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G A R A N T IA C O N T R A A D E S P E D ID A A R B IT R Á R IA (*)

Arnaldo Süssekind (**)

SUMÁRIO;

I — Da g a ra n tia de e m p re g o na A s s e m b lé ia C o n s titu in te B ra s ile ira (§§ 01 e 02)

II — A ilu s ó ria e s ta b ilid a d e e m p re g a tíc ia da CLT .............................. (§§ 03 a 07)

III — A te n d ê n c ia do D ire ito C om pa ra do e o no vo c o n c e ito de


e s ta b ilid a d e ..... ...................................................................... (§§ 08 a 16)

IV — OIT; da R e com endação 119/63 à C o nve nção 15 8/82 ................................ (§§ 17 a 22)

V — A n á lis e da C o n v e n ç ã o 158 e da R ecom endação 166 .............. (§§ 23 a 45)

VI — C o n c lu s õ e s .............................................................................................. (§§ 46 a 48)

( *) C o n fe rê n c ia p ro fe rid a no P rim e iro S e m in á rio s o b re D ir e ito C o n s titu c io n a l do Tra b alh o p ro m o v id o


p e la LTr (São P aulo, 16/18 d e o u tu b ro de 1987),
(**) O a u to r é M in is tr o a po s e n ta d o do T rib u n a l S u p e rio r do Trabalho e m e m b ro da C o m is s ã o de
E xp e rto s na A p lic a ç ã o de C on ve n çõe s da O IT.

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I — Da g a ra n tia de e m p re g o na A s s e m b lé ia C o n s titu in te b ra s ile ira

01. A e s ta b ilid a d e do tra b a lh a d o r no e m p re g o é um dos te m a s qu e te m


g e rad o m a io r c o n tro v é rs ia no s e io da A s s e m b lé ia N a cion al C o n s titu in te , com
am p la re ss o n â n c ia na o p in iã o p ú b lic a . Daí os s u c e s s iv o s e a n tagô n ic o s p ro n u n ­
c ia m e n to s de tra b a lh a d o re s e de e m p re s á rio s , ou das c o rre s p o n d e n te s o rg a n i­
zações s in d ic a is , e, bem a s s im , de a lg u n s ju ris ta s e da im p re n s a em g e ra l: uns
d e fe n d e n d o a e s ta b ilid a d e a b s o lu ta do tra b a lh a d o r de sd e a a d m issã o no e m p re g o
ou no té rm in o do c o n tra to de e x p e riê n c ia , co m de ta lh a d a d is c ip li nação da m a té ria
p e la C a rta M agna; o u tro s p re te n d e n d o e x c lu ir do te x to c o n s titu c io n a l q u a lq u e r
re fe rê n c ia a e sse in s titu to ju ríd ic o ; alg u n s advogando a s im p le s p ro c la m a ç ã o da
g a ra n tia c o n tra a d e s p e d id a a rb itrá ria — p rin c íp io h o je con sa g ra d o p e la le g is la ç ã o
com p ara da e p o r co n ve n çã o in te rn a c io n a l — cab en do à le i o rd in á ria re g u la r sua
a p lica ção .
02. As d iv e rs a s fa s e s já p e rc o rrid a s p e lo p ro je to da fu tu ra C o n s titu iç ã o
re v e la a h e s ita ç ã o c o m que a q u e s tã o v e m sen do tra ta d a p e lo s C o n s titu in te s :

A — O a n te p ro je to da S u b c o m is s ã o d o s D ire ito s d o s T rab a lh a d o re s e S e rv i­


d o re s P úb licos d is p ô s qu e to d o s tra b a lh a d o re s te ria m

"e s ta b ilid a d e desde a a d m issã o no em p re g o , s a lvo o c o m e tim e n to de fa lta


grave c om p rova da ju d ic ia lm e n te , fa c u lta d o c o n tra to de e x p e riê n c ia de 90
(n o ve n ta ) d ia s " (a rt. 2.°, n. X III).

