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CAPITULO 2

HARMÔNICOS EM SISTEMAS ELÉTRICOS


Prof. José Wilson Resende
Ph.D em Sistemas de Energia Elétrica (University of Aberdeen-Escócia)
Professor titular da Faculdade de Engenharia Elétrica
Universidade Federal de Uberlândia

1.1) INTRODUÇÃO
De uma maneira geral, as tensões geradas pelas centrais elétricas possuem
formas de ondas praticamente senoidais. Nas barras mais próximas dessas usinas,
devido aos altos níveis de curto-circuito, as medições efetuadas por analisadores
harmônicos ou osciloscópios, mostram que as tensões têm menos que 1% de
distorção. Entretanto, à medida que os pontos de medições se distanciam das
centrais geradoras e se encaminham para as cargas elétricas, as distorções de tensão
aumentam. Nas proximidades de certas cargas, as formas de onda das correntes
também são bastante distorcidas.
Os relatos de problemas de distorções harmônicas datam de 1930/1940.
Provavelmente, o primeiro equipamento a ser “acusado” de causar problemas
harmônicos, foi o transformador (ver figura abaixo). As primeiras vítimas de então,
foram as linhas telefônicas, que sofriam interferências indutivas.

As distorções nas formas de onda das tensões e correntes tornaram-se mais


significativas nos últimos anos, com o crescente progresso nos desenvolvimentos
de cargas controladas por tiristores. Para muitos engenheiros, as distorções
harmônicas são os mais importantes problemas de qualidade da energia de um
sistema elétrico.
Embora os problemas causados pelos harmônicos possam ser de difícil
solução, eles não ocorrem tão frequentemente como os afundamentos de tensão e os
cortes de energia. Em geral, os consumidores industriais têm mais problemas
harmônicos que os sistemas de distribuição de energia de uma concessionária. Isso
acontece porque as indústrias, nos dias de hoje, possuem um grande número de
2
cargas geradoras de correntes harmônicas, como os equipamentos controladores de
velocidade de motores, os fornos a arco, os conversores AC/DC, etc. Ironicamente,
essas cargas industriais, conforme será mostrado adiante, são vítimas da própria
“poluição” elétrica que elas mesmo provocam. Ë como se “o feitiço virasse contra o
feiticeiro”...
Em geral, as cargas elétricas, independentemente de gerarem ou não
correntes harmônicas, são projetadas para operarem com tensões balanceadas e
perfeitamente senoidais. Assim, os engenheiros eletricistas, nas indústrias
modernas, acabam ficando com a árdua missão de minimizar a causa para que os
efeitos das distorções harmônicas não se volte para os seus equipamentos mais
sensíveis.

DISTORÇÃO HARMÔNICA

A figura 1.1 mostra uma onda periódica, não senoidal, representada por uma
soma de ondas senoidais, de diversas frequências múltiplas inteiras da frequência
fundamental. Essas frequências múltiplas são denominadas de harmônicas da
fundamental. A soma dessas senoides é denominada de Série de Fourier.

Figura 1.1: Decomposição de uma onda distorcida em uma série de senóides

A vantagem de se usar uma série de senóides para representar uma onda


distorcida está no fato de que é muito mais fácil de se estudar e analisar uma onda
senoidal. Nessas condições, as técnicas usuais de cálculo de circuitos elétricos
podem ser aplicadas. A desvantagem é que o sistema deve ser analisado para cada
frequência, separadamente.
A palavra harmônicos é, em geral, usada para denotar problemas de tensão
ou corrente. Assim, é comum ouvir-se, de algum engenheiro eletricista, que o
sistema controlador de velocidade está com problemas harmônicos. Isso pode
significar qualquer uma das seguintes hipóteses:
• As tensões harmônicas são muito grandes que o sistema de controle não
pode proporcionar os ângulos de disparos adequadamente.
3
• As correntes harmônicas são muito grandes para a capacidade de algum
equipamento (um transformador ou um motor, por exemplo). Em
consequência, o mesmo deverá operar em uma potência abaixo do valor
nominal, para o qual ele foi projetado.
• As tensões harmônicas são muito grandes devido aos altos valores das
correntes harmônicas produzidas pelo equipamento.

Essa pequena lista acima sugere que existem diversas causas e efeitos para as
tensões e correntes, bem como uma relação entre ambas. Assim, alerta-se para o
fato de que o termo harmônicas é muito ambíguo para definir, por sí só, um
problema.
Conforme a figura 1.2 sugere, a distorção de tensão é, em geral, uma
consequência da passagem de uma corrente distorcida através de uma impedância
série. Embora uma central elétrica gere tensão praticamente senoidal pura, as
correntes harmônicas fluindo através da impedância do sistema, causarão quedas de
tensão do tipo Z(h).I(h) na mesma, para cada ordem harmônica. Cabe aqui ressaltar
que a figura 1.2 ilustra o fluxo da corrente fundamental, que é no sentido gerador-
carga. O fluxo das correntes harmônicas é, normalmente, no sentido oposto (carga-
gerador), pois essas correntes são geradas pelas cargas e não pelo gerador!

Figura 1.2: Correntes através da impedancia da rede elétrica

De uma maneira geral, pode-se afirmar que:


• O fluxo das correntes harmônicas é que causará o surgimento de tensões
distorcidas no barramento da carga.
• O tamanho da distorção de tensão depende da impedância da rêde e da corrente
harmônica gerada pela carga.
• A mesma carga, gerando a mesma corrente harmônica I(h), porém se instalada
em uma segunda barra, causará uma distorção de tensão diferente daquela da
primeira barra. Isso acontece porque a tensão harmônica é o resultado do
produto Z(h).I(h) e, a impedância do sistema Z(h), varia de uma barra para outra.

Diante dessas considerações, pode-se afirmar que, na maioria das vezes:


1. O controle sobre a quantidade de correntes harmônicas injetadas em uma barra
de acoplamento consumidor-fonte geradora, será de responsabilidade da
indústria.
4
2. Caso a corrente harmônica injetada na rede esteja dentro dos limites, o controle
sobre a distorção harmônica é de responsabilidade da proprietária da rede
elétrica, pois somente ela tem controle sobre a impedância da rede.

Muitos problemas harmônicos nos sistemas elétricos surgem nas barras onde
bancos de capacitores são instalados para correção de fator de potência. Isso pode
ser melhor explicado com o auxílio da figura 1.3, que mostra o diagrama unifilar
simplificado de uma indústria, a qual está sendo representada por um conversor. Na
frequência fundamental, a rede elétrica fornece, através de um transformador
rebaixador (T), a corrente fundamental i(1) para esta carga.

Figura 1.3: Rede elétrica alimentando uma indústria

O circuito elétrico equivalente correspondente à figura 1.3, para a frequência


fundamental, está ilustrado na figura 1.4. Como é sabido pela teoria da “correção de
fator de potência”, a tensão fundamental, V(1) pode ser regulada com a instalação
de bancos de capacitores, os quais irão fornecer reativo para a carga, reduzindo,
assim, a corrente vinda do sistema. Em consequência, a queda de tensão na
impedancia Zs(1) da rede, será reduzida e a tensão fundamental, V(1) ficará mais
próxima da fem E(1).

Figura 1.4: Circuito elétrico monofásico equivalente, para a frequência fundamental (h=1), para
o sistema da figura 1.3
Essa é a parte boa da “estória” da correção do fator de potência. Agora será
mostrado o lado problemático, pouco observado por muitos engenheiros
eletricistas. Vejamos o que acontecerá neste mesmo circuito, do ponto de vista
harmônico. A figura 1.5 representa o diagrama unifilar da figura 1.3, visto para as
frequências harmônicas. Nesta figura, as correntes harmônicas são geradas pelo
5
conversor, localizado na indústria. O sistema elétrico, agora, é apenas uma
impedância Zs(h).

Figura 1.5: Circuito elétrico monofásico equivalente, para as frequências


harmônicas (h>1)

Se o banco de capacitores não estiver conectado à rede, a tensão V(h), medida


no “PAC” para cada ordem harmônica “h”, é dada por:
V(h)=Zs(h).i(h) (1)

Esta tensão pode até não trazer transtornos ao sistema elétrico.

Por outro lado, com o banco de capacitores ligado à rede, a fonte de corrente
harmônica enxerga, como impedância equivalente ZEQUIV(h), a seguinte expressão:
jZs (h).[− jXc (h)]
Z EQUIV (h) = (2)
j[ Zs (h) − Xc(h)]
OBS: para simplificação, nesta análise, está se considerando que a impedância da rede possui
resistência desprezível.

Nestas condições, a tensão V(h) agora deverá ser obtida através de:
jZs (h).[− jXc(h)]
V (h) = Z EQUIV (h).i (h) = .i (h)
j[ Zs (h) − Xc(h)]
Zs (h).[− jXc(h)]
V(h)=ZEQUIV(h).i(h)= .i(h) (3)
j[ Zs (h) − Xc(h)]

Sabe-se que, em geral, a impedância Zs(h), por ser de característica indutiva,


cresce com a frequência, enquanto que a reatância dos bancos de capacitores
decresce com a frequência. Nestas condições, pode acontecer a hipótese em que
Zs(h) e Xc(h) possuam módulos semelhantes. Isso levará o denominador de (3),
“Zs(h)-Xc(h)“ a possuir um valor numérico pequeno. Isso poderá refletir no
surgimento de um valor, às vezes altamente proibitivo, para a tensão V(h)! Esta
tensão poderá até ser da mesma ordem de grandeza da tensão fundamental V(1)!
6
Esse fenômeno é conhecido como ressonância paralela. Ao aumento
exagerado da tensão “V(h)” diz-se que ocorreu uma amplificação da tensão. Esse
efeito é maior em redes com baixo valor de resistência elétrica na rede.
Para exemplificar, considere-se um determinado circuito secundário de
sistema de distribuição, no qual se encontra instalado um capacitor de baixa tensão
(220 V) com uma potência de 10 kVAr. A figura 1.6 ilustra uma hipótese, em que
se tem frequência de ressonância paralela em torno da harmônica de ordem 15. Isso
equivale a dizer que a impedância equivalente, considerando-se o capacitor e o
transformador de distribuição, terá um máximo nesta frequência. Nessas condições,
se a ordem de uma corrente harmônica injetada por um equipamento perturbador
corresponder à ordem da ressonância paralela, há risco de sobretensões harmônicas,
especialmente quando a rede opera com pouca carga. Estas sobretensões poderiam
danificar os capacitores, assim como, cargas sensíveis conectadas ao circuito.
5 Reatância Capacitiva
Reatância Indutiva
4
REATÂNCIA (OHMS)

0
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47 49
ORDEM HARMÔNICA

Figura 1.6 – Reatâncias do transformador e do capacitor em função da frequência.

