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CAPITULO 5

ESTUDOS DE PENETRAÇÃO HARMÔNICA


Prof. José Wilson Resende
Ph.D em Sistemas de Energia Elétrica (University of Aberdeen-Escócia)
Professor titular da Faculdade de Engenharia Elétrica
Universidade Federal de Uberlândia

5.1) MODELAGEM DOS COMPONENTES DOS SISTEMAS ELÉTRICOS


PARA ESTUDOS DE PENETRAÇÃO HARMÔNICA

Esta seção apresenta as modelagens dos componentes dos sistemas elétricos


adequados aos estudos de fluxo harmônico. Quando um sistema elétrico fica
submetido a correntes harmônicas, os modelos dos componentes devem ser
representados mais detalhadamente do que quando de estudos à frequência
fundamental, como os cálculos de curto-circuito e de fluxo de carga.

5.1.1) A IMPEDÂNCIA DE UM BARRAMENTO, DO PONTO DE VISTA DE


VÁRIAS FREQUÊNCIAS:
A figura 1 ilustra a impedância vista de um certo barramento, em função da
frequência.

Figura 1: Impedância harmônica de um barramento


2

A figura 2 mostra o comportamento da mesma barra, mas agora ilustrando


apenas o módulo de Zs(ω).
O comportamento da impedância é muito variável com a frequência devido às
complexas topologias dos sistemas elétricos, onde se encontram indutâncias,
capacitâncias e resistências, em configurações capazes de criar ressonâncias série ou
paralela, em determinadas frequências.

Figura.2: variação do módulo de Zs com a frequência

Os diagramas acima mostrados podem ser obtidos através de medições (para


sistemas existentes) ou simulações digitais (principalmente para análise de sistemas
ou equipamentos a serem implantados). A técnica da simulação digital requer
modelos adequados para cada um de seus componentes, na faixa de frequência de
interesse (em geral até a 50ª harmônica).

5.1.2) A RESISTÊNCIA EFETIVA E A INDUTÂNCIA INTERNA DE UM


CONDUTOR, EM FUNÇÃO DA FREQUÊNCIA

A resistência efetiva de um condutor cilíndrico sólido, em função da


frequência (Rca), em relação à correspondente resistência à corrente contínua (Rcc), é
dada por:

mr ber (mr ).bei '(mr ) − bei (mr ).ber '(mr )


Rca = Ro
2 [bei '(mr ) + ber '(mr )] (1)
Onde:
r= raio do condutor [m]; ω=2πf
ωµ
m= ; ρ = resistividade [ Ω. mm2 / m ]
ρ
3

f= frequência [Hz}
µ = µO . µR [H/m]; µO = 4π .10−7 [H/m]
µR = permeabilidade relativa

Os termos “ber e bei são, respectivamente, as funções de Bessel real e


imaginária, que podem ser expressas por:
( mr ) 4 ( mr )8
ber ( mr ) = 1 − 2 2 + 2 2 2 2 −...... (2)
2 .4 2 .4 .6 .8

( mr ) 2 ( mr ) 6 ( mr )10
bei ( mr ) = − 2 2 2 + 2 2 2 2 2 −.... (3)
22 2 .4 ..6 2 .4 .6 .8 .10

As funções ber’ e bei’ são as derivadas dos termos acima.

Por outro lado, a indutância interna deste mesmo condutor, L, em função da


frequência, em relação Lo (para frequências muito baixas) é dada por:

4 bei ( mr ). bei '( mr ) + ber ( mr ). ber '( mr )


L = Lo (4)
mr bei '( mr ) + ber '( mr )

Para o mesmo material condutor, a resistência efetiva, para a mesma


frequência, aumenta mais quanto maior for a bitola do condutor. De maneira oposta, a
indutância interna terá uma diminuição relativa maior.
A utilização das expressões (2) e (3) implica na utilização de cerca de 10 a 15
termos das séries, o que não é prático. Por esse motivo, existem expressões
alternativas para a determinação de Rca em função da frequência, conforme a seguir
mostrado:
Para 0<f/Ro<1350:
Rca
= 1 + 8,522.10− 8 ( f / Ro ) 2 − 5,8110
. − 15 .( f / Ro ) 4
Ro