B — O a n te p ro je to da C o m issã o da O rd e m S o cia l p re s c re v e u :

"g a ra n tia do d ire ito ao tra b a lh o m e d ia n te relaçã o de e m p re g o e s tá v e l,


re s s a lv a d o s :

a) c o n tra to a te rm o ;

b) o c o rrê n c ia de fa lta g ra ve com p ro va d a ju d ic ia lm e n te ;

c) prazos d e fin id o s em c o n tra to s de e x p e riê n c ia , a te n d id a s as p e c u lia rid a ­


de s do tra b a lh o e x e cu ta d o ;
d ) s u p e rv e n iê n c ia de fa to eco nô m ic o in tra n s p o n ív e l, té c n ic o ou de in fo r tú ­
n io da em p re sa , s u je ito a c o m p ro va çã o ju d ic ial " (a rt. 2,°, n. I).

C — O a n te p ro je to da C o m is s ã o de S is te m a tiz a ç ã o , qu e re u n iu os te x to s das
o ito c o m is s õ e s te m á tic a s , re p e tiu , co m a lgu m as p re c is õ e s , o d is p o s itiv o ad otad o
p e la C o m is s ã o da O rd e m S o cia l, a ssin a la n d o que o c o n tra to a te rm o , lim ita d o a
d o is anos, só p o d e ria s e r u tiliz a d o
“ nos casos de tra n s ito rie d a d e do s s e rv iç o s ou da a tiv id a d e da e m p r esa "
eque o c o n tra to de e x p e riê n c ia não p o d e ria e x c e d e r d e 90 d ia s ( a r t . 14, n. I).
D — O p rim e iro s u b s titu tiv o a p re s e n ta d o p e lo re la to r da C o m is s ã o de S is te ­
m atiza ção , d e p u ta d o BERNARDO CA B R A L, s in te tiz o u a q u e s tã o no s e g u in te
e n u n cia d o :

" c o n tra to de tra b a lh o p ro te g id o c o n tra d e sp e d id a im o tiv a d a ou se m ju s ta


causa, nos te rm o s da l e i ” (a rt. 7 ° , n. I).

E — F in a lm e n te , a C o m issão de S is te m a tiz a ç ã o aprovou o te x to do art. 6 °


qu e d e ve rá s e r s u b m e tid o ao p le n á rio da A s s e m b lé ia N a cion al C o n s titu in te , ad o-

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tando, sem modificações, as proposições constantes do segundo substitutivo
apresentado pelo relator:
“I — garantia de emprego, protegido, contra despedida ¡motivada, assim
entendida a que não se fundar em:
a) contrato a termo, nas condições e prazos de lei;
b) falta grave, assim conceituada em lei;
c) justa causa, fundada em fato econômico intransponível ou tecnológico
ou em infortúnio da empresa, de acordo com critérios estabelecidos na
legislação do trabalho".
“§ 4° — O s princípios de garantia de emprego de que trata o inciso I não
se aplicam à pequena empresa com até dez empregados".

