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T R IB U N A IS D O T R A B A L H O N O D IR E IT O

C O M P A R A D O E N O B R A SIL

A r n a ld o S üssekind*

S u m á r io : I - C o n s id e r a ç õ e s H is tó r ic a s ; II - C la s s if ic a ç ã o e P r o c e d im e n to s d e S o lu ­
ç ã o d o s L i tíg io s T r a b a lh is ta s ; III - A O I T e a S o lu ç ã o d o s L i tíg io s T r a b a lh is ta s ; I V ­
D i r e i t o C o m p a r a d o ; V - O s T r ib u n a is d o T r a b a l h o n o B ra s il.

I - C O N S ID E R A Ç Õ E S H IS T Ó R IC A S

m a d as c a ra c te rístic a s d a a u to n o m ia cien tífic a d e u m ra m o do D ireito é a in sti­

U tu iç ão d e trib u n a is esp eciais, c o m reg ras p ró p ria s d e p ro c e sso , p a ra in te rp re tar


as re sp e c tiv a s n o rm a s ju ríd ic a s e asseg u rar a d e q u a d a ap lica çã o aos seus d estin a­
tários. T ra ta -se d e u m d ad o de relev o p a ra a a firm a çã o d a au to n o m ia , em b o ra esta p o s ­
sa c o n fig u ra r-se se m a ex istê n c ia de trib u n ais essen ciais. O in v e rso , p o ré m , fo i o que
o co rreu c o m o D ire ito d o T rab alh o : m u ito te m p o antes d e in ic ia d a, no sé cu lo X IX , a
se q ü ên c ia d e leis so c ia is -tra b a lh is ta s , fo ra m cria d o s n a F r a n ç a , n o sécu lo X V , c o n se­
lhos arb itra is, in sp ira d o s n a s “ju risd ic tio n s co rp o rativ es d e l ’A n c ie n R é g im e ”, in te­
grad o s s o m e n te p o r em p re g a d o re s, c o m p ro c e d im e n to s p ró p rio s p a ra so lu c io n a re m
certas q u estõ es d e trab alh o . O u tro ssim , e m 1806, N a p o le ã o in stitu iu os “ C o n seils de
P ru d ’h o m m e s ” n a cid a d e d e L y o n , esten d en d o -o s, três an o s d ep o is, a to d a a F ra n ç a ,
co m o q u e essa ju ris d iç ã o p ro fissio n al, c o m p o sta d e rep re se n ta n te s d e e m p re g a d o re s e
trab a lh ad o re s e q u e a té h o je fu n cio n a in te n sa m en te , p re c e d e u à p rim e ira lei trab alh ista
fran cesa, d e 1841, a tin e n te ao trab a lh o do m e n o r, e à s le is b ritâ n ic a s d e 1833, 1844 e
1847, q u e d isp u s e ra m , resp e ctiv am e n te, so b re a h ig ie n e e in sp e çã o n as o ficin as, a id a ­
de m ín im a p a ra o trab a lh o e a jo rn a d a d e d e z h o ras d e trab alh o . A in d a n o m e sm o sé cu ­
lo, igu ais co n s e lh o s p a ritá rio s fo ra m in stitu íd o s n a A le m a n h a , B é lg ic a , Itá lia , N o r u e g a
e S u íç a , co n s titu in d o -se , assim , no em b rião d os atu ais trib u n a is do trab alho.
C u m p re ad u z ir, n e s ta o p o rtu n id a d e, qu e o sa u d o so ju ris ta C o q u e ijo C o sta L em
co n fe rê n c ia p ro d u z id a n o 1º C o n g resso d a A c a d e m ia N a c io n a l de D ireito do T ra b alh o
(B rasília, 1 984), re g istro u q u e e m P o rtu g a l, já n o s écu lo X V II, j u íz e s ad ju n to s do s m a ­
g istra d o s titu la re s e ra m d esig n ad o s p a ra o ju lg a m e n to d e ca u sa s trab a lh istas fu n d ad as
n a le g isla çã o c iv il o u co m ercial. E P o r tu g a l foi, n a Ib ero am é rica , o p rim e iro a p o ssu ir
ó rg ão s esp ec iais p a ra q u estõ es trab alh istas: os “T rib u n ais d e Á rb itro s A v in d o re s ” , c ri­
ados e m 1889, c o m três p e rso n a lid a d e s in d e p en d e n tes, u m re p re se n ta n te d os e m p re g a ­
d ores e u m d o s trab a lh ad o re s. A G u a tem a la , e m 1907, in stitu iu os j u ízes d e ag ricu ltu ra

* E x - m in i s tr o to g a d o d o T r ib u n a l S u p e r io r d o T r a b a lh o . T ilu la r d a A c a d e m ia B r a s ile ir a d e L e tr a s J u r í­
d ic a s .

Rev. T S T , Brasília, vol. 65, n º 1, out/dez 1999 115


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p a ra litíg io s d o trab a lh o ru ral; e, n o m e sm o ano, n o B rasil, a L ei n° 1.637, so b re o d ire i­


to d e sin d ica liza çã o , fa c u ltav a a criação d e “c o n selh o s p erm a n en te s de co n c ilia ç ã o e
a rb itra g e m d estin a d o s a d irim ir d iv e rg ê n cia s e co n testaçõ e s en tre o cap ital e o tra b a ­
lh o ” (art. 8o) - p ro v id ê n c ia q ue, n o en tan to , n ão te v e co n seq ü ê n cia s p ráticas. E m 1908
a E s p a n h a in stala v a o s “T rib u n ais In d u stria is”, fo rm a d o s p o r u m m a g istrad o , d o is r e ­
p re se n ta n te s o p erá rio s e d o is p atro n a is, c o m o a m p la ju risd iç ã o n o co n c ern en te ao s d is ­
síd io s in d iv id u a is d o trab alh o . E m 1915 o g o v ern o re v o lu c io n ário m e x ica n o cria v a as
b a s e s d e su a Ju stiç a d o T ra b a lh o , afin al co n sag rad a n a C o n stitu iç ão de 1917 - a p r i­
m e ira a re la c io n a r ex ten so elen co d e d ireito s social-trab alh istas.

H o je q u ase to d o s os p aíses p o s s u e m trib u n ais do trab alh o , in se rid o s n o P o d e r


E x e c u tiv o o u n o P o d e r Ju d ic iá rio , além d e ó rg ão s d e co n c iliaç ão e sistem a s d e a rb itra ­
g em , c ria d o s p o r lei o u p o r co n v e n çõ e s co letiv as de trab a lh o (C f. O IT , T rib u n a le s d e l
T ra b a jo en A m é ric a L atin a, G en e b ra , 1949; O IT , T rib u n au x du T ra v ail en A friq u e
F ra n c o p h o n e ” , G en eb ra, IIE S , 1978; O IT , “ C o n c iliació n y arb itraje en los co n flicto s
d e tra b a jo ” ; G en e b ra , 2 a, ed., 1987; O IT , “E l a rb itra je v o lu n tário d e los co n flicto s de
in te re se s” , G en e b ra , 1988; “ S o lu ció n d e los co n flicto s la b o ra les” , P a rte III d o D o c u ­
m e n to G B -2 6 2 /1 7 7 -2 , su b m e tid o ao C o n selh o d e A d m in istra çã o d a O IT e m n o v em b ro
d e 1994).

