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Prof.

Antonio Ferreira da Cruz

Cabo Frio - RJ
2017

~1~
 Fundamentos de Oratória para falar bem e eliminar a gagueira 
Prof. Antonio Ferreira da Cruz

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Índice
Assunto Página
A fala é o fenômeno universal mais prodigioso......................................................................................5
Quem?... Eu?!.........................................................................................................................................6
A gagueira não é uma doença................................................................................................................7

Cap. 1. A arte e o poder da comunicação


1.1. Fundamentos históricos da Oratória Positiva................................................................................11
1.2. A arte da oratória...........................................................................................................................12
1.3. Oratória: gênero e divisão.............................................................................................................13
1.4. Os diferentes tipos de oratória......................................................................................................14
1.5. A moderna eloquência..................................................................................................................................15
1.6. Estilo oratório................................................................................................................................18
1.7. O plano da forma oratória..............................................................................................................21
1.8. Leituras complementares..............................................................................................................23

Cap. 2. O orador
2.1. O que o orador deve fazer antes de falar em público.....................................................................29
2.1.1. Preparar a voz .............................................................................................................................29
2.1.2. Cuidados com a aparência, o olhar, os gestos, o vocabulário, os pensamentos e a palavra
cronal..........................................................................................................................................33
2.2. O temperamento dos oradores.....................................................................................................39
2.2.1. Como se reconhece e deve exercitar-se cada tipo de orador.....................................................40
2.3. Exercitando a gesticulação.............................................................................................................44

Cap. 3. O discurso
3.1. Língua Portuguesa: a ferramenta básica da oratória.....................................................................49
3.2. A linguagem figurada e os meios de expressão............................................................................................50
3.2.1. As figuras de estilo mais utilizadas..............................................................................................53
3.3. Há uma oratória específica recomendada para cada ambiente....................................................60
3.4. Como se planeja um discurso, uma conferência ou uma palestra.................................................62
3.5. Técnicas para a preparação de discursos e ensaios de improviso.................................................66
3.5.1. O que é o improviso?...................................................................................................................68
3.6. Os métodos utilizados na argumentação......................................................................................69
3.6.1. A lógica e a formulação dos métodos na argumentação............................................................69
3.7. A ordem e a procura das ideias......................................................................................................70
3.7.1. O processo de desenvolvimento das ideias................................................................................71
3.7.2. A ordem que se deve dar às ideias..............................................................................................72
3.8. As formas oratórias tradicionais para a intervenção em debates.................................................75
3.9. Diferentes falas para diferentes ocasiões......................................................................................76
3.10. A eloquência política....................................................................................................................79
3.11. Como se deve argumentar...........................................................................................................82
3.12. Principais formas de argumentação............................................................................................85

Cap. 4. O auditório
4.1. Como enfrentar um auditório........................................................................................................87
4.2. Ações preventivas para evitar o fracasso ......................................................................................89
4.3. Conhecer o assunto e ensaiar: segredos do sucesso na tribuna....................................................91
4.4. Preparação motriz antes de usar a palavra....................................................................................91

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Cap. 5. Recursos adicionais da oratória................................................................................................93

Cap. 6. As técnicas usadas em debates


6.1. Como se deve proceder em um debate preparado........................................................................97
6.2. O que a preparação pessoal exige do debatedor...........................................................................98
Cap. 7. O desafio da palavra eficaz
7.1. A oratória circunstancial: a palavra em todos os ângulos da vida humana.................................101
7.2. As formas de agradecimento.......................................................................................................103
7.3. Alocuções no cotidiano empresarial ou profissional...................................................................103
7.4. Leituras complementares............................................................................................................107

Notas...................................................................................................................................................111
Bibliografia.........................................................................................................................................117
Extrato do Curriculum Vitae do Autor................................................................................................118
Anexo: Exercícios de Oratória para eliminar a gagueira.....................................................................121

Atenção: O portador de titubeação ou de gagueira deverá iniciar a leitura deste opúsculo, pelo Anexo:
Exercícios de Oratória para eliminar a gagueira (página 121).

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A fala é o fenômeno universal mais prodigioso


Luís da Câmara Cascudo descreve cenários importantes, onde se fala, na página 277 da sua
magistral obra História dos Nossos Gestos:
“FALA -SE MAIS. Não lembro as cidades onde sempre houve loquacidade, mas o interior com seus ho-
mens lacônicos, como os aldeões em Portugal. Aliás o indígena é taciturno e das três raízes étnicas a mais
ruidosa é a africana. Nas vilas e regiões de povoamento difuso, o camarada respondia sem circunlóquios.
Dava as horas, e nada mais. Inesquecido o diálogo do viajante com o sertanejo levando uma pele de
onça. – É onça? – O Couro! – É seu? – Da onça! Acabou-se. As rodovias derramaram o verbalismo do
litoral. Litoral urbano porque os pescadores, gente das praias, poupavam as palavras como coisas fungí-
veis. A educação doméstica mandava usar a voz com muita parcimônia. Cantar era vadiação reprovável
e falar constituía falta de modos no povo de menor idade. Boca calada não entra mosca. As tarefas de
construções, estradas, fábricas, açudes, misturaram trabalhadores de várias procedências e costumes,
alterando pela convivência a precariedade da conversa sincopada e dos diálogos entremeados de pausas
indispensáveis. Mesmo nas humildes vendas à margem da estrada os bebedores engoliam a cachaça sem
gastos de voz. Pediu. Bebeu. Cuspiu. Pagou. Saiu. A embriaguês oferecia o silêncio sonolento. Nas Cidades
é que vivia a fauna dos bêbados gritadores, fregueses da cadeia, hospedagem semanal dos bebos de fim
de feira, briguentos inofensivos e palradores inconsequentes, gritando aos companheiros da bodega:
Como é? É pra apanhar todos juntos, ou de um em um? Sêu Vicente, mi dê aí uma lambada de cana qu’eu
quero pedir a palavra! No velho sertão. Vira uma Rêimundo! Jogava umas gotas no chão, emborcava,
despedia -se: Intante! Tempo antigo da Biogenética! O Indivíduo recapitulava a Espécie. A voz articulada
e comunicante veio ao final.”
Concordamos com este competentíssimo descritor da vida, ao mesmo tempo em que,
humildemente, pretendemos ampliar os seus conceitos com alguns exemplos práticos.
Nas cidades sempre se falou muito; no interior sempre houve seres humanos lacônicos, como
os aldeões de Portugal, especialmente, os de Carapito, minha inesquecível terra natal, localizada no
Concelho (com c) de Aguiar da Beira, Distrito de Viseu, onde, falar era uma coisa muito rara e especial:
a melhor explicação que pude obter foi a de que, as pessoas de lá economizavam oxigênio, para
poderem andar horas e horas em sua labuta diária. Percorrendo o Brasilsão-de-Deus-a-dentro,
também encontramos pessoas que agem do mesmo modo: cumprimentam o outro passante com
minguadas palavras: - ...tar..., ...pad!... (- Boa tarde, compadre!). Assim mesmo! Porque são seres
humanos iguais aos de onde nós nascemos, que também necessitam economizar o ar para andarem
o dia todo: de casa para a lavoura e da lavoura para casa. Se lhes sobrar algum tempo, também
economizam o ar para dar uma passadinha por uma venda, ir aos copitos e prosear um pouco; ora,
pois... pois... que ninguém é de ferro!
Os seres humanos lacônicos estão por toda a parte. No interior do Brasil é muito conhecido o
diálogo produzido por dois amigos que estavam trabalhando em uma mata fechada, para abrir uma
estrada.
Às cinco horas da tarde de um dia modorrento, um deles chamou o outro para que
descansassem, enquanto ele prepararia um café para ambos. Em seguida, ele arruma uma pequena
lareira com algumas pedras, retira uma chaleira de alumínio de um saco de lona e coloca a água para
ferver. Alguns minutos depois, e com a água fervendo, ele vira-se para o outro, que descansava
debaixo de uma árvore frondosa e pergunta-lhe:
- Pô pó? - e o outro responde-lhe:
- Pó pô! - e o diálogo foi encerrado. Saborearam o café e retornaram à labuta... sem mais nada
dizerem...
O incremento da radiodifusão1 no Brasil, obra iniciada e desenvolvida por Roquette Pintoi, teve
muito a ver com a mudança dessas maneiras, especialmente, a partir da fabricação em massa de
aparelhos portáteis de aparelhos de rádio transistorizados, que utilizavam a energia de pilhas comuns,

1
Radiodifusão – Edgard Roquette Pinto (1884-1954) passou à história recente como o principal pioneiro do rádio nacional, porque
fundou em 1923 a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro (hoje MEC AM). A grande importância do rádio foi percebida por este notáve l
brasileiro, quando passou a acompanhar as expedições do Marechal Cândido Rondon. Ele disse: “O rádio é o jornal de quem não s abe
ler, é o mestre de quem não pode ir à escola, e o divertimento gratuito do pobre.”

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para serem sintonizados nas emissoras de Ondas Médias (AM); fenômeno técnico-industrial que
possibilitou à radiofonia alcançar: domicílios, ambientes públicos e de trabalho, e os mais remotos
rincões da nossa Pátria. Há estudiosos que consideram a radiodifusão, especialmente a programação
irradiada pela Rádio Nacional, localizada no velho edifício A Noite, na praça Mauá, no Rio de Janeiro -
RJ, como o maior fator de integração nacional.
Até bem pouco tempo, essa emissora irradiava uma programação de cunho nacionalista,
composta por programas informativos, humorísticos, culturais e esportivos, e privilegiava o que era
genuinamente do país: transmitia, exclusivamente, obras musicais brasileiras. Essa comunicação em
português era esparramada por grande parte do território brasileiro, com especial atuação na região
amazônica e no centro-oeste, fortalecendo a integração e a soberania nacional e enfraquecendo ou
anulando as tentativas que as rádios de alguns países limítrofes faziam para ter como seus ouvintes,
os brasileiros que por lá viviam. Com isso, minimizava-se a influência da cultura espanhola e as suas
derivações andinas.
Bom tempo da Biogenética! O indivíduo recapitulava a Espécie, conforme nos ensinou
Rousseau: “A ontogênese2 repete a filogênese.”. A voz articulada e comunicante veio depois disso
tudo.
Os mais jovens podem avaliar a importância do rádio no passado recente, se o compararem,
hoje, às redes das emissoras de televisão brasileiras que cobrem todo o nosso território, e à eficácia e
à credibilidade do que propagam, além das atualíssimas redes sociais. O rádio era assim, fazendo o
povo imaginar...
Quem?... Eu?!
A dúvida que se esconde por trás destas palavras resulta de um mecanismo de defesa, elaborado
por muitas pessoas que têm medo de se expor, falar para um grupo, opinar ou dizer alguma coisa em
público para outras pessoas, mesmo que elas sejam do seu mundo e do seu convívio. Palavras que,
quase sempre, resultam do medo provocado por um grande transtorno na alma, naqueles que são
chamados a falar, tendo o sangue a esvair-se do seu rosto, e a sua pele a tornar-se amarelecida e a
desmanchar-se, em intensa sudorese - da sua fronte aos seus pés!
Quem?... Eu?! Perguntas que comprovam que essa pessoa está de tal modo, com a alma
amarfanhada, que parece possuída por estranhas e loucas vontades, desejando: tomar um gole de
água reconfortante, correr para um banheiro ou sair rapidamente do ambiente onde se está fazendo
alguma atividade que demande o uso da oratória, por ter sido convidado “para ir à frente”;
literalmente entendido, como: “ir ao inferno!”.
Isso já aconteceu com você? Também já passamos por essa experiência.
Lecionando várias disciplinas ou desenvolvendo estudos de oratória, para classes e públicos
dos mais diversos matizes sociais e intelectuais, sempre que algum estudante era solicitado para “ir à
frente”, testemunhávamos o que foi descrito acima. Muitas vezes acrescido de: pânico, fuga ou
desistência. Às vezes ouvíamos coisas surpreendentes, como: “Se alguém me pede para que me ponha
de pé e fale, ou que vá à frente para falar algo, fico tão embaraçado e aterrorizado que não consigo
clarear o pensamento.”, ou “Foge-me a concentração, esqueço-me de tudo... no início, sempre desejei
adquirir autoconfiança, capacidade de pensar e lembrar-me do que pretendia dizer, mas...”.
Ao experimentarmos tal sentimento de incompetência, devemos partir para o estudo e a
prática, afastando o medo e adquirindo a autoconfiança. Persistir sempre, mesmo após os fracassos
iniciais, constatando que:
Não há qualquer animal, livre ou cativo, que possa assemelhar-se a um orador nato;
Qualquer plateia gosta de ouvir a palavra direta, concebida de acordo com o senso comum:
deve-se conversar com ela, não falar para ela;
O dom da oratória pode ser nato, mas, também pode ser desenvolvido ou aprimorado;

2Ontogenia – desenvolvimento do indivíduo desde a fecundação até a maturidade para a reprodução (O ser humano reproduz, em sua
história, a trajetória traçada pela humanidade.).
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Falar em público não é arte fechada, a partir da primeira prática qualquer um poderá dirigir-se
a uma plateia, de modo muito diferente do que o fazia, até então;
A maioria dos compêndios que tratam de oratória é maçante, mas, assim mesmo, a dedicação
ao trabalho de leitura e redação, propicia ideias simples para serem levadas aos ouvintes;
Insistir e não perder de vista o objetivo, pensando no que a dedicação, a autoconfiança e a
capacidade de falar mais eficazmente significarão, em seu plano social e profissional;
O preparo da mente deve ser uma constante para obter o sucesso: os pensamentos fazem de
uma pessoa o que ela realmente é ou pode vir a ser; e,
Aquele que desejar dominar a palavra deve praticar em todas as oportunidades, não acreditar
em certas facilidades: muitos bons livros tratam do tema, mas é necessário, que o leitor
perceba, o quanto é importante praticar o que está escrito neles, submeter-se à avaliação dos
seus pares e de alguém que tenha conhecimento e experiência sobre o assunto.
Há oportunidades para falar em todo canto: quem quer dominar a oratória deverá associar-se a
organizações ou oferecer-se para missões que exijam o uso da fala, seja no lar, na escola, no trabalho,
em uma festinha de aniversário, na igreja, em um partido político ou em um encontro de amigos. Não
há qualquer atividade humana em que não haja um desafio para que uma pessoa se ponha de pé e
fale. Quem estuda oratória deve considerar o que Thomas Edison (1847-1931) disse: “A sorte do gênio
é 1% de inspiração e 99% de transpiração.”. O saber é alcançado com muito estudo, muita alegria e
bastante suor!
A gagueira não é uma doença
A última parte deste opúsculo é dedicada ao estudo da gagueira, que, durante muito tempo
foi considerada uma doença.
Se você é portador de gagueira ou titubeio, ou se conhece alguém que sofre disso, deve ter a
certeza de que isso não é uma doença, é apenas, o resultado de uma grande pressa para livrar-se das
situações em que está exposto, quando tem que falar ou de responder a uma ou mais pessoas que
aguardam a sua fala. Para livrar-se disso, podem começar a leitura e a execução dos exercícios
propostos, ao final deste opúsculo, no Anexo: Exercícios de Oratória para eliminar a gagueira.
Exercitando-se no que está proposto, começará a perceber que a gagueira está relacionada, apenas,
à formação da fala, que, por alguma razão humilhante ou que traz recordações muito ruins, passou a
ser formulada com extrema velocidade.
Os exercícios propostos irão fazer com que a fala deixe de ser muito rápida, para evitar algo
muito desconfortável, e comece a ser produzida em uma velocidade normal, anulando ou extinguindo
a gagueira.
Tenha fé no BOM DEUS e em si mesmo! Informe às pessoas do seu convívio, sobre o que irá
fazer e pratique todos os exercícios. E lembre-se: nunca faça os exercícios em jejum, porque a falta
de açúcar e de outros elementos podem levá-lo a não memorizar ou a ter enjoo ou desconforto,
causados pela hipoglicemia (falta do verdadeiro açúcar no organismo).
Evite falar com outras pessoas (fora do seu convívio íntimo) sobre o que está fazendo, porque
isso só aumentará a sua ansiedade. Treine sozinho e verá que os resultados aparecem, diariamente,
cada vez melhores e com a sua leitura ou a sua fala sendo produzidas em velocidades normais, e, o
que é melhor: sem titubeios ou gaguejos!
A partir de uns poucos dias você notará muitas diferenças no seu modo de falar ou ler e
eliminará a gagueira, completamente! Porque você está reeducando o seu cérebro e os órgãos
envolvidos na sua fala, em uma nova velocidade. Só isso!
Tenha tranquilidade e exercite-se!
O sucesso será alcançado, brevemente!
Cabo Frio-RJ - Casa do Recanto das Dunas (Outono de 2017)
O autor

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Este humilde opúsculo é dedicado:


- À nossa querida e amada família:
Maria Cecília,
Antoine, Raquel, Gabriela, Tracy.
Caroline, Walter, Luiza.
Marcus Vinicius, Paula e Bernardo.
Exemplos de vida e carinho.
Tesouros de Deus e da Pátria.
- A todas as pessoas que estudam a Oratória e
desejam falar corretamente, sem titubear ou gaguejar.
Antonio Ferreira da Cruz

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Cap. 1. A arte e o poder da oratória


1.1. Fundamentos históricos da Oratória Positiva
A Oratória define-se como a arte da palavra dita em público, em tempo real; o estudo e o
desenvolvimento do método do discurso; ou, o conjunto de regras e técnicas que permitem
desenvolver e apurar as qualidades pessoais daquele que se destina a falar a outras pessoas
agrupadas. É chamada de Positiva, quando participa do desenvolvimento harmônico da humanidade,
possibilitando-lhe o alcance da felicidade - o maior objetivo de todos os seres humanos!
A Oratória surgiu na Grécia com os sofistas e até o séc. VI a.C., era vista como um dom natural e
privilégio de uns poucos, geralmente aristocratas. A revista Visão Jurídica, nº 24, p.27, nos diz que:
“Na Grécia Antiga, os cidadãos compareciam, pessoalmente, diante dos magistrados, para
expor e defender os seus direitos. As leis de Sólon concediam ao cidadão a faculdade de ter um auxílio
por parte de um amigo (‘amici’) que coadjuvasse as suas explicações. Os juízes, chamados arcontes,
interrogavam as testemunhas, colhiam as provas e depois chamavam as partes para exporem
oralmente suas pretensões no caso. Daí surgiram os ‘oratores’, que auxiliavam os litigiosos com suas
exposições orais perante o juiz. Eles podem ser considerados os primeiros ‘advogados’.
..................................................................................................................................................................
A Grécia nos trouxe grandes advogados e oradores. Um deles foi Antifon (479-411 a.C.), grande
orador ateniense, conhecido por sua eloquência arrebatadora e uma personalidade de grande argúcia
e talento. Outro grande homem foi Lísias3, admirável advogado, com raciocínio frio, simples, objetivo
e enérgico.
Mas quem recebeu o título de primeiro advogado da Grécia foi o grande orador Demóstenes,
pelo fato de que se dedicou ao estudo das leis, demonstrando vocação extraordinária para a
interpretação e a comparação de textos de leis da época. Segundo o pensador Plutarco, Demóstenes
tornou-se um dos mais famosos oradores do mundo antigo depois de exercitar-se duramente nas artes
da eloquência: como era gago, para superar o defeito colocava pedrinhas na boca durante os
exercícios, à beira-mar, em que fazia a voz sobressair sobre o barulho das ondas.”.
Os ‘oratores’ foram então chamados de sofistas, porque ensinavam as pessoas a falarem em
um tribunal, a partir do sofos, do saber filosófico. Por esses tempos, em um tribunal grego, as ações
duravam apenas um dia, do nascer ao pôr do sol, independentemente da sua natureza: política, civil,
criminal etc. Os sofistas - considerados os precursores da atuação profissional dos advogados e dos
professores - cobravam altas somas para ensinarem, prática condenada pelos que se consideravam
como os verdadeiros filósofos, que acreditavam ser o seu saber, uma dádiva dos deuses e deste modo,
e, sem nada cobrarem, também deveriam ensinar ao povo, principalmente para que pudessem
apresentar as suas reivindicações aos seus concidadãos, na Ágora (praça pública onde se reuniam os
cidadãos). A prática dos sofistas levou a Oratória às cidades-Estado da Grécia Antiga. Alcançando
Roma, passou a ser estudada como componente da retórica, para a composição e a apresentação de
discursos, tornando-se uma importante habilidade na vida pública e privada. No ano 465 a.C. Corax4 e

3 Lísias – orador grego (Atenas 440 a.C. – id., 380 a.C.) era filho de um comerciante de armas de Siracusa chamado Céfalo e aos quinze
anos partiu para Túrio, na Sicília, com o objetivo de estudar retórica. Em 412 a.C., após a fracassada expedição ateniense contra Siracusa,
Lísias volta para Atenas. Em seu regresso, encontra a cidade-Estado governada pelos Trinta Tiranos. Tanto ele quanto a sua família, eram
considerados estrangeiros e tiveram a fortuna confiscada pelo regime. Polemarco, seu irmão, foi preso e executado em 404 a.C. Em
vista disso, Lísias se refugiou em Mégara e somente volta para Atenas com a queda dos Trinta Tiranos. Alguns veem em Lísias u m dos
grandes oradores gregos ao lado de Demóstenes e Ésquines. Lísias, como contemporâneo de Sócrates, aparece em dois diálogos de
Platão: na Politeia (República) e no Fedro. Seus discursos contra o político Eratóstenes, que acreditava ser o principal culpado pela morte
de seu irmão, o tornaram célebre.
4 Córax - nascido em Siracusa, por volta do séc. V a.C. é considerado como um dos criadores da retórica. Discípulo do filósofo Empédocles.

Definiu a oratória como sendo a “criadora de persuasão.”. Sua história é pouco conhecida e seu único livro Arte Oratória (tekhné rheto-
riké) perdeu-se, mas alguns argumentam que o livro Rethorica ad Alexandrian, atribuído a Aristóteles pode ser o livro perdido de Córax.
Além disso, conhecem-se dele, algumas citações feitas por Cícero e Quintiliano. Criou o argumento que recebeu seu nome, o córax, que
consiste em dizer que uma coisa é inverossímil por ser verossímil demais (...). Antífon cita o seguinte exemplo de córax: “Se o ódio que
eu nutria pela vítima tornar verossímeis as suspeitas atuais, não seria ainda mais verossímil que, prevendo essas suspeitas antes do
crime, eu me tenha abstido de cometê-lo?”.
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seu discípulo Tísias5 - dois oradores que se notabilizaram na defesa das vítimas dos arbítrios cometidos
pelo tirano de Siracusa - elaboraram um tratado sobre retórica, denominado A Arte de Discursar, que
não chegou aos nossos dias. Essa tentativa de normatização da oratória era muito prática e tinha a
finalidade de orientar aqueles que defendiam os interesses das pessoas que tentavam reaver os bens
tomados pelos tiranos6 e pelo Estado, e serviu de referência para outros escritores, como Aristóteles
(384-322 a.C.), que nos legou Arte Retórica e Quintiliano (c.30-c.100), autor do Tratado sobre a
oratória.
A História da Oratória confunde-se com a Retórica7 em certo sentido: desenvolvida pelos gregos,
após a ascensão de Roma, foi copiada e modificada pelos latinos, o que a fez perder muito da sua
qualidade original, porque, sendo uma arte, somente pode desenvolver-se em ambientes onde o
debate é livre, e, em Roma, a essência do ser humano comum era viver em função do Estado 8, e não
debatê-lo, por isso, a Oratória transformou-se, rapidamente, em um amontoado de técnicas para
“falar bonito”, ainda que sem qualquer conteúdo, uma vez que esse conteúdo pressupunha crítica.
A Oratória Grega valoriza fortemente o conteúdo da mensagem, utiliza estratégias de
argumentação, apela à razão, pretende ser um meio de comunicação para persuadir pessoas e obter
influência acerca do que estiver tratando; a Latina caracteriza-se pelo formalismo, com pouco ou
nenhum foco no conteúdo da mensagem, com forte valorização da forma, da utilização das marcantes
figuras de estilo e do apelo constante à emotividade do ouvinte, pretendendo exercer a comunicação
como meio de mostrar “uma superioridade intelectual” ou ainda eloquência. Essa forma oratória
logrou por encontrar ambiente propício no mundo lusófono do séc. XIX e XX, tempos em que,
praticamente todos os países de língua portuguesa viveram grande parte desse período sob regimes
ditatoriais.
A partir da II Guerra Mundial, as coisas começaram a mudar, porque os ideais democráticos
começaram a ganhar corpo nos países de Língua Portuguesa, com uma gradual condenação ao velho
estilo latino de comunicação oral, rebuscado e com maior foco no formalismo. No Brasil, como
exemplo disso, a disciplina de Oratória, esteve presente em todos os cursos de Direito, até o ano de
1950, quando foi extirpada do currículo, por sua extrema ineficácia.
O movimento pedagógico brasileiro conhecido como Nova Escola9, trouxe a tendência do
retorno, ainda lento, mas eficaz, à Escola Grega de Oratória, com forte fundamentação aristotélica,
em razão de que o mundo moderno tende a não mais aceitar uma comunicação floreada e sem
conteúdo. No entanto, em que pese a demanda, essa metodologia, também chamada de Oratória
Persuasiva, ainda tem contra si alguns fatores importantes: por ser meramente formal, a Oratória
Latina é relativamente fácil de ensinar; a Grega requer uma formação mais apurada dos professores,
face à exigência de maiores conhecimentos.

5 Tísias - retórico grego do séc. V a.C., nascido em Siracusa (Magna Grécia) que foi considerado, juntamente com Córax, o primeiro a
ensinar, de modo profissional, a arte de falar em público (sofisma = no sentido original do termo, designando as técnicas ensinadas por
um grupo altamente respeitado de professores retóricos na Grécia antiga), e afirmava-se que Lísias e Isócrates teriam sido seus alunos.
Ele teria aprendido sua arte com Córax, que concordou em ensiná-lo em troca do dinheiro que ele, Tísias, haveria de ganhar, ao vencer
a primeira causa que defendesse. Se não vencesse, nada teria que pagar, posto que a instrução teria sido inútil. Tísias viveu em um
período histórico que assinala a transição da tirania dos Dinomênidas para um governo democrático, e testemunhou grandes transfor-
mações no que se refere à legislação sobre a propriedade da terra. Mas há dúvidas sobre a sua existência histórica. Para alguns estudi-
osos, ele seria um personagem lendário; para outros, ele e Córax seriam uma só pessoa. O que se sabe sobre o seu trabalho resume-se
a referências nas obras de Platão, Aristóteles e Cícero
6 Tirano - 1. Na Grécia antiga, indivíduo que usurpava o poder. 2. Governante injusto, cruel ou opressor que abusa de sua autoridade. 5.

Indivíduo cruel, impiedoso, tirânico.


7 Retórica – palavra originária do grego rhetoriké, “arte da retórica”, subentendendo-se o substantivo téchne, que tem sido entendida

historicamente em acepções muito diversas. Em sentido lato, mistura-se com a poética, consistindo na arte da eloquência em qualquer
tipo de discurso. A concepção mais restrita identifica a retórica como “a faculdade de ver teoricamente o que, em cada caso, pode ser
capaz de gerar a persuasão”, segundo a definição de Aristóteles. Nesse sentido, a retórica é uma modalidade discursiva geral, aplicável
às mais variadas disciplinas - uma atividade em que predomina a forma, como a gramática e a dialética, e não o conteúdo.
8 Estado romano - aos 16 anos os jovens ganhavam a toga e dedicavam alguns anos da sua vida a serviço de Roma.
9 Nova Escola (Educação Nova) - movimento iniciado pelo Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova em 1932.

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1.2. A arte da oratória


A arte de falar em público é uma das que mais empolgam a humanidade desde os primórdios da
civilização: a palavra dita com arte consegue mais aprovação para as ideias que se querem comunicar
do que a forma escrita, porque é composta pela língua e pela fala emocionada do orador.
Falar bem, saber encantar e vibrar um auditório por meio da palavra, eis um dos engenhos
maravilhosos de que se pode ufanar o gênero humano. Trata-se de executar o que se pode denominar
de magia sonora, para encontrar a expressão que se combina com o ambiente, a substância oral, que
se adapta amplamente à circunstância, o verbo que consegue penetrar na alma, e metamorfosear 10 o
pensamento nas vibrações silábicas, isso não há de ser obra de um instante nem coisa que se agrega
simplesmente ao berço, pois, conforme a célebre máxima de Quintiliano: “nascuntur poetae, fiunt
oratores”. Sim, é verdade! Os poetas já nascem feitos, com uma estrela em forma de lira sobre o berço,
ao passo que muitos oradores, por não serem natos, têm de fazer-se, uma vez que não se sobe a uma
tribuna com o mesmo jeito que se galga o Parnaso11. Ao contrário da famosa máxima, como nos casos
dos poetas, a natureza também não deixa de contribuir para o sucesso dos oradores. Mesmo assim,
todo o triunfo e todo o progresso do ser humano que procura falar bem, que deseja expressar-se com
acerto, sem contar com a eloquência natural, tem como principais fatores os esforços despendidos
em longos e pacientes estudos, em constantes e firmes exercícios, em especial, com a retórica.
O poder da palavra faz com que a arte da oratória se alinhe ao primeiro plano das carreiras que
o ser humano abraça, no afã de convencer e persuadir o próximo, não só nas tribunas e nas cátedras,
mas em qualquer lugar onde deva prevalecer o pensamento humano. Não somente o advogado
necessita da eloquência, como também, o administrador e o profissional de vendas, o professor e o
médico, o engenheiro e o militar, o sacerdote e o político; enfim, todos que entram em contato direto
com uma coletividade, precisam utilizar-se da técnica da palavra, saber usar do termo próprio, do
desembaraço numa conversa, dar colorido a uma alocução, conhecer a extensão de uma conferência,
a elasticidade de uma prática ou a pomposidade de um discurso.
Falar bem não é apenas elevar a voz à maneira dos trovões, nem fazer gestos imitando os cata-
ventos. É preciso que se aprenda a persuadir por meio da palavra atraente, ficando a mímica em
segundo plano, pois a gesticulação só tem graça quando sabe ritmar o verbo.
Neste despretensioso opúsculo12, exporemos e demonstraremos a todos os que nos brindam
com a sua alegre e bondosa companhia, em aulas e atividades oficináticas, em cursos ministrados em
todo o rincão nacional, os caminhos que possam levar até mesmo o maior dos tímidos, titubeante ou
gago, a triunfar em público através da oratória, desde que esteja imbuído da sua força de vontade,
decida confrontar os métodos, estudar e ensaiar bastante. Ao utilizar os recursos estudados e
entusiasmar-se com o seu progresso gradual, alcançará por fim o seu falar escorreito 13, em todas as
circunstâncias em que houver necessidade, como se isso fosse o produto de um toque de mágica,
desses que transformam um gago Demóstenes14 num dos gênios mais altíloquos15 da velha e gloriosa
tribuna helênica16.

10 Metamorfose - 1. Transformação de um ser em outro. 2. Mudança de forma ou de estrutura que ocorre na vida de certos animais,
como os insetos e batráquios. 3. Mudança, transformação. 5. Fig. Mudança notável na fortuna, no estado, no caráter de uma pessoa.
11 Parnaso - 1. Montanha da Fócida (Grécia antiga) consagrada a Apolo e às Musas. 2. Fig. A poesia. 3. A classe dos poetas. 5. Coleção

de poesias de vários autores; antologia. 5. O parnasianismo (Escola ou doutrina dos parnasianos.).


12 Opúsculo – 1. Livro pequeno sobre arte, ciência etc. 2. Folheto.
13 Escorreito – [Do lat. excorrectu, part. de excorrigere < lat. corrigere, ‘corrigir’]. 1. Que não tem defeito ou lesão. 2. Que tem bom

aspecto. 3. Apurado; correto.


14 Demóstenes - político e orador ateniense (Atenas, 384 – Caláuria, 322 a.C.), que à força de estudo e de tenacidade, conseguiu superar

suas deficiências físicas e adquirir notável talento oratório, de tal modo, que é considerado o príncipe dos oradores da Antiguidade. Para
vencer sua deficiência de articulação das palavras, exercitava-se declamando longos discursos (segundo se diz, com alguns seixos na
boca e à beira-mar, esforçando-se por dominar com sua voz o fragor das vagas). Seu estilo oratório é um primor de concisão e pureza.
Restam-nos dele 61 discursos, 65 exórdios e 6 cartas.
15 Altíloquo - que se exprime com altiloquência; que fala com sublimidade; altiloquente.
16 Helênico - 1. Dos helenos, ou da natureza deles. 2. Relativo ou pertencente à Hélade, ou Grécia antiga.

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1.3. Oratória: gênero e divisão


A Oratória constitui um gênero literário que une o belo ao útil, tendo por obras orações ou
discursos, como também toda a espécie de composições com a finalidade de persuadir e comover os
ouvintes.
A Oratória só pode ser considerada como tal, quando é Oratória Positiva e contribui para a
evolução da humanidade; a arenga17 e a demagogia18 devem ser consideradas como pragas do
gênero, de que muitos fazem uso descarado, sem preocupar-se com o significado da Ética, visando
apenas, e tão somente, os objetivos pessoais - maléficos e condenáveis - de quem as usam ou dos seus
grupelhos politiqueiros, a fim de tomarem ou manterem o poder, criar massas escravas e não
pensantes, tendo como matérias básicas, a morte, o roubo e a mentira.
A prática da arenga e da demagogia deixou rastros vergonhosos na História: Anito, Mileto e
19
Licão , durante o histórico julgamento de Sócrates, na antiga Grécia; Lenine e Stalin, na URSS;
Mussolini e Hitler, na Itália e na Alemanha fascistas; e tantos outros políticos da atualidade, que,
dentre tantos malefícios, apequenaram pessoas, travaram a vida decente e produziram - ou
produzem, ainda - morte e sofrimento em grande escala, pela sedução servil das massas ignorantes,
haja vista para o que ocorreu, e ainda ocorre com o Brasil do Mensalão e do Petrolão.
Na atualidade brasileira, podemos constatar, ainda, a existência da ética ambivalente,
expressada nas ações e na oratória praticadas por muitos dos principais ocupantes de cargos públicos.
Todos os dias vemos ou ouvimos esses seres diminutos, mentindo em tudo o que fazem e falam,
demonstrando que a palavra enganadora, mal utilizada e sem o revestimento da Ética, só serve para
iludir os necessitados e os incautos. Esquecem-se, propositadamente, do que o presidente Lincoln
ensinou: “Poderemos enganar a alguns, por algum tempo; não poderemos enganar a todos, por todo
o tempo”. Agem com a vã pretensão de mudar o significado da instituição República 20, mas o povo,
mesmo ludibriado muitas vezes, de tempos em tempos, dá-lhes o justo merecimento: não os elegem
mais, mandam-nos para a cadeia ou para o ostracismo.
1.4. Os diferentes tipos de oratória
A oratória pode ser do tipo: sagrada, política, acadêmica, forense e popular.
Oratória sagrada - trata da difusão religiosa e da exaltação da moral e divide-se em práticas e
sermões. A prática é uma pregação curta, de caráter pastoral e recebe o nome de homilia quando tem
a finalidade de interpretar os textos evangélicos. O sermão é a pregação de caráter solene, dando ao
púlpito venerando todo o calor de uma tribuna veemente.
Diz-se dogmático se há a pretensão de se expor um argumento doutrinário e moral se há a
finalidade da exaltação das virtudes cristãs. O sermão é denominado de mistérios se tem como
principal elemento, um dos mistérios da fé religiosa. Recebe o nome de panegírico se exalta a vida de
um santo, de um mártir, de um defensor do cristianismo ou de uma celebridade ligada à fé. Sermão
fúnebre é aquele pronunciado à beira de um túmulo durante as exéquias 21 de uma pessoa ilustre ou
muito estimada, e que pertencia a uma religião.
As qualidades do orador sagrado podem ser compreendidas na unção, ou feliz maneira de dizer,
afetuosa e insinuante, nascida da sensibilidade delicada e da convicção profunda. Seu estilo deve ser
correto, mas singelo; animado, mas grave; digno, mas modesto; embora possa alcançar a
grandiloquência.

17 Arenga – discurso enfadonho, longo e sem bases lógicas ou que carece de verdades no conteúdo.
18 Demagogia [Do gr. demagogia] S. f. 1. Dominação ou preponderância das facções populares. 2. Conjunto de processos políticos hábeis

tendentes a captar e utilizar, com objetivos menos lícitos, a excitação e as paixões populares. 3. Ausência de governo; anarquia, desor-
dem. 5. Demagogice. 5. Afetação ou simulação de modéstia, de pobreza, de humildade, de desprendimento, de tolerância etc.
19 Anito, Mileto e Licão – os acusadores de Sócrates, que participaram do famoso julgamento do filósofo, no Tribunal de Atenas.
20 República – [Do lat. republica < res publica, ‘coisa pública’]. S. f. 1. Organização política de um Estado com vista a servir à coisa pública,

ao interesse comum.
21 Exéquias – cerimônias ou honras fúnebres.

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Todas as demais oratórias, em oposição à sagrada, são denominadas de gênero profano22 e


agrupam-se em:
Oratória política - aborda os interesses do Estado ou de um Conselho. Abrange a eloquência das
assembleias populares, a parlamentar, a diplomática, a de gabinete e a militar. Seus dois aspectos
essenciais são os discursos e os debates, dirigidos ao povo para formar ou orientar a sua consciência
política, ilustrando-o acerca dos seus direitos e deveres, e encaminhando as suas vontades para se
conseguir o completo reconhecimento, a fim de que alcance os pressupostos da cidadania. Claro está
que estamos tratando de um orador honrado, que jamais se utilizará da arenga ou da demagogia. A
oratória política divide-se em: parlamentar, militar e circunstancial.
Parlamentar - trata dos discursos pronunciados nos diferentes níveis do Poder Legislativo, em:
Câmaras de Vereadores, Assembleias Legislativas, Câmara dos Deputados e Senado Federal (estas
duas últimas Casas Legislativas, quando reunidas, formam o Congresso Nacional). Além disso, os
discursos pronunciados nas diferentes Comissões ou Grupos de Trabalho que funcionam no âmbito
dessas casas legislativas, também se constituem de oratória parlamentar.
Militar - formada pelos discursos pronunciados no âmbito ou fora da caserna, por militares que
objetivam a manutenção e a defesa do Estado, para a obtenção e a permanência da paz em solo pátrio
(os estudantes desta modalidade poderão estudá-la em A Oratória Militar, deste mesmo autor).
Circunstancial - apresentada nas diferentes circunstâncias da vida de qualquer pessoa que, não
estando em um ambiente acadêmico, forense, religioso ou militar dirige a sua fala para comunicar-se
com eficácia a um grupo de pessoas, que pode variar de tamanho, objetivos, humor etc.
Oratória acadêmica - utilizada nas agremiações científicas ou literárias - por sábios e
beletristas23 - apresentando belos discursos que versam sobre as ciências, as artes ou as letras, ou o
que é muito comum, em saudações laudatórias ou honoríficas durante a recepção a um novo membro
de alguma instituição, ou de despedida de algum que se foi.
Oratória forense - emprega-se nos tribunais, durante o debate em um julgamento ou no espaço
de uma discussão em determinadas sessões ou processos, ou na aplicação de uma determinada
sentença ou mesmo, para a restauração da Lei; também é conhecida por judiciária.
Os discursos forenses dividem-se em: civis e criminais. Os civis (ou cíveis) giram em torno de uma
dúvida a respeito da aplicação da Lei; os criminais são os que se referem à infração da Lei.
A oratória forense tem como principais qualidades: a clareza, a concisão e a lógica.
Oratória popular - manifesta-se desprovida de elevada cultura nas ruas, nos festejos de todas
as espécies, na exaltação dos protestos, na explosão das louvaminhas24, onde a sinceridade e o calor
da alma suprem a falta de método ou de erudição, com estimável efeito para as massas ignorantes.
Contudo, no ambiente social, deve prevalecer o bom senso e uma certa ordem, na manifestação do
sentimento, através da palavra oral, devendo utilizar-se dos chamados discursos de circunstância.
1.5. A moderna eloquência
Rui Barbosa proferiu um discurso no Instituto dos Advogados Brasileiros, em 18 de maio de 1911,
procurando esclarecer a distinção entre o que é a retórica e a eloquência, afirmando:
“Retórica ou eloquência? Eloquência é o privilégio divino da palavra na sua expressão mais fina,
mais natural, mais bela. É a evidência alada, a inspiração resplandecente, a convicção eletrizada, a
verdade em erupção, em cachoeira, ou em oceano, com as transparências da onda, as surpresas do
vento, os reflexos do céu e os descortinos do horizonte. Como o espírito do Senhor se librava sobre as
águas, a sensação da iminência de um poder invisível paira sobre a tribuna ocupada por um verdadeiro
orador. Abriu ele a boca! Já ninguém se engana com a corrente do fluido imponderável e maravilhoso,
que se apodera das almas. É a espontaneidade, a sinceridade, a liberdade em ação.

22 Profano – palavra de origem grega, que significa, fora do templo.


23 Beletrista – pessoa que cultiva as belas-artes.
24 Louvaminha – o mesmo que lisonja [1. Louvor afetado; adulação, bajulação. 2. Fig. Mimo, afago, carícia.].

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Daí à retórica vai uma distância incomensurável. A retórica é o esforço de arte por suprir a
eloquência nos que não a têm, a sua singeleza, a sua abundância, a sua energia triunfal. Todos os
grandes oradores se viram chamar retóricos pelos rivais impotentes da sua superioridade. De Atenas
à Grã-Bretanha, de Roma à França, à Itália, à Hungria, à Alemanha, a eloquência tem vibrado e
dardejado nos lábios dos maiores homens de governo, os construtores de nacionalidades, os
unificadores de impérios, os salvadores de constituições, os condutores de repúblicas e democracias,
sem lhes desmerecer jamais a eles a valia de estadistas.
Péricles25, Cavour, Mirabeau, Pitt, Gladstone, Cícero, Lincoln, Bismarck, Daek, Thiers, Gambetta,
que foram todos esses titãs do pensamento e da ação militante senão prodigiosas encarnações da
palavra ao serviço do gênio político? Vede a livre Grécia, a Inglaterra livre, a livre América do Norte, a
França livre; outras tantas criações antigas ou modernas, da tribuna. Sob essa potência eterna se fez
a mãe das artes, a das maiores reivindicações liberais. Na idade hodierna todas as grandes expansões
do direito, todos os grandes movimentos populares, todas as grandes transformações internacionais,
são maravilhas da sua infância universal. O próprio Brasil, o Brasil republicano, que outra coisa não é,
senão a obra dos seus homens de Estado, os quais eram, ao mesmo tempo, os seus jurisconsultos e
os seus oradores?
Se abstraísseis deles em França, onde a Revolução Francesa sem a Assembleia Constituinte, a
Assembleia Legislativa e a Convenção? Se os eliminássemos da Inglaterra, onde o governo
parlamentar? Varrei-os dos Estados Unidos, e tereis apagado a história americana, que é uma via-
láctea de estrelas da palavra. Excluí-os do Piemonte, e vereis sumir-se esse parlamento de Turim, onde
o verbo de Cavour, em doze anos de lida tribunícia, assentou o laboratório da unidade nacional.
Suprimi-os, enfim do Brasil, e tereis acabado com a atividade civilizadora do Império, a luminosa
jurisprudência dos seus tribunais, os seus magníficos monumentos de codificação e educação liberal
das classes cultas pelas escolas das suas assembleias, a conquista da emancipação pelos comícios
populares, a organização da monarquia e da república pelas nossas duas constituições. Tudo benefício
do senso jurídico e do senso político, representados e desenvolvidos pela ciência de nossos legistas e
pelo influxo de nossos parlamentares.”.
Esta página luminosa, de um dos maiores gênios tribunícios constitui por si só, uma viva lição do
que é a eloquência.
Entre as faculdades que mais contribuem para o êxito da persuasão está a eloquência, que é o
poder de persuadir por meio da palavra e do gesto; muitos a confundem com a retórica que não é
outra coisa senão o conjunto de regras concernentes à própria eloquência.
Na atualidade, muitas regras de retórica pelas quais os antigos tribunos pautaram os seus longos
discursos, não encontram mais sentido. Assim como os poetas, hoje, deixam de lado os compêndios
de versificação, os pintores e escultores afastam-se das concepções artísticas do passado, a oratória
procura também, revestir-se das roupagens desta época, porque os gostos do intelecto mudam com
os modismos e a marcha da História.
Antigamente, os discursos valorizavam-se pelo exagero da pomposidade, divididos que eram,
em múltiplas partes, sem contar o habitual exórdio, a necessária exposição e a fluente peroração,
sempre retumbante.
Na vida atual, há uma pressa avassaladora: a luta pela sobrevivência acelera a vida em viagens
espaciais e a jato; o noticiário do rádio, os programas da televisão, a internet e as redes sociais que,
instantaneamente, põem os seres humanos e as suas ações, no centro dos principais acontecimentos
mundanos. Muitas vezes, imobilizados pelas retenções no trânsito, assistem a tudo o que ocorre em
todos os cantos do mundo; em seguida, compartilham o que veem com as pessoas que participam das
suas redes. E é por isso que poucas pessoas têm a paciência de assentar-se, mesmo em cômoda

25 Péricles – (c.495/492a.C.-429a.C.) célebre e influente estadista, orador e estratego (general) da Grécia Antiga, um dos principais líderes

democráticos de Atenas e a maior personalidade política do séc. V a.C.; era um bom orador e foi eleito 14 vezes em 30 anos. Seu nome
significa “cercado por glória”.
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poltrona para ouvir um quilométrico discurso cheio de frases bem torneadas: nada poderá atrair o
ouvinte de agora, senão o que houver de novo, de original, de vívido, de breve – enfim, de importante!
Não se trata de abandonar completamente as regras da velha retórica e de substituí-las por
outras novas, mas de adaptá-las às circunstâncias presentes. Aquele que diz coisas interessantes
agrada ao ouvinte, a qualquer tempo, em que tratar de assuntos atraentes, expressando-os de
maneira clara e fluente. Não é preciso que o tema seja inteiramente novo. Pode-se falar sobre velhos
temas com linguagem nova, não cabendo mais a linguagem velha para novos temas.
Para ser agradável a um auditório moderno, é necessário antes de tudo, que o discurso nada
contenha de banal e que seja pronunciado com arte sóbria, mas palpitante. Que se evite a repetição
de ideias ou de imagens, que não se calcule o conteúdo de um discurso por sua extensão. Torna-se
mister que se abandone a prolixidade26 serpenteando por mil fórmulas abstratas. O sentimento
sincero sempre encontra ocasião para ser ouvido. Nada de artifícios vãos.
Devemos recordar que, no passado, as peças oratórias, por mais longas e pesadas que fossem,
eram curiosa ou pacientemente ouvidas. Ainda não se ouvia o rádio. O cinema e a televisão não
existiam, a leitura era escassa e as academias eram em menor número, daí o interesse de escutar
alguém que tivesse o talento de transmitir algo através de palavras eloquentes e sempre apoiadas por
largos gestos. Hoje é diferente: o orador da era atômica, da idade sideral, da globalização, da
proliferação das redes sociais, só pode ser escutado com prazer se traz algo interessante e palpitante
para o momento propício. Se nada acrescentar, pode ser substituído por qualquer um dos meios de
entretenimento, disponíveis agora, através da Internet e dos aparelhos de telefonia móvel ou dos seus
similares.
Estaria a oratória em decadência? Não. Jamais houve ocasião tão oportuna para o uso da palavra
como atualmente. A globalização com os altos negócios em evidência, os parlamentos sempre
crescentes, a política amplamente dividida, as propagandas comerciais tomando vulto maior, tudo isso
exige mais do que nunca o triunfo do verbo, a força dinâmica da eloquência, a prova eficaz com que
se pode dominar qualquer interlocutor. Não é preciso brilhar como um gênio, para fazer com que a
sua palavra seja ouvida e aplaudida nos dias apressados de hoje. É necessária a fluência em primeiro
lugar, a clareza a reboque e a brevidade em qualquer assunto. Falar significa, em nossos dias, dizer
apenas o que for preciso em todos os setores da vida humana. Para que alguém possa ser ouvido,
deve evitar a falação sobre uma só coisa, a penetração em pormenores inúteis, a repetição de fatos
ou passagens já conhecidas. Tem de mostrar-se apaixonado pelo que interessa a todos, de tomar o
cuidado de não improvisar com os frutos que poderia colher, após ter realizado um esquema ou um
estudo minucioso.
A palavra tem de encontrar o seu ambiente. A um grupo de poetas não cabe uma palestra
científica. Os cientistas e os técnicos não se interessariam em ouvir uma exposição sobre literatura. O
discurso lido deve ser menos longo do que o improvisado, ou não lido, aquele que aparece à maneira
de improvisação, muito embora tenha sido cuidadosamente preparado. Desta sorte, o indivíduo
dotado de boa memória, que esquematiza e memoriza os principais tópicos do seu discurso, que sabe
equilibrar o seu estado psíquico, poderá impressionar melhor os ouvintes que se encantam com a
facilidade da sua suposta improvisação.
O orador de hoje, para conseguir valorizar a palavra, ao participar, sem embaraços, em:
banquetes, reuniões sociais e de trabalho; solenidades cívicas ou comemorativas, ou de reuniões
científicas, apresentando a sua monografia, dissertação ou tese, não deverá utilizar-se dos moldes
antigos, e falar de tal maneira que possa obter o melhor partido dos meios físicos e intelectuais de que
dispuser, tendo em vista as circunstâncias que o cercam. Necessita, então, encontrar a forma e a
expressão que tornem o seu discurso original, imaginoso, palpitante para adquirir a técnica da

26Prolixidade – 1. Muito longo ou difuso. 2. Superabundante, excessivo, demasiado. 3. Muito longo; dilatado, duradouro. 5. P. ext.
Fastidioso, enfadonho.