Para f/Ro>1350:
Rca 1
= 0,25 + 0,0225 f / Ro + 2,0846 /( )
Ro f / Ro

A figura 3 ilustra a relação Rca/Ro para diferentes valores de Ro e f, obtidas


com as relações acima. Observa-se que, para uma dada frequência, quanto menor for
Ro (MAIOR bitola), maior será o efeito pelicular apresentado.
4

Figura 3: Efeito da resistência de condutores

Confirmando a figura 3, a figura 4 mostra o efeito pelicular para um condutor


de cobre de 300 MCM. A resistência cresce com a frequência.

Figura 4: Efeito pelicular para o condutor 300 MCM de cobre

A figura 5 mostra o efeito pelicular a 60 Hz e a 300 Hz para o mesmo


condutor de 300 MCM. Repare que a resistência, para a mesma frequência, cresce
com a bitola do cabo.

Figura 5: Efeito pelicular


5

Ainda com relação à variação da resistência de um condutor com a


frequência, vários estudiosos apresentam expressões bem simples para expressar esta
relação, tais como:
• Para 50 Hz: Rac = Rdc. h ; Para 60 Hz: Rac= Rdc. 1,1 h
• Rac = Rdc. 0,6 h ; Para 60 Hz: Rac = Rdc. 0,7 h

Essas recomendações são discutíveis, não ensejando qualquer generalidade


suficiente para ser adotada sem restrições.

5.1.3) LINHAS AÉREAS E CABOS

Um porção infinitesimal de uma linha de transmissão homogênea está


representada na figura 6. Como os parâmetros são infinitos, tal representação não é
prática. A modelagem mais adequada, para linhas de médio comprimento (até 250
km) é aquela denominada Π nominal, ilustrada na figura 7. Para linhas maiores, o
modelo da figura 8 é inadequado. Nesses casos, os parâmetros série (R e L) devem
senh( x Z .Y )
ser corrigidos pelo fator de correção: e os parâmetros shunt pelo
x Z .Y
tan gh ( x ZY / 4 )
seguinte fator de correção: , conforme ilustrado na figura 8.
x ZY / 4

Figura 6: Uma porção infinitesimal de uma linha de transmissão

Figura 7: Circuito PI nominal para linhas aéreas e cabos


6

Figura 8: Circuito PI equivalente para linhas e cabos longos

Para sistemas de distribuição existe uma indicação específica para se


representar as resistências nos modelos acima mostrados:

• Nas linhas aéreas:


0,646. h 2
Rh = R1[1 + ( )
192 + 0,518. h 2

• Em cabos:
Rh = R1( 0,187 + 0,532 h )

5.1.4) TRANSFORMADORES

A dependência das resistências do cobre e do núcleo com a frequência faz


com que as perdas dos transformadores aumentem com a frequência. A figura 9
mostra a variação da resistência e da indutância de um transformador típico.

Figura 9: Variação dos parâmetros R e L de um transformador com a frequência


7

A representação mais simples de um transformador é aquela na qual


considera-se apenas a indutância de dispersão. Tal modelo é muito usado em estudos
de curto circuito. Para estudos de fluxo de carga a 60 Hz, a resistência do cobre
também é incluída, conforme ilustrado na figura 10. No entanto, para estudos
harmônicos essa representação é insuficiente.

Figura 10: Modelo para transformadores para estudos de fluxo de carga a 60 Hz

Um modelo usado pela CEGB (Inglaterra) está na figura 11, onde a


resistência Rp = 80 XL.

____________________________________________
Figura 11: Modelo para transformadores sugerido pela CEGB

Um outro modelo também mencionado na literatura especializada está na


figura 12. A resistência Rs é determinada pela expressão:
V2
90 < < 110
S . Rs
A resistência Rp é obtida por:
S . Rp
13 < < 30
V2
Onde:
S= potência nominal do transformador
V= tensão nominal do transformador.

