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Com ou sem vírgula?

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Representação gráfica

Na representação gráfica da língua, é importante distinguir


,is ->6 letras que constituem o alfabeto (a, b, c, d, e, f, g, h, i, j, k,
l, m, n, o, p, q, r, s, t, u, v, w, x, y, z), os acentos gráficos (agudo,
grave e circunflexo), os sinais diacríticos (til, trema e cedilha),
os sinais gráficos (hífen e apóstrofo), os sinais auxiliares de
escrita (parênteses retos ou colchetes, parênteses curvos,
,r,|>as baixas, aspas altas, asterisco, cardinal, barra oblíqua e
c haveta) e os sinais de pontuação (ponto, ponto de interroga-
ção, ponto de exclamação, dois pontos, ponto e vírgula, vír-
gula, reticências e travessão).

Sinais de pontuação

Os sinais de pontuação têm a maior importância na organiza-


ção e compreensão do texto escrito. A este respeito, têm-se feito
várias analogias funcionais, nomeadamente com a costura, no
sentido em que a pontuação de um texto se assemelharia à
linha e às pontadas com que se cose e se dá a forma desejada
ao tecido comunicativo da língua escrita, ou com a sinalização
de trânsito, indicativa, tal como a pontuação num texto, dos
momentos da condução, ou da leitura, em que é obrigatório
parar, moderar a velocidade, fazer um desvio, etc.

Na realidade, a pontuação facilita a leitura de um texto, pro-


porcionando ao leitor uma compreensão fluida, ao dividir, por
um lado, as partes do discurso que não sustém entre si uma
ligação particular e, por outro lado, ao manter unidas, por
ausência de pontuação, aquelas partes do discurso que estão
intimamente ligadas entre si.

Vírgula

No caso da vírgula, de que se ocupa o presente guia, há sempre


alguma polémica. Diz-se, muitas vezes, que ela serve para marcar
a respiração correspondente ao discurso oral ou que é decisiva ( l < - , 11,1 leitura ou expressão oral destas frases, poder existir aí uma
para desfazer a ambiguidade das frases escritas. Tais afirmações mllrxao de entoação semelhante a uma pequena pausa, entre o
carecem de rigor, uma vez que a vírgula não determina o fôlego •.n|rito c o predicado dessas frases (...é meu irmão e ...não vem
de leitura ou o momento de respirar (nunca se deixa de respirar!). /i.>/(•), na mal entendida respiração.
Por outro lado, a vírgula, por si só, não é capaz de resolver uma
estrutura frásica incorreta e geradora de ambiguidade. Na verdade, a vírgula é, fundamentalmente, um marcador sin-
i . i l i c o e as pausas que ela possa representar correspondem a
Com efeito, pode haver frases bastante longas que não reque- mirivalos sintáticos relevantes dentro da frase. De forma acessó-
rem qualquer vírgula, sem que, por isso, se deixe de respirar e se ii.i, r no domínio da autoria e do estilo, a vírgula pode ter ainda
perca o fôlego ao lê-las, tal como é certo que qualquer frase estru- i n 11 valor retórico, indicativo da entoação e da ênfase desejadas no
turalmente ambígua não melhora com a distribuição hipotética .(tu de leitura oral.
de vírgulas.
E.m resumo, pode dizer-se, com rigor, que a vírgula indica
Por exemplo, a frase «A difícil questão de consciência que o Antó- uma pequena pausa na leitura. O contrário, contudo, não é ver-
nio acaba de levantar remete-nos para a necessidade de continuarmos dadeiro: nem toda a pausa na leitura oral implica a utilização de
a discutir a fundo este assunto.» é bastante longa e, no entanto, não uma vírgula na escrita. Por isso, apenas será prudente afirmar
requer qualquer vírgula. E a frase «A jovem disse ao colega que não que (i) onde não há pausa, não há vírgula; (ii) onde há vírgula,
concordava com a sua nota final.», por mais vírgulas que, errada- há pausa; e (iii) onde há pausa, pode haver vírgula, desde que se
mente, aí se introduzissem, não deixaria de ser ambígua e passí- verifiquem as demais condições e regras correspondentes ao
vel de duas leituras diferentes: «A jovem disse ao colega que não •.eu uso.
concordava com a nota final dele.» ou «A jovem disse ao colega que
Sendo, então, fundamentalmente um marcador sintático é da
não concordava com a nota final dela (mesma).». De igual modo, a
maior conveniência recordar algumas noções básicas quanto aos
frase, lida algures, num aviso colocado sobre a malha de uma
constituintes da frase e suas funções, bem como quanto à articu-
cerca metálica, «Dispositivos elétrícos contra intrusos instalados.»,
lação entre frases.
por muitas vírgulas que, erradamente, se adotassem, jamais teria
solução em termos da má construção frásica e subsequente ambi- As frases podem ser simples ou complexas, equivalendo as pri-
guidade, ressaltando sempre o caricato da expressão "intrusos ins- meiras ao conceito de oração. As frases complexas têm duas ou
talados", quando, aparentemente, se queria alertar para o facto de mais orações que se articulam entre si por coordenação ou por
a cerca estar dotada de dispositivos elétricos contra intrusos. Tal subordinação. Cada frase simples ou oração contém o seu próprio
ambiguidade resolver-se-ia, por exemplo, reformulando a frase: sujeito e o seu próprio predicado, pelo menos, já que o predicado
«Esta cerca tem dispositivos elétricos instalados contra intrusos.». pode ainda ter os seus próprios complementos e modificadores.