II — A ilu s ó ria e s ta b ilid a d e e m p re g a tíc ia da CLT

03. O direito à estabilidade no emprego após o decurso de longo tempo de


serviço, com a despedida do trabalhador restrita aos casos de falta grave por ele
praticada ou de extinção de estabelecimento ou setor onde trabalha, constitui
fórmula superada no direito comparado. O Brasil foi pioneiro ao assegurar esse
tipo de estabilidade absoluta: instituída em 1923 para os ferroviários, foi aos pou­
cos sendo estendida a outras categorias profissionais; em 1935, passou a alcançar
todos os trabalhadores urbanos, salvo os domésticos; em 1963, os empregados
rurais. Mas, como escrevemos em 1960, "precisamente porque a estabilidade no
emprego constitui, em nosso país, o mais avançado instituto de proteção ao tra­
balhador, muitas empresas vêm despedindo os seus empregados antes de com­
pletar o decênio com o qual nasce o direito. E, assim, a estabilidade, que visa
a propiciar segurança individual e familiar ao trabalhador, tem-se transformado,
de um modo geral, em motivo de insegurança e temor, dada a ameaça de despe­
dida imotivada aos oito ou nove anos de serviço" (“Instituições de Direito do
Trabalho”, Rio, Freitas Bastos, 4.ª ed., 1966, vol. 4, pág. 172).
04. Em virtude desse problema, que se tornou grave, o legislador brasileiro
pulou de um pólo para o outro: instituiu, para o setor urbano, o regime do Fundo
de Garantia do Tempo de Serviço (Lei n. 5.107, de 13.09.66), em favor do qual o
trabalhador é obrigado a "optar”, sob pena de não ser admitido no emprego. Essa
"opção” torna inaplicável ao respectivo contrato de trabalho o capítulo da esta­
bilidade constante da Consolidação das Leis do Trabalho.
05. Em conseqüência, foi restabelecido, em relação a quase todos os tra­
balhadores urbanos, o ilimitado direito potestativo do empregador de rescindir os
contratos de trabalho. Daí termos acentuado, mais recentemente, que o regime
do FGTS criou, sob o prisma coletivo ou social, sérios problemas, “seja porque
não dificulta a despedida de trabalhadores idosos, os quais dificilmente encon­
tram novos empregos, seja porque facilita a despedida injustificada do trabalha­
dor, incrementando, com isso, a rotatividade da mão-de-obra”. (Ob. cit., 10.ª ed.,
1987, vol. I, pág. 595.) E daí por que, como presidente da Com issão encarregada
de elaborar o anteprojeto de atualização da CLT, apoiamos, sem êxito, a inicia­
tiva do professor DÉLIO M A R A N H Ã O no sentido de aplicar a todos os empre-

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gados o regime do FGTS acoplado a um sistema de segurança no emprego, de
forma a Impedir a despedida arbitrária, tal como a própria Comissão sugeriu, e foi
transformado em lei no concernente aos empregados eleitos para as Com issões
Internas de Prevenção de Acidentes (v. o novo art. 165 da CLT).

06. Conforme sublinhamos no relatório de 20 de setembro de 1976, da pre­


citada Comissão, “o conceito de estabilidade adotado pela atual CLT não atende
aos fins a que se dirige, pois se presta a abusos e distorções, já demonstrados
na prática. Por outro lado, o regime do FGTS, que substitui com vantagem, a inde­
ntação de antiguidade, não assegura a permanência do trabalhador no emprego”.

07. Hoje, tirante alguns empregados de alta qualificação profissional, que


conseguiram incluir nos seus contratos de trabalho cláusula prevendo a aquisição,
a curto prazo, do direito de estabilidade; os empregados rurais, aos quais não se
aplica esse regime e trabalhadores de raras categorias cujos acordos ou conven­
ções coletivas estipularam a garantia contra a despedida arbitrária — os demais
somente em casos especiais e transitórios têm assegurada a estabilidade abso­
luta ou a relativa:
a) dirigentes sindicais e de associações profissionais;
b) diretores de cooperativas constituídas por empregados da respectiva
empresa;
c) representantes profissionais em órgãos da Justiça do Trabalho ou nos
Conselhos e Juntas integrantes dos Ministérios do Trabalho e da Pre­
vidência e Assistência Social, inclusive de suas autarquias;

d) empregadas gestantes, pelos prazos fixados na lei, por vezes ampliados


em instrumentos normativos;
e) empregados eleitos para as Com issões Internas de Prevenção de Aci­
dentes.

III — A tendência do direito comparado e o novo conceito de estabilidade

08. A tendência do direito comparado é, sem dúvida, a de promover a segu­


rança no emprego mediante normas impeditivas ou restritivas da despedida arbi­
trária. A estabilidade no emprego se apresenta, cada vez mais, com nova roupa­
gem: antes, poucos países asseguravam esse direito aos trabalhadores, condicio­
nando sua aquisição ao decurso de prazos geralmente longos e restringindo dema­
siadamente as hipóteses de resilição do contrato de trabalho; hoje, em grande
número de países, a lei garante a estabilidade no emprego, após a fluência de
curto prazo, possibilitando, porém, a despedida do trabalhador não somente em
razão de atos faltosos por ele praticados, mas também por motivos de ordem
técnica, estrutural, econômica ou financeira. Somente o Brasil, para os rurícolas
eos que não optaram pelo regime do FGTS, e o Paraguai conservam o sistema
pelo qual a estabilidade absoluta é conquistada após dez anos de serviço na
mesma empresa.
09. Como registra um dos órgãos técnico-jurídicos da OIT, “a legislação em
matéria de terminação do contrato de trabalho por iniciativa do empregador mo-