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eloquência para o meio em que será empregada. Para tanto, deverá estudar, planejar, ensaiar e
executar a sua obra com a plena confiança no sucesso!
1.6. Estilo oratório
A linguagem oratória tem de ser urdida e expressada, de tal maneira que apresente,
simultaneamente, a beleza e a verdade.
Sua matéria constitui-se de dois elementos que lhe propiciam toda a importância: os
argumentos e as paixões.
Argumentos - são provas emitidas por meio de um enunciado geral, que se admite como
verdadeiro, de onde se parte para um particular contido naquele. Persuadir é a sua finalidade. O
grande mestre Estevão Cruz ensina que, “o argumento perde a rigidez dialética, que desaparece no
colorido da frase literária”. O orador está em face de um juízo geral, que se aceita como verdadeiro,
do qual vai tirar um particular para a sua exposição.
Paixões - são os recursos utilizados pelo orador a fim de produzir comoção. Tais recursos estão
presos a uma série de sentimentos, de que ele se vale na sua exposição, para fazer comover os
ouvintes de acordo com o ambiente e as circunstâncias. A encenação do patético 27, as tintas
adequadas ao colorido do quadro descrito, tudo isso importa ao que fala como ao que ouve para maior
efeito da disseminação dos pensamentos. Para tal, o discurso deve ter uma forma que se faz entender
pelo seu estilo. O estilo oratório é muito diferente do estilo dos escritores. O escritor escreve para ser
lido, o orador, quando escreve, escreve para ser ouvido. O leitor pode percorrer com os seus olhos
lentamente uma página de um novelista ou de um romancista, retornado ao início, se e quando
desejar; o ouvinte não pode esperar pachorrentamente que um orador martele as suas palavras com
irritante lentidão, ou que as repita. É um elemento patético, pois se dirige apenas ao sentimento. É a
parte da encenação, da retumbância, da exposição dos fatos que impressionam o ouvinte, mostrando-
se o orador vivamente empolgado pelo que diz e pelo que explana.
A forma da oratória tem como constituição o seu estilo, que é diferente dos demais gêneros
literários, pois não trata de páginas para serem apenas lidas, mas ouvidas. Portanto, tem um estilo
próprio, que se percebe pelo uso de imagens mais arrebatadoras que as da poética, por linguagem
vibrante e por uma exposição que possa realmente combinar com o momento, as circunstâncias e o
auditório.
Ninguém tem a obrigação de saber lidar mais com a palavra do que aquele que a usa como
ferramental básico: seja aquele que irá falar ao público na rua; o que se dirigirá a seleto auditório em
imponente salão; o que sobe a tribuna de uma corte judiciária; o que vai abordar assunto político
numa reunião, numa câmara, num parlamento; o que tratará de conduzir almas do alto de um púlpito;
ou, ainda, aquele que conduz pessoas nos campos de batalhas das guerras ou na caserna, em tempos
de paz. O orador político, o orador forense, o acadêmico, o sacro, qualquer um deles tem de fazer da
linguagem oral a bandeira do seu triunfo, o clarim da sua vitória, o sino da sua missão solene, pois
espera penetrar nas almas e nos corações, através de atentos ouvidos.
José de Alencar escreveu uma belíssima página sobre a palavra, em sua famosa Carta sobre a
Confederação dos Tamoios, quando disse: “A palavra, esse dom celeste que Deus deu ao homem e
recusou ao animal, é a mais sublime expressão da natureza; ela revela o poder do Criador e reflete
toda a grandeza de sua obra divina.”.
Incorpórea como o espírito que a anima, rápida como a eletricidade, brilhante como a luz,
colorida como o prisma solar, comunica-se ao nosso pensamento, apodera-se dele instantaneamente
e o esclarece com os raios da inteligência que leva ao seu seio.

27Patético – 1. Que comove a alma, despertando um sentimento de piedade ou tristeza; confrangedor, tocante. 2. Que revela forte
emoção; apaixonado: apelo patético; gesto patético. 3. Trágico, sinistro, cruel. 5. Aquilo que é patético.

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Mensageiro invisível da ideia, íris celeste do nosso espírito, ela agita as suas asas douradas,
murmura ao nosso ouvido docemente, brinca ligeira e travessa na imaginação, embala-nos em sonhos
fagueiros, ou em suaves recordações do passado.
Reveste todas as formas, reproduz todas as criações e nuanças do pensamento, percorre todas
as notas dessa gama sublime do coração humano: do sorriso à lágrima, do suspiro ao soluço, do
gemido ao grito rouco e agonizante; desde o sussurro até o maior grito triunfal.
Às vezes é o buril28 do estatuário, que recorda as formas graciosas de uma criação poética, ou
de uma cópia fiel da natureza; aos retoques desse cinzel delicado a ideia se anima, toma um corpo e
modela-se como o bronze ou como a cera.
Outras vezes é o pincel inspirado do pintor que faz surgir de repente em nosso espírito, como
de uma tela branca e intacta, um quadro magnífico, desenhado com a correção de linhas e o brilho do
colorido que caracterizam as pinturas dos mestres.
Muitas vezes é a nota do hino, que ressoa docemente, que vibra no ar, e vai perder-se, além no
espaço, ou vem afagar-nos brandamente o ouvido, como o eco de uma música distante.
A ciência tem nela um escalpo, com que faz a autópsia do erro, descarna-o dos sofismas29 que o
ocultam e mostra claramente àqueles que, iludidos por falsas aparências, julgam ver nele a verdade.
O sentimento faz dela a chave dourada que abre o coração às suas emoções de prazer, como o
raio do Sol, que desata o botão de uma rosa cheia de viço e fragrância.
A justiça deu-a à inocência, como a sua defesa, tão poderosa e irresistível, que tantas vezes tem
suspendido o cutelo do algoz e quebrado as pesadas cadeias de ferro de uma masmorra, propiciando
a liberdade ao inocente ou a justa pena ao que transgrediu a Lei.
Para o tribuno é uma alavanca gigantesca, com que desloca as imensas molas do povo e atira-se
ao encontro das colunas do edifício social, que estremece, vacila e se abate ao peso dessas massas,
impelidas por um poder quase sobre-humano.
Eis o que é a palavra, uma simples e delicada flor do sentimento, nota palpitante do coração,
que pode elevar-se até o fastígio30 da grandeza humana, e impor leis ao mundo do alto desse trono,
que tem por degrau o coração e por cúpula a inteligência.
Assim, todo ser humano, orador, escritor ou poeta, que usa da palavra não como um meio de
comunicação às suas ideias, mas como um instrumento de trabalho; todo aquele que fala ou escreve,
não por uma necessidade da vida, mas sim para cumprir uma alta missão social; todo aquele que faz
da linguagem, não um prazer, mas uma bela e nobre profissão, precisa estudar a língua portuguesa,
para conhecer a fundo, a força e os recursos deste poderoso elemento da sua atividade.
A palavra tem uma arte e uma ciência; como ciência, exprime o pensamento com toda a sua
fidelidade e singeleza; como arte, reveste a ideia de todos os relevos, de todas as graças, e de todas
as formas necessárias para fascinar o espírito.
O mestre, o magistrado, o padre e o historiador, no exercício do seu respeitável sacerdócio da
inteligência, da justiça, da religião e da humanidade, devem fazer da palavra uma ciência; mas o poeta
e o orador devem ser artistas, e estudar no vocabulário humano todos os seus segredos mais íntimos,
como o músico que estuda as mais ligeiras vibrações das cordas do seu instrumento, assim como faz
o pintor que estuda os efeitos da luz nos claros-escuros ao pô-los em seus afrescos.
Nada mais sublime e magnificente sobre a palavra do que as belas páginas de um dos mais
rutilantes estilistas da língua portuguesa, que devem ser lidas para a compreensão dos estilos.

28 Buril – 1. Instrumento de gravador, usado na execução de gravuras em metal e em madeira de topo, constituído de barra de aço
especialmente temperado, de seção quadrada, triangular ou romboidal, com uma extremidade biselada, losângica, e a outra metida em
cabo achatado. 2. Instrumento semelhante para lavrar pedra.
29 Sofisma – 1. Filos. Argumento aparentemente válido, mas, na realidade, não conclusivo, e que supõe má fé por parte de quem o

apresenta; silogismo crítico [Cf. paralogismo]. 2. Filos. Argumento que parte de premissas verdadeiras, ou tidas como verdadeiras, e que
chega a uma conclusão inadmissível, que não pode enganar ninguém, mas que se apresenta como resultante das regras formais do
raciocínio, não podendo ser refutado. 3. P. ext. Argumento falso formulado de propósito para induzir outrem a erro. 5. Bras. Pop. Engano,
logro, burla, tapeação.
30 Fastígio – 1. O ponto mais elevado; cume, cumeado, pico. 2. Posição eminente, relevante; ponto muito alto; apogeu, auge.

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Se o estilo literário se delicia com a concisão, as imagens sutis e delicadas, os sentimentos


medidos em sua expressão e a harmonia nas linhas, o estilo oratório procura, ao contrário, a
abundância, as descrições vívidas, os movimentos apaixonados, a música da dicção.
O orador tem a necessidade de fazer-se compreender. Para isto, tem de desenvolver bastante o
seu tema. Pouco tempo tem o ouvinte para assimilar as ideias do orador, logo a exposição tem de ser
clara e com abundante explicação, sem que com isto se torne prolixa. Daí as repetições necessárias
dentro de uma explanação, embora com variedade de palavras: a mesma ideia pode ser repetida com
diferentes formas. O orador tem de saber utilizar-se dos sinônimos para que não se faça monótono,
como também deve saber repetir as palavras, conhecendo algumas das figuras de linguagem, que
podem ser estudadas neste opúsculo, como por exemplo, as que aqui repetimos:
Anáfora (repetição da mesma palavra no princípio de várias frases):
TUDO cura o tempo, TUDO gasta, TUDO digere, TUDO acaba (Vieira).
Vieira é um dos gloriosos mestres da oratória sacra. A repetição do vocábulo tudo antes de cada
oração mostra uma gradação harmoniosa, que delicia os ouvidos e penetra na alma.
Epístrofe (repetição da mesma palavra no fim de várias orações):
Tudo acaba com a MORTE e tudo se acaba com a MORTE, até a mesma MORTE (Vieira).
Que força e beleza põe o autor de Sermões com acerto nessas repetições!
Se apenas houvesse dito: “Tudo acaba com a morte”, teria simplesmente pronunciado o vulgar,
e pouco efeito teriam produzido as suas palavras sobre os ouvintes. Ao passo que, afirmando
solenemente: “Tudo acaba com a MORTE e tudo se acaba com a MORTE, até a mesma MORTE”, faz
chamar a atenção do ouvinte sobre o imenso poder destruidor da morte, final esperado para tudo o
que é animado pelo sopro da vida.
O clímax, que é a repetição gradual, no princípio de cada oração, da palavra final da oração
antecedente, é de grande utilidade na oratória. Temos o seguinte exemplo, ainda de Vieira: “Da perda
nasce o CONHECIMENTO; do CONHECIMENTO a ESTIMAÇÃO; da ESTIMAÇÃO a dor”.
Além das imagens ou figuras, o que é de importante na eloquência é o sentimento, o ardor, a
vibração. Todo ser humano se deixa levar mais pelo coração do que pela mente; se a inteligência pode
convencê-lo, a emoção pode arrastá-lo. Um discurso substancioso, porém, sem vibração, não
consegue empolgar o auditório. É preciso que se dê à voz inflexões tocantes, que ela espiritualize a
palavra tão bem quanto o queira o pensamento.
Ao discurso não bastam, portanto, os argumentos. Há de agradar os ouvidos, mas também há
de deleitar o espírito, de fazer vibrar o coração. O orador precisa saber declamá-lo e dar-lhe a música
necessária, pondo a alma na oratória.
O orador forma o seu estilo “sentindo” o auditório.
Não deve pessoalizar-se na sua argumentação, mas popularizar-se, passar a ser ele próprio o
ouvinte, e saber apoiar o que está no gosto de todos, usando a linguagem conveniente ao meio em
que a pronuncia.
O estilo oratório necessita, sobretudo, de calor. Nada de frases áridas nem de voz amortecida.
Que a voz se eleve à proporção que se dilate o pensamento. Saiba usar a palavra para ser entendida,
pois o vocabulário precioso ou supérfluo pouco pode valer. Seu estilo tem de ser fluente e claro, de
modo que ninguém possa dizer após tê-lo ouvido: “Falou bonito, mas não entendi patavina”.
E muito menos valem ricos torneios a quem não sabe argumentar.

1.7. O plano da forma oratória


A forma oratória prende-se a um plano, que divide o discurso em três partes: o Exórdio, a
Exposição e a Peroração:
Exórdio - é a parte inicial do discurso, o primeiro contato com o público, quando o orador
procura criar o ambiente para nele instalar os seus ouvintes. Para isto, faz as saudações introdutórias,
e diz o que pretende comunicar, como nos exemplos abaixo:
“Ilmo. Sr. Stab Annado,
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M.D. Presidente do Clube dos Fiscais Despreocupados da Natureza,


Demais diretores presentes a este evento,
Sras. e Srs.,
Bom dia (boa tarde ou boa noite)!
É com elevada honra que direi algumas simples palavras, sobre este dia tão importante para esta
valorosa instituição, que comemora o seu centenário, percorrido num caminho de tantos serviços
prestados à nossa comunidade ...”

Ou:

“Exmo. Sr. General Astrofônico Simplício,


DD. Comandante da Escola de Inteligência e Ação Rápida,
Ilmos. Srs. Oficiais e demais militares presentes a este ato cívico,
Minhas Senhoras e meus Senhores,
Bom dia (boa tarde ou boa noite)!
É com grande júbilo e subida honra, que ocupamos esta singela tribuna, para homenagear a
Escola de Inteligência e Ação Rápida, uma das mais laureadas casas do Ensino Militar Brasileiro, no dia
em que se comemora o Dia do Soldado...”

Ou, ainda:

“Exmo. Sr. Dr. Tibúrcio Atrapalhildo da Memória Kurta,


DD. Diretor-Geral da Empresa Dias & Dias Sem Fazer Nada Ltda.,
Ilma. Sra. Lindinha Perfumosa dos Pampas,
M. D. Diretora do Departamento Contemplativo das Férias Confortáveis,
Demais membros da diretoria, presentes a este ato,
Sras. e Srs.,
Bom dia (boa tarde ou boa noite)!
Temos o coração em festa e a alma repleta de alegria por nos dirigirmos a tão seleta plateia,
para celebrar o Dia Nacional dos Pancrácios Exuberantes em Repouso Remunerado...”.
Também chamada de vocativo, esta parte introdutória tem que ser magistral, com uma boa
seleção das primeiras palavras. Seu objetivo é acalmar o orador e preparar os ouvintes para o que será
dito. Deve ser curta, como, por exemplo, logo que fizer as saudações iniciais, o orador poderá dizer:
“Gostaria de abordar nesta noite o tema: Somente triunfa aquele que estuda e trabalha com muita
determinação...”.

Exposição (ou Desenvolvimento) - é a razão de ser do orador ali estar, ou seja: é o discurso,
propriamente dito. É a parte em que o orador propõe o assunto, narra os fatos que provam a tese31,
confirma a defesa desta com argumentos e refuta os contrários.
Vem logo a seguir ao Exórdio.
Exemplo: se na última parte de um Exórdio, um orador disser: “Nesta magnífica noite, falaremos
sobre o triunfo, este grande objetivo de todos os que se dedicam ao estudo da nobre arte da
oratória...”.
Logo a seguir, ele começa a apresentar a Exposição ou o Desenvolvimento, em seu discurso,
podendo dizer:

31Tese – 1. Proposição que se expõe para, em caso de impugnação, ser defendida. 2. Proposição formulada nos estabelecimentos de
ensino superior para ser defendida em público. 3. P. ext. Discussão da própria tese. 5. A publicação que contém uma tese. 5. Filos. O
primeiro momento do processo dialético. 6. Em tese: de um modo geral.
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“O triunfo de um Ser Humano é o produto de muito estudo, trabalho e dedicação. Com o estudo
toma conhecimento das ciências e daquilo que já foi realizado por outros seres, nas distintas épocas
do desenvolvimento humano; com o trabalho, desenvolve a superior função humana da construção
da vida e do apoio que deve oferecer aos seus semelhantes em prol da civilização; na dedicação ele
faz a sua profissão de fé, identificando-se com a busca da verdade absoluta e do bem-comum,
porfiando32 com os seres humanos que creem e sabem para onde estão seguindo...”.
Em todas as etapas do seu discurso, o orador utiliza-se da persuasão, não se preocupando com
a inteligência do outro, e sim com a sua vontade. A naturalidade, simplicidade e singeleza no falar são
alguns requisitos daquele que deseja persuadir, que não pode ser artificial, sugerindo sempre, a beleza
no falar.
Em sua comunicação com o público, o orador há de lembrar-se de pôr um pouco de poesia nas
palavras, e bastante fé e esperança nas mensagens. Usar um vocabulário coloquial para que possa ser
compreendido por todos: suas palavras, mesmo sendo simples, devem aprofundar-se em certos
temas, desde que ditas com o entusiasmo e o brilho da sua voz.
Nesta parte, o orador deve falar de tal modo, que o público possa fazer uma viagem de
recordações, despertando a curiosidade (se possível, lembrando algo do passado, que se refira ao
tema). Após isso, deve transmitir coisas novas com originalidade, clareza e objetividade. Não deve
fazer uso de palavras desnecessárias, chulas33 ou rasteiras. Deve mostrar que domina o assunto.

Peroração - é a parte final do discurso, quando o orador deve concentrar toda a substância do
exposto sem repetições enfadonhas, usando palavras que possam causar a melhor das impressões aos
ouvintes, a fim de que todos os presentes se emocionem ou apaixonem com o que foi dito, criando a
empatia34, entre si e quem o ouve.
A peroração pode ser dividida em duas partes: o epílogo e a peroração, propriamente dita.
O epílogo é um breve resumo de tudo o que se falou, ou das provas apresentadas. Deve ser
rápido e conciso para não cansar o público, e, deve ser formado, exclusivamente, por uma espécie de
“recuperação da memória recente”, “memória do que foi falado ainda há pouco”, preparando a todos
para um final retumbante.
Na peroração propriamente dita, o orador deve terminar com a busca da emoção coletiva,
dizendo palavras que possibilitem aos que as ouvem a ficarem do lado das ideias que acabou de
desenvolver. Para isso, deve terminar o discurso com uma frase de efeito eletrizante e eriçadora35 dos
cabelos, e dizer, ao fim, um bem sonoro: muito obrigado(a)! Tratando-se de uma palestra ou
conferência, poderá terminar dizendo: tenho dito!

32 Porfiar – 1. Discutir acaloradamente; contender, debater, altercar. 2. Debater com ardor. 3. Fazer empenho; teimar, insistir, obstinar-
se. 5. Competir, rivalizar, concorrer. 5. Fazer por obter, disputar. 6. Empenhar-se em; travar; porfiar questões.
33 Chulo – 1. Grosseiro, baixo, rude. 2. Usado pela ralé; ordinário.
34 Empatia – Psic. Tendência para sentir o que sentiria caso se estivesse na situação e circunstâncias experimentadas por outra pessoa.
35 35 Eriçar – fazer erguer; tornar hirto; arrepiar, ouriçar.

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1.8. Leituras complementares


a) Não se deve usar uma palavra sem conhecer o seu significado
O orador não deve usar uma palavra quando não souber o seu significado, para que não lhe
aconteça o mesmo que ocorreu, a um advogado, muito ignorante, e que, por isso mesmo, ficou
identificado nos meios forenses como um grande rábula36.
Na década de 1950, esse advogado deu entrada em um processo, no Fórum do Rio de Janeiro,
tratando da partilha de um inventário, referente a um homem falecido de morte natural, deixando
mulher e dois filhos menores. Como era de praxe, e, por exigência legal, o médico que atestou a sua
morte, escreveu no Atestado de Óbito, que o falecido deixara herdeiros menores de idade e herança.
De cujus é uma expressão forense, que se usa no lugar do nome do falecido, ou autor da
herança, em processos referentes a inventários, por serem as primeiras palavras da expressão latina
de cujus sucessione agitur “de cuja sucessão se trata”, ou seja, de quem se está falando em todo o
processo, logo após a qualificação inicial, para evitar que haja uma repetição maçante do nome do
falecido, no processo.
Como o processo estivesse demorando muito, o tal advogado (ou rábula), levou a viúva e as duas
crianças à Vara de Órfãos e Sucessões, onde corria o processo, a fim de impressionar o juiz titular e
conseguir liberar a herança, que era bem polpuda!
Após ser autorizado pelo magistrado, o advogado fez uma sustentação oral, resumindo o
processo e arrematou a sua fala, dizendo:
- E tem mais, Incelênça (sic): o “de cujus” deixou dois “decujinhos” (sic) menores de idade, que
estão passando a maior fome...
b) A persistência de um sonho
Era um homem que:
- faliu em seus negócios aos 31 anos de idade;
- foi derrotado em uma eleição para o Legislativo com 32 anos;
- faliu outra vez nos negócios aos 34 anos;
- superou a morte da namorada aos 35 anos;
- teve um colapso nervoso aos 36 anos;
- perdeu outra eleição com 38 anos;
- perdeu outras eleições para o Congresso dos EUA aos 46 e 48 anos;
- perdeu outra disputa para o Senado dos EUA aos 55 anos;
- fracassou na tentativa de tornar-se vice-presidente americano aos 56 anos;
- perdeu outra disputa senatorial aos 58 anos;
- elegeu-se presidente dos EUA aos 60 anos.
O nome do homem: Abraham Lincoln, um ser humano ético e generoso, que ficou para a
História, como um dos maiores presidentes dos EUA.
c) Imprevistos acontecem
Josué Montello relata, no seu Anedotário Geral da Academia Brasileira:
“Em 1897, Aluísio Azevedo, ao chegar a Yokohama, possuía apenas, como roupa de luxo, um
único terno à moda do Ocidente. Era uma vestimenta de puro linho inglês, admiravelmente
confeccionada por um alfaiate da Espanha. Quis o azar que, um dia, nos atropelos da vida de hotel,
um líquido escuro lhe caísse na calça, formando uma larga mancha, irredutível aos reativos mais
poderosos.
O romancista ficou em situação de desespero. Naquelas terras do Oriente, encontraria quem lhe
confeccionasse uma calça semelhante? Na dúvida, chamou o criado. Era um pequeno japonês, sempre

36Rábula – [Do lat. rábula.] S.m.1. Advogado de limitada cultura, e chicaneiro; leguleio; piegas. 2. Indivíduo que fala muito, mas não
conclui nem prova nada. 3. Bras. Indivíduo que advoga sem possuir o diploma [Cf. Rábula, do v. rabular.].
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risonho, que caminhava inclinado como uma diminuta Torre de Pisa humana. Aluísio mostrou-lhe a
roupa estragada e indagou-lhe se conhecia alguém capaz de fazer vestimenta semelhante.
O criado olhou longamente a calça, sempre sorrindo, sempre inclinado, examinou o tecido,
observou o feitio da roupa, deu um gritinho, e respondeu que sim, era possível. Sabia de um amigo
que resolveria o problema.
Efetivamente, um pouco mais tarde, um alfaiate procurou o Vice-Cônsul do Brasil. Vinha
oferecer-se para fazer-lhe outra calça.
- Olhe que eu quero a calça exatamente igual. Se não souber fazer, deixe a fazenda - disse o
romancista.
O alfaiate mostrava os dentes e batia afirmativamente a cabeça. E, por fim:
- Pode ficar tranquilo que sairá a seu gosto.
Embrulhou a fazenda, enrolou a calça que serviria de modelo, e despediu-se, para voltar dentro
de dois dias.
Dois dias após, pontualmente, o criado anunciava ao Vice-Cônsul a volta do alfaiate. A roupa
estava pronta. E o homem sorria, mostrando todos os dentes, na satisfação de poder provar àquele
estrangeiro que também no Japão se podia fazer uma boa calça à moda do Ocidente:
- Está perfeitamente igual à outra. Procurei seguir à risca o modelo. E creio que acertei.
Aluísio desfez o embrulho. E, arregalando os grandes olhos negros, espantados:
- Que é isto?
E o alfaiate mostrando a dentuça:
- Peço-lhe mil desculpas por essa pequena diferença. Acredite o senhor que não me foi possível
achar na cidade a mesma tinta!
Estupefato, Aluísio olhava a calça que o japonês lhe trouxera: no mesmo lugar da outra, que
servira de modelo, estava a mancha que inutilizara a primeira.
Apenas com a diferença de que, na nova roupa, a nódoa era um pouco mais escura...”
d) A importância da leitura
Na antiguidade os nobres não valorizavam nem praticavam a leitura: senhores de tudo (inclusive
da vida e da morte dos súditos), julgavam que abrir um livro era pura perda de tempo. Isso mudou
com o criador da escola pública, universal e gratuita, o Imperador Carlos Magno37, que, além de
aprender a ler e a escrever, matriculou a mulher e os filhos na escola do seu castelo, e determinou aos
príncipes38 do seu reino, que criassem escolas similares e gratuitas em seus domínios.
Com o tempo, o saber ficou sob o domínio da elite - só a nobreza tinha acesso à leitura. Hoje
estamos num mundo livre (pelo menos no nosso país), e podemos ler o que quisermos, ainda que
muitos não percebam a importância que isto tem, deixando de valorizar a leitura como deveriam,
começando pela iniciação dos filhos nesta atividade tão significativa.
Há uma falsa impressão de que a palavra impressa está sendo substituída. Não é bem assim: a
escrita e a leitura ainda formam a base de tudo o que o ser humano faz no cosmos. Um bom exemplo
disso aconteceu, quando um repórter perguntou a Bill Gates (criador e dono da Microsoft), hoje
considerado como um dos homens mais ricos do mundo, o seguinte:
- Bill Gates, seus filhos terão computadores?
Ele respondeu:
- Antes dos meus filhos terem um computador, eles terão livros.

37 Carlos Magno ou Carlos I, o Grande – (742 – Aix-la-Chapelle, 814) rei dos francos (768-814), imperador do Ocidente (800-814). Ani-
mador de um verdadeiro renascimento cultural, assim considerado, por ter criado uma escola no palácio Aix-la-Chapelle, através do
apoio de letrados estrangeiros (Alcuíno), e a multiplicação de oficinas de arte nos mosteiros, que é considerada a criação da escola
pública, universal e gratuita.
38 Príncipe – o primeiro entre os pares.

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e) Rui Barbosa e o ladrão de galinhas


Rui Barbosa morava no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro, em uma ampla e bela casa, que
tinha um pouco de tudo, inclusive uma viçosa criação de galinhas, para consumo da família. Um certo
dia, a Águia de Haia percebeu que as galinhas estavam desaparecendo: um ladrão estava roubando
uma a cada noite...
Numa certa noite de temperatura muito quente, enquanto passeava pelos jardins da casa, Rui
Barbosa resolveu esconder-se para ver se apanhava o tal ladrão, que estava “visitando” o seu
galinheiro. Lá pelas tantas, o ladrão chegou e pegou uma galinha. Rui Barbosa agarrou-o pela gola da
camisa e disse-lhe, imediatamente, com o dedo indicador em riste:
“Não pelo bico do bípede;
Nem pelo intrínseco valor do galináceo;
Se veio aqui para roubar-me, perdoo-te;
Mas se veio para insultar minha soberba prosopopeia, dar-te-ei um trompaço no meio do seu
glóbulo pensante;
Que transformará sua massa encefálica em uma única hemácia.”
Não entendendo nada, o ladrão olhou para Rui Barbosa e perguntou-lhe:
“Doutô, eu deixo ou levo a galinha!?”
f) Já não se fazem mais bancos como antigamente
(Adaptado de: Camargo, A. J. Lucas - Edição do autor, 1974, pp. 88-90)
São três horas da tarde de um certo dia de outono. Estamos no interior do Sovina’s Bank, quando
chega o Sr. Atrapalhilddo Desletrado Muitovivo. Encontra o gerente e começam a conversar.
Sr. Atrap. - Moço, eu precisava de um dinheirinho emprestado. Será que o seu banco me arranja?
Ger. - Depende, cavalheiro. Há certas formalidades prévias. Por exemplo, o senhor já fez um
cadastro aqui no nosso banco?
Sr.Atrap. - Se eu fiz o quê? Padrasto? Um padrinho, um pistolão?
Ger. - Que está o senhor querendo insinuar? Perguntei apenas se já foi feita a sua ficha aqui.
Sr.Atrap. – Ah, ficha! Seu. Não, aqui no banco não. Mas, no mês passado, quando fui operado da
hérnia, lá no hospital me fizeram uma ficha muito bonita, cheia de uns tar (sic) de gráfico (sic), nome
de remédio, chazinhos e outros númuros (sic39). No último dia, aproveitei uma distração da
enfermeira, passei a mão nessa tar (sic) de ficha e levei-a para casa, como lembrança. Será que o
senhor não poderia aceitar aqui essa ficha do hospital, para que eu possa ganhar tempo em vez de
fazer uma nova? Além disso, eu não estou mais doente agora, e não preciso mais dela...
Ger. – Não quero saber das suas doenças. O que interessa é a sua situação financeira, quero
saber qual é o seu patrimônio financeiro... o patrimônio líquido...
Sr.Atrap. – Olha aqui, seu moço, falando a verdade, vou dizer uma coisa pro senhor, o meu
patrimônio é quase todo sólido: terras, casas, galpões, máquinas e uns boizinhos. Mas se o senhor faz
questão de patrimônio líquido, acho que podemos ajuntar a represa da fazenda e alguns garrafões de
pinga que estão guardados, do tempo em que o meu engenho ainda funcionava. É das boas;
amarelinhas que só vendo, tá?
Ger. – O senhor já operou em algum banco da praça?
Sr.Atrap. – Ih, lá vem o senhor de novo? Mas... aqui é um banco ou um hospital? O senhor só
fala em ficha... operação... Claro que eu nunca operei. Não sou médico, sou fazendeiro! Só se a gente
for considerar operações as vezes em que capei uns leitãozinho (sic) ou quando aparei os casco (sic)
de umas vacas que estavam com mangueira. Mas, nesses mesmos casos, eu operei foi lá no curral
mesmo. Tinha graça eu levar meus bichos para operar num banco da praça, lá em frente à Matriz!
Ger. – Não se trata disso. Eu preciso é saber se o senhor já foi mutuário de nossas carteiras.

39Sic [Lat., ‘assim’.] Adv. Palavra que se propõe a uma citação, ou que nesta se intercala, entre parênteses ou entre colchetes, para
indicar que o texto original é bem assim, por errado ou estranho que pareça.

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Sr.Atrap. – Que negócio é esse? Então o senhor me acha com cara de camelô para ser mostruário
de carteira!?
Ger. – Mostruário, não. Eu disse “mutuário”. Em qual de nossas carteiras o senhor já tem
experiência?
Sr.Atrap. – Ih, mais essa agora! Ao invéis (sic) de camelô, agora o senhor pensa que eu sou
batedor de carteiras e que até tenho experiência em carteiras do pessoal do banco?
Ger. - Está muito difícil fazer-me compreender pelo senhor. Mas, pelo que deduzi de nossa
conversa, o senhor está necessitando de capital de giro.
Sr.Atrap. – E eu lá quero saber de giro pela capital, moço! Estou muito bem, aqui no interior.
Não quero coisa nenhuma. O que eu disse, logo no começo de nossa prosa e repito agora, é isto: eu
preciso de um dinheirinho emprestado. Só!
Ger. - Justamente o que eu falei: o senhor quer levantar um numerário.
Sr.Atrap. – Eu não quero levantar nada. Não posso: depois de minha operação de hérnia o
médico me proibiu de fazer qualquer esforço, quanto mais levantar esse tar (sic) de numerário, que
eu nem sei quanto pesa! Eu preciso é de dinheiro!
Ger. – Em qual modalidade de financiamento o senhor quer se enquadrar? Finame, Fundepar,
Pasep, Pis, Finarural, Lei 4143, Resolução 23, Firex...
Sr.Atrap. – Moço, pelo amor de Deus: como é que se diz: “Um dinheirinho emprestado” aí na
língua que o senhor está falando? E só isso que eu quero. Por favor, não me complique as coisas que
eu tô (sic) ficando maluco.
Ger. – Há um pormenor muito importante. Para que o banco lhe empreste dinheiro é preciso
que o senhor retribua com reciprocidade.
Sr.Atrap. – Reciproqui... o quê?
Ger. – Reciprocidade. É preciso que o senhor mantenha depositado aqui no banco um saldo
compatível com o volume de financiamento pretendido.
Sr.Atrap. – Mas… peraí (sic): se eu estou precisando de dinheiro, como é que ainda vou arranjar
algum para depositar no seu banco? Afinal, é o banco que vai me emprestar dinheiro para ele? Moço,
vou fazer uma coisa: volto para a fazenda e mando meu filho mais velho conversar com o senhor. A
gente não consegue se entender. O senhor usa esse palavreado complicado, moderno, que deve ser
igual o jeito de falar dos ripi (sic)s, dos pleibóis (sic) e eu ainda falo a língua que se usava no tempo do
Uóchito (sic) Luiz. O mundo está ficando muito complicado para mim. Deve ser por causa dos foguetes,
dos cometas e da tar (sic) de bomba atômica. Está na hora de deixar o comando dos negócios para a
nova geração. Amanhã meu filho passa aqui.
Ger. – Se o senhor prefere assim...
Sr.Atrap. – É. É melhor assim. Adeus, moço. Desculpe-me por não ter compreendido o senhor.
Quando tiver tempo, dê uma chegadinha até minha fazenda para experimentar uns goles do meu
“patrimônio líquido”. Garanto que na terceira dose a gente vai estar se entendendo perfeitamente.
h) Quem fala? O que fala?
O triunfo na oratória depende muito do que se diz e de quem o diz, por isso, sempre nos
recordamos de Getúlio Vargas, um mestre da persuasão, que dava razão a todos, e, no fim, ficava
sempre com ela.
Como presidente, recebia a todos que assim o desejassem, e decidia sabiamente as divergências
e contendas, em seu gabinete. Um dia, recebeu no Palácio do Catete dois comerciantes de móveis,
que eram proprietários de lojas na rua do Catete e que haviam se desentendido, por causa do espaço
utilizado em suas calçadas, para expor as mercadorias. Com um sorriso nos lábios, o primeiro sai do
gabinete convencido de que tinha razão com a resposta que o presidente lhe dera. Entra o segundo e
expõe as suas razões. Após isso, pergunta ao presidente qual deles tinha razão. O presidente passa a
mão na cabeça e diz-lhe que era ele.

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Logo que o homem saiu, Dona Darcy, esposa do presidente, que tinha o hábito de assistir
discretamente, a tudo que se passava ali naquele ambiente, argumenta que Getúlio havia errado, pois
dera a razão para cada um dos comerciantes ouvidos.
Getúlio fita-a, seriamente, franze o cenho, e diz-lhe:
- Darcy, você está coberta de razão.
i) O governador e a cultura
Quando Nei Braga era governador do Paraná, havia muita preocupação com a cultura do povo
daquele estado, ainda que, se por mais não fosse, todos saberem que se tratava de um homem muito
culto, que trabalhava com todo o afinco para ver todo o povo nessa mesma seara.
Um certo dia, o governador iria visitar uma obra, em uma das barrancas do rio Paraná, quando
um dos seus assessores teve uma brilhante ideia: foi até lá, uns dias antes da tal visita, para observar
o local, quando encontrou um barbeiro que atendia à população ribeirinha. Falou com ele e disse-lhe
que o governador iria visitar a sua barbearia, e que, por ser pessoa de muita cultura, seria de bom
alvitre que houvesse um maior capricho nos cartazes que anunciavam os serviços e os preços cobrados
por ali. Disse ainda, que, se o homem mandasse fazer uns cartazes novos, bem caprichados nas letras,
ele faria com que Nei Braga tirasse umas fotos, sentado na cadeira da barbearia. Aí, era só ele mostrar
para as pessoas do lugar que a sua freguesia iria aumentar.
Na data marcada, o governador chegou ao rio Paraná, desembarcou de uma balsa bem no
ancoradouro da tal barbearia e ficou atônito com o que leu em uma faixa: “Sinhô Gunvernadô, seje
bem vino!” (sic). E, mais atônito ficou ainda, quando, adentrando a tal barbearia, leu os cartazes e as
placas que anunciavam os serviços: “Barbiaria Naváia di Assu, aqui si faiz o mió: – Curtume di cabelo
– Façume di barba – Aparume di bigodi” (sic).

J) A venda do sítio
Certa vez, um grande amigo do poeta Olavo Bilac queria muito vender um sítio, porque era
muito trabalhoso e dava-lhe muitas despesas. Todos os finais de semana, em que ia para essa propri-
edade, reclamava que era um homem sem sorte, pois o sítio dava-lhe muitas dores de cabeça e não
valia a pena conservá-lo. Sendo amigo do poeta, pediu-lhe para redigir um anúncio para vender o seu
sítio, pois acreditava que, se ele descrevesse a sua propriedade com palavras bonitas, seria mais fácil
vendê-la.
Olavo Bilac, que conhecia muito bem o sítio do amigo, aceitou o pedido e redigiu o seguinte
texto:
"Vende-se encantadora propriedade onde os pássaros cantam ao amanhecer, no extenso arvo-
redo. É cortada por cristalinas e refrescantes águas de um ribeiro. A casa, banhada pelo sol
nascente, oferece a sombra tranquila das tardes, na varanda."
Meses depois, o poeta encontrou esse amigo e perguntou-lhe se havia vendido a propriedade,
que, prontamente lhe respondeu:
- Nem pensei mais nisso! Quando li o anúncio que você escreveu, é que percebi a maravilha
que eu possuía.

Um orador deve lembrar-se de que, algumas vezes, só conseguimos enxergar o que somos ou
o que possuímos, quando pegamos emprestados os olhos alheios.

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Cap. 2. O orador
2.1. O que o orador deve fazer antes de falar em público
2.1.1. Preparar a voz
A eloquência exige uma das mais admiráveis qualidades do estilo, que é a harmonia. Mas não é
a harmonia simples, com a qual se contentam os bons escritores. É a harmonia unida à sonoridade.
Exige, portanto, a oratória, para seu completo êxito, não só o ritmo, a cadência, o compasso, a
harmonia, mas também a nitidez do timbre, a perfeita maviosidade; daí a necessidade da educação
da voz. O orador deve educar-se para dominar as qualidades vocais que abrilhantem a exposição dos
seus pensamentos. Precisa poder empregar, naturalmente, o tom, a cadência e o volume escolhidos,
além de rapidamente passar de um para outro.
A voz é, realmente, um instrumento de persuasão. Uma pessoa que saiba exprimir-se com voz
agradável, que deleite40 os ouvidos de outrem tem, evidentemente, uma grande vantagem sobre as
demais que falam corretamente, mas sem boa entonação e de maneira desarmoniosa. A voz é o ponto
de partida para atrair a atenção de um auditório; primeiramente, o auditório escuta o orador dotado
de encantadora voz como que por um prazer físico; depois, involuntariamente, deixa-se envolver pelos
seus argumentos.
Uma voz sem timbre, descolorida, débil ou esganiçada, não consegue provocar a impressão
almejada nos momentos em que a convicção deve ser induzida.
Se o orador de voz harmoniosa sabe desenvolver uma argumentação lógica, terá a chance de
vencer, quando, na mesma situação, uma pessoa de voz falsa e sem timbre teria somente despertado
um pouco de atenção.
A educação física da voz compreende: a emissão vocal, que deve ser regulada e pausada; a
pronúncia, que precisa ser isenta de vícios; e, a inflexão que deve permitir uma fiel interpretação do
pensamento e do sentimento com todas as suas nuanças41.
Antes de tudo, o orador precisa “colocar” a voz, aprendendo a respirar de modo a não ser
interrompido por falta de fôlego.
É sabido que as respirações profundas desenvolvem a voz e fazem bem à saúde. Fazer esse
exercício durante cinco minutos, todos os dias, como também, durante trinta minutos, pronunciando-
se, em voz alta, as várias letras do alfabeto, são excelentes formas de preparar os pulmões e as cordas
vocais para a oratória.
As pessoas de fala chiante ou que costumam tropeçar em variadas sílabas poderão adquirir a
califasia mediante alguns exercícios de leitura, com os dentes cerrados, fazendo ouvir a própria voz,
no espaço de meia hora. Este exercício é, particularmente, indicado para pessoas que apresentam
problemas de gagueira ou de titubeação na fala, assuntos de que tratamos, especificamente, no
Capítulo 3 deste opúsculo, e que merecem a paciência e a dedicação daquelas que os apresentarem
no cotidiano das suas vidas, a fim de exterminá-los e levarem uma existência normal e feliz.
Cultivar a voz é dar-lhe consistência e harmonia, é converter a emissão em um timbre puro, em
claras vibrações das cordas vocais. Por isso, aquele que estuda a oratória, não poderá esquecer-se de
exercitar a respiração, pois a voz poderá descontrolar-se ou prejudicar-se pela falta de fôlego.
A pureza do timbre é caracterizada pela total ausência do tom nasal e gutural. A sonoridade do
timbre e a harmonia da voz, obtêm-se pelo rendimento da emissão empregada, com a perfeita
utilização dessa emissão, e não com a quantidade de ar utilizado. Isso é claramente observado num
assobio, que usa pouca quantidade de ar bem dosado e produz vibrações que alcançam longas
distâncias.
As pessoas de tórax pequeno podem ter vozes claras, desde que usem com exatidão a
respiração, em exercícios indicados para colocar a voz, tais como:

40
Deleite – 1. Gozo íntimo e suave. 2. Prazer inteiro, pleno; delícia, deleitação.
41
Nuanças – 1. Cada uma das diversas gradações de uma cor; cambiante, matiz, tom, tonalidade. 2. Diferença delicada entre coisas do
mesmo gênero. 3. Grau de força ou de doçura que convém dar aos sons.

