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Apostila Número 7 - Psicologia Da Educação
Apostila Número 7 - Psicologia Da Educação
Cabo Frio - RJ
2023
Apostila Preparatória para Concursos de Professores da Educação Básica
Nº 7 - Psicologia da Educação
Organizador: Prof. Antonio Ferreira da Cruz
1974 2021
Se o Organizador puder ser útil, para auxiliar os seus estudos,
por favor, comunique-se com ele: endereço eletrônico profantcruz@gmail.com
Apostila Preparatória para Concursos de Professores da Educação Básica
Nº 7 - Psicologia da Educação
Organizador: Prof. Antonio Ferreira da Cruz
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Psicologia da Educação
Índice
Assunto Página
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Apostila Preparatória para Concursos de Professores da Educação Básica
Nº 7 - Psicologia da Educação
Organizador: Prof. Antonio Ferreira da Cruz
- Orientações de estudo - para que o conteúdo desta Apostila seja bem aproveitado e haja uma
maior aplicabilidade em sua formação acadêmica e na sua atuação profissional, siga algumas reco-
mendações básicas, como, por exemplo:
• Organize os seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá
determinar um dia e horário fixos como os seus “tempos de estudo”.
• Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode
proporcionar um melhor aproveitamento no estudo.
• No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas há: sites, artigos científicos, livros e vídeos
que podem auxiliar no aprofundamento dos conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso,
você também encontrará sugestões de conteúdo extra, no item Material Complementar, que ampliarão
a sua interpretação e 0 auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
- É muito importante lembrar que a Psicanálise é uma coisa e a Psicologia é outra coisa.
A Psicanálise é uma teoria e um método terapêutico, criado por Sigmund Freud, e a Psi-
cologia é uma Ciência muito mais ampla, que também considera a teoria psicanalítica em
seus estudos, utilizando para isto, o termo “abordagem psicodinâmica”.
Além disto, as imagens dos psicólogos com divãs, carregam consigo uma crença implícita de
que a Psicologia está relacionada apenas à área da Saúde, principalmente à da Saúde Mental, o que
também é um grande mito.
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Na realidade, a Psicologia é uma Ciência muito mais ampla, que contribui não apenas com a
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área da Saúde, mas também com outras esferas da nossa vida, como a Educação, o Trabalho, os
Esportes, a Sociedade e a Política, dentre outras inúmeras possibilidades.
A verdade é que, em uma das definições possíveis da Psicologia, podemos considerar que
ela é a Ciência que estuda a mente e o comportamento, tanto em seres humanos, quanto em ani-
mais, razões que fazem com que os Psicólogos estejam interessados em todos os fenômenos psico-
lógicos que envolvem as ações e as relações humanas.
A Educação é um campo muito especial para a Psicologia, já que envolve temas muito im-
portantes para a Ciência Psicológica, como, por exemplo, a aprendizagem, o desenvolvimento, a
mente, o cérebro, a cognição, a motivação, a memória e os relacionamentos interpessoais.
Estamos nos referindo aqui à Psicologia como Ciência e não àquela que vem do Senso Co-
mum, do uso cotidiano, daquilo que também se identifica como Psicologia. Por exemplo, quando
falamos que alguém vende bem os seus produtos, porque se utiliza de Psicologia ou convence al-
guém porque tem Psicologia, estamos nos referindo a um conhecimento psicológico do senso co-
mum, não o mesmo conhecimento da Psicologia Científica.
Quando falamos de Psicologia como Ciência, nós estamos nos referindo a um conhecimento
sistemático, produzido por meio de pesquisas que usam o método científico. Estamos falando de
uma área do conhecimento científico que tem o seu início no final do século XIX, quando foi possível
delimitar, mais claramente, o seu objeto e o seu campo de estudo.
A Psicologia da qual estamos falando é uma Ciência que investiga o comportamento humano
e as suas relações com o ambiente em que vivemos, considerando a história e a cultura em que
vivemos. Uma Ciência que compreende o ser humano como um ser Biológico, Psicológico e Social,
criando, assim, uma visão mais integradora e completa do ser humano.
Mas afinal, qual a importância da Psicologia Científica para a Educação?
Para essa questão podemos obter inúmeras respostas. Cada um de nós, certamente, pode
ter as suas próprias respostas, que serão complementadas pelas nossas. Como a área de atuação
da Psicologia é muito extensa, ela fornece inúmeros conhecimentos, que se relacionam direta ou
indiretamente com a Educação.
Vamos pensar um pouco!
Você acha que todos nós aprendemos da mesma forma? O tempo que levamos para apren-
der algo é o mesmo para todos? Temos um limite para aprender, ou podemos aprender tudo? O
ambiente em que estamos tem influência em nossa aprendizagem? O que nos motiva a conhecer
algo? As pessoas nascem inteligentes ou se tornam inteligentes?
São tantos os questionamentos que temos, quando pensamos em Educação que, certa-
mente, a Psicologia poderá auxiliar-nos na busca das respostas, mostrando como esta Ciência é im-
portante para entendermos melhor a relação ensino-aprendizagem, fenômeno fundamental para a
Educação.
- Afirmamos que a Psicologia da Educação é uma Ciência que estuda a aprendizagem, es-
tudada como uma Ciência de Graduação ministrada em atividades presenciais ou em am-
bientes virtuais. Portanto, nós estamos em outro contexto de Educação. Será que a Psicolo-
gia da Educação pode estudar isso? E de que forma seria? Como a Psicologia da Educação
poderia colaborar com a Educação em Ambientes Virtuais? Pense sobre isso; se precisar
pode pesquisar sobre a Psicologia da Educação e a Aprendizagem em Ambientes Virtuais.
Nós aprendemos o tempo todo, desde que nascemos até a hora de nossa morte.
Não aprendemos apenas na Escola. Por essa razão, a Psicologia da Educação estuda a apren-
dizagem em quaisquer situações, seja na Escola com crianças ou adolescentes, em ONGs, abrigos,
em casa e em outras situações menos estruturadas.
Além disso, psicólogos educacionais estão envolvidos na preparação e na avaliação de ma-
teriais didáticos, programas educativos de TV e de jogos e brinquedos educativos. Eles também es-
tão envolvidos em pesquisas educacionais e até mesmo em Políticas Públicas de Educação.
Como já dissemos, existem muitas formas de entender a Psicologia da Educação, e podemos
chamar essas diferentes formas de abordagens ou perspectivas.
Ao longo da História da Humanidade, essas perspectivas foram se modificando, e como lem-
bra Carrara (2004), em alguns momentos históricos, apenas uma ou outra abordagem dominou,
seja pelo prestígio alcançado, seja por preferências, às vezes, incluindo até mesmo modismos.
É essencial conhecer as diferentes possibilidades de se olhar para os processos psicológicos
e fenômenos educacionais. Isso fortalecerá a formação profissional e possibilitará o desenvolver
para um olhar mais crítico e fundamentado para discutir os processos educacionais e melhorar as
práticas profissionais.
Assim sendo, ao longo desta e das próximas Unidades, iremos discutir as diferentes formas
de se entender os processos psicoeducacionais1.
Nesta Unidade, iremos seguir agora com um breve histórico de como a Psicologia da Educa-
ção se constituiu em paralelo com o avanço da Psicologia Científica, dando origem a algumas abor-
dagens contemporâneas da Psicologia da Educação, que também serão discutidas, em profundi-
dade, nas próximas Unidades, deste despretensioso estudo.
1.3. AS BASES HISTÓRICAS E EPISTEMOLÓGICAS DA PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO
Atualmente, pode parecer, óbvio demais que, para ensinar alguém é preciso, antes de tudo
conhecer, ainda que, minimamente, pelo menos algumas características do nosso aprendiz. É pre-
ciso saber a sua idade, o nível dos seus conhecimentos prévios, quais são as suas habilidades e difi-
culdades principais. Além disto, é preciso, também, planejar as atividades, a ordem e a forma da
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Psicoeducação é uma intervenção terapêutica por meio de informações sistemáticas, estruturadas e didáticas sobre
o transtorno e o seu tratamento, que inclui, também, aspectos emocionais no sentido de capacitar os pacientes e os
seus familiares, para enfrentar as situações e as questões práticas colocadas pelo transtorno.
A abordagem psicoeducacional promove a ampliação do conhecimento de um paciente e da sua família, acerca do que
é uma doença e do seu tratamento; ajuda-os a compreenderem e a darem um sentido à experiência vivida, engajando-
os nessa compreensão, em suas vidas cotidianas, valorizando a vida e preocupando-se com ela.
Objetivos - Um dos objetivos principais de uma intervenção psicoeducativa é oferecer informações ao paciente sobre a
natureza do transtorno e as opções para o tratamento, visando melhorar as habilidades do manejo da doença, ampliar
o compromisso com as indicações terapêuticas, diminuir a duração e/ou intensidade dos episódios, o número de hos-
pitalizações e prevenir as possíveis recorrências.
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apresentação dessas atividades, com o objetivo de melhorar a aprendizagem. Entretanto, isso nem
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sempre foi assim.
Podemos traçar as origens das ideias que viriam a fundamentar a Psicologia da Educação
desde os antigos gregos, como Platão e Aristóteles que, embora não tivessem o intuito de criar uma
Psicologia da Educação, refletiam sobre os problemas como as diferenças individuais, as avaliações
da aprendizagem, a resolução de problemas, a transferência da aprendizagem e a natureza do que
deveria ser ensinado; todos estes são cruciais e ainda atuais para a Educação, por envolverem as-
pectos do psiquismo humano, portanto, da Psicologia.
Aristóteles, por exemplo, discutiu os fenômenos da associação e estudou os processos da
memorização e da aprendizagem.
Diversos outros pensadores também pensaram e escreveram sobre a Educação nos séculos
seguintes, com destaque para Johan Herbart (1776-1841), que é considerado, por muitos estudio-
sos, pensadores e educadores como um dos pais da Psicologia Educacional.
Para ele, a Filosofia Moral deveria indicar à Pedagogia os objetivos a serem alcançados na
Educação, enquanto a Psicologia deveria procurar os meios apropriados para isso.
É evidente que essa Psicologia à qual ele se referia ainda era a do campo da Filosofia, e não
a Psicologia Científica, que só surgiria no final do século XIX.
A Psicologia da Educação com base científica, tal qual estamos estudando nesta Apostila
surge somente mais tarde, ao considerarmos como marco histórico da criação da Psicologia da Edu-
cação o ano de 1903, devido à publicação do primeiro livro intitulado Educational Psychology (Psi-
cologia Educacional), de Edward L. Thorndike (1874-1949).
Assim, como se pode perceber, o campo da Psicologia da Educação é relativamente recente,
tem pouco mais de cem anos, e tem crescido com mais intensidade nos últimos 40 anos. Mas vale
lembrar que a Psicologia também é uma Ciência recente.
A Psicologia ganhou o status de Ciência a partir dos estudos de Wilhem Wundt (1823-1926)
quando ele criou, na Universidade de Leipzig, na Alemanha, o primeiro Laboratório de Psicologia,
para fazer experimentos na área da Psicofísica.
Os primeiros trabalhos de Wundt e dos seus colaboradores avaliavam os processos psicoló-
gicos básicos como as sensações, as percepções, os sentimentos e as emoções e se davam por
meio do método de “introspecção”. Esse método e o termo foram criados por ele próprio.
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O método consistia em treinar os sujeitos para realizar a auto-observação das suas sensações
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e experiências pessoais e narrar ao pesquisador com a maior quantidade de detalhes possíveis.
A partir dos seus experimentos, Wundt construiu uma vasta produção teórica acerca da Psi-
cologia e definiu a consciência como o objeto de estudo da Psicologia, afastando a ideia da Psicolo-
gia como o estudo da alma e aproximando a possibilidade de entendermos a Psicologia como Ciên-
cia.
A influência de Wundt marcou a constituição da Psicologia como Ciência, fazendo com que
ele fosse considerado “Pai da Psicologia Moderna ou Científica”.
A Psicologia Científica teve e tem diferentes abordagens desde Wundt, o que também se
denomina escolas psicológicas. Ele influenciou, mais diretamente, as três primeiras escolas, que são:
o Estruturalismo, o Funcionalismo e o Associacionismo.
O Estruturalismo, cujo principal expoente foi seu criador, Edward Titchener (1867-1927),
buscava, nos EUA, determinar o que era a consciência, ou seja, quais as estruturas componentes da
consciência.
Essa Escola sofria forte oposição da outra escola, também americana, denominada Funcio-
nalismo, cujos líderes eram William James (1842-1910) e John Dewey (1859-1952).
Os funcionalistas estavam interessados na função da consciência, e não em sua estrutura.
Eles queriam investigar para que servia a consciência e seus processos básicos.
Essas duas escolas não sobreviveram a seus criadores, embora tenham sido importantes no
desenvolvimento da Psicologia nos EUA. William James é considerado o pai da Psicologia nos EUA
e fez muitas contribuições pioneiras para a Educação, como uma série de palestras sobre Psicologia
para professores, que foram posteriormente reunidas em um livro influente, no começo do século
XX.
John Dewey também deu significativas contribuições para a Educação. Ele defendia uma
educação mais progressista e acreditava que as Escolas deveriam focar mais nos alunos do que nos
assuntos e nas Disciplinas, defendia uma aprendizagem ativa e acreditava que os alunos deveriam
“colocar a mão na massa”, isso é, ele acreditava que experienciar as coisas era uma parte impor-
tante dos processos de aprendizagem.
No Brasil, as ideias de Dewey influenciaram muito o movimento Escola Novista.
O pedagogo brasileiro Lourenço Filho, por exemplo, era adepto das ideias de Dewey e foi precursor
da Psicologia no Brasil, participando da criação de muitos laboratórios de Psicologia nas Escolas de
Magistério e criando o famoso Teste ABC para avaliar a prontidão para a Leitura.
De fato, quando a Psicologia Científica começou a dar os seus primeiros passos, as expecta-
tivas de que o desenvolvimento dessa nova e promissora Ciência proporcionariam à Teoria da Edu-
cação deram impulso definitivo para que os psicólogos abordassem problemas educacionais.
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Como lembra Coll (1996), Edward L. Thorndike (1874-1949) foi um dos primeiros psicólogos
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a propor as bases da relação entre a Psicologia e a Educação e, como já mencionamos, é dele o
primeiro livro intitulado Psicologia Educacional, de 1903.
Thorndike insistia na necessidade de fundamentar as propostas educativas com base nos
resultados da pesquisa psicológica de natureza experimental e aconselhava a desconfiar sistemati-
camente das opiniões pedagógicas que não tivessem essa base.
Ele formulou uma teoria psicológica voltada para a aprendizagem denominada Associacio-
nismo, que é considerada a terceira Escola de Psicologia.
Os associacionistas partem do princípio de que a aprendizagem se estabelece a partir da
associação de ideias. Aprendemos do simples para o complexo, ou seja, aprendemos as ideias mais
complexas quando elas estão associadas a ideias mais simples.
Thorndike formulou a primeira sistematização sobre a aprendizagem, unindo definitiva-
mente estas duas áreas do conhecimento: a Psicologia e a Educação:
Thorndike formulou a Lei do Efeito, que seria de grande utilidade para a Psicologia Compor-
tamentalista. De acordo com essa lei, todo o comportamento de um organismo vivo (um ser
humano, um pombo, um rato etc.) tende a se repetir se nós o recompensamos (efeito), assim
que ele o emitir. Por outro lado, o comportamento tenderá a não acontecer, se o organismo
for castigado (efeito) após sua ocorrência. E pela lei do Efeito, o organismo irá associar essas
situações com outras semelhantes (BOCK; FURTADO & TEIXEIRA, 2009, p.35).
No mesmo período, na Suíça, também temos a contribuição de Edouard Claparède (1873-
1940), que é um dos maiores nomes em Educação e Psicologia do Desenvolvimento, e acreditava
que a Psicologia deveria desempenhar um papel de primeira ordem na elaboração de uma Pedago-
gia Científica.
Claparède conduziu seminários de Psicologia Pedagógica para instruir professores sobre os
métodos da Psicologia Experimental e da Psicologia da Criança. Além disso, criou, em 1912, o Insti-
tuto de Pesquisa Psicológica e Educativa Jean-Jacques Rousseau que, mais tarde, seria presidido
pelo famoso biólogo e epistemólogo suíço Jean Piaget (1896-1980).
No mesmo período, Alfred Binet (1857-1911), um psicólogo francês, construía o primeiro
teste de inteligência, o famoso teste de Q.I. (Quociente de Inteligência), que era uma forma de
usar testes psicológicos para selecionar alunos para as poucas vagas nas escolas francesas. Os testes
serviam para ajudar o governo francês a identificar as crianças que tinham atrasos no desenvolvi-
mento e criar programas especiais de Educação e, sem dúvida, impulsionaram muito o campo da
avaliação psicológica e da Psicologia da Educação.
A Psicologia da Educação do começo do século XX se baseava, essencialmente, em três
áreas que vinham se desenvolvendo muito rapidamente: a Psicologia da Criança, a Psicologia da
Aprendizagem e a Psicologia das Diferenças Individuais.
A Convicção da época é que a Psicologia da Educação permitiria fazer com que a Pedagogia
alcançasse definitivamente o estatuto de cientificidade. Até a década de 1950, a definição de Psico-
logia da Educação não era muito clara e precisa, embora a área já tivesse grande reconhecimento e
prestígio.
Durante os anos 1950, segundo Coll (2004), começam as discussões mais importantes sobre
as contradições e as dificuldades em abarcar e integrar os conhecimentos produzidos pelas diferen-
tes escolas da Psicologia Científica, o que gerava dúvidas sobre a sua aplicabilidade no campo da
Educação.
Além disso, outras Ciências da Educação, principalmente a Sociologia da Educação, a Eco-
nomia da Educação, a Educação Comparada e o Planejamento Educativo, começaram a surgir
nesse período e colocar em destaque a insuficiência e a limitação da Psicologia da Educação para
uma compreensão global dos fenômenos educativos. Somadas a isso, as mudanças políticas e eco-
nômicas e as disputas tecnológicas com a Guerra Fria também impulsionaram os investimentos em
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Ciências da Educação e a Psicologia da Educação também passou a receber mais investimentos de-
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vido à sua posição privilegiada historicamente, fazendo com que novas teorias e formas de entender
essa área fossem surgindo.
Um desses novos teóricos que contribuiu muito para a Educação foi B. F. Skinner (1904-
1990), que ampliou os pressupostos do Associacionismo de Thorndike sobre a Lei do Efeito, e a
escola psicológica denominada Behaviorismo Metodológico, de John B. Watson (1878-1958), cri-
ando uma nova escola, denominada Behaviorismo Radical, Análise do Comportamento Aplicado
ou Psicologia Comportamental.
A proposta dos behavioristas é centrar a atenção nas interações entre organismos e ambi-
entes, sem a necessidade do uso de termos mentais. Os behavioristas analisam as relações funcio-
nais entre estímulos, respostas (comportamentos) e consequências, que guiam todos os comporta-
mentos. O foco dos behavioristas, portanto, é a aprendizagem e os métodos de ensino.
Skinner formula em sua teoria o conceito de Condicionamento Operante, que pressupõe a
possibilidade de manipular comportamentos humanos, na busca de um comportamento esperado,
a partir do controle das contingências.
A Psicologia de Skinner influenciou fortemente a Educação a partir da segunda metade do
século XX, e será discutida mais aprofunda, posteriormente.
Outra importante Escola de Psicologia que contribuiu com a Educação do ponto de vista
dos processos de aprendizagem é a Psicologia da Gestalt, ou Gestaltismo.
Essa Escola teve como um de seus fundadores o psicólogo Max Wertheimer (1880-1943).
Diferente do Behaviorismo, essa concepção psicológica compreende que nossa percepção sobre
as coisas depende das condições ambientais em que acontecem e, principalmente, como inter-
pretamos o conteúdo percebido.
Para Gestalt (que quer dizer Forma, em alemão), a aprendizagem é gerada a partir de como
configuramos os estímulos: importa o como percebemos e como estruturamos nosso campo per-
ceptivo.
Assim, a Gestalt foca o seu olhar no aluno, como o Ser que aprende, e não mais nos méto-
dos de ensino, como preconizava o Behaviorismo.
A Psicologia da Educação, a partir dos anos 1960, passa a aceitar a necessidade de mudar
sua proposta de análise dos fenômenos educacionais e de adotar uma perspectiva multidisciplinar,
incluindo e reconhecendo a importância de outras Ciências da Educação. Muitas mudanças graduais
e significativas ocorrem nesse período e áreas temáticas clássicas como aprendizagem como um
conceito geral, medidas das diferenças individuais, crescimento e desenvolvimento humano per-
dem espaço para o estudo da aprendizagem das matérias escolares específicas e dos fatores que
incidem sobre ele. As grandes teorias gerais começam a ceder espaço às teorias menores, que ex-
plicam fenômenos específicos.
Além disso, surge uma nova abordagem da Psicologia Científica, que ganha força a partir
dos anos 1950, a chamada Psicologia Cognitiva, que não pode ser considerada propriamente uma
Escola, já que seus fundadores a definiram como uma revolução, que objetivava superar os limites
do Behaviorismo, que era a escola dominante da época.
Os Psicólogos Cognitivos enfatizavam a necessidade do retorno ao estudo dos processos
mentais na explicação do comportamento humano. Para isso, eles combinavam os estudos de
neuropsicologia, da Psicologia da Gestalt, de inteligência artificial, dos estudos de Piaget e dos
inovadores modelos computacionais, com o rigor dos estudos e métodos behavioristas.
Dessa forma, a Psicologia Cognitiva ganhou rapidamente adeptos e cresceu com contribui-
ções que mudaram a forma de entender a aprendizagem e o ensino, resgatando o estudo da mente
e dos processos mentais como pensamento, linguagem, memória e atenção.
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Com isso, a Psicologia da Educação passa a cada vez mais à análise de tarefas e situações que
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fazem parte do currículo escolar, na medida em que foi adotando uma perspectiva cognitiva nos
estudos dos processos de aprendizagem escolar.
Encontramos, ainda, como importante concepção da Psicologia sobre a Educação, a aborda-
gem humanista e não diretiva da Psicologia em relação à Educação.
Preconizada por Carl Rogers (1902-1987), essa abordagem percebe a Educação como um
fenômeno complexo. Rogers desenvolve uma teoria da aprendizagem na qual a Educação seja
centrada na pessoa; essa exigência requer mudanças estruturais na instituição escolar, em que a
figura do professor é central.
Educação e a Escola devem criar condições para facilitar a aprendizagem do aluno, impulsi-
onando-o para a autoaprendizagem e para a autonomia. Nessa concepção, portanto, o foco está
sempre no aluno e o professor é apenas um facilitador da aprendizagem.
Desde os anos 1970, muitas abordagens e teorias foram criadas na Psicologia, com reflexos
na Psicologia da Educação que, por sua vez, também criou suas próprias teorias e abordagens. Con-
tudo, grandes Escolas de Psicologia, como o Behaviorismo e o Cognitivismo, permanecem sendo as
duas maiores e mais fortes influências na Psicologia da Educação contemporânea.