Valores típicos para Rs e Rp, são 0,04 e 60 para transformadores de 30 MVA e 0,01 e
20 para transformadores de 100 MVA.
8

____________________________________________
Figura 12: Modelo alternativo para transformadores

Considerando a grande faixa de modelos de transformadores, muita


pesquisa nesta área ainda é necessária, de tal forma que os parâmetros sejam
determinados em função da potência e demais características construtivas de um
transformador.
Com relação às capacitâncias entre núcleos e entre espiras, pode-se afirmar
que elas não são requeridas nos estudos que envolvem harmônicas até a 50a ordem.
Isso porque as frequências onde ocorrem ressonâncias estão bem acima dessas ordens
harmônicas.
Por outro lado, sempre que o efeito das não linearidades devido às
saturações forem considerados relevantes, então as correntes de magnetização devem
ser calculadas e representadas como fontes de corrente.

5.1.5) MÁQUINAS SÍNCRONAS

Um gerador síncrono comercial, em geral, produz tensões em forma senoidal


praticamente pura. Do ponto de vista harmônico, os geradores e motores síncronos
são simplesmente cargas que podem estar sujeitas às correntes harmônicas produzidas
por outras cargas.Essas máquinas podem ser representadas como uma impedância
shunt, conforme mostrado na figura 13.

Figura 13: Modelo de máquina síncrona para estudos de fluxo harmônico

A indutância L é obtida da reatância de sequência negativa à 60 Hz,


conforme abaixo mostrado:
9

X2
L= X 2 ( Xd "+ Xq ") 2
2π 60 Onde:
Sendo Xd” e Xq”: reatâncias subtransitórias de eixo direto e em quadratura,
respectivamente.

A utilização da reatância de sequência negativa para a avaliação de L não é a única


encontrada na literatura. Outras sugestões são:

Xd " 1 ( Xd "+ X 2 )
L= ; L=
2π 60 2 2π 60

As capacitâncias das máquinas síncronas são mais significativas do aquelas


dos transformadores de classe comprável de potência. A capacitância dos geradores
aumenta com o seu tamanho. Assim, máquinas com refrigeração forçada tendem a ter
capacitâncias menores. Geradores de hidroelétricas possuem capacitâncias mais
elevadas do que seus equivalentes de usinas termoelétricas. Isso ocorre devido à
geometria da construção dessas máquinas. Para serem incluídas nos estudos
harmônicos, essas capacitâncias devem ser representadas em paralelo à indutância
mostrada na figura 13.

5.1.6) MOTORES DE INDUÇÃO

A figura 14 mostra o modelo para a representação harmônica dos motores de indução.

Figura 14: Motor de indução para estudos harmônicos

Onde s(h) é o escorregamento, levando se em consideração as frequências


harmônicas. Ele é obtido através da seguinte expressão:
h ± (1 − s(1))
s( h ) =
h

O escorregamento à frequência fundamental é dado por s(1) e vale cerca de


0,02. Observa-se que pela expressão acima, que, para s(1)=0,02, s(h) é
aproximadamente igual a 1.
A reatância de magnetização, Xm=ωLm pode ser negligenciada, pois ela
cresce com a frequência.
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5.1.7) MODELAGEM DE CARGAS

As cargas ligadas ao sistema elétrico têm uma grande importância nas


características harmônicas da rede. Elas podem afetar as condições de ressonância,
amortecendo ou não esses efeitos. Medidas realizadas em vários sistemas mostram
que um aumento de carga, apesar de resultar na diminuição da impedância a baixas
freqüências, pode causar um aumento da impedância a altas freqüências. Além disso,
um aumento de carga pode resultar em um aumento ou uma diminuição dos fluxos
harmônicos por determinadas linhas do sistema.
Em geral, as cargas consistem de um grande número de componentes. Isso
torna difícil o estabelecimento de um modelo baseado em análise teórica. Assim,
modelos equivalentes de cargas devem ser baseados em composições típicas. As
cargas podem ser divididas em, pelo menos, dois grupos: as resistivas e os motores.
Isso implicaria em uma combinação de resistências e indutâncias. Entretanto, é muito
difícil de se obter informações detalhadas sobre composição exata de cada carga.