A infeliz associação da vírgula à respiração é, de resto, respon- Os critérios para uso da vírgula dependem, então, da estrutura
sável por um dos mais frequentes e mais graves erros de pontua- da frase, e podemos estudá-los segundo se apliquem ao uso da
ção: o uso da vírgula separando o sujeito e o predicado de uma vírgula no interior da oração (frase simples) ou na ligação de duas
oração. ou mais orações (frase complexa).

Por exemplo, nas frases «O Pedro é meu irmão.» ou «A Joana


não vem hoje.» não é admissível nenhuma vírgula a seguir a
«O Pedro» ou «AJoana», sujeitos das respetivas orações, apesar
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Uso da vírgula no interior da oração


As andorinhas voltaram.
l l
1. A vírgula é usada para separar elementos de natureza seme- sujeito predicado
lhante ou com função sintática idêntica, numa espécie de enu-
meração, quando não estão ligados pelas conjunções e, nem, ou: Todos nós gostamos dela.
l l
sujeito predicado
O Pedro comprou canetas, esferográficas, lápis e marcadores.
Nesta frase as vírgulas separam uma série de elementos da
mesma natureza. A alegria enchia-me o coração.
" l l
sujeito predicado
A professora Zita tinha pai, mãe, mando, três filhos, dois cães
e um gato.
Nesta frase as vírgulas separam uma série de complementos - o verbo e o(s) seu(s) complemento(s) e modi-
diretos do verbo ter. ficador(es):

Eu entreguei o livro à Anabela.


Nota: Numa enumeração pode ainda haver lugar a uma vírgula, l l l
opcional, antes do verbo, quando este aparece depois, e não verbo complemento complemento
antes, dos elementos enumerados: direto indireto

Vestidos, casacos, saias, camisolas, calças, meias, sapatos, esta- Ele participou no debate.
l l
vam espalhados por todo o lado. verbo complemento
ou oblíquo
Vestidos, casacos, saias, camisolas, calças, meias, sapatos esta-
vam espalhados por todo o lado. As crianças portaram-se lindamente.
l l
verbo complemento
oblíquo

sem vírgula Todos rimos às gargalhadas.


l l
Não se usa vírgula para separar os elementos princi- verbo modificador
do grupo verbal
pais e interdependentes de uma mesma oração:

- o sujeito e o predicado: Fui ao hipermercado ontem.


l i l
O Rui estudou a lição. verbo complemento modificador
í l oblíquo do grupo verbal
sujeito predicado
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2. A vírgula é usada para separar os elementos coordenados, Sim, sim, sim, eu vi muito bem que eras tu!
quando as conjunções e, nem, ou se repetem, por ênfase ou enu-
meração: l »/$$« lhe tudo, tudo, tudo!