II - C L A S S IF IC A Ç Ã O E P R O C E D IM E N T O S D E S O L U Ç Ã O D O S
L IT ÍG IO S T R A B A L H IS T A S

O s d issíd io s co n c ern en tes às re la ç õ e s de trab alh o p o d e m se r in d iv id u a is o u c o ­


le tiv o s. O s p rim e iro s tê m p o r o b jeto in teresses c o n c reto s d e d eterm in a d as p esso as, n ão
se alte ra n d o q u an d o re u n ire m u m a p lu ra lid a d e d e p artes. O q u e im p o rta, q u e r n o d iss í­
d io in d iv id u a l sim p les, q u e r n o d issíd io in d iv id u al p lú rim o , é q u e as p arte s, d e v id a ­
m e n te id e n tifica d as, q u e s tio n e m so b re a ex istê n cia o u a v io lação d e u m direito a n te ri­
o rm e n te e stip u la d o e m n o rm a ju ríd ic a o u c láu su la co n tratu al. Já os d issíd io s co letiv o s
tê m p o r o b je to in te resse s ab strato s d e p e s so a s in d e term in a d as q u e, n o m o m e n to do
c o n flito , in te g ra m o g ru p o rep rese n tad o n a c o n te n d a ou v e n h a m a in te g rá-lo n a v ig ê n ­
cia do in stru m e n to ju ríd ic o q ue o so lucionar.

O litíg io in d iv id u a l é se m p re d e d ireito; m as o co letiv o p o d e ser:

a) d e in te resse (p re ten sõ es só c io -e co n ô m ica s), q u an d o v isa r à criação ou re v i­


são d e n o rm a o u co n d içã o d e trab alh o ;

b ) d e d ireito , q u a n d o o b je tiv a r a in te rp re taç ão d e n o rm a legal, re g u la m e n ta r ou


co n v e n c io n a l, a p lic á v e l ao resp e ctiv o g ru p o e so b re a q u al h a ja m a n ifesta c o n tro v é r­
sia.
O ac atad o m e stre P lá R o d rig u e s d en o m in a d e “co n flito s d e trab a lh o im p ró p ri­
o s” o s in te rsin d ic ais, o s v e rific a d o s e n tre sin d ica to e seus asso cia d o s e os q ue o c o rre m
en tre tra b a lh a d o re s e m ra z ã o do trab a lh o e m co m u m , os quais, e m alg u n s p aíses, são
s u b m e tid o s ao s m e sm o s p ro c e d im e n to s e ó rg ão s c o m p ete n te s p a ra os j á referid o s lití­

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gios in d iv id u a is e c o letiv o s (“A so lu ção dos co n flito s tra b a lh ista s” , trad. d e W a g n er


G ig lio , S P., L T r., 1986, p ág . 14).

O s p ro c e d im e n to s e os órg ão s en c arreg ad o s de so lu c io n a r os co n flito s d e tra b a ­


lho são m u ito v a ria d o s n o d ireito co m p arad o . E m m u ito s p a íse s os d issíd io s in d iv id u ­
a is d e v e m se r su b m e tid o s, in icialm en te, a órg ão d e c o n c iliaç ão e m e d ia ç ã o institu íd o s
p o r lei, c o n v e n ç ã o o u co n tra to co letiv o e/ou, c o m o m e sm o o b je tiv o , c o n stitu ir a fase
p re lim in a r d o p ro c e sso a se r ju lg a d o p elo s trib u n a is ou co n s e lh o s c o m p ete n te s p a ra a
re sp e c tiv a d ecisão . O s c o n flito s c o le tiv o s, u m a v e z co n fig u rad o s, o b se rv a m , e m se­
qü ên cia, n a m a io ria d o s p a íse s, os seg u in tes p ro ce d im en to s: a) n eg o c ia ç ã o d ireta en tre
as p a rte s e m litíg io ; b ) n e g o c ia çã o so b a su p e rv isão d e m e d iad o res; c) su b m issão fac u l­
ta tiv a o u c o m p u lsó ria do litíg io a árb itro s p riv ad o s ou a trib u n a is o u c o n selh o s estatais.
N e sta h ip ó te se , o la u d o a rb itra i ou a d ecisão terá: a) n a tu re z a d ec la ra tó ria, n as co n tro ­
v érsias co letiv as de d ireito ; b) n atu re z a co n stitu tiv a, n o s co n flito s co letiv o s de in te res­
se (p re ten sõ es só c io -e co n ô m ica s).

P o r v ez es, o s co n flito s co letiv o s d eto n am a g re v e do s trab a lh ad o re s; isto é, a


cessação co letiv a d e trab a lh o v isa n d o a p re ssio n a r os em p re g ad o res p a ra q ue n e g o c i­
em d e b o a fé e c e d a m n a s su as reiv in d icaçõ es. S ob o p rism a ju ríd ic o , a g rev e não é,
p o rtan to , o ú ltim o re c u rso d e q u e d isp õ e m os trab a lh ad o re s p a ra o êx ito das suas p re ­
ten sõ es, c o m o e q u iv o c a d a m e n te se apregoa. O alvo d a p re ssã o g rev ista são os em p re ­
sário s. D a í p o r q u e o ú ltim o rec u rso é a a rb itra g em o u a su b m issã o d o d issíd io ao trib u ­
nal c o m p ete n te , n ão se n d o ética e so c ialm en te a d m issív e l q ue se p re ssio n e m árbitros
ou ju íz e s n a an á lise im p a rcia l do litígio.

I I I - A O IT E A S O L U Ç Ã O D O S L IT ÍG IO S T R A B A L H IS T A S

A O rg a n iz a ç ã o In tern ac io n a l do T rab alh o , n o s seu s o ite n ta an o s d e p ro fíc u a ati­


v id a d e n o rm ativ a, n ã o ap ro v o u q u alq u er c o n v e n çã o o u rec o m en d a çã o so b re trib u n ais
do trab a lh o ; e, q u an d o co g ita d o s p ro ce d im en to s p a ra a so lu ç ão d os litíg io s in d iv id u ais
do trab alh o , en u m e ra alg u m as o p çõ es, v isa n d o a re sp e ita r os d iferen tes sistem a s a d o ta ­
dos e m ca d a E sta d o , co m esteio n as resp e ctiv as trad içõ es e co n d içõ e s n acio n ais. A s ­
sim , p o r ex em p lo :
a) n a R e c o m e n d a ç ã o n° 130, d e 1962, qu e trata do ex a m e d e re c la m a ç ã o de tra ­
b alh ad o res n o â m b ito in te rn o d a em p resa, a O IT p ro p õ e que, fra ca ssan d o to d o s os e s ­
fo rço s p a ra reso lv ê -la, d ev e rá asseg u rar-se a so lu ção d efin itiv a p o r u m do s seg u in tes
cam in h o s: a) p ro c e d im e n to s estip u la d o s n a co n v e n çã o co letiv a; b ) c o n c iliaç ão o u a rb i­
trag e m p o r au to rid ad es p ú b lic a s com p eten tes; c) rec u rso an te u m trib u n a l do trab alh o
o u o u tra a u to rid a d e ju d ic ia l; d ) q u alq u er o utro p ro c e d im e n to ap ro p riad o , te n d o em
co n ta as co n d içõ e s n a c io n a is (ite m 17);
b ) n a C o n v e n ç ã o n° 158, de 1982, so b re a te rm in aç ão d a re la ç ã o d e trab a lh o p o r
in ic ia tiv a d o em p re g ad o r, a rec lam a çã o do trab a lh ad o r d ev e se r d ec id id a p o r u m “o rg a ­
n ism o n eu tro , c o m o u m trib u n al, u m trib u n al do trab alh o , u m a ju n ta d e a rb itra g em ou
u m á rb itro ” (art. 8, n° 1).

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A O IT te m en fa tiza d o a co n v e n iê n cia d a ad o ção , p o r lei o u co n v e n çõ e s c o le ti­


v a s , d e p ro c e d im e n to s p rév io s de co n c iliaç ão do s litígios in d iv id u ais do trab alh o . E m
es tu d o d o q u a l p a rtic ip a m o s n essa en tid ad e, p o n d era m o s :

“L a c o n c iliac ió n ante ó rg an o s in tern o s d e la em p re sa se h a d em o n strad o


c a p a z d e o b te n er resu ltad o s b astan te sa tisfacto rio s. D e allí la g ran p ro fu sió n
q u e h a alca n za d o e n la co n tra tac ió n colectiva. S us v en taja s p rin c ip a le s está n
d ad a s p o r las circ u n sta n cia s d e q u e los o rg an ism o s co n c iliad o res p o se e n u n
b u e n c o n o c im ien to d e las p e c u lia rid ad e s p ro p ias d e l resp ectiv o se c to r la b o ra l y
d e q u e, p o r te n er u n a co m p etê n cia restrin g id a al ám b ito in tern o d e la em p re sa,
n o se en c o n tra n c o n g e stio n ad o s p o r el co n o c im ien to de m u c h o s asu n to s m u y
d iv e rso s en tre si y p u ed e n , p o r tan to , d ed ica r u n e sfu erzo serio a la g e stió n c o n ­
ciliató ria, la cu al n o q u ed a red u c id a a u n a m e ra form alid ad , co m o su c ed e a v e ­
ces cu a n d o el p ro ce d im ie n to se rea liza ante o tro tip o de ó rg an o s.”