A seguir alguns modelos serão apresentados, de acordo com as características de


carga:

• Cargas predominantemente resistivas: adequado a cargas residenciais ou


comerciais, onde os motores podem ser desprezados. A resistência R é obtida
através da potência ativa e da tensão nominal, à frequência fundamental:

Figura 15: modelo para cargas resistivas

• Cargas com predominância de motores: Nesta hipótese, uma fração “K” da


demanda total da carga é usada para representar os motores (figura 16).

Figura 16: modelo para cargas com muito motores

Sendo:
11

V2 V2 L
R= ; L= e R1 =
P (1 − K ) 1,2. K . K1. P.ω K2

Onde:
P= demanda total [W]
R1= resistência que representa o amortecimento do motor.
K= fração da demanda total, correspondente aos motores. Para cargas industriais,
adotar K=0,80. Para cargas comerciais e domésticas, K= 0,15.
K1: situa-se entre 4 e 7.
K2= 0,2

Cargas com predominância de motores, com potências ativa e reativa conhecida:

A figura 17 ilustra 4 modelos propostos para cargas que possuem demandas de


potência ativa e reativa conhecidas.
• No modelo “A”, sugerido pelo CIGRÉ, “h” é a ordem harmônica, “V” é a
tensão nominal e “k =0,1h + 0,9”.
• No modelo “B” a reatância a resistência não varia com a frequência.
• O modelo “C” foi obtido baseando-se em apenas duas frequências (175 e
495 Hz).
• O modelo “D” foi calculado apenas para a frequência fundamental e seus
parâmetros não variam com as demais frequências.

Figura 17: Outros modelos de cargas


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5.1.8) MODELAGEM DE CAPACITORES, REATORES E FILTROS


Os capacitores e reatores, bem como os diversos tipos de filtros, devem ser
representados em estudos de penetração harmônica por suas capacitâncias e
indutâncias. Os efeitos das freqüências harmônicas aparecerão, naturalmente, nas
reatâncias capacitivas e indutivas dos mesmos.

5.1.9) REPRESENTAÇÃO DO EQUIVALENTE UM SISTEMA ELÉTRICO,


VISTO DE UMA BARRA:
Considere-se um sistema elétrico “AB”, constituído de dois subsistemas, A
e B. Desejando-se estudar em detalhes apenas o subsistema A, porém não
desprezando os efeitos que o subsistema B possa exercer sobre o subsistema A, então
esse subsistema B deve ter o seu “equivalente de Thevenin” representado neste
estudo. Esta observação não é específica para os estudos de análise harmônica. Ela
vale também para estudos de curto-circuito, fluxo de carga, etc.
Esta seção tratará das maneiras de se obter o equivalente harmônico de Thevenin
de um sistema. Se o diagrama unifilar, bem como o correspondente diagrama de
impedâncias harmônico desse sistema for disponível, então a impedância equivalente
poderá ser obtida através da redução deste sistema a uma única impedância (por
frequência).
Quando isso não for possível, então a única solução é a obtenção desta impedância
equivalente através de medições. Este é o assunto a ser tratado a seguir.
O desenvolvimento de métodos práticos de medição de impedância
harmônica depende da existência de tensões, nos barramentos, já distorcidas. Quando
este nível de distorção é muito baixo, deverá haver a injeção de correntes harmônicas
no barramento. Existem pelo menos três métodos de medição de impedância
harmônica, os quais serão mostrados a seguir.

Método 1:
Este método só pode ser adotado se a barra já dispuser de tensões
harmônicas nas frequências em que se deseja medir as impedâncias. Neste sentido, a
figura 18 mostra a barra B, onde uma tensão harmônica Vsn já está presente. Para as
medições, será requerida uma impedância auxiliar “Zaux”, que tanto poderá ser um
resistor, um reator ou um capacitor, desde que seu valor (R, L ou C) seja conhecido.