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Ginástica abdominal - flexão do tronco, mantendo as mãos na cintura, circulando o tronco após
cada cinco minutos de exercício.
Ginástica respiratória - respirar profundamente, soltando o ar pela boca, lentamente; durante
a respiração subsequente, emitir distintamente um verso de doze sílabas, chamados alexandrinos,
como, por ex.: “O sol da perfeição é que ilumina os gênios”. Em seguida, emitir três vezes esse mesmo
verso, sem inspirar, a fim de desenvolver a faculdade de economizar o fôlego quando estiver falando.
Também é aconselhável fazer este exercício com o uso de uma vela acesa, fixada ao centro de um
prato fundo, que deve estar cheio d’água, a fim de prevenir acidentes, e posto à borda de uma mesa,
para que os ensaios possam ser feitos com o estudante sentado em uma cadeira. A chama deve ficar
distante da boca, uns 10cm, o que permitirá o fortalecimento da autoconfiança, porque a vela não se
apagará, além de eliminar os sons chiantes.
Outra prática - inspirar profundamente enquanto conta lentamente até dez; conter a respiração
durante cinco segundos; expirar durante cinco segundos, com a boca aberta, produzindo o som de
“é”; respirar normalmente durante algum tempo e recomeçar o exercício; depois de alguns dias,
aumentar a duração do período rítmico de cinco segundos, gradativamente, até atingir dez segundos.
O ponto capital desses exercícios consiste na manutenção da igualdade entre as três fases e na
uniformidade do som, que não deve ser quebrado e nem tremulado.
Ainda podemos indicar os seguintes exercícios, como imprescindíveis para que uma pessoa
possa tornar-se exímia oradora:
▪ Ler um texto comum, conservando uma vela acesa diante da boca; se a vela não se apagar com
o sopro da respiração, a conversão da energia respiratória em energia sonora está perfeita (é
aconselhável fazer este exercício com a vela acesa, nos mesmos moldes já sugeridos
anteriormente, em Ginástica respiratória.).
▪ Fazer o mesmo exercício de não extinção da luz da vela ao aumentar o tom da voz;
▪ Habituar-se a falar observando o som da voz de maneira que não deixe subir acima do tom
sustenido e que jamais atinja o som agudo;
▪ Cantar uma música qualquer, mantendo os dentes cerrados, no espaço das ocupações
costumeiras, ou subir e descer simplesmente a escala, para dar amplitude à voz;
▪ Ler um texto qualquer, de vez em quando, em voz alta, compenetrado do assunto, fazendo
pronunciar todas as sílabas e destacando bem as palavras umas das outras, para formar a voz
e desenvolver a respiração;
▪ Exercitar-se a ler e a falar em voz apoiada em tonalidade média, na escala habitual, a fim de
“colocar” a voz.

Cuidado! Não faça os exercícios, citados neste opúsculo, na presença de crianças ou de pessoas
portadoras de deficiências, porque elas podem querer fazer o mesmo e provocar acidentes!

Para evitar o enrouquecimento da voz, deve-se respirar profundamente e prender a respiração


no fundo dos pulmões para lançá-la contra o céu da boca ao formar a voz com os lábios. Desta forma,
utiliza-se o músculo do diafragma na elocução e pode-se falar longo tempo sem tornar-se afônico.
No cotidiano, pode-se ver que a cultura da voz é um dos primeiros cuidados de que deve lançar
mão aquele que deseja adquirir as qualidades de bom orador. Não é a voz retumbante que triunfa
sobre as demais, porém a mais cultivada, aquela que soa bem e cujo timbre claro e suficientemente
brilhante tenha sido enriquecido e regulado por exercícios apropriados à sonoridade.
Para que as palavras sejam bem articuladas, devem-se fazer os seguintes exercícios: abrir a boca
o mais possível e fechá-la repetidas vezes, até a fadiga; pronunciar cada consoante de maneira bem
nítida, de dez a trinta minutos, diariamente; emitir cada consoante com sons de vogais diferentes,
com maior apoio sobre a consoante; construir frases curtas, contendo o maior número possível de
consoantes difíceis de pronunciar, e exercitar-se a pronunciá-las corretamente; e, combinar frases
cada vez mais longas, firmando a vontade e a confiança em seu próprio espírito, para impregnar-se de
ideias de coragem e de aperfeiçoamento por ocasião do exercício de articulação.
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Estes conselhos são os mesmos, de todos aqueles versados em califasia: ninguém ignora que se
pode saber “articular” bem, sem que se saiba “pronunciar” corretamente os vocábulos que abrangem
certas letras ou grupos de letras tidos como complicados; são defeitos da fala que podem corrigir-se,
desde que possam ser afastados os elementos físicos que a transtornam.
O modo defeituoso de colocar a língua cria certos vícios de pronunciação. Em tal caso, deve-se
ter o cuidado de conduzir a língua como o exige a emissão do fonema: as sílabas devem ser emitidas
com um pequeno espaço, evitando a supressão ocasionada pela pressa, a fim de que sejam claramente
entendidas e compreendidas.
O orador não deve apenas pronunciar ou declarar bem, deverá desenvolver-se para possuir uma
voz aveludada, e que seja ao mesmo tempo macia e forte, para harmonizar-se com as suas ideias e
com as várias partes do seu discurso; uma voz maviosa causa prazer a quem a ouve, como no canto:
quando ouvimos músicas interpretadas numa língua estrangeira que não conhecemos, mas são
conduzidas por uma voz encantadora, ficamos extasiados com o cantor e o aplaudimos.
As nuanças e a inflexão da voz têm uma grande importância para os oradores e locutores. A
inflexão comporta a mudança de tom ou de registro, associada à mudança de volume da voz. O volume
é a consistência mais ou menos importante da voz; quando a voz se dilata, ocorre um volume mais
considerável; quando decresce, diminui-lhe o volume. O estudo da ciência da inflexão permite obter
efeitos variados, coloridos, capazes de provocar a emoção, o temor e a ansiedade de tocar os corações
e as inteligências.
As inflexões da voz, assim conseguidas, carregam em si as seguintes significações:
Tom forte e elevado: irritação, descontentamento, repreensão.
Tom bastante elevado, em uma elocução suave e lenta: afeto, ternura.
Tom médio, a meia voz: calma mental e emocional.
Tom um pouco acima do precedente: ardor e sinceridade.
Tom baixo, em voz forte: firmeza de espírito e de coração.
Tom baixo e suave: gravidade.
Tom em surdina: disposição desconfiante, dissimulada, enganosa.
O êxito da palavra depende da modulação da voz. Portanto, os exercícios de educação física da
voz devem ser constantes até que se alcance a inflexão almejada. Muito cuidado com as variações de
tom: de nada valerão a emoção, o entusiasmo, a indignação, a ironia, a angústia etc., nas palavras, se
o orador não souber colocar estes sentimentos na voz.
O amaciamento e o volume da voz podem ser otimizados, através dos seguintes exercícios:
▪ Inspirar profundamente e deixar em seguida, sair o ar, ao mesmo tempo em que deve produzir
um som, emitindo sucessivamente, todas as vogais, na seguinte ordem: é, a, ê, i, ó, ô, u;
▪ Exercitar-se a aumentar gradativamente o volume da voz até o máximo, a reter a respiração e a
tomá-la à vontade;
▪ Em pé, com o corpo bem ereto, o peito arqueado, a cabeça ligeiramente inclinada para trás,
tomar uma respiração profunda; em seguida emitir o som “é”, deixando que o ar saia, pleno,
sem garganteio;
▪ Emitir o som “é” a plena voz nas mesmas condições anteriores, começando por emitir um som
o mais fraco possível, inflando progressivamente a voz para chegar ao máximo de intensidade
e de volume, e diminuindo gradativamente até terminar por um som apenas perceptível.
A seguir, refazer o exercício com as outras vogais.
Durante os exercícios, deve-se observar a transição dos registros e do volume da voz, que deve
ser lenta, evitando a fadiga do aparelho fonador. Para tal, podem ser realizados os seguintes
exercícios:
▪ Escolher uma palavra qualquer e exercitar-se a repeti-la: primeiro, com o grave; depois, com o
médio; e, finalmente, com o agudo; esforçando-se em produzir, em cada caso, o mesmo
volume de voz;

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▪ Repetir a mesma palavra, sucessivamente, com os três registros, variando o volume: primeiro,
com uma voz profunda e baixa; depois, com uma voz média bastante forte; e, ao final, com o
registro elevado, dando à voz todo o volume possível;
▪ Repetir a mesma palavra com uma voz profunda no maior volume; em seguida, com o volume
médio.
A pontuação produz um grande efeito na linguagem escrita, e, maior efeito produzirá na
linguagem oral, quando perfeita e harmoniosa. Para isto, são necessários os estudos de pontuação,
principalmente da colocação da vírgula: a pausa no discurso, quando exata e precisa, não só dá
elegância aos pensamentos, como permite que o orador tome o fôlego que não lhe pode faltar.
É evidente que se repare na mudança de voz que determinam certos sinais de pontuação e
outros sinais gráficos, como o travessão, os parênteses, as aspas, os pontos de exclamação e de
interrogação. Tudo isso feito e observado cuidadosamente, depois exposto diante de pessoas
entendidas na arte da eloquência, fará com que o principiante marche galhardamente para vencer na
vida com um dos mais belos dons que o Criador cedeu à criatura humana - a palavra!
A mensagem de um orador portará veracidade, veemência, entonação, brilho, colorido e
entusiasmo, a partir do momento em que a sua voz esteja trabalhada, composta e agradável: uma voz
que não transmita vida - por mais lógico que seja o pensamento do orador - não prenderá a atenção
de ninguém e trará à memória dos que a ouvem, a triste lembrança de que, em algumas ocasiões, já
se depararam com um homem ou com uma mulher, de aparências impecáveis. No início, ficaram
maravilhados pelo que viam, até que começaram a ouvi-los, quando ficaram frustrados: as suas vozes
contrastaram-se às suas belas aparências e não transmitiam a clareza, a energia e a veemência.
2.1.2. Cuidados com a aparência, o olhar, os gestos,
o vocabulário, os pensamentos e a palavra cronal
O estudioso de oratória deve ser bem informado, culto, ou como dizem os radialistas e os
internautas: deve estar antenado, ligado ou plugado com o mundo, buscando a cultura em atividades
constantes: Nam et ipsa scientia potestas est (Saber é poder), nos ensina Francis Bacon (1561-1626),
em Meditações Sacras. Para isso, deve ler, escutar e estudar constantemente, ações que lhe
possibilitarão fazer uma boa figura, especialmente, ao ter a oportunidade de ir à frente de uma plateia
para falar-lhe algo, seja o que for, porque estará fundamentado em qualidade - e é isso o que a massa
mais gosta de ouvir!
Todo orador deverá fazer a si mesmo, as seguintes perguntas: onde irei falar? para quem irei
falar? A oratória positiva recomenda àquele que dela se utilizar, a busca de informações prévias, para
que possa informar-se acerca das características da população que o ouvirá, além de fazer um
reconhecimento do local onde irá usar a palavra. Se não fizer isso, poderá produzir um grande fiasco,
dizendo algo que a semântica da cultura local não consegue dar um significado, ou, pior ainda – poderá
emitir um significado errado ou que possa ser considerado como ofensivo, imoral, discriminatório ou
repugnante!
O bom orador não é aquele que se julga capaz de reter a atenção do auditório apenas pela
retumbância de sua voz: falar através de trovoadas é tarefa que coube a Moisés no alto do Sinai,
apenas com o intento de amedrontar o seu povo e fazê-lo seguir em busca do que estava escrito. O
bom orador precisa reunir em si certas qualidades e cuidados pessoais, com os quais possa prender o
interesse dos que o ouvem e difundir as suas ideias, devendo cuidar da aparência, do olhar, do gestual,
do vocabulário, dos pensamentos e da palavra cronal.
O orador vai tornar-se o fluido principal da psicose42 coletiva, e daí a sua obrigação de ser
cuidadoso com todos os pormenores: do seu corpo, da sua roupa e dos seus objetos pessoais.

Aparência - ao galgar a tribuna, o orador não pode esquecer-se da aparência. Os cuidados que
lhe dispensar, dizem muito a seu respeito e poderão fazer com que os outros, o vejam de forma

42 Psicose - 1. Med. Designação comum às doenças mentais; psicopatia. 2. Fig. Ideia fixa; obsessão (psicose coletiva).
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positiva e o respeitem também por esse aspecto. Deve sentir-se confortável e bem arrumado. Se ao
vestir-se para uma apresentação algo destoar do que considera normal, mesmo que os outros gostem
ou não percebam, sentindo-se desconfortável, poderá perder a naturalidade: um botão que falta em
uma camisa, ou meias que não combinem adequadamente com as calças e os sapatos, mesmo que o
público não os notem, ou um relógio com uma pulseira que considere esquisita, tudo isso precisa ser
evitado pelo orador, porque podem levá-lo a sentir-se incomodado, e até a sentir-se mal. Mesmo que
não saiba por quê!
Deve ter cuidado com a moda, pois muda muito rapidamente. Vestindo uma roupa anacrônica,
o orador pode atrair a atenção do público para algo considerado como brega, fora de moda, cafona
etc., dando motivação visual para o seu fracasso na tribuna. As pessoas podem divertir-se, à sua
maneira, com o que veem, sem escutar o que lhes está sendo dito. Assim, deve preparar a roupa,
verificando: a cor, a forma, o comprimento, se está bem passada etc.; dos sapatos: se estão
engraxados, se são adequados para o evento etc.; das meias: se são da cor adequada; se apertam; se
são baixas ou altas etc.; dos acessórios: pasta ou bolsa, celular, caderno de anotações, caneta ou lápis,
lenços de papel etc.; e, se for o caso, dos óculos: se estão limpos, se estão no estojo os de longe e os
de perto etc.

Olhar - o orador deve ter o olhar firme e dirigido sempre para toda a assembleia que o fita, e,
nunca para um lado só do ambiente ou para uma única pessoa.

Gestual - o gesto é anterior à palavra: braços e dedos falaram muitos milênios antes que a voz
se fizesse ouvir. As áreas do entendimento mímico são infinitamente superiores às da comunicação
verbal, pois a mímica não é complementar, é uma provocação ao exercício da oralidade. A palavra sem
gestos é precária, pobre e incompleta para que propicie o entendimento temático. Muito antes das
interjeições primárias, a mão traduzia a mensagem útil. Na mitologia grega, a musa Polinia 43 falava
através de gestos.
Os gestos do corpo do orador devem ser tão naturais, que a plateia os perceba como uma
extensão do que diz: o gesto é a comunicação essencial, nítida, positiva. Não há retórica mímica,
apenas reiteração da mensagem, limitação que recorda o inicial uso entre os seres humanos, quando
o metal era pedra e a família abrigava-se na caverna, nas noites misteriosas, frias e perigosas. Quem
estuda oratória deverá seguir o que disse Leonardo da Vinci: “Aprende com os mudos o segredo dos
gestos expressivos.”. Os gestos vêm da evolução da humanidade e são observados e estudados pela
Antropologia: mudam pouco ou quase nada, só mudam as palavras.
Os braços e as mãos devem ser muito bem cuidados. As propagandas de relógios sempre os
apresentam com os ponteiros formando um “V” maiúsculo (ideia universal de Vitória!), demonstrada
no horário das “dez horas e dez minutos”, sugerindo a ação “Para o alto!”, “Para o triunfo!”. O mesmo
deve ser feito por aquele que fala em público: seus braços nunca devem ser utilizados na gesticulação,
largados numa altura inferior aos próprios cotovelos, representando ideias de: “derrota”, “ir para
baixo” ou “ir para o chão”, quando deveriam parecer como os ponteiros imaginários de um relógio
humano, indicando: “para cima”, “para o infinito”, “para o excelso”, “para o imaginário”.
Os gestos não podem ser mais amplos do que a voz do orador, e a entonação desta não depende
somente da boa acústica, mas também da própria substância dando ritmo ao discurso.

Vocabulário - quem fala em público não pode utilizar-se de um linguajar pobre, nem
demasiadamente rico. O preciosismo pode ser usado no estilo de um escritor, porém, na arte oratória,
mesmo nos meios acadêmicos, acabará tornando enfadonho um discurso que seria brilhante sem o
uso do que há de mais raro em nossos dicionários.

43
Polinia - é a Musa grega do hino sagrado, da eloquência e da dança. Ela é representada, usualmente, numa posição pensativa ou
meditativa. Ela é uma mulher de olhar sério, vestindo um longo manto e descansando num pilar. Algumas vezes tem um dedo na boca.
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Não basta a facilidade de expressão, a falta de timidez, se não existe íntimo conhecimento do
idioma, pois um erro sintático em meio de uma cascata de frases retumbantes 44 joga por terra toda a
verbosidade do orador.
Muitos oradores confundem-se com o que é frase/oração/período. Frase designa qualquer
enunciado capaz de comunicar alguma coisa a alguém. Pode ser desde uma simples palavra
(Obrigado!) ao mais complexo período. Quando a frase afirma ou nega alguma coisa, ou seja, quando
apresenta estrutura sintática, pode ser chamada de oração: Deus é luz. Toda oração tem verbo ou
locução verbal, mesmo que às vezes não estejam expressos. Período é o nome que se dá a uma frase
constituída de uma ou mais orações. É simples (uma única oração) ou composto (com várias orações):
O pastor Fulano disse que Deus é luz.
O estudante que se inicia em oratória, deve evitar os períodos muito longos, até que domine o
Vernáculo45.
Falar corretamente, contudo, com acanhamento, com voz apagada, não convence nem atrai
auditório algum. Irrita qualquer assembleia a voz esganiçada que se esforça debalde para tornar-se
sonora, ou a voz fanhosa que não serve sequer para entoar a mais simples cantilena. Daí a necessidade
da educação física da voz, dos métodos empregados para que se consiga boa e firme dicção, dos
exercícios constantes de califasia46.
O bom orador não pode ser árido em suas expressões, e, para tal, necessita conhecer a fundo os
tropos47 e as figuras de linguagem, matizes com que haverá de dar colorido às suas ideias. Deve ser
pessoa de muita leitura, estar sempre com o pensamento e a alma na História: a sua dialética depende
do seu grau de cultura. Não poderá magnetizar os seus ouvintes senão por ideias elevadas, por
palavras nobres, familiarizado que deve estar com os clássicos, para que, através de uma fluência onde
a lógica sobressaia, possa fazer da sua expressão oral um instrumento capaz de comover e persuadir
aqueles que o estudam e o aplaudem.
Pensamentos - têm de ser lançados à maneira de sementes em terreno cuja fertilidade depende
do próprio semeador: palavras ocas, expressões vazias, repetições sem graça e o vocabulário
paupérrimo, tudo isso causa mal-estar ao auditório, jamais conseguindo impressionar quem quer que
seja; coisas que são produzidas, na maior parte das vezes, por pessoas que não valorizam a leitura, ou
têm personalidade arrogante, cujo nariz empinado as leva a julgarem saber tudo.
Trabalhando em variados tipos de festas ou em solenidades, sempre encontramos esses
teimosos pretendentes à oratória, com os seus gestos espalhafatosos, com a sua voz de leiloeiros, com
seus repetidos torneios48 destintos49 e esfarrapados, provocando em uns a hilaridade50, em outros um
ensaio de vaias ou apupos; aborrecimento e enfado nos mais comedidos, que reagem com longos
bocejos ou a compaixão dos mais piedosos.
Há oradores charmosos, há os que pedem desculpas, como também, há os que parecem a quem
se deve pedir desculpas; e, há os indesculpáveis. Há muitos tipos, enfim, mas, só uns poucos sabem
terminar o seu discurso. Esses, aliás, quando aprenderem a elaborar, a transmitir e a encerrar um
discurso, irão tornar-se oradores de fato!
Orador é o que sabe: o que falar, quando falar, quanto falar, como falar; e, quando deve calar!
Orador é aquele que, ao terminar, tem certeza de que falou tudo o que era necessário, do jeito
que era preciso e, quando era preciso.

44 Retumbante - que retumba (1. Refletir com estrondo; estrondear, ecoar, ribombar, ressoar. 2. Repetir com estrondo; refletir o som
de, com estrondo.).
45 Vernáculo – [Do lat. Vernaculu, ‘de escravo nascido na casa do senhor’; ‘de casa, doméstico’; ‘próprio do país, nacional’.] Adj. 1.

Próprio da região em que está; nacional. 2. Fig. Diz-se da linguagem genuína, correta, pura, isenta de estrangeirismos; castiço. 3. Diz-se
de quem atenta para a correção e a pureza no falar e escrever. 5. O idioma próprio de um país.
46 Califasia – ginástica facial que ensina a modelar a forma correta de utilização dos músculos, da corrente de ar e da pronunciação para

elaborar e emitir regularmente as palavras, com a devida acentuação.


47 Tropo – emprego de palavra ou expressão em sentido figurado.
48 Torneio – 1. Torneamento. 2. Elegância de frase. 3. Flexibilidade ou elegância de formas.
49 Destinto – sem tintas, sem colorido.
50 Hilaridade – 1. Alegria, riso. 2. Vontade de rir, explosão de riso(s).

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Orador mesmo, é aquele que dá tempo para o ouvinte pensar no que está sendo dito, fazendo
pausas, para criar os necessários espaços de silêncio absoluto, que levam os ouvintes à reflexão.

Palavra cronal51 - o silêncio de um auditório põe à disposição do orador uma das grandes
oportunidades de triunfar: ao dar ar aos seus pulmões (aplicando as técnicas de respiração), o orador
prepara-se para dar inflexão à palavra, possibilitando ao ouvinte o seu momento de reflexão. Ele fará
isto utilizando a palavra cronal.
Quando um orador fala ou lê, escolhe uma palavra e destaca-a das demais, pelo acento
intensivo, está usando a técnica chamada de cronal (inflexão marcante da voz, que, às vezes, é seguida
de uma pausa, que pode fazer com que a frase possa mudar de sentido). Essa escolha depende do
orador: em cada uma das frases, dependendo do que pretenda dizer, para ser pronunciada
diferentemente das outras e, assim ser percebida por quem a ouve, como, por exemplo, na seguinte
sequência, de múltiplas escolhas:
Escolhe-se a palavra triunfo: O triunfo é alcançado com fé, estudo e prática constantes.
Escolhe-se a palavra alcançado: O triunfo é alcançado com fé, estudo e prática constantes.
E assim por diante, com: triunfo, alcançado, fé, estudo, prática e constantes:
O triuuuuuuunfo é alcançado com fé, estudo e prática constantes.
O triunfo é alcançaaaaaaado com fé, estudo e prática constantes.
O triunfo é alcançado com fééééééé, estudo e prática constantes.
O triunfo é alcançado com fé, estuuuuuuudo e prática constantes.
O triunfo é alcançado com fé, estudo e prááááááática constantes.
O triunfo é alcançado com fé, estudo e prática constannnnnnntes.
A grande eloquência exige uma grande riqueza de imaginação e dons puramente físicos, além
de uma emotividade poderosa. Muitos os trazem do berço; outros os adquirem com a perseverante
prática de exercícios. No entanto, ninguém poderá conseguir triunfar com a voz se não souber manter
uma fisionomia agradável. A técnica da eloquência não está apenas em unir a palavra fluente a uma
voz sonora, mas no uso adequado do tato, da inteligência, da sensibilidade e da sinceridade.

Tato - faz inspirar e encontrar o assunto, para ser exposto aos que irão ouvi-lo.

Inteligência - embasará o brilho para o assunto, na escolha de imagens, acompanhando-o em


todo o plano do discurso.

Sensibilidade - une as suas ideias à energia emocional, pois esta, muitas vezes, vale mais do que
a lógica, sobretudo quando se trata de convencer multidões.

Sinceridade - consiste no cuidado com que o orador expõe a sua alma, pondo-a sempre onde
colocar as suas palavras, expressando apenas o que possa ser verdadeiramente do agrado dos
ouvintes e evitando o artifício em seus argumentos.

O insucesso dos demagogos52 está na falta de sinceridade, uma das qualidades de que não se
deve esquecer o bom orador. Eis porque os políticos são ouvidos, apenas quando, pela palavra límpida
e honesta, demonstram sinceridade. O bom orador, consequentemente, precisa criar com a palavra,
circunstâncias adaptadas ao meio. Um estudante do ensino fundamental, como incipiente na
elocução53 retórica, não poderá estender os seus pensamentos à maneira de um mestre. Este, por sua
vez, não poderá descer à titubeação de um estudante que jamais enfrentou um público.

51 Cron – Biol. Unidade de tempo evolutivo, correspondente a 1 milhão de anos.


52 Demagogo – político inescrupuloso e hábil que se vale das paixões populares para fins vulgares, baixos ou ilícitos.
53 Elocução – 1. Maneira de exprimir-se, oralmente ou por escrito. 2. Escolha de palavras ou frases; estilo.

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O bom orador não deve ser prolixo54 onde o assunto exige concisão. A síntese cabe numa simples
saudação, embora não encontre lugar numa substanciosa conferência. O academicismo não consegue
vestir a alma das massas populares. Nos cenáculos55, saiba o verbo trajar-se de veludo, sem exagerar
a fidalguia56 da sua origem. Antes e acima de tudo, o orador deve sentir-se fortemente empolgado
pelo assunto que irá abordar. Levá-lo no sangue, transportá-lo na alma, tê-lo mais no coração do que
na mente, sem o que deixaria somente atrás de si reticências de sonoridades, com o efeito do vento
em ouvidos alheios.
O preparo de um discurso exige muito de quem o faz. O plano inicial deve ser feito com grandes
cuidados, a fim de impressionar o ouvinte desde as primeiras palavras, não deixando também que a
pujança57 e o resplendor destas se percam na metade ou se apaguem por completo nas últimas – isso
é objetividade!
Os avanços na oratória começam pelo domínio do medo em enfrentar o público, uma das causas
psicológicas de maior influência na atitude do tribuno: o nervosismo infrene 58 fará com que o orador
desperdice o seu plano e os seus propósitos, como também lhe causará o embaraço, privando-o de
mostrar-se interessante a seus ouvintes.
O público aprecia oradores de atitude serena e corajosa, os que sabem falar com bom timbre e
com triunfante galhardia, pois se convence tanto pelas maneiras de quem fala quanto pela exposição
das suas ideias. Sendo assim, para dominar o público, o tribuno deve ter o espírito de autoconfiança,
com o que poderá vencer a timidez natural, evitar o excesso de reflexão, mantendo afastadas de si, a
suscetibilidade e a impulsividade.
O que pensa no seu insucesso torna-se tímido, arrastado por excessivo amor-próprio, quer ver
logo abertas, diante de si, as portas do triunfo, não admitindo o tropeço como consequência banal de
qualquer marcha em caminho antes nunca trilhado. O tímido, de um modo geral, está mais apto a
compreender as ideias dos outros do que a impor as suas próprias, razões que devem levar o orador
eficiente a ser expansivo e dinâmico, a fim de deixar aflorar em sua fisionomia e na sua voz os
pensamentos e as emoções com naturalidade.
No entanto, o tímido pode positivar o que tem de negativo, uma vez que sentimentos e nervos,
vencido o complexo de inferioridade - que não permite o equilíbrio psíquico - poderão contribuir
eficazmente para o brilho da virtude oratória. Portanto, a timidez é a causa principal das
irregularidades de certos oradores, já que se acha relacionada com a instabilidade psíquica que varia
de acordo com períodos de depressão ou excitação. Excitado, o tímido estará na sua melhor fase,
graças à ardente fé no que tem a pronunciar perante o público.
A falta de confiança em si mesmo traz o excesso de reflexão, porque afeta fortemente o
equilíbrio psíquico do orador, chegando mesmo a perturbar a sua personalidade.
Quando o orador prepara o seu discurso ou quando fala em público, os pensamentos acessórios
que não visam diretamente o objetivo, o impedem de obter uma melhor adaptação ao auditório, pela
confusão criada. Há necessidade de que seja obstinado e decidido na sua missão; sem vacilar ou
perder-se em conjecturas, deve lançar-se persistentemente ao ataque, fascinado pelo objetivo que
deverá ser a única meta a atingir – falar bem! Deve, pois, ter a capacidade de reunir todas as suas
forças físicas e mentais para aplicá-las ao seu único fim. O que não for interessante não deve existir
para ele: eis o seu firme propósito. Se se deixa dominar por uma dificuldade de controlar os seus gestos
e fixar o seu espírito, o seu discurso irá perder-se em meandros59 nebulosos.

54 Prolixo – 1. Muito longo ou difuso. 2. Superabundante, excessivo, demasiado. 3. Muito longo; dilatado, duradouro. 5. P. ext. Fastidioso,
enfadonho.
55 Cenáculo – 1. Sala em que se comia o jantar ou a ceia. 2. P. ext. Refeitório. 3. Lugar onde Cristo teve a última ceia com seus discípulos.

5. Ajuntamento de indivíduos que professam as mesmas ideias ou visam a um mesmo fim. [Cf. Senáculo.].
56 Fidalguia – 1. Qualidade, modos ou ação de fidalgo. 2. A classe dos fidalgos; a nobreza. 3. Nobreza, bizarria, generosidade .
57 Pujança – 1. Qualidade de pujante. 2. Grande força vegetativa. 3. Robustez, força, vigor, possança. 5. Fig Grandeza, poderio, magnifi-

cência. 5. Geol. Possança.


58 Infrene – sem freio, desenfreado, desordenado, descomedido.
59 Meandro – [Do top. Meandro, rio muito sinuoso da Ásia]. 1. Sinuosidade, rodeio, volteio de curso d’água, de caminho etc. 2. Emara-

nhamento, complicação, dificuldade. 3. Fig. Enredo, intriga, confusão.


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Para firmar a atenção e desenvolver o poder de concentração mental, o orador necessita praticar
a arte de definir as palavras e os termos, e de se exprimir claramente, com espontaneidade, sem
artifício. Para tanto, deve estar sempre munido de um bom dicionário e usá-lo para buscar o
significado das palavras, ao desenvolver planos de discursos ou palestras.
Aquele que pretende tornar-se orador deve ouvir pacientemente, o que outros oradores dizem,
quer em público ou não, para educar a memória auditiva e aprender a observar todos os pormenores
com serenidade e perseverança; além de portar sempre um lápis e uma caderneta de anotações ou
fichas didáticas pequenas, para a escrita das boas ideias que lhe vierem à cabeça, ou que foram lidas
ou ouvidas, aqui ou ali: mesmo que pareçam não ter sentido, essas anotações podem tornar-se muito
valiosas para um orador, ao ter que redigir um discurso ou falar algumas palavras no futuro
(preferindo, poderá utilizar um aparelho de gravação).
A suscetibilidade é inimiga da calma, do sangue frio e da presença de espírito. O suscetível é um
nervoso que se irrita com a menor crítica, porque tem diminuta confiança em si mesmo: uma
preocupação exagerada com a aprovação dos outros e um orgulho que lhe poderá ser fatal. O orador
tem de banir esses defeitos. Para tanto, deve educar-se, ao mesmo tempo em que deve preocupar-se
moderadamente com a opinião alheia e ainda reconhecer os seus erros e debilidades: ninguém é
perfeito, nem começa pelo triunfo, e o impulso deve ser tomado no sopé60, quando se quer chegar ao
píncaro61 da montanha.
O suscetível deve exercitar-se, formulando respostas com frases curtas, sem que, todavia, venha
a descontrolar-se. Deve igualmente esforçar-se por não se impressionar com os tons das vozes ou a
ironia dos seus oponentes.
Não pode ser impulsivo, falar irrefletidamente, procurando exteriorizar sem reflexão tudo o que
lhe venha à cabeça. Trata-se de fraco poder de concentração mental e de uma tendência a dispersar
a atenção, provocando o desgaste da energia vital, a depressão nervosa nos elementos críticos, a
perda dos recursos e o fracasso quando se exige calma, firmeza ou habilidade para persuadir,
convencer ou sustentar a contradição62. Assim, a impulsividade verbal provoca mal-estar e
ressentimento, por falta de tato ou bom senso, arrebatando toda a autoridade do orador que não a
subjuga.
O temor que transforma a tribuna num pelourinho63 pode ser vencido, pela superação dos
efeitos psicológicos da contração que o medo provoca, adquirindo a atitude combativa e decidida que
denota a confiança em si: logo que o caminho é traçado, a determinação em segui-lo se fortalece.
Antes de subir ao tablado, o orador deve respirar lenta e profundamente, relaxar os músculos,
manter-se altivo, curvando-se um pouco; em seguida, deve subir ao local onde irá falar de modo firme
e sereno, sem afetações. Nada de dar acenozinhos com as mãos para alguma pessoa que esteja na
mesa ou na plateia; nada de dar tapinhas nas costas das pessoas que estão sentadas ou em pé, no
percurso que o leva até o lugar onde falará, porque tudo isso poderá ser percebido como uma exibição
desnecessária, e ser interpretado como um ato arrogante, levando a plateia a reagir contrariamente
à sua fala.
Chegando à tribuna, deve respirar bem, posicionar-se e fixar o pensamento apenas no assunto
do discurso. Após as primeiras frases, o receio desaparecerá por completo. Para isso ocorrer com
naturalidade, espera-se que o principiante tenha tomado algumas precauções, tais como: não falar de
estômago vazio, o que tende a aumentar a intensidade das reações psicológicas; enfrentar,
primeiramente, um auditório que possa ser favorável ao seu sucesso para que adquira energia e

60 Sopé – 1. Base (de montanha); falda. 2. A parte inferior de encosta, muro etc.
61 Píncaro – cume (o ponto mais alto de um monte; cimo, crista, cocuruto ou cocuruta, coruta ou coruto, cumeeira, picaroto, pináculo,
pinguruto; ponto culminante: o cume da glória).
62 Contradição – 1. Incoerência entre afirmação ou afirmações atuais e anteriores, entre palavras e ações; desacordo. 2. Contestação,

impugnação; contradita. 3. Objeção, oposição. 4 Fil. Caráter essencial de tudo o que é real: aquele que revela que cada coisa que é só
se compreende pela negação de algo que a precedeu, negação que se perfaz pela posição da coisa mesma, i.e., pela negação daquela
negação. É a categoria fundamental da lógica dialética. 5. Lóg. Oposição entre proposições contraditórias.
63 Pelourinho – coluna de pedra ou madeira, em praça ou lugar público, e junto da qual se expunham e castigavam os criminosos.

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confiança, com as quais se apresentará em futuras oportunidades; exercitar-se muitas vezes a falar
até que obtenha a naturalidade, a maestria, a prática e a atitude calma que neutralizam os fenômenos
da ansiedade e do nervosismo; uma vez superados, afastarão da fonte das suas ideias tudo aquilo que
as turvava, impedindo que as suas palavras jorrem cristalinas na alma empolgada do auditório.
A naturalidade é muito importante. Não há técnica em comunicação, por mais elaborada que
seja que possa ser considerada mais relevante que a naturalidade, adquirida pelo estudo e ensaio do
discurso, tantas vezes quantas forem necessárias, para que o orador possa passar aquele ar natural,
transmitindo a quem o vê e/ou o ouve, a sensação de segurança e conhecimento - a paz de quem fala
com sabedoria!
2.2. O temperamento dos oradores
A preparação de cada orador tem de ser adaptada ao seu temperamento individual.
Cada orador deve preparar-se segundo as suas próprias disposições psicológicas, empregando
processos aos quais tem de recorrer espontaneamente e que o exercício e o trabalho aperfeiçoarão.
O orador principiante procurará ver por si mesmo, como descobrir as suas próprias aptidões, a
fim de empregar os meios naturais de que dispõe para bem conceber, bem ordenar e bem reter o que
concebeu e ordenou.
Uns compõem mentalmente, vislumbrando as palavras que pronunciam; outros escutando estas
palavras pronunciadas de antemão no seu íntimo; alguns escrevem para procurar um texto visual que
se desenrolará diante dos seus olhos como um filme.
Muitos oradores não podem compor senão escrevendo e tiram vantagens da preparação escrita,
pouco eficaz para os oradores natos – os improvisadores – que pensam por imagens de movimentos
musculares, isto é, que têm necessidade de falar para pensar.
De acordo com o temperamento do orador, a preparação pode ser visual, auditiva ou motriz,
com ou sem preparação, escrita em resumo ou por completo.
Quanto mais acadêmico seja o discurso - amplamente pensado e cuidadosamente escrito - mais
o orador deve apelar para uma preparação de memória sob a forma visual, auditiva ou motriz, a fim
de reproduzir o texto preestabelecido.
O orador fixará esse texto na memória, escrevendo em seu espírito e lembrando-se das imagens
assim descritas (memória visual), ou ainda terá como meio de reter as imagens sonoras, produzidas
pelas palavras escritas repetidas em alta voz (memória auditiva), ou também as imagens dos
movimentos de articulação da palavra (memória motriz).
Quanto ao temperamento, podem distinguir-se quatro tipos fundamentais de oradores:
▪ Motor gráfico - pensa escrevendo e sempre está disposto a escrever os seus pensamentos;
▪ Motor verbal - pensa por imagens de articulação verbais e fala espontaneamente as suas
ideias;
▪ Visual-gráfico - pensa vendo as palavras como escritas ou impressas diante dos seus olhos;
▪ Áudio-verbal - pensa ouvindo em si mesmo a imagem sonora das palavras.
Estes tipos são raramente puros; associam-se alguns, mais do que os outros, para constituir o
mecanismo do pensamento do orador.
O tipo misto “motor-verbal e áudio-verbal” se tornará muito mais dificilmente um orador do que
o tipo “motor gráfico e visual gráfico”.
Ao descobrir o tipo do seu temperamento, o orador precisa empregar os processos particulares
de preparação que lhe correspondam.
O visual gráfico e o motor gráfico devem esforçar-se para tornar-se áudio-motor, para
desenvolver as qualidades de verbo-motricidade. Para isso, devem procurar ler em voz alta e tratar de
reter o mais possível o texto lido; repetir aproximadamente, não recorrendo senão à memória auditiva
e acostumar-se a nada escrever antes de ter procurado compor em alta voz ou em voz baixa, falando
a si mesmo, o texto que pretende escrever.

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O áudio-verbal deve preparar o discurso falando em alta voz e caminhando, enquanto


transforma as frases ouvidas, como vindas do subconsciente, em uma série de palavras articuladas em
alta voz ou em voz baixa.
O motor verbal precisa cuidar da correção da forma por uma preparação mental curta, direta
e lógica que freará a volubilidade, além de procurar classificar e ordenar a matéria verbal,
estabelecendo relações corretas entre as palavras que ressoam no seu interior ao chamado do
pensamento, com as imagens de movimentos musculares de articulação.
Aquele que deseja dedicar-se à oratória, precisa determinar o seu modo de pensamento e de
linguagem, preparando-se para fazer valer eficazmente, a sua palavra em público. Inicialmente,
precisa estudar, pormenorizadamente, as características psicológicas dos diversos temperamentos do
orador, identificando como é a sua típica maneira de pensar e de falar. Após isso, com a ajuda de um
questionário individual, deverá identificar o tipo de temperamento ao qual pertence ou do qual se
afasta mais.
Para o orador principiante, conhecer o modo habitual da sua linguagem mental é descobrir o
gênero oratório que pode abordar com sucesso; logo que identificar o seu temperamento, deverá
empregar os meios adequados para exercitar-se, e assim, obter o êxito total na difícil e brilhante arte
da palavra.
2.2.1. Como se reconhece e deve exercitar-se cada tipo de orador
O orador principiante, precisa estudar o seu próprio temperamento, para mais facilmente atingir
o progresso na oratória, vendo qualificado o seu tipo, sem o que não encontrará métodos satisfatórios
para auxiliá-lo no aperfeiçoamento da sua expressão verbal.
Todos procuram, para alcançar determinado destino, os caminhos que facilitem a sua jornada.
Se existe o cuidado primoroso para acertar, maior cuidado deve haver para evitar o erro. Todo
começo numa arte qualquer precisa de prudente orientação. Portanto, nada melhor, para o iniciante
na oratória do que reconhecer o seu tipo, antes de qualquer outro passo, neste ramo do saber
humano.
A análise psicológica do temperamento que cada estudante de oratória deverá identificar, em si
mesmo, pode ser dado, pelas seguintes formas para encontrar o seu tipo:
1º Modo de pensar
É áudio-verbal? - Quando pensa com ponderação, percebe que algo no interior lhe sopra as
palavras que lhe vêm ao espírito e as entende sem articulá-las mentalmente?
É verbo-motor? - Quando pensa, percebe na consciência que faz um esforço para articular as
palavras, de tal maneira que a sua expressão parece acompanhar inseparavelmente ou mesmo
proceder do seu pensamento?
É verbo-visual? - Quando pensa, vê mentalmente as palavras como se estivessem escritas, em
caracteres manuscritos ou de imprensa, de tal maneira que consegue ler interiormente o seu
pensamento.
É Motor-gráfico - Tem dificuldade de encontrar palavras para exprimir o seu pensamento, e as
ideias não veem a caneta que a sua mão sustém?
2º Modo de memorização consciente
É áudio-verbal? - Para aprender de cor, sente-se obrigado a mover os lábios pronunciando
mentalmente ou em voz alta o texto a reter?
É verbo-motor? - Para reter um texto, sente-se obrigado a lê-lo em voz alta, articulando bem as
palavras e acompanhando-as com os gestos que as traduzem?
É verbo-visual? - Quando quer aprender um texto de cor, contenta-se em fixar as palavras
escritas ou impressas, lendo-as com os olhos?
É motor gráfico? - Para aprender um texto de cor, sente-se obrigado a copiá-lo uma ou mais
vezes?
É áudio-motor? - Quando recita de memória, repete as palavras que parecem sopradas por uma
personagem interior e as articula, ao mesmo tempo, sem esforço mental prévio.

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É motor e visual a um só tempo? - Recita de memória, articula espontaneamente as palavras


que se comprimem em grande número em seus lábios, enquanto lê mentalmente, em seu espírito,
sem que sejam ditadas por uma voz interior?
É audiovisual? - Recita de memória, lendo em seu espírito as palavras que lhe são sopradas ao
mesmo tempo do seu interior?
3º Modo de preparação dos discursos
É áudio-verbal? - Medita o assunto falando mentalmente ou em voz muito baixa, na ponta dos
lábios, sem articular a fundo?
É verbo-motor? - Medita o assunto “sussurrando” ou falando em voz alta, com vigor, e
completando-o à medida que as ideias são esboçadas?
É verbo-visual? - Medita escrevendo mentalmente sem ouvir uma voz interior ditar as palavras,
e tem o cuidado com a correção gramatical das suas frases antes de escrevê-las?
É motor gráfico? - Escreve várias vezes o seu discurso, rasgando cada vez a cópia terminada?
É áudio-motor? - Sua preparação se reduz a uma simples meditação auditiva do assunto,
acompanhada com a articulação mais ou menos nítida, em voz baixa, dos pontos essenciais; podendo
falar com abundância sem qualquer preparação sobre um assunto que conhece vagamente?
É motor e visual a um só tempo? - Escreve e fala em seguida em alta voz um discurso sem
aprendê-lo inteiramente de cor?
É audiovisual? - Sua preparação do discurso consiste em uma meditação auditiva sob o controle
da palavra ouvida mentalmente e em seguida na escrita do discurso assim meditado. Ou ainda,
prepara o esquema do discurso de uma vez, lendo-o como se fosse uma legenda em tela mental e
escutando-o verbalmente através do eco interno?
Respondidas estas questões, distinguem-se os diferentes tipos, percebendo-se os
temperamentos do orador que poderão ficar assim estabelecidos:
▪ Áudio-verbal - possui a faculdade da linguagem interior, que lhe faz ouvir em si mesmo todas
as palavras com as quais exprime o seu pensamento.
Tem consciência de uma voz secreta, de um personagem interior subconsciente, que o inspira,
falando-lhe, ditando-lhe algo ou discutindo com ele.
As palavras ouvidas pelo orador, quando pensa, não são pronunciadas por ele, mas escutadas
sem esforço; não fazem o pensamento, mas o suportam; a sua vontade torna-se passiva e as palavras
constituem-se, não em reações mentais, mas em sonhos.
Falando em voz alta, o orador repete o que lhe dita a palavra interior; nos intervalos de silêncio
prepara de antemão o que vai dizer.
O orador se ouve mentalmente falar e fala constantemente com ele mesmo; nesse diálogo
interior escuta a sua voz com todas as suas nuanças.
A meditação com representação auditiva convém a este tipo de orador como método de
preparação mental. Ele pode falar com abundância sem ter escrito o seu discurso; seu pensamento já
foi falado interiormente, quando o pronuncia em público.
▪ Verbo-motor - o orador não pode escrever ou falar sem exprimir primeiro, mentalmente, ao
fazer ressoar uma frase dentro de si mesmo; não fala mentalmente o seu pensamento antes
de dizê-lo; a palavra atrai, às vezes, em seu espírito, a expressão e a ideia; quando ele não
pensa, não fala.
Quando o orador não pensa, as expressões dos seus pensamentos lhe vêm constantemente à
flor dos lábios, em um monólogo interior, como se o seu pensamento fossem palavras sob pressão.
Os pensamentos do verbo-motor consistem em evocações e sensações de articulações verbais,
que ele prova na boca, na língua, nos lábios.
O verbo-motor pronuncia interiormente e espontaneamente os seus pensamentos. Assim que
a ideia é concebida, ele a articula mentalmente para um auditório imaginário, pois é um improvisador
nato.