1.4. AS ABORDAGENS CONTEMPORÂNEAS DA PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO
Atualmente, pode-se dizer que a Psicologia da Educação é composta por seis diferentes
abordagens ou perspectivas que reúnem as principais contribuições teóricas já mencionadas,
como apresentamos a seguir:
1.4.1. ABORDAGEM DESENVOLVIMENTAL
A Abordagem Desenvolvimental parte da ideia de que ao entender como as crianças pensam
em diferentes estágios de desenvolvimento, pode-se entender o que as crianças são capazes de
fazer e aprender em cada ponto de seu desenvolvimento. Isso pode ajudar a criar métodos de en-
sino e materiais mais apropriados para determinadas faixas etárias. Como representantes dessa
abordagem, podemos considerar Jean Piaget e os seus famosos “Estágios do Desenvolvimento
Cognitivo”.
1.4.2. ABORDAGEM COMPORTAMENTAL
A Abordagem Comportamental foca em como as pessoas aprendem e como se pode melho-
rar o ensino. Não por acaso, essa abordagem ganhou muita notoriedade na segunda metade do
século XX, e é amplamente utilizada ainda hoje. Seu maior expoente é B. F. Skinner, com seus tra-
balhos sobre o Condicionamento Operante, a Tecnologia de Ensino e o papel de reforçamentos na
Educação.
1.4.3. ABORDAGEM COGNITIVA
A Abordagem Cognitiva centra-se na compreensão de como as pessoas pensam, aprendem,
lembram e processam informações; por isso, também é chamada de abordagem do processamento
de informações. Embora Piaget e Vygotsky trabalhem com a ideia de desenvolvimento cognitivo,
eles não devem ser classificados nessa Abordagem, que é mais recente e parte das ideias da Psico-
logia Cognitiva, surgida no final dos anos 1950. David Ausubel é um dos representantes dessa Abor-
dagem com a Teoria da Aprendizagem Significativa.
1.4.4. ABORDAGEM CONSTRUTIVISTA
A Abordagem Construtivista é uma das mais recentes teorias da aprendizagem, que enfoca
como as crianças constroem, ativamente, o seu conhecimento do mundo.
Essa perspectiva é fortemente influenciada pelo trabalho do psicólogo russo Lev Vygotsky,
que propôs ideias como a zona de desenvolvimento proximal. Piaget também é frequentemente
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classificado como um construtivista e inclusive foi um pioneiro em dizer que as crianças constroem
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o conhecimento de forma particular.
Classificar um autor em uma ou outra Abordagem é uma tarefa difícil e nem sempre precisa,
já que os autores podem ser classificados em mais de uma Abordagem, de acordo com os critérios
utilizados.
1.4.5. ABORDAGEM HUMANISTA
A Abordagem Humanista tem menor expressão entre todas as demais abordagens, atual-
mente, pois, hoje em dia, a maioria de suas ideias estão diluídas nas outras abordagens. A caracte-
rística essencial dessa Abordagem é o foco no aluno, na motivação para aprender e no respeito à
individualidade, características que podem ser identificadas, por exemplo, nas abordagens constru-
tivistas, cognitivistas e comportamentais também. Destaca-se a Teoria de Ensino, de Carl Rogers, e
a Teoria da Motivação, de Abraham Maslow.
1.4.6. ABORDAGEM PSICODINÂMICA
Denominamos Abordagem Psicodinâmica as teorias baseadas no método psicanalítico,
como, por exemplo, Sigmund Freud, Jacques Lacan e Erik Erikson. Essas teorias, em geral, são mais
relacionadas ao desenvolvimento humano do que propriamente à Educação; entretanto, também
são estudadas por psicólogos da Educação.
1.5. A PSICOLOGIA, AS NEUROCIÊNCIAS E A EDUCAÇÃO NO SÉCULO XXI
No século XXI, não há dúvidas de que a Educação é uma prioridade para o pleno desenvolvi-
mento de sociedades democráticas mais igualitárias. É por meio da Educação que somos capazes
de possibilitar profundas transformações sociais, ou seja, melhorar as condições de vida das pes-
soas, o que inclui o acesso igualitário às Tecnologias desenvolvidas ao longo da História da Humani-
dade.
O ganhador do prêmio Nobel da Paz, Nelson Mandela (2003), resumiu bem essa ideia da
importância da Educação em uma conferência em que disse que: “A educação é a arma mais pode-
rosa que você pode usar para mudar o mundo.”
De fato, se você parar para pensar, a Educação é o modo mais concreto de possibilidade de
transformação social. Não por acaso, na História da Humanidade, foram desenvolvidos diferentes
modos de educar as pessoas, de transmitir os conhecimentos historicamente produzidos pela Hu-
manidade.
Assim, atualmente, podemos dizer que é um período excitante para estar envolvido com a
Educação, o desenvolvimento de alunos e a formação de professores. Bons professores são neces-
sários em todas as salas de aula e melhorar a qualidade da Educação para populações diversas de
alunos em nossas escolas é uma necessidade constante. Por essa razão, cada vez mais se faz neces-
sário incluir a Disciplina de Psicologia da Educação na formação de profissionais que irão trabalhar
com Educação.
Além disso, os avanços das Tecnologias e das Neurociências também têm contribuído para
mudanças profundas nas teorias e proposições da Psicologia da Educação.
As Tecnologias Digitais, os avanços da Informática e da interconectividade promovida pela
Internet têm demandado dos professores mudanças profundas nos métodos de ensino e nos con-
teúdos a serem ensinados.
As Neurociências, mais especificamente a Neurociência Cognitiva, que se ocupa dos estudos
dos mecanismos cerebrais envolvidos na aprendizagem, tem promovido novas compreensões sobre
como as pessoas aprendem e como podemos melhorar a aprendizagem. Não por acaso, os profes-
sores recebem, constantemente, propostas de cursos de Neurociências, Neuroeducação, Neuropsi-
copedagogia e tantos outros “neuros-alguma coisa”, e precisam ficar atentos para a real contribui-
ção desses Cursos.
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Muitos especialistas têm alertado para essa proliferação do uso do termo “neuro” relacio-
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nado à Educação, pois, muitas vezes, pessoas com formação inapropriada ou insuficiente acabam
divulgando informações erradas ou equivocadas como se fossem verdadeiras, gerando uma onda
de “neuromitos” que as pessoas acreditam serem verdadeiros.
Exemplos de neuromitos em Educação que as pessoas acreditam são os estilos de aprendi-
zagem.
Isso posto, fica claro que vivemos em um contexto em que a Educação é ao mesmo tempo
uma solução e um problema. Uma solução, como já falamos, por todo o seu potencial de transfor-
mação social.
Um problema, pela necessidade constante de que pensemos cada vez mais em uma Educa-
ção baseada em evidências científicas, que considere não só as necessidades contextuais, mas tam-
bém as transformações sociais que já ocorreram, que considere o estudo de práticas de ensino mais
eficientes e que seja balizada não por questões do senso comum, políticas, ideológicas e partidárias,
mas sim pelo crivo imparcial das evidências científicas.
Sites
Portal Psicologia - explica que existem vários textos sobre a Psicologia da Educação.
www.psicologiaexplica.com.br
Caçadores de Mitos
No site Caçadores de Mitos você encontrará vários neuromitos que são comuns na educação,
é bom para se manter atualizado
http://www.cacadoresdeneuromitos.com
Livros
Desenvolvimento Psicológico e Educação: Psicologia da Educação Escolar Capítulo: COLL, C.
Concepções e tendências atuais em psicologia da educação. In: COLL, C.; PALACIOS, J.; MAR-
CHESI, A. Desenvolvimento psicológico e educação: psicologia da educação escolar. 2.ed.
Porto Alegre: Artes Médicas, 2004;
Leitura
Psicologia Escolar e Educacional: História, Compromissos e Perspectivas Artigo: ANTUNES,
M. A. M. Psicologia Escolar e Educacional: história, compromissos e perspectivas. Psicol. Esc.
Educ. (Impr.), Campinas, v.12, n.2, p.469-475, dez. 2008. https://goo.gl/jHUr3X
Referências Bibliográficas
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Apostila Preparatória para Concursos de Professores da Educação Básica
Nº 7 - Psicologia da Educação
Organizador: Prof. Antonio Ferreira da Cruz
MANDELA, N. Lighting your way to a better future. Planetarium. Johannesburg: University of
20
the Witwatersrand, 16th July, 2003.
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Nº 7 - Psicologia da Educação
Organizador: Prof. Antonio Ferreira da Cruz
Educar é um processo mais amplo, que inclui a aquisição de valores, hábitos, costumes e
atitudes de uma comunidade e que vão passando de uma geração para a outra por meio de situa-
ções presenciadas e experienciadas pelos indivíduos ao longo de sua vida. Por isso a Educação
ocorre na Escola também, mas não majoritariamente, pois acaba sendo papel das famílias. Nem
sempre é necessário o uso de métodos de ensino para Educar; a experiência com as situações con-
cretas guia a aprendizagem.
Para Cortella (2014), um grande problema atual na Educação é justamente distinguir o que
deve ser ensinado nas escolas e o que não deve ser ensinado, ou seja, o que é dever das famílias.
Nos últimos trinta anos, a Escola se ocupou cada vez mais de uma série de ocupações das
quais ela não dá conta e nunca dará. Todos os conteúdos parecem importantes e necessários e por
essa razão não é possível dar conta de todos eles. Fenômeno parecido com o que aconteceu com a
Psicologia da Educação na década de 1950, quando, ao tentar abarcar todos os temas da Educação,
acabou perdendo a sua identidade e tendo de se reformular.
Cortella aponta que os adultos, nas últimas décadas, passaram a se ausentar da convivência
com as crianças e da sua educação, seja pelo excesso de trabalho, seja pela distância física, seja pela
falta de paciência, delegando cada vez mais à Escola a responsabilidade pela Educação global das
crianças.
A Escola ficou com todas as tarefas de Educação, não sobrando muito espaço para o que de
fato seria a Escolarização. Para Cortella, uma das possíveis soluções é a família resgatar o seu papel
na Educação.
- Assista ao vídeo do filósofo e educador Mario Sérgio Cortella discutindo a diferença entre
Educação e Escolarização para ampliar essa discussão: https://youtu.be/FNEN3eJ8_BU
Essas aquisições têm durações diferentes em nossas vidas: algumas vezes aprendemos algo
para a vida toda, como o nosso nome, e outras vezes podemos nos esquecer de algo já aprendido,
como um número de telefone que não usamos mais. O importante é que. o que aprendemos, é o
fruto da nossa experiência e tem uma determinada duração em nossas vidas.
É importante entender que a Aprendizagem, assim como a Educação, também não é sinô-
nimo de Escolarização. Quando se fala em Aprendizagem, geralmente associamos o termo à Escola,
mas a Aprendizagem não ocorre apenas nesse contexto, e sim em todos os ambientes em que es-
tamos inseridos.
Na Escola, ocorre o processo de Escolarização, em que os professores utilizam teorias e mé-
todos de ensino para guiar a “Aprendizagem dos Alunos”. O processo de escolarização promove,
essencialmente, a aprendizagem de conteúdos formais como Ciências, Literatura e Matemática por
meio de métodos de ensino; isso é o que chamamos de Aprendizagem Formal.
No entanto, nós aprendemos em todos os lugares e a todos os momentos; por exemplo,
aprendemos o caminho de casa, o nome de pessoas, aprendemos a andar, aprendemos a atravessar
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a rua. Quando aprendemos em situações não planejadas por alguém, chamamos isso de Aprendi-
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zagem Informal, Incidental ou Espontânea.
Quem aprende, aprende alguma coisa. Por isso é preciso sempre especificar do que se trata
a aprendizagem; por exemplo, não é possível dizer que uma criança tem dificuldades de aprendiza-
gem de modo geral e inespecífico. É necessário dizer a que se refere à dificuldade de aprender (por
exemplo: aprender conteúdos escolares, aprender Geografia, aprender a ler), pois todos podemos
aprender algo; algumas coisas com mais facilidades, outras com menos, mas todo mundo é capaz
de aprender, desde que lhe sejam dadas condições apropriadas de ensino!
- Uma criança pode ter dificuldades de aprendizagem de conteúdos escolares, mas ter su-
cesso em outras habilidades importantes que não foram aprendidas na Escola, mas sim de
outras formas. No livro “Na vida 10 na escola Zero”, os autores Carraher, Nunes & Schlie-
mann (1996) mostram exemplos interessantes sobre como, muitas vezes, entre os alunos
que não aprendem Matemática na aula estão crianças que usam de cálculos matemáticos
na vida diária, vendendo algo em feiras-livres ou calculando e repartindo os lucros obtidos.
Sempre é importante questionar todos os aspectos envolvidos nos processos educativos an-
tes de dizer que alguém tem dificuldades de aprendizagem. Não se deve confundir dificuldades de
aprendizagem, que são mais pontuais e temporárias – geralmente são sanadas mais facilmente mu-
dando-se os métodos de ensino – com distúrbios de aprendizagem.
Os distúrbios da aprendizagem são problemas mais complexos que afetam a capacidade ge-
ral ou específica da criança de receber, processar, analisar ou armazenar informações. Assim, os
distúrbios são mais duradores e podem dificultar diversos aspectos da vida das crianças, incluindo
a aquisição de habilidades como leitura, escrita e resolução de problemas matemáticos. Alguns des-
ses distúrbios mais comuns são a dislexia (de leitura), a disgrafia (de escrita), a discalculia (de
Matemática), o transtorno de atenção e hiperatividade (TDAH).
- Uma professora de Educação Infantil chama um psicólogo da Educação para avaliar a sua
turma, pois acredita que há muitas crianças com transtorno de atenção e hiperatividade.
Segundo ela, as crianças não “param um minuto, ficam brincando e se mexendo o tempo
todo”. O psicólogo chega até a sala de aula para uma visita e encontra um espaço bastante
colorido, com muitos desenhos da Disney nas paredes, brinquedos espalhados pelo chão e
uma das paredes da sala é toda de vidro “para dar mais sensação de liberdade e claridade
para a sala de aula” segundo a professora. O psicólogo nota que a parede de vidro é na ver-
dade uma divisória entre a sala de aula e o playground e as crianças têm apenas 4 anos de
idade. O que você acha? As crianças dessa professora têm transtorno de atenção e hiperati-
vidade? Crianças de 4 anos tem um limiar de atenção menor e o excesso de estímulos pode
deixá-las ainda mais inquietas. Como você responderia para essa professora? Quais seriam
as suas sugestões? Pense também em outras situações educacionais em que você acredita
que o contexto educacional pode influenciar negativamente nos processos educativos.
Entre as principais contribuições da Ciência da Leitura, destaca-se que, para aprender a ler e
a escrever, as crianças precisam ser explicitamente ensinadas, sobre como funcionam os sistemas
da escrita, o que pode parecer óbvio, mas não é.
Alguns teóricos, como Emília Ferreiro, acreditam que as crianças aprendem por estarem ex-
postas a ambientes letrados, o que não é verdade.
- Então será que os analfabetos têm algum tipo de distúrbio, já que estão em ambientes
letrados e não conseguem aprender a ler? Ora... é claro que não!
Ocorre que, ao longo da História da Evolução Humana, nosso cérebro foi capacitado a apren-
der a falar; por isso aprendemos a falar com facilidade, sem precisar de escolas, mas ler e escrever
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são invenções recentes na História da Humanidade. Dessa forma, nosso cérebro precisa se adaptar
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para essa aprendizagem, o que requer ser ensinado explicitamente (DEHAENE, 2012).
Assim, para aprender a ler e a escrever, é preciso entender como letras representam siste-
maticamente os sons das palavras. Para isso, dois componentes são muito importantes: o Conheci-
mento das Letras e a Consciência Fonêmica. O Conhecimento de Letras significa que as crianças
precisam aprender os nomes, as formas e os sons das letras, ou seja, devem ser ensinadas sobre
isso. Os sons das letras são, na realidade, os fonemas que as letras representam. A palavra bala, por
exemplo, tem quatro letras e quatro fonemas, um som para cada letra; mas a palavra chuva, tem
cinco letras e quatro fonemas, já que o dígrafo ch representa o fonema /x/.
Com esta explicação, introduzimos, também, o conceito de consciência fonêmica, que se
refere ao conhecimento explícito e à habilidade de manipular, intencionalmente, os menores sons
das palavras, ou seja, os fonemas.
Quando as crianças aprendem a falar, elas não prestam atenção no modo como as frases são
compostas por unidades menores, que são as palavras que, por sua vez, são compostas por unida-
des menores, que são as sílabas que, por sua vez, são compostas por unidades ainda menores, cha-
madas de fonemas.
Por isso, quando aprendem a escrever, é comum que escrevam uma frase inteira sem sepa-
rar as palavras, como, por exemplo: “Hojefuinacasadaminhavó”. É preciso ensinar a separar as pa-
lavras na oralidade, o que pode ser feito com atividades de consciência fonológica, desde a pré-
escola.
A habilidade de manipular unidades fonológicas de quaisquer tamanhos é chamada de Cons-
ciência Fonológica, incluindo frases, sílabas, rimas e fonemas. Todavia, o crucial mesmo, para apren-
der a ler e a escrever é aprender a consciência dos fonemas, já que, em nosso sistema alfabético, as
letras representam os fonemas.
- Para saber mais sobre a Ciência da Leitura e a Alfabetização - leia a obra Criar Leitores:
para professores e educadores, de José Morais, magnífico autor que é um dos maiores es-
pecialistas no mundo da Alfabetização, e esse livro é uma belíssima e clara introdução publi-
cada pela Editora Manole.
- Muito mais sobre a Psicologia da Educação Matemática - leia o seguinte artigo: BRITO,
Márcia Regina Ferreira de. Psicologia da educação matemática: um ponto de vista, Educ.
rev., Curitiba, n.1, p.29-45, 2011. https://goo.gl/8dGB5x
Referências Bibliográficas
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psicologia. 14.ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
BRITO, M. R. F. de. Psicologia da educação matemática: um ponto de vista. Educ. rev., Curi-
tiba, n.1, p.29-45, 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.
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Acesso em: 13 de fev. 2017.
BRUNER, J. S. O processo da educação. 3.ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1973.
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CORTELLA, M. S. Educação, escola e docência: novos tempos, novas atitudes. São Paulo: Cor-
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DAVIS, C.; OLIVEIRA, Z. Psicologia na Educação. 2.ed. São Paulo: Cortez, 1994.
DEHAENE, S. Os neurônios da leitura: como a ciência explica a nossa capacidade de ler. Porto
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FERREIRO, E.; TEBEROSKY, A. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artmed, 1999.
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Psicologia da Educação Virtual: Aprender e Ensinar com as Tecnologias da Informação e da
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MALUF, M. R.; CARDOSO-MARTINS, C. (org.). Alfabetização no século XXI. Como se aprende
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- Detalhamento mais amplo das teorias aqui expostas - leia o livro Introdução à Psicologia
da Educação: seis abordagens, organizado por Kester Carrara, que apresenta seis aborda-
gens diferentes em Psicologia da Educação.
Uma última ressalva antes de passar para as Teorias é que todas elas são de meados do
século XX. Desde os anos 1980, as grandes Teorias explicativas passaram a ceder lugar para micro-
teorias que explicam fenômenos pontuais, ou seja, ao invés de uma grande teoria sobre o desen-
volvimento geral, a maior parte das Teorias se dedica a explicar como as crianças aprendem a ler, a
falar, a perceber a realidade do mundo, a aprender Matemática etc.
São microteorias que são mais focais e, portanto, fornecem explicações mais fáceis de serem
testadas. As grandes Teorias, como vamos apresentar a seguir, continuam servindo de pano de
fundo para essas microteorias, sendo que muitas coisas dessas propostas antigas já foram revistas
e modificadas.
É importante que você conheça primeiramente esses grandes modelos e que depois busque
mais informações complementares para entender como a Psicologia do Desenvolvimento se apre-
senta no século XXI (ver PAPALIA; OLDS & FELDMAN, 2006).
Nesse sentido, uma mudança radical da Psicologia do Desenvolvimento contemporânea é o
entendimento da noção de desenvolvimento ao longo do ciclo vital. Como discutem Papalia, Olds &
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Feldman (2006), antes, as grandes teorias se ocupavam mais do desenvolvimento da criança até a
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adolescência.
O entendimento geral era de que não havia muitas modificações depois da adolescência e
por isso as Teorias só focavam o desenvolvimento até a puberdade. Atualmente, considera-se que
há mudanças durante toda a vida e, portanto, estuda-se o desenvolvimento ao longo do ciclo vital.
Por isso, pode-se dividir o desenvolvimento humano em duas grandes etapas com suas subdivisões,
conforme pontuam Papalia, Olds & Feldman (2006):
Tabela 2
Primeira etapa da vida
Concepção, gestação e parto;
Primeira infância: 0 aos 2 anos;
Segunda infância: 2 aos 6 anos;
Terceira infância: 7 aos 11 anos;
Puberdade e adolescência: 12 aos 17 anos.
Segunda etapa da vida
Juventude: 18 aos 25 anos;
Vida adulta jovem: 25 aos 30 anos;
Vida adulta média: 30 aos 50 anos;
Vida adulta tardia: 50 aos 65 anos;
Velhice: 65 anos em diante;
Morte.
- Trocando Ideias: conceber o desenvolvimento ao longo do ciclo vital implica entender que
nós nos desenvolvemos e aprendemos por toda a nossa vida. O que você imagina ser possível
de ser aprendido em cada uma dessas etapas descritas por Papalia, Olds & Feldman? Como
a Psicologia da Educação contribuiria para cada etapa?
Jean Piaget (1896-1980) foi biólogo, psicólogo e epistemólogo suíço. É considerado um dos
mais importantes pensadores do século XX. Muito do que sabemos, sobre como as crianças pensam,
deve-se aos estudos e trabalhos de Piaget, que ficou conhecido como o propositor da abordagem
denominada Epistemologia Genética, que ainda hoje, é muito influente no campo da Educação.