Para o caso de circuitos secundários de distribuição, os riscos se tornam


ainda maiores quando a frequência de ressonância paralela se encontra entre 180 e
420 Hz.
Em diversas situações, o fenômeno da ressonância paralela pode ocorrer em
uma determinada freqüência enquanto que pode surgir ressonância série em outra
freqüência, conforme ilustrado na figura 1.7. Estes dois assuntos (ressonâncias
paralela e em série serão abordadas com mais detalhes ainda neste capítulo).
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Figura 1.7 – Curva de resposta em frequência de um circuito com ressonâncias


paralela e em série

Em linhas gerais, a presença de correntes harmônicas em circuitos


secundários de distribuição (emitidas por equipamentos perturbadores, como
lâmpadas fluorescentes compactas, televisores, microcomputadores, videocassetes,
etc.) vem se tornando, cada vez mais, acentuada. Paralelamente a este fato, os
equipamentos utilizados em residências, instalações comerciais e, até mesmo em
pequenas indústrias conectadas à baixa tensão, passam a exigir uma qualidade da
energia elétrica cada vez maior para o seu correto funcionamento.

Portanto, um engenheiro que tenha estudado esse sistema apenas para a


frequência fundamental, não observará o risco que a instalação estará correndo. Se
o banco de capacitores se danificar, provavelmente ele culpará o fabricante do
mesmo!

1.2) DIFERENÇA ENTRE HARMÔNICOS E TRANSITÓRIOS

Alguns problemas surgidos devido a transitórios de chaveamentos (por


exemplo, de bancos de capacitores) são confundidos com problemas harmônicos,
simplesmente porque notou-se a presença de componentes de altas frequências na
onda. Embora os distúrbios transitórios realmente contenham componentes de alta
frequência, os transitórios e os harmônicos são fenômenos distintos. As formas de
ondas, durante os transitórios, possuem altas frequências apenas por um pequeno
período de tempo(em geral, desaparecem após alguns ciclos). Essas frequências
nem sempre são múltiplas da frequência fundamental.
As harmônicas de tensão e corrente estão presentes no sistema em qualquer
instante do regime permanente de operação do mesmo e elas são múltiplas da
frequência fundamental. As duas figuras a seguir ilustram, respectivamente, um
transitório típico de uma tensão (figura 1.8) (quando da energização de um banco
8
de capacitores), e, na figura 1.9, as tensões e correntes harmônicas típicas de uma
lâmpada fluorescente compacta.

Figura 1.8: Transitório típico de energização de capacitor, observado à montante do


capacitor

Figura 1.9: Formas de onda de tensão senoidal e corrente não senoidal, bem como o
espectro harmônico desta corrente.
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1.3) DISTORÇÃO HARMÔNICA TOTAL e VALOR EFICAZ

Existem vários parâmetros comumente usados para indicarem o conteúdo


harmônico de uma onda elétrica. Um dos mais usados é a Distorção Harmônica
Total (DHT) ou Total Harmonic Distortion (THD), que pode ser usada para as
formas de onda de tensão e de corrente, com a seguinte expressão:

(1.2)
Onde:
Mh e M1 são, respectivamente, os valores eficazes da componente
harmônica h e da componente fundamental nominal da grandeza M.
Particularmente para a tensão, a expressão acima, em percentual e em português,
será assim escrita:
hmáx

∑V
h=2
h

DHTV = .100[%]
V1
Para analisar uma ordem harmônica em particular, tem-se a Distorção harmônica
individual:
Vn
• de Tensão: DHI V = x100 (%)
V1
I
• de Corrente: DHII = n x100 (%)
I1
Devido ao fato de que as correntes variam muito de valor em um sistema,
deve ser aqui destacado que uma carga, operando com uma pequena corrente pode
ter uma componente fundamental de valor baixo e, consequentemente, uma THD
alta. Apesar disso, por se tratar de uma corrente total de baixo valor, a mesma
poderá não ser um problema para o sistema. Assim, recomenda-se calcular o THD
paras as correntes, usando para M1 a componente fundamental nominal da carga e
não a componente fundamental do momento da amostragem.
10
No documento do ANEEL, denominado “Procedimentos de Distribuição de
Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional (PRODIST), em seu Módulo 8,
relativo à Qualidade da Energia Elétrica, com relação a harmônicos, é usada a
seguinte terminologia:

Os valores de referência para as distorções harmônicas totais estão indicados na


Tabela a seguir.

Devem ser obedecidos também os valores das distorções harmônicas individuais


indicados na Tabela a seguir.
DHT de Tensão (%)

0
1
2
3
4
5
6
DATA - HORA
11/11/02 - 03:00
11/11/02 - 06:10
11/11/02 - 09:20
11/11/02 - 12:30
11/11/02 - 15:40
11/11/02 - 18:50
11/11/02 - 22:00
12/11/02 - 01:10
12/11/02 - 04:20
12/11/02 - 07:30
12/11/02 - 10:40
12/11/02 - 13:50
12/11/02 - 17:00
12/11/02 - 20:10
12/11/02 - 23:20
13/11/02 - 02:30
13/11/02 - 05:40
13/11/02 - 08:50
13/11/02 - 12:00
13/11/02 - 15:10
13/11/02 - 18:20
13/11/02 - 21:30
14/11/02 - 00:40
14/11/02 - 03:50
14/11/02 - 07:00
14/11/02 - 10:10
14/11/02 - 13:20

Dia
14/11/02 - 16:30
14/11/02 - 19:40

Período de 11/10/2002 a 17/11/2002


14/11/02 - 22:50
15/11/02 - 02:00
15/11/02 - 05:10
15/11/02 - 08:20
15/11/02 - 11:30
15/11/02 - 14:40
15/11/02 - 17:50
15/11/02 - 21:00
16/11/02 - 00:10
16/11/02 - 03:20
16/11/02 - 06:30
16/11/02 - 09:40
16/11/02 - 12:50
16/11/02 - 16:00
16/11/02 - 19:10
16/11/02 - 22:20
17/11/02 - 01:30
17/11/02 - 04:40
17/11/02 - 07:50
oscilou entre 4 e 5%. Repare também que as distorções não são iguais nas 3 fases.

17/11/02 - 11:00
17/11/02 - 14:10
medida ao longo de uma semana, em um barramento de BT de um transformador de
A figura a seguir ilustra o comportamento da Distorção harmônica total de tensão,

altos principalmente no dia 17 de novembro de 2002, um domingo, quando o DHT


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distribuição de 45 kVA típico de um área residencial. Os valores de DHT estiveram

17/11/02 - 17:20
17/11/02 - 20:30
Fase B
Fase A

Fase C

17/11/02 - 23:40
12
Com relação à distorção individual de tensão, a harmonica que mais
contribuiu para a DHT acima foi a de 5a. ordem. A figura abaixo ilustra o
comportamento desta DHI para o mesmo período de medição da DHT acima.
Repare que a média desta DHI de 5a. harmônica, é em torno de 2,5% (com
alguns raros picos em torno de 3,5%). Tal como já observado para a DHT, no
domingo, dia 17/11, de manhã, esta DHI de 5a. harmônica cresceu para valores
entre 3,5% e 4%.
Período de 11/10/2002 a 17/11/2002
Fase A
Fase B

5 Fase C

4,5

3,5
Tensão de 5 Harmônica (%)

2,5
a

1,5

0,5

0
DATA - HORA

11/11/02 - 02:50

11/11/02 - 05:50

11/11/02 - 08:50

11/11/02 - 11:50

11/11/02 - 14:50

11/11/02 - 17:50

11/11/02 - 20:50

11/11/02 - 23:50

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12/11/02 - 05:50

12/11/02 - 08:50

12/11/02 - 11:50

12/11/02 - 14:50

12/11/02 - 17:50

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13/11/02 - 11:50

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13/11/02 - 17:50

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13/11/02 - 23:50

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15/11/02 - 23:50

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16/11/02 - 14:50

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16/11/02 - 20:50

16/11/02 - 23:50

17/11/02 - 02:50

17/11/02 - 05:50

17/11/02 - 08:50

17/11/02 - 11:50

17/11/02 - 14:50

17/11/02 - 17:50

17/11/02 - 20:50

17/11/02 - 23:50
Dia

1.4) ALGUMAS CARGAS GERADORAS DE CORRENTES


HARMÔNICAS

A maioria das cargas não-lineares podem ser reunidas dentro de um grupo,


denominado de “conversores eletrônicos de potência”. Esses conversores
compreendem, além dos tradicionais retificadores/ inversores, as fontes reguladas
eletrônicas, os acionamentos e os controladores de velocidades dos motores,
carregadores de bateria, etc.

1.4.1) CONVERSORES MONOFÁSICOS:


As fontes de alimentação para equipamentos podem ser subdivididas em duas
fases: a da antiga e a da nova tecnologia. Na tecnologia antiga, para se conseguir a
redução da tensão CA a um nível que pudesse ser retificada, usavam-se
transformadores. Do ponto de vista dos harmônicos, essa técnica era vantajosa
porque a indutância dos transformadores “alisava” a onda da corrente CA,
reduzindo, assim, o conteúdo harmônico das mesmas.
13
A figura 1.8 ilustra uma fonte de tensão de tecnologia moderna, muito
usada em microcomputadores, impressoras, fotocopiadoras, etc. A ponte de diodos
substitui o transformador na tarefa de reduzir e retificar a tensão que alimenta o
capacitor C1. Esta tensão DC é, em seguida, novamente convertida em tensão CA,
porém agora, em uma frequência alta. Essa tensão CA é controlada pela variação
desta alta frequência. Finalmente, essa tensão CA é outra vez retificada e,
finalmente, usada no equipamento.

