Você está na página 1de 22

1

CAPITULO 3

ANÁLISES HARMÔNICA DE REDES


Prof. José Wilson Resende
Ph.D em Sistemas de Energia Elétrica (University of Aberdeen-Escócia)
Professor titular da Faculdade de Engenharia Elétrica
Universidade Federal de Uberlândia

3.1) LOCALIZAÇÃO DE FONTES HARMÔNICAS:

Tentar descobrir o local onde se localiza uma fonte harmônica pode ser uma
tarefa difícil, principalmente quando a rede não é radial. Nos casos em que o sistema é
radial, a tendência natural é para as correntes harmônicas fluírem das fontes
harmônicas para a fonte de tensão, conforme ilustrado abaixo. Isso acontece porque a
impedância do sistema elétrico, em geral, é baixa.

Por outro lado, os bancos de capacitores podem alterar esta regra, pois as
reatâncias dos mesmos decrescem com a freqüência. A figura abaixo ilustra isso:

Assim, para descobrir a origem de correntes harmônicas é recomendável


desligar, temporariamente, os capacitores.
Em geral, não é muito difícil saber se uma corrente harmônica tem sua origem
em uma fonte harmônica ou se ela é devido a uma ressonância. Uma ressonância se
caracteriza por possuir uma freqüência dominante (o que não é típico de uma fonte
harmônica convencional). Desta forma, ao se medir a corrente harmônica em um banco
de capacitores e se for constatado que, além da corrente fundamental, há uma única
ordem harmônica predominando, então é provável que o capacitor está participando de
uma ressonância.
Outra maneira de se detectar a origem de uma corrente harmônica é através da
correlação das variações das distorções (de tensão e/ou corrente) com o ciclo de
2
operação de uma carga suspeita (como um forno a arco, que opera em vários ciclos).
Neste sentido, alguns qualímetros já dispõem de recursos como GPS, que permitem
sincronizar os tempos de medições em diversos locais.

3.2) EXEMPLO DE RESSONÂNCIA PARALELA:

A figura abaixo mostra um sistema de distribuição com riscos de ressonância


paralela entre a reatância o banco de capacitor e a reatância equivalente (indutiva) do
transformador mais o sistema.

O circuito elétrico resumido deste sistema está na figura abaixo. Em uma certa
freqüência “hp” tem-se que a impedância equivalente, vista da barra de acoplamento,
será:
( jXs1.hp + jXt1.hp).(− jXc1 / hp)
Zeq(hp) =
( jXs1.hp + jXt1.hp) − jXc1 / hp

Igualando o denominador desta expressão a zero e explicitando-se hp tem-se:


3

Xc(1)
hp =
Xs1 + Xt1
Onde:
• “hp” é a ordem harmônica onde ocorre a ressonância paralela,
• “Xc1” é a reatância do capacitor, na freqüência fundamental,
• “Xs1” é a reatância do sistema elétrico, na freqüência fundamental,
• “Xt1” é a reatância do transformador, na freqüência fundamental.

A figura abaixo mostra o comportamento das impedâncias:


• Xc do capacitor (que decresce com a freqüência),
• Xs do sistema elétrico (que cresce com a freqüência), visto
da barra onde está conectado o banco,
• Zeq do equivalente entre o banco de capacitores e o
sistema elétrico (visto da barra onde está conectado o
banco).

Como mostra a figura, na freqüência de ressonância paralela, a impedância equivalente


é bem maior do que as demais.

Conforme já mencionado em capitulo anterior, uma expressão mais prática pode


ser obtida a partir da equação acima:
Scc
hp =
Qcap
Onde:
• “Scc” é a potência de curto-circuito trifásico na barra onde o banco de
capacitores está conectado e
• “Qcap” é a potência do banco de capacitores.

Por esta expressão pode se perceber que a ordem harmônica da ressonância


paralela decrescerá se o banco de capacitores aumentar de potência. Isto está ilustrado
na figura a seguir:
4

Esta figura mostra que, se o banco de capacitores possuir vários estágios de


operação, a freqüência de ressonância paralela mudará. Isso pode causar sérios
problemas na instalação, pois um eventual filtro projetado para operar em uma
determinada freqüência, certamente não será eficiente em uma outra freqüência.