- Adaptação é o termo utilizado por Piaget para descrever como uma criança lida com novas
informações que parecem conflitar com o que ela já sabe, envolvendo duas etapas: 1) assi-
milação, que é receber informações e incorporá-las às estruturas cognitivas existentes, e 2)
acomodação, que é mudar nossas estruturas cognitivas para incluir novo conhecimento. A
equilibração – um esforço constante para manter um balanço ou equilíbrio estável – deter-
mina a mudança da assimilação para a acomodação. Quando as crianças não conseguem
lidar com novas experiências dentro das suas estruturas existentes, organizam novos pa-
drões mentais que integram a nova experiência, assim restaurando o equilíbrio. Um bebê
que está acostumado a mamar no seio ou na mamadeira e que começa a sugar o bico do
canudo de uma caneca para bebês está demonstrando assimilação – utilizando um esquema
já existente para lidar com um novo objeto ou com uma nova situação. Quando o bebê des-
cobre que para beber de canudo são necessários movimentos da língua e da boca um pouco
diferentes daqueles utilizados para sugar o seio ou a mamadeira, ele se ajusta pela modifi-
cação do esquema anterior. Ele “acomoda” seu esquema de sugação para lidar com uma
nova experiência: a caneca. Assim, assimilação e acomodação operam juntas para produzir
equilíbrio e crescimento cognitivo (PAPALIA; OLDS & FELDMAN, 2010; p.76)
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- Saiba mais sobre a Teoria de Piaget e das suas contribuições para a Educação assistindo ao
vídeo da Coleção Grandes Educadores em: https://youtu.be/PBVNYRQP7Sk
Lev Semenovich Vygotsky (1896-1934) foi um psicólogo bielorrusso que elaborou uma Te-
oria do Desenvolvimento Cognitivo, sustentando que todo conhecimento é construído social-
mente, no âmbito das relações humanas. Sua obra é, hoje, a fonte de inspiração do Socio Constru-
tivismo, tendência cada vez mais presente nas discussões sobre a Educação.
Vygotsky construiu a sua tese partindo de um aporte teórico marxista, o materialismo his-
tórico-dialético, pois vivia no período da Revolução Russa; para tal, buscava criar uma forma de
entender a Psicologia, superando as Escolas de Psicologia existentes até então, pois, em sua opinião,
elas estavam estagnadas.
Dois outros pensadores contribuíram muito para o pensamento Vygotskyano.
São eles o neuropsicólogo Alexander Luria (1902-1977), e o psicólogo Alexei Leontiev
(1903-1979).
Juntos, Vygotsky, Leontiev e Luria formavam a Troika (trio em russo), um grupo de psicó-
logos que avançaram muito na corrente russa da Psicologia da Educação.
Esta abordagem recebe algumas denominações, como Psicologia Histórico-Cultural, Teoria
Interativista Sociocultural, Psicologia Sociointeracionista, Teoria Histórico Social, Psicologia Sócio-
histórica. Nesse texto, fazemos a opção de denominá-la Histórico-Cultural, enfatizando a impor-
tância dos aspectos culturais e históricos na formação social da mente.
A abordagem proposta por Vygotsky e por seus colaboradores buscava uma síntese para a
Psicologia; ambicionava integrar, numa mesma perspectiva, o ser humano como corpo e mente,
como ser biológico e cultural, como membro de uma espécie animal e participante de um pro-
cesso histórico.
Eles entendiam que o funcionamento psicológico, tipicamente humano, é cultural e, con-
sequentemente, histórico, e que havia elementos mediadores na relação entre o ser humano e o
mundo, que seriam os instrumentos, os signos e todos os elementos do ambiente, carregados de
significado cultural e construídos nas relações humanas.
Segundo Oliveira (2010), podemos identificar três pilares da abordagem de Vygotsky:
• As funções psicológicas têm um suporte biológico, pois são produtos da atividade cerebral;
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- É mais comum utilizar o termo “aprendizado” do que aprendizagem para se referir à psi-
cologia de Vygotsky, porque, na língua russa, o termo usado por ele equivale a algo, como
processo de ensino aprendizagem, isto é, ele inclui, sempre, aquele que aprende, aquele
que ensina e a relação entre essas pessoas.
Para Vygotsky, aprendizado é o “processo pelo qual o indivíduo adquire informações, habi-
lidades, atitudes, valores etc., a partir do seu contato com a realidade, com o meio ambiente
e com as outras pessoas” (OLIVEIRA, 2010, p.59).
Ela é a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através
da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado
através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com
companheiros mais capazes (VYGOTSKY, 1998, p.112).
Notamos que o desenvolvimento proximal tem por determinante, aquilo que a criança ainda
não domina, mas é capaz de realizar com o auxílio de alguém mais experiente, como, por exemplo,
quando uma criança já sabe somar e é desafiada a fazer uma multiplicação simples. Desenvolvi-
mento proximal é o espaço que separa a pessoa de um desenvolvimento que está próximo a ser
alcançado. É a distância entre o desenvolvimento real e o potencial, que está próximo, mas ainda
não foi atingido.
Outro conceito proposto por Vygotsky é o de Zona de Desenvolvimento Real - ZDR, que é
determinado por aquilo que a criança é capaz de fazer sozinha, porque já tem um conhecimento
consolidado. Se tiver a habilidade da adição, por exemplo, esse é um nível de desenvolvimento real;
ou seja: é quando a criança não mais precisa da ajuda para realizar algo.
3.4. VYGOTSKY E O PROFESSOR
Vygotsky atribuiu grande importância ao papel do professor. Em um estabelecimento de en-
sino, o docente funciona como o impulsionador do desenvolvimento cognitivo da criança, ca-
bendo-lhe apresentar às crianças, as novas formas de pensamento e de conceitos, no entanto, só
poderá fazer isto, após detectar em que condições elas têm de apreendê-los. A aprendizagem dos
alunos se construirá mediante um processo da relação do indivíduo com o seu ambiente sociocul-
tural e com o suporte de outros indivíduos mais experientes.
Priorizando as interações entre os próprios alunos e deles com o professor, o objetivo da
Escola, então, é fazer com que os Conceitos Espontâneos, que as crianças desenvolvem na convi-
vência social, evoluam para o nível dos Conceitos Científicos.
Ao agir assim, o professor assume o papel de mediador na formação do conhecimento. O
mediador é quem ajuda a criança a concretizar um desenvolvimento, que ela ainda não atinge sozi-
nha, e, em uma Escola, o professor e os colegas mais experientes são os principais mediadores.
A abordagem realizada por Vygotsky conclui que o aprendizado é contínuo e o desenvolvi-
mento intelectual se concretiza por saltos qualitativos, de um nível de conhecimento para outro, e,
as atividades de ensinar e de aprender formam uma unidade, que delimita o campo da constituição
do indivíduo na dimensão sociocultural. São processos indissociáveis que implicam a ideia que o
professor participa, ativamente, do processo de aprendizagem e de desenvolvimento do aluno.
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- Para saber mais sobre a teoria de Vygotsky e as suas contribuições para a Educação, assista 45
ao vídeo da Coleção Grandes Educadores em: https://youtu.be/KwnIKDXeEdI
o seu tempo lhe oferece. A ação educativa do professor deve ser fundamentada pelo conhecimento
da natureza e do desenvolvimento da criança, observação sistemática da capacidade e das necessi-
dades dos seus alunos, devendo ter, ainda, um olhar para a dimensão afetiva da relação ensino-
aprendizagem, com base na Psicologia Infantil.
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O seu ideário e os seus escritos nos levam a pensar que o professor, ao realizar as suas
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funções cotidianas na Escola, demonstra inúmeros saberes que são temporais e plurais; saberes que
são construídos em um tempo e espaço determinados, social e culturalmente, diante da sua forma-
ção profissional, ou seja: também está em jogo, a visão de mundo do professor, com as suas con-
cepções, crenças e os seus valores.
Sobre a formação do professor, além dos conhecimentos relativos à criança, ainda se de-
manda o estudo do meio, ou dos meios, em que ela se desenvolve.
Entre as temáticas abordadas por esse pensador, a afetividade ganha destaque em seus
escritos, ao defender que, no decorrer de todo o desenvolvimento humano, a afetividade tem um
papel fundamental, como a função da comunicação nos primeiros meses de vida, manifestando-se,
basicamente, através de impulsos emocionais, estabelecendo os primeiros contatos da criança com
o mundo externo.
Segundo Almeida & Mahoney (2005), a afetividade refere-se à capacidade, à disposição de
o ser humano ser afetado pelo mundo exterior/interior, por sensações ligadas às tonalidades agra-
dáveis e desagradáveis, sendo afetado e reagir com atividades (internas ou externas) que a situação
desperta ou proporciona.
A afetividade é a forma inicial da interação com o meio e a primeira motivação do movi-
mento: à medida que o movimento proporciona experiências à criança, ela vai respondendo por
meio de emoções. A afetividade é o elemento mediador das relações sociais. É pela afetividade que
a criança irá notar as diferenças dela e do ambiente que a cerca. É primordial para a criança perceber
as diferenças entre o meio e ela própria, na etapa inicial do seu desenvolvimento.
É importante lembrar que, para Wallon, não há dicotomia entre a afetividade e a cognição,
ou a afetividade e o ato motor, como fatores que estão presentes no desenvolvimento humano, em
relação dialética e indissociável entre eles.
Essas dimensões atuam em conjunto e se estabelecem nas interações humano-sociais. Wal-
lon propõe que a afetividade, o ato motor (motricidade), e o conhecimento da pessoa (cognição)
são os domínios ou campos funcionais que a criança desvendará, no decorrer do seu desenvolvi-
mento e que devem ser entendidos, conjuntamente.
O eixo principal da teoria de Wallon estabelece-se, desta forma, como a visão integradora
do desenvolvimento humano, que passa pela dimensão cognitiva-afetiva-motora da criança.
Em sua evolução, a afetividade é marcada por três momentos: a emoção, na qual predomina
a ativação fisiológica; o sentimento, o predomínio da ativação representacional, e a paixão, a ativa-
ção do autocontrole, percebe-se assim relação intrínseca entre fatores sociais e orgânicos de de-
senvolvimento humano.
Almeida e Mahoney (2003, p.12) argumentam sobre a questão: A teoria aponta para duas
ordens de fatores que irão constituir as condições em que emergem as atividades de cada estágio:
fatores orgânicos e fatores sociais. Será no mergulho do organismo em dada cultura, em determi-
nada época, que se desenvolverão as características de cada estágio. A interação entre esses fatores
define as possibilidades e os limites dessas características. A existência individual como estrutura
orgânica e fisiológica está enquadrada na existência social de sua época.
Com esta citação, pretendemos reafirmar que a emoção, o sentimento e a paixão resultam
de fatores orgânicos e sociais, correspondendo a diferentes configurações e predomínios do nosso
desenvolvimento, e que se realizam em estágios, como veremos, de forma sucinta, a seguir.
3.6. OS ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO PARA WALLON
Assim como Piaget, Wallon também descreve o desenvolvimento infantil em momentos ou
estágios do desenvolvimento humano. A sua dimensão temporal vai do nascimento até a morte e
está distribuída em estágios, que expressam características próprias e cuja configuração será deter-
minada histórica e culturalmente.
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Os estágios não são estanques, e não cessam quando surge outro estágio; há, apenas, a pre-
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dominância de um sobre o outro, em uma relação dialética, ou seja, são contraditórias e comple-
mentares, entre si.
Entretanto, cada estágio é considerado como um sistema completo em si, tornando visível a
presença de todos os componentes na construção da pessoa humana.
Wallon caracteriza os estágios da seguinte forma:
- Saiba mais sobre a Teoria de Wallon e das suas contribuições para a Educação, assistindo
ao vídeo da Coleção Grandes Educadores em: https://youtu.be/HGTbP5knhRQ
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3.7. AS CONTRIBUIÇÕES DE SIGMUND FREUD, ERIK ERIKSON E URIE BRONFENBRENNER
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Sites
Jean Piaget, o biólogo que colocou a aprendizagem no microscópio
https://goo.gl/Hya8k9
O sujeito epistêmico de Piaget
https://goo.gl/VDsSRu
Esquemas de ação de Piaget
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Lev Vygotsky, o teórico do ensino como processo social
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4.1. INTRODUÇÃO
Até aqui, vimos como a Psicologia da Educação se consolidou como uma Ciência-Ponte en-
tre a Psicologia e a Educação, agregando uma participação muito importante, para a melhoria dos
processos do ensino e da aprendizagem. Também discutimos algumas das principais contribuições
da Psicologia da Educação para os processos educativos e exploramos algumas Teorias sobre como
as pessoas se desenvolvem.
Assim como existem diferentes concepções teóricas sobre o desenvolvimento humano, tam-
bém existem diferentes perspectivas sobre a aprendizagem e, por conseguinte, o ensino. Algumas
delas são complementares, partindo de uma mesma base epistemológica, compartilhando de uma
mesma visão sobre o ser humano e o conhecimento e, por isso, serão aglutinadas aqui nas chama-
das perspectivas ou abordagens, registrando-se, entretanto, que há posições que são mais contra-
ditórias e por isso formam outras perspectivas.
Com isso posto, passaremos, então, a uma definição mais abrangente sobre o que é apren-
dizagem, para depois, discutir as diferentes concepções sobre a aprendizagem e o ensino.
- Lembre-se de que em Ciências não podemos dizer que existe uma Teoria completamente
certa ou errada. As Teorias são conjuntos de explicações sobre o real e por isso são testa-
das com bases em pesquisas e os resultados das pesquisas é que indicam se as Teorias se
sustentam ou precisam de reformulações. Assim, você não precisa escolher uma perspec-
tiva como sendo a correta, mas sim buscar entender o que cada perspectiva pensa sobre
aprendizagem e ensino, seu impacto na Educação, seus limites e suas vantagens. É impor-
tante, também, que você não misture as perspectivas; cada uma tem a sua especificidade.
Embora os limites entre elas sejam mais didáticos do que reais, cada uma tem suas próprias
características e diferenças e é importante que você aprenda a distingui-las.
Figura 1 - John B. Watson Figura 2 - Ivan Pavlov Figura 3 - Edward L. Thorndike Figura 4 - B. F. Skinner
Fonte: Wikimedia Commons Fonte: Wikimedia Commons Fonte: Wikimedia Commons Fonte: Wikimedia Commons
No início do século XX, a Psicologia norte-americana começava a se afastar cada vez mais da
Psicologia de Wundt, na Alemanha, de tal modo que o psicólogo norte-americano John B. Watson
(1878-1958) é considerado o pai do behaviorismo, por ter sido o porta-voz desse movimento, ao ter
publicado o manifesto behaviorista, em um artigo de 1913, chamado “Psychology as the Behavio-
rist Views it” (A Psicologia como um Behaviorista a Vê), onde ele propõe uma revolução no modo
de entender a Psicologia, colocando de lado o estudo da consciência que, para ele, era fantasiosa,
e focando no estudo do comportamento real, objetivo, e prático, que de fato podia ser observado.
A escolha de Watson pelo nome behaviorismo é suficientemente clara, pois para ele o único
interesse da Psicologia era o Comportamento (Behavior), não a experiência consciente.
Watson acreditava que a Psicologia poderia estudar o comportamento dos seres humanos,
tão objetivamente, quanto se estuda o funcionamento das máquinas. Ele também combateu a no-
ção de instintos; para ele, nós não nascemos com quaisquer capacidades, traços ou predisposições
mentais, tudo o que herdamos é nosso corpo e alguns reflexos (Por exemplo, reflexo de sucção ou
reflexo patelar); as diferenças quanto à capacidade e à personalidade são simplesmente diferenças
no comportamento aprendido (HILL, 1981).
Uma grande e importante base para as afirmações de Watson foram os trabalhos do fa-
moso fisiologista russo Ivan Pavlov (1849-1936). Pavlov foi responsável pela chamada Teoria do
Reflexo, que foi formulada com base em seus estudos sobre a fisiologia do sistema gastrointesti-
nal de cães, possibilitando a criação de uma das primeiras abordagens realmente objetivas e ci-
entíficas para o estudo da aprendizagem, pois adaptava a metodologia das pesquisas em Fisiolo-
gia.
Em um experimento clássico, Pavlov demonstrou que os cães normalmente salivam diante
da presença de comida, ou seja, salivar diante da comida é uma resposta incondicionada (RI) por-
que não foi ensinada ou aprendida, mas sim, trata-se de um comportamento inato e involuntário
relacionado à sobrevivência e que é eliciado a partir de um estímulo também incondicionado (EI),
no caso, a comida.
Em um exemplo semelhante, quando colocamos o dedo próximo a boca do bebê (EI), ele
rapidamente começa a tentar sugá-lo, o que se trata de um reflexo de sucção (RI), isto é, ele faz isso
sem a necessidade de ter aprendido anteriormente (MOREIRA & MEDEIROS, 2007).
Voltando ao experimento de Pavlov, ele descobriu que quando a apresentação da comida
era precedida pelo som de uma campainha, depois de um tempo, apenas o som da campainha já
era capaz de fazer com que os cães salivassem, como se estivessem vendo a comida.
Assim, ele interpretou que se houver o emparelhamento de um estímulo incondicionado
(EI) e de um estímulo neutro não condicionado (ENC), repetidas vezes, o reflexo será eliciado com
a apresentação apenas do estímulo neutro – que, então, passa a ser chamado de estímulo condi-
cionado (EC). O comportamento em questão passa a se chamar resposta ou reflexo condicionado
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(RC). A esse procedimento de aprendizagem dá-se o nome de condicionamento clássico ou condi-
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cionamento respondente.
Watson propôs que toda a aprendizagem é o resultado do condicionamento clássico, o que
significa que nós nascemos com determinadas conexões estímulo-reposta, denominadas reflexos.
São exemplos de reflexos o espirro em resposta a uma irritação do nariz e a resposta patelar a um
golpe no joelho. Para Watson, esses reflexos são todo o acervo comportamental que herdamos.
No entanto, pelo processo de condicionamento respondente, podemos formar uma multi-
plicidade de novas conexões estímulo-resposta. Se um estímulo novo ocorre juntamente com o es-
tímulo que determina a resposta reflexa, depois de alguns desses emparelhamentos, o estímulo
novo sozinho consegue produzir a resposta (HILL, 1981).
Comportamentos mais complexos, como andar e falar, são o resultado de longas cadeias de
sequenciamento e articulação desses mesmos reflexos básicos.
Outro psicólogo muito importante para o behaviorismo foi Edward L. Thorndike (1874-
1949). Além de ser considerado o pai da Psicologia Educacional, Thorndike também é considerado
um dos pais do behaviorismo, juntamente com Watson, por seus trabalhos sobre a aprendizagem.
Thorndike, por exemplo, foi responsável pela descoberta da aprendizagem por “ensaio e
erro” a partir da criação de uma espécie de “caixa problema”, onde colocava gatos que tinham de
executar alguns passos para escapar de lá. Ele observou que os gatos tentavam várias alternativas
e modificavam suas novas respostas em virtude das tentativas e erros. Isso foi crucial para o
avanço no entendimento sobre a aprendizagem, que até então era vista como se a resolução de
problemas fosse resultado unicamente de um lampejo (insight), que fazia com que o problema
fosse resolvido de uma única vez, ao invés de resolver por “tentativa e erro”.
Thorndike identificou que a aprendizagem por tentativa e erro é um método básico de
aprendizagem usado, essencialmente, por todos os organismos para aprender novos comportamen-
tos ou resolver problemas (MOREIRA & MEDEIROS, 2007).
A Teoria de aprendizagem de Thorndike introduz a estrutura da psicologia comportamental:
a aprendizagem é o resultado da associação entre estímulos (S ou E) e respostas (R), portanto S-R,
ou E-R. Essas associações entre estímulos e respostas são fortalecidas ou enfraquecidas pela natu-
reza e frequência dos pares S-R.
A Teoria de Thorndike é conhecida como Conectivismo, associacionismo ou conexionismo,
embora esse último termo seja mais recentemente utilizado nos paradigmas cognitivistas.
As maiores modificações nos pressupostos do behaviorismo foram dadas por Burrhus Fre-
deric Skinner (1904-1990). A proposta de B.F. Skinner é denominada Behaviorismo Radical, no sen-
tido de um retorno à raiz epistemológica do termo behaviorismo, isso é, no foco no estudo do com-
portamento.
A proposta de Watson era conhecida como Behaviorismo Metodológico devido à sua ênfase
nos procedimentos e métodos de investigação da Psicologia.
Skinner avançou as propostas de Watson e Thorndike e criou o que chamamos de Análise
Experimental do Comportamento, ou apenas Análise Comportamental, que é a Ciência constituída
com base nos pressupostos filosóficos do behaviorismo (MOREIRA & MEDEIROS, 2007).
Skinner propôs que os psicólogos deveriam analisar as relações funcionais nas interações
entre os organismos e os ambientes em que eles se inserem, contrariamente, ao que se divulga,
erroneamente, de que behavioristas acreditam que os seres humanos são passivos.
Para os behavioristas, ao mesmo passo que os seres agem sobre o mundo, eles são também
influenciados por esse mundo: “O comportamento ocorre diante de e é alterado por determinadas
condições ambientais e, por seu turno, também altera o ambiente.” (CARRARA, 2004, p.111). Aqui,
entende-se ambiente por meio físico e social.
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Skinner reconhece o Condicionamento Respondente como uma forma de aprendizagem,
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mas identificou outro tipo de condicionamento que era mais frequente entre humanos, o Condici-
onamento Operante.
O termo “operante” se refere ao fato de que o indivíduo aprende com as consequências de
“operar” sobre o ambiente. A proposta de Skinner se desenvolve na linha de pesquisa utilizada por
Thorndike, que foi o primeiro investigador a explicar sistematicamente as relações entre o compor-
tamento e as suas consequências.
Skinner trabalhou, principalmente, com ratos e pombos, usando um procedimento seme-
lhante à caixa de gatos de Thorndike, que ficou conhecida como “Caixa de Skinner”.
Nesse experimento, ratos ou pombos que estão privados de água ou de comida são coloca-
dos em uma caixa especial na qual conseguem o alimento ou a água se realizarem pequenas tarefas
como pressionar botões ou alavancas. Skinner considerava que os princípios obtidos com essas pes-
quisas se aplicavam a seres humanos, o que foi visto por inúmeras outras pesquisas (SKINNER,
2003).
Entre esses princípios, ele descobriu que um organismo terá a tendência de repetir uma res-
posta que foi reforçada e irá suprimir uma resposta que foi punida. Dessa forma, Skinner avança os
modelos behavioristas anteriores, propondo um modelo de “Tríplice Contingência”, ou seja: como
S-R-C (Estímulo-Resposta-Consequência).
Um determinado estímulo é seguido por uma resposta do organismo e a consequência dessa
resposta pode influenciar para que a resposta volte a acontecer, isto é, eliminada nas próximas ve-
zes. Em outras palavras, todo comportamento aumenta ou diminui de frequência em virtude das
consequências que o seguem (MOREIRA & MEDEIROS, 2007).
As consequências dos comportamentos podem ser classificadas como reforço ou punição.
Quando as consequências aumentam a probabilidade de que o comportamento se repita, são cha-
madas de reforços. Quando a consequência diminui a probabilidade de que o comportamento se
repita, então, chamamos de punição. O que é reforço ou punição depende da pessoa, pois o que é
reforçador para um pode ser punição para o outro (SKINNER, 2003).
Além disso, Skinner identificou que o reforço pode ser positivo ou negativo. Reforços po-
sitivos são, por exemplo, dar comida, troféus, dinheiro, elogios, brincar etc. (Por exemplo, a cri-
ança ganha um elogio toda vez que arruma a cama; por isso, acaba arrumando mais vezes a cama).
