importante destacar que o sistema de gestão ambiental do EMAS também pode ser visto como um ciclo PDCA (como vimos na Figura 1).
O EMAS também estabeleceu um sistema para o credenciamento
de verificadores ambientais independentes nos países da União Europeia. Só as organizações registradas nesses organismos podem usar o logotipo do EMAS (BARBIERI, 2007, p. 157).
Norma BS 7750
Criada em 1992 pelo British Standards Institution, essa foi a
primeira norma sobre Sistema de Gestão Ambiental. Seu modelo foi baseado no ciclo PDCA e serviu de inspiração para normas criadas em outros países e também para a ISO. Essa norma foi cancelada em 1997, após a publicação das normas ISO.
Vale a pena destacar algumas normas que foram criadas a partir
de 1993:
o EMAS na Comunidade Europeia em 1993 (vimos
anteriormente); a norma CSA Z750 estabelecida no Canadá em 1994; a norma UNE 77801 implementada na Espanha em 1994.
Ao mesmo tempo em que se criavam normas em vários países,
veio a preocupação do número excessivo das mesmas que pudessem influenciar o comércio internacional. Justamente por isso, a International Organization for Standardization (ISO) começou a estudar os impactos dessas normas no comércio internacional. Você verá com mais detalhes a ISO. Aproveite!
Introdução à Norma ISO 14000 de Sistema de Gestão Ambiental
A aceitação da Série ISO 9000 – Sistema de Gestão da Qualidade –
no cenário internacional foi algo que favoreceu amplamente o avanço de normas ambientais em todo o mundo. A ISO deu início a levantamentos para avaliar a necessidade de normas internacionais aplicáveis à gestão ambiental. Ressalta-se que, assim como a BS 7750 e a EMAS, a Série ISO 14001 é também uma norma de uso voluntário, orientadora da criação e implantação de um sistema de gestão ambiental em nível empresarial, sendo a única norma internacional de amplo aceite e aplicação voltada para sistemas de gestão ambiental (ANDRADE, 2000). Criada em 1947, a ISO é uma instituição formada por órgãos nacionais de normalização, localizada em Genebra na Suíça, com o objetivo de desenvolver a normalização e atividades relacionadas para facilitar as trocas de bens e serviços no mercado internacional e a cooperação entre os países nas esferas científica, tecnológica e produtiva (BARBIERI, 2007, p. 123).
Tem como finalidade desenvolver e promover normas e padrões
mundiais que traduzam o consenso dos diferentes países do mundo de forma a facilitar o comércio internacional. A ISO tem cento e dezenove (119) países membros. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) é o representante brasileiro.
A ISO 14000 teve início na Conferência das Nações Unidas,
realizada em Estocolmo (Suécia), no ano de 1972, mas somente passou a ser tratada com maior importância a partir da Conferência das Nações Unidas realizada no Rio de Janeiro, em 1992 (ECO-92). A ISO 14000 é uma série de padrões internacionalmente reconhecidos por estruturar o SGA de uma organização e o gerenciamento do desempenho ambiental (OLIVEIRA, 2005).
A ISO 14000 tem como uma das prioridades a proteção dos
empregados, por meio do cumprimento de toda a legislação e regulamentos. A comunicação entre os empregados é fundamental para a administração, pois por meio do estabelecimento de metas e objetivos, implanta-se uma visão de forma sistemática do lugar onde trabalham e convivem, melhorando, assim, a qualidade do ambiente de trabalho e das atividades desenvolvidas na instituição.
Conforme explica Oliveira (2005), as normas ISO 14000 foram
desenvolvidas pelo comitê técnico formado por representantes dos países membros. Esse comitê teve como base a experiência adquirida na elaboração das normas ISO 9000. No Brasil, elas foram desenvolvidas e traduzidas pela ABNT.
É possível verificar que as organizações que implantam a ISO em
suas administrações têm vantagens competitivas em relação aos concorrentes, justamente pela conscientização dos aspectos ambientais por parte da sociedade. O consumidor, hoje, visualiza essa organização não somente como uma prestadora de serviços comum, mas como uma empresa que está interagindo com o interesse da sociedade e, principalmente, está preocupada com as questões socioambientais. Sem dúvida nenhuma, se o consumidor tiver que escolher entre duas empresas que vendem produtos com preço e qualidade similar, obviamente, dará prioridade à empresa que tem uma relação equilibrada e sustentável com o meio ambiente!
Para Oliveira (2005), a ISO 14000 permite à empresa demonstrar
para seus consumidores que tem uma preocupação com o meio ambiente. A normatização é de cunho voluntário, sendo o mercado o grande exigente para a sua utilização.
Dessa forma, respondemos a nossa problemática inicial: uma
empresa na atualidade realmente precisa implantar um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) para torna-se competitiva e atraente para o mercado consumidor?
Pela aula que acabou de estudar, você verificou que sim! É
fundamental, nos dias atuais, que as empresas implantem um SGA para se tornarem competitivas, pois a conscientização ambiental, por parte do mercado consumidor, está levando em conta a preocupação que as empresas têm em relação ao meio ambiente para escolher determinados produtos.
Na próxima aula, você estudará com mais detalhes sobre a família