PRINCIPAIS CONSEQUÊNCIAS DA RESSONÂNCIA PARALELA:

• Considerando que o produto da impedância harmônica (Zeq) pela corrente


harmônica Ih conduz ao surgimento de uma tensão Vh = Zeq.Ih no barramento
onde o banco de capacitores está conectado, então é fácil concluir que esta
tensão será alta para a freqüência harmônica de ressonância paralela, hp.
• Esta alta tensão, Vh, aplicada a cada um dos dois ramos (capacitor e sistema),
conforme ilustrado na figura abaixo, conduzirá a altas correntes harmônicas
fluindo por estes dois ramos. Estas correntes podem ser de valor muito superior
aquele originalmente produzido pela fonte harmônica!
5
EXEMPLO NUMÉRICO DE RESSONÂNCIA PARALELA:

Para o sistema industrial abaixo, deseja-se instalar um banco de capacitores Qc para


fazer o fator de potência, na barra de 6 kV, se tornar 0,94.
São ainda dados:
A carga do retificador é de (6 + j3) MVA e a carga do motor é de (8 + j6) MVA.
Para tornar o fp=0,94, a potência do capacitor deverá ser de Qc= 3,919 Mvar.

As correntes harmônicas do retificador são:


HO I5 I7 I11 I13
Ih [A] 118,7 76,5 36,4 24,8

SOLUÇÃO:

• Impedância do sistema elétrico:


o Em 60 Hz:
Para o nível de curto circuito de 3000 MVA, a correspondente reatância será
110 2
assim obtida: Xsist = U 2 Scc = = 0,012Ω .
3000
o Nas freqüências harmônicas: Xsist(h) = 0,012.h Ω

• Impedância do transformador
62
o Em 60 Hz: Xt = 0,10 = 0,18Ω
20
o Nas freqüências harmônicas: Xt(h) = 0,18.h Ω

• Impedância do capacitor
6000 2
o Em 60 Hz: Xc = = 9,186Ω
3,919.106
o Nas freqüências harmônicas: Xc(h) = (9,186/h) Ω
6
Dos dados acima obtidos, já é possível estimar a ordem harmônica da
ressonância paralela na barra de 6 kV. Para tal, será calculado nível de curto-circuito
nesta barra. A impedância total, em 60 Hz, será Xsist + Xt = j0,012 +j0,18 = 0,192 Ω.
Logo, o correspondente nível de curto será:
U2 62
Scc = = = 187,5MVA
( Xsist + Xt ) 0,192
Considerando que Qc= 3,919 Mvar, então:
187,5
hr = = 6,91
3,919

A figura a seguir ilustra o circuito elétrico equivalente, para a análise harmônica:

Nesta figura, para h=hr=6,91, os ramos indutivo e capacitivo terão as seguintes


impedâncias:
• Ramo indutivo: (Xsist + Xt).hr = (j0,012 +j0,18).6,91 = 0,192 .6,91 = j1,329Ω.
• Ramo capacitivo: Xc(hr) = -j(9,186/h) =-j (9,186/6,91) = -j1,329 Ω.

Estes valores confirmam a ressonância paralela.


A seguir serão calculadas as tensões harmônicas na barra de 6 kV, para cada
ordem harmônica em que o conversor produz corrente. Genericamente, a tensão
harmônica será obtida de:
⎡ jXsist (h).( − jXcap (h) ⎤ ⎡ ( j 0,192.h).( − j 9,186 / h) ⎤
Vh = Ih.⎢ ⎥ = Ih.⎢ ⎥
⎣ jXsist (h) − jXcap (h) ⎦ ⎣ j 0,192.h − j.9,186 / h ⎦
Aplicando-se esta equação para todas as harmônicas, tem-se a seguinte tabela:

jXsist(h)= -jXcap(h) =
h Ih j0,192.h -j9,186/h Zeq(h) V(h)=Ih.Zeq(h)
[A] [Ω] [Ω] [Ω] [V]
5 118,7 j0,96 -j1,8372 -j2,01 238,6
7 76,5 j1,344 -j1,312 j55,1 4.215
11 36,4 j2,112 -j0,835 j1,381 50,27
13 24,8 j2,496 -j0,7 j0,9728 24,1
7
Lembrando que a tensão fundamental fase-neutro é 3.464 V, a tensão eficaz será:
Veficaz = 3.4642 + 238,62 + 42152 + 50,27 2 + 24,12 = 5.461,28[V ] .