Figura 18: Barra B, a ter suas impedâncias harmônicas medidas


13

a) Com as chaves S1 e S2 abertas mede-se as tensões harmônicas Vsn=Vs ∠θsn .


Repare que esta medição deve incluir tanto o módulo quanto o ângulo da tensão
Vsn. Isto está ilustrado na figura 19. A referência desta medição é a tensão
fundamental correspondente, Vo1, na qual o equipamento medidor estará
referenciado.

Figura 19:tensão harmônica medida

b) A seguir, com a chave S2 fechada, permite-se que uma corrente In= In< ϕin , que
fluirá através da impedância auxiliar “Zaux”, seja também medida.
A figura 20 ilustra esta situação. Novamente, a referência desta medição será a tensão
fundamental presente nesta medição, V1, e que será diferente daquela tensão
fundamental presente na medição “a”, uma vez que, agora, o circuito possui carga e
da primeira vez, não. A figura 20 mostra o diagrama fasorial resultante das duas
etapas de medição do método I.

Figura 20: diagrama fasorial completo do método I.

Nesta figura, tem-se:


Vo1: tensão fundamental na barra, sem a carga auxiliar.
V1: tensão fundamental, com a carga auxiliar presente.
Vsn: tensão harmônica de ordem “n”, medida sem a carga auxiliar.
In: Corrente harmônica de ordem “n”, que passa através da carga auxiliar.
θsn e ϕin : angulos de fase, respectivamente, da tensão Vsn e da corrente In.
θ1 : diferença angular entre as tensões fundamentais Vo1 e V1.
I 1 ( X 1 . cos ϕ1 − R1 . sen ϕ1 )
Este ângulo é dado por: θ1 = arctg ( ).
V1 + I 1 ( X 1 . sen ϕ1 + R1 . cos ϕ1 )
Nesta equação, as variáveis são:
14

R1 e X 1 : resistência e reatância do sistema, na frequência fundamental.


I1 : corrente fundamental, através da impedância auxiliar.
ϕ1: angulo entre V1 e I1.
Assumindo a corrente “In” como referência para os cálculos, tem-se:
.

V sn
= ( Zn + Zaux ). I n
Onde:
.
.
V sn =Vsn ∠n.θ 1 − θsn + ϕin = Vsn ∠α
*

In = I N ∠00
.

Z aux = Raux + jX aux


* . .

Z n = Rn + jX n

Da equação acima tem-se que:


Vsn .cosα − Raux . I n Vsn .sen α − X aux . I n
. .

Rn = In
e Xn = In
Desvantagem deste método: somente as impedâncias harmônicas que possuem as
mesmas frequências das distorções presentes na tensão “Vsn” é que podem ser
obtidas.

Método 2:
Este método assume que, antes das medições, a tensão na barra é puramente
senoidal (o que nem sempre é verdade). Assim, conectando-se uma fonte de corrente
harmônica nesta barra, haverá injeção de corrente (In), a qual produzirá uma
correspondente tensão harmônica (Vn). Isso implica que a impedância harmônica será
calculada pela relação entre a tensão harmonica e a corrente harmônica:
*
* *
Vn Vn
Zn = Zn = *
= ∠ϕin − ϕvn
In
In
O circuito equivalente dessa situação está na figura 21 e o correspondente
diagrama vetoral na figura 22.

Figura 21: Circuito equivalente para o método II


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Figura 22: Diagrama fasorial equivalente

Este método mede apenas as impedâncias harmônicas que a fonte harmônica de


corrente for capaz de gerar. Assim, este método somente terá precisão quando a barra
a ser medida não tiver nenhuma distorção harmônica prévia à inserção da fonte
harmônica de corrente.

Método 3:
Este método supre as deficiências dos métodos 1 e 2.
Para fornecer os dados necessários a este método, a primeira etapa do método
I deve ser realizada:
a) Como no método I, com as chaves S1 e S2 abertas (figura 1.38) medem-se as
tensões harmônicas Vsn=Vs ∠θsn . Novamente, a referência desta medição é a tensão
fundamental correspondente, Vo1, na qual o equipamento medidor estará
referenciado.

b) Como no método II, com a chave S1 fechada e S2 aberta mede-se In e Vn devido à


fonte harmônica de corrente inserida na barra B.
A figura 23 mostra o circuito equivalente a esta situação.

