RESPOSTAS DIREITO CONSTITUCIONAL I

Unidade I

1. É possível existir um Direito Constitucional sem que exista uma Carta

Constitucional (constituição em sentido formal)? Desenvolva tal raciocínio.

O Direito Constitucional é a ciência que propicia o conhecimento da organização

fundamental do Estado, porém é possível afirmar que a sua existência não depende da
presença de uma Carta Constitucional. Tendo em vista que esse âmbito do Direito é
definido pela doutrina como Direito Público Fundamental o qual estuda a forma de
organização estatal que se refere às articulações dos elementos primários e o
estabelecimento das bases da estrutura política. Nesse viés, no que diz respeito à
Constituição, esta é responsável por formalizar regras previamente estabelecidas, visto
que não possuí poder estruturante, somente torna as normas formalmente registradas. Em
relação ao próprio Direito Constitucional, a este compete analisar a estruturação do poder
político, seus contornos jurídicos e limites de atuação estatal, como os direitos humanos
fundamentais e o controle de constitucionalidade. Portanto, torna-se evidente que as
questões abordadas pelo Direito Constitucional abrangem aspectos que vão além daquilo
que se prevê as normas positivadas.
2. Qual(is) a(s) função(ões) do Direito Constitucional conforme a teoria do
constitucionalista alemão Konrad Hesse? Desenvolva tal raciocínio.
A teoria constitucional elaborada pelo jurista alemão Konrad Hesse parte do princípio de
que a Constituição possuí uma força normativa própria que leva as normas jurídicas a
estarem vinculadas com a realidade de uma determinada sociedade. Dessa forma, é
possível evidenciar que tal teoria possuí a pretensão de garantir a eficácia da Carta
Constitucional, estabelecendo princípios fundamentais do ordenamento jurídico. Assim,
mesmo que existam pré-requisitos presentes na realidade concreta para que a força
normativa possa ser efetivada e atuar no meio em que está inserida, estes não passam de
pressupostos enquanto a Constituição representa o objeto que possibilita a descrição das
relações políticas de poder diante um determinado contexto histórico-social. Tendo em
vista que o conceito constitucional desenvolvido pelo teórico, é válido ressaltar as funções
primárias para que se estabeleça o sentido e significado do Direito Constitucional na vida
em sociedade. As funções descritas por Konrad Hesse são a função integradora, função
organizativa e a função de diretriz jurídica. No que diz respeito ao aspecto da integração,
evidencia-se o nascimento e existência do Estado como unidade política de ação, em que
leva em consideração uma sociedade pluralista moderna. Tal aspecto resulta em grande
adesão para que a integração social do povo os transforme me cidadãos responsáveis pelo
êxito, e que o ordenamento jurídico garanta que as normas sejam cumpridas mediante os
direitos fundamentais da população. Em relação a função organizativa, esta é considerada
uma forma de complementação da função integradora, visto que por meio do Direito
Constitucional são fixadas competências de forma ordenada para o alcance dos objetivos
propostos. Propõem-se então que o ordenamento jurídico deve conter órgãos relacionados
aos diferentes, determinados e delimitados âmbitos do poder estatal. Portanto, no que se
refere o caráter da diretriz jurídica, garante que o conteúdo constitucional deve ser tanto
moralmente correto, quanto estabelecer limites de atuação para aquilo que não condiz
mais com a sociedade atual, sendo assim uma forma de possibilitar a convivência dentro
do território do Estado, modelando o presente e o futuro da geração correspondente
3. O que é uma Constituição? Desenvolva a sua visão sobre o tema e comente a teoria
do constitucionalista alemão Ferdinand Lassalle sobre esta matéria.
Ao discorrer sobre a teoria constitucionalista do alemão Ferdinand Lassalle é possível
afirmar que se retrata de uma busca pelo conceito da verdadeira essência da Constituição.
Tendo em vista os conteúdos abordados na obra “O que é uma Constituição?” escrita pelo
teórico alemão, este menciona que os fatores reais de poder são aqueles responsáveis por
reger uma sociedade, sendo assim ativos e eficazes, que informam todas as leis e
instituições jurídicas vigentes e determinam como funciona a dinâmica social. A caráter
exemplicativo, o autor traz em sua obra a Monarquia, Aristocracia, grande burguesia,
banqueiros, pequena burguesia e a classe operária. Diante do contexto inserido, Lassalle
difere o conceito de uma Constituição real e uma Constituição escrita. Em relação a
Constituição real, corresponde-se a verdadeira essência do que é uma Constituição, visto
que possuí o poder de pôr em analise se esta é considerada determinada e concreta,
devendo acomodar-se as exigências substanciais de um determinado país, tempo e local.
Com isso, pode-se inferir que tal conceituação evidencia que os interesses dominantes
presentes na realidade social condicionam o conteúdo do texto constitucional, levando a
aquilo que estiver em desacordo com o predominante não irá ter força efetiva alguma,
não passando de palavras escritas no papel. Portanto, a Constituição escrita é limitada por
descrever exteriormente como se forma e como irá se realizar a organização do Direito
Público de uma nação, mas não possuí capacidade de conceituar o verdadeiro significado
e sentido de uma Carta Constitucional.
4. Caracterize o constitucionalismo liberal. Necessariamente comente sobre as
inovações trazidas por tal movimento constitucionalista.
Para abordar as questões que envolvem o constitucionalismo liberal, primeiro deve-se
discorrer sobre o conceito de constitucionalismo em si. Com isso, é importante ressaltar
que tal conceito refere-se à forma que o Direito Constitucional se movimenta e se adapta