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d ific o u -s e ra d ic a lm e n te em m u ito s países. D e ix o u de c o n s titu ir-s e , e s s e n c ia l­
m e n te , em reg ra s s o b re p e río d o s de p ré -a viso e in d e n iza çõ e s p o r d e s p e d id a e
s o b re as c o n d iç õ e s em que não são d e v id o s , p a ssan do o re q u is ito de ju s tific a ç ã o
p o r p a rte do e m p re g a d o r a c o rre s p o n d e r ao c e n tro ju ríd ic o das a n á lis e s e d e c i­
sõe s do s trib u n a is , p rin c ip a lm e n te c om o c o n s e q ü ê n cia do fre q ü e n te re c u rs o à sua
p ro te çã o , p o r p a rte do s tra b a lh a d o re s que e s tim a m t e r p e rd id o o e m p re g o se m
m o tiv o ju s tific a d o . A s s im , po is, o p rin c íp io da ju s tific a ç ã o se c o n v e rte u no fu n d a ­
m e n to de m u ito s países s ob re a te rm in a ç ã o do c o n tra to de tra b a lh o p o r in ic ia tiv a
do e m p re g a d o r, dando o rig e m a um c o m p le x o c am p o de e s tu d o s ju ríd ic o s , en­
q u a n to que as re g ra s s ob re p e río d o s de a viso p ré v io e p a g a m e n to de indeniza ção
pe rd e ra m c e rta Im p o rtâ n c ia " (C o m issã o de E xpe rtos na A p lic a ç ã o de C o n ve nçõe s
e R e co m e n d a çõ e s", “ In fo rm e III, Parte 4-B ” , G enebra, OIT, 1974, pág. 7).

10. Foi na R e pú blica F ederal da A le m a n h a que se in ic io u a re fo rm u la ç ã o do


in s titu to da e s ta b ilid a d e , com o fim de to m a r in e fic a z apenas a d e sp e d id a a rb i­
trá ria do em p reg ado . A re fo rm a le g is la tiv a adotada em 1951 e 1952 e s ta b e le c e u
que, em p rin c íp io , "s ó é líc ita um a d e sp e d id a s o c ia lm e n te ju s tific a d a " . A b a n d o ­
nou, a ssim , c om o asse ve ra m HUECK e NIPPERDEY, "o dogm a a n te rio rm e n te d o m i­
nante da lib e rd a d e de de sp e d id a p o r p a rte do e m p re g a d o r, plasm a ndo -se a id é ia
de um a p ro te ç ã o ge ral du rad oura da re laçã o de tra b a lh o . C e rto é que a le i não
co n d ic io n a , d ire ta m e n te , a va lid a d e da d e sp e d id a à e x is tê n c ia de c e rta s causas,
po rém d e cla ra ju rid ic a m e n te in e fica z a d e sp e d id a s o c ia lm e n te in ju s tific a d a e
d e te rm in a , adem ais, que as s im se en te n d e a que não c u m p re c e rto s re q u is ito s
que o e m p re g a d o r deve p ro v a r” ( “ C o m p e n d io de D e rech o de l T ra b a jo ” , tra d .
espanhola, M a d rid , E d ito ria l R e vista de D e rech o Privado, 1963, pág. 201).