Figura 23: Circuito equivalente associado ao ‘método III

A figura 24 ilustra o diagrama fasorial correspondente. Novamente assume-se a


corrente In como a referência para os cálculos. Desta figura tem-se que:
'
' '
Vn = V + Z I
sn n n
Ou seja:
Vn ∠β2 = Vsn ∠β1 + ( Rn + jX n ) I n∠ 00 ,
onde β1 = n.θ1 − θsn + ϕin = α do método I e ϕin − ϕvn = β2
16

Separando a equação acima em suas partes real e imaginária, pode-se obter Rn e Xn


das seguintes expressões:
V .cos β2 − Vsn .cos β1 Vn .sen β2 − Vsn .sen β1
Rn = n e Xn =
In In

Figura 24 Diagrama fssorial correspondente ao método III

3.10) RESULTADOS EXPERIMENTAIS


A figura abaixo mostra o arranjo montado para a verificação experimental
dos 3 métodos. A impedância auxiliar é um banco de capacitores e a fonte harmonica
é um retificador de 6 pulsos.

Figura 25: Modelo experimental

Para fins de comparação, a tabela abaixo mostra os resultados teóricos, que foram
possíveis de serem obtidos porque esta parte experimental foi realizada em
laboratório, em um modelo reduzido de linha de transmissão, cujos parâmetros já
eram conhecidos:
17

DESENVOLVIMENTO DO EXPERIMENTO:

• Método I:
As tensões harmônicas Vn obtidas com as chaves S1 e S2 abertas foram:
Tabela MIa

E as correntes In obtidas com a chave S2 fechada foram:


Tabela MIb

Finalmente, as impedâncias harmônicas, de acordo com as equações para Rn e Zn do


V .cosα − Raux . I n Vsn .sen α − X aux . I n
. .

Método I( Rn = sn e Xn = ) serão:
In In

Tabela MIc
n Método I
Rn [OHMS] Xn [OHMS] Zn [OHMS] ϕn [graus]
5 0,75 16,66 16,88 87,48
7 0,6 23,2 23,21 88,52
18

• Método II:
Este método, conforme já mencionado, assume que não há nenhuma distorção
harmônica de tensão prévia no barramento a ser medido. Por outro lado, o método
requer a injeção de corrente harmônica na barra em questão. Assim, na figura 21, com
a chave S1 fechada e S2 aberta as tensões e correntes medidas na barra serão:

Tabela MIIa

*
* *
Vn Vn
Com estes dados nas equações Zn = Zn = *
= ∠ϕin − ϕvn tem-se os seguintes
In
In
resultados:
Tabela MIIb

• Método III:
Conforme já mencionado antes, este método usa parte daquilo que foi adotado nos
dois métodos anteriores. Assim, a primeira etapa, que consiste de medir as tensões
harmônicas na barra, estando esta a vazio, já foi realizada no Método I e está na
Tabela MIa. Em seguida, deve-se injetar as correntes harmônicas na barra, conforme
já realizado no Método II, cujos resultados estão na Tabela MIIa.
Os resultados obtidos para as impedâncias harmônicas, obtidos com as equações
V .cos β2 − Vsn .cos β1 Vn .sen β2 − Vsn .sen β1
Rn = n e Xn = foram:
In In
19

Tabela MIII

As eventuais discrepâncias dos resultados experimentais com os teóricos podem


ser atribuídos à imprecisão dos equipamentos de medição.