Figura 1.8: Exemplo de uma fonte chaveada

Este tipo de fonte é leve, compacta, eficiente e pode tolerar uma grande
variação da tensão CA de alimentação. A desvantagem está no conteúdo harmônico
da corrente, que está ilustrado na figura 1.9. Observa-se, por exemplo, que a
terceira harmônica possui valor de 65,7% da corrente fundamental!

Figura 1.9: Corrente e conteúdo harmônico típico de uma fonte chaveada

1.4.2) CONVERSORES TRIFÁSICOS:


Os conversores trifásicos, em condições normais, não geram correntes de
terceira ordem. Embora isso seja uma vantagem, eles ainda geram muitas outras
harmônicas, como ilustrado na figura 1.10. A parte (a) desta figura mostra a
14
corrente harmônica típica de um regulador de velocidade de motor através da
corrente. A parte (b) ilustra a corrente harmônica de um regulador do tipo PWM,
que controla a velocidade de motores através da tensão. Este regulador, atualmente,
já controla motores de 500 HP.

(a): Inversor tipo fonte de corrente (CSI); (b): inversor tipo fonte de tensão PWM
Figura 1.10: Corrente e conteúdo harmônico típico para conversores
reguladores de velocidade de motores
1.4.3) EQUIPAMENTOS A ARCO:
Esta categoria inclui os fornos a arco, soldadores elétricos, lâmpadas de
descarga (fluorescente, vapor de sódio, vapor de mercúrio) com reatores
magnéticos. As características tensão x corrente dos arcos elétricos não é linear.
Após a ignição do arco, a tensão decresce enquanto que a corrente do arco,
limitada apenas pela impedância do alimentador, cresce.

PERÍODO DE FUSÃO DE UM FORNO A ARCO:

Espectro da tensão: Espectro da Corrente


15

A figura a seguir mostra a corrente harmônica de uma lâmpada


fluorescente convencional. A forma de onda da corrente de um forno a arco é
semelhante a esta. Repare que a terceira harmônica possui cerca de 20% do valor
da corrente fundamental.

Figura 1.11: Corrente e conteúdo


harmônico típico para lâmpadas
fluorescentes convencionais

1.4.4) EQUIPAMENTOS SATURÁVEIS:


Nesta categoria estão os transformadores e outros equipamentos
eletromagnéticos possuidores de núcleo de aço, como os motores.
A figura 1.12 mostra a característica não-linear da curva tensão x corrente
de um transformador. Se o transformador operar nessa região de não-linearidade,
o mesmo gerará correntes harmônicas.
Quando os transformadores operam com baixa carga ou a vazio,
predominará no mesmo a corrente de magnetização, que possui valor em tôrno de
1% da corrente nominal, porém cujo conteúdo é rico em harmônicos, conforme
ilustrado na figura 1.13. Entretanto, os efeitos cumulativos da terceira harmônica
podem ser significativos em sistemas de distribuição, onde centenas de
transformadores podem estar presentes. Nesses sistemas, é comum se notar o
aumento da presença de correntes de ordem três, durante o final da madrugada,
quando as cargas são pequenas (reduzindo-se as correntes de carga e destacando-
se a corrente de magnetização) e as tensões sobem, saturando os transformadores
(reforçando ainda mais a presença das correntes de magnetização).
16

Figura 1.12: Curva de magnetização típica de transformadores

A corrente mostrada na figura 1.13 é para um transformador YY. Assim,


um grande conteúdo de harmônico de ordem 3 já podia ser esperado. Se as
conexões fossem em delta ou com neutro não-aterrado, a componente de ordem 3
seria menor.

Figura 1.13: Corrente de magnetização típica de transformadores

OUTRAS CARGAS NÃO-LINEARES:

LÂMPADAS FLUORESCENTES COMPACTAS:


17

COMPUTADORES:

FORNOS DE MICROONDAS:

TELEVISORES

DIMMER PARA LÂMPADAS


INCA
NDES
CENTES:

V=100%
Vnominal

V=50% de
Vnominal
18
SOFT STARTERS:

Forma de onda da corrente de alimentação 0,5 seg após a partida:

Forma de onda da corrente de alimentação 1,5 seg após a partida:

Forma de onda da corrente de alimentação em regime


19
1.5) EFEITOS DAS CORRENTES E TENSÕES HARMÔNICAS NOS
SISTEMAS ELÉTRICOS

De uma maneira geral, os efeitos das distorções harmônicas podem ser


divididos em três grupos:

1. Solicitação de isolamento: devido às distorções de tensão


2. Solicitação térmica: devido à circulação de correntes harmônicas
Os principais efeitos causados pelas solicitações térmica e de isolamento resultam em
perda de vida útil de transformadores, das máquinas rotativas, bancos de capacitores, etc.
3. Operação indevida de diversos equipamentos elétricos(torques
oscilatórios nos motores, atuação indevida dos controles, etc.)

Em consequência desses efeitos, uma série de problemas pode ser relacionada,


como a seguir:
• Ressonâncias série e paralela
• Erros nas respostas de equipamentos, transdutores, medidores de energia
elétrica e relés.
• Perdas excessivas em cabos e equipamentos
• Aumentos dos custos de manutenção
• Falhas de equipamentos
• Redução da vida útil de certas cargas (lâmpadas, transformadores, capacitores,
motores, etc.)
• Solicitação de isolamento em transformadores e capacitores
• Ruídos audíveis.

1.5.1) EFEITOS SOBRE A RESISTÊNCIA DOS CONDUTORES ELÉTRICOS:


Ë conhecido o fato de que os condutores apresentam resistências diferentes
à passagem das correntes contínuas e à passagem das correntes alternadas. Essa
diferença será tanto maior quanto maior for a frequência das correntes. Isso
acontece devido ao fato de que as correntes nos fios externos de um cabo são
maiores do que as correntes que circulam nos fios internos do cabo. Essa
distribuição desigual de corrente faz com que se tenha a resistência aumentada e a
reatância interna decrescida. Isso é denominado de efeito pelicular ou skin effect.
A figura 1.14 ilustra a relação Rca/Ro para diferentes valores de Ro e f.
Observa-se que, para uma dada frequência, quanto menor for Ro (MAIOR
bitola), maior será o efeito pelicular apresentado.
20

Figura 1.14: Efeito da resistência de condutores

A tabela 1 ilustra esse efeito para um condutor de cobre 300 MCM.

TABELA 1: Efeito pelicular para uma condutor de cobre 300 MCM:


Frequência (Hz) Relação entre Rca e Rcc
60 1,01
300 1,21
420 1,35
660 1,65

Esse efeito é maior nos cabos de maiores bitolas, conforme ilustrado na


Tabela 2, que mostra as resistências elétricas de quatro grandes cabos, nas
frequências de 60 e 300 Hz.

TABELA 2: Efeito pelicular à frequência fundamental e na 5ª


harmônica.
Relação entre Rca e RCC
Bitola do condutor (MCM) 60 Hz 300 Hz
300 1,01 1,21
450 1,02 1,35
600 1,03 1,50
750 1,04 1,60
21
1.5.2) RESSONÂNCIAS:

Da teoria de circuitos elétricos sabe-se que os circuitos que contém


capacitâncias e indutâncias podem ter uma ou mais frequências nas quais a
impedância equivalente vista de um determinado ponto do circuito, pode ser
mínima ou máxima.

1.5.2.1) RESSONÂNCIA SÉRIE


A figura 1.14a mostra uma situação em que um transformador (com a
potência St) alimenta uma certa carga (de potência SL), que possui um banco de
capacitor de potência Sc, instalado para correção de fator de potência. A reatância
indutiva da carga cresce com a frequência, enquanto que a reatância capacitiva do
banco de capacitores decresce com a frequência. A figura 1.14b ilustra o circuito
elétrico equivalente deste sistema, para as frequências harmonicas.

Figura 1.14: Efeito do capacitor na ressonância série

Deve ser observado que, para frequências harmonicas, a impedância da carga não
está sendo representada porque a mesma, em altas frequências, é de valor infinito.
Nessas condições, este circuito elétrico indica que existe uma ressonância série
entre a reatância indutiva do transformador e a reatância capacitiva do capacitor.
Em consequência de uma ressonância série, altas correntes harmônicas circulam
no capacitor e no transformador.