Reforços negativos consistem na retirada de alguma coisa da qual o indivíduo não gosta (conhe-
cido como evento aversivo). Por exemplo, se uma pessoa tem uma pedra no sapato, ela provavel-
mente tentará remover a pedra todas as vezes que isso ocorrer. Observe que, nestes dois casos
sempre ocorre o aumento da probabilidade da ocorrência de resposta, seja pela apresentação
(positivo), seja pela retirada de um estímulo aversivo (negativo), tratando-se, por isto, de refor-
çamentos.
Não se pode confundir reforçamentos, principalmente o reforçamento negativo, com a pu-
nição. A punição suprime o comportamento, ocasionando um evento aversivo (Por exemplo, bater
em uma criança) ou retirar um evento positivo (Por exemplo, proibir de jogar videogames).
O reforço negativo estimula a repetição de um comportamento pela remoção de um evento
aversivo, e a punição suprime o comportamento pela apresentação de um estímulo aversivo (puni-
ção positiva) ou pela remoção de estímulo positivo (punição negativa), isto é, nas situações de pu-
nição, o comportamento anterior tende a ser reduzido. A punição não é recomendada pelos analis-
tas do comportamento, quer pelos subprodutos negativos que ela gera para o organismo, quer pelo
fato de que seus efeitos tendem a ser temporários e voltar logo após a remoção da contingência
punitiva (HILL, 1981).
Para Skinner, novos comportamentos são aprendidos, normalmente, por um procedi-
mento denominado modelagem ou aprendizagem por aproximações sucessivas. Nesse
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procedimento, a pessoa que está ensinando deve reforçar as respostas parecidas com a resposta
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final, sucessivamente, até que se chegue cada vez mais próximo da resposta final esperada.
Uma professora, por exemplo, pode elogiar as primeiras tentativas de escrita de uma criança
e, aos poucos, ir apresentando como se deve escrever convencionalmente, até que a criança chegue
ao comportamento final de escrever de forma autônoma e convencional.
Skinner também propôs mudanças no processo de ensino, considerando que, o professor
sozinho, não teria condições para dar reforços a todos os alunos ao mesmo tempo. A solução en-
contrada por ele foi criar o que denominou “máquinas de ensinar”, que eram instrumentos mecâ-
nicos capazes de cumprir esta função reforçadora para auxiliar o professor. O funcionamento das
máquinas de ensinar consistia em o aluno responder a uma questão ou problema. Se a resposta
fosse correta, um mecanismo seria liberado para a próxima pergunta, podendo estar associado, por
exemplo, a um som, como reforço. Se a resposta fosse incorreta, o mecanismo não se acionaria e o
aluno faria outra tentativa (SKINNER, 1972).
Podemos considerar que as máquinas de ensinar foram as primeiras tentativas do uso de
computadores na Educação. Além disso, as ideias de Skinner, ainda hoje, são utilizadas na cons-
trução de muitos softwares e jogos educacionais.
Uma das Teorias cognitivas sobre a aprendizagem mais famosas é a do psicólogo David Au-
subel (1918-2008), que tinha muito interesse em construir uma Teoria de ensino que pudesse au-
xiliar os professores a melhorar o seu desempenho e a aprendizagem dos alunos em sala de aula
(RONCA,1994).
Segundo Ronca (1994, p.91), quando os professores não têm uma Teoria de Ensino, eles são
levados “a valerem-se das normas disponíveis no folclore educacional ou basearem-se no exemplo
de seus próprios professores ou, ainda, tentar descobrir técnicas de ensino através de tentativas de
ensaio e erro”. Por isso, as Teorias de ensino são fundamentais para permitir que sejam construídos
princípios que possam ser adaptados tanto a diferentes pessoas como a diferentes situações.
Um dos recursos pedagógicos mais conhecidos da proposta de Ausubel são os mapas con-
ceituais, que são diagramas hierarquizados que procuram refletir a organização de uma Disciplina
ou parte dela (RONCA, 1994).
Os mapas conceituais permitem aos aprendizes identificar os conceitos básicos de uma Dis-
ciplina e identificar as relações e influências desses conceitos em um quadro mais amplo.
A Teoria do Ensino de Ausubel parte do conjunto de conhecimentos que o aluno traz con-
sigo, a que ele dá o nome de estrutura cognitiva, que seria o ponto central e mais importante que
os professores deveriam levar em consideração nas suas práticas educativas.
O conteúdo que é assimilado pela estrutura cognitiva tem uma forma hierárquica, na qual
conceitos mais amplos se superpõem a conceitos com menor poder de extensão. Dessa forma,
quando os professores ensinam, eles possibilitam que conceitos mais complexos sejam incorpora-
dos à estrutura cognitiva das crianças (RONCA, 1994).
Dessa maneira, chegamos a ideia central da Teoria de Ausubel, que é a diferenciação entre
aprendizagem significativa e aprendizagem mecânica. Para ele, a aprendizagem significativa
ocorre quando uma nova informação é relacionada a outras informações relevantes (semelhan-
tes) que já estão presentes na estrutura cognitiva dos alunos. O conhecimento anterior resultará,
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assim, num “ponto de ancoragem” no qual as novas informações irão encontrar um modo de se
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integrar àquilo que o indivíduo já conhece.
Por outro lado, a aprendizagem mecânica ocorre quando uma informação nova não se re-
laciona a conceitos já existentes na estrutura cognitiva, sendo arbitrariamente armazenada e,
portanto, ocorre pouca ou nenhuma interação entre a nova informação e as informações já pre-
sentes na estrutura cognitiva (NOVAK, 1981).
Assim, entre as principais implicações da Teoria da Aprendizagem Significativa, está a ên-
fase na importância de relacionar novos conteúdos a informações já conhecidas pelos aprendizes.
O papel do professor, nesse caso, é criar condições para que as aprendizagens sejam significativas,
permitindo que o aluno possa relacionar as novas informações com conceitos já pré-existentes
em sua estrutura cognitiva.
Para Ausubel, uma Teoria de Ensino deve ser fundamentada em um tripé que considere: a
realidade local, a estrutura cognitiva de cada aluno e a identificação dos conceitos amplos e fun-
damentais das diversas áreas do conhecimento (RONCA, 1994).
Outra contribuição importante da Psicologia Cognitiva é a metacognição. A metacognição
foi definida por John Flavell (nascido em 1928), nos anos 1970, como o conhecimento que as pes-
soas têm sobre seus próprios processos cognitivos e a habilidade de controlar esses processos,
monitorando, organizando e os modificando para realizar objetivos concretos. Em outras pala-
vras, a metacognição se refere à habilidade de refletir sobre uma determinada tarefa, como, por
exemplo: ler, calcular, pensar, tomar uma decisão, e selecionar, sozinho para utilizar o melhor
método para resolver essa tarefa.
Para Flavell (1976), a metacognição possui três elementos básicos:
a) Desenvolvimento de um plano de ação: o que eu devo fazer primeiro? Quanto tempo eu
levarei para fazer? O que eu já sei sobre esse assunto e que pode me ajudar?
b) Monitoramento do plano de ação: como eu estou indo? Eu devo continuar assim ou mu-
dar de estratégia? O que é mais importante de lembrar disso? Eu tenho de mudar algo agora
para conseguir fazer essa tarefa?
c) Avaliação do plano de ação: eu me saí bem? Eu poderia ter feito algo diferente? O que eu
não consegui fazer? O que eu devo fazer na próxima vez? No que isso pode me ajudar?
Agindo assim, um bom professor deveria incentivar os seus alunos a planejarem os seus pró-
prios modos de estudo e avaliarem a si mesmos se estão com dificuldades e como buscar alternati-
vas para superá-las. Em outras palavras, os professores deveriam ensinar as crianças a desenvolve-
rem essa habilidade de refletir sobre o melhor modo para aprender, isto é, desenvolverem a meta-
cognição.
O psicólogo cognitivo Howard Gardner (nascido em 1943) também ofereceu importantes
contribuições para a Educação. Até os anos 1970, o conceito de inteligência era muito valorizado
em Psicologia e Educação e avaliado por meio dos famosos testes de inteligência ou testes de Q.
I. (Quociente de Inteligência). Essa medida de inteligência variava muito, de modo que existem
até hoje mais de 70 definições distintas do que significa inteligência (STERNBERG, 2010). Contudo,
essas definições acabavam em síntese definindo inteligência como uma capacidade geral para
resolver problemas, muito relacionada ao conteúdo escolar.
Gardner, nos anos 1980, com base em suas pesquisas, formulou a Teoria das Inteligências
Múltiplas, que considera que não existe um só tipo de inteligência. Ele considera que para abarcar
adequadamente o campo da cognição humana, é necessário incluir um conjunto muito mais am-
plo e mais universal de competências do que se considerava até então (GARDNER, 1994), passando
a definir a inteligência como “a capacidade de resolver problemas ou de criar produtos que sejam
valorizados dentro de um ou mais cenários culturais” (GARDNER, 1994, p. X).
Para Gardner (1994), todos somos capazes de conhecer o mundo, criar coisas e resolver
problemas por meio de “inteligências” como a linguagem, a análise lógico-matemática, a
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representação espacial, o pensamento musical e o uso do corpo. Contudo, é comum que um tipo
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de inteligência predomine em cada pessoa. Inicialmente, as pessoas nascem com um vasto potencial
de talentos que são moldados pela cultura, o que, em grande parte, é fruto da Educação. Assim,
cientistas podem ter mais habilidade lógico-matemática e atores podem ter mais habilidade corpo-
ral-cinestésica.
Inicialmente, Gardner descreveu sete tipos de inteligência: lógico-matemática, linguística,
musical, espacial, corporal-cinestésica, intrapessoal e interpessoal; mais recentemente, ele intro-
duziu duas novas: naturalista e existencial.
Apresentamos, a seguir, cada uma das inteligências descritas por Gardner, resumidamente:
1. Lógico-matemática: capacidade de raciocínio dedutivo e para solucionar problemas ma-
temáticos;
2. Linguística: capacidade de explorar vários domínios da linguagem oral e escrita e usar a
linguagem de forma efetiva;
3. Musical: habilidade para compor e executar padrões musicais em termos de ritmo e tim-
bre, mas também os escutando e os discernindo bem;
4. Espacial: capacidade de perceber o mundo visual com precisão, permitindo transformar,
modificar percepções e recriar experiências visuais até mesmo sem estímulos físicos;
5. Corporal-cinestésica: perícia no uso do corpo todo para expressar ideias e sentimentos;
6. Intrapessoal: autoconhecimento e capacidade de agir, adaptativamente, com base nesse
conhecimento;
7. Interpessoal: habilidade de entender intenções, motivações e desejos dos outros;
8. Naturalista: sensibilidade para compreender e organizar objetos, fenômenos e padrões
da natureza (Por exemplo, reconhecer e classificar plantas, animais e minerais);
9. Existencial: abrange a capacidade de refletir e ponderar sobre questões fundamentais da
existência humana.
Muitas críticas foram formuladas às proposições de Gardner, justamente pelas dificuldades
de se determinar o que é inteligência. Ainda assim, sua proposta tem implicações educacionais im-
portantes, vez que enfatiza que uma criança que tem mais habilidades matemáticas do que linguís-
ticas não é mais inteligente do que a que possui superioridade nas habilidades linguísticas; elas só
possuem inteligências diferentes e precisam receber ensino que propicie o desenvolvimento de to-
das as suas habilidades.
Além disso, nossos sistemas de Educação costumam valorizar mais algumas habilidades
como a linguística em detrimento de outras como a lógico-quantitativa, o que implica sufocar talen-
tos.
Para Gardner, é necessário que a Educação forneça maior equilíbrio, não privilegiando ape-
nas um tipo de conhecimento, mas sim, dando condições para que todos se desenvolvam em todas
as suas potencialidades.
4.5. A APRENDIZAGEM E O ENSINO NA PERSPECTIVA CONSTRUTIVISTA
A perspectiva construtivista ou socioconstrutivista é uma das mais recentes e é predomi-
nante na Educação Brasileira desde os anos 1980. Por vezes, essa abordagem pode ser comparada
à Perspectiva Desenvolvimental, já que seus grandes expoentes são também teóricos do desen-
volvimento humano; outras vezes, essa perspectiva se enquadra no ramo das Teorias Cognitivas,
pois também trata da forma como as pessoas adquirem conhecimentos (cognição), de tal forma
que, teóricos como Piaget, Vygotsky e Bruner poderiam ser classificados tanto como “Desenvol-
vimentistas” quanto “Cognitivistas” e “Construtivistas”.
Não iremos detalhar as Teorias de Piaget e Vygotsky aqui, pois eles já foram apresentados
na Unidade referente às Teorias do Desenvolvimento, mas vamos enfatizar Bruner como um autor
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mais recente e que promoveu contribuições significativas para uma perspectiva construtivista em
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Teorias do ensino e da aprendizagem. Entretanto, podemos dizer que Jean Piaget foi o primeiro a
adaptar da Filosofia a ideia de construtivismo para dizer que as crianças constroem o seu conhe-
cimento com base na interação entre o organismo e o meio físico e social.
A ideia de construção aqui enfatiza o fato de que o que aprendemos não é necessariamente
a realidade, mas sim, uma construção acerca da realidade, o que depende de fatores que são pró-
prios do indivíduo que aprende. Os construtivistas afirmam que conhecimento é adquirido progres-
sivamente, isto é, as pessoas constroem paulatinamente o seu conhecimento. Além disso, eles en-
fatizam o papel ativo dos alunos nesse processo de construção do conhecimento. O professor, nessa
perspectiva, funciona como um mediador que deve criar condições apropriadas para que os apren-
dizes possam explorar situações problemas, construir e testar hipóteses que os permitam avançar
em seu conhecimento.
A grande influência do construtivismo no Brasil, desde os anos 1980, pode ser explicada
em parte pelas contribuições do filosofo, sociólogo e psicólogo norte-americano John Dewey, que
teve forte influência no desenvolvimento do construtivismo e na Educação brasileira na primeira
metade do século XX, ao influenciar educadores como Anísio Teixeira e Lourenço Filho.
Segundo Cunha (2002), o “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova: ao povo e ao go-
verno” foi publicado no Brasil, em 1932, tendo como intuito promover uma reforma educacional
no país, expressando as ideias políticas, filosóficas e educacionais que vinham sendo defendidas
desde os anos de 1920, e cuja inspiração deweyana era inegável.
Cunha (2002, p. 255) destaca a semelhança entre o documento e o pensamento de Dewey:
[...] defendia-se um tipo de escola que fosse vinculada ao meio social, que respeitasse as ap-
tidões naturais dos educandos, uma pedagogia baseada na atividade espontânea da criança,
que satisfizesse as necessidades individuais. Ao mesmo tempo em que preconizava a necessi-
dade de um currículo que seguisse a lógica psicológica da criança, o Manifesto enfatizava que
os professores deveriam estar sintonizados com o ideal de reconstrução da ordem social e
política por intermédio da educação e insistia na necessidade de os educadores possuírem
conhecimentos sobre o indivíduo e sobre a sociedade, o que lhes permitiria atuar sobre o
estrato psicológico individual tendo em mira um projeto de sociedade.
As ideias do Manifesto estavam atreladas ao desenvolvimento da Psicologia da Educação no
século XX, e promoveram mudanças significativas na Educação Brasileira com reflexos até os dias
atuais.
Nos anos 1980, com a aproximação do final do período do regime militar no Brasil, as ideias
construtivistas ganharam ainda mais força, dessa vez com mais apoio nas propostas de Piaget,
Vygotsky e Wallon, que então revelavam o desenvolvimento psicológico da criança e ofereciam
ideias para as práticas educacionais.
A perspectiva de Bruner é uma proposta construtivista mais recente e embora tenha ainda
pouca influência na Educação Brasileira é a proposta mais consistente com uma Teoria da apren-
dizagem e do ensino com Jerome Bruner (1915-2016) foi um psicólogo norte-americano que, jun-
tamente com outro psicólogo importante chamado George Miller, criou o primeiro Centro de Es-
tudos em Psicologia Cognitiva, nos anos 1960, em Harvard.
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Além disso, foi o responsável por introduzir as ideias de Vygotsky no ocidente e realizar
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várias pesquisas sobre desenvolvimento, aprendizagem e percepção. A sua Teoria é conhecida
como Teoria de instrumentalismo evolucionista, pois, para ele o homem depende das técnicas
(instrumentos, cultura) à sua volta para seu desenvolvimento e processo de humanização.
Podemos dizer que Bruner se aproxima de Jean Piaget por dar ênfase à maturação e à inte-
ração do sujeito com o ambiente no desenvolvimento cognitivo. Porém, aproxima-se mais de
Vygotsky ao enfatizar a importância do contexto social, da cultura, dos símbolos e dos instrumentos
no processo do desenvolvimento cognitivo.
Para Bruner, o desenvolvimento cognitivo da criança depende da utilização de técnicas de
elaboração da informação, com o fim de codificar a experiência, levando em conta os vários sis-
temas de representação ao seu dispor.
Bruner, assim como Piaget, tipificou etapas do desenvolvimento cognitivo: até os 3 anos
de idade, a criança passa pelo estágio em que faz uso da representação ativa; dos 3 aos 9 anos,
faz uso da representação icônica, e a partir dos 10 anos de idade, acede ao estágio da represen-
tação simbólica.
Resumindo:
- No estágio da representação ativa - a criança representa o conhecimento com base na
memória motora; a ação é a forma de representação do real;
- No estágio da representação icônica - a criança passa a representar o mundo com base na
percepção visual, mas a sua capacidade é fortemente dependente de uma memória visual, concreta
e específica; e,
- No estágio da representação simbólica - a criança constitui a forma mais elaborada de
representação da realidade, na qual a criança é capaz de utilizar uma linguagem simbólica, de cará-
ter abstrato e sem dependência direta da realidade. A passagem por esses estágios pode ser acele-
rada por meio da imersão da criança num meio cultural e linguístico rico e estimulante.
Outra proposta importante de Bruner foi a ênfase na aprendizagem por descoberta. Para
ele, as crianças devem explorar as situações para que estejam mais ativas e envolvidas em sua
aprendizagem do que em metodologias expositivas nas quais as crianças ficam mais passivas, pro-
posta que é coerente com outra contribuição muito significativa de Bruner para a Educação, que foi
a proposição do currículo em espiral. A ideia central da proposta é que os alunos recebam informa-
ção básica sobre determinado assunto de forma que possam construir uma base para aprender mais
sobre o assunto em situações futuras (por exemplo, mais aulas, semestres, anos escolares). Os as-
suntos devem ser apresentados cada vez com mais detalhes e complexidades, permitindo que o
aluno possa pensar e repensar sobre o assunto, até que atinja domínio ou maestria (BRUNER, 1973).
Em outras palavras, isso quer dizer que qualquer coisa pode ser ensinada, pelo menos nas
suas formas mais simples, a alunos de todas as idades, vez que os mesmos tópicos serão, posterior-
mente, retomados e aprofundados. Essa ideia é contrária às proposições de Piaget de que as crian-
ças precisam atingir certos estágios para aprenderem certos conteúdos.
Por outro lado, é próxima à ideia de Vygotsky de que se pode usar a Zona de Desenvolvi-
mento Proximal (ZDP) para alavancar o desenvolvimento.
Um conceito importante da Teoria de Ensino de Bruner é o Scaffolding (andaime), ou seja,
para ele, o professor deve criar condições de ensino que funcionem como um andaime para auxi-
liar a criança a superar a sua ZDP e atingir novos patamares de aprendizagem.
4.6. A APRENDIZAGEM E O ENSINO NA PERSPECTIVA HUMANISTA
O cenário da Psicologia norte-americana, em meados dos anos 1950, era dividido basica-
mente entre os psicólogos behavioristas e os psicólogos contra os behavioristas, que deram início
ao movimento da psicologia cognitiva. Nesse mesmo período, muitas críticas surgiram também
contra a Psicologia Cognitiva que, sobre as bases do behaviorismo, era acusada de ser mecanicista
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e de desconsiderar a totalidade do ser humano. Assim, surge a Psicologia Humanista, cuja maior
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expressão é a de Carl Rogers (1902-1987).
A Teoria da Aprendizagem Escolar de Rogers se encontra de forma implícita na sua Teoria
de Psicoterapia. Na realidade, ainda nos anos 1920, Rogers propôs uma nova forma de ensino que
tomava o aluno o centro do processo educativo, mediante um estilo de aula tão diferente quanto
atrativo e estimulante e que consistia em suprimir as aulas expositivas e em aprender sozinho ou
em grupos de trabalho, sem a autoridade do mestre, cada qual se ocupando dos seus próprios inte-
resses (PUENTE, 1978).
Essa proposta, conhecida como o “Ensino Centrado no Aluno”, era pautada em grande
parte nas ideias de John Dewey. Contudo, Rogers não permaneceu muito tempo no campo da
Psicologia da Educação, interessando-se mais pela Psicológica Clínica, na qual avançou enorme-
mente com base na filosofia humanista e criou a terapia centrada no cliente.
Figura 12 - Carl Rogers (Fonte: Wikimedia Commons) Figura 13 - Abraham Maslow (Fonte: Wikimedia Commons)
Dessa forma, a Teoria de Maslow nos ajuda a lembrar de que para que uma criança esteja
realmente motivada a aprender é necessário que condições básicas, como estar segura e alimen-
tada, sejam preenchidas. Além disso, assim como Rogers alerta, é preciso que a motivação para
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aprender seja cada vez mais uma necessidade interna de autorrealização do que uma exigência ex-
67
terna que force o aprendiz a algo que ele não vê como uma necessidade.
4.7. A APRENDIZAGEM E O ENSINO NA PERSPECTIVA DA APRENDIZAGEM SOCIAL
A proposta do psicólogo norte-americano Albert Bandura (1925) nem sempre é imediata-
mente relacionada com a Educação, embora contribua, significativamente, para a análise e a me-
lhoria dos processos educativos, por mostrar que, boa parte da nossa aprendizagem ocorre por
imitação, de forma implícita.
A Teoria da Aprendizagem Social de Bandura deriva dos trabalhos behavioristas, distin-
guindo-se deles, ao revelar o mecanismo da Aprendizagem Vicariante ou por Imitação, colocando
em dúvida, a hipótese de que, a maioria da aprendizagem humana ocorre por meio do Condicio-
namento Clássico de Pavlov e Watson ou do Condicionamento Operante de Skinner.
Bandura propôs, a partir dos seus experimentos, a Teoria da Aprendizagem Social, enfati-
zando que o ser humano pode aprender, não apenas, por meio da experiência direta – o tipo de
aprendizagem explicado pelo condicionamento clássico e operante, mas também pela observação
do que acontece a outros quando agem no meio físico e social (SALDAÑA; DEL PRETTE & DEL PRETTE,
2002).
Em outras palavras, para Bandura, nós aprendemos novos comportamentos muitas vezes,
sem a necessidade de realizá-los ou receber reforços para eles, mas sim, pela observação de ou-
tras pessoas fazendo, o que se denomina aprendizagem vicária, aprendizagem por imitação ou
observacional.