'\nnfos, amigos, negócios à parte.


E ele canta, e dança, e toca guitarra, tudo ao mesmo tempo!

Nem eu, nem ele, nem ninguém poderia saber o que aconteceu.
<l. A vírgula é usada para isolar o vocativo:
Ou vais tu, ou vai a Sara, ou vou eu mesma a esse jantar.
IKIIO, gostei muito de te ouvir cantar.

( i pui, já encontrei as chaves do carro!


sem vírgula (.)/«• pensas da vida, rapariga?
Não se usa vírgula antes das conjunções e, nem, ou l ujiora, minha filha, vais ter de cantar.
quando estas não aparecem repetidas:

Cheguei a casa e fui logo lavar as mãos.


S. A vírgula é usada depois dos advérbios sim ou não, quando
Não vi lá o Pedro nem o Rui. •.urgem no início da oração e dizem respeito à oração anterior:

Tu ou o teu marido têm de estar presentes. Sim, parece-me que foi assim.

N/io, ele não disse isso!


Nota: Pode usar-se a vírgula antes de e, nem, ou
não repetidos, caso se pretenda produzir uma
pausa enfática na frase: f). A vírgula é usada para intercalar o advérbio sim contradizendo
ou corrigindo uma afirmação anterior:
Ele disse que não ia, e não foi mesmo!
/ Ia, sim, é minha irmã.
Não viajava com ela, nem que me pagassem!
() ator mais velho, sim, é bom ator.
Vens connosco, ou não?
/\ sim, estuda que se farta.

O Tiago, sim, sabe o que quer na vida.


3. A vírgula é usada para separar elementos enfaticamente repe-
tidos na frase:
7. A vírgula é usada depois dos advérbios sim e não quando estas
Isto é meu, meu e só meu! palavras não determinam o segmento seguinte:

Ela é parva, parva, parva! Sim, senhora.

O vestido era feio, feio, feio! Não, senhor.

Não, não, não, isso não foi nada assim! Sim, chefe.
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8. A vírgula é usada para indicar que uma palavra, geralmente K) A u ;.'iil,i é usada para isolar ou intercalar um modificador de
um verbo, foi suprimida na frase: Ir.isc

A Cuida deu, a todos os filhos, dois presentes de Natal; ao / 1 ' l i/mente, não assisti ao desastre.
marido, apenas um.
A vírgula a seguir a marido indica a supressão de deu. Nii» assisti, felizmente, ao desastre.

Ele diz umas coisas à mãe; ao pai, outras. Ni n i assisti ao desastre, felizmente,
A vírgula a seguir a pai indica a supressão de diz.
l 1'nlrntemente, o Rui não apareceu.

< ) /\'n/, evidentemente, não apareceu.


9. A vírgula é usada para isolar ou intercalar o modificador do
nome apositivo (tradicionalmente chamado aposto): i ' l\ui não apareceu, evidentemente.

Lisboa, capital de Portugal, é uma cidade muito antiga.

D. Dinis, o Lavrador, mandou semear o pinhal de Leiria. sem vírgula

Tomás Faria, presidente da assembleia, começou a discursar. Não se usa vírgula que possa isolar um modificador
do grupo verbal (a não ser que este surja em posição
Pequenino e magrinho, o professor caminhava sempre muito invertida ou anteposta na frase).
depressa.
A Ana entregou o trabalho ontem.
Nunca pensei que esse rapaz, malcriado e cábula, entrasse na
Eu vi esse filme em Paris.
Universidade.
O Tino canta naquele bar.