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O fato mesmo de falar, determina o exercício cerebral e afetivo do verbo-motor; ele


experimenta a impressão de liberar as expressões, de produzi-las à medida em que percebe
pronunciá-las mentalmente; sua reação motriz lhe dá a impressão de conduzir e de dirigir as suas
palavras.
Alguns verbos-motores não pensam rapidamente senão quando falam em voz alta, por
sequência do exagero do fenômeno da articulação mental espontânea; o discurso pode ser claro e
impressionante, mas é, às vezes, superficial no fundo e relaxado na forma.
Este tipo de orador não tem interesse em preparar os seus discursos palavra por palavra, pois,
pronunciado, não vê nem ouve mentalmente o texto e não pode voltar-se senão pela lembrança dos
movimentos musculares; não sendo muito longa nem muito difícil a memória destes movimentos, o
orador deve repetir verbalmente várias vezes o seu discurso antes de pronunciá-lo em público.
Este tipo de orador tem elocução fácil, espontânea, está sempre pronto a dispensar-se, a
liberar a sua palavra mantida sob tensão.
No espírito do verbo-motor, a meditação do assunto - sua preparação mental - e a preparação
física à ação oratória confundem-se, porque ambas consistem em falar.
A preparação escrita pouco proveitosa ao verbo-motor pode até lhe ser funesta, pois se ele
espera reproduzir de memória, palavra por palavra, o texto escrito, esquecerá algumas passagens ou
fará confusões.
A meditação com articulação mental convém a este tipo de orador que não prepara palavra
por palavra, por escrito, a sua peça.
O orador faz um plano sumário e dele retira as ideias, anotando os pontos principais, marcados
pela ordem lógica; em seguida, repete em voz alta, caminhando e gesticulando, como se estivesse a
pronunciar o discurso.
▪ Verbo-visual - lê mentalmente as palavras com os seus pensamentos como se estivessem
escritas diante dele, seja com o seu próprio manuscrito ou com uma escrita imaginária, seja
em caracteres de imprensa.
O pensamento do orador se exprime sobre a tela que ele materializa em seu cérebro; ele lê as
frases que se imprimem ali.
O verbo-visual lê mentalmente de antemão na tela cerebral a frase que vai pronunciar; ele tem
uma lembrança bastante nítida das formas gráficas desta leitura para poder, em seguida, reproduzir
palavra por palavra, em discursos assim preparados mentalmente, em geral sem tê-los escrito por
completo, previamente.
As imagens de que se serve o verbo-visual podem ser simples esquemas ou símbolos cuja
significação lhe é familiar; ele se exprime perfeitamente com palavras cuja representação visual está
muito nítida em seu espírito.
A meditação com representação visual convém a este tipo de orador como método de
preparação mental; ele pode, em certos casos, ser obrigado a fazer uso da meditação escrita,
sobretudo, da meditação motriz por dicção em alta voz, para abrandar os centros de expressão da
palavra.
▪ Motor e visual - lê na tela cerebral as palavras dos seus pensamentos enquanto as articula
mentalmente.
A leitura mental das palavras vistas na tela pode preceder a sua articulação ou inversamente.
O tipo motor gráfico e visual pode ser obrigado a escrever a palavra uma ou várias vezes para
guardar-lhe a imagem visual verbal, o que torna a sua elocução hesitante e necessita de um
complemento da preparação para a ação oratória, sob a forma motriz.
▪ Audiovisual - lê na tela cerebral e escuta mentalmente, às vezes, as palavras dos seus
pensamentos.
A leitura visual pode provocar a audição mental ou o inverso.
Este tipo misto pode alcançar êxito em todos os gêneros da arte oratória, obrigando-se a
articular altamente o que lê e o que ouve.

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▪ Áudio-motor - escuta as palavras do seu pensamento ditadas por seu subconsciente e as


articula ao mesmo tempo.
A articulação verbal pode provocar a audição mental, ou inversamente, a audição precedendo
então a articulação.
O áudio-motor aprende línguas rapidamente, pela prática, porque lhe é fácil compreender com
os ouvidos e articular exatamente; é o mais qualificado para abordar com sucesso todos os gêneros
de discurso.
Este tipo misto está predisposto a guardar o seu acento de origem, porque ele conserva
inconscientemente as palavras aprendidas com a entonação primitiva.
▪ Tipo universal - este tipo de orador, muito raro, lê mentalmente, escuta e articula as palavras
com os seus pensamentos.
Para a preparação dos discursos e os exercícios da oratória, pode ele empregar
indiferentemente, e por seu turno, a leitura à vista, a audição e a articulação mentais.
À luz do que foi dito, podemos concluir que cada principiante poderá agir de acordo com o seu
temperamento. Os discursos, só serão bem ordenados se o orador os souber subordinar às suas
próprias qualidades.
Cada tipo de orador tem de recorrer a um preparo especial.
Dada e conhecida a preparação geral, ninguém pode deixar de praticar a preparação especial,
conveniente ao seu tipo ou às suas próprias qualidades.
Pela preparação adaptada ao temperamento individual parte-se para as grandes conquistas na
arte da eloquência, e daí segue-se para o aperfeiçoamento; para a técnica de que se deve valer o bom
orador no domínio da tribuna.
2.3. Exercitando a gesticulação
Ao falar, o orador não pode ter a imobilidade de uma estátua nem a excessiva e ridícula
movimentação de um fantoche, enquanto permanece na tribuna.
A gesticulação solene e ordenada, como a batuta do maestro que regula os variados tons de uma
orquestra, tem por finalidade realçar os seus sentimentos e atrair a atenção do auditório, auxiliando
a harmonia do que está sendo dito.
Os principais gestos utilizados por um orador são estudados e descritos pela Antropologia, nas
diferentes etapas do desenvolvimento humano.
Todas as vibrações que se sucedem no transcorrer de um discurso devem refletir-se na postura,
no rosto, no olhar e nos gestos do orador que procura conquistar o seu público, forçando os ouvintes
a compartilharem os seus sentimentos e a comungarem dos mesmos pensamentos, para alcançarem
a emoção. Para tanto, é necessário compreender e sentir profundamente o que se quer dizer. Então,
já devidamente entusiasmado e convicto, o orador atua com uma voz simpática, rosto expressivo e
gestos naturais.
A atitude e o gesto influenciam o auditório, tanto quanto a voz, e devem contribuir para o êxito
do orador, mas podem igualmente comprometê-lo se não forem utilizados com maestria.
A voz, portanto, ainda que nítida e sonora, não basta, não é suficiente para uma oratória
vitoriosa. Os gestos têm de envolvê-la do mesmo modo que graciosos cortinados guarnecem uma sala
de estar. Os gestos são como a sombra do pensamento do orador e servem para matizar os seus
sentimentos. Suas ideias têm maior relevo quando apoiadas por expressão mímica. A naturalidade
tem de ser a mais alta das virtudes do gesto, evitando-se os espalhafatosos ou os contraditórios logo
de início. Há mais gestos a evitar do que a serem mostrados pelo orador, como, por exemplo:
▪ Não se deve levantar demasiadamente os braços, nem os abrir largamente, à maneira de uma
cruz. Gestos demais podem desvirtuar o efeito das palavras; gestos enormes podem ser causa
de hilaridade;
▪ Evitar as posturas ridículas de pôr as duas mãos nos bolsos, cruzar os braços, manter as mãos
unidas na parte detrás do corpo, o ato de coçar-se, enfiar o dedo na boca ou no nariz etc.
Todavia, pode-se manter uma das mãos no bolso da calça, de forma suave, enquanto a outra

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gesticula; eis uma atitude que registra serenidade, principalmente na chegada do orador à
tribuna. Com o decorrer do discurso, essa mão irá soltar-se e fazer parte do gestual, com toda
a naturalidade. Para fazer tudo com distinção e naturalidade, nada é melhor do que alguns
ensaios diante de um espelho, no aconchego do lar.
O porte integra a figura do orador, atuando sobre o modo de ser natural do seu caráter. Da
mesma forma como as palavras, a atitude variará conforme as circunstâncias: ora será familiar ora
solene, de acordo com os acontecimentos e as ocasiões. Sempre deverá ser simples, harmoniosa e
espontânea, evitando-se a atitude empertigada64 como também uma aparência por demais
negligente.
▪ Se o orador estiver de pé, não deve apoiar o corpo em uma parede ou a algum móvel; deve
manter-se naturalmente, com as pernas ligeiramente afastadas uma da outra, e, com a perna
esquerda, ligeiramente à frente (se os pés fossem os ponteiros imaginários de um relógio,
devendo estar na posição “dez para as duas”);
▪ No começo do discurso, para vencer o medo, deve manter-se ereto, curvando um pouco o
tronco, ao mesmo tempo em que mantém a cabeça erguida e apoia a mão esquerda na mesa
ou à tribuna. Se for o caso, deve subir ao parlatório com a mão esquerda enfiada, suavemente,
no bolso da calça, do casaco ou do paletó que estiver vestindo;
▪ Deixar que os braços e as mãos estejam em posições naturais, mantendo os dedos estendidos
ou ligeiramente curvos; se o cuidado se volta para as mãos, pode-se colocá-las às costas - por
um breve tempo - enquanto se aguarda o momento para gesticular, ou com a esquerda
enfiada, com naturalidade, em um dos bolsos (para o canhoto, vale a mão direita, enquanto a
esquerda gesticula);
▪O orador deve postar-se ao centro do tablado – ou do local apropriado – e deslocar-se somente
para atender às interrupções vindas dos diversos pontos da sala; logo depois de responder às
perguntas ou interferências, deve retornar ao centro do local; assim que esteja seguro de si e
de pleno domínio do auditório, é conveniente variar de atitude dando ao corpo uma posição
que se ajuste bem ao assunto do discurso.
O orador tem de servir-se de todo o seu corpo para gesticular. De acordo com os seus
argumentos, poderá abrir bastante os olhos ou deixá-los meio cerrados; até mesmo fechá-los. Poderá
franzir ou erguer as suas sobrancelhas; os traços fisionômicos desenharão: a sua alegria, o seu
desprazer, a sua surpresa, o seu temor, o seu sofrimento, o seu desejo, a sua cólera e todos os
sentimentos impressos na alma, que desejar transmitir, naquele ato.
▪ Terá de abrir a boca ou mover os lábios para simular o estupor65 ou a ironia;
▪ Levará o tronco à frente ou o recuará nos movimentos de ansiedade ou de aversão;
▪ Voltará a cabeça para outro lado, para simular o horror que lhe inspira um espetáculo odioso.
Quando o orador não se acha numa tribuna, nem diante de uma mesa, quando pode ser visto
inteiramente pelo auditório, também deverá gesticular com as pernas: baterá o pé com força para
assinalar uma decisão enérgica, assim como dará alguns passos indecisos para melhor revelar uma
indecisão.
Serve-se do corpo todo para simular uma sensação, representar uma ação, exprimir um
sentimento, fornecer uma indicação ou imitar um personagem de que fala.
A respeito da gesticulação, o orador reproduzirá os movimentos do marceneiro que aplaina, do
esgrimista que empunha o florete66, do soldado que combate com um fuzil. Levará as mãos ao coração
para mostrar o ardor de um amor veemente. Indicará com o dedo um objeto que deva atrair a atenção
dos ouvintes e contará nos dedos, à frente do seu corpo, a sucessão de eventos que estiver citando,

64 Empertigado – 1. Teso, direito, aprumado. 2. Orgulhoso, vaidoso, altivo.


65 Estupor – 1. Patol. Estado em que, embora se ache desperta a consciência, o doente não reage a excitação alguma, mantendo-se
imóvel na mesma posição. 2. Patol. Catatonia. 3. Pop. Qualquer paralisia repentina. 5. Fig. Pessoa de más qualidades, ou muito feia.
66 Florete – arma branca, usada na esgrima, composta de cabo e duma haste metálica, prismática e pontiaguda.

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batendo, levemente, com o dedo indicativo da sua mão direita (ou esquerda, se for canhoto) na ponta
dos dedos da outra mão, quantas vezes tiver que citar os eventos, um a um.
O maior cuidado, entretanto, deve estar voltado para a fisionomia, olhando o auditório com
firmeza e altivez, mas sem superioridade ostensiva: é bastante desagradável ver-se um orador cuja
fisionomia permanece fria, enquanto as suas palavras exprimem sentimentos de todos os matizes.
Quando estiver falando, não deve olhar sempre a mesma pessoa nem tampouco os ouvintes da
primeira fila. O orador deve contemplar a sala por inteiro, olhando para o fundo do ambiente, levando
o olhar da esquerda para a direita e concentrar a expressão dos seus olhos nas nuanças do discurso,
de maneira a apoiá-las por uma ação psíquica. Nesses instantes, deve evitar que o seu rosto
permaneça contraído, sorrindo ligeiramente, de modo natural, visto que isso é necessário para não
fatigar o auditório.
O orador que se dirige a uma multidão precisa exagerar a expressão facial e ampliar os gestos
como também a voz; cada sentimento deve ser acompanhado pelo gesto conveniente, porque a
massa disforme é sempre: indulgente no começo do discurso, severa no meio e impiedosa ao seu final.
É preciso estudar a arte da gesticulação, que tem de acompanhar a palavra, ao mesmo tempo
em que é emitida, a partir do que representam os gestos, que, por serem universais, são
compreendidos por todas as pessoas.
Por mais harmoniosas que sejam as frases ditas por alguém cuja atitude não esteja de acordo
com as suas expressões, seu atrativo se perde, sendo escutadas com menos deleite.
Um bom orador, cujos gestos sejam forçados, perderá o prestígio ou provocará um mal-estar,
ou ainda, um embotamento67, fazendo com que o público desvie dele a sua atenção.
Nas condições normais de um discurso, o gesto reduz-se a movimentos de mãos ou de braços,
os quais devem ser usados com muita discrição.
Como sabemos, há poucos gestos a estudar, mas muitos gestos a evitar; o corpo deve sempre
dar a impressão de agir com naturalidade, abolindo-se completamente os gestos artificiais ou
convencionais, e, fazer apenas, aqueles que o espírito exige para exaltar ou ilustrar uma ideia ou uma
emoção. Devem ser evitados os gestos desnecessários, como um olhar desprovido de significado: tudo
precisa harmonizar-se e atuar em conjunto, e não de um modo pesado, afetado ou forçado, mas
repetimos, de um modo natural, simples e espontâneo.
Não se deve cansar o auditório, fazendo sempre os mesmos gestos, como a agitação das mãos,
o lançamento periódico do antebraço, à frente do corpo. Deve-se estudar o gesto indicativo, imitativo
e expressivo, os gestos significativos: ao fazê-los, nunca se devem manter as mãos ou os braços duros,
devem estar curvados graciosamente.
Os gestos do corpo têm muita importância para sublinhar a amplidão ou a nobreza do
pensamento ou o sentimento do que se vai dizer, como lançar-se um pouco para trás, curvar o tronco
e erguer a cabeça. Para indicar que vai confundir o opositor, o orador pode inclinar-se em sua direção
com o corpo diminuído e endireitar-se bruscamente ao final da frase com que conclui a demonstração.
É preciso estar-se atento a não repetir muito, esses gestos, a fim de evitar a ênfase pretensiosa.
Para acentuar o que se está dizendo, devem-se empregar frases curtas e pontuar cada parada
com um movimento seco do braço, com o cotovelo unido ao corpo.
Para sublinhar um desenvolvimento bem imaginoso em uma ampla parte do discurso, deve-se
fazer um gesto vasto do braço, primeiramente alongado perto do tronco e que se afastará
gradativamente, de modo a estendê-lo por completo, apontando com o dedo indicador, no momento,
em que terminar o período. Para chamar a atenção sobre um fato determinado ou sobre um raciocínio
sutil, juntar esse fato como se fosse com as mãos e colocá-lo em seguida como se estivesse nos dedos
para apresentá-lo ao público. Para marcar um espanto até a indignação, levar as mãos à cintura e
empregar a forma interrogativa: “Como se pode tolerar que...?!”.

67Embotamento – ato ou efeito de embotar (se). [1. Fig. Tirar a energia a; enfraquecer. 2. Fig. Fazer perder a sensibilidade; insensibili-
zar. 5. Perder o fio, o gume. 5. Perder a energia; enfraquecer-se. 6. Perder a sensibilidade.].
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Os gestos chocantes e os exagerados ou os repetidos, devem ser banidos de qualquer discurso,


além de se ter muito cuidado com muitos outros que possam ser mal interpretados.
Para se adquirir a sobriedade dos movimentos, devem repetir-se diariamente duas ou três
frases, em ensaios prévios, sem acentuá-las com qualquer gesto.
Esses cuidados com a gesticulação, que parecem muito fáceis, são mais difíceis do que se pode
supor à primeira vista. Para aprimorá-los, quem estuda e se prepara para fazer uso da oratória deverá
fazer alguns exercícios de mímica e de gestos (em frente a um espelho, como está dito,
anteriormente), procurando fazer com que a mímica e os gestos se ajustem bem às partes do discurso,
marcando à margem destes, quando escritos, os gestos a fazer, e, deixando tal aviso sempre antes das
palavras a que eles se aplicam; não se esquecendo, também, de exercitar-se, mantendo o tato e a
discrição na mímica, em harmonia com os sentimentos e o tom da voz, recordando-se sempre que
fizer exercícios, de que se trata de determinar a emoção do ouvinte, de despertar a sua simpatia e de
obter a sua adesão sem forçar os efeitos, ficando vigilantemente à espreita, de tal maneira que tente
sugerir sem parecer querer impor.
Cuidado orador principiante, com os seus gestos! Eles são as asas que devem rufiar 68 nos voos
do pensamento, e não grosseiros remos, que poderão ir bater-se em águas agitadas, provocando o
soçobro do seu próprio barco, levando-o para o fundo, tentando salvar-se a segurar as folhas do seu
discurso!

68 Rufiar – voar por imaginação.

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Cap. 3. O discurso
3.1. Língua Portuguesa: a ferramenta básica da oratória
A preparação de um discurso exige do orador o estudo constante da Língua Portuguesa. A
língua pátria é o bem mais essencial de um povo, a mais viva manifestação do seu caráter, o bem mais
enérgico da sua cultura. O seu estudo é condição essencial a que não podemos fugir para revelar a
nossa cultura e os nossos pensamentos. Não compreendemos certa displicência que muitos
demonstram em relação à Língua Portuguesa, esquecendo que a sua própria linguagem é o espelho
da sua alma.
Um povo que desenvolveu uma língua, como o povo português, não pode ser desconsiderado
na marcha da História. Afinal, foram muito poucos os povos que se aventuraram por tal seara; e, por
isso, ainda lamentamos muito mais, quando, além de desvalorizarem a língua portuguesa, muitas
pessoas ainda usam e abusam frequentemente, de muitas expressões estrangeiras, revelando uma
cultura alheia, estranha e supérflua, no ato de: copiar, citar e cultuar expressões de outros povos não
latinos, de imitar construções sintáticas, sem antes conhecer ou utilizar as nossas, é ato do esnobe, do
tolo ou do ignorante que não sabe nada sobre os nossos ancestrais, e são descritos por Rui Barbosa
no seu famoso Parecer 15, como: “Uma raça cujo espírito não defende o seu solo e o seu idioma,
entrega a alma ao estrangeiro, antes de ser por ele absorvida.”.
Língua - é a linguagem singular usada por um determinado povo para conseguir a compreensão
e o entendimento das suas ações, pensares, anseios, dúvidas ou incertezas: a língua é um derivativo
da linguagem.
Linguagem - é um conjunto de sinais que introduziram e propiciaram à humanidade a
possibilidade da iniciativa de se comunicar, utilizando os seus pensamentos e as próprias ideias, enfim,
a própria índole.
Glorifiquemos e honremos aqueles que tiveram e têm a língua pátria como fator estruturante
da unidade nacional.

Língua portuguesa (Olavo Bilac)


“Última flor do Lácio69, inculta e bela,
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
De virgens selvas e de oceano largo!
Ouro nativo, que na ganga70 impura
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
A bruta mina entre os cascalhos vela...
Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Em que da voz materna ouvi: ‘Meu filho!’,
Tuba de alto clangor71, lira singela,
E em que Camões72 chorou, no exílio amargo,
Que tens o trom e o silvo da procela,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!”
E o arrolo da saudade e da ternura!

69 Lácio - região da Itália, no litoral do mar Tirreno, formada pelas províncias de Frosinone, Latina, Rieti, Roma e Viterba, 4 921 859 hab.
Roma subjugou as cidades do Lácio no séc. IV a.C.
70 Ganga – resíduo, em geral não aproveitável, de uma jazida filolena, o qual pode, no entanto, em certos casos, conter substâncias

economicamente úteis.
71 Clangor - som rijo e estridente como o de certos instrumentos metálicos de sopro, como, p. ext., a trompa, a trombeta etc.
72 Luís Vaz de Camões - poeta português (Lisboa ou Coimbra, c. 1524- Lisboa, 1580), um dos maiores vultos da literatura da Renascença,

autor do poema épico Os Lusíadas, publicado em 1572, que tem por tema o descobrimento do novo caminho para as Índias por Vasco
da Gama, dilatado à glorificação dos feitos heróicos portugueses, desde a formação da nacionalidade. São dez cantos e 1102 estrofes
em oitava rima. Pela grandeza da concepção, realismo das descrições (sobretudo as cenas do mar, soma de conhecimentos humanísticos
e consolidação do idioma nacional, é o monumento maior da literatura portuguesa; também foi o autor de numerosos sonetos, canções,
odes, elegias, éclogas, cartas e os autos Anfitriões, Filodemo, El-rei Seleuco.
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3.2. A linguagem figurada e os meios de expressão


Além da voz harmoniosa e dos gestos expressivos, o orador precisa saber utilizar-se da
linguagem figurada e de ter cuidado com o emprego da expressão.
Um discurso substancioso, porém, árido, cansa o auditório. A palavra deve soar bem como o
bronze e conduzir o brilho de uma joia.
O estilo forma-se com o decorrer do tempo, com constantes exercícios, enriquecimento de
vocabulário e emprego de imagens. É a troca do banal pelo elegante, do áspero pelo suave; jamais se
deverá trocar o insípido73 pelo soporífero74, o incolor pelo inrisante75.
Pouco a pouco, à custa de retoques aqui e ali, até que a imaginação se desenvolva, assim como
o que escreve, o que fala tem de dar colorido às suas frases, fazer uso das metáforas, dos tropos,
trocando uma expressão desprovida de cor por outra mergulhada nas tintas do estilo.
As ideias ganham maior vulto quando encontram o justo torneio e o termo exato. A palavra
precisa de força e de colorido.
Quando se diz “aurora da vida” no lugar de “infância”, “pele de seda” em vez de “pele suave”,
“flor dos anos” no lugar de “mocidade”, “madeiro da dor”, em vez de “cruz”, a expressão na sua
fantasia apresenta-se mais graciosa do que a palavra completamente nua.
Podemos expressar-nos corretamente, dizendo: “Sua vontade era fraca, pois se abatia nos
primeiros momentos da luta”, mas, acima do correto, está a elegância, se dissermos: “Sua vontade era
como a cera, pois se derretia ao primeiro calor da luta.”.
A história registra que certos seres humanos, com poucas palavras, mas palavras eficazes, que
continham alma, e foram utilizadas em momentos oportunos, alcançaram uma comunicação ígnea 76
e instantânea, mesmo quando ditas a multidões.
Napoleão, vendo seu exército combalido na cruenta marcha do deserto africano, exclamou,
apontando para as pirâmides ao longe:
“- Soldados, daquelas pirâmides, quarenta séculos vos contemplam! Marchemos!”.
Foi o bastante. Magnetizada pelo poder da voz do seu chefe, a tropa tomou novo ânimo e
avançou mais resoluta naquela célebre expedição do Egito.
A palavra tem de agir na alma do auditório do mesmo modo que um clarim no seio de um
quartel; para que o orador se torne realmente agradável é necessário que cultive a arte das nuanças
e adquira o conhecimento das inflexões.
É da palavra vibrante e bem medida de um orador que dependem o entusiasmo de um povo, o
progresso de uma nação e a glória de um país. Nos parlamentos, nas academias e nos meios
diplomáticos, a eloquência estará imperando, a favor das leis e dos atos lídimos, que beneficiam a
Pátria e os cidadãos, na busca constante da paz, da prosperidade e da felicidade!
Ainda há outros exemplos - do uso de umas poucas palavras - ocorridos na Grécia:
“- Minhas flechas serão tantas que taparão a luz do Sol!”, disse Xerxes77 I, rei dos persas, para
intimidar os gregos na batalha de Termópilas.
“- Tanto melhor, combateremos à sombra!”, respondeu-lhe Leônidas78, general grego.

73 Insípido – 1. Que não tem sabor; que não é sápido. 2. Fig. Desagradável; tedioso, monótono.
74 Soporífero – 1. Que produz sono ou sopor. 2. Fig. Enfadonho, fastidioso, tedioso, maçante, cacete. 3. Substância que sopita ou faz
dormir.
75 Inrisante – que não dá vontade de rir.
76 Ígneo – 1. Respeitante ao fogo; 2. Da natureza e/ou cor de fogo; 3. Diz-se dessa cor; 5. Que é do fogo; 5. Muito ardente, muito

apaixonado; inflamado, arrebatado.


77 Xerxes I (c. 519 – Persópolis, 465 a.C.), rei da Pérsia (486-465 a.C.), filho de Dario I. Após ter submetido o Egito, que se revoltara,

retomou contra os gregos os projetos de seu pai, invadindo a Ática, derrotando Leônidas nas Termópilas e devastando Atenas. Vencido
em Salamina, viu-se obrigado a retornar à Ásia. Morreu assassinado por um dos seus cortesãos.
78 Leônidas I – rei de Esparta de 490 a 480 a. C., herói das Termópilas, que defendeu contra os persas, com seus 300 hoplitas.

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“- Vencemos!”, falou Feidipides, mensageiro vindo da batalha de Maratona 79, comunicando a


vitória aos compatriotas antes de cair morto em Atenas.
Na década de 1960, ocorreu um fato, na FNFi - Faculdade Nacional de Filosofia, da Universidade
do Brasil (atual UFRJ), localizada na Av. Pres. Antonio Carlos, 40, bairro do Castelo, Rio de Janeiro – RJ,
onde hoje se localiza o Consulado Italiano, que demonstra o quanto, poucas, mas, significativas
palavras, podem definir uma situação: Carlos Lacerda era governador do Estado da Guanabara (antes
de haver a fusão da GB com o RJ) e fora convidado para ser o paraninfo de uma turma nessa faculdade.
Ao chegar foi barrado por inúmeros estudantes que não gostavam dele, acusando-o de ter sido o
deflagrador do processo que redundara no suicídio de Vargas, em 1954, pela oposição ferrenha que
lhe dedicara, quando era Deputado Federal. Na qualidade de governador, convocou a Polícia Militar
para que pudesse entrar no prédio. Logo que chega a polícia, aparece à porta do prédio, o Magnífico
Reitor da Universidade do Brasil, professor Pedro Calmon. Ele observa a multidão, sobe em um ponto
mais alto da calçada e grita:
“- Governador Lacerda, aqui, polícia só entra com vestibular!”
Guardo duas grandes e doces lembranças da FNFi – Faculdade Nacional de Filosofia: a primeira,
porque, no ano de 1964, foi a instituição onde recebi o treinamento para atuar como Alfabetizador do
PNA – Programa Nacional de Alfabetização, com a presença e a atuação do seu criador, o Professor
Paulo Freire após ter sido aprovado em um concurso público, realizado no Estádio Municipal do
Maracanã. Depois do curso, fui enviado para a Coordenação do PNA, no município de São João de
Meriti - RJ, onde recebi o material que iria utilizar na minha atuação, no então distrito de Belford Roxo
(hoje é um município da Baixada Fluminense); a segunda, foi ter estudado nessa bela instituição, após
ter sido aprovado em um concurso público, no vestibular para cursar Pedagogia. Em 1968 o governo
federal criou as Universidades Federais e transformou a Universidade do Brasil em Universidade
Federal do Rio de janeiro, e a Faculdade de Educação, que funcionava na antiga FNFi foi transferida
para a Avenida Pasteur, onde está até os dias de hoje. Prossegui nos meus estudos nesse belíssimo e
acolhedor local, graduando-me em Pedagogia com a Especialização de Administração Escolar. Foram
belos e saudosos tempos...
Não importa se um discurso é pequeno ou grande, ou se é mesmo formado por uma ou algumas
poucas palavras: o importante é comunicar-se com eficácia. Para isso, contam-se as qualidades do
estilo oratório, onde devem sobressair a clareza e a precisão.
No passado, o orador poderia fazer-se nebuloso. Atualmente, o orador tem necessidade de ser
conciso, claro, compreensivo, sendo simples, porém correto, poderá abandonar a vulgaridade. Afinal,
para que servem o abstrato, as alusões obscuras, o preciosismo?
O orador tem de fazer-se afim aos sentimentos e às expressões do auditório. As frases têm de
ter espontaneidade, as palavras têm de soar como um metal nobre, contido no pensamento.
O orador deve cuidar-se no emprego de palavras curtas, substanciais, sem fazer com que os seus
ouvintes se lembrem da necessidade de um dicionário, para compreendê-las, penetrando-os e
sacudindo-os no sentimento.
Saber escolher os vocábulos é uma das tarefas mais importantes do orador. Aí está o início do
seu sucesso. A eloquência verdadeira consiste em dizer, as palavras que precisam ser ditas, na
circunstância em que devam ser pronunciadas, aos que desejam, ardentemente, ouvi-las.
Ao escolher os termos, o orador precisa:
▪ Adaptar a palavra à natureza exata do objeto que deva representar ou do pensamento: palavras
“demasiadamente grandes para as coisas”, assim como redundantes, provocam situações de
ridículo;

79Maratona – aldeia da Ática, a 40Km de Atenas, célebre pela vitória obtida pelo general ateniense Milcíades sobre os persas, em 490
a.C. O corredor Pheidippides, despachado a Atenas para anunciar a vitória, teria morrido na hora da chegada. As Olimpíadas consagra-
ram este ato com a corrida conhecida como Maratona (corrida pedestre de longo percurso, com 42, 195Km de extensão).

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▪ Associar a sonoridade das palavras e a melodia da frase, à natureza dos sentimentos que se quer
exprimir: o som retumbante ou amaciado das palavras materializa os sentimentos ou as
emoções que o orador pretende despertar no auditório;
▪ Procurar a simplicidade, a evidência e o natural das imagens sugeridas pelas palavras: para
tornar o discurso mais comovente ou mais majestoso, a imagem empregada deve ser sincera,
por acuidade de observação, retidão de julgamento e lealdade para consigo mesmo.
A imagem que um termo pode deflagrar no espírito do público deve retratar fielmente, com
verdade e sinceridade, o sentimento que vai traduzir sem desfigurá-lo pela fantasia ou pelas
preferências pessoais do orador.
O orador precisa recordar-se de que há três verdades: a dele, a do outro e a verdade absoluta,
descrita por Platão em sua explanação sobre o Mundo das Ideias, e que, portanto, nem sempre é
possível de ser alcançada, mas existe (É o Mundo Ideal que está acima do Mundo Real.).
A vontade de falar com sinceridade, na expressão, permite ao orador criar em si, a imagem exata
do pensamento ou do objeto, que procura tornar sensível ao público. Essa imagem coloca-se tão
nitidamente na sua visão interna, que as palavras para a designar, ou às vezes, a única palavra, rara e
elegante - apresenta-se, por si própria, sem esforço do espírito.
O orador deve evitar as comparações inexatas e a acumulação numa só frase de imagens que se
entrechoquem de maneira desastrosa;
▪ Empregar como qualificativo de um termo um só epíteto80, o que pareça melhor guarnecer o
pensamento: ao agregar, a cada termo, inúmeros qualificativos, dilui na maioria das vezes, a
ideia expressa, o que lhe tira a força.
Uma vez observadas estas regras, o orador irá selecionando o seu vocabulário, necessita ter um
vasto conhecimento de sinônimos para não repetir vocábulos e expressões, causando enfado a seus
ouvintes. Rui Barbosa, em determinado discurso empregou a palavra chicote com mais de vinte
formas!
Seja lido ou não, o discurso agrada mais pelas frases curtas do que pelas longas.
Nada mais feio do que um período cheio de enormes orações subordinadas, ligadas por uma
caceteante cadeia de conectivos. A adjetivação, por sua vez, merece cautela, não podendo caber
senão onde se torne necessária e exata. O auditório quer “comunicação”, e não “abstrusidade 81”.
Os colecionadores de palavras raras e de expressões preciosas acabam sozinhos no meio de sua
mina de pedantismo. Podem empregar-se os termos correntes, sem correr riscos de se cair na
vulgaridade.
Eis alguns exercícios práticos para a escolha dos termos:
▪ Tomar uma palavra qualquer e encontrar-lhe os sinônimos sem a ajuda do dicionário,
começando pelos adjetivos - o que é mais fácil - interpretando a palavra em todas as suas
acepções. A palavra, “arraigado”, por exemplo, evoca um aprisionamento, uma detenção ou o
sentido do termo “absoluto”; em cada um dos sentidos diferentes, procurar vários sinônimos
exprimindo a ideia por uma única palavra, como, por exemplo: ideias arraigadas, fixas, firmes,
definitivas, absolutas etc. ou indivíduo arraigado, compenetrado, apreensivo, encarcerado
etc.;
▪ Aplicar-se a escolher a palavra precisa em analogia com o pensamento que deve exprimir
exatamente, evitando-se os termos vagos (O inconveniente do vago é diminuir a convicção; as
banalidades não interessam a ninguém.);
▪ Ao ler ou estudar, acostumar-se a determinar em qual sentido são empregadas as palavras que
despertam uma imagem precisa. Para isto, compreender todo o contexto, isto é, o conjunto
das palavras, frases e parágrafos que envolvem a palavra considerada; e,

80 Epíteto – 1. Palavra ou frase que qualifica pessoa ou coisa. 2. Cognome, alcunha.


81 Abstrusidade – qualidade do que é abstruso (dificilmente compreensível: confuso, obscuro, intrincado).
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▪ Utilizar regularmente os sinônimos ou os seus equivalentes e os antônimos, para adquirir a arte


das nuanças.
Após terem sido feitos esses exercícios para a escolha dos termos, deve-se construir uma frase
e substituí-la por outra melhor, de tal forma que a leve para o lado metafórico de uma construção
feita de maneira simples e singela, valendo-se também de um desses dicionários de ideias afins.
É de bom proveito que se consulte ainda um dicionário etimológico82, lendo-o e relendo-o com
serenidade e fazendo as anotações, julgadas como mais convenientes.
O progresso, em tais exercícios, não deverá vir depressa. O tempo se encarrega de fazer com
que a fluência chegue com as imagens precisas. A precipitação provocada faz o bom orador; daí para
a frente, há muitos caminhos a trilhar.
3.2.1. As figuras de estilo mais utilizadas
As figuras de estilo são o que há de mais rico e bonito, na Língua Portuguesa. O seu uso na
oratória necessita de muitas leituras e estudos - escritos e falados - a fim de que, ao longo de certo
tempo, possam adornar e dar significado intelectual com alta relevância, ao que se pretende escrever
ou dizer. No entanto, devem ser utilizadas gradativamente, a fim de que possam ser bem assimiladas,
tornando-se ferramentas poderosas, e nunca motivo de estorvo ou de dificuldade. Além disso, a
utilização das figuras de estilo deve ser bem cuidada, atentando-se, especialmente, para o fato de que
não se devem escrever ou falar para multidões ou populações cujas culturas não alcancem a devida
eficácia no entendimento pretendido pelo orador.
As principais figuras de estilo são:
Alusão - palavra proveniente da palavra latina allusione. A sua utilização é recomendada quando
queremos uma figura de estilo que pretende referir-se a algo, que vagamente, possa atingir fatos ou
pessoas de forma indireta. O uso da alusão é identificado quando conseguimos perceber
características comuns entre a figura de estilo e o que se pretende dizer.
Exemplos:
a) Tudo o que a Maria tem, deve-o apenas, ao berço (Berço: é uma alusão aos pais de Maria.).
b) Segue a tua vida, rapaz, e agradece aos céus o caminho pelo qual o giz de tua infância te levou
(Giz: é uma alusão à escola e aos professores que o rapaz teve na tenra idade.).
c) Na adolescência, alguns homens não podem notar a presença de uma saia e já ficam loucos
(Saia: a figura de uma mulher.).

Anacoluto - significa inconsequente, e consiste na quebra do contexto com a introdução de uma


ideia avulsa, que parece não ter relação com a frase.
Exemplo: Vocês que deram início a essa roubalheira do dinheiro público, não se esqueçam, a ira
divina cairá sobre as suas cabeças! (A ira divina cairá sobre as suas cabeças: parece não ter sentido,
mas está dita assim, para castigar os que começaram a roubar verbas públicas, destinadas ao bem
comum dos cidadãos.).

Anadiplose - significa reduplicação, e constrói-se através do emprego da mesma palavra, ao final


de uma frase ou verso e no início do outro.
Exemplo:
Chegaste tarde.
Tarde demais para desistir.
Desistir, largar tudo e fugir.
Fugir, para nunca mais voltar.
Voltar, voltar para quê, se não te quero mais?

82 Etimológico – relativo à etimologia (1. Origem de uma palavra. 2. Parte da gramática que trata da origem das palavras.).
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Anáfora - esta figura também significa relação, que também é construída pela repetição de uma
palavra, mas sempre no início da frase ou verso.
Exemplo:
Cadê tua cor de canela,
cadê teu cheiro de cravo,
cadê tua rosa na orelha,
cadê você, Gabriela?
(Jorge Amado)

Anástrofe - significa revirar, pôr em desordem, como um recurso de inversão e transformação


na ordem das palavras correlativas.
Exemplos:
a) Como vai a prezada amiga?
b) De ti não queremos nada senão o dinheiro.
c) Aonde pensa a mocinha que vai?

Antítese - mostra a exposição de uma ideia de oposição entre os termos.


Exemplos:
a) Uns edificam, outros destroem; estes sobem pelos degraus da honra, aqueles outros descem.
b) Na humanidade, há gênios, há néscios; há mulheres lindas, há feias.

Antonomásia - significa chamar por nome diferente, ao substituirmos um nome próprio por um
comum.
Exemplo: “Cessem do sábio Grego e do Troiano as navegações grandes que fizeram” (Camões, o
grande poeta português refere-se a Ulisses (grego) e Eneias (troiano), em seu épico Os Lusíadas83).

Apóstrofe - é uma interpelação enfática por pessoas ou coisas que podem ou não estar
presentes.
Exemplos:
a) Sabemos, todos os que aqui estamos, que antes de o tempo ser tempo, já havia o tempo...
b) Estou perdido. Deus, ouve-me! Ajuda-me, pois não consigo entender nada do que vejo!

Comparação - é o confronto, a comparação entre dois temas. É utilizada para deixar bem claro
o que se pretende dizer sobre a questão.
Exemplos:
a) “Teus olhos são negros, negros,
Como as noites sem luar...
São ardentes, são profundos,
Como o negrume do mar”.
Obs.: Castro Alves usa a noite sem luar para esclarecer que os olhos não são apenas negros: são
muito negros, como se fossem as noites sem luar, o negrume do mar.
b) Aquele menino que mora no sobrado é vivo como uma raposa (Vivo: inteligente, sagaz;
raposa: para mostrar o quanto o menino é inteligente.).

Diácope - significa a repetição de uma palavra tendo outra permeando a segunda.


Exemplos:

83 Lusíada – [Do mitôn. Luso, do filho ou descendente de Baco que teria povoado a parte mais ocidental da Península Ibérica.] – lusitano
(1. De, ou pertencente ou relativo à Lusitânia e aos seus habitantes. 2. De, ou pertencente ou relativo a Portugal ou aos portugueses;
lusitânico. 3. O natural ou habitante da Lusitânia ou de Portugal.).

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a) Mãe, querida mãe, empreste-me algum dinheiro?


b) Volta Joaquim, maldito Joaquim, que te pego.

Elipse - significa falta. Consiste na omissão de palavras subentendidas pelo contexto.


Exemplos:
a) O congressista chegou ao Recife ontem. Desembarcou às 7h (O congressista desembarcou do
avião às 7 horas.).
b) Na formatura tanta gente, tanta alegria, tanta comida; nas ruas tanta tristeza, tanta fome,
tanta miséria (O verbo haver foi suprimido, sem que a frase se tornasse ininteligível.).

Epanadiplose - o seu significado literal é tornar a trazer.


Exemplos:
a) Todos, artistas, ótimos artistas todos.
b) Basta, enfim; muito trabalho, mas o descanso, enfim, basta.
Observação: não confundir epanadiplose com anadiplose ou com anáfora.
Epanadiplose: Entra e sai, sai e entra.
Anadiplose: Saí da escola.
Escola triste.
Triste de saudade.
Saudade de você.
Anáfora: Saí da escola.
Saí em paz.
Saí do seu amor.
Saí da sua vida.

Epanalepse - consiste na repetição de uma frase.


Exemplo: a) Menina bonita, menina bonita, onde pensas que vais?

Epístrofe - ocorre quando repetimos sempre a mesma palavra no fim da frase.


Exemplo: Os governos causam medo, a polícia causa medo, os malfeitores causam medo.

Epizeuxe - é a figura que se constrói pela repetição de uma palavra.


Exemplos:
a) És, és a razão da minha vida.
b) Vai, vai glorioso alviverde praiano, em busca da tua glória.
Obs.: a repetição é diferente da diácope, sem nenhuma palavra intermediária.
Diácope: Garota, minha garota mimada.
Epizeuxe: Garota, garota muito mimada.

Eufemismo - palavra ou expressão suave, nobre, bonitinha, menos agressiva que visa tornar
menos significativa alguma coisa grave, desagradável ou chocante.
Exemplos:
a) A velhinha do vinte e seis, finalmente, entregou a sua alma a Deus (Entregou: mais suave do
que morreu.).
b) O presidente disse: “A situação da nossa economia é preocupante” (Preocupante: quis dizer
que é desesperadora.).
c) O salário pago aos nossos professores é incompatível com o custo de vida (Incompatível com
o custo de vida: para não dizer “miserável” ou “ridículo”.).

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Gradação - é um dos mais belos recursos da escrita e da oratória, utilizada para dar a sensação
de crescente intensidade, através da sucessão de palavras que, sendo sinônimas ou não, expressam
uma progressão ou uma regressão, partindo da menos para a mais intensa.
Exemplos:
a) A pobre mulher entristeceu-se, adoeceu, acamou-se, entregou-se, faleceu (Note-se que tudo
começa com a tal “pobre mulher”.).
b) A formiga de açucareiro é pequena, minúscula, insignificante.

Hendíade - significa “um sentido em dois”. Ocorre quando empregamos dois substantivos e
apenas um, acompanhado de seu adjetivo, seria suficiente.
Exemplos:
a) Motocicleta barulhenta incomoda (O que incomoda são a motocicleta e o barulho.).
b) Arrependo-me das palavras mentirosas (Arrependo-me das palavras e das mentiras.).

Hipérbato - é a inversão, a transgressão, meio exagerada da ordem dos termos na frase.


Exemplos:
a) Aos gritos chega-se até ele.
b) O aluguel cobra-o dele todos os dias.

Hipérbole - é o exagero, com a intenção de valorizar ou engrandecer alguma coisa.


Exemplos:
a) Meu irmão mais velho ganhou rios de dinheiro, na Bolsa de Valores, em 1978.
b) A comida era tanta, que, ao final da festa, cada um levou para casa, um caminhão cheio só
com o que sobrou.
c) Sua piada quase nos matou de rir.

Interrogação - todos sabem o que é uma interrogação, mas, neste caso, trata-se de uma
pergunta feita pelo autor (ou orador) a qual ele mesmo responde ou cuja resposta é conhecida por
todos ou ainda, que não precisa obter uma resposta.
Exemplos:
a) Para onde vai o nosso país com essa economia? E os seus habitantes? O que será deles?
b) O que irão pensar de mim? Que sou? Um maníaco ou um louco?

Ironia - significa literalmente, zombaria, gracejo. São palavras ou expressões irônicas com o
significado oposto ao literal, com o intuito de zombar, fazer graça, levar à reflexão ou à ofensa.
Exemplos:
a) Os resultados dos seus alunos demonstram o belo professor que ele é.
b) Terminar com a fome usando dinheiro do povo, demonstra a grande generosidade de V. Exa.!
c) Dá para se ver que está retornando da sua estafante hora semanal de trabalho, nobre
vereador.

Metáfora - é uma comparação subjetiva, que não é expressa claramente, mas subentendida
pelos elementos escritos.
Exemplos:
a) No julgamento de ontem, o assassino não se abalou, sua alma morta sorria o tempo todo,
indiferente à dor que causara àquela família (Está claro que a alma de um assassino é morta
subjetivamente. Morta é uma metáfora para demonstrar que ele é um assassino frio, e que os
sentimentos, normalmente, atribuídos a uma alma, estão ausentes na dele.).
b) Ficou calado como um túmulo (Qualquer um sabe que um túmulo não fala.).

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Metonímia - é a figura em que utilizamos um nome em lugar de outro, guardando a relação


íntima que há entre os mesmos.
Exemplos:
a) A Câmara dos Deputados votou a nova lei do inquilinato.
b) Bebeu toda a garrafa de conhaque.
c) Júlia gosta de ouvir Roberto Carlos.