Este valor é 57,66% maior do que a tensão fundamental (o limite superior


admitido por norma é de 10%)!
As correspondentes correntes harmônicas que percorrem o capacitor podem ser
obtidas através do circuito abaixo e da seguinte equação:
V ( h)
Icap(h) =
Xcap(h)

Exemplificando para a 5a.harmônica:


238,5[V ]
Icap(5) = = 129,86[ A]
1,8372[Ω]
Para as demais harmônicas, tem-se:
Icap(7) = 3.212,6 [A]; Icap(11) = 60,2 [A]; Icap(13) = 34,4 [A];

Qcap / 3 (3,919 / 3).106


A corrente fundamental no capacitor é: Icap(1) = = = 377,11[ A] .
Vff / 3 (6 / 3 ).103
A corrente eficaz, através do capacitor será:
Ief = 377,112 + 129,862 + 3.212,62 + 60,22 + 34,42 = 3.238[ A] .
Esta corrente é 8,6 vezes (3.238/377,11=8,66In) maior do que a corrente fundamental
nominal. O limite superior admitido corresponde a um acréscimo de 0,8In.

É importante salientar também que, caso houvesse uma fonte harmônica na barra de
110 kV, poderia ocorrer uma ressonância série entre o transformador de 20MVA (que
interconecta as barras de 110kV e 6 kV) e o banco de capacitores. Isso será ilustrado na
próxima seção.
8

3.4) EXEMPLO DE RESSONÂNCIA SÉRIE:

No sistema elétrico abaixo, em uma certa freqüência “hs”, o capacitor poderá ter
uma reatância capacitiva “-jXc(hs)” de valor igual à reatância indutiva “jXt(hs)”do
transformador. Nestas condições, pode ser escrito:
Xc (1)
= hs. Xt (1)
hs
Explicitando-se “hs” tem-se:
Xc(1)
hs =
Xt (1)

Dada a situação em que uma carga retificadora é colocada como indicado na figura
acima, temos uma ressonância série. Vejamos por que. Se as correntes I(h) se dividem
entre o caminho para as fontes geradoras e para o caminho de uma suposta indústria
em B (com seu banco de capacitores em paralelo a fim de corrigir o fator de potência),
as componentes IAB(h) encontrarão uma indutância (do transformador) em série com o
banco de capacitores e, conseqüentemente, uma ressonância série poderá ser formada.
Mas é comum que se pergunte: Em B, as correntes não se subdividirão, umas para o
caminho do capacitor, e outras para o caminho (que não está mostrado) da própria
indústria (predominantemente cargas indutivas)? É nesse ponto que entra nossa análise
de impedâncias em função das freqüências harmônicas. Sabemos que para uma
9
indutância L dada, a respectiva impedância indutiva variará com as freqüências
harmônicas segundo o seguinte gráfico:

Figura 2.3.8 – Impedância Indutiva X Freqüências Harmônicas

Agora sabemos também que, para uma dada capacitância C, a respectiva impedância
capacitiva variará da seguinte forma com as freqüências harmônicas:

Figura 2.3.9 – Impedância Capacitiva X Freqüências Harmônicas

Ou seja, nossa análise pretende concluir que, crescendo bastante a impedância indutiva
da indústria com as freqüências harmônicas, enquanto decresce fortemente a reatância
capacitiva do banco com as mesmas, então a impedância equivalente da indústria, em
freqüências superiores a 60Hz tende a resultar apenas na reatância capacitiva do banco
de capacitores.
Então nosso circuito equivalente fica como a seguir:

Figura 2.3.10 – Circuito Equivalente de Ressonância Série


10

Como se sabe, o efeito imediato de uma ressonância série é o decréscimo da


impedância série, naquela ordem harmônica hs.
Assim, um consumidor que tenha um banco de capacitores alocado para
correção de fator de potência, mesmo não possuindo fontes harmônicas, poderá atrair
correntes harmônicas para seus capacitores!
Estas altas correntes harmônicas, por sua vez, irão provocar grandes tensões nos
terminais do capacitor.