N o q u e ta n g e ao s co n flito s co letiv o s eco n ô m ic o s o u d e in teresse, a d o u trin a d a


O IT é ite ra tiv a e está co n su b stan c ia d a n a R e co m en d aç ão n° 92, d e 1951: os co n flito s
n ão re so lv id o s n a n e g o c ia çã o co letiv a d ireta d e v e m se r su b m e tid o s a o rg an ism o s de
co n c iliaç ão v o lu n tá ria, n o s q uais esteja a sseg u rad a a rep rese n taç ão p aritária d e e m p re ­
g ad o re s e trab a lh ad o re s. S eg u n d o p re c e itu a a rec o m en d a çã o , a v ia d a arb itra g em p a ra
a so lu ç ão d o c o n flito d ep e n d erá do co n sen so en tre as p arte s interessad as. N o m e sm o
se n tid o a 3 a C o n fe rê n c ia d o s E stad o s d a A m é ric a M e m b ro s d a O IT (M éx ico , 1946) h a ­
v ia a p ro v a d o u m a reso lu ç ão so b re a co n c iliaç ão e a a rb itra g em v o lu n tá ria p a ra os c o n ­
flito s c o le tiv o s d o trab a lh o , sen d o qu e a C o n v e n çã o n° 154, de 1981, c o m p le m e n ta d a
p e la R e c o m e n d a ç ã o n° 163, do m e sm o ano, trata do fo m en to d a n e g o c ia çã o co letiv a
co m o p ro c e d im e n to id eal p a ra a so lu ção do s conflito s do trabalho.

R e la tiv a m e n te aos trib u n ais do trab alh o , g eralm en te in stitu íd o s p a ra a so lu ç ão


d os litíg io s in d iv id u ais e dos co letiv o s d e d ireito, a 4a C o n ferê n cia do s E sta d o s d a
A m é ric a M e m b ro s d a O IT (M o n tev id éu , 1949) ap ro v o u reso lu ç ão d a q u a l d estac am o s
as se g u in te s dispo siçõ es:

a) os trib u n a is d o trab a lh o d ev e riam ter caráter p e rm a n en te , fu n cio n a n d o co m


in te ira in d e p e n d ê n c ia em relação ao P o d e r E x ec u tiv o (item 2);
b ) os trib u n a is co leg ia d as, co n stitu íd o s à b ase de rep rese n taç ão d e in te resse s,
d e v e ria m te r rep re se n ta n te s de em p re g ad o res e de trab alh ad o res (ite m 4);
c) se m p re q u e p o ssív el, d e v e ria m se r criad o s trib u n ais su p erio res do trab a lh o
p a ra os re c u rso s d as d ecisõ es d e p rim e ira in stân cia (item 7);
d) os trib u n a is do trab a lh o d ev e riam se r p riv ativ am e n te c o m p ete n te s p a ra c o ­
n h e c e r d o s c o n flito s rela tiv o s à in terp retação ou aplicação d os co n trato s in d iv id u ais do
trab a lh o , d as co n v e n çõ e s o u co n tra to s co letiv o s e d a leg islação so cial (item 8);
e) o s trib u n a is d o trab a lh o n ão d e v e ria m co n h e ce r d e co n flito so b re a in te rp re ta ­
ção o u ap lica çã o d e co n v e n çõ e s ou co n trato s co letiv o s qu e estip u le m p ro c e d im e n to s
esp ec iais p a ra so lu c io n a r as co n tro v érsias, salvo se o s p ro ce d im en to s n ão tiv e re m c a ­
rá te r fin a l (ite m 9);

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f) os trib u n a is do trab a lh o d ev e riam esfo rça r-se p a ra so lu c io n a r os co n flito s j u ­


ríd ic o s d o tra b a lh o p o r m e d ia ç ã o e conciliação , an tes d e d ec id i-lo s p o r se n ten ç a ou
a c ó rd ão (ite m 10);

g) d e v e ria m sim p lificar-se ao m á x im o as fo rm a lid a d es do p ro c e sso e ad o tar-se


m e d id as p a ra a c e le ra r su a tram itação . A s reg ras do p ro c e sso c o m u m n ão d ev eriam
ap lica r-se ao s trib u n a is d o trab alh o , salv o q u an d o co m p atív eis c o m as n o rm a s destes e
a n a tu re z a esp e c ia l, sim p les e e x p e d ita d os seus p ro c e d im e n to s, d ev e n d o , e m to d o s os
caso s, a s se g u ra r-se o d ireito d e d efesa (item 14);

h ) os se rv iç o s d o s trib u n ais do trab alh o d e v e ria m se r g ratu ito s (ite m 18);

i) os tra b a lh a d o re s d ev e riam ser p ro teg id o s co n tra q u a lq u e r ato d e d isc rim in a ­


ção n o e m p re g o te n d en te s a im p e d ir-lh es q ue re c o rra m aos trib u n a is do trab alh o , p re s ­
te m d e p o im e n to s c o m o te ste m u n h as o u p erito s e, ain d a, q u e in te g rem , c o m o m e m b ro s,
esses trib u n a is (ite m 19);

j ) d e v e ria m cria r-se o rg an ism o s esp eciais d e assistê n c ia ju d ic ia l p a ra a p re s ta ­


ção d e se rv iç o s g ratu ito s ao s in te ressa d o s p e ra n te os trib u n a is do trab a lh o (item 20).

IV - D IR E IT O C O M P A R A D O

A - C o n sid e ra ç õ e s g e r a is - H o je, a g ran d e m a io ria do s p aíses é d o ta d a d e o rg a­


n ism o s esp ec iais, a d m in istra tiv o s ou ju d ic ia is, p a ra a so lu ç ão dos litíg io s trabalh istas.
M a s, co m o p o n d e ro u J u lio M a rtin e z Vivot, “a o rg an iz aç ão d a Ju stiç a d o T ra b alh o n ão
é su sc etív el d e se co n te r e m p a d rõ e s u n iv ersais; é m a té ria estre ita m e n te d ep e n d en te
d as co n d içõ e s p ró p ria s d e c a d a p aís, q u er no q u e se re fe re à eco n o m ia , à g eo g ra fia , à
d em o g ra fia, ao n ív e l d e in stru ç ão e cultura, q u e r n o co n c ern en te ao re g im e p o lític o -
co n stitu c io n al e às trad içõ es in stitu c io n ais” (“A n ais do C o n g resso do 40° an iv ersário
d a Ju stiç a d o T ra b alh o b ra sile ira ”, B rasília, m a io de 1981).