11. Essa no rm a se a p lic a ao tra b a lh a d o r que po ssua , p e lo m en os, v in te anos


de id ad e; haja tra b a lh a d o , no m ín im o , s e is m e se s para o m e sm o e m p re g a d o r, sem
In te rru p ç ã o ; ten ha a em presa, ou e s ta b e le c im e n to , m a is de c in c o e m p reg ado s. A
c o n c o rrê n c ia dessas trê s c o n d iç õ e s não im p e d e o e m p re g a d o r de r e s ilir o con­
tra to m e d ia n te a viso p ré v io e em v irtu d e de ju s ta causa; m as ao tra b a lh a d o r d e s­
pe dido a s s is te o d ir e ito de, no prazo de trê s sem anas, p e d ir ao T rib u n a l d o T ra­
ba lh o a n u lid a d e do a to p a tro n a l. Se o T rib u n a l c o n c lu ir pela n u lid a d e da re s iliç ã o ,
o e m p re g a d o se rá re in te g ra d o . Todavia, a le i fa c u lta ao tra b a lh a d o r o p ta r p o r um a
inde niza ção . Já o e m p re g a d o r pode re q u e re r a c o n v e rs ã o da re in te g ra ç ã o em in d e ­
nização, m as s o m e n te nos caso s que a le i e s p e c ific a , te n d o em v is ta a in co n ­
v e n iê n c ia da s o b re v iv ê n c ia da re la çã o de e m p re g o . Nas duas h ip ó te s e s — e sc re v e
ERNESTO KATZ — “ o ju iz deve d is s o lv e r a re la çã o de tra b a lh o p o r s e n te n ç a
c o n s titu tiv a " ( “ La E s ta b ilid a d en el E m p le o ", B u e n o s A ire s , D epalm a, 1957, pág. 19).

12. Esse n o v o c o n c e ito de e s ta b ilid a d e no e m p re g o v e m se n d o adotado,


de sd e en tã o , p e la m a io ria do s pa íses qu e le g is la ra m s o b re o te m a : após o p e ­
río d o de s e is a v in te m e se s de tra b a lh o , nas em p re s a s co m d e te rm in a d o nú m e ro
de e m p reg ado s, a d e sp e d id a de ve fu n d a r-se num a causa que a ju s tifiq u e , seja
re la c io n a d a c o m a c o n d u ta ou a c a p acidad e d o em p reg ado , s e ja re fe re n te à e s tru ­
tu ra ou ao fu n c io n a m e n to da e m p re sa ; e, em a lgu m as s itu a ç õ e s , p o s s ib ilita -s e ao
trib u n a l, ao e m p re g a d o r ou ao e m p re g a d o c o n v e rte r a re in te g ra ç ã o em in de niza ção .

13. D os s is te m a s le g a is que c o n h e ce m o s, s o m e n te P o rtu g a l re s trin g e a d e ­


nú ncia do c o n tra to de tra b a lh o p o r In ic ia tiv a do e m p re s á rio aos c a so s d e fa lta

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g ra ve do empregado e, ainda assim, c o m p ro v a d o s p e ra n te o Juiz do Traba lh o (Lei
dos despedimentos, de 1975). Conseqüência prática desse regime jurídico — acen­
tuou M Á R IO PINTO — é que “cerca de 70 a 8 0 % dos novos contratos de trabalho
são celebrados com prazo" (“Garantia de emprego e crise econômica", Anais do
Congresso Internacional de Direito do Trabalho de Santos, 1986, pág. 14), já que
a legislação portuguesa não limita o apelo a esse instrumento contratual.
14. Inúmeros são os p a íse s q u e já ad o ta ra m s is te m a s s im ila re s ao da Re­
p ú b lic a F ederal da A le m a n h a : o reconhecimento pelo órgão estatal competente de
que a despedida foi arbitrária determina, em princípio, a reintegração do trabalhador.
Dentre outros, podemos citar os seguintes: Argélia, Áustria, Bangladesh, Chile,
Espanha, Filipinas, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Hungria, Índia, Indonésia,
Inglaterra, Iraque, Irlanda, Israel, Itália, Iugoslávia, Marrocos, México, Noruega,
Paquistão, Peru, Polônia, Quênia, República Democrática da Alemanha, República
Dominicana, Romênia, Singapura, Suécia, Tchecoslováquia, U RSS e Venezuela (Cf.,
a propósito, OIT, "Informe VII (1) da 67.' reunião da Conferência", Genebra, 1981,
págs. 44/5; PLÁ RODRIGUEZ, "La terminación de la relación de trabajo por inicia­
tiva del empresário”, Madrid, ACARL, 1983, págs. 71/87).
15. Esclareça-se que nos E stados U n ido s, Canadá e D inam a rca, desde os
anos 60, muitos contratos coletivos contêm cláusulas sobre o tema, visando à ga­
rantia. do emprego contra a despedida arbitrária e consagrando o respeito à anti­
guidade do empregado nos casos de despedidas coletivas.
16. Em muitos países, tal como referimos no resumo da legislação da Ale­
manha Ocidental, a decisão ordenatória da reintegração pode ser convertida em
indenização e, em alguns deles, a nova fórmula de estabilidade só se aplica a
empresas com um mínimo de empregados. Por exemplo, na Espanha a opção pela
indenização é do trabalhador nas empresas com mais de 50 e m p re g a d o s e do
empresário nas de menos de 50; na França a garantia contra a despedida arbitrá­
ria só alcança os estabelecimentos com m a is de 10 e m p re g a d o s e tanto estes
quanto o empresário podem o p ta r p e la in de niza ção ; na In g la te rra a opção é sem ­
pre do empregador; na Itá lia só o trabalhador pode o p ta r pela indenização, mas
essa estabilidade não atinge as empresas com menos de 15 em p re g a d o s.