E para procedermos com os cálculos referentes à ressonância série, devemos fazer:


X cap (1)
hrs = ; ordem de ressonância
X t (1)

⎡ jX sist ( h ) ⋅ ( jX t ( h ) − jX cap ( h ) ) ⎤
V A( h ) = I ( h ) ⋅ ⎢ ⎥ ; tensão no retificador
⎣⎢ jX sist ( h ) + jX t ( h) − jX cap ( h ) ⎥

V A( h )
I AB ( h ) = ; corrente em série
jX t ( h ) − jX cap ( h )

VB ( h ) = I AB ( h ) ⋅ (− jX cap ( h ) ) ; tensão no capacitor

2.3.2.1- Principais conseqüências da ressonância série


Façamos uma análise básica: se o circuito com a ressonância série torna-se puramente
resistivo, então é porque a reatância indutiva se iguala com a reatância capacitiva; se
isso acontece, a resistência total é mínima; com isso, a corrente se torna máxima. A
observação do gráfico a seguir complementa nosso raciocínio.

Figura 2.3.11 – Impedância X Freqüências Harmônicas

2.3.2.2- Exemplo numérico de ressonância série


Para o mesmo sistema industrial do sub-item 3.1.2, vamos agora retirar o retificador da
barra de 6 kV e colocá-lo na barra de 110 kV. Observe a figura abaixo:
11

Figura 2.3.12 – Circuito Exemplo Numérico de Ressonância Série

Podemos observar que as correntes harmônicas, ao serem atraídas pela baixa


impedância do banco de capacitores (que decresce com a ordem harmônica),
percorrerão um caminho em série com o mesmo, sendo possível então, o aparecimento
do fenômeno de ressonância série explicado anteriormente.
Observamos também, na figura acima, a presença de uma carga indutiva, representada
pelo retângulo, em paralelo com o banco de capacitores. Ela pode representar uma
indústria, ou então o motor e outras cargas do primeiro exemplo dado. É importante
salientar que com o crescimento da ordem harmônica, a reatância indutiva cresce
proporcionalmente, podendo então ser desprezada para os cálculos que faremos a
seguir.
Observe o circuito equivalente para o fenômeno que iremos estudar:

Figura 2.3.13 – Circuito equivalente para exemplo numérico de ressonância série

Podemos já estimar a ordem harmônica de ressonância série a partir da fórmula:


X cap (1) 9,186
hrs = = = 7,144
X t (1) 0,18

Para confirmar a ressonância série, prosseguiremos substituindo h=hrs nos valores de


impedâncias da figura acima:

Impedância indutiva:
j ⋅ 0,18 ⋅ 6,917 = j1,286Ω

Impedância capacitiva:
9,186
− j⋅ = − j1,286Ω
6,917
12
A seguir calcularemos as tensões harmônicas na barra de 6 kV para cada harmônica
que o conversor produz corrente. Para tal, primeiro calculamos a tensão em A,
lançando mão da seguinte equação:
⎡ jX sist ( h ) ⋅ ( jX t ( h ) − jX cap ( h ) ) ⎤
V A( h ) = I ( h ) ⋅ ⎢ ⎥
⎢⎣ jX sist ( h ) + jX t ( h ) − jX cap ( h ) ⎥⎦

Depois calcula-se a corrente capacitiva para cada harmônica produzida pelo conversor.
V A( h )
I AB ( h ) =
jX t ( h ) − jX cap ( h )

E, finalmente, calcula-se, a partir da fórmula anterior, as tensões harmônicas sobre o


capacitor através da seguinte equação:
VB ( h ) = I AB ( h ) ⋅ (− jX cap ( h ) )

Repetindo a tabela das correntes produzidas pelo retificador:

Ordem h I5 I7 I11 I13


Ih [A] 118,7 76,5 36,4 24,8
Tabela 2.3.4 – Correntes produzidas pelo retificador

Aplicando-se a referida equação para todas as harmônicas, têm-se a seguinte tabela:

h jXsist(h) jXt(h) -jXcap(h) Zeq(h)


[Ω ] [Ω] [Ω] [Ω]
5 j0,06 j0,9 -j1,837 j0,064
7 j0,084 j1,26 -j1,312 -j0,1365
11 j0,132 j1,98 -j0,835 j0,1183
13 j0,156 j2,34 -j0,707 j0,1424
Tabela 2.3.5 – Impedâncias equivalentes para cada ordem harmônica

As correspondentes tensões nas barras A e B, bem como a corrente entre estas barras,
estão na tabela abaixo:
h VA(h) [V] IAB(h) [V] VB(h) [V]
5 7,597 8,1078 14,89
7 10,442 200,8077 263,46
11 4,306 3,7607 3,14
13 3,532 2,1629 1,53
Tabela 2.3.6 – Tensões e correntes harmônicas no sistema da figura 2.3.13
13
Lembrando que a tensão fundamental fase-neutro é 3464,1 V, a tensão eficaz será:
Vef = 3464,12 + 14,89 2 + 263,46 2 + 3,14 2 + 1,532 = 3471,15V

Sendo:
6000
Vnom = = 3464,1V
3

Esse valor é:
3471,15
= 1,0020
3464,1

Este resultado indica que esta tensão é aproximadamente 0,20% maior que a tensão
fundamental. Cabe aqui relembrar que o limite superior admitido através de normas é
de 10% maior que a fundamental. Até aí tudo bem.

Mas vamos agora analisar a corrente eficaz, que então será:


I ef = 377,12 + 8,1078 2 + 200,8077 2 + 3,7607 2 + 2,1629 2 = 427,332 A

Sendo:
Vnom
I nom = = 377,1A
X cap (1)

Essa corrente é:
427,332
= 1,1332 A
377,1

Ou sejam esta corrente é aproximadamente 13% maior que a fundamental nominal. O


limite superior ronda os 80% maior. Concluímos que, apesar de não ultrapassar o
limite suportado pelo banco de capacitores, a corrente de 7ª harmônica (a freqüência de
ressonância, como vimos, encontra-se em torno da sétima) é exageradamente grande,
quase o valor da nominal.

Conclusão: A ressonância série pode ser muito danosa quando levamos em


consideração o alto valor de corrente que ela produz para determinada freqüência.

Em muitos sistemas elétricos que já estejam com problemas de ressonância


série, pode-se também ter, em outra freqüência, o fenômeno da ressonância
paralela, conforme abaixo ilustrado.
14

OBS: enquanto a ressonância série ocorre entre o transformador e o banco de


capacitores da indústria:

A ressonância paralela ocorre entre o banco de capacitores da outra barra e o sistema


elétrico:
15

3.6) COMO OBTER A IMPEDÂNCIA HARMÔNICA DE UMA BARRA, A


PARTIR DA ELEVAÇÃO DE TENSÃO CAUSADA PELA CONEXÃO DE UM
BANCO DE CAPACITORES

Seja o sistema abaixo, onde a barra possui o nível de curto-circuito SCC.

SCC pu
A freqüência de ressonância é: fr = f0. .
Qc pu
SCC pu
Em termos de ordem harmônica: hr = .
Qc pu
Na figura acima, com o capacitor desconectado: V s = Vbus + jX s .I (1)
Conectando o capacitor: Vs ' = Vbus 0 + jX s .( I + Ic) (2)
Vbus0
Onde: Ic = j
Xc
Assumindo que a tensão Vs da fonte permaneça constante e subtraindo (2) –(1):
Vs − Vs = (Vbus 0 − Vbus ) + [ jX s .( I + Ic) − jX s .I ]
'

0 = (Vbus 0 − Vbus ) + jX s Ic

Vbus 0 X
(Vbus 0 − Vbus ) = − jX s Ic = − jX s ( j ) = s .Vbus 0
Xc Xc

Assim, a elevação de tensão, devido à presença do capacitor, será:


Vbus 0 s − Vbus Xs
∆Vbus = = .
Vbus 0 XC
.
∆V
Em pu: ∆Vbus ( pu ) = bus = s = ω 2 LsC = (2π )2 . f 0 2 .Ls .C
X
Vbus 0 XC

Desta expressão, pode-se tirar que: ∆Vbus ( pu ) / (2π ) . f 0 = .Ls .C


2 2

Por outro lado, sabe-se que a frequência de ressonância pode ser assim re-escrita:
1
fr = .
2π Ls C

1 f0
Substituindo o produto “L5.C” na equação f r = : fr =
2π Ls C ∆Vbus ( pu )
16

1 1
Sendo hr = f r f , então: hr = e ∆Vbus ( pu ) = 2 .
0 ∆Vbus ( pu ) hr
Esta última expressão indica, por exemplo, que a presença de um capacitor que seja
capaz de causar um acréscimo de 0,04 pu na tensão, resultará na ressonância paralela
de ordem 5 ( hr = 1 = 5 ). Da mesma forma, se o capacitor possuir uma potência
0,04
que seja capaz de elevar a tensão em 2%, então a ressonância será na ordem harmônica
7!

APLICAÇÃO PRÁTICA:
Sabe-se que um banco de capacitores de 13,8 kV, 5 MVA, instalado em uma barra,
causa um acréscimo de tensão de 400 V. Calcule o nível de curto desta barra (SCC), a
ordem harmônica da ressonância paralela. Em seguida, plotar a impedância harmônica
resultante, nesta barra.

SOLUÇÃO:
400
Transformando a tensão de 400V em pu: ∆Vbus ( pu ) = = 0,029 pu .
13800
1
A ordem harmônica da ressonância paralela será: hr = = 5,874 .
∆Vbus ( pu )
13,82
A impedância base, Zb será: Z b = = 38,088Ω .
5
13,82
A reatância capacitiva do banco, será: X C = = 38,088Ω . Em pu: XC=1 pu.
5
Logo, QC =1 pu.

Vc 13.8.103 / 3
A corrente no capacitor será: Ic = j = = j 209,2 A .
Xc − j 38,088
Da expressão 0 = (Vbus 0 − Vbus ) + jX s Ic
Pode-se tirar que:
∆Vbus 400 / 3
Xs = = = 1,104Ω = 0,029 pu .
IC 209,2
Logo, a potência de curto desta barra será:
1 1
SCC ( pu ) = = = 34,5 pu ⇒ 172,5MVA
X s ( PU ) 0,029
A ressonância paralela, entre o banco de capacitores e esta impedância será na ordem
harmônica::
172,5
hr = = 5,87
5
17
A impedância equivalente será dada por:
hX s . Xc / h X s Xc
Zeq = − j = −j , cujo espectro harmônico da impedância, em
hX s − Xc / h hX s − Xc / h
módulo e fase, será:

3.7) MÉTODO SIMPLIFICADO PARA ANÁLISE HARMÔNICA

Plotar a impedância harmônica da barra de 20 kV, sem e com os filtros.

Dados dos filtros:


18
Adotando Mbase = 100 MVA, a impedância base, na região de 20 kV será:
202
Z bL = = 4Ω .
100
• Impedância do sistema, vista da barra de 110 kV:
Para Scc= 4000 MVA e (X/R)sist = 7, o ângulo da impedância será:
φ = tan −1 ( X / R) sist = tan −1 (7) = 81,87°
Mb
Z sist (h) = .[cosφ + jhsenφ ] = 0,003536 + j 0,024749.h [pu].
Scc

• Impedância do transformador de ST =31,5 MVA:


Mb
Z T (h)[ pu ] = ( RT + jh. X T ) = 0,009524 + j 0,44435.h .
ST

• Somando-se as impedâncias do sistema e do transformador, tem-se a impedância


da rede, vista da barra de 20 kV: Z 20 (h) = Z sist + Z T . A admitância correspondente
a esta impedância será:
1
Y20 (h) = [pu].
Z 20 (h)