D e u m m o d o g eral, a c o m p etê n cia dos trib u n ais do trab a lh o é ta n to m ais a m p la


q u an to m a io r a in te rv en çã o do E sta d o n a s rela çõ e s d o trab alh o . É ce rto q u e a leg islação
tra b a lh ista n a sc e u , é e s e rá in terv en cio n ista. H á, n o en tan to , v á rio s g rau s d e in te rv en ci­
o n ism o , q u e d e p e n d e m d e d iv e rso s fatores, d en tre o s q u ais c u m p re destacar: a) o re g i­
m e ju ríd ic o -p o lític o v ig e n te; b ) o n iv e l alcan çad o p e la o rg an iz aç ão sin d ica l n acional.
D a í p o r q u e o n ív e l d e in te rv en çã o estatal se re d u z n a ra z ã o in v e rsa d o fo rta le cim en to
d as asso c ia ç õ e s sin d ica is e d a atu ação efetiv a d estas e m p ro v eito d o s seus re p re se n ta ­
dos.
P re c isa m e n te p o rq u e o D ireito do T rab alh o v isa a im p e d ir q ue a a u to n o m ia d a
v o n ta d e p ro p ic ie , atra v és d e in stru m e n to s co n tratu ais, o d esam p a ro do trab a lh ad o r
q u an to a d ireito s u n iv e rsa lm e n te rec o n h ecid o s, é q u e as su as m a n ife sta ç õ e s h e te rô n o ­
m as n ão p o d e m d esap a re cer, c o m a fin alid ad e d e esta b e le c e r u m p iso in d e rro g áv e l de
p ro teç ão ab a ix o d o q u al n ã o se co n ceb e a d ig n id a d e d o trab a lh ad o r. E as ju risd iç õ e s
esp ec iais d o tra b a lh o são, in e q u iv o ca m e n te, u m a das fo rm a s d e p ro te ç ã o ao s trab a lh a­
d ores

Rev. T S T , Brasília, vol. 65, n º 1, out/dez 1999 119


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H á p a íse s, to d av ia, q u e n ão p o ssu e m ju risd iç õ e s esp eciais p a ra os d issíd io s tra ­


b alh ista s. N a Itá lia e na H o la n d a os litígios d e d ireitos, se jam in d iv id u ais ou co letiv o s,
são d a c o m p e tê n c ia d o s tribu nais ordinários, em b o ra fu n cio n e m j u ízes e s p ec ializa d o s
e m D ire ito d o T ra b alh o . N o s E sta d o s U nidos e n o C a n a d á p rev a lec em os p ro c e d im e n ­
to s d e re c la m a ç ã o e arb itrag em estipulados n as c o n v e n çõ e s o u no s co n tra to s co letiv o s,
estes co n c e rn e n te s a em p resas e aq u eles relativ o s a categ o rias, indú strias o u p ro fissõ e s

B - D is s íd io s d e d ire ito - P rev alece n a leg islação co m p arad a a co m p e tê n c ia


d o s trib u n a is d o trab a lh o lim itad a aos litígios trab a lh istas in d iv id u ais e aos c o letiv o s d e
d ireito .
O p re c ita d o estud o d a O IT , su b m etid o e m n o v em b ro d e 1994 ao seu C o n selh o
d e A d m in is tra ç ã o , d estac a a org an ização dos trib u n ais do trab a lh o d a A le m a n h a , Á u s ­
tria , B ra sil, C o sta R ic a , E sp a n h a , F in lâ n d ia , F ra n ç a , H u n g ria , M é x ic o , S in g a p u ra ,
T u rq u ia e U rug ua i. R e fe re m u ito s países africanos e a A rg e n tin a , D in a m a rc a , F ilip i­
n a s, R e in o U n id o , S u é c ia e V enezuela, qu e p o ssu e m alg u m as ca racterísticas q u e as d i­
fe re n c ia m d o s d em ais. R e g istra ain d a q ue m u ito s d esses trib u n ais são trip artites, “ C o n ­
se il d e p r u d ’h o m m e s ” são b ip artites e e m o u tro s fu n cio n a m ap en as u m ju iz in d e p e n ­
d en te (D o c. cit., p ág s. 41/2).

O s trib u n a is do trab alh o n a A le m a n h a tê m u m a o rg an iz aç ão ig u al à b rasileira:


ju iz a d o s lo c ais, trib u n a is reg io n a is e o T rib u n al F ed era l do T ra b alh o , to d o s d e c o m p o ­
siç ão trip a rtite. M a s o s j u ízes classistas não re c e b e m rem u n e ra çã o d o E stad o . O s litíg i­
os d e d ireito d a c o m p e tê n c ia d esses ó rgãos do P o d e r Ju d iciário alca n ça m as c o n tro v é r­
sias e n tre os em p re g ad o res e os resp ectiv o s co m itê s d e em presa.

N a G rã -B reta n h a , o s “In d u strial T rib u n ais” , in teg rad o s p o r u m ju iz to g ad o , u m


re p re se n ta n te d o s trab a lh ad o re s e o utro dos em p re g ad o res, são os ó rg ão s d e p rim e ira
in stâ n c ia p a ra os d issíd io s in d iv id u ais n a In g la te rra , P a ís d e G a les e E sc ó c ia . O s “E m ­
p lo y m e n t A p p ea ls T rib u n a is”, co n fo rm e reg istro u o m in istro J o s é A ju ric a b a d a C o sta
e S ilv a e m d e p o im e n to à C âm ara dos D ep u tad o s, ju lg a m p e q u e n o n ú m e ro de rec u rso s,
d as d ec isõ e s d o p rim e iro g rau d e ju risd iç ão . M a is raras a in d a são as ap e la çõ e s p a ra a
C â m a ra C iv il d e A p ela çã o , co m p o sta apenas de m a g istrad o s de carreira.

O s “C o n seils d e P ru d ’h o m m e s” c o n tin u am n a F ra n ç a c o m su a c o m p o siç ão p a ­


ritária. In fo rm a J e a n C la u d e J a v illie r (“ M a n u el d e D ro it de T ra v a il” , P aris, 4 a ed.,
L C D J, 1992, p ág s. 93 /9 5), q ue em cad a trib u n al de g ran d e in stân c ia fu n cio n a p elo m e ­
n o s u m d esses co n selh o s, integ rad o s, ex clu siv am en te, p o r em p re g ad o res e tra b a lh a d o ­
re s , eleito s p o r cin co anos. E m ca d a u m d eles h á u m se to r p a ra a te n ta tiv a o b rig a tó ria
d e co n c ilia ç ã o e u m se to r d e ju lg a m e n to , sub d iv id id o em seçõ es de en q u a d ram e n to : in ­
d ú stria , c o m ércio , a g ric u ltu ra e ativ id ad es diversas. E m caso d e em p ate, u m ju iz do
re sp e c tiv o trib u n a l d á o seu vo to decisivo. O recu rso , co m su sp en são d a se n ten ç a, é
p a ra a C â m a ra S o cia l d a C o rte d e A pelação. E m casos esp ec iais o p ro ce sso p o d e se r
s u b m e tid o à C o rte d e C assação.

N a Ib e ro a m é r ic a q u ase to d o s os países p o ssu e m trib u n ais de trab a lh o p a ra a s o ­


lu ç ão d o s d issíd io s d e ca ráte r ju ríd ic o .

120 Rev. T S T , Brasília, vol. 65, n º 1 , out/dez 1999


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N a A r g e n tin a h á p ro v ín cias co m du p lo g rau d e ju ris d iç ã o e ou tras c o m u m só


trib u n a l co leg ia d o , to d o s co m p o sto s ap en as p o r j u íz es tog ad o s. C ab e re c u rso e x tra o r­
din ário d e n u lid a d e , d e c a ssa çã o ou d e a rb itra rie d ad e p a ra a C o rte S up rem a.