IV — OIT: da Recom endação 119/63 à C o nve nção 158/82

17. A consagração do Direito do Trabalho pelo Tratado de Versailles (1919),


como novo ramo da ciência jurídica, determinou, a pouco e pouco, a reformulação
de conceitos civilistas adotados nos códigos do século XIX. O direito potesta­
tivo de o empregador denunciar o contrato de trabalho, ilimitado na concepção
clássica civilista, passou a gerar efeitos antes inadmitidos (indenização fundada
nas teorias do abuso do direito ou da responsabilidade objetiva), foi extinto em
alguns casos (estabilidade absoluta no emprego) e tende a desaparecer com a
universalização da teoria da nulidade da despedida arbitrária (estabilidade relativa).
18. Em 1963 a Conferência Internacional do Trabalho aprovou a R ecom en­
dação n. 119, prescrevendo, como norma fundamentai:

"Não se deve proceder à terminação da relação de trabalho, a menos que


exista uma causa justificada relacionada com a capacidade ou a conduta

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do trabalhador ou se baseie nas necessidades do funcionamento da em­
presa, do estabelecimento ou do serviço” (Item 2, n, 1).
19. Esse diploma legal da OIT exerceu grande influência em diversos países,
que inovaram ou reformularam as respectivas legislações, conciliando a efetivação
do direito do trabalhador à segurança no emprego com a preservação de respei­
táveis interesses da empresa e da própria economia nacional. Consoante o de­
poimento da mencionada C o m is s ã o de E xp e rto s, em estudo do qual participamos,
“ainda que o objetivo fundamental da Recomendação é o de proteger a segurança
no emprego dos trabalhadores, trata também de equilibrar distintos interesses.
Por exemplo, o interesse do trabalhador na segurança no emprego, posto que a
perda do emprego importa a perda, para ele e sua família, dos meios de vida
indispensáveis; o do empregador, em manter a autoridade nas questões que in­
fluem no funcionamento eficaz da empresa; e, por último, o interesse da comu­
nidade em manter relações de trabalho pacíficas e evitar desiquilíbrios desne­
cessários, seja pelo desemprego ou por unidades econômicas improdutivas...
Desta maneira, a Recomendação consagra o princípio de que o trabalhador deve
ter direito a permanecer no seu cargo, salvo se o empregador tiver uma razão
válida para dar por terminada a relação de trabalho" (Trab. cit., págs. 2 e 16).