Onomatopeia - é a tentativa de reproduzir em letras o som que os ouvidos captam de algum


ruído.
Exemplos:
a) De repente, apareceu uma grande onda e chuá! Foi água por toda parte.
b) Ouviu-se, então: toc! toc! E as crianças ficaram amedrontadas, por ouvirem alguém batendo
à porta.

Paradoxo - é a utilização de palavras ou expressões que contêm verdades expressas de maneira


oposta ao usual.
Exemplos:
a) A literatura nos diz que, toda luta é prazer, todo sacrifício é alegria.
b) Minhas risadas são lágrimas pelas suas mentiras.
Obs.: Não se deve confundir paradoxo com antítese.
Antítese: Uns nascem, outros morrem.
Paradoxo: Está morta e assim vive.

Paralelismo - consiste na técnica de repetir a mesma coisa com outras palavras, com a intenção
de reafirmar o que se diz, tentando fazer com que o leitor (ou o ouvinte) fixe a ideia com mais
facilidade.
Exemplos:
a) O meu grande erro foi amar-te. Muito errado foi tê-la amado. Não foi nada certo amá-la.
b) Arrependo-me muito. Encho-me de arrependimentos. Amarguro-me de culpas.
c) Cantai louvores a Deus, cantai louvores; cantai louvores ao nosso Rei, cantai louvores. Pois
Deus é o Rei de toda a Terra, cantai louvores ao Rei, cantai louvores (...) (Sagradas Escrituras - Salmo
47).

Parêntese - é a imposição de uma frase no meio de outra. É uma figura de estilo muito elegante,
desde que seja utilizada de modo correto. Como o nome bem diz, essa intercalação deve acontecer
entre parênteses, mas ocorre também, em muitos casos, entre vírgulas ou ainda entre travessões.
Exemplos:
a) Esse homem, refiro-me ao teu irmão mais novo, é o mais generoso dos que conheço.
b) A exposição de plantas originárias de Cabo Frio (a primeira em três anos deste governo) atraiu
pessoas de todo o mundo.
c) Ele chegou caminhando com muitas dificuldades - estava cansado - e atirou-se direto na cama.

Paronomásia - é a figura em que há a repetição de palavras parônimas, ou seja, semelhantes na


escrita, mas de sentidos diferentes.
Exemplos:
a) Na distribuição de terrenos gratuitos para os pobres, Araruama está perdendo terreno para
os demais municípios da Região das Baixadas Litorâneas.
b) Logo que chegou a Cabo Frio, ela acendeu uma vela, enquanto olhava a vela do barco que
navegava pelo Canal do Itajuru e passava sob a ponte Feliciano Sodré.

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Perífrase - é o emprego de uma palavra ou grupo de palavras para exprimir algo, em substituição
a um nome próprio ou impróprio, lembrando claramente, algum dos seus atributos.
Exemplos:
a) Nesse instante, a águia de Haia levantou as sobrancelhas e começou a falar (“Águia de Haia”:
Rui Barbosa, assim chamado por ter discursado em Haia, na Holanda, em várias línguas.).
b) Foi só o poeta dos escravos chegar, que todos se calaram (“Poeta dos escravos”: Castro Alves,
assim chamado por ser abolicionista convicto e defensor ardente dessa causa em seus poemas.).

Pleonasmo - significa reforçar o que é óbvio com a intenção de dar mais graça ao texto, ou à
fala.
Exemplos:
a) A mim resta-me apenas sonhar.
b) “E rir meu riso e derramar meu pranto” (Vinícius de Moraes)
Obs.: Os exemplos citados são pleonasmos que embelezam o texto; no entanto, é preciso muito
cuidado com a utilização desta figura, como se pode ver, abaixo:
a) Ela vinha caminhando a pé.
b) Entrei para dentro do carro.
c) Minha mãe saiu para fora do apartamento.
Ora, não há outro modo de caminhar que não seja a pé; entrar que não seja para dentro; sair
que não seja para fora, portanto, são pleonasmos que devem ser evitados, porque expressam
redundâncias desagradáveis de se ouvir.

Polissíndeto - é a figura que se constrói com o significado de “muitas ligações”, através da


repetição de orações coordenadas ligadas pela conjunção “e” de modo a ritmar o texto melhor.
Exemplos:
a) Aquela jovem ardente que o abraça, e o beija, e o aperta, e o ama com toda a paixão.
b) A prova de Química me arrasou, e me humilhou, e me fez sofrer, e jamais será esquecida.

Prosopopeia - é quando se atribuem ações ou certas características humanas a seres


inanimados, animais irracionais ou fenômenos da natureza.
Exemplos:
a) A escola chora pela ausência daquele professor que se aposentou ontem (Chora: a escola não
chora, porque chorar é próprio do ser humano, mas o uso desta palavra dá o sentido da tristeza que
todos estão sentindo pela aposentadoria daquele mestre.).
b) A tempestade grita pelos quatro quadrantes dos céus (A tempestade não grita, atributo
próprio de alguns animais, mas, o seu emprego dá a dimensão do horror que causa e do barulho que
faz.).
c) Seus olhos já dizem que estão cansados, mas tenha um pouco de paciência que as figuras de
estilo estão quase terminando (Os olhos do leitor não dizem, mas demonstram um cansaço tão nítido,
que pode ser compreendido pela maneira como movimenta as pálpebras.).

Reticência - é a figura em que a ausência de uma ou mais palavras deixam a frase,


propositadamente, com o sentido suspenso ou incompleto.
Exemplo: O que se passou neste tribunal foi... Mas creio que se a Justiça fosse... Não sei. É tão
difícil dizer... quanto julgar.

Silepse - é a utilização de palavras que, aparentemente, não concordam em gênero, número ou


pessoa.
Exemplo: Os professores, somos mal pagos pelo que fazemos (Está bem claro que a formação
“os professores” não encontra concordância com o verbo “somos”, mas, é fácil notar que, quem está

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escrevendo [ou falando], também é um professor. Logo, subentende-se o que está dito, como se fosse:
“Nós, os professores, somos mal pagos pelo que fazemos”.).
Não se deve utilizar “a gente fomos” nem “nós vai”!!!

Silogismo - é uma técnica para se chegar a uma conclusão através de duas verdades ou supostas
verdades.
Exemplo:
Todo ser humano pensa; Luiza é um ser humano; logo, Luiza pensa.

Sinonímia - consiste em repetir uma frase utilizando palavras diferentes com o mesmo sentido,
através de sinônimos.
Exemplo: Que queremos? Que desejamos? Que ansiamos?
Não se deve ter a preocupação de decorar as figuras de estilo. Sempre que formos escrever ou
falar em público, o mais importante é saber identificá-las e utilizá-las com correção. Isso só é
conseguido com o tempo, quando se pode ver a sua aplicação e a observação dos resultados, em
discursos escritos e/ou apresentados em público.
3.3. Há uma oratória específica recomendada para cada ambiente
O orador tem de dar à sua palavra uma alma para cada ambiente. Tem de aprender a analisar as
circunstâncias para melhor lançar a sua corrente verbal. Não pode, no entanto, em qualquer delas,
deixar de ser simples e espontâneo. Assim, familiarizado com a circunstância, ele procurará ser
agradável, nada mais expressando, além do que deve expor, pouco se importando com a brevidade
do seu discurso: poucas palavras, mas que sejam bem expressas valem muito mais do que uma falação
prolixa e caceteante.
Tem que ser, sincero, elegante e polido; acima de tudo, tem de ser exato.
Numa reunião familiar, a sua linguagem deve ser despida de vãos adornos, tornando-a natural,
mas variada.
A maneira cativante de falar, interpretando com a voz as emoções das suas ideias, usando a
gesticulação como o ator que todos admiram no palco, eis o motivo do seu triunfo em qualquer meio.
Para conseguir agir assim, as suas expressões devem ser tão bem elaboradas, que se adaptem
naturalmente ao grupo, como uma luva à mão. Deve ser comedido nas discussões, acalorar-se apenas
para os arroubos84 mais elevados, sem perder jamais a paciência, a fim de manter os seus nervos em
suave equilíbrio e poder discutir com serenidade.
Deve saber regular a sua emotividade. Não se esquecer de que a correção é um dos fatores mais
importantes na linguagem: com o mesmo garbo que concordar com uma opinião, saber discordar de
outra. Nada de atitude arrogante, de qualquer manifestação de superioridade. Assim, é preciso que
se adapte sempre ao nível cultural do grupo.
A firmeza ao emitir as suas opiniões é um grande passo para o seu triunfo. É necessário, pois,
que evite falar durante muito tempo sobre um assunto, que conheça o limite das suas expressões, que
saiba escolher a peroração, do mesmo modo que um consagrado romancista encontra o fim do seu
romance e um inspirado poeta finaliza o seu soneto com chave de ouro.
Dizem que é melhor saber escutar do que falar e ninguém mais do que o orador tem a obrigação
de apreciar o que dizem os outros, anotar bem os comentários e guardar na sua alma os pensamentos
alheios, especialmente, quando visitar locais onde possa aprender com a prática alheia: anotar tudo o
que julgar conveniente e fazer as devidas comparações, nas contendas verbais que ocorrem na Câmara
de Vereadores do seu município, no Tribunal do Júri, em diferentes igrejas, como, também, em clubes
de serviço, agremiações cívicas, esportivas e culturais, e instituições filantrópicas.

84
Arroubo – êxtase, enlevo, arrebatamento, encanto, arroubamento.

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A época eleitoral é riquíssima para a observação crítica da oratória, acompanhada ao vivo, em


comícios, ou pelas emissoras de televisão aberta, nos horários da sua transmissão. Quem estuda
oratória pode sintonizar as emissoras que transmitem diretamente dos plenários de colegiados, como:
Supremo Tribunal Federal, Tribunal Superior Eleitoral, Senado Federal, Câmara dos Deputados,
Assembleias Legislativas ou Câmaras de Vereadores, para assistir às sessões dos diferentes poderes
da República. Ao acompanhar tudo o que é dito, compreende as diferentes oratórias e como são feitas
as intervenções, nos debates da coisa pública.
Fazendo isso, poderá comparar estilos oratórios, métodos e objetivos diferentes, apresentados
por quem faz o uso profissional da palavra, propiciando-lhe grandes progressos, porque vê e ouve os
erros e acertos de outros oradores, e. ainda, podendo perceber, muitos defeitos que deverá evitar na
sua caminhada, tais como:
▪ Não entrar em pormenores que não agradem ao auditório;
▪ Não abusar do imaginário onde haja mais necessidade do real;
▪ Não saltar de um assunto para outro de maneira brusca;
▪ Não repetir palavras ou expressões onde se denota a escassez do conhecimento de sinônimos;
▪ Não responder apenas por monossílabos;
▪ Não introduzir constantemente nas frases as chamadas “partículas de reforço negativo”, como:
então, aí, nisto, né, assim etc.;
▪ Não fazer exclamações inúteis;
▪ Não se acalorar durante as discussões;
▪ Não falar com voz áspera, esganiçada ou rouca;
▪ Não se mostrar impaciente ou desgostoso quando o assunto não é interessante ou oportuno;
▪ Não gesticular demais; e,
▪ Evitar ares de superioridade.
Afastando esses defeitos, a palestra ganha notoriedade. Evitando-os pela observação alheia, o
orador está preparado para a arte da alocução que tem por fim evocar sentimentos comuns, para os
quais se reúne uma comunidade, como um dos gêneros da oratória de maior aceitação na sociedade
em uma recepção, uma comemoração, uma solenidade profana ou religiosa.
3.4. Como se planeja um discurso, uma conferência ou uma palestra
Importa primeiramente escolher o assunto. Este vem com determinada circunstância. Uma
pessoa vai falar em certa solenidade cívica; outra irá discursar numa festa social; h o político que se
prepara para um comício; o advogado que estará encarregado de defender uma causa; aquele que
terá de fazer uma palestra ou uma conferência diante de seleto auditório, como os alunos concluintes
de cursos, que irão apresentar uma monografia, uma dissertação ou uma tese. São um sem número
de questões a abordar: literárias, científicas, religiosas, filosóficas etc.
Mas, nem sempre o orador escolhe o assunto, muitas vezes, é encarregado de expor aquele que,
certos meios, lhe solicitam; mesmo assim, dentro da matéria escolhida por outrem, ele poderá
estender variadas ideias ditadas pelo seu próprio sentimento e dar um formato pessoal ao que
pretende dizer.
Antes de tudo, o orador que planeja, deve fazer uma rigorosa seleção daquilo que só poderia ser
do agrado dos seus ouvintes. De que vale agradar a si mesmo se não irá contentar o auditório, cujos
aplausos tanto o estimulam? Como adivinhar os sentimentos alheios? Como saber que as suas
palavras poderão fazer vibrar os corações que o ouvirão?
Trata-se de uma tarefa em que deve ter evidência o senso de psicologia. O povo gosta de coisas
simples e interessantes. Os políticos querem os argumentos e a ideologia. Os intelectuais apreciam o
belo e a erudição. Os jovens amam o poético, o suave, o arrebatador e o terno. Os cientistas preferem
o profundo, o insondável. Os místicos deliciam-se com o celeste e o miraculoso.
Não se pode preparar um discurso sem antes se ter conhecimento do auditório a enfrentar. E é,
com o pensamento voltado para esse auditório, que se compõem todas as frases e todas as partes do

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discurso ou da palestra que se tem em vista. É como se se estivesse apalpando uma alma para saber
qual a veste que melhor lhe cabe.
Muito vale a voz do orador, como já ficou explicado, mas também, tem inestimável valor a
substância do seu discurso, pois o verdadeiro tribuno não pode comparar-se com o clarim que apenas
soa vibrantemente, mas sem ter de trazer ao lado da sua vibração a ideia altiva e esclarecedora.
Determinado, pois, o assunto do discurso, a sua composição exige todo o cuidado, do princípio
ao fim. Apresenta-se o tema, com ele as linhas gerais, restam os pormenores. A ideia principal
arrastará as secundárias, como a corrente que, depois de jorrar da fonte, tudo arrasta para o seu
destino: o turbilhão de água que forma o rio, sem perder o brilho e a limpidez que traz da nascente. O
primeiro trabalho, portanto, do orador, consiste em encontrar as ideias, selecioná-las e dividi-las.
Está diante do tema. Tem de examiná-lo rigorosamente para, em seguida, decompô-lo em cada
um dos seus elementos constitutivos. Não pode fazer um exame precipitado. Assim como o
escafandrista que mergulha na profundidade do oceano e só pode voltar à tona com as pérolas
preciosas, depois de pacientes pesquisas no pélago 85 marinho, o orador tem de pacientar-se durante
a procura dos pormenores que lhe darão a substância rutilante86 do seu discurso.
Uma frase pode ser escrita sob o repentino sopro da inspiração; mas também merece ser olhada
com carinho e burilada para produzir melhor efeito sobre os ouvintes.
Nada de pressa para atingir o meio, nem também pressa demais para chegar ao fim. O meio é
uma consequência lógica do princípio. O fim chega com a própria extenuação do meio.
Os discursos propriamente literários precisam mais da linguagem metafórica, em que uma ou
outra frase simples seja transformada em frase colorida, sempre que isto for possível. Já nas
conferências de caráter científico, histórico ou filosófico, a documentação objetiva está acima da
reflexão pessoal, a linguagem deve ser sóbria, clara e concisa. Segue-se a ordem cronológica, expondo
alternadamente a causa, o desenvolvimento e as consequências dos acontecimentos.
Os discursos parlamentares, sobre questões militares, econômicas ou sociais baseiam-se em
argumentos, em estatísticas, em considerações gerais.
Não se pode falar bem sem um intenso trabalho prévio. Os improvisos são frutos de longos
ensaios. Só se improvisa bem depois que se fala bem através de discursos rigorosamente preparados.
Ninguém começa pelos improvisos.
Como, pois, compor um discurso?
Nos discursos comuns, a finalidade principal é informar, persuadir ou convencer, agradar e
satisfazer. Para isto, a inteligência tem de trabalhar juntamente com a sensibilidade.
Informar é expor o assunto claramente; persuadir é vencer a inatividade emocional ou mental
do auditório. O orador precisa expor o assunto de uma maneira clara, direta e persuasiva, para melhor
atrair o discurso, que só agrada a uma parcela dos ouvintes. Trata-se de esclarecer e estimular o
público, de espalhar os seus conhecimentos, de lançar ideias na alma do povo; não pode abordar um
assunto que mal conheça, a matéria a desenvolver merece toda a sua atenção e os fatos têm de ser
precisos e as informações têm de ser exatas: a exposição tem de ser correta.
Primeiramente, deve coletar os materiais e ordená-los segundo um plano judicioso e apresentá-
los nas regras da arte de falar bem: um discurso não necessita apenas de torneios e de frases
retumbantes; necessita, antes de tudo, de um plano lógico, pelo qual se desenvolvem as suas partes,
procurando um progresso de interesse que se eleva e se acelera até a peroração.
Assim como o edifício que começa a erguer-se pelos alicerces, o discurso precisa de uma ideia-
tijolo com a qual se deve levantar para atingir a sua imponência.
Quando se trata de convencer, o discurso deve conter argumentos, refutar objeções,
demonstrar que a tese do orador é justa, valiosa, adaptada às circunstâncias. Os fatos dirigem-se à
inteligência unicamente; os sentimentos podem ocasionar a decisão e a submissão das almas, ambos

85 Pélago – 1. Mar profundo; abismo marítimo; pego. 2. Mar alto; oceano. 3. Fig. Abismo, profundidade, imensidade.
86 Rutilante – 1. Que rutila. 2. Muito brilhante; resplandecente, esplendoroso.

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devem encadear-se em um discurso, de tal forma, que entrem pela razão e pelo coração do ouvinte
para mais firmemente convencê-lo, sem nos esquecer de que a clareza do discurso e a sua força
demonstrativa dependem da excelência do plano que ajudaram a compor.
Tanto o discurso, lido, ou não lido, decorado em parte ou totalmente, necessitam dos mesmos
cuidados e de um perfeito esquema: a perfeição do esboço coroa a obra; nos discursos de
circunstância e nas alocuções comuns, o esboço pode resumir-se a três pontos, contendo frases
essenciais e que, pelo seu ritmo ou pelo seu vocabulário, melhor se prestem a permanecer na
memória.
Num caso de discurso mais sério, se o orador não deseja lê-lo, deve ter diante de si, de maneira
discreta, um plano escrito, breve e completo, de modo que sem nenhuma dificuldade possa retomar
o fio do discurso após o desenvolvimento de um ponto. Para tal, o orador deve anotar o que há de
mais importante nas partes do seu discurso, listando uma rigorosa ordem cronológica no quadro
sinótico.
Sempre se deve, portanto, estabelecer um plano progressivo, partindo do simples para o
complexo, numa ordem perfeitamente lógica, bastante clara e sistemática, a fim de conduzir o ouvinte
de uma etapa a outra gradativamente, para ampliar o seu interesse com a própria extensão do
discurso.
As regras mais simplificadas para elaborar o plano de um discurso são:
▪ Fazer um plano simples, amplamente dividido, com poucas subdivisões, comportando algumas
ideias principais e um pequeno número de ideias secundárias;
▪ Cada vez que for possível, começar pela exposição dos fatos na ordem cronológica; se uma
exposição pormenorizada for inútil, um breve lembrete dos fatos deverá fazer-se valer no seu
lugar;
▪ Ao relatar um fato ou examinar um documento, analisá-lo a fundo e dele tirar os argumentos
úteis para não ter que voltar mais aos mesmos;
▪ Na ordem dos fatos e dos argumentos, ir do menos importante ao mais importante, do menos
certo ao mais certo, para não deixar o auditório sob a impressão final de objeções ainda
possíveis;
▪ Colocar os argumentos da razão, que tocam a inteligência, antes daqueles de sentimento que
arrastam, no fim, à adesão do ouvinte;
▪ Refutar as objeções de maneira breve e firme, escolhendo para cada uma a refutação mais sólida
e mais curta;
▪ Colocar as refutações entre os argumentos da razão e os que apelam para o sentimento.
No discurso comum, o preâmbulo trata de fazer com que o orador entre em contato com o
auditório, tocando de leve sobre o assunto principal a expor, cuidando mais de chamar a atenção para
o que vai dizer do que querer apenas emocionar através das primeiras palavras.
O corpo do assunto é o ponto central da exposição que o orador desenvolve sob a forma de
narração ou de argumentação, conforme o caso.
A narração comporta os comentários que o assunto suscita, com as explicações e os
esclarecimentos que o tornem sensível aos ouvintes. Consiste em um resumo bem engendrado para
não dar a impressão de uma repetição fastidiosa87, contendo sempre algo de novo para atrair a
atenção geral.
A argumentação apresenta a seguinte ordem: um argumento bastante forte, comportando de
preferência um ponto de contato com o auditório; outros argumentos, salvo o mais forte, expostos
em ordem emocional crescente; e, o argumento mais forte.
Em uma explicação de fatos, a ordem do desenvolvimento é a mesma: um fato importante como
um ponto de contato; outros fatos na ordem da sua importância sob o ponto de vista da firmeza da
sua apresentação; o fato mais importante.

87 Fastidioso – 1. Que produz fastio; tedioso, enfadonho. 2. Impertinente, rabugento.

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Para divertir o auditório, deve-se fazer um sutil gracejo que sirva para estabelecer um ponto de
contato; outras notas humorísticas que conduzam a uma alegria ascendente; o traço alegre mais forte
e mais eficaz para atrair o auditório.
A conclusão lembra o assunto tratado, em breve resumo, como que solidificando o que o orador
pretendia demonstrar ou provar através do corpo do seu assunto. Como cortina do ato final da
palavra, tem de descer de maneira harmoniosa, deixando ver ainda no fundo o cenário exposto com
tanta luz.
Em um discurso oficial, temos de considerar várias partes que não se apresentam nos discursos
comuns. Vejamo-las:
▪ Exórdio - é a apresentação da matéria, a preparação da exposição que se fará, chamando para
tal a atenção do auditório; deve ser curto e cuidadosamente planejado;
▪ Proposição - é a fase explicativa, em que o orador elucida os pontos do discurso, que serão
apresentados nas diferentes partes;
▪ Divisão - é a parte em que o orador enumera os assuntos do seu discurso;
▪ Narração - é a fase em que o orador começa a sugerir o que espera dizer, sem fazer uma
dissertação, pois tem de deixar que o auditório o compreenda, paulatinamente;
▪ Prova - apresentada quando o orador expõe as razões capazes de persuadirem o auditório,
desenvolvendo os motivos que se avolumam a favor da questão apresentada, e que devem
fazer com que o público as aprove, dividindo com ele o seu sentimento e a sua compreensão;
▪ Refutação - é a parte em que o orador trata de evitar as objeções, respondendo-as de antemão,
após tê-las sugerido, cuidadosamente; e,
▪ Peroração - é o momento do estilo brilhante e solene, de certa retumbância, quando o orador
resume em curtas frases o propósito do discurso, reúne as provas principais e delas tira
consequências lógicas que agrupa, conseguindo um forte arrebatamento dos ouvintes.
Por último, devemos acrescentar que um discurso para ser perfeito não necessita de palavras
raras e preciosas, mas de frases brilhantes e de pensamentos claros e sublimes. Não pode entrar no
discurso o que pode caber numa outra qualquer página literária. Com isso, corta-se o corriqueiro, que
tanto aparece nos discursos comuns, procurando-se a originalidade e deixando-se de lado as imitações
que só servem para desvalorizar o orador.
A palavra precisa, embora ornada, é tudo; a simplicidade e a clareza são as melhores armas para
a batalha da convicção. Que se evitem as palavras eruditas, os torneios longos, o academicismo
orgulhoso, além dos períodos longos e sucessivos, que podem cansar o auditório: o mais conveniente
é a mistura dos longos e dos curtos.
É preciso que o orador cultive ainda a parte da omissão, da eliminação, da simplificação; aí está
todo o seu poderio: suas palavras serão vazias se ele não souber dar uma impressão de sinceridade,
mesmo calorosamente, sem, contudo, mostrá-la; além de, permitir também, mostrar-se
excessivamente apaixonado por suas ideias ou opiniões.
O orador pode triunfar numa tribuna de maneira modesta: qualquer sinal de vaidade ou de
ufanismo dos seus próprios talentos, só poderá ser-lhe prejudicial; afinal, nenhum coração se deixa
tocar pela mão da soberba.
3.5. Técnicas para a preparação de discursos e ensaios de improviso
Ao preparar uma conferência, o orador deve - antes de tudo - buscar as origens determinantes
de todo elemento observado, como prioridade no tempo ou antecedentes, e casualidade ou maneira
de agir da causa. Em seguida, verificar a constituição do elemento observado: componentes ou dados.
Depois, as manifestações do elemento ou fenômeno da aplicação; consequências, adaptação,
propriedades. Segue-se a evolução ou leis naturais, condições, jurisdições: modificação, extensão ou
regressão, repercussões sociais. E a finalidade, o fim supremo, a tendência final.

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As questões de origem, de causalidade, de finalidade, correspondem a procuras de ordem


universal referentes a doutrinas de base filosófica ou de base científica, que se esforçam para dar
conta do enigma ou de desvendar as probabilidades do futuro.
Ao abordar essas questões desde o princípio passa-se do geral para o particular; quase sempre,
o orador tem interesse de seguir a ordem inversa.
Com essas cinco chaves: a origem, a constituição, as manifestações, a evolução e a finalidade,
o orador improvisa facilmente, um discurso ou uma palestra sobre assuntos difíceis, nada mais
precisando do que uma simples página de notas, um pouco de tempo e a determinação que todo
aquele que deseja falar em público deve ter.
Em uma palestra ou em um discurso mais sério, por exemplo, deve recolher o conjunto dos
fatos observados, fazer a análise e a interpretação desses fatos e a conclusão ou a tese que deles
resulta. É preciso que classifique os fatos em quadros distintos, situá-los e datá-los (onde e quando se
deram), passando do simples para o complexo, do individual para o múltiplo, do coletivo para o
universal etc. A seguir, designar cada categoria de fatos por um título expressivo de uma analogia ou
de suas ligações. Analisar ou interpretar os documentos de base, comentando os trabalhos anteriores
e ajuntar-lhes o resultado das suas reflexões pessoais. Considerar através da base a conclusão ou a
tese. Expor as condições diferentes ou antagônicas para refutá-las de maneira explícita ou implícita.
Quando se prepara uma peça oratória escrita, há que se ter o cuidado de fazer figurar um
pensamento lúcido, um estilo leve, uma argumentação vigorosa, e lembrar-se que todas exigem
qualidades de penetração, de sutileza e de bom senso.
A penetração não é outra coisa senão a capacidade de compreender o assunto e de delimitá-
lo, de atingir o essencial sem embaraçar-se em falsos problemas nem se entregar a desenvolvimentos
estranhos à matéria abordada.
Na prática, isso vem a ser a aptidão para examinar um “dossiê” ou uma questão, discernindo,
imediatamente, onde estão: o ponto capital, os pontos frágeis e as possíveis dificuldades.
A sutileza é a arte de perceber e de revelar as nuanças pela escolha dos exemplos e dos
argumentos, pela importância relativa que lhes dará ao desenvolver o assunto, pela engenhosidade
com que dará à luz uma verdade, aproximando dois fatos ou duas ideias. Na prática, a sutileza permite
distinguir, à primeira vista, as ligações entre duas causas, consegue evitar os impasses ou obstáculos
e sugerir as medidas úteis ou as soluções elegantes.
O bom senso é a expressão de um julgamento reto que se manifesta na segurança das
conclusões, em suas reservas, em suas ligações estreitas com a argumentação que elas resumem.
Na oratória, o bom senso corresponde ao equilíbrio pessoal do orador, característica
indispensável para tratar do assunto com ponderação e objetividade.
A determinação e a análise do assunto conseguem-se através das seguintes etapas:
▪ Ler atenciosamente o assunto, com lentidão, durante várias repetições, a fim de perceber o
valor exato dos termos empregados e evitar todo senso falso ou todo contrassenso sobre a
questão a tratar ou a debater;
▪ Determinar o assunto de maneira a descobrir e a formular claramente o problema a discutir e
a resolver;
▪ Responder à questão exposta, ou expor o problema em frases curtas, para determinar a ideia-
diretriz, em torno da qual, deverão agrupar-se todas as outras; e,
▪ Ver todos os aspectos da questão, mas também os seus limites, de modo a distanciar as
questões circunjascentes88 que possam causar o afastamento do assunto.
3.5.1. O que é o improviso?
O improviso, aparentemente, é um discurso sem preparo, mas não existe o improviso; existe o
improvisador, qualidade que o orador alcança ao passar por uma preparação toda especial. Antes de

88 Circunjascente – circunvizinho (1. Que está próximo ou em redor; circum-adjacente. 2. Confinante, limítrofe.).

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tudo, necessita possuir uma sólida cultura geral e conhecimentos muito variados. Não pode passar
sem muitas leituras, sem ser senhor de múltiplos assuntos que conheça profundamente, dos quais
pode tirar numerosas conclusões. A sua imaginação e a sua sensibilidade precisam ser bem
desenvolvidas, sem o que o seu verbo não transmite calor e sentimento. Um vocabulário abundante
em sua mente ajuda-o bastante na tarefa de falar a qualquer momento.
Meditar com ligeireza sobre o tema que irá proferir é uma das coisas que contribuem para o
êxito das improvisações, podendo empolgar fortemente o auditório, sobretudo se guardar todo o seu
calor e o seu arrebatamento para a peroração.
O público aprecia e respeita mais o improvisador do que aquele que lê o seu discurso, no
entanto, não pode ser assim chamado o que decora o seu discurso, porque não chega a influir tanto
sobre o auditório como o que realmente improvisa a sua peça.
Se alguém deseja ser um improvisador de grandes méritos, deve dar muita atenção aos
exercícios que lhe darão tal qualidade: traçar um plano que não seja longo e dividi-lo em alguns
pontos, anotar as ideias secundárias que lhe servirão para desenvolver o assunto, aprofundar a sua
matéria, prever as imagens e os sentimentos capazes de animá-la, experimentar falar o seu discurso
sem tê-lo redigido anteriormente, esforçar-se para concluir as suas frases sem deter-se no meio do
caminho.
Após esses experimentos, lembrar-se que: não importa que as palavras se desordenem
algumas vezes nem que haja tropeço nas expressões, o principal é a conclusão das frases. Começar
pelas mais curtas. Depois alongá-las. Exercitar-se assim durante o tempo que julgar necessário, até
alcançar a confiança no que faz. Quando estiver mais fluente, pensar que irá falar para um auditório,
onde grande número de pessoas terá de ouvi-lo. Se, antes, puder reunir amigos e pessoas ligadas aos
amigos para escutá-lo, experimentar falar-lhes de temas ocasionais, improvisando em tais
circunstâncias, tantas vezes quanto necessitar o seu desembaraço, conseguirá o melhor ensaio para
atestar a sua capacidade de falar perante o público.
O estudante de oratória quando tiver de encetar uma conversa em qualquer roda, no lugar de
apenas ouvir, deve procurar falar o mais possível, dando muita importância ao emprego dos
sinônimos, sem usar afetação alguma ou querer sobressair de maneira exagerada. Além disso, deve
falar frases corretas e completas em toda a ocasião que tiver de emitir opiniões, como um exercício
para alcançar o sucesso na improvisação.
Se a profissão do orador o obriga a usar bastante a linguagem oral, que o faça com
aprimoramento, pois, um professor, por exemplo, quando se dirige aos seus alunos através das suas
explanações cotidianas, pode muito bem chegar a falar com admirável fluência, desde que evite o
trivial, que saiba esforçar-se para não se ambientar com a vulgaridade.
Ao narrar fatos, historietas ou anedotas, deve evitar a inclusão das chamadas partículas de
reforço ou mesmo das perifrases viciosas: tudo isso são bons exercícios para quem se dedica à arte da
improvisação.
Assim procedendo, pouco a pouco matizando a palavra, dando-lhe colorido e calor, marchando
com método e perseverança, o orador principiante poderá chegar a uma eloquência brilhante,
sugestiva, com a qual cativará a atenção de um auditório. O verbo fácil, o assunto bem conhecido, a
inteligência unida ao sentimento e à imaginação, trabalhando ao lado do real, aí está a chave valiosa
da improvisação, pois improvisar não é abrir a boca sem saber o que se vai dizer, mas falar com toda
a sua alma, após longas e pacientes reflexões.
O improviso é o que se diz no momento, mas é também é o somatório do que aprendeu na
vida, após muitas horas de estudo e forte perseverança nos exercícios.
3.6. Os métodos utilizados na argumentação
3.6.1. A lógica e a formulação dos métodos na argumentação
Para triunfar em seus discursos, o orador deve conhecer os princípios, métodos e formas da
argumentação, desenvolvidos a partir da lógica:

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▪ Tem de aprender a convencer pela contenção do espírito e pela demonstração, produzindo um


efeito contínuo e progressivo através de argumentos apresentados com método;
▪ Deve preparar um discurso de modo a conduzir a convicção, assim como as respostas a cada
uma das diversas questões que possam gerar qualquer controvérsia;
▪ Deve saber exprimir a sua advertência, fazer valer as suas razões, intervir com propósito, pôr no
devido lugar as respostas e as réplicas;
▪ Estudar os estratagemas que poderá usar quando tiver de embaraçar ou derrotar um adversário
em um debate público;
▪ Procurar descobrir os artifícios dialéticos utilizados pelos contraditores e aprender a desfazê-los;
e,
▪ Precisa estudar para assenhorar-se da lógica formal, ou ciência das operações da razão, que
ensina a raciocinar mediante regras seguras e capazes de conduzir à revelação do verdadeiro.
A lógica é uma ciência que conduz a uma arte: a de pensar, de aceitar a verdade pela razão e
o raciocínio com a ajuda de todas as ciências e de todas as técnicas. Enquanto a ciência das leis do
entendimento com relação ao verdadeiro trata de distinguir o falso, a lógica, acima de tudo, incumbe-
se de ser a ciência do verdadeiro. Ela é a arte de pensar corretamente, tirando da ciência do verdadeiro
um método que garanta a justeza do raciocínio.
A lógica é uma ciência, seu método é um instrumento de aplicação e sua cultura é uma arte; a
de convencer. É impossível julgar o que quer que seja sem haver um raciocínio, sem se fazer uma
aplicação correta das leis do pensamento lógico; então, é preciso, antes de tudo, saber do que se trata,
de ter disso a ideia justa: sem a ideia exata de um objeto ou de uma coisa definida em uma proposição,
não há ordem, raciocínio ou julgamento possível.
A lógica ensina o ser humano a elevar-se à percepção nítida das coisas abstratas que são as
ideias, preservando-o do perigo de imaginar o que se ignora e de partir de falsos princípios.
A arte e a ciência da reflexão e do pensamento, como toda arte e toda ciência, dependem de
um método que consiste em ultrapassar a ordem dos fenômenos ou dos fatos para reuni-los, classificá-
los, estudar as suas ligações, descobrir as leis às quais eles obedecem e distinguir, finalmente, os
princípios dirigentes dessas leis.
Para bem pensar, para distinguir o verdadeiro do falso, o provável do certo, o possível do
autêntico, é preciso conhecer as leis do raciocínio e esforçar-se para aplicá-las, a partir das seguintes
proposições:
▪ Não se pode convencer ninguém se não se sabe definir exatamente o que se pretende
explanar;
▪ O fim de toda discussão é arrancar a verdade daquilo que a obscurece: a maior parte das
pessoas que não aprende a pensar procura adotar uma opinião já feita, por ignorar como
buscar a verdade pelas vias lógicas;
▪ Fazem-se raciocínios e julgamentos falsos, seja por generalizarem sem medida as proposições,
seja por particularizarem ao excesso, proposições gerais, por ilogismo ou porque se tem o
interesse de dissimular a verdade;
▪ Para conceber, é preciso saber fazer valer-se de ideias exatas;
▪ Para julgar, é preciso ser capaz de se pronunciar logicamente sobre essas ideias, apreciando se
a concepção primitiva e os julgamentos atuais são justos, o que obriga a submeter à prova do
raciocínio as proposições contidas no julgamento formulado; e,
▪ A ciência da argumentação é necessária para convencer a si mesmo e para convencer os
outros, para obrigar o interlocutor, pelo raciocínio lógico ou provas sensíveis e evidentes, a
aceitar um julgamento, a reconhecer uma coisa por verdadeira ou a reconhecer a exatidão de
um fato.
Esses são alguns dos conhecimentos que formam valiosos recursos de que se deve valer o bom
orador, para triunfar na difícil arte de argumentar e convencer - sempre partindo da lógica!

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3.7. A ordem e a procura das ideias


A procura das ideias exige a seguinte ordem:
Análise do assunto - seja um assunto sobre a imaginação, sobre a ordem ou que faça intervir
uma noção delicada, por exemplo, o do ser social.
Imaginação - começa-se por decompor em seus elementos a ideia da imaginação, a ideia da
ordem, ou por expor o que caracteriza o ser social (O ser humano em suas ligações com os seus
semelhantes.).
Essa análise permite determinar as vantagens e os inconvenientes da imaginação, sob os
diferentes pontos de vista: material, moral, intelectual.
A fantasia excessiva desvia-se da ação: o contraste entre o imaginoso e o real, entre o sonho e
a vida, engendra a insatisfação e cria o desencorajamento. O espírito alimenta-se das fontes vivas da
imaginação; ele se inspira nela para realizar obras úteis ou para encontrar o repouso, entretendo
visões interiores harmoniosas e poéticas.
Ordem - a ordem material poupa os esforços inúteis e as perdas de tempo; a ordem moral
tempera a sensibilidade e torna a vida harmoniosa; a ordem nas ideias aumenta o rendimento
intelectual, tornando a vida interessante e produtiva.
Quando a ordem é excessiva, torna-se um defeito: a minúcia prolongada até ao escrúpulo, é
um defeito, cujas causas podem localizar-se na educação recebida, na estreiteza do espírito ou na
incapacidade de se interessar por outras coisas.
As causas da ordem meticulosa, por exemplo, podem provir de influências imediatas:
educação, meio familiar, meio profissional etc., ou de influências mais remotas, como as políticas, as
econômicas e as sociais.
Devem distinguir-se as consequências morais, sociais, intelectuais, espirituais ou mentais e
examinar os seus aspectos sobre os diferentes planos: individual, familiar, local, nacional e
internacional.
O julgamento resultante do estudo assim feito levará à procura do que explica a existência das
coisas, a sua razão de ser e ajudará a encontrar os argumentos que permitam discutir a questão, pondo
sobre o assunto o julgamento que convém.
Pode-se julgar sob o ponto de vista das consequências práticas, da ordem material; sob o ponto
de vista dos resultados da ordem moral e social; ou ainda sob o ponto de vista da arte, da harmonia,
da bondade e do progresso intelectual.
De acordo com os assuntos, podem fazer-se julgamentos de valor, colocando-os
sucessivamente sob o ponto de vista das consequências morais no plano do direito, ou sob o ponto
de vista do ideal a atingir.
3.7.1. O processo de desenvolvimento das ideias
Toda discussão deve tomar exemplos na história moderna ou na antiga, na vida corrente, na
atualidade política, econômica, social e internacional, além das lembranças pessoais.
O orador não pode passar sem os planos: físico, moral e mental.
Físico - domínio dos fatos constatados, naturais, corporais, econômicos e sociais;
Moral - domínio das leis da vida afetiva, sentimental e emocional;
Mental - domínio dos princípios orientadores da vida intelectual: razão, organização, ciência
pura ou aplicada, teorias e doutrinas.
O orador deve acostumar-se a registrar as ideias, procedendo metodicamente, devendo:
▪ Registrá-las, sistematicamente em resumo (Lembra-se da importância de se estar sempre com
um caderno e um lápis, ou de um pequeno aparelho de gravação de voz?);
▪ Anotá-las com um traço, por palavras isoladas, por frases curtas, sem descuidar no plano de
uma ideia que chame outra ou várias ideias;
▪ Empregar palavras soltas, elementos de frase, sinais convencionais, sem a preocupação de
redigir, para não perder de vista o conjunto da questão, cansando-se para encontrar as
expressões ou marcar as nuanças, e esgotando a inspiração;
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▪ Espaçar as notas lançadas no papel, para aí colocar as ideias conexas, associadas ou opostas,
que se apresentarem mais tarde ao seu espírito, e se colocarem na argumentação onde
adquirem todo o seu valor em razão de tal proximidade; e,
▪ Quando o primeiro afluxo de ideias se esgotar, há a necessidade de completá-las com provas
obtidas por meios de leituras, observações pessoais ou lições de história etc., para servirem de
argumentos e de exemplos no apoio da tese que pretender sustentar.
3.7.2. A ordem que se deve dar às ideias
As ideias de que se pretende lançar mão, para a produção de um discurso, deverão ser
trabalhadas em uma rigorosa ordem, a partir do seguinte ordenamento:
▪ Recenseamento - guardar apenas as ideias úteis, da primeira inspiração que surgir, deixando
o plano de ser uma construção dirigida por uma ideia, mas uma construção, cujas diferentes
partes devem equilibrar-se e suster-se mutuamente.
Determinar primeiro a ideia-diretriz que fixará o senso geral do discurso e que será examinada
na conclusão, devendo ser o discurso organizado em função dessa conclusão.
Ao determinar a ideia-diretriz, não esquecer que se deve fazer um julgamento motivado
quando se trata de resolver um problema, de propor uma solução, e que é preciso conduzir a
demonstração com lógica para chegar à solução escolhida ou desejada.
▪ Argumentos - uma vez detida a ideia-diretriz, traçar as grandes linhas da argumentação,
reagrupar as ideias principais e as secundárias no primeiro impulso do pensamento, cortar as
supérfluas, cobrir as lacunas, encadear as diferentes partes da demonstração, dando a cada
uma a sua importância relativa no conjunto do desenvolvimento a escrever por completo, sob
a forma de rascunho.
O plano regula a ordem de sucessão das ideias e as ligações que elas têm entre si, de maneira
que o melhor plano é aquele que conduz de modo mais convincente à conclusão. É preciso, pois, evitar
associar ideias de natureza ou de sentidos opostos.
Para esboçar o plano, cuidar de nada empreender sob esta ligação antes de ter encontrado as
ideias e refletido com calma nos aspectos da questão a examinar ou do problema a resolver. Antes de
esboçá-lo, verificar se os diferentes aspectos da questão têm mesmo importância, ou se um desses
aspectos deve estar subordinado ao outro, ou mesmo afastado; sem o que lhe faltará a unidade ou
não conterá o essencial.
Em caso de hesitação, retornar ao texto do assunto de debate, de conferência ou de discurso,
e traduzi-lo explicitamente em linguagem comum para melhor distinguir-lhe os aspectos.
▪ Ordem - adaptar o plano exatamente ao assunto: a natureza do raciocínio, a maneira de
conduzir a discussão, a escolha dos argumentos e a arte com a qual estão associados ou
opostos, que dependerão do gênero de assunto a tratar no discurso ou na palavra.
▪ Conclusão - feita pelo fracionamento, progressão, síntese e contestação.
No fracionamento apresenta-se a mesma ideia, sucessivamente, sob seus diferentes aspectos,
com conclusões parciais paralelas, seguidas de uma conclusão que as reúne e resume; na progressão
prossegue-se a demonstração por etapas, com conclusões parciais que se alimentam dos proveitos
sucessivos realizados no sentido geral, escolhidos de antemão; na síntese expõe-se a questão, sob um
determinado ângulo, depois sob o ângulo oposto, e se trata de conciliar os dois pontos de vista: a tese
e a antítese; e, na contestação afirma-se vigorosamente a tese que se decidiu sustentar, após ter feito,
primeiramente, à tese adversa todas as concessões sugeridas pela prudência e habilidade; mostra-se
que, as restrições assim feitas, não têm cabimento em face da força da posição tomada.
▪ Desenvolvimento - a entrada na matéria ou introdução deve ser simples, natural, mais direta
e sumária do que muito longa, por se tratar de expor o assunto ou de enunciar o problema e
estimular o interesse pelo que diz, sem apresentar considerações ou notas que não tenham
ligações diretas com esse fim.