Segundo a proposta de Bandura, a aprendizagem por imitação ocorre quando as pessoas
olham e prestam atenção ao que uma pessoa (modelo) faz, para então se lembrar do que o mo-
delo fez e, por fim, transformar essa aprendizagem em ação, podendo reproduzir o mesmo com-
portamento. Pensando na Escola, podemos notar vários exemplos de aprendizagem vicária, como
o fato de adolescentes começarem a se comportar de modo semelhante, ou mesmo as crianças que
imitam o jeito de seus pares ou adultos próximos ao andar e falar.
A Teoria da Aprendizagem Social é muito influente na psicologia clínica e no desenvolvi-
mento de métodos de ensino de habilidades sociais, porém, ao ser transposta para a Educação faz
com que nós reconheçamos a importância das aprendizagens indiretas que ocorrem o tempo todo
em um estabelecimento de ensino e fora dele.
UNIDADE Concepções de Aprendizagem e Práticas de Ensino
As crianças aprendem muito mais do que o conteúdo formal que lhes é ensinado; elas apren-
dem a postura e o interesse do professor que ensina, aprendem com seus colegas e aprendem coi-
sas que nem sempre são explicitadas ou passíveis de serem avaliadas, como emoções, valores e
crenças. Além disso, Bandura mostrou que nem sempre a pessoa necessita ser reforçada ou punida
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para aprender, aprende-se “sem querer” e se aprende por automotivação, por exemplo, quando se
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quer muito fazer algo e se observa atentamente para aprender.
A Teoria da Aprendizagem Social ajuda a entender não apenas sobre como as pessoas
aprendem destrezas e habilidades, mas também, como transmitem, na sociedade, as atitudes, va-
lores e ideias.
Uma última característica importante da Teoria de Bandura é a distinção entre a expectativa
do resultado e autoeficácia.
Por expectativa de resultado, entende-se o julgamento sobre as consequências para um
determinado desempenho, o que pode facilitar a seleção dos comportamentos do repertório ou
a decisão entre, emitir ou não, certos comportamentos em relação a demandas do ambiente,
como, por exemplo: imagino as consequências de faltar em uma festa e por isso decido se vou à
mesma ou não.
Já a autoeficácia se refere ao julgamento que a pessoa faz sobre a sua própria capacidade
de emitir certo padrão de comportamento. Crianças com baixa autoeficácia acreditam que não
conseguem realizar certas coisas e, portanto, não tentam, o que reforça a sua auto crença e, por
conseguinte, a sua dificuldade (SALDAÑA; DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2002).
4.8. CONCLUSÃO
Concluímos nossa Unidade ressaltando que, as diferentes teorias aqui apresentadas, reve-
lam diferentes aspectos sobre a aprendizagem e, por conseguinte, sobre como podemos melhorar
as condições do ensino.
Cada uma dessas Teorias apresenta contribuições importantes para os processos educativos
e, para além das discordâncias entre os autores, o mais importante é que você possa compreender
que nós aprendemos em todos os lugares e o tempo todo, mas em situações de aprendizagem em
um estabelecimento de ensino, é muito importante que estejamos fundamentados sobre as bases
de teorias e práticas de qualidade, que possam orientar e facilitar a aprendizagem dos alunos.
Livros
Psicologia Cognitiva
STERNBERG, R. J. Psicologia Cognitiva. 5.ed. São Paulo: Cengage Learning, 2010.
Aprendizagem implícita e explícita: uma visão integradora
PAULA, F. V.; LEME, M. I. S. Aprendizagem implícita e explícita: uma visão integradora. Psi-
cologia em Pesquisa, Juiz de Fora, 4 (1), p.15-23, 2010.
Tecnologia do Ensino
SKINNER, B. F. Tecnologia do Ensino. São Paulo: Pedagógica, 1972.
O processo da educação
BRUNER, J. S. O processo da educação. 3.ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1973.
Aprendizagem: uma resenha das interpretações psicológicas
HILL, W. F. Aprendizagem: uma resenha das interpretações psicológicas. Rio de Janeiro: Gua-
nabara Dois, 1981.
Vídeos
Experimentos de Albert Bandura sobre a aprendizagem social da violência (narrados por Ban-
dura) https://youtu.be/3nh58Hwnl0E
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Referências Bibliográficas 69
BRUNER, J. S. O processo da educação. 3.ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1973.
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logia da educação: seis abordagens. São Paulo: Avercamp, 2004, p.109-34.
CUNHA, M. V. John Dewey, a outra face da escola nova no Brasil. In: GHIRALDELLI, Paulo (org.). O
que é Filosofia da Educação? 3.ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. p. 248-63.
FLAVELL, J. H. Metacognitive aspects of problem solving. In: RESNICK, L. B. (Ed.). The nature of intel-
ligence Hillsdale: Erlbaum, 1976. p.231-6.
GARDNER, H. Estruturas da mente: a Teoria das Múltiplas Inteligências. Porto Alegre: Artes Médicas,
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HILL, W. F. Aprendizagem: uma resenha das interpretações psicológicas. Rio de Janeiro: Guanabara
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MOREIRA, M. B.; MEDEIROS, C. A. Princípios básicos de análise do comportamento. Porto Alegre:
Artmed, 2007.
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PAPALIA, D.; OLDS, S. W.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento Humano. 8.ed. Porto Alegre: Artmed,
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RONCA, Antonio Carlos Caruso. Teorias de ensino: a contribuição de David Ausubel. Temas psicol.,
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SKINNER, B. F. Ciência e comportamento humano. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
SKINNER, B. F. Tecnologia do Ensino. S. Paulo: Pedagógica. 1972.
STERNBERG, R. J. Psicologia Cognitiva. 5.ed. São Paulo: Cengage Learning, 2010.
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5.1. CONTEXTUALIZAÇÃO
Nesta unidade nós iremos discutir em maior profundidade as contribuições da Psicologia da
Educação para a formação dos professores. Desse modo, um foco de especial interesse é a constru-
ção da identidade profissional do professor que deve ser entendida tanto em seus aspectos indivi-
duais quanto coletivos.
Os estudos em Psicologia, de modo geral, oferecem muitos elementos para o entendimento
sobre os processos de construção de nossa identidade. Alguns desses estudos nos mostram que nós
não temos uma única identidade, mas sim diversas identidades que vamos adquirindo durante a
nossa vida, dentre elas há uma identidade profissional. Outros estudos mostram que nós construí-
mos e reconstruímos nossa identidade agindo no mundo. Por meio de papéis pré-estabelecidos que
assumimos nós vamos ressignificando esses papéis e construindo nossa própria identidade.
Dessa forma, podemos perguntar como formamos nossa identidade pedagógica ou do-
cente? Como nos tornamos professores? O que a formação do professor tem a ver com a sua iden-
tidade profissional? Para darmos início a essa discussão faremos primeiramente alguns apontamen-
tos históricos a respeito da formação do professor brasileiro, para então discutir o que as pesquisas
dizem sobre a constituição identitária do professor.
5.2. APONTAMENTOS HISTÓRICOS SOBRE A FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO BRASIL
Os dominavam a educação nacional, até serem expulsos, em 1759, de todos os territórios
portugueses, incluindo-se o Brasil. Logo após a sua expulsão, durante a Reforma Pombalina, foram
implantadas no Brasil as aulas régias (ou estudos menores) que compreendiam o estudo das huma-
nidades, desta vez sendo pertencentes ao Estado e não mais à Igreja, configurando o primeiro sis-
tema de ensino público no Brasil, porém, limitado às elites brasileiras. Basicamente se ensinava a
ler, escrever, contar e um pouco de retórica, grego e filosofia, o restante da formação poderia ser
feito por aulas particulares ou em escolas religiosas que ainda podiam existir. Mais tarde, com a
vinda de D. João VI em 1808 são criados também os primeiros cursos superiores e as primeiras fa-
culdades no Brasil. Contudo, para Saviani (2009), a questão do preparo de professores só emergiu
verdadeiramente no Brasil de forma explícita após a independência, quando se começou a cogitar
a organização da instrução popular.
Segundo Saviani (2009), a questão da formação de professores só é explicitada a partir da
promulgação da lei das Escolas de Primeiras Letras em 15 de outubro de 1827, que destacava que
os professores deveriam ser treinados, às próprias custas, nas capitais das respectivas províncias,
enfatizando assim o preparo pedagógico do professor. Em seguida, após a promulgação do Ato Adi-
cional de 1834, a instrução primária passou a ser responsabilidade das províncias, e com isso a for-
mação dos professores que vinha sendo seguida nos países europeus passou a ser realizada no Brasil
com a criação das Escolas Normais.
Em 1835, é inaugurado na cidade de Niterói o primeiro curso de formação de professores,
denominado de Curso Normal. Seguido pela criação de outros cursos na maioria das províncias
ainda no século XIX. Essas escolas, entretanto, fechavam e eram abertas periodicamente, seu fun-
cionamento era instável e intermitente, pois eram onerosas e ineficazes, formando poucos profes-
sores. As Escolas Normais preconizavam uma formação específica, que deveria guiar-se pelas coor-
denadas pedagógico-didáticas, contudo predominava nessas escolas a preocupação com o domínio
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dos conhecimentos a serem transmitidos nas escolas de primeiras letras. O currículo de formação
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de professores era então apenas as mesmas matérias que seriam ensinadas nas escolas de primeiras
letras com base na suposição de que os professores deveriam ter o domínio daqueles conteúdos
que lhes caberia transmitir às crianças, e desconsiderando o preparo didático-pedagógico (SAVIANI,
2009).
Além disso, os cursos normais apresentavam como característica principal a tendência de
uma escola limitada à formação da elite brasileira que apenas aceitava alunos do sexo masculino.
Nestas condições, fica claro que a verdadeira demanda educacional brasileira não era atendida, pois
a grande maioria da população era pobre e poucos eram alfabetizados. Segundo o Mapa do Analfa-
betismo no Brasil (2003), chegamos ao final do Império com apenas 1,8% da população que sabia
ler e escrever.
No período republicano, a profissionalização do magistério é ainda tímida, recebendo pouco
apoio governamental. Era necessário, então, redefinir o papel do professor na sociedade brasileira,
que se industrializava e abria portas para uma economia capitalista. Consequentemente, sua for-
mação também deveria ser repensada. Com a consolidação do Estado Novo, a constituição de 1937
estabelece como competência da União: “fixar as bases e determinar os quadros da educação naci-
onal, traçando as diretrizes a que deve obedecer a formação física, intelectual e moral da infância e
da juventude” (art. 15, inciso IX). Os desdobramentos legais de decretos e legislação educacional
fixam normas para a formação do professor, e assim, consolidam o Curso Normal em nível secun-
dário profissionalizante.
Esse quadro será revisto a partir de 1945, com o fim do regime político do Estado Novo,
período que foi caracterizado pela centralização do poder, pelo nacionalismo exacerbado, pelo an-
ticomunismo e pelo autoritarismo. De acordo com Decreto-Lei 8530, de 02/01/1946, o Ensino Nor-
mal tinha por finalidade duas frentes: à primeira cabia prover a formação do pessoal docente ne-
cessário às escolas primárias; e habilitar administradores escolares destinados às mesmas escolas;
à segunda, desenvolver e propagar os conhecimentos e técnicas relativos à educação da infância.
Além da questão técnica e legislativa, devemos considerar o que significava ser professor
neste período. O que se observava era que a profissão de “Professor” era “romantizada”, havia certo
status social em ser professor que significaria respeito e ascensão social. Assim, a classe pobre e
feminina brasileira - tornando-se professora - encontraria na profissionalização uma saída, uma mu-
dança para uma classe economicamente mais estável. Leia um trecho da música gravada por Nelson
Gonçalves em 1949 e perceba o universo romântico em que está inserida a Normalista, ou seja, em
como eram amadas e elogiadas as professoras.
Normalista
Vestida de azul e branco
Trazendo um sorriso franco
No rostinho encantador
Minha linda normalista
Rapidamente conquista
Meu coração sem amor...
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Além deste romantismo ingênuo, típico dessa época, observamos que o gênero feminino
73
predominou nos cursos da modalidade Normal, para formação de professores. Nestas condições,
as professoras eram atraídas a se profissionalizarem, a fim de atenderem às demandas pela educa-
ção primária, cada vez mais procurada pela classe pobre, mas que não foi atendida, porque chega-
mos em 1960 com 39,7% da população acima de 15 anos analfabetas, segundo a tabela 2 do Mapa
do analfabetismo no Brasil (2003).
Nota - em milhares de habitantes
Em uma pesquisa da História da Educação no Brasil, destes tempos, representada pela foto,
abaixo, pode-se constatar, que a formação oferecida por essa modalidade de ensino apresentava-
se marcada pela dicotomia: formação para a sala de aula e formação para a gestão escolar, carac-
terísticas dos cursos superiores de pedagogia até os dias atuais.
75
- Considerando o exposto: você já imaginou o quanto o professor, dentro da escola,
é “poderoso”, é uma liderança na formação de pessoas para o mundo? Será que re-
conhecemos e valorizamos a importância dos professores nas sociedades? Será que
os professores são cientes da importância de suas ações e da necessidade de que
estejam cientes de que suas ações podem tanto formar pessoas que pensem por si
mesmas como pessoas alienadas?
Em sua obra “Que raio de professora sou eu?” Abramovich (1994) conta a história de Laura,
uma professora de História de 33 anos que escreve um diário falando sobre seu trabalho como pro-
fessora e sua vida pessoal. Dessa forma, ela apresenta em pequenos relatos o quanto o professor
inconsciente do poder de sua ação pode fazer “coisas” no ato de ensinar que “levem” o aluno a
organizar-se como pessoa (personalidade) para seu aperfeiçoamento ou total destruição. Ela enfa-
tiza que ensinar parece ser um ato confuso em que não se tem clareza em se “passar” certezas
pessoais ou arriscar para que os alunos encontrem as suas verdades.
Formar cabeças feitas ou abrir cabeças para o que der e vier? Passar minhas certezas ou
arriscar que os alunos escorreguem, caiam e achem a sua resposta, o seu caminho? Talvez,
até oposto ao meu. [...] Complicado tudo isso. É onde mais me debato. Cada mergulho e cada
volta à tona pra respirar me trazem novas perguntas. Novas dúvidas. Novas incertezas.
(ABRAMOVICH, 1994, p. 84)
Então, para ser professor há a necessidade de consciência profissional e pessoal.
Saber que é um líder poderoso, “fazedor” de cabeças e, muito mais, organizador de vidas em um
contexto de existências (tempo e espaço determinados); agindo para que o movimento do mundo
assuma características de qualidade ou de um mesmismo sem sabor e meramente impositivo e des-
truidor.
Abramovich enfatiza, ainda mais:
Chega deste vai levando... Chega de botar a culpa nos outros e lavar as minhas mãos. Está
na hora de crescer. Crescer como professora. Como pessoa. Como pessoa-professora. Assumir
as minhas responsabilidades nisto tudo que está ai. Parar de me achar uma vítima. Sou vítima
sou carrasco. Sou decapitada e decapito. Sou mandada e mando. Ensino e sou ensinada.
Aprendo com os meus alunos e desaprendo com outros professores. Sou cutucada por alguns
professores e desanimada por um montão de alunos. Tudo acontecendo junto. Ao mesmo
tempo. Tenho que parar de me lamentar. Tomar uma atitude. Depende de mim. A escolha é
minha. Só minha. (op. cit. p. 90).
Pelo que foi exposto até o momento, é possível afirmar que o ato educativo não é tarefa
fácil. É, pois, um trabalho árduo que exige do profissional reflexão constante para tomada de deci-
sões e organização de atos gestores do que se pretende enquanto ação deliberada sobre outros. Na
proposição de Paulo Freire (1979; 1985; 1998), é decidir “politicamente” entre o libertar (emanci-
par) ou escravizar pessoas pelo ato educativo na ação profissional do professor. A escolha é do pró-
prio sujeito que se colocou à disposição de “ser professor”.
Não se trata de imposições, porém, de informações em que a pessoa se conscientize do seu
campo de atuação e referencie seus atos reconhecendo-o como útil à formação de outras pessoas
para responder, com qualidade, os desígnios no contexto vivencial onde se encontra.
Teóricos da Psicologia como Wallon diriam que educar é um ato necessário para a adaptação
do ser humano no mundo de cultura e para humanizá-lo. Assim, poderíamos complementar com as
ideias de Vygotsky, de que não basta impor conhecimentos sem que haja neles sentido e significado
para que possamos nos tornar “homens do mundo”; convivendo e comungando harmônica e inte-
rativamente dos prazeres de saber, ser e fazer.
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Nesse sentido, pensando sobre a construção da identidade do professor, a Psicologia tem
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muito a contribuir. A Psicologia como Ciência tem como foco de estudo o ser humano – indiví-
duo/sujeito. Tenta estabelecer um sistema de estudo reconhecendo as relações constantes entre
esse sujeito e o mundo (objeto). Defende que é viável a observação do sujeito nessa constante in-
teração para compreender como se constroem suas ações e pensamentos, bem como tudo aquilo
que é representativo de sua intervenção no universo e em si mesmo. O mistério está em como o ser
humano se torna “ele mesmo” e como esta “identidade” o faz agir e reagir de modo peculiar àquilo
que lhe aparece como estímulo no mundo em que vive.
A Psicologia nos mostra que cada pessoa é única – indivisível – porém, convive em grupo
adaptando o que é individual ao que é coletivo (interação constante entre o sujeito e o objeto).
Resultado: nós como somos! Nem bom, nem mau! Nem certo, nem errado! Porém, necessários ao
que temos de enfrentar no mundo por nós mesmos.
No contexto ser humano-mundo (sujeito-objeto), conhecer como ambos se relacionam tem
como objetivo fazer deles o melhor qualitativamente para mútuo aperfeiçoamento.
Propor evolução, mudanças significativas e pertinentes ao tempo e espaço em que se encontram o
homem e o seu mundo.
Fatalmente, as transformações podem até ocorrer naturalmente, porém, sem certeza dos
resultados que serão obtidos. Para amenizar erros, como recomendaria Paulo Freire
(1979;1985;1998) é importante planejar e planificar as ações sobre o mundo e o sujeito, buscando
conscientemente o que fazer, como, para quê e para quem. Aqui, enfatizamos a importância do ato
de educar e a formação de profissionais para tal.
É o profissional da educação – professor – que terá o compromisso e a responsabilidade de
projetar sistematicamente ações que orientem o ser humano à mudança; à transformação. A cons-
ciência está no ato de pensar o porquê de educar – libertar ou escravizar? – qualidade de vida ou
empurrar com a barriga? Que raio de professor sou eu?
Enquanto considerada como “Ciência na Educação”, a Psicologia da Educação visa orientar
o futuro educador para que se torne consciente de seu poder de liderança na transformação do
sujeito e do mundo. Assim, não é fazer de qualquer jeito; é fazer tendo a real noção do que se deseja
como interventor do mundo.
A Psicologia da Educação está em um curso de formação de professores muito mais para
fazê-lo entender-se como indivíduo que influencia e que é influenciado e como esta relação reper-
cute no movimento da coletividade e da pessoa a ser formada.
Não se trata de terapia, mas de fornecer elementos para que o futuro profissional encontre
a sua identidade profissional e se assuma como corresponsável dos resultados da ação educativa
no mundo. Trata-se de contribuir para construção da nossa identidade pedagógica.
- Trocando ideias: tendo como base o clássico livro de Glória Pimentel (1996), cujo
título é “O professor em construção”, vamos refletindo; pensando em como nos tor-
namos professores. Mais especificamente, o que é ser professor. Ser não é o mesmo
que estar... Óbvio? Não tanto como pensamos. Ser é assumir posições e atitudes que
nos identificam perante o mundo e, mais especialmente, a nós mesmos. É possuir um
referencial que nos permita a consciência do real em tudo que nos cerca e nos dá a
condição de saber do nosso existir.
Quando pensamos em ensinar temos que pensar em questões como: o que quero ensinar?
Formar quem? Para quê? Que mundo? Que tempo? Que cultura? Quem irei encontrar no futuro
enquanto sujeito que formei? Então também diante destas questões também temos que pensar
sobre a formação dos professores. Como formar professores? Que professores serão esses? Que
formação será a melhor? O que esperar dos professores?
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Flores (2003) destaca que a maneira de se enfatizar a formação de professores está direta-
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mente ligada a determinadas concepções que se tem do papel do docente, da escola e do currículo
em determinada sociedade. Assim, ensinar implica em levar à aquisição de atitudes, valores, conhe-
cimentos, técnicas que requerem um processo reflexivo e crítico do que significa ser professor, e,
quais devem ser os seus propósitos e valores, relacionados à própria ação e ao que se impõe nas
políticas públicas de educação.
É então, não só o “fazer” ou desenvolver conteúdos impostos por diretrizes curriculares, mas
tomar decisões, emitir pareceres e decisões fundamentados, justificar e reconhecer as próprias
ações, ler e interpretar ocorrências do contexto educacional/escolar em que atua agindo coerente
e logicamente. O propósito sendo sempre o de conduzir/orientar o ensino para o aprender.
Se pretendermos formar professores para um bom desempenho profissional, ainda ressalta
Flores (2003), é então necessário promover novas atitudes em tais professores que estão ainda em
formação, pois além de aprenderem conteúdos, processos de pesquisa, reflexão e fazeres metodo-
lógicos, implica em dispor em uma discussão, o que de fato, significa ser professor, em um tempo
de desafios em que sociedade e escola são cada vez mais exigentes para responder às imposições
da sociedade local e mundial.
Tornar-se professor trata-se de um processo complexo e multidimensional que abrange inú-
meras facetas, desde motivações individuais até imposições sociopolíticas e culturais.
Flores (2003) ainda estabelece quatro elementos básicos para contextualizar a formação do
professor que são:
• contexto político: o enquadramento legal para formar professores; as ênfases nacionais
e regionais e a normatização de Leis Educacionais.
• contexto curricular: o papel do professor; o papel de aluno; a compreensão do que é
ensinar e aprender; as matrizes curriculares (conteúdos propostos para as disciplinas es-
pecíficas) e as noções de políticas para formar sujeitos.
• contexto de investigação: aprender a ensinar; aperfeiçoamento e desenvolvimento pro-
fissional; constante reflexão sobre a prática educativa (conscientização); socialização
profissional (trocas entre parceiros de profissão).
• contexto prático: condições de trabalho; interação com as instituições educacionais;
aquisição de cultura e estruturação de liderança; organização de papéis e tarefas; opor-
tunizar aprendizagens (formação ao longo do tempo).
Desta forma, percebe-se a responsabilidade de ser professor e de formar o professor.
É fundamental a manutenção da ligação com o real e plano consciente sem perder o foco de que
ser profissional da educação exige constante investigação, reconhecendo desafios da sociedade de
informação, potencialidades de cada instituição e de si mesmo em contextos direcionados por va-
lores e propósitos políticos.