constantemente em meio ao tempo e espaço em que está inserido. O constitucionalismo
é visto como uma técnica de liberdade jurídica para que os direitos fundamentais sejam
garantidos e sirvam como formas de restrição do Estado pelo Direito, sendo assim um
Estado Moderno. Nesse viés, o constitucionalismo liberal está dentro do âmbito moderno,
em que o Estado Liberal exerce mínima intervenção na sociedade. Tendo em vista o
contexto que os ideais liberalistas estão inseridos, é possível perceber a necessidade de
força política e social abordadas. As inovações que ocorreram diante o surgimento das
Constituições Liberais referem-se ao período histórico do século XVIII, tendo como
exemplo os acontecimentos da Revolução Francesa e da Independência dos Estados
Unidos da América. Durante a experiência dos Estados Unidos, surge uma Constituição
suprema, devido a rígida separação de poderes, formalizando-se e evidenciando garantias
jurisdicionais com a presença da declaração dos direitos humanos, visto que houve
constante busca pela liberdade e foco no individualismo dos membros da sociedade. Em
relação ao contexto existente após a Revolução Francesa, ocorrem inovações referentes à
limitação do poder monarca, micro gestão da vida pela influência das ideias iluministas e
a separação do que seriam poderes constituintes originários e derivados. Portanto, tornou-
se perceptível o impacto que ocorreu no governo desse período, visto que este surgiu em
resposta a reprovação social do absolutismo e a forma colonial de governar o Estado.
5. Caracterize o constitucionalismo social. Necessariamente comente sobre as
inovações trazidas por tal movimento constitucionalista.
Após a decadência dos regimes liberais de governo no século XVIII, as Constituições
Sociais surgem como resposta a esse modelo constitucional diante o contexto do século
XX, representando o período pós Primeira Guerra Mundial. Ao evidenciar a crise
econômica gerada pelas Constituições Liberais, o constitucionalismo social expressa
críticas referentes as ideias liberalistas irreais de competição justa e equilibrada.
Considerando o desencadeamento do aumento das desigualdades sociais, inicia-se um
sentimento de indignação dos trabalhadores assalariados devido à exaustão no trabalho e
falta de salário justo. Tendo em vista a necessidade de mudanças sociais, ocorre a criação
de um Estado Social de Direito, inicia-se uma constante busca por igualdade e equidade
pela sociedade correspondente ao período histórico em questão. Nesse viés, tal forma de
organização constitucional garantiu ao Estado um poder considerável de interferência nas
relações sociais, laborais e econômicas para obtenção de um bem-estar social. Com isso,
através de instrumentos institucionais e o estabelecimento de controle rígido de
constitucionalidade, buscava-se tutelar os direitos fundamentais por meio do poder
estatal. Como uma forma exemplificar as inovações proporcionadas pelo
constitucionalismo social, é importante mencionar a Constituição de Weimar (1919) onde
houve a consolidação da democracia social em que a população possuí o papel de
expressar o anseio pelo alcance de uma igualdade social. Além disso, ocorreram
inovações relacionadas ao controle de constitucionalidade concentrado no tribunal
constitucional. Portanto, este modelo social de jurisdição constitucional possibilita a
compreensão da Constituição como a principal forma de estabelecer a validade das
normas jurídicas.
6. Considerando a atualidade do movimento constitucionalista, qual o significado do
termo “transconstitucionalismo” cunhado pelo Prof. Marcelo Neves? Desenvolva
uma definição acerca do tema.
O termo transconstitucionalismo de acordo com o Professor Marcelo Neves conceitua-se
como uma perspectiva abstrata de superar o neoconstitucionalismo, referindo-se a uma
forma de internacionalização do direito constitucional. Em relação ao termo
neoconstitucionalismo, é possível mencionar que o objetivo dessa teoria constitucional é
buscar a eficácia da Constituição de forma efetiva, sobretudo diante da expectativa de
concretização dos direitos fundamentais. De outro modo, no que se diz respeito ao
transconstitucionalismo são abordadas questões a partir do diálogo de diversas ordens
jurídicas distintas em torno do mesmo problema constitucional. Em relação ao aspecto de
internacionalização do Direito Constitucional, pode-se afirmar que a teoria descrita por
Marcelo Neves possuí uma proposta de superar a perspectiva de uma Nação é observada
apenas diante do seu âmbito nacional, referindo-se ao fato de que o Estado Nacional não
é capaz de apresentar soluções para problemas mundiais, os chamados problemas hydra
constitucionais. Nesse viés, é importante pontuar que o transconstitucionalismo não
propõe o fim da soberania estatal, mas apresenta ideias sobre a capacidade dos Estados
de estabelecerem pontes de transmissão para dialogar entre si. Em conclusão, a base para
o pensamento do professor é relatar que não existe solução individual para problemas
coletivas, portanto, a Constituição referente a cada Estado precisa ter coerência para
dentro e para fora, ou seja, estar de acordo também com outras Constituições.
7. Analise o preâmbulo da CF/88 e relacione-o com o Poder Constituinte Originário.
Desenvolva tal conexão caracterizando o PCO.
“Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para
instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e
individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça
como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na
harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das
controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituição da República
Federativa do Brasil.”