N a B o lív ia , a “ Ju d ic a tu ra del T ra b ajo y d e la S eg u rid ad S o cial” p o ssu i “Ju z g a ­


d os d e l T ra b a jo ” e u m a C o rte N a c io n a l d e A p ela çã o , ap e n as c o m m ag istrad o s. A S ala
S o cial e A d m in is tra tiv a d a C o rte S u p rem a fu n cio n a co m o in stân c ia d e cassação.
N o C h ile e n a C o lô m b ia só ex istem trib u n ais do trab a lh o p a ra o p rim e iro g rau
d e ju risd iç ã o . O seg u n d o g rau é exercid o p o r trib u n a is o rd in ário s, c o m rec u rso e x tra o r­
d in á rio p a r a a C o rte S u p rem a.
N a E s p a n h a , q u atro são os órg ão s do P o d e r Ju d ic iá rio c o m p ete n te s p a ra os lití­
g io s trab alh istas: a) “ Ju z g ad o s de lo S o cial” , ex e rcid o p o r u m só ju iz to g ad o ; b) “ S alas
d e lo S o cial d e lo s T rib u n a le s S uperio res de C o m u n id ad A u tó n o m a ” , q ue são c o le g ia ­
dos de m a g istra d o s co m p ete n te s p a ra os recu rso s de su p licação ; c) “ S ala d e lo S ocial
d e la A u d iê n c ia N a c io n a l” , c o m sed e e m M a d ri e ju ris d iç ã o n a c io n a l p a ra as c o n tro v é r­
sias sin d icais o u c o letiv as de d ireito; d) “ S ala d e lo S o cial d e l T rib u n a l S u p re m o ” , q ue
ju lg a os re c u rso s d e cassação . E sse s tribunais, q u e in te g ram o P o d e r Ju d ic iá rio , são
co m p ete n te s p a ra o ju lg a m e n to n ão só dos d issíd io s in d iv id u ais e do s co letiv o s d e n a ­
tu rez a ju ríd ic a , c o m o ta m b é m das q u estõ es atin en tes à se g u rid a d e social.
N o M é x ic o , as “Ju n ta s d e C o n c iliació n y A rb itra je ” c o n fig u ra m u m a ju risd iç ã o
tra b a lh ista au tô n o m a, tal c o m o a Ju stiça do T rab alh o b rasileira até 1946; m a s n ão in te ­
g ra m o P o d e r Ju d ic iá rio . H á Ju n tas F ed era is e Ju n tas L o ca is, estas cria d as p elo s g o v er­
no s e stad u a is n o s m u n ic íp io s ou zon as ec o n ô m ic as d esp ro v id a s daq u elas. A cú p u la
d essa ju ris d iç ã o tra b a lh ista é a “ Ju nta F ed era l d e C o n c iliació n y A rb itra je ” . T o d o s os
órg ão s tê m c o m p o siç ã o trip a rtite, c o m ig u a l n ú m e ro d e re p re se n ta n te s d o s tra b a lh a d o ­
res e e m p re g a d o re s (art. 123, X X , d a C onstituição).
N o P e ru , a C o n stitu iç ão de 1979 in te g ro u a M a g istra tu ra d o T ra b alh o n o P o d er
Ju d iciário . E la p o ssu i a se g u in te estrutura: a) “Ju eces d e P a z L e tra d o s ” p a ra ca u sa s de
p e q u e n o v alo r; b) “Ju e c e s d e T ra b a jo ” , com o p rim e ira in stân c ia u n ip e sso al, p a ra os d e ­
m ais litíg io s; c) “ S alas d e T ra b a jo ” n as C o rtes S u p erio res, fo rm a d a s p o r três m a g istra ­
dos. P a ra o ju lg a m e n to d o s rec u rso s d e cassação e m m a té ria trab alh ista, a C o rte S u p re­
m a p o ssu i a “ S ala C o n stitu c io n al y S o cial” .
E m P o r tu g a l os trib u n a is do trab alh o ta m b ém p e rte n c e m ao P o d e r Ju d iciário .
A L e i O rg â n ic a dos T rib u n ais, d e 1987, p re c e itu a q u e dois “j u ízes so c iais” , rec ru ta d o s
en tre a sso cia çõ e s p a tro n a is e d e trab alh ad o res, c o m p o n h a m aq u eles trib u n a is de p r i­
m e ira in stân c ia, p a ra ap re cia çã o , ex clu siv am en te, d a m a té ria d e fato. D a s su as se n te n ­
ças ca b e re c u rso p a ra a S eção S o cial do T rib u n al das R e la ç õ e s e, d estes, e m h ip ó teses
restritas, p a ra a S eção S o cial d o S u p rem o T rib u n al d e Justiça.
C - D is s íd io s co le tiv o s d e in te re sse (só cio -e co n ô m ico s) - Q u an to a estes c o n ­
flito s, e scla re ce a O IT q u e em d iv e rso s p aíses da Á fric a , A m é r ic a L a tin a e Á s ia as fu n ­
çõ e s d e co n c ilia ç ã o e m e d ia ç ã o são en treg u es a ó rg ão s d a ad m in istra ç ã o p ú b lic a ou,
c o m m e n o r fre q ü ên c ia, a in sp e to res do trabalho. E n treta n to , “e m p a íse s m a is in d u stria ­
lizad o s, fo ra m in stitu íd o s ó rg ão s de co n c iliaç ão e m e d ia ç ã o q u e são , e m g ran d e m e d i-

Rev. T ST, Brasília, vol. 65, n º 1, out/dez 1999 121


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da, in d e p e n d e n te s d o g o v ern o, ta is c o m o o S erv iço d e C o n su lta, C o n c iliaçã o e A rb itra ­


g e m (A C A S ) do R e in o U nido, o S erv iço F e d e ra l de M e d iaç ão e C o n c iliaçã o (F M C S )
d o s E sta d o s U nido s, a C o m issã o A u stralian a d e R e la çõ es T ra b alh ista s (A IR C ), a Ju n ta
d e C o n c ilia ç ã o d a D in a m a rc a e as C o m issõ e s d e R e la ç õ e s T ra b alh ista s d o Ja p ã o . N a
D in a m a rc a , G rã B re ta n h a e J a p ã o esses ó rg ão s são co m p o sto s, e m ig u al n ú m e ro , p o r
m e m b ro s in d e p en d e n tes e rep rese n tan tes dos em p re sário s e dos trab a lh ad o re s (T rad.
cit., p ág . 37).

N a A le m a n h a , B é lg ic a e S u íç a os p ro ce d im en to s d e m e d iaç ão são in stitu íd o s,


g e ra lm e n te , p o r co n v e n çõ e s co letiv as p a ra os resp e ctiv o s ram o s ec o n ô m ic o s, se n d o
c o m p o sto s a p e n as p elo s rep rese n tan tes dos co rresp o n d e n tes em p resário s e tra b a lh a d o ­
res.

A su b m issã o d o co n flito d e in te resse a órg ão d e co n c iliaç ão e m e d ia ç ã o é em


g era l fac u ltativ a; m as n a A u strá lia , C a n a d á , Í n d ia , M a lá sia , P o lô n ia e S in g a p u ra é
o b rig ató ria , se n d o q u e es sa co m p u lso ried a d e é m a is fre q ü en te e m relação aos c o n flito s
c o le tiv o s q u e afe tam os se rv iç o s p ú b lic o s. N a Itá lia , p o r ex em p lo , a L e i n° 146, de
1990, d isp õ e qu e, n a o co rrên c ia d e g rev e n a fu n çã o p ú b lic a o u e m e m p re sa de se rv iç o s
p ú b lic o s, e d esd e q u e as p arte s não ac eitem p ro p o sta a resp e ito fo rm u lad a p e la “ C o ­
m is sã o d e G u ard a d a L e i d e G re v e ” , p re v ista n a c itad a lei, o p re sid e n te d o C o n selh o de
M in istro s p o d e ex p e d ir u m a “O rd e m M o tiv a d a ” d eterm in a n d o a su b m issão à a rb itra ­
gem .
In o c o rre n d o co n c iliaç ão , d ireta ou m e d iad a , en tre as p arte s c o n flitan tes, o d iss í­
d io d e v e se r su b m e tid o a arb itrag em , se n d o que, em alg u n s p aíses, os trib u n ais do tr a ­
b a lh o tê m c o m p e tê n c ia p a ra arb itrá-lo ou d ecid i-lo . N o direito co m p arad o p re v a le c e a
a rb itra g e m vo lu n tá ria , in stau rad a p o r co n sen so d as p artes, p a ra a so lu ç ão do s c o n fli­
to s de in te resse (só cio -e co n ô m ic o s). A rb itra g e m q u e p o d e se r a trib u íd a a u m o u m a is
árb itro s p riv a d o s, a ó rg ão s d a A d m in istra çã o P ú b lic a ou, ain d a, a tribu nais.