5.4. ELEMENTOS CONSTRUTIVOS DA IDENTIDADE DOCENTE
Diversas pesquisas buscam compreender como a identidade se organiza e, principalmente,
nos tempos atuais, compreender a construção da identidade profissional. Em nosso caso estamos
tratando mais especificamente da construção da identidade docente, ou seja, como as pessoas se
tornam professores? O que é ser um professor?
O tema da construção da identidade e a formação de professores é assunto que preocupa
não só a Educação como outras áreas do conhecimento, como a Psicologia, a Filosofia e a Sociologia.
Acredita-se que entender a construção da identidade docente auxilia na explicação dos processos
que envolvem a docência, especialmente no que se refere ao modo de ser professor. Por conse-
guinte, a compreensão do processo de constituição identitária do professor traria contribuições
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para a sua formação e a melhoria de suas práticas nas instituições, resultando também na melhoria
78
da qualidade de ensino (FARIA; SOUZA, 2011).
A importância da temática pode ser revelada por uma pesquisa de estado da arte, ou seja,
que investigou o conhecimento mais atual sobre o tema formação de professores e identidade do-
cente. Marli André e seus colaboradores (1999) identificaram que de 1990 a 1996 foram publicados
somente na área da Educação, 284 estudos sobre o tema, o que fez com que eles concluíssem que
havia pouco interesse pelo estudo da identidade docente. Contudo, em uma pesquisa mais recente,
focalizando a produção de 1999 a 2003, Marli André identificou 1184 pesquisas sobre o tema, reve-
lando uma mudança importante que indica um aumento no interesse dos pesquisadores sobre a
problemática da constituição identitária do professor (André, 2009).
Um importante e renomado teórico sobre o estudo da construção da identidade é o psicó-
logo brasileiro Antônio da Costa Ciampa, que discute a construção da identidade sob a óptica da
Psicologia Social. Para Ciampa (1987) a identidade é uma metamorfose, ou seja, está em constante
transformação, sendo o resultado provisório da intersecção entre a história da pessoa, seu contexto
histórico e social e seus projetos. Por esta razão a identidade sempre tem caráter dinâmico, e as
suas transformações representam uma personagem. Para Ciampa, essa personagem é a forma
como a pessoa vivencia papéis previamente padronizados em sua cultura, em um movimento fun-
damental na construção identitária. Ao representar papéis, age-se de determinados modos e pode-
se construir a sua própria identidade. Em outras palavras, a identidade se constrói na e pela ativi-
dade. Nas palavras de Ciampa, “o indivíduo não é mais algo: ele é o que faz” (CIAMPA, 1987, p. 135).
Dessa forma, o professor constrói a sua identidade na e pela atividade ser docente. É sendo
professor, atuando como professor que nós criamos a nossa identidade docente. O que faz com que
a construção identitária docente dependa também do contexto em que estamos inseridos. Assim,
cabe dizer também que nos últimos anos tanto a profissão de professor quanto a escola têm pas-
sado por questionamentos e modificações que implicam em mudanças no que é ser docente.
A dificuldade que a escola enfrenta na resposta às mudanças sociais que se registram tem
conduzido ao que alguns autores designam por “crise da escola”, inserida naturalmente numa crise
mais global que atinge outras estruturas com responsabilidades educativas. As profundas alterações
na sociedade atual têm provocado efeitos profundos nas políticas de educação e a criar para o tra-
balho docente contextos novos de grande complexidade, com implicação na (des)motivação dos
professores, nomeadamente, no que diz respeito ao seu desempenho profissional.
O ensino é agora a chave para novas formas de aprendizagem, para o incremento de indica-
dores e níveis de sucesso educativo, para o aumento da receptividade por parte dos alunos, para os
novos e flexíveis procedimentos de trabalho, para outra atenção aos problemas de formação e do
desenvolvimento profissionais. Com esta mudança do sentido da educação escolar, estão necessa-
riamente a emergir novas identidades do professor, relacionadas com seus papéis e a identificação
do trabalho na escola. (ADÃO; MARTINS, 2004, p. 9-10).
Percebemos que, além da grande dificuldade de se construir uma identidade própria, a iden-
tidade enquanto profissional – e da educação – o ser professor tem uma ligação estreita com a
consciência do mundo e suas transformações, que exigem tomadas de decisões e ações rápidas,
seguras, lógicas e que promovam o bem-estar próprio e dos outros.
Georges Gudsdorf, em seu clássico livro de 1987, “Professores para quê?” questiona qual o
real papel de um professor na relação com seus alunos e com a sociedade; e o que fazer para superar
ser um mero repetidor ou um “ignorantista”? O que fazer para que o professor não seja substituído
por um livro, pelo rádio ou pela TV e outros meios de comunicação – hoje: a internet?”
Afinal, o que é: SER professor? Quando? Como? Para quê?
Paulo Freire (1979; 1985; 1998), em diversos momentos estabelece que, ser professor tem
a ver com o compromisso que se assume em contribuir, carinhosamente, para conscientizar as pes-
soas e torná-las emancipadas - no sentido lato da democracia, ou seja: ser educador-professor é
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libertar as pessoas a quem educa, pela via da proposição de conteúdos reais e diálogos animadores
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para o debate sobre a vida e como torná-la significativa e qualitativa. Propondo a superação de
pensamentos fantasiosos e as falsas crenças que limitam e alimentam ideologias da escravidão.
Paixão Netto (2001) lembra-nos que professor é uma palavra que vem do latim e significa
aquele que fala (fateor) aberta e francamente diante de um público, aquilo que pensa, acredita e
defende como a própria condição de ser. Defende ele:
Um professor é sobretudo um indivíduo íntegro, autêntico, confiável. Um ponto de referência
para seus discípulos. É o que fala com convicção, sem rodeios. Professor não é ventríloquo
nem porta-voz ou porta-mentira. Não é aquele que “dá a matéria”. É aquele que incentiva a
pensar. (p.19)
Ser professor, então, exige esforços ligados ao propósito de mostrar-se, colocar-se, de assu-
mir posições perante si e ao mundo. Obriga a “agir na urgência e decidir na incerteza” (PERRENOUD,
2001). Portanto, a consciência se faz como condição idearia em uma performance de consciência
absoluta do ser – identidade; em contrário não há afirmação de posições e tampouco convicções do
pensar e do fazer – morre-se como pessoa e como profissional.
De acordo com Abreu e Landini (2004), identidade docente é um conceito complexo, proble-
mático, múltiplo e que abarca uma enorme gama de fatores tanto no âmbito da própria profissão
como no âmbito social e político. Defendem:
O construto identidade docente é, acima de tudo, um conceito poliédrico. Os aspectos que
deve incluir essa identificação são numerosos e diversos e não só se referem às funções inclu-
ídas na atividade docente, mas também às condições sociais em que se produzem e ao plano
jurídico e regulamentar que as condiciona. Mas, para além disso, é um conceito problemático,
porque os múltiplos aspectos que convergem na sua definição apresentam-se normalmente
de forma contrária. Sua complexidade externa impede de abordar todos os seus aspectos [...]
(p. 356).
Desta forma, ao tocarmos em aspectos relacionados aos elementos que compõem a cons-
trução da identidade do professor, precisamos eleger, prioritariamente, aspectos considerados
como basilares para contribuir com a reflexão e a elaboração de modo explicativo desse fato, como
os que veem a seguir.
5.4.1. IDENTIDADE COLETIVA E IDENTIDADE INDIVIDUAL
Coletivamente, há modelos sociais considerados válidos e que fornecem elementos de in-
terpretação e que facilitam a incorporação de papéis que, supostamente, respondem ao que é es-
perado como perfil docente. Há o corporativismo que garante a construção de um protótipo da
população docente e que garantem a aceitação e o sentido de pertencimento no contexto que mi-
lita. É a tentativa de se obter uma autoimagem satisfatória de si mesmo (TAJFEL; TURNER, 1979).
Individualmente, consiste na significação e percepção que o sujeito tem do seu próprio tra-
balho e está relacionada à maneira peculiar que o sujeito interpreta os retornos de suas ações no
coletivo. O sujeito observa os efeitos de sua ação docente e constrói, em seu imaginário, hipóteses,
teorias, elementos de julgamento e valorização para o seu processo de ensinar, sobre a escola, alu-
nos e todos os elementos implicados no autorreconhecimento e, principalmente, na sua diferenci-
ação quanto aos demais professores. É firmar-se enquanto alguém que, mesmo pertencendo a um
grupo corporativo, não se perde enquanto mais na massa profissional. Tenta-se buscar a consciência
de si e sentir-se enquanto real.
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5.4.2. AS DISTINTAS IDENTIDADES E AS OPÇÕES EDUCACIONAIS INDIVIDUAIS
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Não existe uma identidade pedagógica universal; mesmo que tenhamos leis ou as regula-
mentações do Estado para o ensino. em teorias específicas, haverá, sempre, a capacidade do sujeito
fazer interpretações: é a sua participação e o seu envolvimento com o que existe no contexto edu-
cativo que vai orientando-o para rumos que supostamente dão a ele maior conforto em encontrar-
se e sentir-se como alguém que produz e aplica teorias e métodos que garantem sucesso e aliviam
a tensão. Agir conforme o que acredita dá ao sujeito retornos que o fazem firmar-se enquanto lide-
rança e sensação de ser senhor do seu próprio espaço. Porém, há o risco de, em se afastando do
contexto coletivo, cair em ações isoladas e solitárias, a ponto de esgotar-se por ausência de reno-
vação e espelho para o feedback necessário ao fortalecimento de sua existência real. Para fortale-
cimento da identidade, cabe o balanço entre semelhanças e diferenças do contexto.
5.4.3. A HISTÓRIA DE VIDA E A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DOCENTE
Não há professor que se forme por normas rígidas pré-estabelecidas ou por aparição episó-
dica. Ele se constrói paulatinamente em um movimento constante e contínuo ao longo de sua exis-
tência, primeiro como pessoa e, depois, na própria prática profissional.
Temos ao longo de nossa vida uma gama enorme de experiências com supostos professores
(mãe, tia, irmão, vizinhos) e com os efetivamente ditos ao longo de nossa escolarização. Todos com
algum tipo de exemplo, que influencia a maneira “do quê significa, o que seja - educar e ensinar”.
Assim, a construção da identidade do professor se faz por elementos estabelecidos em rela-
ção dialética da pessoa com a sociedade, em momentos da história e da cultura. Há uma projeção,
ao mesmo tempo, quantitativa e qualitativa que impulsiona para que a identidade não seja fixa e
sim em permanente aperfeiçoamento.
De certo modo, a identidade deixa de ser o que permanece, o intrínseco ou o estrutural, para
incluir também o conjuntural ou a capacidade para destruir, como sejam necessárias, as certezas do
estrutural. A identidade requer, assim, uma atualização constante que contradiz sua imanência e a
sua permanência (SANTANA, 2004, p. 363).
Nóvoa, Hubermam e Tardif são teóricos que defendem e acreditam que discutir a identidade
profissional dos professores e suas identidades pedagógicas representam um grande avanço no sen-
tido de superar escolas e professores ativistas que fingem que possuem ações efetivas, no entanto
não assumem qualquer posição no cenário educativo, deixando que tudo aconteça como obra do
acaso.
A responsabilidade e o compromisso com o ato de ensinar requerem pessoas despojadas,
corajosas, íntegras e autênticas que assumam posições firmes e conscientes, entendendo que em
suas mãos pode estar o futuro dos seus aprendizes, mas e, principalmente, a sua sobrevivência har-
mônica e equilibrada no contexto do qual também faz parte.
Livros
Que Raio de Professora Sou Eu?
ABRAMOVICH, F. Que raio de professora sou eu? São Paulo: Scipione, 1994.
A Alegria de Ensinar
ALVES, R. A alegria de ensinar. São Paulo: Editora Papirus, 2003.
A Estória do Severino e a História da Severina
CIAMPA, A. C. A estória do Severino e a história da Severina. São Paulo: Brasiliense,
1987.
Filmes
Ao Mestre com Carinho
(To Sir with Love). Direção: James Clavell, 1967.
Sociedade dos Poetas Mortos
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(Dead Poets Society). Direção: Peter Weir, 1989.
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6.1. INTRODUÇÃO
Concluindo os conteúdos propostos na Apostila de Psicologia da Educação, trataremos, a
partir daqui, da importância das relações humanas na educação. Como já vimos, nas Unidades
anteriores, ensinar e aprender são dois processos cruciais em educação e obviamente envolvem
pessoas, pois as relações humanas são fundamentais para discutirmos os processos educativos,
e, para termos uma exata noção do quanto isto é importante para o processo educacional, vamos
examinar, com mais profundidade, como os grandes pensadores da Psicologia da Educação discor-
rem sobre a importância das relações humanas e do desenvolvimento individual e social na Educa-
ção. Para isto, buscaremos entender como as ideias desses diferentes autores podem nos ajudar a
pensar, nas questões contemporâneas que são muito importantes para a gestão de uma sala de
aula, do planejamento do ensino e da avaliação da aprendizagem.
6.2. A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES HUMANAS E O
DESENVOLVIMENTO INDIVIDUAL E COLETIVO
As pessoas convivem juntas em espaço e tempo, buscando dialogar e interagir umas com as
outras. Dependendo da qualidade das relações interpessoais, elas se afastam ou se aproximam.
Pensando em educação, uma boa relação, qualitativa, pode levar o grupo/equipe escolar ao su-
cesso, caso contrário, teremos grandes conflitos, dificuldades de entendimento, antipatias e des-
motivação para continuar nas relações.
Não é nada fácil elaborarmos, construirmos e mantermos relacionamentos interpessoais,
principalmente, se estivermos em ambientes com pessoas diversas e com histórias também diver-
sas. Encontrarmos o ponto de intersecção e equilíbrio entre a maioria, o que requer: esforço, von-
tade, dedicação, tolerância, paciência, cooperação e compreensão para que haja acréscimos nas
relações humanas em que estamos inseridos, lidando ao mesmo tempo, com os aspectos individuais
e coletivos.
No individual, nos referimos a cada pessoa enquanto ela mesma, com as suas habilidades,
competências, saberes e tantos outros elementos pessoais e que representam a sua essência e iden-
tidade; para o coletivo, encontramos as variações, o nosso diferente elemento, às vezes, avesso ao
que penso e sinto, que tem regras, padrões e condições das generalidades distintas. É o momento
do sujeito e o mundo, nas práticas cotidianas, se encontrarem e se perceberem. É como se encon-
trássemos um enorme espelho que nos reflete, porém ao contrário, percebemos, então que, com
alguns, somos mais semelhantes, com outros, somos mais diferentes.
8 Conflitos e reações adversas são esperados e tomados como um movimento normal dos en-
contros e desencontros. No entanto, o gerenciamento e a negociação do processo devem ser leva-
dos a efeito no sentido de respeitar as individualidades no coletivo, apreendendo o que represen-
tam os padrões coletivos para a individualidade. A interação conflitante deve ser tomada como uma
das bases para potencializar a interação entre os sujeitos e os seus mundos, possibilitando o avanço
– desenvolvimento – de um e de outro, reciprocamente.
A Psicologia da Educação contribui para isso quando enfatiza o compromisso social direci-
onado para a transformação da sociedade e oferece contribuições para o entendimento da rela-
ção entre o eu e o outro. Porque queremos uma sociedade justa e igualitária, em que todos possam
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ter acesso aos bens da cultura, da política, da economia e a inclusão onde todos possam viver com
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honestidade e dignidade.
Com relação ao contexto escolar e na sala de aula, desejamos o mesmo, porque a escola e a
sala de aula representam a coletividade social formada por muitos indivíduos. É um contexto de
interação entre pessoas que dependendo da qualidade das relações pode haver conflitos e o que já
foi posto com o agravo de levar pessoas à desistência por desmotivação, sair da escola, da sala de
aula, desistir de tentar e prosseguir evitando, assim, as antipatias (com colegas, professores e de-
mais indivíduos envolvidos).
É necessário desenvolver no contexto escolar relações interpessoais que permitam uma inte-
gração das diversas áreas do conhecimento e das diferentes funções de cada membro da
escola, reconhecendo a necessidade de superação da fragmentação do saber e dos fazeres
[...] (PEDROSA, 2006. p.86).
A intenção é construir uma escola mais humana, em que o contexto seja organizado consi-
derando todas as vivências, possibilitando a contribuição de todos, e que todos participem e ajudem
a transformação de si, dos outros e da sociedade como um todo. Lugar onde alunos, professores,
funcionários, direção e comunidade, conscientes das suas competências, percebam-se como os par-
ticipantes e os responsáveis pela construção (pelas condições do transformar), de uma nova escola
e de uma nova sociedade, por isto, é preciso organizar a escola/sala de aula como um lugar de de-
bates, de discussões críticas e de diálogos fundamentados pela reflexão coletiva, como um lugar de
falar, se expressar, de propor, criar e recriar, não simplesmente, um lugar para ouvir e se calar com
a ausência da participação. Deve-se romper com a passividade e o imobilismo, que não caracterizam
o humano, mas o tornam um ser receptor e reprodutor das relações hierárquicas, determinadas e
sem valores significativos para o nosso viver.
Temos como objetivo a formação de pessoas humanas capazes de pensar, falar e fazer de
maneira crítica, questionador e propositor de alternativas que façam superar a si e aos objetos do
mundo, em um ambiente histórico e social, estimulando assim, a pluralidade das experiências e das
ideias.
A formação de um ser livre deve propor que seja: livre e emancipado para compreender-se
como participante necessário e importante em todos os setores da sociedade, culturalmente capaz
e consciente de ser, reciprocamente, de influenciar e ser influenciado, onde as dependências não
aparecem como imposições e, sim como fator de estímulo para o contínuo movimento do vir a ser.
6.3. UM DESAFIO PARA OS PROFESSORES: EDUCAR NA PERSPECTIVA DAS RELAÇÕES PESSOAIS
As relações humanas na escola e em sala de aula têm um papel fundamental para contribuir
com a formação e o aperfeiçoamento do ser. Para Wallon, não basta nascer humano temos que
socializar, pela via do próprio humano, para que realmente o sejamos.
Os tempos atuais nos têm propiciado muitos relatos infelizes sobre um estabelecimento de
ensino, onde estão pessoas totalmente desligadas, sem afetos positivos e egocêntricos. Basta lem-
brar-se de tantas atrocidades assistidas no interior das escolas e em salas de aula, veiculadas pela
mídia e pelas informações boca a boca: agressões entre os pares, entre os alunos e os professores,
ausência de respeito com as coisas públicas (vandalismo) e o desrespeito a si mesmo como baixa
estima e não acreditar na própria capacidade de ser e fazer.
O bullying (que até há alguns tempos, era identificado, no Brasil, como encarnação, quer
dizer: colocar coisas dentro da carne do outro (do corpo), é ação discutida em versos e prosa e
ninguém consegue chegar a um denominador comum. Ora a culpa é do professor, ora do aluno,
depois dos pais ou da comunidade e até, do sistema social como um todo.
Então nos perguntamos: será que não são as relações humanas que estão sendo negligenci-
adas pelo próprio ser humano? E a escola, que acolhe grupos de humanos, perceberá a sua
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dificuldade de trazer para o seu interior, movimentos de humanização e de cuidados com o incen-
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tivo aos relacionamentos cooperativos, amigáveis, respeitosos e comprometidos com o bem-estar
comum?
E essa não é uma tarefa fácil e simples, pois exige, por parte dos responsáveis e preocupados
com a educação, atenção, sensibilidade e esforços para compreender quais teorias temos para de-
fender a importância das relações humanas na educação e na escola. Temos que, pelo menos tentar,
pondo em prática o que sabemos e o que queremos.
- “Entre os muros da escola” - um filme que retrata essas questões e que vale a pena ser
assistido, produzido na França no ano de 2008.
Não podemos mais sustentar a formação de pessoas (professores e alunos) que são passivas,
repetidoras e ingênuas quanto ao seu papel na transformação do mundo, o nosso mundo.
A educação não é neutra e traz ideologias (conjunto de ideias, de pensamentos, de doutrinas
ou de visões de mundo de um indivíduo ou de um grupo) que supostamente alimentam uma política
que não suporta os sujeitos críticos. Alega-se que vivemos em uma democracia, mas o que temos é
o voto (e olhe lá!), sem participação efetiva nas decisões da nação, da cidade, do bairro e da escola,
como ficamos?
Alega-se que as pessoas não sabem participar, no entanto, não nos ensinam. Até quando?
Precisamos mudar para entender que as pessoas são importantes em todos os setores da vida e
que, como afirmou Piaget, somos egocêntricos (centrados em nós mesmos) em uma fase da vida,
porém com ajuda (interação com outros) vamos construindo a nossa personalidade, entendendo a
exata medida entre o eu e o outro. É assim, que a consciência ingênua passa a ser crítica. Não sozi-
nhos, mas com outros capazes e carismáticos, históricos, com experiências para serem trocadas e
compartilhadas.
“Elogios a uma resolução diferente de um problema de Matemática, a uma composição ori-
ginal, a um desenho bem explorado, são apenas uma pequena parte de forjar o novo. É im-
prescindível que adultos, professores ou não, constituam modelos e atuem como colabora-
dores, na tentativa de reconstruir o passado para transformá-lo. Para tanto, é preciso indicar
como separar o secundário do central, discutir as respostas obtidas, orientar a formulação de
novas hipóteses e apontar aquilo que é produção pessoal, diferenciando-a das já existentes.
Ao longo da interação adulto-criança, cabe ao primeiro mediar e ajudar os mais jovens a se
introduzirem no universo central da sua sociedade, confiando na sua competência para ensi-
nar e naquela das crianças para se apropriarem do conhecimento já elaborado. Isso requer
uma atitude positiva frente à aprendizagem dos iniciantes. Se o adulto não manifestar com-
preensão e empatia face as dificuldades do processo de aprender, provavelmente minará a
base que as gerações futuras necessitam para construírem novas formas de pensar e atuar
sobre o mundo.” (DAVIS e OLIVEIRA, 1990, p. 88-89).
Pequenas atitudes podem render grandes efeitos, principalmente, quando nos reconhece-
mos humanos, trabalhando com humanos e na sua lapidação. Parece uma expressão comum,
quando se afirma nas escolas, que o desejo é a formação de um ser crítico e transformador, porém,
o que na maioria das vezes fica, é o discurso e (olhe lá!) uma boa intenção. O problema parece estar
presente, quando não se tem o entendimento e a consciência do que seja na prática: levar o Ser a
mudar para ser crítico e transformador.
No nosso ideário pedagógico parece que a confusão ocorre quando, o crítico é o sujeito que
fala mal de tudo, e transformador, quando afeta as pessoas com a indisposição que deixou pela
falta de elegância e pelo ataque impulsivo, e no geral, grosseiro e ingênuo; ora, estas atitudes
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mencionadas, refletem muito mais a alienação do que qualquer outro elemento da formação do
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comportamento humano.