Gosto de ler de manhã.


sem vírgula
Não se usa vírgula que possa isolar um modificador
do nome restritivo ou atributo:
II. A vírgula é usada para isolar um complemento verbal ou um
Hoje só foram atendidos os doentes com marcação. modificador do grupo verbal antepostos ou invertidos na ordem
il.i (rase:
Gosto deflores naturais.
O tremor de terra, toda a gente o sentiu.
O João só tem ideias malucas. Nesta frase está anteposto o complemento direto O tremor
ilc terra.
Fomos jantar a um restaurante italiano.
M João, a Rita não dirige a palavra.
Nesta frase está anteposto o complemento indireto Ao João.
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16 l

A Lisboa, ele só vai nas férias.


Nesta frase está anteposto o complemento oblíquo A Lisboa. Todos concordaram com o pai.
l ~"
verbo + complemento oblíquo
De manhã, gosto de tomar café na cozinha.
Nesta frase está anteposto o modificador do grupo verbal De grupo verbal = predicado
manhã.
A Li n a desistiu da natação.
Eu vi, em Londres, um concerto dessa banda. l
Nesta frase está anteposto o modificador do grupo verbal verbo + complemento oblíquo
em Londres. grupo verbal = predicado

sem vírgula
Não se usa vírgula que possa isolar um comple-
mento ou um modificador do grupo verbal (a não ser i.' A vírgula é usada para isolar ou separar palavras ou locuções
que este surja em posição invertida ou anteposta na i uni valor adverbial conectivo, como aliás, assim, consequente-
frase): iiii-nir, contudo, depois, designadamente, especificamente, então,
finalmente, melhor, não obstante, no entanto, nomeadamente,
l'«ii-tu, portanto, primeiramente, primeiro, seguidamente, segundo,
Toda a gente sentiu o tremor de terra. todavia:
i
verbo + complemento direto
Ni ia havia dinheiro para fogo de artifício. Assim, cancelaram
grupo verbal = predicado ir, festas.

O professor entregou os testes aos alunos. Niio a conheço. Aliás, nunca a vi sequer!
i
verbo + complemento direto + complemento indireto
l i i l l n s t e 3 dias. Consequentemente, terás menos 3 dias de
grupo verbal = predicado j f tias.

Ninguém dirige a palavra ao João. i lu'1'pu a casa cansadíssimo. Não quis, portanto, voltar a sair.
l
verbo + complemento direto + complemento indireto l'i inteiro, batem-se os ovos com o açúcar. Seguidamente, deita-
grupo verbal = predicado sc o leite e a farinha. Depois, deita-se o fermento. Finalmente,
Irvu-se a mistura ao forno.
Eu vi um concerto em Londres.
l Alguns alunos, nomeadamente, o Pedro Silva e o António Pires,
verbo + complemento direto + modificador grupo verbal MIO muito indisciplinados.
grupo verbal = predicado
Algumas pessoas, melhor, quase todas as pessoas f caram muito
surpreendidas.
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A ferida já foi tratada. É preciso, porém, ter cuidado para que


não infete. U*. o da vírgula entre orações

Não estou de acordo com o pai. Não quero, contudo, contra- l A vn |Mihi c usada para separar orações coordenadas assindéti-
riá-lo.
< n» (ipic tiíio estão ligadas por nenhuma conjunção como e, mas,
ni I I I , nu):
Ele falava muito bem. Todavia, a mim soava-me a falso.
•\i iii :uiu, passeou, viu montras, espaireceu.
A Sara não é francesa. Ela, no entanto, fala francês como se o
fosse.
i In \\uci, tomei banho, arranjei-me, peguei na pasta, saí a correr
O Júlio tem uma bronquite crónica. Não obstante, continua a imiii ii\
fumar.
Ni in dos tocámos, falámos, olhámos sequer!