20. Essa tendência da legislação comparada levou a Conferência Interna­


cional do Trabalho (Assembléia Geral da OIT) a aprovar, após dupla discussão
(1981 e 1982), a C o nve nção 158, c o m p le ta d a p e la R e com endação 166. A primeira,
por constituir tratado multilateral aberto à ratificação dos Estados-membros da
OIT, contém normas gerais e, por vezes, flexíveis; a segunda complementa a Con­
venção em vários pontos e sugere a adoção de algumas medidas destinadas à
efetivação dos direitos nela previstos. Como asseverou a Professora M O U SSEAU ,
representante governamental da França e relatora da matéria na respectiva Co­
missão da Conferência, "as disposições complementares em caso de despedida
por causas econômicas figuram particularmente completas e detalhadas na Reco­
mendação e indicam aos Estados as linhas gerais e numerosos exemplos das
políticas que convém aplicar para prevenir e limitar as despedidas econômicas e
seus efeitos negativos sobre os trabalhadores” (“Actas Provisionales" da 67.'
reunião da Conferência, Genebra, 1982, n. 35, pág. 2).
21. Am bos os textos deveriam ter sido s u b m e tid o s ao C o n g re s s o N acion al
brasileiro, no prazo de doze meses, contado do encerramento da Conferência: a
C onve nção , para que, se aprovada, promovesse o Governo a sua ra tific a ç ã o
e tomasse, no curso da v a c a tio le g is (a ratificação só entra em vigor doze meses
depois de depositado o instrumento na RIT), as medidas acaso inexistentes, ne­
cessárias à plena aplicação das normas internacionais (art. 19, § 5.°, d, da Const.
da OIT); a R ecom endação, para que d Congresso Nacional deliberasse transformar
em lei todos ou alguns dos seus dispositivos, adotar outras medidas em relação
aos mesmos ou, simplesmente, tomar conhecimento do texto (art. cit., § 6.ª, b).

22. Essa obrigação de natureza formal decorre da Constituição da OIT, à qual


aderiram, soberanamente, os países que se filiaram à Organização. E alcança
tanto os que votaram pela aprovação do instrumento internacional, como os que
se abstiveram, não compareceram à reunião ou se manifestaram contra (Cf. nossas
"Instituições", 10.ª ed., vol. II, págs. 1.276/87). Destarte, apesar da delegação

37
g o v e rn a m e n ta l b ra s ile ira , c h e fia d a p e lo e n tã o M in is tr o do Traba lh o M u r ilo M a­
ced o, não t e r v o ta d o p e la a p rova ção da C o nve nção (s o m e n te nove d e le g a ç õ e s
g o v e rn a m e n ta is a s s im p ro c e d e ra m ), o G o ve rn o b ra s ile iro e s tá o b rig a d o a s u b m e ­
te r ao C o n g re s s o N a cion al, ta n to a C o nve nção n. 158, c o m o a R ecom e nda ção n, 166.

V — A n á lis e da C o nve nção 158 e da R ecom endação 166

23. A — C am po de a p lic a ç ã o — A C o nve nção n. 158 “ se a p lic a a to d o s os


ra m o s da a tiv id a d e e c o n ô m ic a e a to d a s as pessoas e m p re g a d a s " (a rt. 2 .°, § 1.°);
m as o órgão c o m p e te n te do Estado que a r a tific a r poderá, m e d ia n te p ré v ia con­
s u lta às org an izaçõ es de e m p re g a d o re s e de tra b a lh a d o re s In te re s s a d a s , e x c lu ir
do seu cam p o de in c id ê n c ia , ou de a lgu m as de suas d is p o s iç õ e s :

a) “ c e rta s c a te g o ria s de pessoas c u ja s c o n d iç õ e s de e m p re g o se ja m re g id a s


p o r n o rm a s e s p e c ia is que, em seu c o n ju n to , c o n fira m um a p ro te ç ã o p e lo
m en os e q u iv a le n te à p re v is ta ne sta C o n v e n ç ã o " (a rt. 2 .°, § 4.°):

b) “ c a te g o ria s lim ita d a s de pessoa s em p reg ada s, a re s p e ito das q u a is se


a p re s e n te m p ro b le m a s e s p e c ia is de c e rta im p o rtâ n c ia , te n d o em c o n ta
as c o n d iç õ e s p a rtic u la re s de e m p re g o dos tra b a lh a d o re s in te re s s a d o s
e a d im e n s ã o ou a n a tureza da e m p re sa qu e os e m p re g a " (a rt. 2 .° , § 5.°).