De acordo com o preâmbulo da Constituição Federal Brasileira de 1988, é possível

afirmar que este contém a proclamação no sentido dos princípios inscritos na Carta, sendo
os tais as normas centrais de reprodução obrigatória. Ao estabelecer relação entre o
preâmbulo e o Poder Constituinte Originário, afirma-se que ambas são caracterizadas
como pela natureza pré-jurídica, sendo assim um elemento natural de Constituições
realizadas em momentos de ruptura histórica ou de grande transformação político social.
Tendo em vista este âmbito do Poder Constituinte de 1º grau, é possível afirmar
características específicas que estabelecem relação com o que se aborda na demonstração
inicial constitucional. Com isso, ao discorrer sobre as características mencionadas, pode-
se citar a forma política de organização do Estado que instituí todos os outros poderes
jurídicos instituídos pelo originário, e representa também a forma inicial de todo novo
ordenamento jurídico. Compreende caráter ilimitado juridicamente, devido ao fato da
inexistência de limitação material de seu exercício, assim como é considerado autônomo,
para que a nova Constituição seja estruturada sem a submissão de outros poderes. Além
disso, é válido mencionar o Poder Constituinte Originário é latente e permanente, visto
que é uma de poder contínuo e atemporal que pode ser acionado a qualquer tempo, e que
não se esgota com a edição de uma nova Constituição ao representar a expressão da
liberdade humana. Já em relação à característica instantânea do poder, torna-se evidente
que a obra constitucional estará completa até o surgimento da necessidade de reformas e
revisões. Portanto, a forma que o preâmbulo expressa o que é imposto pela história, com
objetivo de instituir o Estado Democrático brasileiro, relaciona-se com o Poder
Constituinte Originário, já que ambos carregam uma forma de proclamação ou estímulo
para as normas centrais de reprodução obrigatória inscritas na Carta Constitucional.
8. Analise o artigo 60 da CF e relacione-o com o Poder Constituinte Derivado.
Desenvolva tal conexão caracterizando o PCD.
Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:
I - De um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal;
II - Do Presidente da República;
III - de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-
se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros.
§ 1º A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de
defesa ou de estado de sítio.
§ 2º A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos,
considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros.
§ 3º A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do
Senado Federal, com o respectivo número de ordem.
§ 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:
I - A forma federativa de Estado;
II - O voto direto, secreto, universal e periódico;
III - a separação dos Poderes;
IV - Os direitos e garantias individuais.
§ 5º A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser
objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa.