l ti muita força, não conseguiu dobrar aquilo.

l iij[nru escolham: vamos à praia, subimos a montanha, visita-


IIKIS o \\rande cidade.

l A vnjMjla é usada para separar orações coordenadas sindéti-


i .r. (i|ut! estão ligadas por conjunção coordenativa como e, logo,
uni-., nem. ..nem, ora. ..ora, ou. ..ou, quer.. .quer, seja. ..seja, etc.),
•.nulo, no entanto, tecnicamente opcional a vírgula no caso da X>(T *
li|',.i<,.io ser feita com conjunção e'.

NQo chorei por ti, nem deixei de comer, nem nada dessas coisas.

l !<• i/í/ que não gosta dela, mas gosta até muito.

Ni In scí se vou vê-lo, ou se lhe telefono, ou se lhe mando um cartão.

l ' . / r i s a arder em febre, logo ficas em casa.

( >i<! í.hove, ora faz sol.

l li' vai acabar por ir, quer queira, quer não queira.

i ) i>ai compra-le isso, seja no Natal, seja nos teus anos.


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Vieram cá só para ver, e saber, e cheirar, e coscuvilhar e estrago/]


o ambiente. Nol.i: Nas frases começadas por mas não há lugar
ou ,i virgula a seguir a mas. Este é um erro muito
Vieram cá só para ver e saber e cheirar e coscuvilhar e estraga/1 c (imum.
o ambiente.
A Joana disse que não sabia de nada. Mas sabia
Nota: Apesar de ser opcional o uso da vírgula no caso anterior, pcrjeitamente.
com a conjugação e, parece ser mais nítida e mais facilmente OU
compreensível a leitura com vírgulas. A Joana disse que não sabia de nada, mas sabia
perfeitamente.
De igual modo, o uso da vírgula é sempre recomendado:

(i) entre orações com sujeitos diferentes, mesmo quando liga-


das pela conjunção e:
\ vnp.ula é usada para separar orações coordenadas por
Começou a chover, e a mãe desistiu de pôr a roupa a secar. , quando esta conjunção tem um valor adversativo:
A mulher não se calava, e o marido fazia de conta que não a ouvia.
•l / 'iiinn nunca foi boa aluna, enquanto a Inês esteve sempre
(ii) entre orações ligadas pela conjunção e quando esta não tem nu i j i i m l t o de honra.
o valor copulativo de adição:
i ' / Ú / K / passa a vida na rua, enquanto a mulher mal sai de casa.
Fartei-me de bater à porta, e o homem não abriu.
O Rui estudou imenso, e não conseguiu uma boa nota. 1 1 ni. i l n/juanto pode também funcionar como conjunção subordi-
Nestas frases a conjunção e tem o valor adversativo de mas. ii.ihv.i icrnporal, mantendo-se a necessidade da vírgula para sepa-
i.n .1 nNição subordinada introduzida por esta conjunção:

A liinlcremos os preços, enquanto durarem as promoções.


sem vírgula
l ii.- \\inastica todos os dias, enquanto puderes.
Não se usa vírgula nas orações coordenadas intro-
duzidas por e, nem, ou, em que a conjunção não se
repete: •l A vngula é usada para isolar orações intercaladas que inter-
i. impem a fluência da oração principal:
Vi o teu irmão e até falei com ele.
/ o /CM irmão, perguntou ela toda arrebitada, vai ou não vai à
Não sei nem me importai feita?

i ' it-mpo, disse o senhor da meteorologia, vai mudar amanhã.


Vai lá o João ou vais tu?

A kila, ouvi dizer no café, tem a casa à venda.

l ;i<ts camas, opinou a avó, estão muito mal feitas!


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O Luís do Lopes, consta na aldeia, enriqueceu imenso lá fora.