Para a formação de um ser crítico, reflexivo e consciente é importante entender antes de
tudo que para criticar é, primeiramente, preciso conhecer. Criticar por criticar é fazer “criticismo”
no pior sentido da palavra, sem um valor real; criticismo que apenas reproduz discursos feitos, ig-
nora as diferentes opiniões, os fatos e não promove as necessárias mudanças. Então, para avançar-
mos na formação crítica dos alunos é necessário, dar condições para que eles tenham conhecimen-
tos da base e a possibilidade de refletir sobre eles, é criar condições que possibilitem aos alunos a
realização de comparações e análises minuciosas sobre algo, com o objetivo de estabelecer um juízo
a respeito, que não seja tendencioso ou enviesado por ideologias, mas sim pelo crivo da análise
racional e crítica; assim, mostra-se porquê discutiremos a seguir, algumas contribuições dos grandes
pensadores sobre a importância das relações humanas em sala de aula, lançando luz sobre a impor-
tância do individual, do coletivo e do papel dos profissionais, em educação.
6.4. AS RELAÇÕES HUMANAS NA ESCOLA, SOB O OLHAR DOS GRANDES PENSADORES
6.4.1. AS RELAÇÕES HUMANAS NA ESCOLA PARA PAULO FREIRE
Antes de apresentarmos as ideias de Paulo Freire devemos esclarecer que ele não é um
autor da Psicologia da Educação e nunca trabalhou com Psicologia da Educação, mas as suas ideias
são muito relevantes para a Educação Brasileira. Por esta razão iremos discuti-las aqui como uma
forma de introduzir uma posição que é influente no Brasil e que se relaciona com autores da Psi-
cologia como Vygotsky.
Paulo Freire (1979, 1985) defende a educação para orientar o sujeito a passar de uma
“consciência ingênua” para uma “consciência crítica” a respeito das suas relações com o mundo.
Assim, defende que, pelo exercício da reflexão, sobre os aspectos vivenciados na realidade social,
essa mesma realidade torna-se conhecida e passível de ser compreendida, como uma condição pró-
pria e, assim, com maior significado, propondo que a educação e a escola devem exercer um papel
fundamental na conscientização dos indivíduos, desde que haja um planejamento adequado, com-
prometido com este movimento e que se promova o diálogo entre os indivíduos envolvidos no
mesmo contexto de realidade. Assim:
O processo de alfabetização política – como processo linguístico – pode ser prática para a
domesticação dos homens ou para sua libertação. No primeiro caso, a prática de conscienti-
zação não é possível em absoluto, enquanto no segundo caso o processo é, em si mesmo,
conscientização. (FREIRE, 1979, p.27).
Percebemos que o processo educacional é extremamente viável para provocar reflexões
para o processo da elaboração da consciência crítica, colocando os sujeitos em questionamento
contínuo sobre o que enfrentam na sua realidade social, centrados no diálogo e na troca de experi-
ências entre os alunos e professores em uma atividade no ambiente escolar.
Cabe mencionar que a escola, por ser um espaço de relações humanas, pode se constituir
para orientar os sujeitos rumo à consciência crítica pela via do diálogo e, também, através da seleção
de conteúdos que facilitem o refletir sobre as diversidades da realidade social.
Nesse contexto, o papel do professor é fundamental para o exercício contínuo do diálogo,
inserindo os variados conteúdos da cultura geral, por ser o animador dos debates e das reflexões,
primando por relações saudáveis que sejam marcadas pelo respeito, cooperação, tolerância, frater-
nidade e outros tantos valores ideários para a formação do ser em humano.
Deste modo de agir profissionalmente, o diálogo passa a ser considerado como uma estra-
tégia básica para a construção e a manutenção das relações humanas, na escola e na sala de aula,
para abordar todas as situações vivenciadas e, principalmente, as conflituosas e não compreendidas
da realidade como um todo.
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Dialogar é a expressão máxima das relações humanas na educação e permite que, nas trocas
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constantes, os sujeitos, ao se comunicarem, promovam as interações sociais, potencializem a for-
mação de pensamentos, criem, busquem e, vivam em harmonia, tratando-se e percebendo-se como
necessários e importantes para a cultura e história.
6.4.2. AS RELAÇÕES HUMANAS NA ESCOLA PARA LEV VYGOTSKY
Para Vygotsky, não há desenvolvimento humano sem as interações sociais historicamente
demarcadas. Eu e o outro/outros temos uma significação fundamental para que o sujeito e o
mundo possam avançar. É nas relações humanas que o ser se torna verdadeiramente humano.
São as relações humanas que permitem que o mundo seja uma construção dos próprios se-
res humanos, com as suas marcas e sentidos, para superar as imposições e os determinismos carac-
terísticos do mundo animal.
Ser humano e mundo estão continuamente em trocas contínuas, em que um se faz impor-
tante para a constituição significativa do outro. Nesse sentido, a linguagem e as suas relações com
o pensar são lugar central na obra de Vygotsky. Para ele, a linguagem tem como funções básicas o
intercâmbio social e a organização da realidade no processo de pensamento.NI
No intercâmbio social, a linguagem é instrumento necessário para a comunicação entre os
seres humanos. Sem ela, não teríamos condições de interiorizar o que temos como recursos do
meio ambiente e da sociedade como um todo, em suas estruturas sociais, políticas e culturais.
É a linguagem que traz o material existente em nossa cultura quando nos relacionamos com
outras pessoas de nossa existência. A própria linguagem é que possibilita a elaboração da lingua-
gem. Isto é, se não interagíssemos com outros seres humanos, não conseguiríamos aprender a lín-
gua que marca a nossa cultura. Aprendemos a dizer “mãe”, porque esse é o termo que identifica a
nossa progenitora; se fosse, em inglês ou japonês a palavra seria outra. Não só aprender a palavra,
mas principalmente, apreender o seu significado (conceito); mãe não é, somente, aquela que nos
deu à luz, o termo traduz sentidos tais como aquela que cuida, que é protetora, “que padece no
paraíso” etc.
Percebemos que na teoria vygotskyana põe-se em evidência o papel da linguagem como
elemento fundamental para a interiorização do meu universo de vida e que a linguagem é própria
das relações entre os seres humanos.
Também, a linguagem, que é o instrumento de comunicação/interação com os outros, pos-
sibilita que os pensamentos sejam formados e organizados em uma lógica em que, na medida em
que me comunico, internalizo o que recebo enquanto informação e necessito organizar e significar
o que recebi, para planejar a reação ou a resposta. Há o despertar do funcionamento da nossa
mente para que, internamente, processe o recebido e processe a devolução do mesmo. No entanto,
de maneira lógica e organizada pela via da minha linguagem, que fará com que o outro passe pelo
mesmo processo, como um movimento contínuo, obrigando a mudança da linguagem e a mudança
de pensamentos.
Ora, não somos estáticos, estamos em pleno movimento da transformação individual e co-
letiva – interação pela via das relações humanas.
[...] a relação entre o pensamento e a palavra não é uma coisa, mas um processo, um movi-
mento contínuo de vaivém do pensamento para a palavra, e vice-versa. Nesse processo, a
relação entre o pensamento e a palavra passa por transformações que, em si mesmas, podem
ser consideradas um desenvolvimento no sentido funcional. O pensamento não é simples-
mente expresso em palavras; é por meio delas que ele passa a existir. Cada pensamento tende
a relacionar uma coisa com a outra, a estabelecer uma relação entre as coisas. Cada pensa-
mento se move, amadurece e se desenvolve. Desempenha uma função, soluciona um pro-
blema. Esse fluxo de pensamento corre como movimento interior através de uma série de
planos [...]. Vygotsky (1989, p.108).
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Como é possível constatar pelo exposto, as relações humanas são fundamentais para o pen-
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sar e para o falar e vice-versa. Se o ser humano fosse isolado, muito provavelmente, não teria a
capacidade de se comunicar e tampouco a de pensar sobre a sua realidade e sobre si mesmo.
Desta forma, primar pela comunicação, pelas trocas na via da linguagem é fundamental para
o desenvolvimento e a transformação recíproca entre um ser humano e o mundo (outros seres hu-
manos) e o mundo (outros seres humanos) e o ser humano individual.
Para Vygotsky, o papel do professor é fundamental para garantir as interações linguísticas
em sala de aula e na escola, porque ele passa a ser um discurso de suporte, não para julgar ou
estabelecer correções ou incorreções, mas para orientar o aluno a um novo modo de olhar, ob-
servar, categorizar e conceituar os objetos trazidos para a discussão via linguagem e expressão do
seu pensar.
As intervenções dos professores nas relações humanas, via linguagem, serão as de buscar
entender o que o aluno discursou e ressignificar, a mesma fala, dentro de uma lógica linguística
diferente, porém, ampliada e mais rica de significados para que o discurso individual seja comparti-
lhado pelo coletivo sem qualquer caráter reprodutivo. Esse discurso de suporte é uma forma de
esclarecimento, pistas e fornecimento de tantas outras informações que una o grupo em uma ver-
dadeira equipe pensante e falante (cf. BAQUERO,1998).
Importante salientar que Vygotsky defende que quanto maiores forem as trocas de influên-
cia entre o pensamento e a linguagem, nas relações humanas, maior e melhor será o desenvolvi-
mento intelectual, ou seja: nas relações em que a linguagem tem papel basilar, mais inteligente fica
a pessoa que participa das suas formulações.
Portanto, a escola precisa organizar os seus trabalhos pela via da troca linguística, para favo-
recer aos sujeitos muito mais oportunidades de expressarem os seus pensamentos, sempre pri-
mando pelo discurso de suporte que é, nada mais do que, o respeito e a tolerância para com todos,
respeitando capacidades e as formas de criar entendimentos, sem perder o foco da construção do
sujeito pela via social e histórica.
6.4.3. AS RELAÇÕES HUMANAS NA ESCOLA PARA HENRY WALLON
Henry Wallon defende que a relação que a pessoa mantém como o seu meio é de extrema
importância para a formação de sua personalidade, ou seja, ajuda a organizar o modo como o
indivíduo vai se posicionar frente à sociedade, determinando papéis e lugares a serem desempe-
nhados no conjunto/coletivo.
Conviver e se relacionar em grupos, segundo Wallon, dá ao ser humano as ferramentas para
tornar-se um ser da humanidade. É nessa situação que a pessoa poderá vivenciar diferentes reali-
dades e histórias, alargando os sentidos para perceber a diferença entre si e os demais membros do
seu meio físico e social.
Nas relações humanas postas nos grupos de interação, o sujeito, as diferenças percebidas e
as diversidades da organização histórica fornecem possibilidades para que se aprenda a assumir e a
dividir responsabilidades, apreendendo as regras, trabalhando os conflitos, compreendendo a ne-
cessidade de estar vinculado aos outros, em um eterno aprender a conviver, com uma tolerância
suficiente, percebendo o acréscimo que as diferenças fazem na formação da sua personalidade.
Nas relações humanas grupais, o sujeito poderá ter acesso aos bens da cultura e trocar, cons-
tantemente, as informações e os saberes, modificando-se e modificando o seu entorno.
É nas relações humanas que a pessoa se aperfeiçoa, de forma integral, nos seus diferentes
aspectos que não só garantem a sobrevivência física como, principalmente, a social e psíquica. Para
se relacionar, a pessoa necessita desenvolver os elementos do pensamento (cognição), das expres-
sões corpóreas (motricidade) e fazer vínculos (interação) afetivos que afetam a si e outros no sen-
tido transformador.
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Portanto, a plenitude do ser é possível quando está junto (relacionamento) aos seus; isolado
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não existiria a capacidade de ser e de sobreviver.
Para acompanhar a leitura feita por Wallon é preciso um esforço para escapar de um racio-
cínio dicotômico, que fragmenta a pessoa (ou motor ou afetivo; ou afetivo ou cognitivo) na
direção de um raciocínio que apreenda a pessoa como resultado da integração dessas dimen-
sões (motora-afetiva-cognitiva). Essas dimensões estão vinculadas entre si, e suas interações
em constante movimento; a cada configuração resultante, temos a totalidade que se ex-
pressa na pessoa.
Cada configuração cria novas possibilidades, novos recursos motores, afetivos cognitivos que
se revelam em atividades que, ao mesmo tempo que convivem com atividades adquiridas
anteriormente, predominam e preparam a mudança para o estágio seguinte. (MAHONEY e
ALMEIDA, 2000, p. 11-12)
Avançar para a integralidade do ser humano necessita da consideração e da importância do
pertencer, ou seja, fazer parte de um grupo, cujas relações se deem como fator primordial. As rela-
ções humanas não são condições quaisquer e, sim, instrumentos para o Ser nas suas variadas di-
mensões.
Importante ressaltar que é pelas relações humanas que a emoção, o afeto, os sentidos se
organizam e se orientam. O humano se faz humano na medida em que constrói os seus pensamen-
tos e ações - refletidas e lógicas - para se conscientizar como isto o afeta e é afetado nas suas rela-
ções. A afetividade, ou seja, os vínculos pensados criticamente, não nasce conosco, sendo elaborada
conforme as respostas dos grupos a que pertencemos.
Aprimoramos os pensamentos e as ações na medida em que garantimos os afetos positi-
vos e qualitativos. Quanto a isso, Wallon é categórico: a escola é o lugar de excelência para a
formação integral do sujeito quando nos variados grupos. Primando pelas relações humanas, o
aluno poderá vivenciar papéis e regras diferentes, também ser socializado quanto à tolerância às
diversidades culturais e históricas.
As crianças devem frequentar a escola para se instruírem e para ficar familiarizada com um
novo tipo de disciplina e de relações interpessoais. (MAHONEY e ALMEIDA, 2000, p. 79).
Neste contexto, o papel do professor é fundamental, defende Wallon. É ele que, como coor-
denador de grupos humanos, observa a dinâmica do grupo (em suas relações) e intervém, apoiando
e orientando o grupo para que encontrem o caminho do equilíbrio. Não é apenas um transmissor
de conteúdos, é um representante legítimo da cultura que, ao selecionar o melhor dos saberes, faz
a aproximação do aluno com o que é próprio da sua realidade imediata e mediata – aguça afetos
que sejam positivos para o indivíduo e para o grupo.
Tanto a seleção dos saberes como a sua transposição didática aos alunos, dependem do com-
promisso e da competência do professor. O aluno está à mercê dele! E quando o professor
transmite uma informação está construindo a inteligência e desenvolvendo a personalidade
de seu aluno.
A interação com o outro e a interação com a cultura ampliam o conceito de socialização: a
criança e o jovem tanto podem socializar-se, relacionando-se com os membros da família, da
vizinhança, do grupo da escola, como também lendo um livro, ouvindo uma música, apreci-
ando uma pintura.
Wallon ressalta que é dever da escola oferecer às crianças, sem discriminação, o que há de
melhor na cultura. (MAHONEY e ALMEIDA, 2000, p. 81).
A escola não pode prescindir de se reconhecer como um ambiente humano das relações
humanas, cujo objetivo é o desenvolvimento integral do Ser e do seu coletivo.
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A interação entre as pessoas deve ser orientada para fortalecer as personalidades, a autoe-
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stima, a confiança em si e nos outros, respeitando a si e aos outros e sendo solidário e cooperativo
nas variadas relações.
Assim, a sala de aula transforma-se em um ambiente para a construção de convivências e
o professor um mediador das relações, lúcido e consciente que, querendo ou não, é um modelo
relacional a ser seguido.
- Wallon ressalta muito a importância de que nós consideremos a pessoa como re-
sultado da integração das dimensões motora, afetiva e cognitiva. Contudo na mai-
oria de nossas escolas, a dimensão cognitiva acaba sendo mais valorizada do que a
afetiva e a motora, salvo as aulas de educação física. Como poderíamos pensar em
propostas educacionais mais integradoras que unifiquem essas diferentes dimen-
sões? O que poderia ser revisto em nossas práticas de ensino e políticas públicas de
educação nesse sentido?
2
Centração - segundo a teoria de Jean Piaget, “é a tendência a concentrar-se em um aspecto de uma situação e negli-
genciar outros”. É uma das principais características do pensamento no estágio pré-operatório do desenvolvimento.
Descentrar - é pensar em vários aspectos de uma situação simultaneamente. Piaget acreditava que crianças em idade
pré-escolar chegam a conclusões ilógicas por não saberem descentrar. A centração pode agir como um limite no pen-
samento das crianças sobre as relações sociais e físicas.
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sistema integrado em que posições anteriores são bases para as posteriores, em um contínuo de
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aperfeiçoamento homem-mundo e vice-versa.
A escola, para Piaget, não é lugar para a imposição de verdades absolutas, mas um lugar em
que as pessoas se encontram para trocar impressões individuais (segundo a sua história de vida)
com outras tantas pessoas que têm o mesmo cabedal de elaborações.
É no grupo, pela via das relações humanas que os sujeitos vão se percebendo e percebendo
aos outros, ampliando a forma de ver a si e ao mundo. Nesse contexto:
A educação pode ser considerada igualmente como um processo de socialização (que implica
equilíbrio nas relações interindividuais e ausência de um regulador externo/ordens externas),
ou seja, um processo de “democratização das relações”. Socializar nesse sentido, implica
criar-se condições de cooperação. A aquisição individual das operações pressupõe necessari-
amente a cooperação, colaboração, trocas e intercâmbio entre as pessoas. A socialização im-
plica criação de condições que possibilitem a superação da coação dos adultos sobre o com-
portamento das crianças. O sistema escolar, por sua vez, deveria possibilitar a autonomia,
circunstância necessária para que os alunos pratiquem e vivam a democracia. A atividade em
grupo deveria ser implementada e incentivada, pois a própria atividade grupal tem um as-
pecto integrador, visto que cada membro apresenta uma faceta da realidade. (MIZUKAMI,
1996, p.71)
Podemos perceber, pelo exposto, que uma educação escolar, assim concebida, procurará
investir nas relações humanas entre os pares, provocando os alunos para a constante busca de no-
vas estratégias de pensamento, cooperativamente, para a sua inclusão na realidade social.
É o próprio sujeito que, observando as suas relações humanas, vai se autorregulando cons-
tituindo o respeito e o compromisso social, sem que haja imposições externas, o que levaria o
mesmo sujeito apenas a cumprir por reprodução ou a recusar-se a fazer algo, por não compreender
o sentido e o significado das ordens dos outros.
O professor, no contexto, tem um papel fundamental, reconhecendo-se como um dos polos
da relação e criando as situações que propiciem as condições para a reciprocidade da cooperação,
ao mesmo tempo moral e lógica.
O professor deve conviver com os seus alunos, observando, dialogando com eles para auxi-
liá-los em seus desenvolvimentos e aprendizagens, respeitando as proposições e as histórias de
vida. Cabe a orientação necessária para que o aluno transcenda do egocentrismo para a socialização
cooperativa, comprometida e respeitosa às diversidades que auxiliam na ampliação dos saberes e
das diferentes percepções da realidade.
6.4.5. AS RELAÇÕES HUMANAS NA ESCOLA PARA B. F. SKINNER
As propostas de Skinner para a Educação são muito importantes e foram muito influentes
principalmente até a década de 1980 no Brasil. Contudo, mais recentemente, as suas propostas
têm sido criticadas (muitas vezes indevidamente) como se fossem puramente mecânicas e descon-
siderassem a importância das relações humanas. Cabe-nos, portanto, dirimir essas dúvidas explici-
tando as propostas de Skinner e recomendando que se deva ler a sua obra antes de apenas fazer
críticas infundadas.
Logo de saída, precisamos destacar que, para Skinner. a maior parte de nosso comporta-
mento é aprendido por meio do condicionamento operante, ou seja, pelas consequências de nos-
sas respostas aos estímulos do ambiente. Quando Skinner fala em ambiente, ele está se referindo
não apenas ao meio físico em que vivemos, mas também às pessoas e à cultura.
Quando aprendemos a falar, a ler, a escrever, a contar, a dirigir, enfim quando aprendemos
comportamentos operantes, nós dependemos em grande parte das nossas interações com os ou-
tros, que nos ajudam a selecionar as respostas mais apropriadas até que cheguemos às respostas
adequadas, isso é o que Skinner chama de modelagem.
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Em outras palavras, um bebê que está aprendendo a falar, o faz porque observa que quando
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a mãe lhe dá água, comida, ou interage com ele usa padrões sonoros semelhantes, ou seja, usa
palavras. Aos poucos a criança também tenta usar essas palavras e vai desde pronúncias rudimen-
tares como o balbucio até a emissão de palavras e frases. A mãe aceita cada uma dessas etapas
atendendo (reforçando) o comportamento da criança no sentido de que inicialmente pode aceitar
“aaa” para água, mas aos poucos vai exigindo que a palavra água seja dita até que será solicitado
“Mamãe, por favor, me dá um copo de água”, ou seja grande parte do que aprendemos depende
dos outros que vão nos auxiliando na seleção de nossos comportamentos.
Na escola não é diferente, o professor deve ser aquele que organiza as situações de apren-
dizagem, considerando o que os alunos já sabem (seu repertório inicial) e os modos de se chegar
até aquilo que se deseja (a resposta apropriada, conhecimento).
O professor é responsável por possibilitar que as crianças que trazem seus conhecimentos
próprios se apropriem também dos conhecimentos dos outros, os conhecimentos culturalmente
construídos.
Isso fica ainda mais claro na proposta de Skinner (2007) de que existem três níveis da sele-
ção dos comportamentos: filogênese, ontogênese e cultura. O primeiro são os comportamentos
de origem filogenética, como por exemplo, a dilatação da pupila diante da luz, e se trata de com-
portamentos que fazem parte da evolução da espécie, foram selecionados naturalmente por bene-
ficiarem a sobrevivência das espécies. Trata-se dos comportamentos reflexos que podem ser modi-
ficados pelo condicionamento respondente (emparelhamento com estímulos neutros). O segundo
nível engloba aquilo que cada indivíduo aprende no curso de sua própria vida, como, por exemplo,
a falar um idioma, a cantar ou uma profissão. O condicionamento operante possibilita que novas
respostas possam ser fortalecidas (reforçadas) pelos eventos que imediatamente as seguem, de
modo que um professor pode modificar os comportamentos (ensinar) criando condições (contin-
gências) apropriadas de ensino.
Devido ao condicionamento operante é que as espécies dependem cada vez menos do que
é inato e podem aprender cada vez mais com a interação com o ambiente (físico e social). Todavia,
Skinner ressalta que o que nos permitiu ir além enquanto espécie humana foi justamente o desen-
volvimento do comportamento verbal, a fala ou linguagem, que por sua vez possibilitou o desenvol-
vimento da cultura. Essa é a nossa origem social, que nos torna tão diferentes de outras espécies.
Nós aprendemos algo e podemos transmitir esse conhecimento de forma fácil e precisa ser por meio
de palavras, criando outros elementos de cultura que poderão modificar as aprendizagens possíveis
a nível ontogenético. A cultura permite que nós nos beneficiemos a nível de indivíduos e de coleti-
vos. O que sabemos culturalmente permite avanços em todos os níveis e a escola é o local por ex-
celência de transmissão de cultura (SKINNER, 2007).