1.5.2.2) RESSONÂNCIA PARALELA


A figura 1.15a mostra um sistema elétrico onde um gerador alimenta uma
fonte harmonica através de um transformador. No ponto de acoplamento (PAC)
entre a fonte harmônica e o transformador, há um capacitor instalado para
correção de fator de potência.
22

+
Figura 1.15: Efeito do capacitor na ressonância paralela

A figura 1.15b ilustra o circuito elétrico correspondente à frequência


fundamental e a figura 1.15c mostra o correspondente circuito elétrico para
frequências harmônicas. De acordo com a figura 1.15b, a tensão fundamental no
PAC, é dada por (1.4):

V (1) = E − jZ (1)eq . I (1) (1.4)

Onde Z(1)eq é a impedância fundamental equivalente, vista do PAC. Ela é


dada por:
( jX (1)trafo + jX (1) gerador ).( − jX (1)cap )
Z (1)eq = (1.5)
( jX (1)trafo + jX (1) gerador ) − jX (1)cap

Por outro lado, do ponto de vista harmônico, de acordo com a figura 1.15c,
a corrente injetada pela fonte harmonica na rede, causará no PAC, a seguinte
tensão harmônica:
V ( h ) = jZ ( h )eq . I ( h ) (1.6)

Onde Z(h)eq é a impedância harmônica equivalente, vista do PAC. Ela é dada por
(1.7):
( jX (h) trafo + jX (h) gerador ).( − jX (h) cap )
Z (h) eq = (1.7)
( jX (h) trafo + jX (h) gerador ) − jX (h) cap

A ressonância paralela pode ocorrer se, na equação anterior, o resultado


da soma das impedâncias do denominador fornecer um número muito pequeno.
Isso causará uma impedância equivalente muito grande. Assim, qualquer pequeno
valor de corrente harmonica multiplicado por esta grande impedancia, poderá dar,
como resultado, um elevado valor para a tensão harmonica V(h). Esta tensão,
somada com a tensão V(1), poderá proporcionar uma tensão resultante muito alta
23
no PAC (bem maior do que apenas V(1)) e que poderá até destruir o banco de
capacitores.
O valor da tensão harmônica V(h) depende da impedancia equivalente
Z(h)eq da barra e da corrente harmônica injetada pela carga. Logo, a tensão
harmônica V(h) depende do local em que a fonte harmônica está instalada. Ou
seja, a mesma fonte, alocada em pontos distintos do sistema, resultará em
diferentes tensões harmônicas V(h).

a) Frequência de ressonância paralela


Diante de tudo que foi exposto, surge a importante indagação: como saber
em que frequência harmônica haverá uma ressonância paralela? Do ponto de vista
de circuitos elétricos a equação básica é (1.8):
1
fr = (1.8)
2π . L.C
Onde:
fr é frequência de ressonância, em [Hz],
L e C são as indutância e as capacitância do circuito elétrico.

Essa equação, no entanto, não é muito usada pelos engenheiros de sistemas


elétricos porque essas indutâncias e capacitâncias do sistema podem não estar
facilmente disponíveis. Uma equação mais prática é (1.8):
S
hr = CC S (1.8)
capacitor

Onde
hr é um múltiplo da frequência fundamental,
SCC é o nível de curto circuito da barra
Scapacitor é a potência do banco de capacitores

b) Efeitos da resistência e das cargas resistivas na ressonância paralela


A simples descoberta de que há uma frequência de ressonância paralela
nem sempre é um grande problema. As resistências elétricas do sistema podem
fazer com que o valor da impedância equivalente, resultante da combinação entre
o capacitor e o sistema não seja tão grande. Isso é conhecido como
amortecimento. O desenho ao lado mostra
que ilustra o efeito da presença da resistência
elétrica na impedância equivalente de uma
barra. Pode ser observado que, se a
impedância equivalente tiver uma resistência
elétrica de valor igual a 20% da sua reatância,
então o efeito da ressonância paralela será
praticamente nulo.
24
Outro interessante aspecto geralmente discutido é sobre a quem atribuir a
responsabilidade pelo problema harmônico em um sistema elétrico. De uma
maneira geral, o consumidor é o responsável pela quantidade de corrente
harmônica injetada no sistema (afinal, ele é o dono da carga não-linear). As
empresas geradoras, transportadoras e distribuidoras de energia elétrica é que
controlam o valor da impedância do sistema. Logo, se a corrente harmônica
injetada por um consumidor no sistema estiver dentro de razoáveis limites, então
o controle da distorção de tensão é de responsabilidade dessas empresas e não do
consumidor.

1.5.3) EFEITOS DAS HARMÔNICAS NOS MOTORES DE INDUÇÃO:

Em geral, se a Distorção Harmônica Total de Tensão (DHT), não exceder a


5% e, se nenhuma harmônica individual de tensão ultrapassar a 3%, então não
haverá necessidade de fazer o derating do motor. Os motores podem sofrer
excessivo aquecimento se DHT atingir 8% a 10%. Neste caso, essas distorções
deveriam ser reduzidas, sob pena do motor ter sua vida útil reduzida. As altas
tensões harmônicas também causam fluxos harmônicos dentro dos motores.
A influência dos harmônicos sobre os motores de indução também se
manifesta sobre o torque e as perdas, conforme a seguir comentado.

1.5.3.1) INFLUÊNCIA DOS HARMÔNICOS SOBRE O TORQUE:


Os efeitos de distorções harmônicas totais de correntes até de 20% tem efeito
desprezível sobre os torques de regime e de partida. Entretanto, esses fluxos
giram em frequências diferentes da frequência síncrona do motor. Em
consequência, eles induzem correntes de alta frequência no rotor, causando
(como as correntes de sequência negativa) o surgimento de torques oscilatórios,
que são proporcionais às magnitudes das correntes harmônicas. Assim, para uma
corrente harmônica de 10% da fundamental, o torque oscilatório criado terá uma
amplitude similar. Esses torques podem causar vibrações e ruídos audíveis nos
motores.

1.5.3.2) INFLUÊNCIA DOS HARMÔNICOS SOBRE AS PERDAS


SUPLEMENTARES NO FERRO E NO COBRE:
As perdas no ferro, devido aos harmônicos, são desprezíveis. Por outro lado,
aquelas no cobre, resultantes das correntes harmônicas que se estabelecem nos
enrolamentos do estator e do rotor devem ser levadas em consideração.
A tabela 3 ilustra a avaliação realizada em um motor de indução típico,
submetido a uma alimentação com tensão distorcida. A tabela mostra os valôres
da corrente eficaz e das perdas adicionais, considerando uma superposição de
efeitos de V5harm e V7harm = 10% de Vfund.
25
TABELA 3: Perdas no cobre e acréscimo de temperatura típicos em
motor de indução submetidos a tensões harmônicas
DHT [%] 0 5 10 20
Ieficaz [%] 100 100,5 102,2 108,8
Perdas cobre 100 101 104,3 117
[%]
Acréscimo 0 0,6/1,5 2,5/6,2 10/24
temperatura
[°C]

1.5.4) EFEITOS DAS HARMÔNICAS SOBRE GERADORES SÍNCRONOS:

As máquinas síncronas são muito mais sensíveis a tensões distorcidas que os


motores de indução. Isso ocorre porque, com tensões
distorcidas no estator, correntes harmônicas são
induzidas no rotor, o qual é projetado para suportar
correntes alternadas apenas na partida. Os grandes
geradores síncronos são usualmente equipados com
alarmes e/ou relés contra corrente de sequência
negativa.
A título de esclarecimento, a tabela a seguir
indica, para cada harmônica, até a ordem 19, quais são
as correntes de seqüência (+), (-) e (0):

Indicação das correntes harmônicas e suas correspondentes


seqüências
n Positiva ( 3.n+1 ) Negativa ( 3.n-1 ) Zero ( 3.n )
1 4 2 3
2 7 5 6
3 10 8 9
4 13 11 12
5 16 14 15
6 19 17 18

Um outro aspecto associado às componentes harmônicas está no efeito de


oscilações mecânicas envolvendo a combinação turbina-gerador. Essas oscilações
podem ser produzidas pela interação entre os harmônicos de corrente e o campo
magnético na frequência fundamental. Por exemplo, as correntes de 5ª e 7ª
harmônica resultam em um torque contínuo de 6º harmônico no rotor do gerador.
Se houver uma proximidade entre essa frequência e a frequência natural de
vibração do conjunto rotor-turbina, isso poderá levar a estrutura girante à fadiga,
com sérios riscos ao conjunto, podendo até ocorrer o colapso do eixo que
interliga o rotor e a turbina, conforme ilustrado a seguir:
26

1.5.5) EFEITOS DAS HARMÔNICAS NOS TRANSFORMADORES DE


POTÊNCIA:

Os transformadores podem sofrer com as correntes harmônicas que por eles


circularem. Em geral, os efeitos das harmônicas de corrente nos transformadores
são:
• Aumento de perdas joulicas nos enrolamentos.
• Perdas devido a correntes parasitas nos enrolamentos. Essas perdas
aumentam com o quadrado da frequência da corrente!
• Perdas no núcleo.
• Possíveis ressonâncias entre os enrolamentos do transformador e as
capacitâncias das linhas ou bancos de capacitores.
• A existência de componente contínua de corrente levará o transformador a
se sobreaquecer e, também, a saturar o seu núcleo rapidamente.
As correntes contínuas, circulando no transformador, causam saturação do
núcleo, resultando em um substancial aumento da corrente de excitação e
consequente perdas no núcleo. Por exemplo, um transformador que tenha 100 [A]
de corrente nominal e cuja corrente de excitação seja da ordem de 10 a 30 [A], já
apresentará sobreaquecimento quando tiver seus enrolamentos sujeitos a uma
corrente contínua de apenas 2 a 3 [A].
Para projetar um transformador que será submetido a frequências harmônicas,
os projetistas devem ter cuidados especiais. Por exemplo, podem usar cabos
transpostos ao invés de condutores sólidos e/ou aumentar os dutos para
refrigeração. Em geral, um transformador que esteja submetido a uma distorção
de corrente superior a 5% deverá ser operado abaixo de sua potência nominal.
Isso é conhecido como derating.
Existem casos de transformadores que, quando ainda na fábrica, sendo
submetidos a, por exemplo, cerca de 8% de distorção de corrente (em geral de 3ª
harmônica), passam no teste de aquecimento. Porém, quando eles são
efetivamente instalados no campo, apresentam problemas de aquecimento. Isso
pode acontecer porque as correntes de 3ª harmônica, medidas em cada fase, ao
27
chegarem ao condutor neutro, se somarão. Elas se somam porque, em geral, as
correntes de 3ª harmônica são de sequência zero. Isso resultará em uma corrente
de neutro de cerca de 24% do valor da corrente de fase! Assim, o condutor neutro
estará sobreaquecido e os condutores fase não, conforme ilustrado abaixo:

1.5.5.1) EXEMPLO DE DERATING DE TRANSFORMADORES:

Tem-se um edifício de escritórios, alimentado através de um transformador de 1


MVA, a seco. A corrente fundamental média medida é de I1 = 285 A enquanto
que as correntes harmônicas medidas estão na tabela abaixo.
HO 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19
Ih 1 0,657 0,377 0,127 0,044 0,053 0,025 0,019 0,018 0,011
[pu]

Pede-se calcular o derating a que este transformador deverá ser submetido.