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Em se tratando da discussão de um texto, depreciar-lhe o valor e a posição, não deixar de


incorporar o texto na entrada da matéria, ou pelo menos os seus elementos essenciais, sobre os quais
conduz o debate. Para isso, pode-se começar lembrando a opinião de um opositor de grande
notoriedade, para chocar o auditório e chamar a sua atenção pelo efeito do contraste.
Não redigir muito depressa a introdução e não fazer esforços para dar-lhe, desde o início, uma
forma definitiva.
A seguir, vem a divisão do assunto, que deve fazer entrever, desde o começo, as primeiras
etapas da demonstração, em uma frase ou duas exprimindo, de um modo discreto, porém claro, o
caminho que se propõe a percorrer, dando-se ao ouvinte, uma impressão de segurança e um
sentimento de firmeza que pode influir de maneira favorável ao seu julgamento.
Resta a conclusão geral, que deve trazer a resposta à questão debatida e elevar o debate, isto
é, reatar o assunto a uma ideia mais alta, mais geral.
A conclusão geral resume a argumentação; sua nitidez não exclui as nuanças nem as restrições
que precisam de sua importância.
▪ Expressão - deve conter a propriedade dos termos, a sobriedade de expressão e a clareza de
estilo.
Na propriedade dos termos deve esforçar-se para empregar a palavra justa, o termo vivo,
expressivo, que traduz exatamente o pensamento ou a ideia; a procura da palavra justa ajuda a
precisar o pensamento ou a imagem, a determinar-lhe os limites e as nuanças.
A sobriedade da expressão precisa ser firme e concisa; não dissolver o pensamento, o que o
obscurece ou o enfraquece, evitando a linguagem demasiadamente figurada, além de não abusar de
adjetivos, mas escolhê-los com cuidado.
A clareza de estilo precisa expressar muito bem o assunto e fazer um plano detalhado e
concebido cuidadosamente. O estilo torna-se claro desde que se saiba exatamente o que se quer dizer
ou provar, evitando a afetação, o preciosismo, o pedantismo, a lentidão, a agressividade, a ironia
sistemática, ou seja: ser natural, humano e sincero. Não querer deslumbrar, mas fazer-se
compreender.
Uma boa técnica de oratória recomenda que a divisão para o preparo de um discurso ou de uma
palestra por escrito, abrange o período de mais ou menos duas ou mais horas, distribuídas da seguinte
maneira: leitura atenciosa do assunto, do tema: 30 minutos; procura rápida das ideias: 20 minutos;
estabelecimento do plano detalhado: 20 minutos; preparação e redação do rascunho: 20 minutos;
revisão do rascunho em cópia: 20 minutos; e, a revisão da cópia: 20 minutos.
Essas previsões são calculadas para um discurso fácil ou uma palestra ligeira. Quando se tratar
de um discurso mais sério ou de uma conferência, o preparo pode ficar em torno de quatro horas.
Recordando o que está expresso no estudo do temperamento dos oradores, podemos verificar
que o método gráfico é, pois, uma necessidade para o orador que expressa melhor os seus
pensamentos, levando-os ao papel para fixá-los e não os perder durante o discurso puramente oral.
Alguns oradores deverão escrever o seu discurso, a fim de poder pensar com concentração,
para apreender o texto de cor ou para lê-lo, mentalmente, diante do público; para outros, o método
gráfico não é senão um meio de classificação destinado a forçar a atenção e a provocar a eclosão das
ideias em vista de recitar em seguida o discurso textualmente, utilizando-se dos centros auditivos ou
motores.
Alguns recitam uma palestra ou uma conferência duas ou três vezes, em alta voz, fazendo
gestos, como se estivessem diante de um auditório, todavia, sem apreender o conteúdo, palavra por
palavra; assim fazem até que estejam bem seguros da repetição. Ao invés de reterem o texto integral,
utilizam uma lista de palavras ou de quaisquer frases sucintas, para firmar a urdidura89 do discurso a
pronunciar.

89Urdidura – 1. Ato ou efeito de urdir; urdimento, urdume. 2. O conjunto de fios dispostos no tear paralelamente ao seu cumprimento,
e por entre os quais passam os fios da trama. 3. Preparar; enredar, tramar, maquinar.
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Algumas vezes, sem empregar o método estritamente gráfico, o orador escreve, apreende e
repete unicamente as partes do seu discurso que receia não poder dizer a sangue frio.
De um modo geral, a preparação escrita facilita amplamente a aptidão para a improvisação,
pois obriga o orador a documentar-se, a escolher e dispor as notas segundo o que foi criado, a deixar
trabalhar o seu inconsciente, ao esboçar o assunto na véspera para encontrá-lo todo preparado, no
dia seguinte.
O método escrito convém mais especialmente ao orador que vê e lê ou escuta as palavras com
as quais exprime os seus pensamentos, é muito menos útil ao orador um pouco desprovido de
memória visual-verbal e que pensa, sobretudo falando.
A preparação escrita completa pode prejudicar este tipo de orador. Neste sentido, não deve
procurar ler mentalmente um discurso aprendido de memória, visto que o esforço para lembrar os
vocábulos constrangeria a emissão da palavra e a procedência correlativa das ideias.
Para facilitar a preparação de um discurso, todo orador deve escolher e praticar na via que
melhor corresponda à sua estrutura cerebral e seguir o seu instinto, logo assim que identificar o tipo
do seu temperamento.
3.8. As formas oratórias tradicionais para a intervenção em debates
Existem várias formas oratórias que não podem ser esquecidas nem postas de lado, excetuando-
se a pomposidade rançosa, com cheiro de velhíssimo passado. Elas pertencem às praxes da eloquência
e caracterizam a oratória; sem elas, o orador pode tornar-se impolido e distanciar-se do próprio estilo
oratório.
Entre as mais correntes, citamos algumas das que são mais empregadas em debates:
▪ Agradeço ao Sr. Presidente as explicações...
▪ Se o Sr. Presidente acha conveniente para a boa ordem dos debates, que se discuta
primeiramente... não vemos nenhum obstáculo nisso.
▪ Peço ao Sr. Presidente informar as razões por que não se retoma a discussão normal...
▪ Sr. Presidente, peço permissão para apresentar algumas observações a respeito de...
▪ Se V. Exa. permitir, Sr. Presidente, podemos entrar logo em acordo com este parecer...
▪ Permita-me, Sr. Presidente, observar que se trata de...
▪ Sr. Presidente, solicitamos a V. Exa. permissão para apresentar a respeito da questão de ...
algumas observações complementares à série das que acaba de apresentar o Sr. Beltrano, às
quais nós nos associamos completamente. O Sr. Fulano lembrou que ...
▪ Não terei nada a juntar sem a autorização particular que se prende à intervenção do Sr. Sicrano...
▪ Agradecemos ao Sr. Beltrano algumas considerações teóricas que acaba de desenvolver com a
sua competência habitual. Todavia, no curso de uma longa prática, notamos...
▪ O Sr. Fulano, com o calor de sentimentos que o enobrecem, mostrou que...
▪ Temos acompanhado com o mais vivo interesse as explicações do Sr. Sicrano...
▪ Queira permitir-me, Sr. Beltrano, uma observação?
▪ Queremos lembrar ao Sr. Fulano que...
▪ O Sr. Beltrano deu a este respeito uma resposta um pouco evasiva.
▪ Permita-me dizer que não estou de acordo com o seu parecer.
▪ Permita-me que o interrompa.
▪ Permita-me que lhe diga que estas indicações são inteiramente exageradas.
▪ É com desgosto que temos o direito de assim exprimir.
▪ A questão merece ter exame quando se têm em mira as necessidades que se manifestam
atualmente.
▪ Se tivéssemos sido ouvidos, a situação difícil em que nos encontramos poderia ter sido evitada.
▪ Como supomos que na prática isso se dará assim, insistimos sobre a necessidade de...
▪ Apelamos com toda a nossa vontade que...

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▪ Fora das considerações que se fizeram valer, não cremos que seja necessário...
A seleção de formas oratórias de uso corrente, que acabamos de transcrever, presta-se para que
o orador, com palavras precisas, possa convencer e persuadir aqueles que ouvem as suas palavras.
Não se desperta o entusiasmo do público através de muitas palavras ou por meio daquelas, cujo
sentido só os clássicos poderiam entender. A oratória verdadeira exige simplicidade. Clareza,
sobretudo. Assim, a convicção procura despertar o interesse e esclarecer um assunto ou rebater um
argumento sem causar choque danoso aos sentimentos dos interlocutores. A persuasão consiste em
preparar o espírito do público em favor da convicção que se pretende induzir.
Ainda se deve considerar que, a procura do sincronismo moral e mental entre o orador e o
ouvinte explica a influência das notas banais ou das frases aparentemente insignificantes, que o
discursador persuasivo lança maquiavelicamente, como balões experimentais de ensaio, no discurso
ou na palestra.
O bom orador não pode descuidar-se da gramática, tendo muita atenção com os verbos,
principalmente no imperativo, ao tratar a si ou ao auditório de nós, por exemplo, ou falando de modo
corporativo, em nome de uma instituição.
Ao usar o nós, o orador está usando o sujeito imperativo ou o sujeito da humildade, muito
apreciados por quem ouve um discurso; ao tratar o auditório por vós, também precisa tomar cuidado
com os verbos no imperativo.
3.9. Diferentes falas para diferentes ocasiões
Não se fala num banquete do mesmo modo que se discursa num salão de estudos. Há regras a
observar, de acordo com o ambiente em que estamos e a motivação da nossa fala.
Em uma recepção - fazer interpretar os sentimentos daqueles que recebem o recém-chegado,
procedendo do seguinte modo:
▪ Expor como as suas qualidades, os seus méritos, as suas obras e os seus títulos etc. já de todos
apreciados, enobrecem ou honram a assembleia;
▪ Dizer que se sente jubiloso com a sua presença e que o consideram bem-vindo ao seio daquela
coletividade.
Podem desenvolver-se os pontos acima, dando uma pequena nota biográfica da pessoa,
mostrando as afinidades que a harmonizam com o meio em que é recebida, os motivos que realçam
a sua presença, a satisfação que ela poderá encontrar no ambiente e as providências que talvez se
esperem dela.
Em uma comemoração - levar em conta os sentimentos que possam despertar em uma pessoa
de cultura média a lembrança dos fatos em questão, e sobre esta base:
▪ Fazer um histórico, o mais evocador possível, ao dar pormenores inéditos a respeito dos
indivíduos e dos acontecimentos;
▪ Precisar a significação, o valor, a ressonância do fato a comemorar e dar os motivos dessa
comemoração;
▪ Fazer o elogio dos participantes, indicando os exemplos que o suscitem; mostrar os
ensinamentos a colher das suas ações, a lição a colher dos próprios acontecimentos.
Em se tratando de um aniversário, comemorado em reunião familiar, empregar uma eloquência
feita de emoção, de delicadeza afetuosa e, sobretudo, de um desejo de expansão da alegria e da
felicidade na circunstância.
Para aniversário de jovens, percorrer com eles pelo pensamento a estrada que começam a
palmilhar com os seus passos incertos; evocar a lembrança de outras mocidades, todas semelhantes,
que produziram amanhãs radiantes, prazer que lhes concederam as primeiras ilusões.
No caso de pessoas maduras, evocar as esperanças que crescem em torno delas sob a forma dos
seus filhos ou dos seus próximos; evocar, também o que realizou como: as suas obras, o seu trabalho,
a vida honesta, o(a) cidadã(o) exemplar etc.

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Em uma inauguração - dizer como se deu a oportunidade de tal realização – por quê e como se
tomou a decisão, qual o trabalho dos organismos executivos etc., além de:
▪ Precisar as iniciativas, concursos, subvenções etc., que permitiram edificar a obra;
▪ Descrever a obra, detalhando as fases de: construção, organização, dificuldades etc.;
▪ Indicar os benefícios materiais e morais que se podem esperar dessa obra e dizer com que meios
ela os satisfará;
▪ Fazer entrever a série dos defeitos esperados, até em suas consequências, as modificações que
o futuro trará ou as ressonâncias previstas para o futuro;
▪ Prestar homenagem aos participantes e mostrar, com algumas frases, as relações do esforço
cumprido em harmonia com os grandes princípios do ideal humanitário.
Em um banquete - fazer um curto preâmbulo, marcando a intenção de interromper
ligeiramente, a atmosfera espontânea da reunião, ficando atento para o seguinte:
▪ Se não é chamado a falar em primeiro lugar, deverá dizer algumas palavras de louvor ao assunto
exposto pelos precedentes;
▪ Desenvolver duas ou três ideias no máximo, com naturalidade e bonomia 90, de maneira
desenvolta, cordial e ardente, usando palavras simples, claras, expressivas;
▪ Adotar o tom menor no começo para evitar toda afetação: não elevar a voz senão ao fim, para
não “forçar” a emoção dos ouvintes;
▪ Reunir em três ou quatro frases essenciais, que possam ser consideradas como lapidares, as
ideias e os sentimentos próprios, a fim de obter a adesão unânime e provocar o entusiasmo
dos participantes;
▪ Após os aplausos dos convivas, fazer a apresentação do orador seguinte, dando a impressão de
que se interrompe, para passar-lhe a palavra.
Em uma cerimônia fúnebre - dar a biografia sucinta do desaparecido: valor social, qualidades
pessoais diretamente apreciáveis, obstáculos que teve de enfrentar, sucessos e realizações, méritos
etc. Falando das qualidades amáveis do defunto, lembrar o que pode colocá-las em evidência, numa
atmosfera de suave melancolia, narrando alguns episódios da sua vida, tomados entre os menos
conhecidos. Após isso:
▪ Detalhar a luta contra os reveses possíveis, para que a assistência simpatize com as dificuldades
e os sucessos do defunto.
▪ Insistir sobre os pesares deixados, o exemplo a seguir, a lembrança a conservar.
A oratória tem especialidades que exigem observações diferentes. Falar para um grupo não é
falar para uma multidão. Discursar num salão festivo ou numa academia não é discursar na via pública.
A arte de falar tem variados matizes, pois é uma grande vitória dessa arte, saber lançar o seu
pensamento e introduzi-lo com atenção, no lugar onde se está.
Não se pode admitir matéria jocosa91, num ambiente sério. Não se deve estender a seriedade
num ambiente alegre. É preciso tato, senso social, algo de psicologia e de calor humano.
Principalmente, quando se fala numa reunião solene ou no setor de uma comissão. Em tal caso, o
orador não deve jamais elevar a voz. Deve manter-se calmo e falar lentamente. Não deve mostrar-se
indeciso na expansão das suas ideias. Deve evitar a maneira injuriosa 92 de dirigir-se pessoalmente a
um contraditor. A cortesia não pode ser esquecida. Jamais responder diretamente a um dos membros,
dirigindo-se ao presidente ou à assembleia.
Sempre que falar em nome de uma comissão, tratar de mostrar à assembleia de que lado, de
que partido, vem o que propõe ou expõe, ou se vem da sua própria opinião.

90 Bonomia – qualidade de quem é bom, simples, crédulo, ou pachorrento, fleumático.


91 Jocoso – que provoca o riso; chistoso, faceto, alegre.
92 Injurioso – em que há injúria; ofensivo, afrontoso, infamante.

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Quando o orador tiver de fazer qualquer discussão, precisa estar com a documentação
suficiente, que possa embasar fatos e cifras; precisa usar linguagem clara e sóbria na exposição,
contendo variedade e sinceridade no que disser.
Aconselha-se um pouco de humor ou de fantasia, para melhor reter a atenção do ouvinte, no
caso de publicidade oral e mesmo em certos debates de uma comissão, a ironia leve consegue vencer
mais, todas as armas do opositor, do que os acalorados argumentos.
O filósofo grego Sócrates ensinou a quem o seguia, que há três coisas importantes para cultuar
e praticar, na busca da sabedoria: todos podem ter a pretensão de ensinar algo ou aprender, se
tiverem um comportamento ditado pela humildade, pela adaptabilidade e pelo bom humor.
Humildade - o grande filósofo foi reconhecido pelo oráculo de Delfos93, como o ser humano que,
após ter procurado por toda a sua terra o que significavam sabedoria, justiça, arte etc., permaneceu
com as mesmas dúvidas, pois os especialistas da época não conseguiam definir nada. A partir de então,
adotou a seguinte expressão como lema pessoal de vida: “A única certeza que sei, é que nada sei”,
palavras que o tornaram conhecido como o homem mais sábio da antiga Grécia, por ter reconhecido
que nada sabia. Fazendo essa histórica afirmação, Sócrates demonstrou que o que sabia, comparado
ao que faltava saber era tão pouco, que já tinha em si, a condição primeira para levá-lo à sabedoria da
incessante busca, motivada pela constante insatisfação desse pouco ou nada: isso era a humildade.
Adaptabilidade - devemos adaptar-nos às circunstâncias: na vida, nem sempre encontraremos
as condições ideais para viver, agir e triunfar; vencerá quem, em vez de procurar defeitos e culpas
pelas faltas eventuais ou crônicas, não permitir que esta ou aquela situação anule ou diminua a sua
ação no mundo.
Bom humor - para Sócrates, a alegria libera o cérebro das preocupações do dia a dia,
demonstrando que o riso é o melhor caminho para que se possa alcançar a seriedade das coisas.
O orador deve estar com o seu espírito preparado para qualquer choque ocasionado por suas
próprias palavras. Para tal, deve cuidar das partes do seu discurso ou da sua conferência que possam
provocar opiniões contrárias ou causar dúvidas aos que terão que o ouvir, tendo cautela para não
entrar em contradições, mostrando-se firme conhecedor da matéria. Se for preciso, dar à voz um tom
autoritário, recordando-se que a sua palavra, no campo das discussões, tem de ser lança e escudo ao
mesmo tempo, atacando e defendendo.
Ao falar diante de um tribunal, por exemplo, não irá apenas convencer simples ouvintes, mas
aqueles que são conhecedores das leis. Para isto, o orador positivo, expõe claramente o assunto, evita
os rodeios que apenas avolumam os processos, e não os põe em evidência perante a corte judiciária.
Nesse ambiente, a sua palavra tem de valer-se das lições do Direito a fim de melhor combater as
provas de qualquer opositor e apoiar-se em documentos, e não em meras suposições. A fala pausada,
a voz nítida, a gesticulação diminuta, o tom brando, eis uma atitude correta para discursar diante de
um tribunal.
Em uma conferência, o orador irá dirigir-se a um público que deseja ouvi-lo. Portanto, espera-se
que tenha traçado um plano de tal modo que possa despertar a atenção do auditório e satisfazê-lo
durante o tempo reservado para si, trabalho que exige mais erudição do que um simples discurso.
Nela, o academicismo pode ter lugar. Pode ser escrita, ou puramente oral. Quando escrita, a
gesticulação quase se cala, fazendo-se presente por gestos comedidos. Quando não escrita, a
gesticulação também pode acompanhar as palavras, mas sem o calor com que habitualmente segue
um discurso. A voz do conferencista não deve ter o mesmo tom da do orador comum, na conferência,
as imagens devem ter um colorido mais disfarçado. Contudo, a seriedade, a monotonia, a solidez,
podem cansar o auditório. Assim sendo, o conferencista pode usar do bom humor aqui e ali,

93Delfos – cidade da antiga Grécia, na Fócida, situada na vertente sudoeste do Parnaso, num local grandioso onde Apolo tinha um
templo e ditava oráculos pela voz da pítia. Cidade sacerdotal que irradiava seu prestígio sobre todo o mundo antigo, do séc. VII ao IV
a.C.

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lembrando casos reais ou fictícios em forma de narração breve, para despertar a atenção dos seus
ouvintes.
Em um discurso oficial, o orador deve falar moderadamente, em tom grave e manso, com
gesticulação diminuta, evitando os arrebatamentos comuns. A afetação e a trivialidade não podem
aparecer. O estilo precisa ser nobre e correto.
3.10. A eloquência política
O discurso político é a especialidade da oratória para conquistar a simpatia das multidões e das
assembleias pela veemência da palavra, pelo encadeamento das ideias e pela força da argumentação,
por isso, admite e requer todos os seus recursos, devendo considerar certas divisões e regras para que
possa ser bem aplicada.
Em uma reunião privada - toma-se a palavra diante de um grupo de ouvintes que podem ter
opiniões diferentes, mas em presença dos quais se admite discussão cortês; assim sendo, o orador,
mesmo se contraria a opinião da maioria, pode assegurar-se de ser ouvido desde que observe os
princípios essenciais do discurso político:
▪ Não ler o discurso, o que seria interpretado como sinal de fraqueza oratória ou de hesitação;
▪ Falar com um tom firme e medido, positivo, afirmativo, das possibilidades previstas como certas
em futuro próximo;
▪ Conduzir cada ouvinte a conceber o interesse, por si próprio, do triunfo da causa;
▪ Afirmar mais que atacar; o ser humano que parece mais inabalável é o que influencia mais
fortemente a massa;
▪ Edificar mais do que demolir;
▪ Afastar os antagonistas pessoais;
▪ Ter em vista o interesse de todos, e não somente o de alguns;
▪ Evitar o tom ácido, agressivo, falando com uma voz pausada, mais branda do que forte;
▪ Empregar um vocabulário simples, mas sempre correto; não se tem confiança senão naqueles
que saem do ordinário e dominam a língua da sua pátria;
▪ Elaborar o plano do discurso de tal maneira que a argumentação e a emoção se tornem
crescentes;
▪ Ser cortês na forma, firme e pessoal nas ideias;
▪ Ser breve; servir-se o mais possível de fórmulas brilhantes e coloridas, que se desenvolvam de
acordo com o efeito produzido na assembleia.

Em uma reunião pública e contraditória - trata-se de dominar e de conquistar uma multidão


anônima que, sendo descontente ou adversa, pode impedir o orador de prosseguir na sua fala, o que
o põe na alternativa de se impor de improviso ou de embaraçar-se. Este tipo de reunião pode permitir
vários discursos de gênero diferente, como: orador de abrir a reunião, principal orador da reunião,
principal orador de réplica e contraditor.

Em um discurso para uma reunião - trata-se, em alguns minutos, de preparar o público, de


animá-lo, de “aquecer a sala”, mas não de conquistá-lo, devendo este orador:
▪ Ser breve e preciso, empregando frases curtas e enérgicas;
▪ Não falar senão de uma ideia, ordenando a intervenção em torno desta ideia condutora; e,
▪ Ter duas ou três fórmulas preparadas de antemão; se são boas, o discurso de entrada será bem
acolhido.

Em um discurso como orador principal - para conquistar a multidão, considerando que ela será
indulgente no começo do discurso, severa no meio, e impiedosa no fim, o orador deve lembrar-se de:
▪ Ter em mente um plano bem arquitetado e procurar não se afastar dele;
▪ Terminar por uma fórmula surpreendente cada um dos desenvolvimentos parciais;
▪ Tornar o discurso suficiente para manter-se na tribuna, por, pelo menos, trinta minutos;
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▪ Começar em voz baixa, olhando os ouvintes que estão no fundo da sala e falando para eles;
▪ Para forçar a atenção, elevar apenas a voz progressivamente;
▪ Variar o tom, fazendo gestos adaptados ao tom e ao pensamento;
▪ Não responder a uma parte senão quando se pode fazer de maneira breve e sem réplica ou de
maneira gentil;
▪ Para rebater uma parte desta maneira, deter-se um segundo; depois, lançar a réplica ao que
interrompe e retomar em seguida o fio do discurso;
▪ Não responder senão uma vez à mesma pessoa, quando há a certeza da eficácia da réplica; e,
▪ Não dar sistematicamente atenção à maior parte dos apartes, aos quais não se acabaria de
responder; após uma ou duas respostas bem dadas, os apartes cessam.

Em um discurso de réplica - o orador principal da reunião, ao responder a um contraditor que


usou a palavra após ele, procederá do seguinte modo:
▪ Durante a intervenção anotar em caracteres salientes os principais argumentos do contraditor
e marcar adiante, com uma palavra-chave se possível, a resposta que se propõe a dar;
▪ Antes do fim da intervenção, no decorrer da peroração do contraditor, ordenar vivamente o
conjunto da réplica;
▪ Responder primeiramente os argumentos mais convincentes em sua ordem de importância;
▪ Reunir na réplica propriamente dita os argumentos não discutidos pelo contraditor, para
apresentá-los em conjunto, com vigor e confiança;
▪ Se há a certeza de que haverá certamente um contraditor, guardar para a réplica o melhor
argumento, deixando de produzi-lo no primeiro discurso;
▪ Mostrar na réplica, a mesma atitude e a mesma serenidade com que se apresentara antes;
▪ Ser rápido na réplica, estando o auditório já fatigado; e,
▪ Dar a impressão de que o contraditor não destruiu nem mesmo vergou a tese que tentava
abater.

Em um discurso citando a contradição - é a ocasião de enfrentar o orador principal e de fazer a


contraparte do discurso que acaba de ser pronunciado; posição difícil, onde é preciso fazer valer o
melhor talento. Para tanto, deverá:
▪ Tomar notas claras e sucintas do discurso que se procura contradizer;
▪ Ao anotar, deixar de lado todos os argumentos secundários ou medíocres a fazer valerem contra
a tese exposta; deixar de lado também os argumentos que não possam ser compreendidos por
toda a assistência;
▪ Não conservar senão os argumentos que permitam contradizer o orador principal no terreno da
discussão que ele próprio escolheu, a fim de combatê-lo em seu próprio plano, nas
consequências lógicas dos seus próprios princípios;
▪ Ser breve, claro, preciso, manifestando prova de calor e de convicção; e,
▪ Permanecer calmo, senhor de si mesmo, sorridente e cortês.
As regras para o orador político são encontradas em inúmeros estudos de oratória, descrevendo
a especialidade do discurso parlamentar, do discurso que pode ser desenvolvido em qualquer reunião
política, onde são sem número os apartes e constantes os contraditores.
Vimos antes, outras especialidades da oratória, como os discursos ou alocuções de recepção, de
comemoração, de inauguração, de banquete, oração fúnebre, a arte de falar diante de um tribunal, a
arte da conferência etc.
Existe hoje um meio profissional, outrora inexistente, e para o qual o ser humano necessita de
valer-se muito bem da técnica da palavra. Trata-se do rádio e da televisão. Para o primeiro estão
voltados apenas os ouvidos. Logo, é preciso que se faça ouvir uma voz nítida, bem articulada, vibrante,
dominada por um perfeito ritmo respiratório. Quem fala através de um microfone que irá transmitir
a sua voz a ouvintes distantes, deve pronunciar distintamente, conduzindo cada palavra do princípio

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ao fim com muita calma e sem nervosidade alguma. Não se pode falar apressadamente, nem
tampouco deixar sumir a voz ao final das frases. As pausas têm de ser reguladas. As palavras têm de
ser escolhidas. Há palavras que ficam bem quando lidas, porém, ficam mal quando ouvidas. Os
períodos não podem ser longos.
Na televisão, além da voz, entram a gesticulação e a postura que também merecem cuidados
especiais. Já no rádio, onde o domínio é exclusivamente da voz, esta precisa impregnar-se de
maviosidade e de calor para que possa prender a atenção do ouvinte. É preciso que se fale de maneira
natural. Qualquer afetação é prejudicial à própria dicção. Não se deve falar com um tom autoritário,
mesmo quando se trata de querer impor uma opinião. Falar em tom quase de conversa, com simpatia
na voz. Ter em conta que o ouvinte está atento a todas as palavras saídas do seu receptor. Nos
anúncios, por exemplo, a maneira autoritária seria um erro. O tom alegre, amigável, familiar,
espontâneo, eis um dos sucessos da boa propaganda. Evitar a monotonia que irrita. Daí o êxito dos
programas, que sabem variar o seu ritmo, conservando-se joviais.
Falar, portanto, em qualquer circunstância da vida humana, é algo mais que abrir a boca e deixar
escapulir o ar que vem do fundo dos pulmões pelo processo de articulação.
Dizem que a palavra é de prata, que o silêncio é de ouro. A palavra também pode ser ouro cavado
na profundidade da inteligência humana, alcançada através do estudo disciplinado, consciente e
promissor, como estamos fazendo agora!
3.11. Como se deve argumentar
O orador deve valer-se dos seus conhecimentos e dos seus arrebatamentos para persuadir os
ouvintes. Todo o triunfo da eloquência está na arte da argumentação.
O advogado, por exemplo, precisa impor-se diante do tribunal, sabendo quais os recursos com
os quais desenvolverá o processo dos seus clientes.
O político estudará os meios pelos quais penetrará na alma do povo.
O parlamentar vai fazer da sua tribuna a alavanca poderosa com que elevará um projeto de lei
ou convencerá os seus adversários do seu poderio cultural.
O pregador tem de escolher os pensamentos com os quais conduzirá os fiéis nos caminhos da
religião.
O cientista fará da sua erudição, a lâmpada maravilhosa, com que dará luz às ideias ou como um
forte escudo nos debates.
Qualquer orador, portanto, tem de fazer da sua palavra o veículo do pensamento. Para isso,
deverá abrir, para a mesma, estradas amplas e retas; o sucesso de toda a oratória está na grandeza e
na sublimidade da argumentação: as provas mais simples valem muito mais do que os ricos torneios
cobertos de sofismas.
Na verdade, as frases coloridas e o calor das expressões, concorrem também para dar beleza
ao discurso, mas não é somente de adornos e de arrebatamentos que se veste uma ideia.
A inteligência tem de colocar-se ao lado da sensibilidade.
Os argumentos oratórios devem reunir, a seu valor intelectual, um valor imaginativo e um valor
sensível.
A inteligência não se convence senão mediante provas razoáveis; é um princípio da natureza
humana: essas provas se demonstram gradativamente, partindo sempre do mais simples para o
complexo e para o mais abstrato. Têm de ser proporcionais ao assunto de que trata e apropriado às
pessoas a quem se dirige.
O ouvinte, quanto menos culto, mais necessita de argumentos para que fique esclarecido sobre
a matéria exposta. É claro que o povo não pode suportar argumentações puramente filosóficas, mas
não se pode descurar da lógica perante as massas. O campo da razão tem de ser aberto ao povo,
porém de modo muito natural.
Qualquer pessoa pode verificar que não se fala ao povo nas ruas, com a mesma dialética,
dirigida a letrados, em um salão.

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O orador não vai valer-se apenas da lógica para triunfar numa tribuna. O ouvinte pode
acompanhar os argumentos com atenção, mas não se deve crer que possa estar disposto, através da
palavra ouvida a seguir um sistema filosófico, onde o abstrato ocupa todo o espaço. É preciso,
portanto, que o orador saiba apresentar os seus argumentos sob a forma de imagens que possam
agradar o espírito e ficarem gravados na memória de quem ouve.
Em um encontro popular, num sindicato, por exemplo, um ferroviário quer excitar os
companheiros para que possam apoiá-lo em uma reivindicação salarial. Suas argumentações serão
fundamentadas na melhoria de vida, nas dificuldades de cada família e assim por diante, como
substâncias do seu discurso. De que valeria usar a palavra, floreá-la ao extremo, pedindo apenas que
todos entrassem em greve, sem mostrar os principais argumentos? Faz parte do principal argumento
uma cadeia de provas, que ele demonstrará: a privação das suas famílias, a falta de conforto, a
dificuldade da subsistência etc., o orador sabe que o argumento não vem apenas com o que fala à
razão, mas também com o que pode tocar a sensibilidade.
Quando os advogados querem livrar um réu da condenação, não vêm somente com as provas
que possam atenuar o seu delito, mas ainda procuram pintar com as cores da misericórdia o
sofrimento da família do seu constituinte, apelam, então, para o sentimento dos jurados, ora
procurando penetrar na sua razão, ora tentando bater à porta dos seus corações.
Assim, nunca se deve esquecer, que, ao lado das brilhantes provas, devem-se acrescentar as
imagens que arrebatam ou comovem.
Os mais fortes argumentos, como também as mais arrebatadoras imagens, devem apresentar-
se na peroração para maior triunfo do discurso.
Devemos chamar ainda a atenção dos estudiosos do assunto que a retórica serve-se muito da
lógica, mas dela se difere pelos meios e pelo fim; a lógica, que tem por finalidade convencer, trata de
demonstrar a verdade através de argumentos sólidos, ao passo que a retórica, que tende a agradar e
a comover, põe em segundo plano a convicção, embora não deixe de lado a persuasão, razões que
devem levar o orador a aliar a retórica e a lógica, como a base do seu talento, seja ele um advogado,
um administrador, um conferencista ou um orador político.
A arte de argumentar logicamente e de convencer pela lógica, pode, muitas vezes, bastar aos
juristas, cujo cuidado é a revelação das leis jurídicas, dos seus fundamentos e das suas consequências
práticas. Por tal meio, os juristas podem desmascarar os erros ou os sofismas e suportar as séries de
discussões e controvérsias que terão de enfrentar no decorrer de um processo.
Na demonstração dos nossos pensamentos e das nossas opiniões, o primeiro cuidado que
devemos tomar é contra os possíveis erros no exposto do que supomos razoável: o falso raciocínio
pode levar-nos a uma queda. É preciso afastar o duvidoso do certo, o nebuloso do claro, o irreal do
verdadeiro.
O ser humano de bom senso, sempre cuida de exprimir julgamentos seguros; para julgar
seguramente, é preciso discernimento e sagacidade a fim de lobrigar94 de longe o caso das aparências,
por isso tem de cultivar as suas faculdades lógicas.
Na argumentação não pode pairar o espírito da contradição: o lógico esperto sabe distinguir o
verdadeiro do falso, não se deixa levar pelas aparências ilusórias, aprecia a autoridade legítima,
orienta-se por opiniões medidas, julga religiosamente o valor de todas as coisas. Não se deixa levar
por afirmações solenes, por hábeis slogans, pelas argúcias de toda a espécie que visam apenas a
impressionar ou a fazer rodeios, sem qualquer fundamento ou verdade; argumentar afina a
inteligência, amplia o espírito, regula a sensibilidade.
O hábito do pensamento lógico torna fluído o espírito e tempera o caráter; engendra a
confiança e conduz ao domínio de si mesmo, condições primordiais do aperfeiçoamento individual e
da influência social.

94 Lobrigar – 1. Ver a custo; ver indistintamente; entrever; perceber, bispar. 2. Ver por acaso. 3. Ver longe. 5. Notar, perceber, entender.
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A maestria na arte de argumentar favorece a posse de si diante do público, tanto mais que
aquele que cultiva esta arte, aprende a descobrir os pontos da sua formação de orador e a corrigir o
que percebe de errado.
A convicção raciocinada impregna o espírito de tal forma, que mais dificilmente pode destruir-
se: é o produto de um trabalho minucioso do pensamento lógico. Cresce com a confirmação das
provas, firma-se pela certeza da verdade que encerra, passeia pelo campo da inteligência e conhece
os segredos dos páramos95 do espírito; sabe pisar com calçados de veludo os sutis atalhos da
sensibilidade.
Como se pode ver, a arte de convencer exige uma preparação toda especial, principalmente,
do perfeito conhecimento das diferentes formas psicológicas da convicção.
Para que a convicção se implante definitivamente no espírito dos ouvintes, é necessário dar-
lhe o sentimento que transportam consigo mesmo no germe desta convicção e que nenhuma outra
influência senão o seu próprio raciocínio a provoque.
Durante o exercício da arte de convencer, importa estudar a suscetibilidade do interlocutor ou
do auditório, pois, a dureza, a intransigência ou a violência provocam no público reações psicológicas
de defesa que destroem o efeito dos melhores argumentos. Em razão disso, o orador precisa conciliar-
se com o ouvinte: ser modesto, comunicativo, bem informado, moderado, não exercer pressão mental
nenhuma, lembrar-se de que algumas vezes a razão não se exprime unicamente pela força do
raciocínio, mas pelo carinho, pela dedicação e pela compreensão do saber alheio.
Precisa variar os métodos de argumentação para cada tipo de interlocutor ou para cada espécie
de público. Os argumentos podem apresentar o mesmo fundo, mas de forma diferente, de acordo
com os que terão de ouvi-los. O orador precisa conseguir uma eloquência apropriada ao
temperamento e à mentalidade dos que devem escutá-lo, reconhecendo, de pronto, sinais que
identifiquem como é o caráter e o estado da alma dos ouvintes, pois não é possível influenciá-los nem
os levar a uma decisão ou a uma persuasão, sem que lhes cative a atenção ou lhes atraia a confiança.
O conhecimento da psicologia torna-o apto a evitar-lhe o choque de um pensamento expresso
sem deferência, um argumento produzido com uma franqueza brutal.
Quem quiser ter sucesso na arte de convencer, não deve conceber a convicção sob uma forma
única, mas juntar à arte de argumentar a de insinuar, de incitar, de aconselhar, utilizando a sugestão
verbal da qual se impregna pouco a pouco o subconsciente das pessoas que estiver tentando
convencer.
O bom orador não pode deixar de saber que a demonstração da verdade de uma proposição
contestada ou contestável, só se faz pela argumentação ou pela posição de argumentos em torno de
uma proposição incontestável ou tida como indiscutível. Para isto, tem de aprender o método da
argumentação. Como é de praxe, a argumentação procede por dedução ou por indução.
A dedução tende a mostrar que a proposição contestada se deduz da proposição incontestável
pelo fato de nela estar encerrada (Parte-se do geral para o particular.).
A indução tende a mostrar que os elementos da proposição contestada são semelhantes aos
da proposição incontestável, o que deve conduzir a um resultado análogo, ou que esses elementos
são desiguais, o que deve produzir um resultado inverso (Parte-se do particular para o geral.).
A argumentação por indução é aplicada em matéria de questões de fatos, para tirar as
consequências de um fato conhecido em face de um desconhecido; já a argumentação por dedução
emprega-se, sobretudo, para tirar as consequências de um fato, de uma lei ou de um regulamento de
direito estabelecido em termos formais.
3.12. Principais formas de argumentação
As principais formas de argumentação são: o silogismo, o sorites e o dilema.

95 Páramo – 1. Planície deserta. 2. P. ext. A abóboda celeste; o firmamento. 3. Porção alpina dos Andes.

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Silogismo - é uma espécie de análise de um argumento formal, que consta de três proposições,
denominadas, respectivamente, premissa maior (também chamada regra), premissa menor (ou caso)
e conclusão (ou aplicação).
A conclusão segue sempre as premissas, de tal modo que, sendo estas verdadeiras, a conclusão
também, deverá sê-lo.
A maior e a menor constituem assim os elos do pensamento, tendo o cuidado de não serem
falsos para que não se quebre a corrente das ideias.
Sorites - é o raciocínio formado de uma sucessão de proposições encadeadas de tal sorte que
o atributo de cada uma se torna o sujeito da seguinte para, na conclusão, unir-se o primeiro sujeito
com o último atributo.
Dilema - é o argumento que coloca o adversário entre duas proposições opostas, deixando-o
vacilante na escolha.
Pode-se provar que o dilema não está correto, quando se mostra a possibilidade de introduzir-
se nele uma hipótese diferente das enunciadas através dele.
Para triunfar numa tribuna, o orador deve conhecer os princípios, os métodos e as formas de
argumentação. Deve aprender a organizar e a conduzir uma discussão segundo as regras da dialética.
Deve aprender a convencer através da demonstração, produzindo um efeito contínuo e progressivo
por meio de argumentos apresentados com método. Deve preparar o seu discurso de modo que esteja
à altura de responder a todas as objeções. Deve fazer valer as suas razões e intervir quando necessário,
sabendo colocar as respostas e as réplicas. Não pode deixar de descrever os estratagemas96 que
empregará para embaraçar ou derrotar o adversário nos detalhes públicos. Tem de descobrir os
artifícios dialéticos que os seus contraditores poderão vir a usar e ensaiar as melhores maneiras de
destruí-los ou torná-los inócuos.

96 Estratagema – 1. Ardil empregado na guerra para burlar o inimigo. 2. Fig. Manha, astúcia, artifício; ardil, sutileza; estratégia.

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Cap. 4. O auditório
4.1. Como enfrentar um auditório
O orador está para alcançar a tribuna ou subir em um estrado para dirigir-se ao público pela
primeira vez. Sabe que todos os olhares convergirão para si. Todos aguardam com ansiedade a ocasião
de ouvi-lo. Que fazer para evitar o fracasso?
Não ter pressa para começar. Cuidar bem da respiração. Lançar para o público um olhar
discreto, distinguindo rapidamente todo o auditório. Dizer a si mesmo que as pessoas ali reunidas não
o esperam para criticá-lo, mas que ouvirão atenciosas e benevolentes enquanto ele falará. Saberão
perdoar qualquer tropeço, caso não seja fluente por completo.
A partir do momento em que é anunciado, o orador deve ter em mente que todos os olhares
convergem para si. Tudo o que fizer – a partir de agora – será contabilizado pela plateia como a favor
ou contra o que disser em sua fala, porque acaba de ser composto um novo ambiente, como se fosse
um teatro: conforme ensina a Psicologia, na teoria da Gestalt, temos agora um cenário. Lá estão: a
figura (o orador) e o fundo (tudo o que está no ambiente).
O orador é a figura, e passa a ser o alvo da concentração visual e auditiva da plateia que o
aguarda, e deve, então, conduzir-se com naturalidade.
Para exercer o domínio do ambiente, deve agir da seguinte forma:
▪ Levantar-se naturalmente: nada de sobressaltos, demonstrações de surpresa, arrancos ou
pulos. Deve respirar lenta e profundamente, estender os músculos, endireitar o corpo e a
roupa, e começar a sua marcha com firmeza, olhando para a mesa diretora e para o percurso
a fazer.
▪ Ao caminhar, para o local onde irá falar, não deverá acenar para quem quer que seja, nem
dar tapinhas nas costas das pessoas que encontrar pelo caminho, mesmo que as conheça,
porque são comportamentos tidos como arrogantes: a plateia perceberá isso e desenvolverá
sentimentos antagônicos, a tudo que o orador disser, por julgá-lo, desde essas condutas
negativas, um ser humano vaidoso, ou, como diz o povo: de nariz empinado;
▪ Ao chegar ao local da fala, deve olhar para o fundo do ambiente, evitando olhar as pessoas
próximas, sentadas nas primeiras cadeiras do auditório, enquanto coloca os pés na posição
de “dez para as duas”, arruma os seus papéis, olha para a autoridade principal, respira
naturalmente e começa as saudações (dando início ao Exórdio);
▪ A partir daí, deverá concentrar-se na matéria do discurso. Fazendo assim, com bastante
naturalidade, os nervos irão se acalmando e o orador, pouco a pouco, irá adaptar-se ao
ambiente, sentindo-se confortável e como parte do mesmo, enfim, tendo o domínio de tudo;
▪ Não deve se esquecer de que não se deve falar em público de estômago vazio;
▪ Uma vez ditas com firmeza e segurança as primeiras palavras, o resto é fácil, e, quase
automatizado;
▪ O orador deve fazer todo o possível para não deixar transformar-se em perturbação física a
súbita apreensão que o assalta na estreia ou qualquer tropeço acidental que possa acontecer
no decorrer do discurso;
▪ Esforçar-se para conservar uma atitude calma e a fisionomia impassível, mesmo sentindo-
se perturbado inteiramente; não permitir que a sobranceria 97 exterior fique afetada,
mantendo o aprumo que o faz altivo perante uma assembleia silenciosa;
▪ Uma fala em determinado ponto do discurso pode ser esquecida pelos ouvintes, se mais
adiante o orador mostra suas reais e firmes qualidades;
▪ Para vencer a indisposição, fazer uma pausa ante de retomar o encadeamento das suas
ideias;

97Sobranceria – qualidade de sobranceiro (1. Que está superior, acima de, que domina; proeminente. 2. Fig. Que vê ou olha do alto. 3.
Orgulhoso, arrogante. 5. Animoso, corajoso, ousado. 5. Que sobressai, ressalta, se distingue. 6. Em lugar elevado; em situação proemi-
nente.).