5.2)- O PROCESSO DE CÁLCULO DE PENETRAÇÃO HARMÔNICA

Este tipo de estudo destina-se à obtenção das tensões nas barras e correntes nos
ramos, para todas as ordens harmônicas. Considerando-se que em geral, os sistemas
elétricos são balanceados, os estudos podem ser feitos apenas para uma fase, como
nos estudos de fluxo de carga e curtos circuitos trifásicos.
Para que haja uma maior precisão nos cálculos, os seguintes cuidados devem
ser tomados por ocasião desses estudos:

1) As linhas de transmissão devem ter as suas resistências elétricas corrigidas devido


ao efeito skin.

2) Todos os transformadores, geradores, cargas, bancos de capacitores e filtros


existentes no sistema devem ser incluídos nos estudos.

3) Após estas providências, montar o diagrama de impedâncias do sistema, para cada


ordem harmônica.

4) Montar a Matriz Admitância [Ybus] do sistema e, em seguida, invertê-la, para


determinar a correspondente Matriz Impedância [Zbus].

5) Para cada barra onde houver uma fonte harmônica, as correntes harmônicas
injetadas por estas, devem ser conhecidas. Montar o correspondente vetor das
correntes harmônicas [Ibus].

6) Calcular as tensões e correntes harmônicas, de acordo com as expressões:


• Tensões nas barras:
[Vbus] h = [Zbus] h .[Ibus] h
20

• Correntes nos ramos: Iij = (Vi – Vj)/zij

7) Finalmente, voltar ao passo 3 e refazer os cálculos para a próxima harmônica.

a) EXEMPLO ILUSTRATIVO:
Considere um sistema elétrico de 3 barras, que possua uma carga não-linear
na barra 3, que injeta a corrente de 0,5 pu, na ordem harmônica “h”. Esta corrente foi
obtida através de medição na alimentação desta carga harmônica.
Calcular para esta ordem harmônica “h”, as tensões nas 3 barras e as
correntes nos ramos 1-2, 1-3 e 2-3.

Solução:
O objetivo deste exemplo é mostrar a sequência de procedimentos, não
havendo preocupação com respeito a detalhar os modelos dos equipamentos e linhas.
Assim, para uma certa ordem harmônica, o diagrama de impedância (passo 3) será:

Figura 25: Diagrama de impedâncias para o sistema em estudo

Passo 4: Montagem da Matriz Admitância [Ybus]:


1 1 1 1
y11 = + + = − j26,67 y13 = y31 = = j10
j0,15 j0,1 j0,1 + j0,1

1 1 1 −1
y22 = + + = − j33,33 y12 = y21 = = j10
j0,075 j0,1 j0,1 j0,1

1 1 −1
y33 = + = − j20,0 y23 = y32 = = j10
j0,1 j0,1 j0,1
21

⎡ y11 y12 y13 ⎤ ⎡− j26,67 j10 j10 ⎤


[Ybus] = ⎢ y 21 y 22 ⎥
23 ⎥ =
⎢ j10 − j33,33 j10 ⎥
⎢ ⎢ ⎥
⎢⎣ y 31 y 32 y 33 ⎥⎦ ⎢⎣ j10 j10 − j20⎥⎦

⎡ j0,073 j0,0386 j0,0558⎤


Invertendo-se [Ybus] obtem-se [Zbus]: ⎢ j0,0386 j0,0558 j0,0472 ⎥
⎢ ⎥
⎢⎣ j0,0558 j0,0472 j0,1014 ⎥⎦

⎡0 ⎤
⎢ ⎥
Passo 5: Montagem do vetor [Ibus] = ⎢ 0 ⎥
⎢⎣ 0,5⎥⎦

Passo 6:
• Cálculo das tensões harmônicas nas barras: [Vbus] h =[Zbus] h .[Ibus] h

⎡V1 ⎤ ⎡ j0,073 j0,0386 j0,0558⎤ ⎡0 ⎤ ⎡ j0,028⎤


⎢ ⎥ ⎢
j0,0472 ⎥
⎢ ⎥ ⎢ ⎥
⎢V2 ⎥ = ⎢ j0,0386 j0,0558

. ⎢ 0 ⎥ = ⎢ j0,024⎥ [pu]
⎢V ⎥ ⎢⎣ 0,5⎥⎦ ⎢⎣ j0,051⎥⎦
⎣ 31 ⎦ ⎢⎣ j0,0558 j0,0472 j0,1014 ⎦⎥

• Cálculo das correntes nos ramos: Iij = (Vi – Vj)/zij


I12 = (V1 – V2)/ z12 = (j0,028 – j0,024)/ j0,1 = j0,04 pu.
I13 = (V1 – V3)/ z12 = (j0,028 – j0,051)/ j0,1 = -j0,23 pu.
I23 = (V2 – V3)/ z12 = (j0,024 – j0,051)/ j0,1 = -j0,27 pu.