L e m b ra ain d a o j á m e n c io n a d o rela tó rio d a O IT q u e “a a rb itra g em o b rig ató ria


d o s co n flito s d e in te resse s foi in stitu íd a, p o r v ário s g o v ern o s d e países e m v ia s de d e ­
s e n v o lv im e n to , os q u ais en ten d e m q u e esse p ro c e d im e n to se rv e p a ra p ro te g e r a e c o ­
n o m ia n a c io n a l e a v id a p ú b lic a dos tran sto rn o s d ec o rren tes das m e d id as de ação tra ­
b a lh is ta d ire ta ” . E acrescen ta: “À s v ezes, a arb itra g em o b rig ató ria con stitu i ta m b ém
u m p ro c e d im e n to a tra tiv o n aq u e le s p aíses e m q u e o d eseq u ilíb rio en tre o p o d e r dos
em p re g a d o re s e o d o s sin d icato s in ib e to d a n e g o c ia çã o co letiv a” (T rad. cit., p ág . 39).

E m p u b lic a ç ã o so b re o tem a, a O IT re la cio n a v in te e n o v e p aíses d e to d o s os


c o n tin e n te s o n d e fu n c io n a m o rg an ism o s ad m in istra tiv o s p erm a n en te s in c u m b id o s da
a rb itra g e m o b rig a tó ria d o s co n flito s co letiv o s eco n ô m ico s. E ad u z qu e, co m u m en te,
esses ó rg ão s são p re sid id o s p o r m ag istrad o s d a C o rte S u p rem a, d e T rib u n al S u p erio r
o u de T rib u n a l d o T rab alh o . P o r seu tu rn o , in fo rm a q ue n o B ra sil, G u a tem a la , Í n d ia ,
Q u ên ia , M é x ic o , N ig é ria , P a q u istã o , S ri-L a n k a e T rin id a d -T o b a g o os trib u n a is d o tra ­
b a lh o são co m p e te n te s p a ra arb itra r os litígios co letiv o s eco n ô m ic o s (“C o n c ilia c ió n y
arb itra je en los co n flicto s d e tra b a jo ” , G en eb ra, 2a ed., 1987, pág s. 175/180).

122 Rev. T S T , Brasília, vol. 65, n º 1, out/dez 1999


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N ã o é p o r a caso q u e a q u ase to talid ad e d o s ó rg ão s a d m in istra tiv o s ou ju d ic iá ri­


os en c a rre g a d o s d a arb itra g em o b rig ató ria d e tais c o n flito s trab alh istas se situ am em
p a íse s e m v ia s d e d esen v o lv im en to . É q ue o êx ito d a n eg o c ia ç ã o co letiv a e a c o n c o r­
d â n c ia d o e m p re sa ria d o p a ra a in stitu ição do ju íz o a rb itra i d ep e n d em , in q u e stio n a v e l­
m e n te, d e sin d ic a to s fo rtes e atu an tes, c o m ex p re ssiv a rep rese n tativ id a d e do s tra b a lh a ­
dores. N ã o b a s ta q u e tais sin d icato s ex ista m em alg u m as reg iõ e s o u e m certas ca te g o ri­
as. S e estes p o d e m o b te r ad eq u ad as co n d içõ es de trab a lh o p o r m e io do s in stru m e n to s
d a n e g o c ia ç ã o c o letiv a, s e ja p o r aco rd o d ireto o u m e d ia d o , s e ja p o r a rb itra g e m fa c u lta ­
tiva, ce rto é q u e os sin d ica to s m ais fraco s só c o n s e g u e m m e lh o ra r as co n d içõ e s m ín i­
m as d e tra b a lh o p o r m e io da a rb itra g em o b rig ató ria o u d a se n ten ç a n o rm a tiv a d o trib u ­
n al co m p ete n te . O p o d e r arb itrai o u n o rm ativ o co n stitu i, e m ú ltim a an álise, u m fato r de
eq u id a d e so c ial n o c o n ju n to do s diferen tes g ru p o s p ro fissio n ais.

Q u a n d o a o rg a n iz a ç ã o sin d ical se en g ra n d ece e m te rm o s n ac io n a is, co n tan d o


c o m a s so cia çõ e s e x p re ssiv a s e m todas as ativ id ad es, as p ró p ria s cen trais sin d icais g e ­
ra lm e n te se in c u m b e m d e ev itar o desn ív el ac en tu ad o e n tre as co n d içõ e s d e trab a lh o
d o s d iv e rso s se to re s d a e c o n o m ia , esp ec ialm en te n o c o n c e rn e n te a o s salário s. O s ac o r­
do s n e ste se n tid o , firm a d o s n a E sp a n h a e Itá lia , são e lo q ü en te s e x e m p lo s d essa p re o ­
cu p a çã o m a c ro e c o n ô m ic a , p o sto qu e os sin d icato s de b ase e as em p re sas atu am , n a n e ­
g o ciaç ão c o letiv a, d e n tro d o s p arâ m etro s p refix ad o s n esses acord o s. A ssin a le -se que,
se n d o o d e sn ív e l sig n ific ativ o , a p o p u la çã o das reg iõ es m ais p o b res, n elas inclu íd o s,
o b v ia m en te, os trab a lh ad o re s, é o n erad a c o m o custo do s ben s p ro d u z id o s n as reg iõ e s
in d u stria liz ad a s, q u e h ã o d e c o m p u tar as v an tag e n s co n q u ista d as p e lo s resp e ctiv o s
em p re g ad o s.

N o M éx ico , c o m o escrev e N e s to r d e B u e n , a c o m p o siç ão dos co n flito s e c o n ô ­


m ic o s se in stru m e n ta liz a “ en se n ten c ia c o lectiv a, c o n stitu tiv a d e n u ev a s n o rm as; en r i­
gor: ju ris c o n s titu tiv a s ” (“D ire c h o P ro cesal d e l T ra b a jo ” M é x ico , E d. P o rru a, 2a ed.,
1990, p ág . 149).

N a v erd a d e, n o s p a ís e s em q ue se atrib u i a trib u n ais do trab a lh o a so lu ç ão de


co n flito s c o letiv o s d e in te resse (só cio -e co n ô m ic o s), essa c o m p e tê n c ia é d en o m in ad a
de p o d e r arb itrai. S ó n o B ra s il é co n h e cid a co m o p o d e r n o rm ativ o . D a í a afirm a çã o de
P lá R o d rig u e z d e q u e “ a d ecisão ju d ic ia l resu lte ex tre m am en te p a re c id a co m a arb itra­
g e m d e d ireito , c o m a p articu la rid ad e d e qu e a d ec isã o é d a d a p o r u m ju iz o u trib u n a l”
(O b. cit., p ág . 25). A liá s, só n a Ju stiça d o T rab alh o b rasileira e ssa c o m p e tê n c ia é d e n o ­
m in a d a d e n o rm a tiv a e n ã o arbitrai, q u an d o em alg u n s p aíses o s trib u n a is so lu c io n a m o
litígio c o m p o d e r sim ila r o u até m a is am plo. É , p o r ex e m p lo , o q u e se v e rific a no M é x i­
co, c o m o se p o d e afe rir d o estatu to n o art. 919 do seu C ó d ig o do T rab alho :

“A Ju n ta , a fim d e c o n seg u ir o eq u ilíb rio e a ju s tiç a so c ial n as relaçõ es


e n tre tra b a lh a d o re s e p atrõ e s, e m su a reso lu ç ão p o d e rá au m e n ta r o u d im in u ir o
p esso al, a jo rn a d a , a se m an a d e trab alh o , os salário s e, e m geral, m o d ific a r as
c o n d iç õ e s d e trab a lh o d a em p re sa ou estab e lec im e n to ; se m que, e m n en h u m
ca so p o s s a re d u z ir os direito s m ín im o s co n sig n ad o s n as le is.”