A rapariga que estava na sala começou a chorar.
Não expliquei, até porque ninguém me perguntou, a razão da Nesta frase, lê-se que havia apenas uma só rapa-
minha atitude. uga dentro da sala e que essa rapariga, e não
outra, começou a chorar, sendo relevante a parti-
Nota: É um erro, infelizmente muito comum, aplicar apenas ( ularidade de aquela rapariga ser a única que
uma vírgula, a primeira ou a segunda, nas orações intercaladas, c",i,wa na sala. Se a frase fosse pontuada com
sobretudo do tipo: intercalação seria diferente:

O condutor do ligeiro disse que, quando o autocarro lhe bateu, >\ que estava na sala, começou a chorar.
ele estava parado. A leitura seria que uma rapariga, alguém já referen-
A vírgula antes de quando é tão indispensável como a segunda 11,ido antes, começou a chorar, sendo relevante
antes de ele. esse facto, além de que a rapariga estava dentro da
s.ila - e não fora dela, como, provavelmente, esta-
Mas a verdade é que, até o Luís entrar em campo, não tinha
riam outras raparigas.
havido problemas.
A vírgula antes de não é tão indispensável como a primeira,
antes de até.
% A M , - u l , i é usada para separar orações não finitas de gerúndio,
i- ii i n i|>lo passado ou infinitivo:
sem vírgula
'.i n i i i i i l o - s e cansado, apagou o computador.
Não se usa vírgula se uma oração não funciona
como intercalada, mas sim como restritiva do •\h nilrndo às circunstâncias, decidimos ficar em casa.
sujeito:
( r t n i i i H i i l a a palestra, a audiência ovacionou o orador.
Os pais que amam os filhos aprendem a dizer
não. i /ii-|;i/i/o o momento, vais perceber o mistério.
Nesta frase, lê-se que só os pais que amam os
filhos é que aprendem a dizer não, podendo haver l ' i i h i '.i-irnar, ele foi dar uma volta a pé.
outros pais que não amam os filhos e que, prova-
velmente, não aprendem a dizer não. Esta não
seria a leitura correia se a frase fosse a seguinte: d A v;ii|>iila é usada para separar as orações subordinadas adver-
lii.ir.. r-.pecialmente quando aparecem antes da oração principal,
Os pais, que amam os filhos, aprendem a dizer MI.r. i,inibem depois desta:
não.
Entende-se aqui, pela intercalação, que todos os * , ' i i n i i i l o terminou a reunião, fomos logo para casa.
pais amam os filhos, como condição de serem
pais, e que todos aprendem a dizer não. !»(• luilo correr bem, eles chegam amanhã a Luanda,

l i v i i <> Nico à fisioterapia, se te for possível.


24 Com ou sem vírgula? | 25

As luzes ficaram acesas, tal como eu temia. / A vii|',ul.i ó usada para separar ou intercalar orações subordi-
imilrt'. .i(lj<-tivas relativas explicativas, isto é, aquelas que são
fila passa sempre, embora estude pouco. iiilinilii,nl,r. pelas palavras relativas que, quem, o(a) qual, os(as)
,/iiinv , n/.>(•,), i,uja(s), quanto(s), quanta(s) e onde, e que não são
Porque me aborrecem, nunca vejo esses programas.
. ««riu I.H-. p,ira a compreensão do antecedente, acrescentando
i|ii'ii.r. .iljMima informação:

sem vírgula < i / i ' / ) v . i / n c tocava piano, vivia em Tomar.


Não se usa vírgula em orações substantivas com-
i ' ,/IM iir.n, ijue eu ouvi na íntegra, foi muito aplaudido.
pletivas, isto é, aquelas que são introduzidas pelas
conjunções que, se e para, do tipo:
i i i i / i r . i d , cuja namorada vive no Porto, não deu autógrafos a
Pedi-lhe que viesse cedo. /mi|;/irm

Espero que ele seja feliz. /\ ii;n, onde fui tão feliz, já não existe.