Passo 7: Caso se desejasse calcular o fluxo harmônico para outra ordem harmônica,
deveríamos retornar ao passo 3 e adequar o diagrama de impedâncias para esta
harmônica.
22

5.3) EXEMPLO DE ANÁLISE HARMÔNICA DE UMA INSTALAÇÃO


INDUSTRIAL ALIMENTADA EM ALTA TENSÃO

A figura 26 refere-se ao diagrama unifilar de uma indústria alimentada na


tensão de 115 kV. A sua demanda é de 50 MVA e 50% de sua carga é um conversor de
12 pulsos.

Figura 26: Sistema industrial a ser analisado

A tabela 7 mostra as correntes harmonicas geradas pelo conversor. Na barra de 115


kV, a corrente de carga é de 250 A e a corrente do conversor é de 125 A.

Tabela 7 – Correntes harmonicas do conversor em pu da fundamental

A tabela 8 ilustra os limites de correntes harmônicas para sistemas alimentados


entre as tensões de 69 e 161 kV. Como este caso refere-se a uma tensão de
alimentação de 115 kV, esta tabela é adequada para se avaliar os resultados.
Os resultados de uma análise de fluxo harmônico neste sistema está mostrado
na tabela 9.
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Tabela 8 – Limites para correntes harmônicas em sistemas de tensões entre 69 kv e 161 kV

A tabela 8 mostra que, para o nível de curto-circuito (Rsc) “40”, a distorção


permitida para as harmônicas abaixo da 11ª é de 3,5%. Para as harmônicas compreendidas
entre a 11ª e a 17a, tolera-se até 1,75%.
Por outro lado, no presente caso, a tabela 9 mostra que as distorções de corrente
causadas pelas correntes harmônicas características do conversor (11ª, 13ª, 23ª, 25ª, etc.)
injetadas no sistema, estão acima dos limites mostrados na tabela 8 ( as harmônicas de
ordem 5ª e 7ª estão abaixo dos seus respectivos limites, mas elas não são características de
um conversor de 12 pulsos).

Tabela 9 – Resultados dos fluxos de correntes harmônicas para o sistema industrial da fig 1.47

Finalmente, a tabela 10 mostra os resultados das tensões harmônicas resultantes


nas duas barras, quando essas correntes harmônicas são injetadas pelo conversor. As
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últimas duas colunas desta tabela indicam os limites toleráveis para as distorções
harmônicas individual e total (THD). Observa-se também que, as tensões harmônicas
decrescem quando o nível de curto-circuito do sistema aumenta.
Os resultados mostram que as tensões harmônicas, na barra de 115 kV, estão dentro
dos limites aceitáveis. Entretanto, caso houvesse outros consumidores na barra de 15
kV, esses resultados poderiam ser piorados, pois o nível de curto-circuito poderia
abaixar muito. Se isso ocorresse, este consumidor, que está produzindo correntes
harmônicas superiores aos limites tolerados deveria filtrar essas correntes, de tal forma
que as mesmas ficassem dentro dos limites indicados pela tabela 8. Finalmente, no
barramento de 13,8 kV, as distorções de tensão estão acima dos limites recomendados.
Uma possível solução (embora a empresa concessionária não exigisse isso, para o
presente caso), seria a instalação de filtros sintonizados. Esta providência iria evitar que
outras cargas da indústria, sejam alimentadas e sofram as consequências dessa onda de
tensão.

Tabela 10 – Resultados das distorções de tensão nas barras de 115 kv e 13, kv

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