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O d ireito p ro d u z n o rm as qu e re g e m as rela çõ e s h u m a n as e, p o r se r in a d m issív el


q u e in e v itá v e is co n flito s d e in teresses se p e rp e tu e m , dev e criar m e ca n ism o s a d e q u a ­
d o s p a ra s u a so lu ção . E is aí o fu n d am e n to só c io -ju ríd ico p ara a o b rig ato rie d ad e d a ar­
b itra g e m , in stitu c io n a liz a d a o u n ão e m trib u n ais, p a ra a so lu ç ão do s d issíd io s co letiv o s
d e tra b a lh o n ã o co n c iliad o s e m n e g o c ia çã o d ireta o u so b a m e d iaç ão d e terceiro.

V - O S T R IB U N A IS D O T R A B A L H O N O B R A S IL

A s C o m issõ e s M istas de C o n ciliação , p a ra os litígios co letiv o s d e trab alh o , e as


Ju n ta s d e C o n c ilia ç ã o e Ju lg a m e n to , p a ra os d issíd io s ind iv id u ais, criad o s n o M in isté ­
rio do T ra b a lh o p o r G etú lio V argas, e m 1932 (D ecreto s L eg islativ o s n°s 2 1 .3 6 4 e
2 2 .1 3 2 , re sp e c tiv a m e n te ), fo ram os em b riõ es d a Ju stiça do T ra b alh o , afin al in stitu íd a
p e lo D e c re to -L e i n° 1.237, de 1939, do m e sm o p resid en te. A n terio rm e n te, o E sta d o de
S ão P a u lo im p la n to u os T rib u n ais R u rais (L e i n° 1.869/22), q u e tiv e ram p o u c o êx ito
n a so lu ç ão d o s litíg io s referen te s a p arc erias ag ríc o las e co n tra to s de lo cação d e se rv i­
ço s ru ra is. J á o C o n selh o N a c io n a l d o T ra b alh o , criad o e m 1923 no então M in istério da
A g ric u ltu ra , In d ú stria e C o m ércio , v isa n d o à su p e rv isão e ao co n tro le das C a ix a s de
A p o s e n ta d o ria e P en sõ e s in stitu íd as p e la L ei E lo y C h av es (n° 3 .7 2 4 /2 3 ), tin h a ta m b ém
o e n c arg o d e ju lg a r os in q u é rito s a d m in istra tiv o s in stau rad o s p o r em p resas ferro v iárias
c o n tra e m p re g a d o s estáveis. C o m o D ec re to L eg islativ o n° 2 0 .4 6 5 , d e 1931, o reg im e
p re v id e n c iá rio d essas C aix as foi esten d id o a to d as as em p re sas d e serv iços p ú b lic o s,
am p lia n d o , assim , a co m p etê n cia do referid o conselho.

A Ju stiç a d o T ra b alh o foi in stala d a a 1º d e m a io de 1941, c o m a estru tu ra que


a in d a p erd u ra: 36 Ju n tas d e C o n c iliaçã o e Ju lg a m e n to , 8 C o n selh o s R e g io n a is do T ra ­
b a lh o e o C o n s e lh o N a c io n a l do T rab alh o . A té a C o n stitu iç ão d e 1946, ap e sa r d a su a
a u to n o m ia ju ris d ic io n a l, os seu s ó rg ão s fu n c io n a ra m v in c u lad o s a d m in istra tiv a m en te
ao M in isté rio d o T ra b alh o , In d ú stria e C o m ércio . F o i essa C a rta M a g n a que, em v irtu ­
d e do tra b a lh o d e sen v o lv id o p elo em érito G era ld o M o n ted ô n io B e ze rra d e M e n e ze s
ju n to ao P re sid e n te E u ric o G a sp a r D u tra , in te g ro u os seus ó rg ão s n o P o d e r Ju d iciário ,
c o m a c o m p e tê n c ia p a ra c o n c iliar e d irim ir os litíg io s resu ltan te s d as rela çõ e s d e tra b a ­
lho, p o d e n d o , n o ju lg a m e n to do s d issíd io s co letiv o s e n o s caso s esp ecificad o s p o r lei,
“e s ta b e le c e r n o rm a s e co n d içõ e s d e trab a lh o ” (art. 122 e seu § 2 o).

A s C o n stitu iç õ es d e 1967/69 e 1988 m a n tiv e ra m a co m p etê n cia d a Ju stiça do


T ra b alh o , in c lu siv e p a ra os d issíd io s co letiv o s, sendo q ue a v ig e n te fa c u lto u às p arte s
co n flitan te s esco lh e re m , p o r co n sen so , a v ia d a a rb itrag em , ex c lu d e n te da in terv en ção
ju d ic iá ria .
N ã o o b sta n te o atu al g ig a n tism o d a o rg an iz aç ão ju d ic iá ria do trab alh o , co m p o s­
ta d e 1.092 Ju n ta s de C o n c iliaçã o e Ju lg a m e n to , 24 T rib u n ais R e g io n a is e o T rib u n al
S u p e rio r d o T ra b a lh o , os p ro c e sso s qu e p e rc o rre m os três g rau s d e ju ris d iç ã o co n s o ­
m e m , e m m é d ia, seis an o s p a ra o trân sito e m ju lg a d o d a d ecisão. E n ão h á rec u rso s fi­
n a n c e iro s n e m h u m a n o s p a ra am p liá-la, se n d o certo q u e cerca d e d ois m il ca rg o s de
j u ízes estão v a g o s n as d iferen tes ju risd iç õ e s , p o rq u e, salvo h o n ro sas ex c eç õ es, os b a i-

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x o s v e n c im e n to s, e m co n tra ste co m o ex cesso d e trab alh o , n ã o m o tiv a m o s m ais ca p a­