SOLUÇÃO:
1 + Kp
A nova corrente eficaz será calculada pela expressão: Ief = ,
1 + K .Kp
Onde:

h=n
( Ih) 2..h 2
K= h =1
e Kp será obtido através da seguinte tabela:

h=n
h =1
( Ih) 2

Transformador a seco Kp
<1 MVA - 5 kV na AT 3% a 8%
>1,5 MVA – 15 kV na AT 12% a 20%

Transformador a óleo Kp
28
<2,5 MVA – 480 V na BT 1%
Entre 2,5/5 MVA – 480 V na BT 1% a 5%
>5 MVA (480 V na BT) 9% a 15%

Considerando que o transformador é de 1 MVA, a seco: Kp = 0,08.


h=n
( Ih) 2..h 2
Para a carga em estudo, visando atender a equação K= h =1
monta-se a

h=n
h =1
( Ih) 2
seguinte tabela:

h I [pu] (Ih)2 h2.(Ih)2


1 1 1 1
3 0,657 0,432 3,885
5 0,377 0,142 3,552
7 0,127 0,016 0,79
... ... ... ...
.... ... ... ...
31 0,002 0,00.. 0,004
SOMAS: 1,596 10,119


h=n
( Ih) 2..h 2
Assim, K = h =1
= 10,119 / 1,596 = 6,34

h=n
h =1
( Ih) 2

1 + Kp (1 + 0,08)
Ief = = = 0,85.In
1 + K .Kp (1 + 6,34.0,08)

CONCLUSÃO: Este transformador dever ser usado com 15% menos potência do
que o seu valor nominal de 1 MVA.
29
1.5.5.2) REDUÇÃO DE VIDA ÚTIL DE TRANSFORMADORES:

• em Função da Elevação de Temperatura:

• em Função da Distorção Harmônica de Corrente:

Carga Mista ( Carga Linear e/ou Nao LInear )


Carga Mista C/ Componente Continua( 1% )
Carga Mista C/ Componente Continua ( 10% )

0 5 10 15 20 25 30 35
Distorção Harmônica de Corrente[ % ]
30

• em Função da Distorção Harmônica de Tensão:


1

0,8

0,6

0,4

0,2

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
Distorção Harmônica de tensão [ % ]

1.5.6) EFEITOS DOS HARMÔNICOS SOBRE CAPACITORES:

1.5.6.1) SUPORTABILIDADE DOS CAPACITORES:

A norma ANSI/IEEE 18-1980 especifica as seguintes suportabilidades para


os capacitores:
• TENSÃO: devem suportar até 110% do valor nominal.
• CORRENTE: admitir uma operação contínua com uma corrente de fase de
valor eficaz até 180% do valor nominal
• POTÊNCIA: devem suportar até 135% do valor nominal

EXEMPLOS DE ANÁLISE DE UM SISTEMA, NA PRESENÇA DE


BANCO DE CAPACITORES:

1- Calcular e plotar a impedância harmônica equivalente, vista pela barra 2, onde


um banco de capacitores de 450 kVAr está conectado. Em seguida, calcule a
frequência de ressonância paralela entre o banco de capacitores e a rede elétrica.
Considerar, inicialmente, que o nível de curto-circuito da barra 1 é Scc = 20
MVA.
31

Sistema de potência a ser analisado

-Refazer as análises acima para as potências de 100, 300, 400 e 500 kVAr.
-Refazer as análises acima para um Scc = 80 MVA.

Obs: O valor a ser adotado para a potência reativa do capacitor é de 450 kVAr.

SOLUÇÃO:
Passo 1- Cálculo do módulo da impedância do sistema, relativo ao lado de
400 V:
U2 400 2
Zs = = = 0,008Ω
Scc 20 MVA
Obs.: Nesta análise, está se considerando que o sistema é puramente indutivo.
Logo, a impedância acima se torna em “reatância do sistema”.

Passo 2- Cálculo da reatância do transformador, em OHMS, relativo ao lado


de 400 V:
Xtr = 0,065 pu.Z BASE (ladoBT )
(0,4.10 3 ) 2
Xtr = 0,065 pu. = 0,0052Ω
2.10 6

Passo 3- Cálculo da reatância do capacitor:


(U 2 ) 2 (400) 2
Xc = = = 0.36ohms
Qc 450 * 10 3

Passo 4- Circuito equivalente visto pela barra 2:


32

Circuito equivalente visto pela barra 2

Passo 5- Obtenção da impedância equivalente vista da barra 2


− Xc
[h( Xs + Xtr )] *
Zeq(h) = h ohms
xc
[h( Xs + Xtr )] −
h

Passo 6- Determinação da freqüência de ressonância entre o capacitor e o sistema


(visto da barra 2):
Xc
hr =
Xs + Xtr
Para este banco de 450 kVAr:
0,36
hr = = 5,19
0,008 + 0,0052
O cálculo da freqüência de ressonância também pode ser realizado pela equação:
S cc
hr = , sendo que a potência de curto-circuito a ser usada é aquela na barra
Qcap
do capacitor. O cálculo desta potência pode ser feito da seguinte maneira:
0,4 2
Scc( BT ) = = 12,12 MVA
(0,008 + 0,0052)
S cc 12,12
Logo, hr = = = 5,19
Qcap 0,45

Passo 7- Plotando a Impedância harmônica


A figura abaixo e a Tabela 1 ilustram o comportamento das impedâncias
equivalentes, em ohms, até a 25 ª ordem, não só para o banco de capacitores de
450 kVAr, mas também para outras potências de bancos. Como pode ser
observado, para um banco de capacitores de 100 kVAr, há uma ressonância em
torno da 11ª. harmônica.
33

90
100kVAr
80 300kVAr
400kVAr
70 450kVAr
500kVAr
60

50

40

30

20

10

0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

Impedância equivalente para Scc = 20 MVA e com variação da potência reativa do banco de
capacitores.

Para uma melhor visão das ressonâncias paralelas que surgirão para os
demais bancos de capacitores, veja uma ampliação da figura acima:
2.5
100kVAr
300kVAr
400kVAr
2 450kVAr
500kVAr

1.5

0.5

0
0 5 10 15 20 25

Ampliação da figura anterior.


34
Tabela 1- Impedância equivalente e frequência de ressonância para ordens harmônicas variando da 1ª a 25ª. Scc = 20 MVA.
Qc[kVAr] fr (Hz) Ordem Harmônica
100 661 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25
0,01 0,02 0,0 0,06 0,0 0,11 0,1 0,22 0,35 0,75
Zq (ohms) 3 7 4 1 8 3 6 4 8 4 82,97 0,84 0,435 0,3 0,231 0,19 0,162 0,142 0,13 0,115 0,105 0,097 0,09 0,084 0,079
Qc[kVAr] fr (Hz)
300 381 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25
0,01 0,02 0,0 0,08 0,1 0,72 0,4 0,18 0,11 0,08
Zeq (ohms) 4 9 5 7 7 7 3 1 8 9 0,073 0,06 0,054 0,05 0,043 0,04 0,036 0,034 0,03 0,03 0,028 0,026 0,025 0,024 0,023
Qc[kVAr] fr (Hz)
400 330 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25
0,01 0,0 0,11 0,3 0,42 0,1 0,09 0,07 0,05
Zq (ohms) 4 0,03 6 2 8 1 5 5 1 7 0,049 0,04 0,037 0,03 0,031 0,03 0,026 0,025 0,02 0,022 0,02 0,019 0,018 0,018 0,017
Qc[kVAr] fr (Hz)
450 311 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25
0,01 0,03 0,0 0,9 0,23 0,1 0,07 0,05 0,04
Zq (ohms) 4 1 6 0,13 2 5 1 7 9 9 0,041 0,04 0,033 0,03 0,027 0,02 0,023 0,022 0,02 0,019 0,018 0,017 0,016 0,016 0,015
Qc[kVAr] fr (Hz)
500 295 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25
0,01 0,03 0,0 0,15 2,1 0,16 0,0 0,06 0,05 0,04
Zq (ohms) 4 2 6 5 1 3 9 4 1 2 0,036 0,03 0,029 0,03 0,024 0,02 0,021 0,019 0,02 0,017 0,016 0,015 0,015 0,014 0,013

Tabela 2- Impedância equivalente e frequência de ressonância para ordens harmônicas variando da 1ª a 25ª. Scc = 80 MVA.
Qc[kVAr] fr (Hz) Ordem Harmônica
100 894 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25
Zq (ohms) 0,01 0,015 0,02 0,03 0,04 0,05 0,07 0,08 0,1 0,13 0,17 0,25 0,39 0,85 8,64 0,76 0,407 0,28 0,219 0,18 0,15 0,134 0,12 0,11 0,099
Qc[kVAr] fr (Hz)
300 516 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25
Zeq (ohms) 0,01 0,015 0,03 0,04 0,05 0,08 0,15 0,42 0,69 0,21 0,13 0,09 0,07 0,06 0,05 0,05 0,042 0,04 0,035 0,03 0,03 0,029 0,03 0,03 0,024
Qc[kVAr] fr (Hz)
400 447 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25
Zq (ohms) 0,01 0,016 0,03 0,04 0,07 0,12 0,43 0,38 0,14 0,09 0,07 0,05 0,05 0,04 0,04 0,03 0,029 0,03 0,025 0,02 0,02 0,021 0,02 0,02 0,018
Qc[kVAr] fr (Hz)
450 422 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25
Zq (ohms) 0,01 0,016 0,03 0,04 0,07 0,16 6,5 0,19 0,1 0,07 0,05 0,05 0,04 0,03 0,03 0,03 0,025 0,02 0,022 0,02 0,02 0,018 0,01 0,02 0,015
Qc[kVAr] fr (Hz)
500 400 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25
Zq (ohms) 0,01 0,016 0,03 0,05 0,08 0,23 0,49 0,13 0,08 0,06 0,05 0,04 0,03 0,03 0,03 0,02 0,022 0,02 0,019 0,02 0,02 0,016 0,02 0,01 0,014
35
2º Caso : Scc = 80 MVA
Trocando o nível de curto circuito para Scc = 80 MVA, tem-se os
comportamentos para a impedância harmônica equivalente ilustrados nas figuras
abaixo, bem como na Tabela 2, da página anterior.
9
100kVAr
8 300kVAr
400kVAr
7 450kVAr
500kVAr
6

0
0 5 10 15 20 25 30

Impedância equivalente para Scc = 80 MVA e com a variação da potência reativa do banco de
capacitores.