Ao discorrer sobre os Poderes Constituintes Derivados, é possível afirmar que estes se

encontram presentes na Constituição, sendo assim representam os próprios poderes
jurídicos. Tendo em vista tal natureza jurídica, estes poderes são instituídos pelo Poder
Constituinte Originário dentro do ordenamento e assim são caracterizados como
secundários, visto que não existe por si próprio, dependendo de uma Constituição para
prevê-los. Além disso, são condicionados e limitados, de forma que a manifestação dos
Poderes Derivados se condiciona pelo estabelecimento jurídico de um rito e são impostos
limites pela Constituição Federal, tornando-os competências previstas. No que se refere
ao aspecto reformador desse poder constitucional, é possível estabelecer a relação com o
artigo 60 da Constituição Cidadã brasileira. Dessa forma, ao se tratar do Poder Derivado
Reformador, observa-se sua manifestação por meio das emendas, alterações formais no
texto constitucional. O artigo em questão demonstra condições para a iniciativa de uma
emenda constitucional de reforma, enquanto nos incisos 1º e 4° estabelecem condutas as
quais não podem sofrer reformas. De tal modo, torna-se válido mencionar as limitações
que o inciso 4° descreve pelo qual se estabelece as cláusulas pétreas. Em relação aos
incisos 2° e 3°, ambos têm como objetivo condicionar os processos que devem ocorrer
para que sejam cumpridas as etapas para compor uma emenda constitucional. Dessa
maneira, ao analisar o inciso 5° pode-se inferir que visa prevenir um ciclo contínuo de
discussões relacionadas a emendas anteriormente rejeitadas.
9. Comente o artigo 1º da CF/88 demonstrando a sua conexão com o
constitucionalismo contemporâneo.
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado democrático de direito e tem como
fundamentos:

I - A soberania;
II - A cidadania;
 III - A dignidade da pessoa humana;
IV - Os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - O pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos
ou diretamente, nos termos desta Constituição

A partir do que está expresso no artigo 1º da Constituição Federal brasileira, é possível

mencionar que se trata da noção de um Estado Social Democrático de Direito. Nesse viés,
tal modelo estatal foi estabelecido no contexto do constitucionalismo contemporâneo, o
qual tornou possível que ocorresse a concretização e positivação dos direitos
fundamentais, além do enfoque na dignidade da pessoa humana. Com isso, torna-se
evidente a necessidade de incorporação de valores e opções políticas nos textos
constitucionais, concedendo ao povo um caráter soberano. De tal maneira, por meio do
artigo e dos conteúdos tratados diante o contexto contemporâneo, estabelece-se que o
titular do poder é o povo e os representantes do povo são apenas o meio pelo qual esse
poder é exercido. Portanto, é possível afirmar que ocorre de certa forma uma junção entre
a ética e o direito, em que a Constituição possuí o papel de conter limitações ao poder
autoritário [o Estado está abaixo da lei] e regras de prevalência dos direitos fundamentais,
de forma que estes são impostos ao Estado e à sociedade como um todo.
10. Comente o artigo 2º da CF/88 demonstrando a sua conexão com o
constitucionalismo contemporâneo.
Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e
o Judiciário.

Ao realizar análise do artigo em questão presente na Constituição Federal de 1988, é