Nunca pensei que tudo acabasse assim. Viu :i:i finpossado hoje o novo chefe de divisão, quem te cum-
IHinii-inou ontem à porta da cantina.
Não sabia se tu a conhecias.

A professora pediu para se calarem todos. sem vírgula


Não se usa vírgula em orações substantivas relati- N;lo se usa vírgula nas orações subordinadas adjeti-
vas, isto é, aquelas que são introduzidas por pala- v.is relativas restritivas, isto é, aquelas que são
vras relativas como que, quem, quanto, onde: inlroduzidas pelas palavras relativas que, quem,
<>(/i) qual, os(as) quais, cujo(s), cuja(s), quanto(s),
Chegou o rapaz que vende os cestos de vime. <iniinta(s) e onde, e que são determinantes e indis-
pensáveis para restringir e completar o sentido do
Estão cá as pessoas que me interessam. .intecedente:

Não encontramos quem saiba onde fica essa Os alunos que fazem parte da organização da festa
rua. não pagam a entrada.
O Pedro pede favores a quem lhos deve.
Os empregados que não estavam de acordo
O Rui cumprimenta quanto bicho careta se lhe
votaram contra.
atravessa.
As pessoas que se empenham conseguem melhores
Ele dorme onde anoitece e calha. resultados.
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< .r. os especiais de uso da vírgula


Vai apenas quem se inscreveu.

Este é o rapaz cujos irmãos vivem na Holanda. l A v i i j M i l . i ó usada para separar os dois segmentos habituais
i d». |iii)vcrbios e ditos populares:
Chegaram os carros elétricos dos quais te falei.

Não esqueças quanto te amo.

A terra onde nasci merece o melhor de mim.

O uso de vírgula nestas frases, separando as ora- l ilha és, pui serás.
ções subordinadas adjetivas relativas restritivas dos
PatrOofora, dia santo na loja.
seus antecedentes, seria incorreto, porque não há
nenhum constituinte que deva ser isolado ou sepa-
i"i, .,' pui ler cão, preso por não ter.
rado. Com efeito, as palavras relativas que introdu-
zem as orações subordinadas estão aí exatamente • 'iMiii/D u esmola é grande, o pobre desconfia.
para retomar e ligares antecedentes, indispensáveis
para o pleno sentido das frases. • ' i i . i i i / u mais alto, maior é a queda.

'. >ni m /r/o ama, bonito lhe parece.

1 'ni ai i tila, consente.

\ m ijucr vai, quem não quer manda.

'.i s i i / n - s o que eu sei, cala-te que eu me calarei.

l i i l /MI, tal f lho.

i i i i ; \ i i m se as comadres, descobrem-se as verdades.

l A v n j M i l a aplica-se sempre depois do segundo travessão ou


|i«rflntese:

/\Vi one.iÀ aos familiares mais próximos (os pais, os irmãos e


Oí lios da aldeia), quando se viu aflito.

A; pessoas endividaram-se durante anos a fio - porque isso


nii lm.il nos anos 90 -, ainda que não ganhassem o suficiente
/'inii pagar tantos compromissos.
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3. A vírgula é usada com nomes próprios nas seguintes condições: usos da vírgula
a) Põe-se entre vírgulas o nome de um detentor de cargo ou
qualificação, quando tal cargo ou qualificação pertence a l l l i il.ii.u, .i», usa-se a vírgula para separar o lugar da data pro-
uma só pessoa: i ......... i < • i lil.i:

O Papa, Bento XVI, visitou recentemente Portugal.


/', 'i In ; / i/c juneiro de 2012
A falta de vírgula, nesta frase, faria supor que há mais do
que um Papa vivo e que, de entre eles, Bento XVI foi o i .: nl ilu l nu, 2 de setembro de 2010
que visitou Portugal recentemente.