• Impedância da carga de 40 MVA e fp=1,0 (cos θ=1):


Mb 100
Z L(h) = [cos θ + j.h.senθ ] = [1 + j 0] = 2,5 [pu]. Esta impedância deverá ser
Sc arg a 40
1
transformada em admitância: YL = = 4 pu
Z L ( h)

• Impedância do banco de capacitores (Qc= 3,8 MVAr) :


U2 U2
Zc (1) = − j [Ω] . Dividindo esta impedância pela impedância base ( Z bL = ),
Qc Mb
tem-se a impedância do capacitor, em pu, na freqüência fundamental:
Mb
Zc (1)[ pu ] = − j .
Qc

Para as freqüências harmônicas, tem-se: Mb 26,316 .


Zc(h)[ pu ] = − j =−j
h.Qc h
Tal como para a impedância da carga, esta impedância deverá ser convertida em
admitância:
1
YC (h) = [pu].
Zc(h)

• Impedância equivalente da barra, sem os filtros:


Somando-se todas as 4 admitâncias acima, tem-se:
YeqO ( h) = Y20 ( h) + YL ( h) + YC ( h ) .[pu]
19
Invertendo-se esta admitância e a convertendo em OHMS:
Z bL
Z eqO (h) = .[OHMS]
YeqO (h)

A figura abaixo mostra a variação desta impedância com a freqüência.


Nota-se que há uma ressonância na ordem harmônica h= 7,5, quando a
impedância atingiu o valor de 9,974 OHMS. Esta ordem harmônica de
ressonância também pode ser obtida da equação:
Xc
hr = Scc Qc =
X sist + X T

• Impedância do Filtro equivalente:


A partir dos dados de R, XL e XC dados na tabela da página anterior, deverá ser
calculada a impedância de cada um dos 4 filtros, através da equação geral:
XC
Z f (h) = R + j (h. X L − ) [OHMS]
h
Em seguida, cada impedância deverá ser invertida, para se obter a Admitância
equivalente de cada filtro:
Y f (h) = 1 [MHO]
Z (h) f

O próximo passo será somar as 4 admitâncias dos filtros:


YF ( h) = [Y f 1 ( h) + Y f 2 ( h) + Y f 3 ( h) + Y f 4 ( h)] [MHO]

Finalmente, invertendo-se esta admitância total, tem-se a impedância do Filtro


equivalente:
1
Z F ( h) = . [OHMS]
YF ( h )

Para se calcular a impedância equivalente vista da barra de 20 kV, deverão ser somadas
as admitâncias
• :Da barra,sem os filtros: YeqO (h) = Y20 (h) + YL (h) + YC (h)
• Dos 4 filtros: Y F ( h ) = [Y f 1 ( h ) + Y f 2 ( h ) + Y f 3 ( h ) + Y f 4 ( h )] .
20

1
Z barra (h) =
Obtém-se, a partir desta soma, a impedância da barra: [Yeq 0 (h) + YF (h)]

3.8)- PROCESSO DE CÁLCULO DE PENETRAÇÃO HARMÔNICA


ADOTANDO A MATRIZ Zbarra

Este tipo de estudo destina-se à obtenção das tensões nas barras e correntes nos
ramos, para todas as ordens harmônicas. Considerando-se que em geral, os sistemas
elétricos são balanceados, os estudos podem ser feitos apenas para uma fase, como nos
estudos de fluxo de carga e curtos circuitos trifásicos.
Para que haja uma maior precisão nos cálculos, os seguintes cuidados devem ser
tomados por ocasião desses estudos:

1) As linhas de transmissão devem ter as suas resistências elétricas corrigidas devido


ao efeito skin.

2) Todos os transformadores, geradores, cargas, bancos de capacitores e filtros


existentes no sistema devem ser incluídos nos estudos.

3) Após estas providências, montar o diagrama de impedâncias do sistema, para cada


ordem harmônica.

4) Montar a Matriz Admitância [Ybus] do sistema e, em seguida, invertê-la, para


determinar a correspondente Matriz Impedância [Zbus].