possível afirmar que se trata da teoria da tripartição dos poderes. Tendo em vista as
divisões de funções estabelecida pela Carta Constitucional, deve-se relacionar com o que
foi previsto no contexto do Estado Liberal, especificamente mencionando a consolidação
da teoria presente na Declaração Francesa de Direitos do Homem e do Cidadão de 1789.
Com isso, percebe-se que o constitucionalismo contemporâneo, ao representar conceitos
sociais e liberais, possuí direta influência nesse aspecto que foi repassado para à
Constituição brasileira vigente. A importância de estabelecer limites para que o poder
estatal não esteja concentrado em um único órgão ou pessoa, é algo necessário para a
composição do modelo constitucional brasileiro de Estado Social Democrático de Direito.
Em relação a estes poderes serem independentes e harmônicos, observa-se que se aplica
um conceito de Sistema de Freios e Contrapesos, onde há autonomia para a realização de
funções específicas para determinado poder e não ocorrendo hierarquia entre eles, visto
que estes se complementam para atingir a organização estatal. Portanto, a partir do que
foi discorrido estabelece-se constitucionalmente que o Poder Executivo possuí a
responsabilidade de governar o povo e administrar os interesses públicos, de acordo com
as leis previstas na Constituição Federal; o Poder Legislativo refere-se principalmente à
elaboração das leis e fiscalização das ações do governo federal e das entidades da
Administração; e o Poder Judiciário encarrega-se de garantir os direitos individuais,
coletivos e sociais, resolvendo os conflitos entre cidadãos, entidades e Estado.
11. Comente o artigo 3º da CF/88 demonstrando a sua conexão com o
constitucionalismo contemporâneo.
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I - Construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - Garantir o desenvolvimento nacional;
III - Erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV - Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
outras formas de discriminação.

Por meio do artigo 3° expresso na Constituição Federal de 1988, observa-se que que se
trata dos objetivos fundamentais para compor a forma de organização estatal da República
Federativa do Brasil. Tendo em vista que tais objetivos representam valores estruturantes,
é possível afirmar que possuem influência de aspectos sociais e liberais presentes no
contexto contemporâneo. No que diz respeito ao conteúdo tratado nos incisos do artigo
em questão, refere-se às ideias sociais de busca pela redução de desigualdades para que
seja concretizada uma forma de proteção ao bem todos os membros da sociedade e
promoção da dignidade da pessoa humana e o respeito às diferenças, como por exemplo
a exigência do pluralismo. Ao evidenciar o caráter liberalista presente no
constitucionalismo contemporâneo e no artigo 3°, considera-se o aspecto da liberdade
povo e do desenvolvimento nacional com o objetivo de propiciar cada vez mais condições
dignas de vida para a população brasileira, para que a força normativa seja efetivada de
forma harmônica e ocorra a concretização do princípio da igualdade na medida do
possível. Portanto, é valido mencionar que se considera o rol de objetivos fundamentais
dispostos na Carta Constitucional como exemplicativo não se limitando à apenas os que
foram expressamente enumerados.
12. Comente o artigo 4º da CF/88 demonstrando a sua conexão com o
constitucionalismo contemporâneo.
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes
princípios:
I - Independência nacional;
II - Prevalência dos direitos humanos;
III - Autodeterminação dos povos;
IV - Não-intervenção;
V - Igualdade entre os Estados;
VI - Defesa da paz;
VII - Solução pacífica dos conflitos;
VIII - Repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX - Cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
X - Concessão de asilo político.
 Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política,
social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-
americana de nações.

De acordo com o previsto no artigo 4° da Constituição Federal de 1988, os princípios

enumerados são necessários para que se estabeleçam orientações e limites para as
condutas adotadas pelo sistema organizacional brasileiro considerando as relações
presentes entre outros Estados e organismos internacionais. Tendo em vista a influência
de caráter contemporâneo presente na Constituição, o artigo em questão aborda a
tendência de constitucionalização do Direito Internacional e de internacionalização do
Direito Constitucional. Com isso, a cooperação internacional dos povos possuí origem no
contexto pós-guerra, que devido ao neoconstitucionalismo ocorrer de forma tardia no
Brasil, se refere à um contexto pós ditadura militar. De tal modo, a busca pela solução
pacífica de conflitos nacionais e internacionais, possuí inspirações nacionalistas,
expressas nas ideias de independência nacional, autodeterminação dos povos, de não
intervenção e de igualdade entre os Estados. Já as inspirações internacionalistas,
correspondem a prevalência dos direitos humanos e de repúdio ao terrorismo e o racismo.
Em relação ao caráter pacifista, esta é exteriorizada nos dispositivos que determinam a
defesa da paz e a concessão de asilo político [relacionando-se com o contexto pós ditadura
em que a Carta Constitucional foi concretizada]. Além disso, ao se tratar de influências
de ideias comunitaristas, observa-se as ideias de cooperação entre os povos para o
progresso da humanidade e no estímulo à formação de uma comunidade latino-americana
de nações.