1
100kVAr
0.9 300kVAr
400kVAr
0.8 450kVAr
500kVAr
0.7

0.6

0.5

0.4

0.3

0.2

0.1

0
0 5 10 15 20 25 30

Ampliação da figura acima


36
2) Referindo-se ainda ao sistema elétrico do exercício anterior:
No barramento onde o capacitor está instalado, tem-se uma fonte harmônica,
com as seguintes correntes:

H 1 5 7 11 13 17 19 23 25 29 31 35 37
Ih 122,3 9,5 24,5 31,2 22,3 1,3 1,1 5,6 4,8 0,9 0,8 2,9 1,7
[A]

Pede-se:
a) Considerando-se a potência do banco de capacitores em 450 kVAr, obter as
tensões harmônicas neste barramento, SEM e COM o capacitor.
b) Verificar se o capacitor suporta as correntes, tensões e potências oriundas
desta fonte harmônica.

Solução:

I- Análise sem o capacitor:


Sem a presença do capacitor a expressão para a impedância equivalente vista
pela barra 2 é dada por:
Zeq (h) = j * h * ( Xs + Xtr )
Obs: Do exercício 1 sabe-se que
Xs(h) = j*h*0,008 ohms e Xtr(h) = j*h*0,0052 ohms.

Aplicando a expressão U h = Zeq (h) * I h , obtém-se os valores das tensões


harmônicas. Exemplificando para a 5ª. harmônica:
U5 = 5*0,00132*9,5 = 0,627 [V]

Fazendo estes cálculos para todas as ordens harmônicas das correntes injetadas na
barra, tem-se a seguinte tabela, com as tensões resultantes:
H 5º 7º 11º 13º 17º 19º 23º 25º 29º 31º 35º 37º
Uh[V] 0,627 2,26 4,53 3,83 0,29 0,28 1,7 1,58 0,3435 0,3274 1,3398 0,8303
37
II- Análise com o capacitor

Na presença do capacitor, a impedância vista pela barra 2 será dada por:


− xc
[h( xs + xl )] *
Zeq (h) = h ohms
xc
[h( xs + xl )] −
h

Novamente, aplicando a expressão abaixo, obtemos os seguintes valores das


tensões harmônicas ( na presença do capacitor):
( U h = Zeq(h) * I h )
H 5º 7º 11º 13º 17º 19º 23º 25º 29º 31º 35º 37º
Uh[V] 8,7275 2,7637 1,2973 0,7256 0,03 0,0222 0,0912 0,0713 0,0114 0,0094 0,0301 0,0167

III- Verificar se o capacitor suporta as correntes, tensões e potências oriundas


da fonte harmônica.

Considera-se aqui que o banco de capacitor está ligado em estrela. Portanto,


trabalharemos com tensões fase-neutro.
400
U1 fn =
3

Para que o banco de capacitor não tenha problemas quanto ao seu


funcionamento, o mesmo deve obedecer a algum critério. Abaixo estão os critérios
do IEEE:
1- Valor eficaz da tensão ≤ 110%U n
2- Valor de pico da tensão ≤ 120%U pn
38
3- Valor eficaz da corrente ≤ 180% I n
4- Potência reativa de operação ≤ 135%Qcn

ÏII.1)- Analisando a suportabilidade à tensão

• Tensão Eficaz:
Para tal, calcula-se a tensão eficaz da seguinte forma:
Uef = U1 + U 5 + U 7 + ... + U 37 = 231, 13 [V].
2 2 2 2

Logo:
Uef = 231,13 [V] ≤ 254,1 [V]
39

• Tensão de Pico:
A expressão para este cálculo é: U pico = 2 * (U 1 + U 5 + U 7 + ... + U 37 ) = 346,1[V ]

Logo,
Up = 346,1 [V] ≤ 392 [V]

Portanto, este Banco de Capacitores passou nos critérios 1 e 2.

III.2)- Analisando a suportabilidade à corrente elétrica

• -Cálculo da corrente fundamental


400
U 3 = 649,44[ A]
I1 = 1 =
xc1 0,3556

• -Cálculo das reatâncias capacitivas para as ordens harmônicas:

Utilizando a relação abaixo, encontra-se a reatância capacitiva para cada ordem


harmônica:
xc1
xch =
h

H 5º 7º 11º 13º 17º 19º 23º 25º 29º 31º 35º 37º
xch[ohms] 0.0711 0.0508 0.0323 0.0274 0.0209 0.0187 0.0155 0.0142 0.0123 0.0115 0.0102 0.0096

• Correntes harmônicas que circulam pelo capacitor:


U
Ih = h
xch
H 5º 7º 11º 13º 17º 19º 23º 25º 29º 31º 35º 37º
Ih[A 122,67 54,41 40,1344 26,5282 1,4336 1,1887 5,9004 5,0162 0,9298 0,8231 2,9652 1,7341
]

• Cálculo da corrente eficaz: Ief = I 1 2 + I 5 2 + I 7 2 + ... + I 37 2 = 665[ A]

O limite de corrente suportado será: 1,80.In = 1,8.649,44 = 1.169 [A]

Logo,
Ief = 665,04 [A] ≤ 1,80*In
Portanto, o banco de capacitores passou no critério número 3.
40

III.3)- Análise da suportabilidade à potência reativa de operação:

Aplicando a equação abaixo para cada ordem harmônica, obtemos a potência


reativa total solicitada ao capacitor:
n 2
Uh
QcT = ∑ = 451,3kVAr
h =1 xch

Considerando que 1,35.Q NOM ( cap ) = 1,35.450 = 607,5kVAr


Logo, QCT = 451,3 kVAr ≤ 1,35 * QC
Portanto, o banco de capacitores passou no critério 4.

Conclusão:
Para a barra em questão, o banco de capacitores de 450 kVAr não sofrerá
danos quando da operação em conjunto com esta fonte harmônica.

1.5.6.2) PERDAS NOS CAPACITORES:

a) Perdas ativas:
A presença de tensão distorcida causa uma perda extra nos capacitores, dada
por (1.9):

∑ C.(tan δ )ω .V
n =1
n n
2
(1.9)
Onde:
tanδ =R/(1/ω.C) é o fator de perda
ωn=2πfn
Vn: Valor eficaz da tensão na enésima harmônica.

b) Perdas reativas:
A potência reativa total, incluindo a contribuição das harmônicas, é dada por
(1.10):


Q = ∑ Qn (1.10)
n =1
Este valor não deverá exceder os 135% dos KVAr nominais do capacitor.
41
1.5.7) EFEITOS SOBRE CARGAS RL

Essas cargas podem ser, por exemplo, as lâmpadas incandescentes e aquecedores


resistivos. Quando alimentadas por uma tensão distorcida, essas cargas sofrem um
acréscimo na potência dissipada. Enquanto que isso causará uma maior dissipação
de calor em um chuveiro elétrico, em uma lâmpada incandescente, o efeito será a
redução de sua vida útil.

1.5.8) EFEITOS SOBRE DISJUNTORES:

As componentes harmônicas presentes na forma de onda da corrente podem


afetar a capacidade de interrupção do disjuntor. Isto pode ocorrer devido aos altos
valores possíveis de ocorrer para as taxas di/dt quando da existência de
componentes harmônicas das correntes. Esses altos di/dt ocorrendo próximos aos
zeros de correntes, tornam as interrupções mais difíceis.

1.5.9) EFEITOS SOBRE FUSÍVEIS

Um nível significante de correntes harmônicas em um fusível, naturalmente


causa aquecimentos adicionais indesejáveis. Isso poderá alterar as características
tempo x corrente do fusível, fazendo com que o mesmo atue intempestivamente.

1.5.10) EFEITOS SOBRE OS DISPOSITIVOS DE MEDIÇÃO E DE PROTEÇÃO

Os instrumentos de medição originalmente calibrados com tensões e


correntes puramente senoidais e que, posteriormente, sejam usados em um
barramento distorcido, podem estar sujeito a erros. Os erros dependem
fortemente do tipo de instrumento sob consideração. Aqueles que se baseiam em
componentes a estado sólido são menos susceptíveis a erros, se comparados com
os aparelhos baseados no disco de indução.
Estudos têm indicado que os erros devido às harmônicas variam muito e
podem ser no sentido de aumentar ou diminuir o valor da grandeza medida.
Assim, já foi observado que correntes harmônicas de 5ª ordem, de valores em
torno de 20% da fundamental, causaram erros de 10 a 15% em transdutores
eletrônicos de potência.
42
1.5.11) DESEMPENHOS DE RELÉS SOB CONDIÇÕES NÃO-SENOIDAIS:

A presença de um nível excessivo de 3º harmônico de sequência zero pode


levar os relés de sobrecorrente no neutro a uma operação indevida. Em geral, os
níveis harmônicos necessários para causar problemas nos relés são maiores que
aqueles normalmente considerados como aceitáveis para outros equipamentos. Os
níveis de distorções harmônicas problemáticos estão situados acima de 10 a 20%.

Ainda com relação aos relés, em geral, pode ser observado que:

• Os relés tendem a operar mais lentamente e/ou com maiores níveis de


pick-up quando de seu funcionamento com formas de ondas distorcidas.
• Os relés estáticos de sub-frequência são susceptíveis a variações
substanciais nas suas características de operação.
• Dentro de uma faixa de distorção normal (abaixo de 5%), na maioria dos
casos as variações de operação foram relativamente pequenas.
• Diversos tipos de relés de sobretensão (e de sobrecorrente), de vários
fabricantes, indicaram variações bastante diversas nas suas características
de operação com os harmônicos.
• Dependendo do conteúdo harmônico, os torques de operação dos relés
podem até ser reversos.
• As alterações nos tempos de atuação dos relés podem variar muito,
dependendo das composições dos harmônicos.