zes p a ra o in g resso n a m ag istratu ra.
O re ta rd a m e n to d a so lu ç ão das açõ es trab alh istas - e a Ju stiç a do T ra b alh o n ão é
a m ais le n ta - p o d e se r e x p lica d o p elo im p re ssio n a n te cre sc im e n to do n ú m e ro de p r o ­
cesso s n e la aju iza d o : a) d éc ad a d e 60 - 3 .3 3 3 .2 1 4 ; b ) d éc ad a d e 70 - 4 .8 2 7 .8 8 4 ; c) d é ­
c a d a d e 80 - 8 .9 1 1 .1 7 9 ; d ) 1990 a 1998 - 1 5 .4 7 3 .8 8 0 . S ó e m 1998, a Ju stiça do T ra b a ­
lho re c e b e u 2 .3 4 9 .4 1 9 açõ es e so lu cio n o u 2.33 3 .9 1 2 . O T rib u n a l S u p erio r do T ra b a ­
lho, a q u em c a b e u n ifo rm iz a r a ju risp ru d ê n c ia e o rien tar as d ec isõ e s n o rm ativ as, im p e ­
d in d o q u e a m e sm a n o rm a ju ríd ic a seja a p lica d a d ife re n te m e n te e m ca d a E sta d o , j u l ­
g o u e m 1998 m a is d e 112 m il p ro ce sso s
D iv e rsa s são as cau sas d a h ip ertro fia d a Ju stiça do T rab alh o :
1º) d e s e m p re g o cre sce n te (7,71% , atu alm en te ) e alta ro ta tiv id a d e d a m ã o -d e -
obra. Q u ase to d o s o s trab a lh ad o re s d esp ed id o s tê m alg o a reclam ar;
2o) ex ten sã o d a le g isla çã o do trab a lh o aos ru ra is e d o m é stic o s;
3 o) e x c esso d e e m p re g ad o s n ão reg istrad o s;
4 o) ab u so d e c o n tra to s sim u lad o s (terceirização e c o o p e rativ a s c o m os p re sta d o ­
res d e serv iço , tra b a lh a n d o so b o p o d e r d e co m an d o d a e m p re sa co n tra tan te), co m a in ­
te n ç ã o d e en c o b rir v e rd a d e ira s relaçõ es d e em p reg o ;
5o) falta d e p ro c e d im e n to s p rév io s d e c o n c iliaç ão e m e d ia ç ã o p a ra os litíg io s in ­
d iv id u a is e c o letiv o s d e trab alho;
6 o) cu ltu ra d esfa v o rá v el à m ed iação e à arb itra g em dos co n flito s co letiv o s, que
n ã o se altera e m v irtu d e d a facilid ad e n a in stau raç ão d a in stân c ia ju d ic iá ria ;
7 o) c o m p le x a s reg ras p ro ce ssu ais, c o m d em asiad o s re c u rso s e d ep ó sito in su fi­
cien te p a ra o em p re g a d o r reco rrer;
8o) e x c esso d e leis e m e d id as p ro v isó rias in o v a n d o ou m o d ific a n d o su b sta n c ia l­
m e n te o o rd e n a m e n to leg al, m u itas v ezes co m afro n ta ao b o m D ireito.
O id e al seria a re m o ç ã o d e todas as co n cau sas. N e s ta o p o rtu n id a d e, p o rém , v a ­
m o s n o s d e te r e m d u as p ro v id ên c ias, u m a alu siv a aos d issíd io s in d iv id u ais, o u tra a ti­
n en te aos c o n flito s co letiv o s.
O s litíg io s in d iv id u ais, e m sua m aio ria, p o d e rã o se r reso lv id o s n o â m b ito e m ­
p resa rial, p o r a c o rd o m e d iad o p o r co m issõ es p aritárias d e co n c iliaç ão , o b rig a to ria ­
m e n te cria d as n o s estab e lec im e n to s d e m éd io ou g ran d e p arte. P o r seu tu rn o , co n v e n ­
çõ es co letiv as firm a d a s p o r sin d icato s p atro n a is e d e trab a lh ad o re s in stitu iria m tais c o ­
m is sõ e s p a ra a m e d ia ç ã o d o s caso s rela tiv o s aos e s tab e lec im e n to s d e m e n o s d e 60 e m ­
p reg a d o s. E sse s ó rg ão s, q u e n ão tê m c o m p etê n cia p a ra ju lg a r, fu n c io n a m e x ito sa m e n ­
te e m d iv e rso s p a íse s, in c lu siv e n o s q ue p o ssu e m trib u n ais d e trab a lh o , c o m o p ré-fa se
o b rig a tó ria d a d istrib u iç ã o d a ação ju d ic ia l.
E m 1982 a A c a d e m ia N ac io n a l d e D ireito do T ra b alh o e n c arreg o u -m e, ju n ta ­
m e n te c o m os s a u d o so s ju ris ta s S e g a d a s V ianna e H a d d o c k L o b o , d e re d ig ir an te p ro je ­
to de lei n e s se se n tid o , q u e foi en c am in h ad o ao C o n g resso N a c io n al. E m 1994 atu ali­
z e i o te x to e o en c am in h ei ao en tão M in istro do T rab alh o . P o r esse an tep ro jeto , seria

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o b rig a tó rio o fu n cio n a m en to d e u m a co m issã o p aritária d e co n c iliaç ão n as em p re sas


cu jo s esta b e le c im e n to s to talizassem , n o m e sm o M u n ic íp io , m a is d e 60 em p re g ad o s.
E ssa s c o m issõ e s te ria m u m m e m b ro d esig n ad o p elo e m p re g ad o r e u m eleito p e lo s e m ­
p re g a d o s. D o is se ria m os rep rese n tan tes d e ca d a classe q u an d o h o u v esse m ais d e 120
em p re g a d o s. H a v e ria u m su p le n te p a ra cad a m e m b ro d a co m issão , asseg u rad o ao s
em p re g a d o s e leito s o d ireito à estab ilid ad e n o em p re g o , p a ra g aran tir-lh es in d e p e n d ê n ­
cia n o d e s e m p e n h o d o s m a n d ato s, fix a d o s e m trê s anos. A s c o m issõ e s te ria m o p ra z o
im p ro rro g á v e l d e q u in z e d ia s p a ra in te n ta re m a c o n c iliaç ão e m p ro c e d im e n to a b s o lu ­
ta m e n te in fo rm al. O b tid a a co n c iliaç ão , o resp e ctiv o term o , firm ad o p e ra n te a c o m is­
são , v a le ria c o m o tran sa çã o ex traju d icial. Se n ão cu m p rid o p elo em p re g ad o r, seria o b ­
je to de e x e cu ç ão ju d ic ia l, co m o rito estab e lec id o n o p ará g ra fo ú n ic o do art. 872 d a
C L T , re se rv a d o à Ju stiç a d o T rab alh o so m e n te o ex a m e do s asp ecto s fo rm a is do a c o r­
do e o d as n u lid a d e p o rv e n tu ra argüidas. M a lo g ra d a a conciliação , a co m issã o fo rn e ­
ce ria d o c u m e n to ao em p re g ad o , q u e seria co n d içã o p a ra o aju iza m e n to d a ação ju d ic i­
al, salv o se as p arte s, p o r co n sen so , a trib u ísse m a arb itra g em do litíg io à p ró p ria c o m is­
são. O s sin d ic a to s d e e m p re g ad o res e d e trab a lh ad o re s p o d e ria m institu ir essas c o m is­
sõ es p a ra as em p re sa s d as co rresp o n d e n tes ca te g o ria s q ue n ão e stiv e ssem o b rig ad a s a
criá-las. O s p ro c e d im e n to s aqui re su m id o s s u sp e n d eria m o p raz o p resc ricio n a l d e q u e
trata o art. 11 d a C L T
N o c o n c e rn e n te ao s co n flito s co letiv o s d e trab alh o , afig u ra-se -n o s e v id en te q u e
a n e g o c ia ç ã o direta, o u c o m a m e d ia ç ã o d e terceiro s, será fo m en tad a n a raz ão d ireta
d a s d ific u ld ad e s o p o sta s ao aju iza m e n to do p ro ce sso d e d issídio coletivo. P ara tal fim ,
.im p õ e-se m o d ific a r o § 2o d o art. 114 d a C o n stitu iç ão , p a ra lim ita r a in stau raç ão do
d issíd io n a Ju stiç a d o T ra b alh o às seg u in tes h ip ó teses: a) p o r c o n sen so d as p arte s, d e s ­
d e q u e n ão te n h a m o p ta d o p e la arb itra g em ex traju d icial; b ) p elo M in istério P ú b lico do
T ra b a lh o , e m caso d e g rev e p reju d icia l às n ec essid ad e s in ad iáv eis d a co m u n id ad e ; c)
p o r q u a lq u e r das p a rte s, d ep o is d e e s g o tad o s os p ro c e d im e n to s e p raz o s estab e lec id o s
e m lei p a r a a n e g o c ia ç ã o co letiv a d ireta ou c o m m e d iaç ão d e terceiro.
O u tro ssim , e ssa refo rm a d ev e ria e x p licitar q u e os trib u n ais d o trab alh o a rb itra ­
r ia m o d issíd io , o q u e só en seja ria recu rso no s caso s d e n u lid ad e. D eix a r-se -ía, assim ,
d e fa la r e m p o d e r n o rm ativ o .
S e m em b arg o d a u rg e n te refo rm u laç ão d as n o rm as co n stitu c io n ais e leg ais q u e
re g e m a Ju stiç a do T ra b alh o , certo é q u e e ssa ju ris d iç ã o in c o m o d a ao s q u e in siste m e m
d e s c u m p rir o u fra u d a r a le g isla çã o trab alh ista, p o rq u e, ap e sa r d as suas im p e rfe içõ e s e
d as ca u sa s ex ó g e n as, ela fun ciona.
H á, p o r isso , os q u e g o sta riam d e e x tin g u i-la p ara, n u m retro ce sso in a d m issív el,
d e s re g u la m e n ta r d ep o is a le g isla çã o su b stan tiv a de p ro teç ão ao trab alh o , im p o n d o a
v o lta ao la is se r f a ir e d e triste m e m ó ria n a h istó ria d a civilização.

126 Rev. T S T , Brasília, vol. 65, nº 1 , out/dez 1999

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