5) Para cada barra onde houver uma fonte harmônica, as correntes harmônicas
injetadas por estas, devem ser conhecidas. Montar o correspondente vetor das
correntes harmônicas [Ibus].
21
6) Calcular as tensões e correntes harmônicas, de acordo com as expressões:
• Tensões nas barras:
[Vbus] h = [Zbus] h .[Ibus] h

• Correntes nos ramos: Iij = (Vi – Vj)/zij

7) Finalmente, voltar ao passo 3 e refazer os cálculos para a próxima harmônica.

a) EXEMPLO ILUSTRATIVO:
Considere um sistema elétrico de 3 barras, que possua uma carga não-linear na
barra 3, que injeta a corrente de 0,5 pu, na ordem harmônica “h”. Esta corrente foi
obtida através de medição na alimentação desta carga harmônica.
Calcular para esta ordem harmônica “h”, as tensões nas 3 barras e as correntes
nos ramos 1-2, 1-3 e 2-3.

Solução:
O objetivo deste exemplo é mostrar a sequência de procedimentos, não havendo
preocupação com respeito a detalhar os modelos dos equipamentos e linhas. Assim,
para uma certa ordem harmônica, o diagrama de impedância (passo 3) será:

Figura 25: Diagrama de impedâncias para o sistema em estudo

Passo 4: Montagem da Matriz Admitância [Ybus]:


1 1 1 1
y11 = + + = − j26,67 y13 = y31 = = j10
j0,15 j0,1 j0,1 + j0,1

1 1 1 −1
y22 = + + = − j33,33 y12 = y21 = = j10
j0,075 j0,1 j0,1 j0,1

1 1 −1
y33 = + = − j20,0 y23 = y32 = = j10
j0,1 j0,1 j0,1
22

⎡ y11 y12 y13 ⎤ ⎡− j26,67 j10 j10 ⎤


[Ybus] = ⎢ y 21 y 22 ⎥
23 ⎥ =
⎢ j10 − j33,33 j10 ⎥
⎢ ⎢ ⎥
⎢⎣ y 31 y 32 y 33 ⎥⎦ ⎢⎣ j10 j10 − j20⎥⎦

⎡ j0,073 j0,0386 j0,0558⎤


Invertendo-se [Ybus] obtem-se [Zbus]: ⎢ j0,0386 j0,0558 j0,0472 ⎥
⎢ ⎥
⎢⎣ j0,0558 j0,0472 j0,1014 ⎥⎦

⎡0 ⎤
⎢ ⎥
Passo 5: Montagem do vetor [Ibus] = ⎢ 0 ⎥
⎢⎣ 0,5⎥⎦

Passo 6:
• Cálculo das tensões harmônicas nas barras: [Vbus] h =[Zbus] h .[Ibus] h

⎡V1 ⎤ ⎡ j0,073 j0,0386 j0,0558⎤ ⎡0 ⎤ ⎡ j0,028⎤


⎢ ⎥ ⎢
j0,0472 ⎥
⎢ ⎥ ⎢ ⎥
⎢V2 ⎥ = ⎢ j0,0386 j0,0558

. ⎢ 0 ⎥ = ⎢ j0,024⎥ [pu]
⎢V ⎥ ⎢⎣ 0,5⎥⎦ ⎢⎣ j0,051⎥⎦
⎣ 31 ⎦ ⎢⎣ j0,0558 j0,0472 j0,1014 ⎥⎦

• Cálculo das correntes nos ramos: Iij = (Vi – Vj)/zij


I12 = (V1 – V2)/ z12 = (j0,028 – j0,024)/ j0,1 = j0,04 pu.
I13 = (V1 – V3)/ z12 = (j0,028 – j0,051)/ j0,1 = -j0,23 pu.
I23 = (V2 – V3)/ z12 = (j0,024 – j0,051)/ j0,1 = -j0,27 pu.

Passo 7: Caso se desejasse calcular o fluxo harmônico para outra ordem harmônica,
deveríamos retornar ao passo 3 e adequar o diagrama de impedâncias para esta
harmônica.

Você também pode gostar