1.6. DESEMPENHOS DE MEDIDORES DE WATT-HORA INDUTIVO SOB


CONDIÇÕES NÃO-SENOIDAIS:

Os medidores de watt-hora do tipo indutivo podem ser imprecisos quando


submetidos a frequências harmônicas. A extensão do problema depende não apenas
do projeto do medidor, mas também da natureza da carga e da impedância do
sistema.
Os erros encontrados nesses medidores depende do valor da corrente
harmônica, do gráu de distorção da tensão (THD ou DHT) e do fator de
potência(FP) da carga. Para cargas com FP próximo da unidade e com DHT de 5%,
os erros são da ordem de 0,3%. Para cargas com FP indutivo em torno de 0,8 a 0,9,
os erros são da ordem de 0,4%. Os maiores erros ocorrem para fator de potência
capacitivo. Nesses casos, com FP variando de 0,6 a 0,9, os erros decrescem de 2% a
1%, respectivamente. Esses erros, apesar de aparentemente pequenos, podem ser
significativos para grandes consumidores.
43
1.7) DESEMPENHOS DE TRANSFORMADORES DE CORRENTE E DE
POTENCIAL

1.7.1) TRANSFORMADORES DE CORRENTE:


A figura 1.16 ilustra a resposta em freqûencia de um transformador de
corrente. Nota-se que até 10.000 Hz, os erros não são consideráveis. Logo, do
ponto de vista de harmônicos devido à frequência industrial de 60 Hz, as respostas
dos TC’s não são afetadas.

Figura 1.16: Resposta em frequência típica de um transformador de corrente tipo


janela

Ressalte-se, porém, que algumas fontes harmônicas, como os conversores em


conduções desbalanceadas, podem gerar, além das harmônicas, a componente
contínua. Essa corrente pode saturar os TC’s, causando erros em medidores e relés
alimentados por esses TC’s.

1.7.2) TRANSFORMADORES DE POTENCIAL CAPACITIVO:


A figura 1.17 mostra que os erros na relação de transformação desses TP’s.
Verifica-se nessa figura que os transformadores capacitivos, sintonizados para
operação em 50/60Hz, apresentam comportamento bastante inadequado já
próximos de 60 Hz.

Figura 1.17: Resposta em frequência típica de um transformador de


potencial capacitivo
44
1.7.3) TRANSFORMADORES DE POTENCIAL INDUTIVO:

A figura 1.18 ilustra o erro na relação de transformação de um TP indutivo


de 11,5 kV/115V, tipo PV15, classe Z, com a frequência. Essa figura indica que,
para frequências até 1000 Hz, os erros na amplitude são desprezíveis.

Figura 1.18: Erro na relação de transformação de TP indutivo de 11,5 kV com a


frequência

A figura 1.19 mostra a relação de transformação variando com a frequência,


para TP’s indutivos, nas tensões nominais de 20 kV, 220kV e 400 kV. Para estes
TP’s, os erros já são apreciáveis a partir de 300 Hz.

Figura 1.19: Respostas em frequência de TP’s indutivos de 20 kV, 220 kV e 400 kV


45
1.8) EFEITOS DAS HARMÔNICAS NA POTÊNCIA E FATOR DE
POTÊNCIA

As distorções harmônicas de tensão e corrente dificultam os cálculos de


potência e de fator de potência porque algumas simplificações geralmente usadas
pelos engenheiros eletricistas nessas análises não podem ser feitas na presença de
harmônicos.

1.8.1) POTÊNCIAS APARENTE, ATIVA E REATIVA, NA PRESENÇA DE


HARMÔNICOS:

Existem três grandezas associadas com a potência:


• Potência aparente, S, que é obtida pelo produto da tensão rms com a corrente
rms.
• Potência ativa, P, que é a média da energia entregue.
• Potência reativa, Q, que é a parcela da potência aparente em quadratura com a
potência ativa.

Na frequência fundamental, essas grandezas acima estão assim relacionadas:


P = S .cos θ (1.11)
Q = S .sen θ (1.12)
onde θ é o ângulo de fase entre a corrente e a tensão.

O fator cosθ é comumente denominado de fator de potência ( FP ). Por outro


lado, o fator de potência também é definido por:

P kW
FP = h= = cos θ (1.13)
S kVA

Os conceitos tradicionais de correção de fator de potência são baseados na


hipótese de que as cargas do sistema tem as tensões e correntes senoidais. Ou seja,
as distorções harmônicas são ignoradas. Os termos P e S são obtidos na frequencia
fundamental apenas.
Por outro lado, sabe-se que as distorções de tensão e corrente causadas pelas
cargas não lineares alteram a forma de calcular o fator de potência. Para incluir os
efeitos dos harmônicos, deve ser usado o fator de potência verdadeiro (TPF), o
qual é definido pela seguinte relação:

kW P
TPF = = (1.14)
kVA Vrms xI rms
46
Como em (1.13), TPF é definido como sendo a relação entre kW e kVA.
Porém, neste caso, o “kVA” inclui as distorções harmônicas . A potência total
aparente (kVA) é determinada pelo produto da verdadeira tensão eficaz pela
verdadeira corrente eficaz (a potência ativa, P, é muito pouco influenciada pela
distorção).
A equação (1.14) expressa de maneira correta, a eficiência na qual a potência
ativa P está sendo usada. Somente quando não houver nenhuma distorção é que
TPF (equação 4) será igual a PF (equação 1.13).
Os capacitores compensam apenas o reativo na frequência fundamental, isto
é, Q 1 . Logo, na presença de harmônicos, não há como fazer o TPF ser corrigido
para o valor 1,00. Na presença de harmônicos, os capacitores podem até piorar o
TPF, pois eles podem criar condições de ressonância que amplificariam as
distorções harmônicas.
Assumindo que no sistema elétrico haja uma distorção harmônica total de
corrente (DHTi) e que a distorção harmônica total de tensão (DHTv) é nula, então o
valor máximo que TPF pode atingir é:

1
TPF = (1.15)
1 + DHTi 2
Esta expressão confirma que, na presença de correntes harmônicas, não há
como fazer o TPF ser corrigido para o valor 1,00.

A maioria dos medidores de energia medem apenas o reativo correspondente


à frequencia fundamental, Q 1 . Na maioria dos casos, a corrente, no ponto de
medição, não é muito distorcida (ao contrário de um ramal alimentador de uma
carga não-linear). Nessas condições, o erro na medição é pequeno.

A adequação de um modelo que calcule fielmente as potências nos circuitos


sob condições não-senoidais tem sido uma incessante busca de diversos
especialistas na área, tais como Budeanu,.Fryze, Shepherd e Czarnecki. A seguir
serão mostradas as equações do modelo de Budeanu.
47
Potências segundo Budeanu

Esse modelo é um dos mais aceitos na Engenharia Elétrica para condições não
senoidais. O modelo consiste no desmembramento da potência aparente (S) em três
componentes de potência P, Q e D. Observe a figura a seguir:

Diagrama de potências, segundo o modelo de Budeanu

As equações referentes a essas potências estão descritas a seguir, assim como as


críticas feitas a esse modelo. A componente “D” representa a contribuição adicional
à potência aparente devido às harmônicas.

n n
S= ∑ Vn
n =1
2
∑I
n =1
n
2
= P2 + Q2 + D2

onde
v n = 2 ⋅ Vn ⋅ cos(n ⋅ ω1 ⋅ t + α n )
in = 2 ⋅ I n ⋅ cos(n ⋅ ω1 ⋅ t + α n − φ n )
n
P = ∑ Vn I n cos φ n
n =1
n
Q = ∑ Vn I n senφ n
n =1
n ,m
D = ∑ [Vn ⋅ I m + Vm ⋅ I n − 2 ⋅ Vn ⋅ I m ⋅ Vm ⋅ I n ⋅ cos(θ n − θ m )]
2 2 2 2

n≠ m

Os críticos desse modelo dizem que ele soma algebricamente, e não vetorialmente,
ou melhor, fasorialmente, as amplitudes Vn I n senφn de cada componente, não
considerando, portanto, que essas componentes podem ter ângulos de fase
α n diferentes. Apesar disso, esse modelo é o mais utilizado por engenheiros e
também fabricantes.
48
Fator de potência

O cálculo do fator de potência como descrito na introdução desta seção não pode
ser realizado para os casos em que há presença de harmônicos. Pois cos θ leva em
consideração apenas a fundamental, enquanto vimos que precisamos agora analisar
o efeito das harmônicas de corrente e tensão. A equação do “verdadeiro fator de
potência”, ou, do inglês TPF (True Power Factor) é:

P kW
TPF = =
Vrms ⋅ I rms kVA

Essa equação expressa a eficiência em que a potência ativa está sendo utilizada.
Isso quer dizer que, na ausência de distorção harmônica, o TPF se torna igual ao FP
dado no início desta seção.
As figuras abaixo ilustram a variação do verdadeiro fator de potência em função
das distorções de corrente e de tensão:

Na figura abaixo estão em destaques o fator de potência de deslocamento de


0,92 (quando não há distorções de tensão ou de corrente) e o verdadeiro fator de
potência (0,879) para DTI= 30% e DTV=0,5%.
49

De maneira análoga, a figura abaixo destaca o verdadeiro fator de potência para


DTI= 1% e DTT= 8%, que é igual a 0,916, be como o verdadeiro fator de potência
para DTI= 30% e DTV = 8%, que é igual a 0,786.
50

Exemplo prático
Seja uma instalação industrial submetida às seguintes ondas de tensão e corrente:

v(t) = 2 [ cos(ωt - 90º ) + 0,02cos(3ωt - 120º ) + 0,07cos (5ωt + 90º ) + 0,05cos(7ωt + 30º ) +
0,03cos(9ωt + 100º ) ] [pu]
i(t) = 2 [ cos(ωt - 100º ) + 0,12cos(3ωt - 120º ) + 0,51cos(5ωt + 110º ) + 0,27cos(7ωt - 15º ) +
0,5cos(9ωt + 65º ) ] [pu]