Podemos dizer assim que as relações humanas são fundamentais na perspectiva de Skinner,
à medida que elas são parte inerente do terceiro nível de seleção de comportamentos que é a cul-
tura. Comportamentos que são parte da cultura são por exemplo, as festividades, costumes e cren-
ças. Acreditar que é preciso cuidar da infância das crianças é parte de uma cultura e ajuda a melhorar
a qualidade de vida das crianças e, por conseguinte dos adultos e de toda a sociedade. Comporta-
mentos operantes no nível da cultura são mais complexos, pois envolvem mais de um indivíduo e
são selecionados ao longo da história de vida do grupo e passados, verbalmente, de um indivíduo
para outro (SKINNER, 2007).
Nas escolas as crianças interagem umas com as outras, interagem com professores e os de-
mais membros da equipe escolar. Essas relações humanas permitem a seleção de comportamentos
que são mais apropriados para a cultura, ou seja, permitem que as crianças aprendam a nossa cul-
tura. De modo que o que se aprende nas escolas interage sempre entre aquilo que já é do indivíduo
(de sua ontogênese), aquilo que é igual a seus outros colegas ou professores (filogênese) e aquilo
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que é da sociedade (cultura). A interação entre esses fatores é constante na escola, o que enfatiza
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a importância das relações humanas na escola para Skinner.
Considerando a importância dos professores nos processos educativos, Segundo Moroz
(1993), Skinner defende que, para ser eficaz, o ensino precisa ser uma ação planejada, tanto em
termos de definição de comportamentos a serem estabelecidos, quanto em termos das condições
necessárias ao seu estabelecimento. É preciso que tenhamos objetivos claros em educação para
que possamos escolher os melhores meios de atingi-los.
Desta forma, Skinner considera o professor como um dos principais elementos para que
ocorra a aprendizagem escolar. Segundo ele “ensinar é o ato de facilitar a aprendizagem; quem é
ensinado aprende mais rapidamente do que quem não é” (SKINNER, 1972, p. 4). Assim, podemos
destacar a importância que Skinner dá a função dos professores, ao enfatizar que eles são indispen-
sáveis para que se possa criar condições para uma boa aprendizagem.
Skinner ainda avança mais na discussão da importância do professor ao propor que o seu
papel é o de criar contingências (a probabilidade de que um evento possa ser afetado ou causado
por outros eventos) de reforço. Em outras palavras, o professor deve criar condições que permitam
sinalizar aos estudantes o que deve ser observado ou adquirido nas experiências, de modo que o
aprendiz possa emitir e/ou exercitar os comportamentos que se pretende ensinar.
Assim, um bom professor deve sempre avaliar as características das crianças, seu conheci-
mento de base (repertório inicial) para criar condições ideais em um ambiente que estimule e pro-
picie o aluno a compreender e executar os comportamentos que se pretende ensinar. Skinner, con-
sidera importante essa relação entre o que é do indivíduo e aquilo que ele deve aprender, o que é
externo a ele. Dessa forma pode-se também avaliar o quanto cada aprendiz mudou no decorrer do
seu processo de aprendizagem.
Um professor deve considerar também a forma de apresentação dos reforçadores nas situ-
ações de aprendizagem. Os alunos podem receber reforços por seu progresso na aprendizagem de
forma imediata (como elogios e correções) que seguem uma resposta dada, ou podem receber re-
forços intermitentes em certas ocasiões (como as notas no final de bimestres ou semestres). Tam-
bém é necessário que os alunos encontrem reforçadores intrínsecos, como por exemplo, o prazer
de escutar uma história ou de realizar uma atividade física, tudo isso deve ser considerado no pla-
nejamento de aulas (SKINNER, 1972). E Relações Humanas na Escola e na Sala de Aula
Skinner (1972) também ressalta que os exercícios e atividades que permitam as crianças re-
produzirem o que aprenderem e em situações análogas são importantes, para que assim se possi-
bilitem que os alunos possam de fato fixar a aprendizagem e utilizá-la em situações futuras. Nesse
contexto é que a proposta das “máquinas de ensinar” de Skinner ajudariam ao auxiliar na execução
de exercícios nos quais o aprendiz pode ser imediatamente reforçado por suas tentativas. O avanço
na aprendizagem nas máquinas de ensinar depende não do reforçador dos professores, mas sim do
próprio empenho do aluno em progredir em sua aprendizagem. Os professores, assim, seriam res-
ponsáveis apenas por programar sequências de exercícios individuais que fossem apropriados para
cada aluno e apresentados em uma ordem crescente de dificuldade (modelagem).
O uso das máquinas de ensinar foi pensado por Skinner (1972) também para permitir que os
professores deixassem a aprendizagem mecânica (como a memorização de conceitos) mais para as
máquinas, enquanto eles próprios pudessem se ocupar de questões interpessoais e do desenvolvi-
mento de outras aprendizagens necessárias. Para ele as máquinas podiam se ocupar da tarefa de
discriminar as repostas certas das erradas, enquanto eles poderiam executar tarefas mais impor-
tantes como o desenvolvimento de habilidades de reflexão.
“Certo, nove e seis são quinze; não, não, nove e sete não são dezoito” - está abaixo da digni-
dade de qualquer pessoa inteligente. Há trabalho mais importante a ser feito, no qual as re-
lações da professora com o aluno não podem ser duplicadas por um aparelho mecânico. Os
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recursos instrumentais só́ virão melhorar estas relações insubstituíveis (SKINNER, 1972, p.
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25).
Neste parágrafo fica claro que Skinner vê que a educação não deve se limitar ao ensino me-
cânico de conteúdos científicos, mas que vá além e forneça uma formação mais completa com sub-
sídios para que os alunos consigam se adaptar a vida cotidiana em seu meio social. Os professores
podem e devem organizar as contingências do que será aprendido na escola para que se asseme-
lhem mais as contingências sob as quais o comportamento será mais propício e útil. Ou seja, não
basta programar que vai ensinar algo, mas sim que esse conteúdo tenha uma real utilidade para
que seja de fato uma aprendizagem útil.
“Deixar o aluno à deriva” poderá resultar em o aluno aprender a tentar; no entanto, isto não
garante que ele tenha aprendido a pensar. Assim, fazer pelo aluno ou dizer a ele o que e
quando fazer algo não é desenvolver nele um comportamento independente e muito menos
ensiná-lo a pensar; por outro lado, desconsiderar a produção cultural e deixar o aluno “à
solta” não é uma prática que garanta isso. Sendo assim, o professor tem um papel essencial
já que a ele cabe auxiliar o aluno; no entanto, o professor deve atentar para o tipo de auxílio
que fornece. Ao defender a importância do professor no ensino e ao afirmar que o professor
“Deve induzir o aluno a agir, mas deve ser cuidadoso em como fazê-lo” porque “Fazê-lo agir
em uma dada ocasião pode interferir na probabilidade de que aja da mesma maneira no fu-
turo” (1972, p. 136), Skinner coloca o professor frente à necessidade de ele próprio, ficar sob
controle do que ocorre na sala de aula (MOROZ, 1993, p 39-40).
Dessa forma, como se pode notar muitas das críticas que se fazem à obra de Skinner, com
relação à Educação, não passam de críticas infundadas e resultados da leitura de trabalhos de se-
gunda ordem que por vezes oferecem interpretações erradas. Recomenda-se sempre que se con-
sulte os trabalhos originais dos autores, antes que se faça críticas indevidas que acabam por criar
barreiras ao invés de criar pontes.
6.4.6. SUGESTÕES PARA AS RELAÇÕES HUMANAS NA ESCOLA E NA SALA DE AULA
Sugerimos a seguir algumas ações que podem contribuir para o fazer diferente na escola e
na sala de aula, forjando o novo, conforme Davis e Oliveira (1990).
• Primar pelas interações em sala de aula/escola: Contribuir para que as atividades sejam
dadas em termos das discussões compartilhadas, em que um seja o suporte do outro,
em um movimento em que o professor será o discurso de suporte ajudando e incenti-
vando trocas, orientando para que haja o complemento das proposições com inserção
ao pensar e não ao contestar.
• Procedimento de ensino: O professor não é o único a falar na sala de aula. Sem diálogo
o professor está sujeito ao fracasso de sua exposição impositiva. O professor deve ser
um mediador – animador – de debates e das trocas, incentivando os alunos a se relacio-
narem e se perceberem como complementares nas suas suposições e hipóteses. O pro-
fessor deve ajudar na superação de pensamentos egoístas e baseados em falsas crenças,
buscando significações mais amplas e criativas. O conteúdo tem que ser o melhor da
cultura e ser compatível para conscientizar do que é real. O professor deve encorajar e
valorizar o que é construído e trazido para a discussão em aula.
• Uso da linguagem: Seja verbal ou não verbal, a linguagem tem importância fundamental
na comunicação de fatos e fenômenos em sala de aula. Segundo Davis e Oliveira, a lin-
guagem deve ser pensada e lógica para transmitir o que se deseja objetivamente par-
tindo do que se sabe para noções mais desenvolvidas e ampliadas com o objetivo de
ampliação e clarificação de conceitos e conteúdos.
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Nº 7 - Psicologia da Educação
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• O trabalho com os erros: Para Piaget, o erro está carregado de mensagens, principal-
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mente, com a possibilidade de entender como o sujeito elaborou aquele tipo de res-
posta, ou seja, como a pessoa pensou sobre o que foi proposto. Para o interacionismo, o
que vale é compreender o processo de aprendizagem e não o seu produto. O professor
competente faz uso do erro do aluno para investir na reestruturação do que foi ensinado
e ampliar os saberes sobre o conceito ou conteúdo.
• O trabalho em grupo: Como dizem, não serve para um fazer e os outros aproveitarem.
O professor deve acompanhar e orientar as relações estabelecidas no conjunto, supervi-
sionando para que as pessoas se tornem mais atentas, ouvintes, cooperativas conscien-
tes de si em suas proposições e que aprendam a incorporar críticas feitas as suas suges-
tões, defendendo ideias e revendo posições. É possível que no grupo um dos participan-
tes alcance a compreensão não alcançada anteriormente, devido a estar em pares tro-
cando dentro de vivencias compartilhadas. É facilitação para humanizar pela compreen-
são das diversidades.
• Construção de regras coletivas: Quando uma regra é imposta pelo professor ou autori-
dade qualquer, a tendência é que ela seja quebrada e não seguida pela maioria. Se há
cumprimento, talvez estejamos falando do medo da punição, porém, na essência, regras
são desagradáveis e não convincentes. No entanto, cabe lembrar que aquilo que é vindo
de fora não nos é próprio; é de outro; e não temos o mesmo nível de compreensão da-
quele que impõe a regra.
• Ainda sobre regras: A regra pode ser boa para quem a criou e não para aqueles que serão
submetidos a ela. Portanto, a boa regra é aquela construída no grupo, cujo valor é com-
partilhado pelas pessoas que a assumirão e, mais especificamente, é possível a negocia-
ção das normas e a estabelecer significação para a sobrevivência do próprio grupo. As
regras quando discutidas e construídas nas relações humanas passam a ter um valor e
percebidas como o sentido para orientar as ações do contexto. O processo que permite
a elaboração e a compreensão de regras é longo e envolve fatores afetivos e morais difí-
ceis de serem tratadas pelo teor sensível da proposição. Assim, regras de conduta são
importantes para a manutenção de grupos (sociais, da escola, a sala de aula), porém é
necessário que o professor utilize recursos que supervisionem e organizem toda a dis-
cussão proposta.
• O uso da ludicidade: O lúdico refere-se a ambientes e ações que promovam o prazer e a
vontade de empenhar-se no que está sendo proposto. Leva as pessoas a um clima amis-
toso e acolhedor em que tudo inspira harmonia e equilíbrio. Não só os jogos, os brinque-
dos, a dramatização são elementos lúdicos, mas, principalmente, as atitudes que elevam
e estimulam, garantindo aos sujeitos confiança em si e nos outros. Um grupo lúdico é
aquele que afeta os sujeitos de maneira positiva e potencializa os laços de amizade e
companheirismo, no caminhar solidário e corajoso. Esse tipo de atuação docente é de
vital importância para garantir a continuidade e a permanência das pessoas no grupo e
firmarem-se nas relações, verdadeiramente humanas, em que um se perceba nos outros,
sem deixar de ser indivíduo. É importante ressaltar que quando falamos em ludicidade
na educação não estamos falando em brincadeiras livres, mas sim em jogos e brincadei-
ras que sejam prazerosas,
• mas também sejam estruturadas e por isso são recursos pedagógicos para que se possa
ensinar algo. Em outras palavras, crianças na Educação Infantil podem participar de vá-
rias brincadeiras lúdicas, mas a escolha de cada uma delas deve ser intencional por parte
do professor, com objetivos claros de desenvolvimento sejam eles motores, cognitivos,
sociais, ou afetivos.
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6.4.7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Com isso posto, concluímos esta unidade e a Apostila de Psicologia da Educação, desejando
que você tenha compreendido que a Psicologia da Educação, como uma “Ciência-Ponte” entre a
Psicologia e a Educação possibilita um diálogo entre a ciência e as práticas educativas de modo que
nenhuma área se sobrepõe a outra, mas ambas cooperam para a melhoria da qualidade de ensino.
Educar é sem dúvidas, uma forma importante das relações entre os seres humanos e quando
tratamos de educação precisamos nos lembrar disto: como humanos, somos falhos, e não há ver-
dades absolutas. As teorias que vimos aqui nos mostram diferentes perspectivas, mas não são ver-
dades absolutas também, elas possuem um contexto (muitas vezes diferentes do nosso contexto
brasileiro do século XXI) e precisam ser analisadas em termos das contribuições, das possibilidades
e dos limites.
Desenvolver o pensamento crítico é um dos nossos principais objetivos; para isto precisamos
aprender a criticar também essas proposições, pois, como já afirmamos antes, não dá para criticar
sem conhecer, de fato, o que se está criticando, levando-nos a enfatizar que há a necessidade para
que sejam complementados e ampliados os seus estudos em Psicologia da Educação, buscando mais
informações sobre os autores que você gostou, e, mais informações ainda, sobre aqueles que não
gostou. Pode ser que você se surpreenda com o que vai descobrir e até passe a gostar.
Esperamos também, que você tenha se beneficiado destes despretensiosos conhecimentos,
para melhorar a sua própria aprendizagem e as suas práticas profissionais, auxiliando, com a sua
valorosa dedicação ao Magistério Público em seu Digno Trabalho, a evolução da Humanidade e do
nosso Valoroso Povo, devolvendo um pouco do que recebemos do nosso BOM DEUS e da nossa
PÁTRIA!
Abraços do
Prof. Antonio Ferreira da Cruz
Livros
Vygotsky: Aprendizagem e Desenvolvimento
OLIVEIRA, M. K. Vygotsky: aprendizagem e desenvolvimento. Um processo sócio-histórico.
São Paulo: Scipione, 1993.
Psicologia e Pedagogia
PIAGET, J. Psicologia e Pedagogia. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1988.
Vídeos
Café Filosófico - Educação e Limites
Para complementar seus estudos, sugerimos que você assista a entrevista do Psicanalista
Joel Briman e do Psicoterapeuta Ivan Capelatto para o programa “Café Filosófico” da TV Cul-
tura. A entrevista está dividida em 6 partes, destacamos as partes 3 e 6.
Os trechos estão nos sites relacionados a seguir na ordem crescente. Assistindo à entrevista,
você poderá refletir com mais conhecimento de causa a respeito do papel do professor, do
aluno e da família nas relações humanas na escola. Assista à entrevista e boas reflexões so-
bre o tema:
Parte 01
https://youtu.be/y14V1HeFX9Q
Parte 02
https://youtu.be/6R1lBpBL8es
Parte 03
https://youtu.be/8_A2lHAk0NU
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Parte 04
99
https://youtu.be/FbZFrKb7XcE
Parte 05
https://youtu.be/9Vqaw51Tz9U
Parte 06
https://youtu.be/XgHBPFY0sUM
Leitura
Relações Interpessoais: Abordagem Psicológica
BRASIL. Ministério da Educação. Relações interpessoais: abordagem psicológica. [Regina Lú-
cia Sucupira Pedroza]. – Brasília: Brasília, Centro de Educação a Distância, 2006.
https://goo.gl/qaerNq
Referências Bibliográficas
BAQUERO, R. Vygotsky e a aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artes Médicas. 1998.
DAVIS, C. e OLIVEIRA, Z. Psicologia na Educação. São Paulo: Cortez, 1990.
FREIRE, P. Conscientização: teoria e prática da libertação. Uma introdução ao pensamento de Paulo
Freire. São Paulo: Moraes, 1979.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.
LEITE, L. B. As interações sociais na perspectiva piagetiana. In: Construtivismo em revista. São Paulo:
FDE, 1993, p. 41 – 47.
MAHONEY, A. A. e ALMEIDA, L. R. (org.) Henry Wallon. Psicologia e Educação. São Paulo: Loyola,
2000.
MIZUKAMI, M. G. N. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: E.P.U., 1996.
SKINNER, B.F. (1972). Tecnologia do Ensino. São Paulo: E. P. U (Tradução de Rodolpho Azzi / Edição
original de 1968).
MOROZ, M. Educação e autonomia: relação presente na visão de B.E Skinner. Temas psicol., Ribeirão
Preto, v. 1, n. 2, p. 31-40, ago. 1993.
VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
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Extrato do Curriculum Vitae
Prof. Antonio Ferreira da Cruz
PRINCIPAIS CURSOS QUE POSSUI:
- Licenciatura em Pedagogia - Faculdade de Educação da UFRJ - Rio de Janeiro - RJ - 1974.
- Especialização em Administração Escolar - Faculdade de Educação da UFRJ - Rio de Janeiro
- RJ - 1974.
PRINCIPAIS FUNÇÕES DESEMPENHADAS:
- Alfabetizador de Adultos - aprovado em concurso público para o PNA - Programa Nacional
de Alfabetização do Ministério da Educação e Cultura - exercício docente em Belford Roxo - RJ -
1964.
- Docente da Área de Educação - aprovado em concurso público de provas e títulos do Ma-
gistério Público do Estado do Rio de Janeiro - Regente de Turmas da Área de Educação no Colégio
Estadual Miguel Couto - Cabo Frio - RJ - 1974 a 1997.
- Diretor do Colégio Estadual Miguel Couto - Cabo Frio - RJ - 1976 a 1983.
- Docente de Filosofia da Educação e Educação Comparada - Curso de Pedagogia da Facul-
dade de Filosofia, Ciências e Letras de Macaé - FAFIMA - 1976 a 1977.
- Diretor-Geral do Centro Regional de Educação e Cultura de Cabo Frio (13ª Região Escolar
do Estado do Rio de Janeiro abrangendo os municípios de: Cabo Frio, São Pedro da Aldeia, Araruama
e Saquarema) - 1978 a 1983.
- Docente de Turmas Substituto Concursado na disciplina de Filosofia da Educação - Facul-
dade de Educação da UFRJ - Regência de turmas nos campi Praia Vermelha e Ilha do Fundão 1998 -
1999.
- Docente de Turmas - Universidade Veiga de Almeida - campus Cabo Frio - Regência nas
disciplinas: Filosofia, Oratória, Sociologia da Educação e Estrutura e Funcionamento do Ensino - 2001
a 2009.
- Docente de Turmas da FERLAGOS - Faculdade da Região dos Lagos - campus Cabo Frio:
Ética, Oratória, Sociologia das Organizações e da Educação - 2003 a 2007.
- Membro eleito do Conselho Diretor da Fundação Educacional da Região dos Lagos, enti-
dade mantenedora da Faculdade da Região dos Lagos - 1988 a 1993.
- Membro Debatedor dos “Debates Populares” - Programa Haroldo de Andrade, Rádio
Globo AM - Rio de Janeiro - 1999 a 2001.
- Docente de Curso de Oratória - Grupo Novezala - Rio de Janeiro - RJ - 2007.
- Palestrante de Oratória - ECEME - Escola de Comando e Estado-Maior do Exército - 2007;
2008 e 2009.
- Docente de Curso de Oratória - OAB de Cabo Frio - RJ - 2008.
- Docente em Curso de Oratória - ECEME - Escola de Comando e Estado-Maior do Exército -
2008 e 2009.
- Docente em Curso de Oratória - AMAN - Academia Militar das Agulhas Negras - 2009 e
2011.
- Docente em Projeto Experimental de Oratória e Oratória Militar - Curso de Extensão Livre
para Oficiais indicados pela Divisão de Ensino - AMAN - Academia Militar das Agulhas Negras - 2009
e 2011.
- Docente de Filosofia da Educação, Sociologia da Educação, Legislação Educacional e Psi-
cologia da Educação - CPGEL - Curso do Professor GELCIMAR (Preparatório para Concursos do Ma-
gistério Público da União, DF, Estados e Municípios) São Pedro da Aldeia-RJ - 2014 a 2021.
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- Palestrante de “A Oratória como ferramenta do Apostolado Católico” - CESMA - Centro
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de Ensino São Miguel Arcanjo - Apostolado Católico do Exército Brasileiro - Edifício Praia Vermelha
- Rio de Janeiro - RJ - 4 de setembro de 2023.
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O sucesso na vida não se mede, somente, por aquilo que temos, mas por todos os obstáculos
que superamos.
As pessoas positivas são aquelas que caem, se levantam e dizem: “Tudo bem, vou tentar
outra vez!”
O momento que dá mais medo, é sempre, aquele, antes de recomeçar.
Tente ser como um arco-íris, no dia nublado de alguém.
Sonhe, deseje e espere, mas, principalmente... faça!
Na sua vida, você deve fazer as coisas, que acredita não poder fazer mais.
A espécie de pessoa mais inteligente não é aquela que sobrevive, mas aquela que sabe se
adaptar às mudanças. Não busque o momento perfeito, busque um momento e torne-o perfeito.
Todos os erros levam a uma lição, todas as lições levam a uma experiencia e todas as expe-
riencias deixam uma marca.
As dificuldades não existem para nos fazer renunciar às coisas, mas para nos deixar mais
fortes.
Uma pessoa que nunca cometeu erros é uma pessoa que nunca tentou coisas novas.
Os desafios deixam a vida mais interessante; superá-los, acrescenta-lhe um significado.
Não desista, mesmo que às vezes, você se sinta cansado e sem forças, cada novo dia pode
ser o começo de algo extraordinário.
Aquele que pensa demais, antes de dar um passo, viverá toda a sua vida em um pé só.
Nunca passe o seu tempo com pessoas negativas: elas sempre têm um problema para cada
solução.
Se a montanha que você está escalando parece cada vez mais imponente, significa que você
está perto do topo.
Se você busca resultados diferentes, não faça sempre as mesmas coisas na vida.
Quanto maiores forem as provas, maiores serão as suas vitórias.
Se o plano não funciona, mude de plano, mas nunca mude a sua meta.
A diferença onde você esteve e onde estará amanhã, está naquilo que pensa e faz hoje.
Pergunte-se se aquilo que você está fazendo, hoje, está ajudando a chegar mais perto de
onde você quer estar, amanhã.
Não se satisfaça com pouco, lute por tudo o que você merece.
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Lute!