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▪ Falar como se estivesse diante de simples amigos, sem mímica propriamente estudada.
Espaçar sempre as palavras. Não se esquecer de respirar, de tomar alento, de fazer um breve
intervalo para depois caminhar para a vibração e o entusiasmo; e,
▪ Em vez de confundir-se com uma expressão enganosa, emendá-la simplesmente com um
“...ou, melhor dizendo...”, ou outra frase, que desculpe o senão anterior. Jamais pedir
“perdão” ou “desculpas”, palavras que diminuem e derrotam o orador, submetendo-o aos
que estão ouvindo o que diz.
Se o discurso for lido, nada de precipitações. Tratando-se de discurso, baseado em plano
resumido, o orador deve assegurar-se de que as notas, muito bem colocadas, servirão como o seu
melhor instrumento para o seu triunfo na oratória.
Estando tudo em perfeita ordem, com as páginas ou notas inteiramente escritas em letra
grande, e, numeradas ao alto e à direita - de modo que nenhum embaraço ao manuseá-las possa
causar qualquer constrangimento, o orador poderá assumir o seu posto com tranquilidade e
segurança. Começar o seu discurso em moderado tom de voz, para ir elevando-o aos poucos, de
acordo com a natureza e a substância da matéria proferida: um discurso iniciado em alta voz acabaria
por causar danos aos órgãos vocais do orador e por atordoar a assistência.
Os principiantes costumam exagerar na gesticulação. Mesmo tratando-se de um assunto
arrebatador, o cuidado com os gestos deve ser mantido para que estes não tentem falar mais do que
a própria voz, além de descurar os três pontos essenciais que o conduzirão ao êxito da sua oratória
iniciante: a respiração, a articulação e a observação.
Respiração - merece uma atenção especial: o orador não deve, por precipitação em seu modo
de falar, deixar que lhe falte o fôlego; para tal, já deverá ter adquirido o hábito da respiração
abdominal indicado anteriormente neste opúsculo. Assim, o seu órgão vocal disporá sempre de uma
grande provisão de ar, e dele poderá obter efeitos admiráveis, ainda mais se a natureza o favoreceu
com um bom órgão.
Articulação - o orador tem que observar a acústica da sala ou do ambiente em que irá falar a
fim de que as suas palavras possam ser ouvidas nitidamente, mesmo pelas pessoas colocadas ao fundo
do recinto.
Observação - o orador precisa identificar a posição dos ouvintes e reparar se alguns deles
manifestam qualquer gesto ou movimento que denote dificuldade de ouvi-lo; afinal, um discurso bem
ouvido, por ser bem pronunciado, já tem uma grande probabilidade para agradar.
A seguir, deve preocupar-se com o tom natural. Nada de dar ao discurso o compasso de uma
cantilena. Pronunciar um discurso não é o mesmo que recitar uma poesia. O orador necessita de
harmonia, mas não de uma harmonia sistematicamente medida: a maviosidade na oratória tem
circunstâncias e não medições.
Para não perder a serenidade, o orador deve falar consigo mesmo, manter uma espécie de
autossugestão, acreditando que nada o fará deter-se, que os ouvintes ali estão para prestigiá-lo e que
contará com a complacência de todos.
Não se preocupar em empolgar com as primeiras palavras, deve guardar-se para a peroração.
Antes de apresentar-se ao público, de acordo com o que já vimos anteriormente, o orador
principiante deve falar a um grupo de amigos, ou pessoas que estejam estudando com ele, os quais
poderão apontar-lhe os defeitos ou exaltar as qualidades, como fazemos nos cursos ministrados com
as nossas oficinas práticas.
O principiante deve fixar em seu pensamento, que ainda está distante da desenvoltura do
veterano da tribuna, que já vem desfiando o rosário da sua verbosidade há longos anos. Como
também, deve saber que não se começa pela perfeição; afinal, esta vem com o passar do tempo, e só
será alcançada se ele em vez de querer multiplicar as imagens, tratar de dar asas ao seu pensamento,
de fazer com que as ideias possam espalhar-se límpidas e serenas.
O principiante também deve ter em mente que o primeiro discurso é o passo inicial, numa das
mais difíceis artes do saber humano, e que toda caminhada começa pelo primeiro passo, evitando

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assim, ser tomado por qualquer manifestação de temor, procurar dominar, de pronto, os seus nervos
o mais possível. O poder que o orador exerce sobre as suas próprias reações emocionais permite que
se mostre plenamente desembaraçado diante do auditório, para dominá-lo e conquistá-lo, pois atrairá
a atenção de todos, graças à influência de sua atitude e ao tom da sua voz.
Com essa firmeza da alma e essa convicção através de uma voz devidamente controlada, uma
nítida articulação, uma fluência toda calorosa, eis o discurso palpitante, cheio de vida, irradiando
imensa e contagiante simpatia.
4.2. Ações preventivas para evitar o fracasso
A timidez provém de uma deficiência exagerada de si mesmo, do temor do fracasso, juntado
ainda ao amor-próprio excessivo, por não saber como retratar fielmente o que se fixa na sua alma.
Juntando-se a ela, temos o excesso de reflexão, a falta de concentração, a suscetibilidade e a
impulsividade formando os cinco defeitos - inimigos da segurança e do sangue frio – que podem levar
o orador ao fracasso.
O tímido, em geral, está mais disposto a compreender as ideias dos outros do que a impor as
suas. Ora, para alcançar o sucesso perante o público, o orador deve ser expansivo e dinâmico, pois só
assim fará aflorar em seu rosto e na sua voz os seus pensamentos e as suas emoções.
Não pense, pois, o tímido, que não poderá jamais ser um bom orador. Pelo contrário. O tímido
pode tornar-se um orador dos mais brilhantes, visto que o seu coração e os seus nervos conseguem
vibrar com força quando vencido o complexo de inferioridade que o paralisa e quando encontra o
necessário equilíbrio psíquico.
O tímido, na verdade, corre o risco de ser um orador irregular. O seu defeito caminha algumas
vezes a par da instabilidade psíquica, da alternação dos períodos de excitação e de depressão, e se
mostrará melhor orador na fase de excitação porque concentrará a sua fé ardente no que vai dizer.
O método do improvisador convém para exercitar o tímido a falar em público, com
predominância da preparação motriz aliada a uma documentação seriada e a um plano geral.
O excesso de reflexão acompanha a desconfiança em si mesmo, rompendo o equilíbrio
psíquico do orador e desagregando a sua personalidade.
Quando o orador fala em público ou quando prepara o seu discurso, os pensamentos
acessórios que não visam diretamente àquele fim, inquietam-lhe a mente, opondo-se aos que ele
emite mentalmente, para se adaptar ao auditório.
É preciso ser ousado e estar decidido à luta. Não vacilar, nem se apegar a futilidades, mas
lançar-se ao ataque, fascinado pelo fim, e sonhar apenas em atingi-lo.
A falta de concentração é outro grave defeito que pode travar a quem se dedicar de maneira
débil à arte da oratória. O orador deve capacitar-se, reunindo todas as suas forças físicas e mentais
para aplicá-las a um só objetivo: o que não serve para o seu desígnio não deve existir para ele. A
dificuldade de controlar os seus gestos e fixar o seu espírito é fatal: ele se desune, perturba-se e perde
o fio do seu discurso.
Para firmar a atenção e desenvolver o poder da concentração mental, o estudioso de oratória
necessita praticar a arte de definir as palavras e os termos, e de exprimir-se claramente, sinceramente,
francamente, sem qualquer artifício: para demonstrar a concentração é preciso saber escutar,
pacientemente, oradores em público ou pessoas em particular, para educar a memória auditiva e
aprender a observar tudo com minúcia, com perseverança. Registrando passivamente as ideias e as
sensações que lhe vêm do exterior e pode confiar ao subconsciente os trabalhos acessórios e
concentrar o seu espírito em assuntos importantes.
O poder mental - o poder de concentração - permite constituir a reserva de energia
indispensável à preparação motriz e à ação oratória.
A suscetibilidade é um defeito que se opõe à calma, ao sangue frio, à presença de espírito; está
ligado à convicção, verdadeira ou falsa, de uma inferioridade secreta ou do cuidado de mantê-la
guardada.

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O suscetível é um neurastênico98 que se irrita com toda a crítica porque tem pouca confiança
em si mesmo, vivendo exageradamente preocupado com a aprovação dos outros e subjugado por um
orgulho maléfico. O orador tem que livrar-se desse defeito, aprendendo a participar da opinião de
outrem e a reconhecer, sempre que possível, os seus erros ou as suas fraquezas, já que ninguém nasce
perfeito. Usando frases curtas e corretas estará pronto a responder sem perturbar-se ou precipitar-
se, como também, não se deixará impressionar pela vozeria ou pela ironia dos contraditores; os que
assim fazem tornam-se ridículos porque não dominam o seu sistema nervoso.
A impulsividade revela-se pela propensão a falar de maneira estrondante, a exteriorizar tudo
o que vem ao seu espírito, a bradar a cada surpresa de menor importância, a comentar sem análise
alguma, tudo o que lhe aparece aos olhos, acarretando-lhe tropeços prejudiciais, defeito que denota
um fraco poder de concentração mental, uma tendência à sufocação da atenção. Isso tudo pode
conduzir o orador ao desgaste da energia vital, à depressão nervosa nos momentos críticos, à perda
dos meios e à desordem quando teria necessidade de fazer prova de calma, de firmeza ou de
habilidade para persuadir, convencer ou sustentar a contradição.
A impulsividade verbal suscita falta de jeito e ressentimentos, por ausência de tato e de
medida; ela arrebata toda a autoridade do orador que não a domina.
Vamos, pois, enfrentar o público. E o medo? Que fazer? Eis o melhor dos conselhos: para
vencer o medo é preciso superar os efeitos psicológicos e contrair o que ele engendra e fazer crescer
sempre o hábito combativo e resoluto que denota a confiança em si mesmo. Isso se consegue pelo
estudo e pela prática.
4.3. Conhecer o assunto e ensaiar: segredos do sucesso na tribuna
Para falar em público sem apreensão e temor, é preciso, antes de tudo, conhecer bastante o
assunto que irá expor. Com exercícios cuidadosos, o principiante evitará todos os senões para poder
falar sem agitar-se diante de qualquer auditório, para adquirir o desembaraço no linguajar e nos
próprios gestos. Assim, quando estiver falando com uma só pessoa, seja em tom de explanação, seja
em tom de debate, deve usar a linguagem conveniente, vendo naquela única pessoa o público que
terá de enfrentar em alguma ocasião.
Antes de enfrentar um auditório, o orador deve falar para uma roda quase exclusivamente
formada por pessoas conhecidas e amigas.
Não se pode falar ardentemente sobre um assunto sem se ter por ele um entusiasmo, uma
paixão, sem com isto sair da sinceridade, porque os artifícios são, sempre, desastrosos.
O estudioso da oratória deve manter sempre na memória uma provisão de ideias gerais, de
locuções, de torneios para quaisquer ocasiões, a fim de servir-se de tais recursos que o desvencilhem
de qualquer embaraço. Deve preparar-se com muito cuidado, mas sem preocupação exagerada, não
pensando demasiadamente em seu discurso ou em sua palestra de maneira que lhe turve todos os
passos, principalmente na véspera da sua estreia.
Para o sucesso bater à sua porta, recomenda-se, que nos dias próximos daquele em que irá
usar da palavra, deverá comportar-se do seguinte modo:
▪ Após ter estudado o conteúdo durante alguns dias, o orador deve procurar distrair o espírito
com suaves recreações a fim de manter-se calmo, de não excitar o sistema nervoso, de
conservar a energia verbal; para isso, aconselha-se a marcha rápida ao ar livre com respirações
profundas; e,
▪ Fazer um dia de dieta hídrica, de acordo com o seu temperamento: água pura ou um chá preto
simples, bebida neutra, excelente para controlar a emoção que brota nos intestinos (órgão que
muitos estudiosos identificam como o verdadeiro cérebro do corpo, porque pode dar início a
algumas situações inseguras ou vexatórias). Também são recomendadas as frutas frescas, e

98
Neurastênico – aquele que sofre de neurastenia (1. Psic. Estado neurótico caracterizado por astenia, cefaleia e irritabilidade. 2. Pop.
Mau humor com irritabilidade fácil.).

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jejum parcial para desintoxicar o organismo e outras que já esteja habituado a fazer para
dominar o sistema nervoso. No entanto, deve lembrar-se, sempre, de que não deve tomar
qualquer remédio!
4.4. Preparação motriz antes de usar a palavra
O orador deverá cuidar, minuciosamente, do preparo de um discurso que não será lido.
Estabelecer as notas sumárias que utilizará, começando pelo preâmbulo, que é a definição do assunto,
a exposição do que constitui o seu interesse, além das seguintes considerações que a ele se ligam:
fatos propriamente ditos ou oposição ao assunto; análise dos fatos, interpretação, comentários;
sumário das conclusões parciais; e, conclusão ou peroração.
Após ter feito isso, deverá atentar para os seguintes detalhes, que parecem simples, mas muito
importantes:
▪ Colocar as notas em cinco papéis de cores diferentes, numerados ao alto e à direita, em
formato cartão-postal, para divisá-las mais facilmente sobre a mesa de conferência ou
palestra, ou sobre a tribuna, escritas em letras grandes;
▪ Tomar a última refeição, duas horas antes de falar;
▪ Reler sumariamente as notas, uma hora antes do uso da palavra.
A preparação para um discurso deve ser intensiva, portanto, nunca será demasiado lembrar
àquele que se prepara para enfrentar a tribuna de que deverá:
▪ Exteriorizar simpatia, para ser bem acolhido e para não se emocionar em público; ser
agradável, fitar os ouvintes de maneira amistosa, e não com atitudes ou feições de
arrogante;
▪ Falar lentamente, com voz distinta, um pouco baixa no começo, mas que possa ser
percebida por todos os que estão no ambiente onde é feito o discurso, elevando-a com o
progresso do discurso;
▪ Estender o olhar para o fundo do local em que está;
▪ Aspirar bem depressa e soltar lentamente o ar sem o mínimo ruído que possa manifestar a
passagem entre a aspiração e a expiração;
▪ Não deixar cair sistematicamente o final das frases, pronunciando bem, as últimas sílabas;
ao abaixar o tom, ter o cuidado de fazê-lo sem ostentação nem afetação;
▪ Não concentrar a atenção sobre si mesmo para que não perca o fio das ideias;
▪ Não temer cifras ou estatísticas: deve tê-las à mão, para consultá-las, sempre que precisar
valer-se das mesmas, por serem muito convincentes, porém, deve ter o cuidado de verificar
e citar as fontes, que devem ser fidedignas;
▪ Na controvérsia, enunciar a sua opinião de modo sereno e sem apaixonamento;
▪ Não se deixar perturbar pelas interrupções. Prosseguir falando como se nada houvesse
acontecido. Quando se tratar de responder, a uma reflexão digna de interesse, deter-se um
pouco, e procurar esclarecê-la com sinceridade;
▪ Tratando-se do aparte a um absurdo, o melhor a fazer é derrubá-lo com um chiste99 que
provoque a hilaridade no auditório;
A tribuna não é lugar de suplício: não se sobe à mesma, carregando nos ombros o peso de uma
condenação prévia ou que possa ser feita no ato do discurso; o próprio ouvinte sabe o quão é difícil a
arte de falar, e, não irá apedrejar aquele que tropece na voz ao emitir os seus pensamentos, em geral,
apenas aplaudirá com mais força e entusiasmo aquele que conseguir fazer de um dos mais sublimes
órgãos humanos o instrumento com que elevará os espíritos e arrebatará os corações de todos que o
ouvem.

99 99 Chiste – dito gracioso; facécia, piada, pilhéria, gracejo.

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Cap. 5. Recursos adicionais da oratória


Qualquer orador pode perturbar-se em determinada parte do seu discurso, quando não estiver
lendo o que fala. Esse temor, de perder o fio do que vai ser dito, afasta muitas pessoas da tribuna ou
faz com que os principiantes fracassem na arte da oratória.
Um orador não pode ser precipitado em suas expressões, pois a calma para manter breves
intervalos no decorrer do seu discurso consegue levá-lo a encadear melhor as ideias ou a fazer as
consultas necessárias aos apontamentos.
Em geral, os oradores sentem-se chocados com essa espécie de vazio cerebral, especialmente,
quando, em meio à sua fala, a ideia condutora se esvai e arrasta consigo, em sua evaporação, todas
as consequentes. Nessas ocasiões, além do orador principiante poder fica aturdido, angustiar-se e
perder-se nas suas ideias, ficando perturbado, também pode deixar constrangido o próprio auditório.
Como resolver esta lacuna fatal? Bem, é só aplicar a técnica do retorno ao princípio. Quer ver
como funciona? Todos podem usar esta técnica. Para identificá-la, basta recordar um fato corriqueiro
que ocorre com qualquer ser humano que, estando na sala da sua residência, resolve ir até a cozinha,
buscar uma faca para cortar pão: ele levanta-se e caminha; ao chegar ao corredor, esquece o que ia
buscar... Então, qual é a saída para o descompasso da memória? Como recordar-se do que ia apanhar
na cozinha? É só retornar à sala (onde se deu a elaboração cerebral para ir buscar a faca) que a
memória se recompõe, imediatamente! Lembra-se de que ia apanhar uma faca de cortar pão, retorna
para o percurso que o levará até a cozinha, apanha-a, retorna à sala e prossegue o que desejava fazer.
De que modo o esquecimento passageiro foi ultrapassado? O que houve? Ora, os órgãos dos sentidos,
postos no lugar onde se deu o início do raciocínio – buscar uma faca – fizeram a recomposição do
ambiente onde o fato foi gerado pelo seu cérebro e a memória voltou a funcionar, normalmente!
Com a oratória também é assim: o orador esquece algo durante a sua fala ou percebe que irá
titubear? Pois bem, deverá retornar ao princípio (voltar à origem, ao início do discurso, como se fosse
aquela sala, onde estava quando resolveu apanhar uma faca na cozinha, lembra-se?)), dizendo,
calmamente “Sras. e Srs....”. Pronto! A memória recompõe-se... e o discurso prossegue.
Além desta técnica, que recupera a memória, o orador deve valer-se de algumas frases de
recurso, de torneios como dissemos antes, que cabem em qualquer circunstância oracional, aliviando-
lhe as dificuldades, até que possa retomar o fio da meada que se perdeu, ou seja, do seu discurso.
Como por exemplo, de uma frase que se presta a todas as digressões: “Não desejaria estender-me
muito em tais perspectivas, o que torna útil insistir ainda em algum tempo sobre este aspecto da
questão, mas isto me permite pontos particulares, especialmente sobre...”.
Outra frase procurando uma transição: “Haveria muitas coisas ainda a abordar sobre o ponto
que acabamos de examinar, contudo não desejaria abusar da benevolência com que me ouvistes até
aqui, sendo mais conveniente, portanto, tratar de outro assunto”.
Há, ainda, outro exemplo, com uma frase preparando a exposição de um argumento: “Há
coisas que todo mundo já teve a oportunidade de notar e que todos conhecem; mas para as pessoas
que não estudaram especialmente a questão, este conhecimento superficial pode ocasionar erros que
merecem ser prevenidos etc.”.
O orador deve possuir na memória muitas sentenças, refrões, provérbios, e de interessantes
episódios históricos, para favorecê-lo nas ocasiões necessárias. A introdução de tais citações para
cobrir uma lacuna no meio do discurso, juntamente com um comentário que o orador poderá fazer
em torno do trecho citado ou do próprio autor, propiciam tempo e serenidade ao que expõe um
assunto para retomar o fio do que estava para ser dito.
Para a prevenção de tais situações, recomendamos alguns exercícios de concentração mental,
como excelentes recursos auxiliares, como:
▪ Estudar um texto com um lápis na mão; resumi-lo e retê-lo na memória;
▪ Ler o texto por completo rapidamente uma primeira vez;
▪ Reler o texto atenciosamente, parágrafo por parágrafo, frase por frase, detendo-se após cada
frase para ter a certeza de que cada expressão, cada palavra está perfeitamente inteligível;
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▪ Desprender os olhos do texto após cada frase e repetir mentalmente a frase ou a ideia que ela
exprime; e,
▪ Ao final de cada parágrafo, deter-se e procurar lembrar-se fielmente, tanto quanto for possível,
do conteúdo do parágrafo. Esquecendo-se de alguma coisa, sublinhar as frases ou as palavras
mais importantes que foram esquecidas e depois, fazer um novo ensaio, até conseguir
rememorar exatamente cada parágrafo.
A concentração do espírito do orador, até alcançar o precioso estado de isolamento mental,
poderá ser obtida através de outras práticas:
▪ Exercitar-se a concentrar toda a atenção e todos os pensamentos sobre um objeto material
qualquer, colocado diante de si, durante um tempo, de dois minutos no princípio até cinco ou
dez minutos mais tarde;
▪ Não admitir senão ideias relativas à constituição e à utilidade do objeto, sem nenhum desvio da
imaginação;
▪ Desde a introdução de uma ideia estranha, retornar o pensamento a seu ponto de partida e
recomeçar o exercício;
▪ Exercitar-se na concentração mental sobre um pensamento, no lugar de um objeto, meditando
ativamente as ideias condutoras, principalmente, acerca das que podem mobilizar as pessoas,
capazes de sustentar a ação do orador no momento de arrebatar, de insistir, de persuadir ou
de convencer;
▪ Aprender frases e citações, de cor, para qualquer oportunidade, com um comentário eventual
referente à citação ou ao autor; e,
▪ Exercitar-se em seguida a introduzir frases ou citações no meio de qualquer assunto, de modo a
combiná-las com as das ideias diversas.
O estado de completo desapego das coisas exteriores, que consegue realizar praticando esses
exercícios, permite ao orador abstrair-se por um tempo de tudo que não está ligado ao discurso e
afastar as preocupações que a ele se prendem.
Quando se pode isolar assim, mesmo com a presença do público, obtém uma lucidez e uma
confiança em si, que reduzem quase a zero as possibilidades de fracasso e de temor.

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Cap. 6. As técnicas usadas em debates


A apresentação de um trabalho acadêmico, quase sempre, pode suscitar o surgimento de um
debate, pois o contraditório é próprio do mundo acadêmico: ouvir palavras pró ou contra aquilo que
se faz, escreve ou comunica é uma constante, e, devem ser esperadas por quem o apresenta.
Um debate científico é igual a qualquer outro, diferente, apenas, na utilização da linguagem
hermética. Assim, aquele que se propõe a comunicar algo no mundo científico ou acadêmico deverá
estar preparado para ser contestado em um debate público, onde as suas ideias serão confrontadas
por outras pessoas, que, além de dominarem o assunto em causa, dominam também, os meandros
da oratória.
Para que possa sair-se bem, o participante de um debate deverá saber que, quando qualquer
pessoa enunciar uma proposição, ou uma dúvida, acerca do que estava sendo apresentado, deverá
ser, de pronto, considerado como um oponente, porque está em desacordo com as suas ideias. A
partir disso, deve procurar ver se ela não está em contradição real ou aparente com qualquer outra
proposição já enunciada ou admitida, ou com os princípios que ele acolheu ou aprovou. Ou com as
ações das pessoas que sustentam os mesmos princípios (ou que lhe dão somente um apoio, aparente
ou dissimulado); ou ainda, com as ações pessoais ou a falta de ação do oponente.
Se o adversário acossa100 o defensor com uma contraprova, impede-se a ameaça adiantando
qualquer distinção sutil que não se manifeste de imediato, e pela qual a matéria em discussão pareça
assumir uma dupla face, ou possa ser tomada em sentido ambíguo.
Se o adversário tenta apresentar ao defensor uma objeção a qualquer ponto definido da sua
argumentação, e se nada mais tem a dizer, procura-se dar um rodeio geral à discussão; e então se fala
contra. Se o adversário quer fazer dizer, por exemplo, por que uma hipótese científica particular não
pode ser aceita, pode-se acusar falibilidade101 do conhecimento humano, e dar disso diversas provas.
Quando o adversário utiliza simplesmente um argumento especial, ou um sofisma que se pode
romper facilmente, deve ser refutado fazendo ver o seu caráter capcioso, opondo-se-lhe um contra-
argumento igualmente superficial ou falso.
Se o adversário intima o orador a admitir qualquer coisa cujo ponto em discussão deve provir
imediatamente, recusa-se a admitir a proposição declarando que se trata de uma petição de causa,
privando-se o adversário do seu melhor argumento: o auditório e ele próprio tenderão a considerar
uma proposição mais ou menos semelhante ao ponto discutido, como perfeitamente igual a este
ponto.
Se a contradição e a luta de ideias conduzem o adversário a exagerar o que apresenta, pode-
se levá-lo a estender a sua proposição além dos limites, nos quais pode ser verdadeiro. Em seguida,
refutando-se esta forma exagerada da proposição original, dá-se a impressão de que foi refutada
diretamente.
Se o adversário introduz na definição fundamental a verdade admitida, quando se procura
aplicar ou generalizar qualquer coisa que não é universalmente o verdadeiro, deve-se fazê-lo observar
que:
▪ Ou que o exemplo citado é realmente verdadeiro e está bem de acordo com a definição;
▪ Ou que parece apenas querer mostrar-se assim, e que convém fazer uma distinção precisa;
▪ Ou que o exemplo não convém ao caso particular, que não se aplica à definição admitida.
Uma resposta brilhante consiste em voltar ao oponente o seu argumento, para utilizar contra
ele a proposição que tende a apoiar.
Se o adversário tenta surpreender o orador, levantando-se com violência contra um
argumento, insistir sobre este ponto imediatamente, para fazer perdê-lo a calma, pois presumira ser
percebido o ponto fraco da sua tese.

100 Acossar – 1. Correr ao encalço de; perseguir; dar caça a. 2. Afligir, atormentar, apoquentar, estafar. 3. Flagelar, castigar.
101 Falibilidade – qualidade ou caráter de falível (aquilo que pode falhar).

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Se se deve fazer frente a uma asserção, um meio simples de se desembaraçar dela ou, pelo
menos, de fazê-la cair na desconfiança do auditório, é colocá-la em uma categoria pouco simpática,
mesmo se a relação com esta categoria é somente aparente ou quase despercebida.
Operando-se assim, tem-se por certo que: a asserção em questão é idêntica, ou mesmo
pertencente à categoria citada, pelo que se exprime qualquer frase explicativa; o sistema ao qual se
fez referência foi inteiramente refutado.
Se o adversário se abriga atrás de uma teoria bem demonstrada, responde-se-lhe que isto é
bem exato na teoria, mas não corresponde à prática. Assim se declara que há um erro na teoria, pois,
sem isso a prática confirmaria as indicações da teoria.
Se o adversário não responde diretamente a uma pergunta ou a um argumento, mas os ilude
com uma contra pergunta ou com um contra-argumento, ou uma resposta indireta, ou qualquer
asserção que não têm ligação com o assunto, tentando distanciar-se do orador, é um indício que
assinala a fraqueza do seu ponto, às vezes sem que ele o saiba. Prossegue-se então imediatamente,
aproveitando-se da vantagem, sem deixar o contraditor escapar-se do ponto em debate.
Se pela frente estiver um contraditor de grande saber e de forte pensamento, é preciso prever
de antemão as conclusões que quer atingir, de maneira a preceder a sua argumentação nascente,
ainda imperfeita, pelo que se colherá vantagem, nas interpretações.
Se o adversário é de espírito superficial e presunçoso, empregar-se-á a tática inversa: deve-se
deixá-lo falar e fingir admitir o que ele diz; se ele tropeça em suas explicações, não o ajudar, querendo
interpretá-las em seu lugar; a resposta será dada quando ele atingir o máximo do seu embaraço.
Se o adversário sustenta uma tese justa, mas produz uma prova não válida, ela é refutada e
afirma-se que foi refutada a tese inteira, o que faz triunfar o defensor se nenhuma prova exata for
imediatamente fornecida.
Se o adversário se torna pessoal e ofensivo, deve-se permanecer de sangue frio e se lhe dirá
com calma, que a sua argumentação não tem importância alguma para o que se discute. Reconduzir-
se-á logo a questão para este ponto, para demonstrar-se ao oponente que ele não tem razão, sem dar
atenção aos seus rodeios.
Para se preparar a discutir, é preciso estudar a questão dos dois lados, ou sob todos os seus
aspectos diferentes se ela comporta mais de dois, e tomar notas por consequência.
O trabalho do orador pode considerar-se meio feito se ele preparou os pontos particulares da
argumentação, assim como as suas respostas a cada um dos diversos pontos que poderiam ser
levantados pelos contraditores.
Em um debate geral, é bom que cada orador se limite, por sua vez, a três pontos da discussão,
e que tente responder somente a um, dois ou três dos pontos adversos.
Os três pontos do discurso principal - tese afirmativa ou negativa, segundo o caso - serão
expostos na ordem clássica: ponto bastante forte, com introdução para o público; ponto mais fraco;
e, ponto mais forte.
O assunto pode apresentar em realidade mais de três pontos, mas esses pontos devem ser
agrupados sob três rubricas definidas, pois é muito difícil para qualquer auditório se recordar de mais
de três pontos desenvolvidos.
Sendo limitado o tempo do uso da palavra, o orador deve estar seguro de conduzir o seu
discurso a uma conclusão efetiva no tempo que lhe é concedido.
As réplicas são abertas a todos os participantes após a pronunciação dos discursos principais,
PRÓ e CONTRA; e, cada participante está limitado a um discurso principal e a uma réplica na qual
nenhuma matéria nova pode ser introduzida.
Tudo o que pode ser feito, é responder a um ou vários dos argumentos adversos, e, também,
reproduzir sob uma forma sumária os principais argumentos da tese que se sustenta.
O presidente declara o debate encerrado quando a última réplica foi pronunciada.
Em um julgamento, isto se faz no local em que ocorre, ou após ter-se retirado o corpo de
jurados para a sala de consultas, onde deliberará.

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Às vezes, a assembleia vota, para estabelecer qual das duas teses triunfou, quando a questão
apresenta somente dois aspectos.
Nas réplicas, para convencer é preciso fazer apelo aos sentimentos, expor os argumentos
colorindo os fatos com uma tinta emocional, própria a fazer vibrar o auditório e deixar que a paixão
seja percebida na voz.
Há certas partes do discurso em que, para melhor efeito, não se deve elevar a voz, ela deve ser
abaixada, para que o orador a use com maior vibração nos casos necessários.
6.1. Como se deve proceder em um debate preparado
Sendo um debate entre diversas personalidades, verificam-se três aspectos: a proposição a
debater, colocada em ordem com o maior cuidado; o tempo concedido a cada orador para o discurso
principal, e o tempo determinado para as réplicas; as regras especiais do debate.
Nos debates de grupo, a equipe abrange de ordinário, três membros de cada lado. Concedem-
se 10 minutos para cada discurso principal, e 5 minutos para as réplicas.
Para um debate entre duas personalidades, concedem-se: 30 minutos, para a tese afirmativa;
40 minutos, para a tese negativa; 10 minutos, para a réplica afirmativa; 5 minutos para a réplica
negativa; e, 5 minutos, para o encerramento afirmativo.
O trabalho preparatório da equipe ou do seu líder, ou coordenador consiste em: recolher todos
os fatos concernentes a cada face da questão; classificar os fatos sob rubricas apropriadas, divididas
em fichas, com um índice de referência às fichas de modo a poder rapidamente utilizar-se delas no
caso de necessidade, durante o curso do debate; preparar o esquema detalhado do conjunto da tese
a sustentar, dividindo-a em três partes de importância sensivelmente igual se a equipe comporta três
membros, tendo um pouco mais de matéria o que fala primeiro antes dos outros dois.
O debate inicia-se com o primeiro orador expondo um ponto bastante forte da tese a sustentar,
ligando com o ponto o assunto do debate aos ouvintes, ou introdução; o segundo orador exporá o
ponto mais fraco das três partes do assunto; o terceiro e melhor orador exporá o ponto mais forte.
Abrindo o debate, o primeiro orador dirá: “Temos a intenção de provar” (enumeração dos três
pontos). Terminando, dirá: “Tentei provar” ou “Creio ter provado” (enumeração do primeiro ponto);
“Meus colegas provarão” (enumeração dos pontos 2 e 3).
O segundo orador lembrará, ao terminar, o ponto que provou, e anunciará que o ponto
restante será provado pelo terceiro orador, que resumirá o total em sua conclusão.
Assim, o plano da discussão será sempre mantido claramente diante do júri ou do auditório
durante toda a exposição de uma e de outra tese.
Para expor o primeiro ponto, o orador irá dividi-lo em três ou quatro partes. Do mesmo modo,
os oradores dividirão a sua questão em três ou quatro pontos.
Após o estabelecimento do plano definitivo, os discursos são escritos ou pronunciados segundo
as notas que figuram nas fichas, estando cada equipe munida ainda de respostas para todos os pontos
passíveis de discussão que poderiam ser levantados pela equipe adversa.
O primeiro orador CONTRA tem a necessidade de um ponto de contato com o auditório. O
primeiro orador PRÓ, que abriu o debate, teve de estabelecer esse contato. O primeiro orador
CONTRA, que se segue logo, encontra a ligação com o auditório no que foi dito pelo orador
precedente.
O cuidado do primeiro orador CONTRA é tomar qualquer parte do exposto pelo primeiro PRÓ,
e tentar refutá-lo completamente sobre um ponto ou dois, que estarão entre os mais discutíveis, sem
serem necessariamente pontos fortes. Isso é feito pela escolha de qualquer ponto que pareça definido
e colocá-lo, marcar uma pausa como se não pudesse ir mais longe; depois, elaborar a resposta
preparada para combater esse ponto; e assim por diante.
Problemas especiais requerem soluções especiais: para uma ou outra tese, afirmativa e
negativa, pode ser necessário introduzir primeiramente: um resumo histórico da questão; uma

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exposição dos fatos admitidos de cada lado do debate; e, uma definição dos termos utilizados na
proposição.
No trabalho preliminar de escolha dos fatos e dos argumentos, o que importa mais é pesar com
o maior cuidado o valor dos argumentos, sob o ponto de vista do auditório. Em particular, os
argumentos baseados sobre a autoridade só têm valor se o auditório confia e tem fé nessa autoridade.
O presidente do debate deve ficar neutro, falar o menos possível que a cortesia o permita, e
deixar os oradores em seu livre desempenho; ao cobrir a pausa entre as intervenções de dois oradores
sucessivos, deve ligar as suas personalidades e as suas teses, referindo-se ao que foi dito e
introduzindo o próximo orador sem entrar a fundo na questão.
6.2. O que a preparação pessoal exige do debatedor
▪ Estudo do assunto - examinar a fundo a questão a tratar, para encontrar todos os argumentos
e prever todas as objeções, que lhe poderão ser feitas, tomando notas, para evitar falhas da
memória, caso as circunstâncias o obriguem a isso e lançando no papel: plano sumário,
impressões, argumentos e provas, sem preocupar-se com os termos ou expressões.

Trabalhar sobre esta matéria colocando em ordem ideias e frases.


Produzir um efeito contínuo e progressivo ao apresentar os argumentos com métodos; expor
antes as provas mais convincentes, mantendo um forte argumento de reserva para emocionar e
cativar o auditório; introduzir em seguida as provas um pouco fracas e os argumentos de segunda
ordem.
Escolher bem as provas, de modo que jamais possa fornecer um argumento ao adversário, nem
fazer nascer uma dúvida no espírito dos ouvintes.
Para prever as objeções e dar-lhes resposta com sucesso, pôr-se mentalmente no lugar do
interlocutor e perguntar a si mesmo, neste caso, se não encontraria nada a dizer à proposição que se
defende.
Para um “sim”, formular a objeção em voz alta; depois cuidar dos argumentos sobre o ponto
fraco, ou modificar a forma ou o fundo do que se tem a intenção de sustentar.
O contestador cauteloso sabe examinar as proposições sob vários ângulos; ele não quer vê-las
somente do lado que agrada a seus desejos ou do lado defeituoso; ele sabe fazer a parte das coisas.
O estudo do assunto envolve a compreensão de que o poder do raciocínio é o resultado de
ideias claras e distintas; uma composição sem defeito, com argumentos convergentes e fortemente
encadeados; da qualidade das transições; e, da presença constante da ideia condutora.
Tudo isso pode ser alcançado através das seguintes ações: redação resumida das notas
definitivas a utilizar na reunião, notas nas quais uma ou duas palavras típicas lembrarão um
desenvolvimento e onde quaisquer frases curtas servirão de guias e de apoio para dar segurança ao
discurso; resumo das transições com uma palavra sublinhada a fim de não pronunciar, ao esquecê-las,
um discurso crivado de tropeços.

▪ Preparação motriz - dois dias antes de afrontar o debate, deverá reunir e concentrar a força
nervosa que garantirá a segurança em público e o poder intelectual, repousando e
alimentando-se de modo adequado, evitando toda a perturbação mental, toda a satisfação do
desejo impulsivo e guardando o silêncio cada vez que for tentado a discorrer inutilmente.

Com as anotações à mão, deve falar para si a respeito dos pontos importantes do discurso,
voltando ao trabalho várias vezes sobre o mesmo ponto sem ser obrigado a empregar os mesmos
termos.
Não cuidar de ler sempre as notas; tê-las na mão esquerda e lançar-lhes um rápido olhar de
vez em quando, dando sempre a impressão de falar abundantemente e de improviso.
Faltando cinco dias para a apresentação, deve consagrar uma meia hora, cada manhã, para
ensaiar.
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▪ Concentração e discussão - assimilar o sentido e o conteúdo de obras e documentos áridos;


analisá-los escrupulosamente, fazendo deles uma síntese concreta e concisa em linguagem
simples e direta.

Desenvolver a faculdade da memória exercitando-se a achar o lugar que o fato ou a ideia a


recordar deve ocupar no quadro geral da memória; depois, procurar a gaveta mental onde a
lembrança a evocar se encontra classificada (categoria ou seção) e a ficha correspondente (subdivisão
da gaveta): esta operação praticada sistematicamente, conduz a associações de ideias ou “ligações”
que enraízam profundamente as lembranças e as fazem surgir de um modo quase automático em caso
de necessidade.
Exercitar-se à exaustão, imaginando uma controvérsia, de maneira a litigar o PRÓ e o CONTRA.
Descrever antes os defeitos ou inconvenientes de um objeto; depois, as suas qualidades ou
vantagens, impelindo para o mais longe possível a contradição, empregando sempre frases elegantes
e concisas. Em seguida, discutir com o mesmo espírito, a propósito de uma ideia, sustentando o PRÓ,
depois o CONTRA, cortesmente, com uma insistência calculada, utilizando argumentos obtidos por
uma classificação prévia das ideias, tirando de cada uma tudo o que puder resultar em um sentido ou
noutro.
Imaginar frases agressivas ou um desmentido brutal, e procurar dar a resposta com fleuma,
empregando expressões impregnadas de urbanidade, tais como: “Sua memória não está sendo muito
exata.”; “Creio que foi mal informado.”; “Pode ser que tenha razão em um certo sentido” etc.
O ensaio dessas técnicas, para serem observadas para os debates, recordará ao orador, uma vez
que, não se deve entrar em uma arena sonora da palavra, levando apenas a lança pontiaguda para o
ataque (o discurso), sem o forte e inflexível escudo para a defesa (os argumentos).

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Cap. 7. O desafio da palavra eficaz


7.1. A oratória circunstancial: a palavra em todos os ângulos da vida humana
Falar bem não é arte que se aprende apenas para os discursos, as palestras e as conferências.
A palavra, quando sábia e brilhantemente usada em qualquer circunstância da vida humana, consegue
abrir largos caminhos para aquele que a emite.
Quanta irritação nos causa um indivíduo que fala mal, pronuncia defeituosamente, tropeça nas
sílabas, corta os vocábulos, esfacela os pensamentos, abandona a gramática. Estas palavras fazem
você lembrar-se de alguém que procede assim?
É muito agradável ouvir em qualquer lugar, em qualquer ambiente, a pessoa que sabe
entabular uma conversa, deixando-nos encantados da primeira à última frase.
Até mesmo ao telefone, a voz que vem pela distância, nítida e bem timbrada, transmitindo
notícias ou tratando de negócios, com frases bem-feitas e harmoniosas, de maneira serena e polida,
faz com que não sintamos o menor enfado durante o tempo em que nos ocupamos naquele aparelho.
Exprimir-se através do telefone é tão importante como tratar com o interlocutor de viva voz. Muita
gente há que não sabe servir-se corretamente do telefone, por esquecer-se do principal - a cortesia!
Em geral, a Oratória Circunstancial é aquela praticada, com muita cortesia, nas seguintes
situações:
▪ Apresentando pessoas - há pessoas que se embaraçam quando são obrigadas a apresentar
alguém em público, coisa que pode ser feita sem maiores complicações.

O apresentado não é conhecido do público - basta cercá-lo de pormenores que o tornarão


simpático, excitando a curiosidade dos ouvintes sobre ele o mais possível: “Senti-me muito honrado
ao ser convidado... para apresentar-vos um dos educadores de reais méritos, desses poucos que ainda
existem num mundo que abandonou a sublime virtude da abnegação, em troca do maléfico espírito
de ambição que assola a humanidade atual. Seu nome não conquistou lugar mais largo entre outros
ilustres, não por falta de luminosidade, mas porque sempre se escondeu no manto da sua própria
modéstia. No entanto, a sua obra está cada vez mais radiante, pois, foi ele que... (passa a citar o que
o apresentado fez ou possui de notável)”.

O apresentado é conhecido do público - o orador que o apresenta pode ser breve e apenas tratar
de alguns pormenores inéditos sobre ele, de modo a prender logo o interesse dos ouvintes,
começando da seguinte maneira - “Estou surpreso, e o mesmo havereis de sentir quando eu vos disse
que o Sr.., que nos falará daqui a um momento sobre... (especificar o assunto) tem ainda a seu favor...
(contar o detalhe inédito e pitoresco, talvez fornecido pela pessoa apresentada, e terminar como se
segue): Vede! Pensa-se que se conhece perfeitamente alguém, acha-se que tudo já foi dito através da
imprensa e do rádio sobre uma figura tão célebre, como a do Sr. ..., e de repente, sem mais nem
menos, com duas frases se descobre um aspecto não percebido de sua personalidade.
É com elevada honra, que lhe passamos a palavra, persuadidos de que nos estão reservadas
outras agradáveis surpresas, nesta noite especial.”.

▪ Como devemos responder a alguém que faz a nossa apresentação - “Estou confuso para
agradecer às gentis palavras que meu prezado amigo ...... teceu em torno da minha modesta
pessoa. Quisera, eu ter, na verdade, os predicados com que tentou ele enriquecer a minha
pobre figura. Todavia, para que não vos decepcione, deveis relevar o seu exagero, em nome
da nobre amizade que nos une. Dizendo-vos isto, ponho-me agora à vontade para tratar do
assunto que me traz a esta tribuna, perante tão seleta e distinta assistência.”, a seguir, fazer
as saudações que antecedem o preâmbulo do discurso: “Sras. e Srs. etc.”.

▪ Apresentação própria - “Sendo esta, a primeira vez que tenho a subida honra de proferir uma
conferência nesta cidade, como presumo que não estaríamos mais à vontade sem que eu
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fizesse, obrigado pelas circunstâncias, a minha própria apresentação, apresso-me a declara-


vos que... (citar algumas das atividades que exerce.)”.

▪ Apresentando uma festa ou um espetáculo - muitas pessoas se embaraçam numa simples


apresentação de festa ou de qualquer espetáculo. Ora, não é necessário um discurso comprido.
Urge brevidade no caso. Os espectadores aguardam ansiosos a festa ou o espetáculo, e não
estão ali para ouvir uma peça oratória, de grande tamanho, que causará enfado e empanará o
objetivo principal.
Pode-se bem começar por uma das frases comuns: “A festa (o espetáculo) a que teremos o
prazer de assistir (ou de participar) merece um breve comentário. Primeiro porque (diz o motivo) e
em seguida por causa de... (faz assinalar um detalhe particularmente interessante).”

Quando se trata de um espetáculo em que participem amadores - deve-se agradecer a todos


pelos esforços empregados, dirigindo-se ao conjunto, ou a um por um, em caso de necessidade: “Sei
que não estou aqui para elogiá-los, uma vez que, fizeram tudo para merecer os aplausos de tão seleta
plateia, mas, não posso deixar de declarar que consagraram todas as suas horas livres, durante várias
semanas, para que este evento fosse realmente algo produzido pela generosidade e solidariedade, e
alcançando um bom êxito. Peço-vos, portanto, que lhes concedais as vossas palmas com todo o calor
dos vossos corações. Que se levante a cortina, e com ela suba o vosso entusiasmo numa forte ovação
aos nossos bravos amigos!” (e puxa os aplausos).

Dando as boas-vindas a alguém - a vida nos exige, a todo o momento, que apresentemos alguém
a uma ou várias pessoas ou a um grupo formado, como num auditório.
Para falar de uma pessoa que esteve ausente - deve-se proceder da seguinte maneira, seja no
decorrer da recepção em público, seja frente ao recém-chegado em meio de um pequeno grupo, deve-
se ir direto ao assunto: “É com grande alegria que apresentamos o(a) Sr(a)...”.
Uma pessoa que se acolhe pela primeira vez - o apresentador deve dirigir-se assim, no início:
“Com toda a satisfação vos recebemos entre nós e desejamos que esta visita se repita nas melhores
oportunidades, conforme deseja o calor de nossos corações.”.

Desculpando a ausência de uma pessoa - “Lamento ser obrigado a anunciar-vos que não
poderemos contar para esta solenidade com a presença de ... (o nome do ausente). Circunstâncias
forçosas de última hora impediram-no de aqui estar, o que para ele constituiu um desapontamento
não menos intenso do que o vosso. Todavia, o nosso nobre ausente, espera que sabereis ser
compreensivos, esperando tê-lo diante de vós em outra oportunidade.”.

Na ausência de um orador que estava programado para usar a fala - a apresentação do


substituto pode fazer-se mais ou menos assim: “O Sr...., cujos talentos todos conhecemos, irá então
assumir a palavra no lugar de... (o nome do ausente), pelo que solicito a todos os mais efusivos
aplausos de boas-vindas.”
7.2. As formas de agradecimento
Os agradecimentos, em geral, são dados sob a forma de uma resposta. Para formulá-los, deve-
se partir de um fato ou mais fatos no decorrer da alocução.
Há formas quase que universais, pois muitos as usam, mas devem ser evitadas, pela fragilidade
demonstrada. Quase todas têm a seguinte forma: “Não sei como agradecer... Sinto-me bastante
confuso diante de tantos elogios... Não mereço tamanhos encômios 102 etc.”.

102 Encômio – louvor, elogio, gabo.

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Quando se tratar de fazer o agradecimento, não pelo que foi dirigido a seus dons, mas, aos
benefícios de uma organização qualquer de assistência social ou coisa que a equivalha, o uso da
palavra deve ser feito em tom de gentileza sem insistir muito sobre o valor das ofertas, nem também
sem deixar de referi-las: “Esta festa chega a seu fim, mas, a satisfação se prolongará em vosso espírito
e fará eco no coração de outras criaturas, pois, graças à vossa generosidade, muitos desfavorecidos
da sorte terão seus sofrimentos amenizados. Em nome deles é que vos digo: muito obrigado”.
7.3. Alocuções no cotidiano empresarial ou profissional
Na vida cotidiana sempre há lugar para o uso da palavra; fala-se no âmbito de uma instituição
ou empresa, bem como em ambientes profissionais liberais, acadêmicos e outros.
Os exemplos que iremos citar aqui, referentes a alguns desses setores poderão ser adaptados,
com pequenas modificações, para quaisquer outros da vida.
No começo de uma reunião administrativa ou de um congresso, o orador deve ser breve em
vista dos outros previstos no programa.
Quase sempre, é chamado para pronunciar “algumas palavras” e, portanto, não poderá
estender-se, o que provocaria a impaciência dos ouvintes, além de considerar que ele não é o mais
importante, do que o próprio evento.
Dirá assim: “Sras. e Srs., em face da urgência das questões que temos de estudar, tratarei de
ser breve ao fazer a abertura desta reunião. Contentar-me-ei, em primeiro lugar, em vos agradecer
pelo motivo da vossa presença. Em segundo lugar, permiti-me que vos exponha a minha satisfação
por perceber que todos estão ansiosos para solucionar os problemas que aqui serão demonstrados.
Bem sabeis quão importantes são esses problemas. De sua solução depende (aqui faz o exposto,
embora sumariamente, do que se tratará no ambiente). Só o fato, senhores, da vossa solicitude,
atendendo prontamente... (cita o apelo), e só a alegria de ver a todos em entusiástica disposição
diante de vossas mesas, isto, Sras. e Srs., indica, de antemão, o êxito que irá alcançar esta reunião. Eis,
porque, sem maiores delongas, declaro aberta a presente reunião (ou aberto o presente congresso ou
simpósio).”.

Em uma reunião de empregados, pode-se dizer: “Prezados companheiros (amigos), é com o


máximo prazer que verifico mais uma vez o valor das nossas modestas, porém ativas reuniões, que
tanto vêm servindo a nossos interesses comuns. Estamos sempre aqui, porfiando ao lado dos anseios
de todos, procurando achar um caminho melhor para as nossas reivindicações, sempre pautando
nossas aspirações pelo direito, envoltos numa atmosfera de lealdade, de camaradagem e de ardente
entusiasmo.”.