A partir dessas ondas de tensão e corrente, serão obtidas as potências P, Q, S e o


fator de potência, levando-se em conta três hipóteses distintas:

1ª) Considerando-se apenas as componentes fundamentais:


P = V1 I1cosφ1 = 0,9848 pu
Q = V1 I1senφ1 = 0,1736 pu
S = V1 I1 = 1 pu
FP = cosφ1 = 0,9848

2ª) Considerando-se a distorção harmônica de corrente e desconsiderando-se a


distorção harmônica de tensão:
n
P= ∑V I
n =1
n n cos φn = V1 I1 cos φ1 = 0,9848 pu
n
Q= ∑V I
n =1
n n sen φn = V1 I1sen φ1 = 0,1736 pu

n n n
S= ∑V ∑ I = V1 ∑I = 1,1618 pu
2 2 2
n n n
n =1 n =1 n =1

P
FP = = 0,8476
S

3ª) Considerando-se as distorções harmônicas de corrente e tensão:


n
P = ∑ Vn I n cos φ n = V1 I 1 cos φ1 + V3 I 3 cos φ3 + V5 I 5 cos φ5 + V7 I 7 cos φ 7 + V9 I 9 cos φ9 = 1,0426 pu
n =1
n
Q = ∑ Vn I n senφ n = V1 I 1 senφ1 + V3 I 3 senφ3 + V5 I 5 senφ 5 + V7 I 7 senφ 7 + V9 I 9 senφ9 = 0,1796 pu
n =1
n n
S= ∑ Vn ∑I = 1,2694 pu
2 2
n
n =1 n =1

P
FP = = 0,8213
S

A seguinte tabela mostra os resultados de potências obtidos considerando-se as três


hipóteses anteriormente citadas:
51
1ª Hipótese 2ª Hipótese 3ª Hipótese
P [pu] 0,9848 0,9848 1,0426
Q [pu] 0,1736 0,1736 0,1796
S [pu] 1,0 1,1618 1,2694
FP 0,9848 0,8476 0,8213
Comparação das três hipóteses

Pelos resultados obtidos, observam-se, principalmente, as diferenças nas


potências aparentes S e nos fatores de potência. Nota-se, a partir da diferença de
valores entre a 2ª e 3ª hipóteses, que a distorção harmônica de tensão faz a
diferença, sendo a forma de onda da mesma razoavelmente distorcida.
Fica claro, através do exemplo anterior, a importância de se levar em conta os
efeitos das distorções harmônicas principalmente no cálculo do fator de potência.
Desta forma, evitar-se-á que um baixo fator de potência seja mascarado por um
valor alto, obtido através das componentes fundamentais, apenas.

4ª) Em seguida, a 3ª hipótese acima será refeita, aumentando em 10 vezes a


amplitude da 5ª harmônica de tensão e corrente:
v(t) = 2 [ cos(ωt - 90º ) + 0,02cos(3ωt - 120º ) + 0,7cos (5ωt + 90º ) + 0,05cos(7ωt + 30º ) +
0,03cos(9ωt + 100º ) ] [pu]
i(t) = 2 [ cos(ωt - 100º ) + 0,12cos(3ωt - 120º ) + 5,1cos(5ωt + 110º ) + 0,27cos(7ωt - 15º ) +
0,5cos(9ωt + 65º ) ] [pu]
n
P = ∑ Vn I n cos φ n = V1 I 1 cos φ1 + V3 I 3 cos φ3 + V5 I 5 cos φ 5 + V7 I 7 cos φ 7 + V9 I 9 cos φ9 = 4,3637 pu
n =1
n
Q = ∑ Vn I n senφ n = V1 I 1 senφ1 + V3 I 3 senφ 3 + V5 I 5 senφ5 + V7 I 7 senφ 7 + V9 I 9 senφ9 =
n =1

0,17365 + 0 − 1,221 + 0,009546 + 0,008604 = −1,0292 pu


n n
S= ∑ Vn ∑I = 6,3915 pu
2 2
n
n =1 n =1

P
FP = = 0,6827
S

A seguinte tabela mostra os resultados de potências obtidos considerando-se as


quatro hipóteses (três do primeiro caso e uma do segundo caso) anteriormente
citadas:

1ª Hipótese 2ª Hipótese 3ª Hipótese 4ª Hipótese


P [pu] 0,9848 0,9848 1,3445 4,3637
Q [pu] 0,1736 0,1736 0,0697 -1,0292
S [pu] 1,0 1,1618 1,5447 6,3915
FP 0,9848 0,8476 0,8704 0,6827
Comparação das quatro hipóteses
52

1.9) CORRENTES HARMÔNICAS DE ORDEM 3 E SUAS MÚLTIPLAS


ÍMPARES (9,15, 21, ETC.)

As correntes harmônicas de ordem 3 e suas múltiplas ímpares devem ser


observadas com cuidado especial, porque elas podem sobrecarregar os condutores
neutro e também causar interferências. Na figura 1.21 tem-se um sistema
aparentemente balanceado. Apenas as componentes fundamental (balanceadas) e
terceira harmônica da corrente estão presentes. Somando-se essas correntes no
neutro, observa-se que o resultado é nulo para a componente fundamental. O
mesmo já não é verdade para a terceira harmônica. Essas correntes, que estão em
fase nas três linhas, ao chegarem ao neutro, se somam. Em consequência, em
muitos casos, as correntes nos neutros podem ser maiores do que as correntes de
fase! Este pode ser o caso, quando uma grande quantidade de microcomputadores e
lâmpadas fluorescentes compactas estão presentes. Essas lâmpadas geram correntes
harmônicas de terceira ordem, em cada fase, de cerca de 80% do valor da
fundamental. Assim, em um raciocínio simples, nota-se que, enquanto a corrente
por fase, considerando-se apenas a fundamental e a terceira harmônica em uma
soma linear, é de 1,8 pu da fundamental, a correspondente corrente no condutor
neutro será de 2,4 pu da fundamental!

Figura 1.21: Altas correntes no neutro em um circuito alimentando uma carga não-linear

Em situações semelhantes, algumas possíveis soluções podem ser:


• Quando houver muitas cargas não-lineares monofásicas: providenciar um condutor
neutro para cada fase.
• Quando houver cargas trifásicas e cargas não-lineares monofásicas compartilhando
o mesmo neutro: dobrar a capacidade do condutor neutro, em relação ao condutor
fase.
• Instalar filtros shunt sintonizados para a terceira harmônica.
• Usar transformadores estrêla-delta:
53

As conexões dos transformadores são importantes para o fluxo das terceiras


harmônicas. A figura 1.22 ilustra os dois casos mais comuns de transformadores e o
correspondente fluxo de harmônicas de ordem 3 nos mesmos. No transformador
estrêla-delta as correntes de ordem 3 estão entrando pelo lado estrêla e se somando
no neutro. No lado delta as correspondentes correntes ficam confinadas ao interior do
delta. Logo, neste lado do transformador, nenhuma corrente de terceira ordem estará
presente. No entanto, dentro do lado em delta, haverá corrente de ordem 3.Neste
ponto deve ser ressaltado que a simples medição da corrente de linha no lado delta de
um transformador, não apontando a presença de correntes de terceira harmônica,
poderá dar a falsa impressão de que o transformador não está sobrecarregado. No
entanto, caso o transformador for do tipo estrêla-estrêla, aterrado dos dois lados, a
figura 1.22 mostra que haverá corrente de terceira ordem nos dois lados. Para evitar
isso, um ou os dois neutros deveria ser removido.

Figura 1.22: fluxo de correntes de terceira harmônica em transformadores

Uma constatação prática disso pode ser verificada através de medições,


conforme ilustrado nas figuras a seguir. Inicialmente se tem uma carga não linear,
trifásica e equilibrada, com um conteúdo de correntes harmônicas, nas fases, de
ordens 3,7,7,9, 11 e 13. Uma medição da corrente do neutro mostra um grande
conteúdo de 3ª. Harmônica (bem maior do que a fundamental, inclusive).
54

Por outro lado, quando se medem as correntes no lado primário do


transformador (em DELTA), nota-se que, praticamente não mais existe correntes de
3ª. Harmônica.

OBSERVAÇÃO:
Todos esses comentários são válidos para a grande maioria das correntes de
terceira harmônica, que agem como correntes de sequência zero. Certas cargas, no
entanto, como os fornos a arco, que normalmente operam em condições
desbalanceadas, irão gerar correntes de terceira ordem que possuem características
55
das correntes de sequência (+) ou (-). Nesses casos, essas correntes não serão
evitadas pelo uso de transformadores estrêla-delta.

1.9.1) EXEMPLO DE CÁLCULO DE CORRENTES EM CONDUTORES FASE E


NEUTRO, NA PRESENÇA DE CORRENTES HARMÔNICAS:

Neste exemplo, novamente será considerada a carga do edifício de


escritórios, alimentado através de um transformador de 1 MVA, a seco, já visto
anteriormente. A corrente fundamental média medida é de I1 = 285 [A].

As correntes harmônicas medidas estão na tabela abaixo.


HO 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19
Ih 1 0,657 0,377 0,127 0,044 0,053 0,025 0,019 0,018 0,011
[pu]

CORRENTE DE FASE EFICAZ:


h=n
Ief = ∑ ( Ih)
h =1
2
.I1 = 12 + 0,657 2 + 0,377 2 + ... + 0,0112 = 1,26.I1 = 1,26.285 = 359,1 [A]

CORRENTE NO NEUTRO:
I n = (3.I 3h + 3.I 9 h + 3.I15 h ).I1 = 3(0,657 + 0,044 + 0,019).I1 = 2,16.I1 = 615,6[ A] .

Como se pode observar, este valor é:


• 116% acima da corrente fundamental;
• 71,4% acima da corrente eficaz da fase.

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