O ministro foi ao jantar de gala com a esposa, Maria


i l In-, t-nilcrcços postais, separam-se com vírgulas, depois dos
Rosa Sousa.
ii MI. , ilu dcsiinatário ou do remetente, a designação da rua, o
A falta de vírgula, nesta frase, faria supor que o ministro
..... i ...... l,i porta, o andar:
tem mais de uma esposa, ou seja, que tinha ido ao jantar
com a esposa Maria Rosa Sousa e não com qualquer
/ 'i /HM' i l u Silva
uma das outras que pudesse ter.
i -i,, i \oOo ( hagas, 122, 3° esq.
Sendo assim, põe-se entre vírgulas, por exemplo, o nome de:

O primeiro Presidente da República portuguesa, Manuel de


Arriaga,... i i om números decimais, utiliza-se a vírgula (e não o ponto):

O primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques,...


i >•. innr./xiríes públicos aumentaram mais de 4,75%.
O último rei de Portugal, D. Manuel II,...
\, ir.iduil/: do terramoto foi de 5,8 graus na escala de Richter.
b) Não se utilizam vírgulas para isolar o nome da pessoa
quando o cargo que ocupa ou a qualificação que detém per- \i mpi-iiilura lá fora era de 23,5 °C à sombra.
tence também a outras pessoas:
I I : i: , rhcu, este mês, 1358,75 €.
O deputado socialista João Silva fez uma declaração
pública sobre o aumento do custo da eletricidade.
Há muitos outros deputados socialistas. i 1 1 i pontuação intencionada de certos textos oportunos ou
l il.ii. .idos" para tal, como é o caso de um exemplo anedótico
O ex-Presidente da República Jorge Sampaio esteve em
MINI! ..... nhecido:
Calmardes,
Há outros ex-Presidentes da República vivos.
Mm .ilclr.io muito rico, sem mulher nem filhos, ao sentir-se às
A senhora andava na feira com afilho Rodrigo. l n u i. r. c 1. 1 morte, resolveu fazer o testamento. Mas morreu antes
Além do filho Rodrigo, a senhora tem outros filhos. i Ir In irmpo de o pontuar. Deixou escrito o seguinte:

A senhora andava na feira com afilho, Rodrigo. / teixo u minha fortuna a meu irmão não à minha Irmã jamais
A senhora só tem um filho e este chama-se Rodrigo. / i i / l l i i / i 1 / í 1 1 onta do alfaiate nada aos pobres."
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Os herdeiros, movidos pelo interesse, pontuaram o texto de|


acordo com as suas conveniências individuais. Assim:

O irmão: "Deixo a minha fortuna a meu irmão, não à minhal


irmã. jamais pagarei a conta do alfaiate. Nada aos pobres."

A irmã: "Deixo a minha fortuna a meu irmão? Não! A minha


irmã. jamais pagarei a conta do alfaiate. Nada aos pobres."

O alfaiate: "Deixo a minha fortuna a meu irmão? Não? A


minha irmã? jamais! Pagarei a conta do alfaiate. Nada aos\

Os pobres: "Deixo a minha fortuna a meu irmão? Não! A


minha irmã? jamais! Pagarei a conta do alfaiate? Nada! Aos
pobres."

Ainda hoje, entre todos, discutem a questão, não tendo sido


possível que chegassem a nenhum acordo sobre a repartição
da fortuna do aldeão rico, sem mulher nem filhos.

Em resumo:

Na escrita, a vírgula serve para separar os elementos separá-


veis dentro de uma oração ou entre orações, não devendo apli-
car-se nunca entre elementos inseparáveis da oração ou da liga-
ção entre orações.
A vírgula serve também, em casos óbvios e simples, para sal-
vaguardar as intenções de comunicação que se têm ao escrever,
como será o caso de se querer expressar Aceito, obrigado1, ou
Aceito obrigado.
Em caso de dúvida, e não havendo, no momento, como escla-
recê-la, é preferível não usar a vírgula, porque os erros de aplica-
ção deste sinal de pontuação são, seguramente, mais graves do
que os da sua falta.

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