Se houver ocasião para um brinde que se diga (após verificar-se se as pessoas presentes não
valorizam o uso de bebida alcoólica, por razões religiosas ou outras): “Em face do bom resultado,
venho fazer a saudação de praxe, erguendo meu copo (ou minha taça) e convidando-vos a esvaziar o
vosso (ou a vossa), por estar certo de que novos triunfos estarão nos esperando no porvir. Caros
amigos, brindo à prosperidade de todos, da nossa Pátria e da humanidade!”

Um aluno dirigindo-se a um(a) estimado(a) mestre(a), ao final de um curso: “Querido(a)


professor(a), meus colegas encarregaram-me de transmitir-lhe nossos sentimentos de grande
admiração e de eterna gratidão por tudo quanto o(a) Sr(a). fez por nós durante os anos em que
estudamos nesta acolhedora casa de ensino.
Atravessamos uma das fases, que podemos considerar ao mesmo tempo como amenas e
difíceis da vida, sob a luminosa orientação de um(a) mestre(a) que não se cansou um só momento de
nos ensinar as suas sábias lições e de ditar-nos seus proveitosos conselhos.

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Daqui levamos uma saudade imorredoura, jamais permitindo que a sua figura de modesto(a)
e fiel educador(a) se apague aos olhos de nossa alma, ainda que tenhamos de deslumbrar-nos diante
de todos os quadros surpreendentes da existência.
Os seus ensinamentos nos servirão de guia na sinuosa estrada do destino que está reservado
a cada um de nós.
É certo, caro(a) professor(a), que ainda não chegamos à última página do compêndio do saber,
mas levamos dentro de nós o impulso sublime que o(a) Sr(a). nos deu para a gloriosa escalada do
triunfo da inteligência.
É por isso que aqui estamos para agradecer-lhe sinceramente.
Em nome da turma, queremos repetir-lhe um sonoro muito obrigado!”.

Um discurso de felicitação pode começar com: “Está de parabéns o nosso notável amigo pelo...
(citar a causa). Viemos todos juntar a nossa alegria ao seu triunfo.
Trata-se de homenagear o mérito, principalmente de trazer o nosso abraço de felicitações a
quem soube vencer à custa de inauditos sacrifícios, visando largos e límpidos horizontes.
A nossa mocidade precisa de exemplos como este que acaba de dar-nos o nosso querido
conterrâneo, exemplos esses, que ficarão esculpidos em caracteres indeléveis na alma de todos, para
a edificação de muitas admirações e de muitos aplausos na posteridade.
Jamais ouvimos dizer que ele tivesse um instante de esmorecimento no calor das suas lutas,
que recuasse diante de qualquer obstáculo, que não deixasse de subir sempre com a mesma galhardia
até atingir um dos gloriosos píncaros da sua carreira. E aqui o temos diante de nós, com a sua atitude
modesta, com a sua serenidade de sempre, mas aureolado de um triunfo que traduz perfeitamente o
seu valor, que se tinge exatamente das cores dos seus talentos.
É por isso tudo, que lhe dedicamos as nossas palmas calorosas, nossas mais ardentes e justas
felicitações.”

Um discurso de despedida de um empregado que pediu demissão do seu serviço, em vista de


mudança para outra localidade, ou buscando um destino melhor. Ele pode dirigir-se aos seus antigos
colegas e ao seu chefe, manifestando a gratidão pelo ambiente acolhedor em que passara uma boa
parte de seus anos de vida, do seguinte modo: “Passei nesta casa longos anos, onde trabalhei
alegremente, ao lado de tão amáveis companheiros e recebi do meu bondoso chefe, toda a atenção e
todo o amparo.
Tenho de deixar este querido convívio pelas circunstâncias que só o destino inscreve no
colorido livro da vida, e não poderia fazê-lo sem que dirigisse umas palavras de agradecimento a todos
pela gentileza com que me cercaram e pela amizade com que me brindaram, sempre envoltos numa
atmosfera realmente saudável.
Parto com o coração guarnecido de saudade. Levo na minha lembrança os dias felizes que aqui
passei, aprendendo com os meus companheiros a nobreza da honestidade através do trabalho, do
cumprimento fiel dos deveres e da perseverança na luta, pois sou um ditoso e honrado ser humano
que não se cansa de amassar com o próprio suor o pão de cada dia.
Despedindo-me dos meus amigos e do meu chefe, não lhes digo adeus, pois lá para onde me
dirijo, ou em qualquer outra parte deste mundo, a minha casa estará de portas abertas para recebê-
los, se por acaso puder ser honrado um dia com as suas visitas.
Portanto, não lhes digo adeus, mas deixo agora a cada um dos meus amigos e a meu estimado
chefe o meu abraço de gratidão, e, os meus reconhecimentos sinceros pela carinhosa acolhida que
encontrei neste ambiente, durante todos os anos em que aqui lidei.”.

Em um brinde dirigido a um patrão, não deixa de ser uma situação difícil para o orador.
Estender-se em elogios? Não. Tem de falar com simplicidade e procurar ser sincero. Tomemos esta

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fórmula: “Sr..., esta homenagem que vimos prestar-lhes é fruto apenas do nosso reconhecimento pela
solicitude com que nos tem cercado em nossos trabalhos.
Não é preciso que eu ajunte bem as frases, que recorra aos mais coloridos ornatos da linguagem,
para expressar-lhe os nossos sentimentos.
Aqui estamos numa festa simples, singela, impregnada desta harmonia gerada pela confiança e
pela sinceridade que aqui mutuamente sempre manifestaram empregados e empregador,
principalmente numa hora difícil como a atual, em que tanto se fala de desajustes, de opressões, de
choques sindicais, de ganâncias e de insatisfações.
Nosso ambiente bem merece uma festa, como esta, que aqui estamos presenciando. Minhas
palavras nem conseguem traduzir o que se encontra no fundo da minha alma. O mesmo é sentido
pelos meus companheiros que me concederam tão difícil tarefa. Não temos outra atitude senão a de
pedir a Deus que continue a espalhar aqui a essência milagrosa da confiança, com que se engrandece
o nosso trabalho, com que se enaltece o seu zelo de chefe, com que se rejubila a nossa Pátria.
É com esse sentimento, que elevo meu brinde e peço a todos que façam o mesmo em honra do
nosso estimado chefe, com o calor dos seus corações!”.

Para agradecer felicitações: “Meus caros amigos, não sei como começar depois de ouvir tantas
cativantes e bondosas palavras que vieram alojar-se no fundo do meu coração.
Meu triunfo, na verdade, foi edificado sobre as mais duras pedras da luta, e muito devo ao
estimulo dos amigos, aos ensinamentos dos meus pais, à dedicação da minha querida esposa, aos
conselhos dos experientes, pois, nada poderia fazer se não me houvesse guiado pelas luzes que
iluminaram o meu caminho e fizeram resplandecer a meta que atingi.
Usou o orador de benevolentes palavras para comigo, mostrando quão nobre é o seu coração.
Também estou encantado, por esta entusiástica acolhida que me dão os meus amigos e a minha gente.
Só peço a Deus que jamais permita que minhas forças se esgotem enquanto eu puder trabalhar
para o bem da minha Pátria.
A emoção corta-me a voz, mas não posso findar esta breve alocução, sem dizer que saberei ser
grato, em todos os momentos da minha vida, jamais esquecendo este dia tão feliz, em que recebi de
todos, não só uma felicitação calorosa, mas um grande alento para o meu espírito cansado, porém
ainda altivo, sob as lutas que me guindaram à posição em que ora me encontro.”.

Discurso de reivindicação em que uma pessoa é designada pelos colegas para falar em nome de
todos, reclamando certas vantagens para a sua classe. Então, dirá: “Sr. diretor, escolhido por meus
colegas para vos expor as nossas aspirações, venho, antes de tudo, declarar-vos que não se trata de
vos trazer aqui um ultimato, mas sim uma tentativa para atingir um resultado satisfatório tanto para
um lado quanto para o outro.
Eis aqui a situação tal como se apresenta para nós: atualmente... (explicar claramente, indicando
os fatos, em primeiro lugar, depois os argumentos em ordem lógica para, terminada esta parte do
discurso, prosseguir): Não cremos que se trate de uma situação inexplicável. Estamos persuadidos, ao
contrário, de que o problema, tal como acaba de ser exposto, contém uma solução racional, e não
duvidamos de que sabereis compreendê-la após justo e perfeito exame.
Eis por que esperamos vossa resposta com confiança.
Eu vos agradeço, em nome de todos os meus colegas, pela atenção e pelo tempo que ireis
conceder-nos, tudo fazendo pelo melhor das nossas retas pretensões”.

Recusa de uma posição ou de uma honra - quando se recusa uma posição ou uma honra, deve-
se mostrar o motivo de tal ato e apresentar as escusas com toda a delicadeza. Assim, temos: “Srs.,
muito honrado me senti pelo nobre convite que me fizeste para ocupar .... (cita a posição ou honra).
No entanto, embora tenha de lamentar o meu gesto, não posso aceitar a dignidade com que vossa
gentileza me quis servir, em vista de ... (cita os motivos imperiosos).

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Srs., como vedes, não se trata de vos decepcionar nem de desdenhar tão alto galardão. Peço-
vos, pois, que lanceis vossas vistas para uma personalidade de maiores méritos do que para a minha,
para ocupar (indica a finalidade). Estou certo de que compreendereis a minha atitude, pelo que, mais
uma vez, vos agradeço imensamente.”.

Numa roda esportiva – para festejar o triunfo de uma agremiação: “Caros amigos, mais uma
vez, honrando a tradição das nossas queridas cores, os nossos atletas, sempre apoiados por uma
direção que os orienta com amor e entusiasmo, quer na parte técnica, quer na parte disciplinar,
colheram expressivo triunfo que há de ficar gravado em letras douradas nos anais do nosso clube.
No meio da ruidosa alegria que nos invade, cabe-me exaltar a galhardia com que estes jovens
sabem vestir as cores do nosso uniforme, tudo fazendo pela glória de um clube que já se constitui
como uma extensão da nossa família, a nossa pátria dentro da pátria, um dos ideais da nossa
existência, para a legítima glória dos nossos esforços.
Para eles os nossos calorosos aplausos. Brademos todos do fundo da alma: Hip! Hip! Hip!
Hurra!”.

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7.4. Leituras complementares


Os riscos de quem chega atrasado
Um orador não pode e não deve chegar atrasado, sob nenhum pretexto, ao local em que irá
falar, por correr o risco de não se sair bem (nervosismo, suor, cansaço, desinformação etc.). Ato
comum em nossa cultura, o atraso é algo sempre reprovável e fomentador de ânimos contrários na
plateia. Quando isso ocorre, quem está à espera, sente-se: desprestigiado, desrespeitado e diminuído,
podendo dar o troco emocional (fazendo barulho, não dando atenção ao que é dito, ou retirando-se
do local, acintosamente, logo que o orador retardatário começar a apresentar-se).
O ideal é que o orador sempre se recorde da “Gentileza dos Príncipes”, que vigorava na Idade
Média, época em que a maioria dos nobres era odiada, pelas situações sociais e econômicas vigentes,
impostas aos mais desvalidos da sorte. No entanto, muitos nobres foram amados, ou até mesmo
idolatrados, pelos exemplos que davam na vida e pelo que tentaram fazer pelos seus povos. Dentre
estes, a história registra os nomes de alguns que, ao se reunirem com o povo, fosse qual fosse a
motivação, sempre chegavam antes da hora aprazada. Daí, terem ficado para a posteridade, lembrado
pelos termos: “Gentileza dos Príncipes” ou “Horário dos Príncipes”, como uma salutar referência ao
carinho com que tratavam àqueles que iriam ouvi-lo ou participar de qualquer evento com ele.
Além dos riscos citados, e do ideal da conduta horária descrita, um orador que se atrase, pode
cair em outras desgraças: nem sempre podendo informar-se sobre o que já ocorreu, ou ainda,
recebendo informações erradas sobre o que já se passou, pode vir a ser motivo de grandes risadas
jocosas ou da depreciação pela plateia a quem o retardado temporal fale, além de provocar indizíveis
vexames.
Para melhor ilustrar o que afirmamos, recordamos um fato verdadeiro (como tantos outros
similares a que você deve ter assistido, ou que você já ouviu de alguém).
Certo dia, numa pequena cidade do interior do Brasil, a comunidade católica estava toda
reunida, ao entardecer de uma quinta-feira, no salão paroquial, a fim de prestar a última homenagem
para o velho e bom padre que se despedia do serviço sacerdotal, por ter alcançado a idade limite para
aposentar-se (70 anos).
As famílias haviam se cotizado para prepararem uma pequena festa de despedida, com direito
a: comes e bebes, discursos, placa de prata e outras coisas do gênero. Como o velho padre já estava
passado na idade, o mestre de cerimônias do evento estava muito preocupado, porque um político
local, que confirmara a sua presença, ainda não havia chegado: já eram 20h e a festa estava marcada
para iniciar-se às 19h e o velho padre dava sinais de cansaço e sonolência. Então, o condutor da
festividade consultou algumas pessoas e deu início ao que estava previsto. Falaram várias pessoas,
todas enaltecendo a figura e o trabalho do padre que a tudo assistia com um sorriso doce e com os
olhos já marejados pela emoção. Lá pelas tantas, com todos os presentes doidinhos para comer e
beber, o mestre de cerimônias pega o microfone e anuncia:
- Senhoras e senhores! É com muito carinho que chamo o padre X para fazer o uso da palavra. –
e seguiram-se muitos aplausos.
Os presentes aplaudiam o anúncio, com muito vigor, enquanto o padre se levanta. Parece
alquebrado pelo tempo, mas fica revigorado ao ser chamado. Afinal, não lhe sai da memória, o fato
de que, seria a última vez em que falaria para aquelas pessoas, a quem acompanhara por cerca de 50
anos. Segura o microfone, pigarreia um pouco, para limpar a garganta e começa:
- Prezados paroquianos, é com a alma plena de satisfação que escolhi este maravilhoso lugar
para... (e seguiu fazendo uma retrospectiva do que havia vivido com aquela gente boa).
Alguns minutos depois, o velho padre chega ao final do seu discurso, na peroração,
arrematando, para emocionar a todos os presentes, que o ouviam com toda a atenção:
- Despedindo-me hoje deste belo e acolhedor lugar, quero recordar como o tempo que passei
aqui foi importante para mim, para a minha vocação sacerdotal e para os desígnios de Deus. Logo no
meu primeiro dia de vigário da paróquia, recém-ordenado, fui surpreendido pela primeira confissão
que fiz: era um homem jovem, que me confessou ter feito muitas trapaças para conseguir dinheiro e
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poder, era casado e não tinha uma vida muito regrada, com alguns filhos gerados fora do casamento,
além de ser dado aos vícios da bebida e do jogo. Surpreso e inseguro acabei por fazer o que tinha de
ser feito na confissão: orientei o tal homem, rogando a Deus que o absolvesse, uma vez que havia
mostrado estar arrependido. No entanto, o que ouvi nessa confissão, fez com que, no dia seguinte,
bem cedo, tomasse o trem para a capital, onde expus ao nosso bispo, que não me sentia seguro de
querer continuar com a vida sacerdotal. Sua Eminência ouviu-me com toda a atenção e só me
respondeu o seguinte:
- Padre, Cristo veio por causa dos pecadores. Eu sou um pecador, o senhor também é, e está
nessa cidade, também por causa dos pecadores. Nós, temos a missão de orientá-los, rumo à evolução,
ao perdão, à vida eterna.
O padre passou o microfone da mão direita para a esquerda e prosseguiu na sua fala:
- Saí do Palácio Episcopal convicto de que aqui era o lugar onde iria lançar algumas sementes do
cristianismo e cuidar de algumas que já haviam brotado, mas estavam precisando de muitos cuidados.
– tomou um fôlego e concluiu:
- Foi por tudo isso que me dediquei a todos desta cidade. Mas, creiam-me: eu é que talvez tenha
sido perdoado e melhorado muito, como um ser humano temente e crente em Deus! Muito obrigado!
Os aplausos abafaram o choro e os soluços do padre, que puxou um lenço branco do bolso para
enxugar as lágrimas que lhe rolavam pela face, enquanto alguns garçons começaram a servir salgados
e bebidas para todos.
Comovidos pela cena de grande significado e entretidos pela comilança, ninguém percebeu que
aquele tal político, que fora longamente esperado, no início da festividade, para homenagear o padre,
havia chegado. Meio escondido, atrás do palco, ele faz sinais para o mestre de cerimônias,
demonstrando por mímica que desejava falar. Rapidamente, o apresentador da festa pega o
microfone e fala:
- Senhoras e senhores, o deputado Y acabou de chegar. Como estava previsto, ele irá dirigir
algumas palavras como a sua última homenagem ao nosso querido pároco.
O político, homem afeito a falar em público, mas arrogante, como a maioria deles, nada pergunta
sobre o que já havia ocorrido e apressa-se a dizer, enquanto sorri, nervosamente:
- Exmo. Sr. Prefeito,
- Ilmo. Sr. Padre X,
- Minhas senhoras e meus senhores!
- Boa noite!
- Grandes interesses do nosso município me retiveram na capital, mas, não poderia deixar de
estar presente a esta belíssima homenagem. Afinal, conforme o nosso homenageado me revelou há
dias, eu fui a primeira pessoa que ele confessou por aqui...

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Anexo
Exercícios de Oratória para eliminar a gagueira

A gagueira não é uma doença


A última parte deste opúsculo é dedicada ao estudo da eliminação da gagueira, que
durante muito tempo foi considerada uma doença.
Se você é portador de gagueira ou titubeio, ou se conhece alguém que sofre disso, deve
ter a certeza de que isso não é uma doença, é apenas, o resultado de uma grande pressa para
livrar-se das situações em que está exposto a uma ou mais pessoas que aguardam a sua fala.
Para livrar-se disso, podem principiar a leitura e a execução dos exercícios propostos neste Anexo
de Fundamentos de Oratória para falar bem e eliminar a gagueira (Exercícios de Oratória para
eliminar a gagueira).
Exercitando-se no que está proposto, começará a perceber que a gagueira está
relacionada, apenas, à formação da fala, que, por alguma razão humilhante ou que traz
recordações desconfortáveis, passou a ser formulada com extrema velocidade.
Os exercícios propostos irão fazer com que a fala deixe de ser muito rápida, e será
produzida em uma velocidade normal, anulando ou extinguindo a gagueira.
Tenha fé no Criador e em si mesmo: avise às pessoas com quem convive, sobre o que irá
fazer e pratique todos os exercícios. E lembre-se: nunca faça os exercícios em jejum, porque a
falta de açúcar e de outros elementos podem levá-lo a não memorizar ou a ter enjoo ou
desconforto, causados pela hipoglicemia (falta do verdadeiro açúcar no organismo).
Evite falar com outras pessoas sobre o que está fazendo, porque isso só aumentará a
ansiedade. Treine sozinho e verá que os resultados aparecem, diariamente, cada vez melhores e
com a sua leitura ou a sua fala sendo produzidas em velocidades normais, e, o que é melhor: sem
titubeios ou gaguejos!
Você que quer eliminar a gagueira deverá lembrar-se do que disse Thomas Edison (1847-
1931), o inventor da lâmpada: “A sorte do gênio é 1% de inspiração e 99% de transpiração.”.
A eliminação da gagueira será alcançada com muitas leituras e falas, muita alegria e
bastante suor! Só depende de você!
A partir de uns poucos dias você notará muitas diferenças no seu modo de falar ou ler e
eliminará a gagueira, completamente! Porque você está reeducando o seu cérebro e os órgãos
envolvidos na sua fala, em uma nova velocidade. Só isso!
Tenha fé, tranquilidade e exercite-se!
O sucesso será alcançado brevemente!

Casa do Recanto das Dunas Cabo


Frio - RJ - Outono de 2017

O autor

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Parte 1 - O cérebro, a fala e a gagueira


A pessoa portadora de gagueira ou de titubeação, não deve desesperar-se, achando que
não conseguirá apresentar-se para falar em público: grandes oradores e cantores sofrem ou
sofreram deste mal. Então, quais os recursos de que um orador se deve valer, para saná-lo?
A produção da fala - por mais simples que seja - exige a ativação e a conexão de diversas
redes de sistemas de neurônios, devendo ser compreendido como um processo complexo, e, da
geração à emissão das palavras, cada uma dessas redes contribui de forma única.

Localização da região cerebral em que se inicia o processamento da fala

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A gagueira é produzida por um choque psíquico-nervoso em face de uma intimidação, de
uma humilhação ou de um sentimento de inferioridade, real ou imaginário que afetaram aquele
que apresenta esta maneira de falar e que passou a portar um fenômeno identificado como
evitação (tem pressa em falar, para livrar-se do interlocutor ou do problema com que está sendo
confrontado).
Aquele que apresenta essa disfunção, pode readquirir a confiança no que vai dizer e afastar
essa situação que tanto o incomoda, se praticar exercícios para reeducar a articulação e a
disciplina mental, feitos no isolamento do seu lar, no modo como iremos descrever, mais adiante.
A gagueira é um transtorno da fluência verbal, aspecto da produção da fala que se refere
à continuidade, à suavidade e ao esforço físico e mental exigido pelo corpo e pela mente daquele
que fala. A fluência é definida como a fala de fluxo contínuo e suave, que é decorrente de uma
integração harmônica entre os processamentos neurais envolvidos na linguagem e no ato motor,
sendo a gagueira o transtorno da fluência mais comum, por se apresentar como uma
descontinuidade no fluxo da fala caracterizada por repetições de sons, sílabas, palavras, ou
frases, ou, ainda, como um prolongamento de sons, blocos, interjeições e revisões, que pode
afetar a velocidade e o ritmo da fala.
As disfluências podem ser acompanhadas por tensões físicas, reações negativas,
comportamentos secundários e a evitação de determinados sons, palavras ou situações em um
diálogo comum, ao telefone ou no uso da palavra em público.
A disfunção ou hesitação
A gagueira tem tipologias e graus diferentes: pode ser leve, moderada ou severa,
dependendo do número total de rupturas na fala (disfluências), do tipo das rupturas e da duração
das mesmas. Como se pode observar em um indivíduo que apresente essas características, um
bloqueio de um segundo na fala é bem mais leve que dez segundos, mas ambos são
compreendidos – por aquele que os produz - como uma eternidade!
Outro aspecto a considerar são os comportamentos paralelos apresentados pelo portador
de gagueira, tais como os aspectos físicos mais visíveis, como piscar os olhos incessantemente e
balançar a cabeça de forma rápida e repetitiva. Em geral, aquele que apresenta problemas na
fala é uma pessoa tensa que não tem consciência desses movimentos produzidos pelo seu corpo
durante a fala; ao adquirir consciência disso, ele principia a mudar a sua fala para uma situação
próxima do normal.
A disfluência ou hesitação já foi interpretada como um erro ou um defeito de fala.
Atualmente, sabe-se que fornece um tempo para o falante resolver as dificuldades
momentâneas relacionadas ao que falar ou ao como falar o que foi gerado em seu cérebro.
A disfluência ou hesitação está presente na fala de todos os que usam a palavra, não
havendo seres humanos falantes que jamais hesitem ou que jamais sejam disfluentes, embora
as situações da fala decorada ou da leitura ensaiada tendam a fazer com que as hesitações ou
disfluências diminuam muito quando há o prévio e o amplo conhecimento do texto. Os falantes
considerados fluentes apresentam uma baixa quantidade de hesitações ou disfluências.
Principais sintomas
Todos os oradores produzem disfluências, que podem incluir hesitações, na forma de
pausas silenciosas ou de interjeições de enchimentos de palavras, como ééééé...... ,
ahhhhh ...... ou qualquer outro tipo de pausa ou interrupção ao longo do discurso natural. No

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entanto, aquele ser humano que apresenta sintomas da gagueira apresenta essas disfluências
de modo mais acentuado, sendo os mais comuns:
▪ O uso mais frequente de palavras desconexas e interjeições, como: “tipo assim...,
então...., tá...., né. ?!”
▪ O prolongamento de sons, emitidos e mantidos por maior tempo do que o esperado,
como, por exemplo: “Popopodeeee me ajudar popopor fafaaavor!”.
▪ Ansiedade ou nervosismo excessivos para produzir uma palavra ou um som ao iniciar a
emissão de uma palavra, uma frase ou uma expressão; ou, ainda, para iniciar uma fala
corriqueira ou um discurso, devido às experiências que teve em sua vida, em semelhantes
circunstâncias, que deram origem a falas gaguejadas.
▪ Movimentos motores involuntários como: tensões faciais, tremores nos lábios,
descontrole da mandíbula, ou o piscar excessivo dos olhos, dentre outros.
▪ Perceptível redução na capacidade de comunicar-se com eficácia e naturalidade.
Outros transtornos de fluência
Além da gagueira, há outros dois transtornos da fala, que estão englobados dentro do
conceito da fluência verbal, são menos frequentes e pouco conhecidos: a taquilalia e a
taquifemia; ambos são relacionados à velocidade da emissão normal da fala (taxa de articulação),
elevada e suficientemente intensa, prejudicando a inteligibilidade da mensagem.
Taquilalia
É a articulação muito rápida da fala, em que a pessoa atropela as palavras e pode prejudicar
a inteligibilidade da mensagem. No entanto, a taquilalia não está ligada a qualquer disfluência
ou gagueira e não compromete a integridade do discurso.
Taquifemia
Apresenta os mesmos sintomas da taquilalia, mas o indivíduo que a produz apresenta
pouca consciência do distúrbio, da ampliação das hesitações e das disfluências. No entanto, a
taquifemia não deve ser confundida com a gagueira, um distúrbio multifatorial que tem muitas
outras características que compõem o seu quadro.
Os indivíduos que apresentam este transtorno também podem apresentar a troca de letras
na fala e na escrita, além de dificuldades para encontrar as palavras desejadas, confusões
sintáticas com um discurso confuso, dificuldade de leitura e escrita, desatenção, hiperatividade,
impulsividade, retardo no desenvolvimento da linguagem e no desenvolvimento motor.

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Parte 2 - Exercícios para eliminar o titubeio e a gagueira


Como reeducar os tempos da fala para eliminar o titubeio e a gagueira
A eliminação dos transtornos da fluência verbal deve considerar que a gagueira não é um
distúrbio emocional ou afetivo e sim, um distúrbio neuroquímico que afeta as estruturas pré-
motoras da fala. Portanto, deve-se reconhecer que a gagueira é produzida pela evitação, que é
um rapidíssimo lapso de tempo que o portador da gagueira leva para pensar, originar e produzir
a fala, com o objetivo de livrar-se, rapidamente, daquilo que atormenta o seu cérebro, ou para
livrar-se do seu interlocutor.
A rapidez que leva à evitação pode ser facilmente eliminada pela reeducação daquele que
apresenta esse comportamento. Para tanto, ele tem que considerar e administrar a
função/tempo da sua fala, que vai da sua inicialização (no centro do cérebro) até a sua emissão
(pelo aparelho fonador). A partir dessa consciência, ele deverá realizar alguns exercícios para
adotar uma nova postura física, visando estabelecer, propiciar e manter duas funções em dois
tempos, em sua fala: a Função 1/Tempo 1 e a Função 2/Tempo 2.

a) Função 1/Tempo 1 da fala


A partir da sua produção, a fala passa a ocupar o cérebro como um todo, até a sua emissão
final pelo aparelho fonador. Como o indivíduo portador de gagueira tem muita pressa, e está
mentalmente determinado a livrar-se do interlocutor pela evitação, para manter-se seguro de
si, produz essa emissão da fala com extrema rapidez, o que o leva a gaguejar. Essa produção da
fala ocorre como a Função 1/Tempo 1, e vai ser muito mais rápida do que o seria em condições
normais.
Para que ele possa evitar a produção e a emissão da sua fala com extrema rapidez deve
encostar, levemente, os dentes inferiores aos superiores e mantê-los cerrados, conforme mostra
a Figura 1, enquanto lê ou fala, movimentando os lábios para produzir as palavras.

Figura 1 - Os dentes inferiores levemente encostados aos superiores (cerrados).

b) Função 2/Tempo 2 da fala


Como está na Figura 1, o indivíduo que apresenta o titubeio ou a gagueira em sua fala, deve
encostar levemente os dentes inferiores aos superiores e mantê-los cerrados. Feito isto, deve
começar a falar, utilizando os lábios para articular as palavras, tomando a cautela de manter os
dentes levemente cerrados, porque esta ação, estará mantendo o cérebro ocupado com a
Função 1, no Tempo 1 e, deste modo, a sua fala, articulada pelos lábios, estará ocorrendo no
Tempo 2, evitando que apareça a evitação (aceleração das palavras para livrar-se do interlocutor
ou da sua fala), conforme está demonstrado na Figura 2.

Figura 2 - Articular as palavras com os lábios e manter os dentes,


levemente cerrados, para que não ocorra a evitação durante a fala.

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Exercício 1
No primeiro dia - Leia o texto abaixo, mantendo os dentes, levemente encostados
(cerrados).

A gagueira não é uma doença


A interrupção do fluxo verbal – popularmente conhecida como gagueira – está descrita nas
Sagradas Escrituras, ao relatarem que Moisés é um personagem lento de fala e pesado de língua,
exibindo com isso, um comportamento tal que evitava, constantemente, o uso verbal da palavra.
A gagueira é identificada em todas as etnias e culturas, ao longo da História Humana, com
diferentes taxas de prevalência ocorridas em diferentes épocas e povos.
A gagueira continua sendo mal compreendida e tratada por profissionais da fala, médicos,
professores e psicólogos, além dos próprios portadores das dificuldades em seu uso normal e
escorreito. Há muitas abordagens genéticas e neurobiológicas que nos fornecem importantes
pistas e caminhos a seguir para a sua eliminação, no entanto, até o presente momento, nenhuma
delas alcançou a plena eficácia, fazendo com que um indivíduo gago, fale corretamente, sem
qualquer titubeação ou repetição de sílabas.
Este opúsculo objetiva acrescentar um novo enfoque, que, por ser de cunho educacional,
pretende demonstrar a inserção de um processo de reeducação em cada portador da gagueira
ou da titubeação a fim de eliminá-las. Para isso, o indivíduo que gagueja ou titubeia deverá
desenvolver um processo próprio para reeducar a forma como elabora e emite a sua fala, que o
levará a uma situação de total normalidade, começando por leituras de textos, diariamente,
utilizando diferentes materiais auxiliares, a fim de criar os espaços de tempo necessários para a
elaboração e a emissão das palavras.

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Exercício 2
No segundo dia - Leia o texto abaixo, mantendo um lápis na boca com os dentes,
levemente cerrados, enquanto articula as palavras com os lábios.

Eu estou reeducando a velocidade e os músculos que utilizo para falar


Tenho que ler com muita paciência, porque estou pretendendo falar normalmente, sem
qualquer gaguejo ou titubeio. É por isso que faço exercícios para regularizar a velocidade e o traba-
lho dos músculos da fala.
Neste momento, faço exercícios de leitura utilizando um lápis: enquanto os dentes susten-
tam o lápis, mantêm o cérebro ocupado, dando-me tempo para emitir as palavras sem gaguejar. É
muito fácil e traz uma grande positividade à minha nova maneira de falar.

Figura 3 - Um lápis higienizado exerce a Função 1/Tempo 1


para as palavras serem formuladas e emitidas na Função 2/Tempo 2.
Como se pode ver na Figura 3, o indivíduo que apresenta a gagueira ou o titubeio em sua fala,
deve colocar um lápis higienizado dentre as arcadas dentárias (superior e inferior). Feito isto, deve
começar a ler ou a falar, utilizando os lábios para articular as palavras, tomando a cautela de manter
os dentes levemente cerrados, porque esta ação, estará mantendo o cérebro ocupado com a Função
1, no Tempo 1 e, deste modo, a sua fala, articulada pelos lábios, estará ocorrendo no Tempo 2,
evitando que apareça a evitação (pressa para livrar-se do interlocutor ou da sua fala).

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Exercício 3
No terceiro dia - Leia o texto abaixo, com uma rolha de cortiça mantida entre os dentes, en-
quanto articula as palavras com os lábios.

Eu estou reeducando os músculos que utilizo para falar


Tenho que ler com muita paciência, porque estou pretendendo falar normalmente, sem
qualquer gaguejo ou titubeio. É por isso que faço para regularizar a velocidade e a utilização dos
músculos da fala.
Neste momento, faço exercícios de leitura utilizando uma rolha. Enquanto os dentes susten-
tam a rolha, mantêm o cérebro ocupado, dando-me tempo para emitir as palavras sem gaguejar. É
muito fácil e muito bom.

Como está na Figura 4, o indivíduo que apresenta o titubeio ou a gagueira em sua fala, deve
colocar uma rolha higienizada entre os dentes, e começar a falar ou a ler uma página qualquer,
utilizando os lábios para articular as palavras, tomando a cautela de manter os dentes levemente
cerrados, porque esta ação, estará mantendo o cérebro ocupado com a Função 1, no Tempo 1 e, deste
modo, a sua fala, articulada pelos lábios, estará ocorrendo no Tempo 2, evitando que apareça a
evitação (pressa para livrar-se do interlocutor ou da sua fala).

Figura 4 - Uma rolha de cortiça higienizada exerce a Função 1/Tempo 1 para


as palavras serem formuladas e emitidas na Função 2/Tempo 2.

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Exercício 4
No quarto dia - Ler segurando um pregador de roupas de madeira, com uma figura presa pelas
hastes pressionadas por três dedos, à frente do texto, enquanto articula as palavras, normalmente.
Pegue um pregador de roupas de madeira, tamanho grande, conforme a figura abaixo e
execute o que é solicitado, logo a seguir:
1º Recorte a figura que está impressa, na última página deste opúsculo, com os dois pássaros
desenhados.
2º Segure o pregador (com a posição das hastes invertida e virada para o solo, conforme está
no desenho abaixo) por entre os dedos polegar, indicador e médio (da mão esquerda, se for destro,
ou da mão direita, se for canhestro).
3º Prenda o papel com o desenho, por entre a ponta das hastes que estão viradas para o solo,
e segure-as, conforme está demonstrado nas figuras 6 e 7, faça a leitura do texto “O Processo da Fala”,
que está na página 134, deste opúsculo.
Importante: o pregador de madeira deve ser mantido pressionado pelos três dedos, com as
hastes invertidas, à sua frente, para ser observado enquanto lê. A pressão exercida pelos dedos e a
visão da figura manterão o cérebro ocupado com o Tempo 1, enquanto a leitura se desenrola no
Tempo 2, anulando a rapidez da fala e a evitação.

Figura 5 - Pregador de roupas de madeira para ser utilizado nas leituras, com o papel preso
pela parte traseira, conforme está demonstrado nas figuras 6 e 7.

Figura 6 - Os dedos polegar, indicador e médio mantêm a pressão na parte de trás das hastes
do pregador, a fim de que o papel com os dois pássaros desenhados fique retido e sem cair.

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Figura 7 - O pregador de roupas com o papel visto por outro ângulo utilizando a mão esquerda
(se a pessoa que estiver fazendo a prática for direita) ou a mão direita (se a pessoa que estiver
fazendo a prática for esquerda) para segurar o pregador ao contrário, observando que os dedos
polegar, indicador e médio pressionem as hastes traseiras (ao mesmo tempo e com a mesma
intensidade), a fim de manter o papel com os dois pássaros desenhados retido e sem cair. A
pressão exercida pelos dedos e a visão da figura manterão o cérebro ocupado com o Tempo 1,
enquanto a leitura se desenrola no Tempo 2, anulando a rapidez da fala e a evitação.
Leia o texto abaixo, normalmente, utilizando o pregador de madeira seguro, à sua frente,
como está nas fotos, com a figura dos pássaros presa pelas hastes, voltadas para baixo, e mantidas
fechadas pelos dedos polegar, indicador e médio.

O processo da fala
O processo que se desenrola no organismo humano para ocorrer o ato de falar algo parece
simples e banal. No entanto, a produção da fala, no interior do cérebro, por mais simples que pa-
reça, exige a ativação e a conexão de inúmeras redes de neurônios, atividades que se acredita ocor-
rerem apenas no hemisfério esquerdo do órgão, no chamado “centro da linguagem”, no entanto, o
ato de desenvolver uma ideia e expressá-la por meio da fala é muito mais complexo do que isso,
por envolver o lado direito do cérebro.
A ideia prevalecente de que a produção do discurso ocorre apenas em um dos hemisférios
do cérebro é aceita desde o século 19, porque os estudiosos deste assunto começaram a compre-
ender melhor como o cérebro se comporta no processamento da linguagem e na formulação do
discurso, partindo da observação de pessoas que sofreram desse mal.
A partir dessas conclusões, a ciência confirmou que, embora interligados, a linguagem e o
discurso não são a mesma coisa: a primeira, relaciona-se com o ato de compreender e construir as
frases, e o discurso é o meio de verbalizar a linguagem. Ou seja, para falar o que está pensando, um
indivíduo precisa articular as áreas sensoriais e as motoras. Assim, o cérebro tem de combinar pa-
lavras, encontrar as frases mais adequadas a cada situação e mandar sinais para os órgãos da fala
se articularem corretamente, de forma a produzir o som – tudo a seu tempo.
A aceleração dos procedimentos descritos, a fim de que o indivíduo que gagueja principiar a
falar corretamente é através da leitura de textos específicos, e abaixo, damos alguns exemplos des-
sas leituras.
Ao desenvolver as técnicas de reeducação do modo de falar, acima descritas, aquele que
apresenta distúrbios da gagueira estará envolvido por uma técnica educacional que só depende de
si mesmo: deve querer eliminar a gagueira e sabe da importância dos exercícios propostos neste
opúsculo. Aos poucos, estará reeducando o seu cérebro e o aparelho fonador, quanto à velocidade
normal da fala – da criação das palavras à emissão

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Portanto, cada ser humano que aplicar as técnicas educacionais descritas perceberá que, em
pouco tempo, estará falando corretamente, como qualquer outra pessoa, que nunca tenha sido
portadora de qualquer dificuldade para falar.

Outras leituras da sua preferência podem ser feitas pelo modo que preferir: ou com os lábios,
mantendo os dentes cerrados (levemente), ou com a utilização do lápis mantido entre os
dentes ou com uma rolha mantida presa entre os dentes, ou com o uso do prendedor de
roupas.
Escolha a forma que desejar ou fale diretamente, sem a utilização de qualquer acessório. Confie
no que está fazendo! Prossiga firme!
▪ Quando julgar necessário, pare para repousar e marque a página onde parou.
▪ Assim que desejar, reinicie a leitura da página que estiver marcada e leia até o final.

Muito importante!

▪ Não faça os exercícios, citados neste opúsculo, na presença de crianças ou de pessoas


portadoras de deficiência, porque elas podem fazer o mesmo na ausência de adultos, e
causarem acidentes graves!

▪ Repita os exercícios.

▪ Quando terminar de fazer os 4 exercícios, combine com as pessoas com


quem convive, e passe a falar, os assuntos do seu dia a dia, no ambiente
aonde vive, utilizando:
- os dentes, levemente, encostados;
- o lápis por entre os dentes;
- a rolha presa pelos dentes;
- o pregador pressionado na posição descrita com a figura dos pássaros.

▪ A partir do quinto dia, continue a falar com as pessoas com quem


convive, mantendo, apenas, os dedos polegar, indicador e médio
pressionados (sem o pregador).

▪ A partir do sexto dia, comece a falar com as pessoas com quem convive,
normalmente, sem utilizar qualquer um dos acessórios.

▪ No sétimo dia, repita tudo.


▪ A gagueira está começando a ser eliminada!
▪ Parabéns pelo empenho! Você é um(a) vencedor(a)!

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EXTRATO DO CURRICULUM VITAE


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PRINCIPAIS CURSOS QUE POSSUI:

- Licenciatura em Pedagogia - Faculdade de Educação da UFRJ - Rio de Janeiro - RJ - 1974.


- Especialização em Administração Escolar - Faculdade de Educação da UFRJ - Rio de Janeiro -
RJ - 1974.
PRINCIPAIS FUNÇÕES PROFISSIONAIS DESEMPENHADAS:

- Alfabetizador de Adultos - aprovado em concurso público para o PNA - Programa Nacional


de Alfabetização do Ministério da Educação e Cultura - exercício docente em Belford Roxo - RJ - 1964.
- Docente da Área de Educação - aprovado em concurso público de provas e títulos do Magis-
tério Público do Estado do Rio de Janeiro - Regente de Turmas da Área de Educação no Colégio Esta-
dual Miguel Couto - Cabo Frio - RJ - 1974 a 1997.
- Diretor do Colégio Estadual Miguel Couto - Cabo Frio - RJ - 1976 a 1983.
- Docente de Filosofia da Educação e Educação Comparada - Curso de Pedagogia da Faculdade
de Filosofia, Ciências e Letras de Macaé - FAFIMA - 1976 a 1977.
- Diretor-Geral do Centro Regional de Educação e Cultura de Cabo Frio (13ª Região Escolar
abrangendo os municípios de: Cabo Frio, São Pedro da Aldeia, Araruama e Saquarema) - 1978 a 1983.
- Docente de Turmas Substituto Concursado na disciplina de Filosofia da Educação - Facul-
dade de Educação da UFRJ - Regência de turmas nos campi Praia Vermelha e Ilha do Fundão 1998 -
1999.
- Docente de Turmas - Universidade Veiga de Almeida - campus Cabo Frio - Regência nas dis-
ciplinas: Filosofia, Oratória, Sociologia da Educação e Estrutura e Funcionamento do Ensino - 2001 a
2009.
- Docente de Turmas da FERLAGOS - Faculdade da Região dos Lagos - campus Cabo Frio: Ética,
Oratória, Sociologia das Organizações e da Educação - 2003 a 2007.
- Membro eleito do Conselho Diretor da Fundação Educacional da Região dos Lagos, entidade
mantenedora da Faculdade da Região dos Lagos - 1988 a 1993.
- Membro Debatedor dos “Debates Populares”, Programa Haroldo de Andrade, Rádio Globo
AM - Rio de Janeiro - 1999 a 2001.
- Docente de Curso de Oratória - Grupo Novezala - Rio de Janeiro - RJ - 2007.
- Palestrante de Oratória - ECEME - Escola de Comando e Estado-Maior do Exército - 2007;
2008 e 2009.
- Docente de Curso de Oratória - OAB de Cabo Frio - RJ - 2008.
- Docente em Projeto Experimental de Oratória e Oratória Militar - Curso de Extensão Livre
para os Oficiais-Alunos – Escola de Comando e Estado-Maior do Exército - ECEME - 2008.
- Docente em Curso de Oratória e Oratória Militar - ECEME - CGAEM - 2008 e 2009.
- Docente em Projeto Experimental de Oratória e Oratória Militar - Curso de Extensão Livre
para Oficiais indicados pela Divisão de Ensino - AMAN - Academia Militar das Agulhas Negras – 2009 e
2011.
- Docente de Filosofia da Educação, Sociologia da Educação, Legislação Educacional e Psico-
logia da Educação - CPGEL - Curso do Professor GELCIMAR (Preparatório para Concursos do Magistério
Público da União, DF, Estados e Municípios) São Pedro da Aldeia-RJ - 2014 a 2021.

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Bibliografia
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Editorial, 2005.
ANNA MARIA Cascudo Barreto e Fernando Luís da Câmara Cascudo. A História dos nossos Ges-
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Princípios de Análise Retórica. São Paulo: Contexto, 2010.
ARISTÓTELES. Retórica. Trad. Manuel Alexandre Júnior, Paulo Farmhouse Alberto e Abel do Nascimento
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COHEN, Jean et al. Pesquisas de retórica. Trad. de Leda Pinto Mafra Iruzun. Petrópolis: Vozes, 1975. p. 147-232.
BLIKSTEIN, I. Como falar em público: técnicas de comunicação para apresentações. São Paulo:
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BRETON, Philippe. A argumentação na comunicação. Tradução: Vivane Ribeiro. 2 eBauru, SP:
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CARRASCO, Maria do Carmo Oliveira; Colucci, Eloisa. Comunicação e oratória: Teoria e prática.
São Paulo: Letras Jurídicas, 2009.
CHARAUDEAU, Patrick. Discursos das mídias. Tradução: Ângela M. S. Corrêa. São Paulo: Con-
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CASCUDO, Luís da Câmara. História dos nossos gestos. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo:
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CRUZ, Estevão, Aprende tu mesmo a redigir. Porto Alegre: Edição da Livraria do Globo, 1943.
DAYOUB, Khazzoun Mirched. A ordem das ideias: palavra, imagem e persuasão: a retórica. Barueri, SP:
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DESCARTES, René [1596-1650]. Discurso do método. Tradução: Paulo Neves. Porto Alegre:
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FURLANETTO, Cilene. Oratória: A arte de falar bem. Campinas: Millenium Editora, 2008.
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LUCAS, Stephen E. A arte de falar em público. 11. ed. Porto Alegre: McGraw-Hill, 2015.
MAINGUENEAU, Dominique. Gênese dos discursos. Trad. Sírio Possenti. São Paulo: Contexto,
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MANUAL DA REDAÇÃO: Folha de São Paulo. São Paulo: Publifolha, 2001.
MEYER, Michel. A Retórica. São Paulo: Ática, 2007.
MONTELLO, J. Pequeno anedotário da Academia Brasileira: anedotário dos fundadores. 2. ed.
Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1980.
REBOUL, OLIVIER. Introdução à Retórica. São Paulo: Martins Editora, 2005.

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Figura dos pássaros para recortar e utilizar, nos exercícios indicados, com o pregador de roupas de
madeira grande.

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