24. No p rim e iro re la tó rio s o b re a ap lica çã o da C onvenção, a que se re fe re


o art. 22 da C o n s titu iç ã o da OIT, o re s p e c tiv o G overno, se fo r o caso, d e v e rá en u­
m e ra r as e x c lu s õ e s p o s s ib ilita d a s , e x p lic a n d o os m o tiv o s das e x c e ç õ e s e, nos
re la tó rio s su b s e q ü e n te s , In d ic a r o e s tu d o da sua le g is la ç ã o e p rá tic a no c o n c e r­
n e n te às c a te g o ria s e x clu íd a s e a m ed id a em que a elas a p lic a ou se p ro põ e
a p lic a r a C o nve nção (a rt. 2 °, § 6).

25. In d e p e n d e n te m e n te de c o n s u lta àquelas org an iza çõ e s, po d e rã o s e r e x ­


c lu íd a s da to ta lid a d e ou de a lgu m as da s d is p o s iç õ e s da C o nvenção, as s e g u in te s
c a te g o ria s de e m p re g a d o s :

a) c o n tra ta d o s p o r p ra zo d e te rm in a d o ou pa ra c e rta ta re fa , d e ven do s e r p re ­


v is ta s g a ra n tia s adequadas c o n tra o uso de c o n tra to s de d u raçã o d e te r­
m in ad a qu e te n h a m p o r o b je tiv o ilid ir a p ro te ç ã o p re v is ta ;

b) s u b m e tid o s a um p e río d o d e p ro v a ou qu e não te n h a m c o n te m p la d o o


te m p o de s e rv iç o e x ig id o , s e m p re q u e a du ra çã o haja s id o fix a d a p re ­
v ia m e n te e s e ja razo áve l;

c ) c o n tra ta d o s em c a rá te r o c a s io n a l para um p e río d o de c u rta d u ra ç ã o (a rt.


2.°, §§ 2.° e 3 ° ).

26. A R ecom endação n. 166 p ro p õ e a lim ita ç ã o d o s c o n tra to s de tra b a lh o de


d u ra ç ã o d e te rm in a d a aos caso s nos q u a is esse a ju s te s e ja ju s tific a d o p e la ín d o le
do tra b a lh o ou c o n d iç õ e s em que de va rea liza r-se, ou, ainda, e m razão d o s in te ­
re s s e s do tra b a lh a d o r. N os d e m a is ca s o s e, bem a ssim , na ren o va çã o do co n ­
tr a to a prazo, e le de ve s e r c o n s id e ra d o c om o de d u raçã o in d e te rm in a d a (ite m 2).
Tudo c o n fo rm e d is p õ e m os a rts . 443, §§ 1 ° e 2.°, 451 e 452 da no ssa CLT.

27. B — D e s p e d id a a rb itrá ria — O a rt. 4.° da C o nve nção e s ta b e le c e o p rin ­


c íp io b á s ic o do s is te m a :

38
"Não se porá fim à relação de trabalho de um trabalhador, a menos que
exista para isto uma causa justificada relacionada com sua capacidade ou
sua conduta ou baseada nas necessidades de funcionamento da empresa,
estabelecimento ou serviço".

28. Justificando essa norma, o documento-base submetido à Conferência


acentuou que os motivos válidos para a despedida referentes à c a p acidad e do
tra b a lh a d o r contemplam as seguintes hipóteses: a carência de qualificações ou
de capacidade para cumprir o trabalho para o qual foi contratado; o trabalho
deliberadamente deficiente ou a negligência no seu desempenho; a reiterada
ausência ao trabalho ou a incapacidade permanente para trabalhar resultante de
enfermidade ou acidente.

29. Quanto à co n d u ta do tra b a lh a d o r, visa-se a punir a falta do empre­


gado que importa em violação da disciplina. Essas faltas — aduz o precipitado
documento — c o rre s p o n d e m a duas categorias: “a primeira compreende, em geral,
um inadequado cumprimento das tarefas ajustadas; a segunda se refere, geral­
mente, a diversos tipos de comportamento inapropriado, que podem perturbar a
ordem nos locais de trabalho ou prejudicar o cumprimento das tarefas". Relati­
vamente às causas de despedida pertinentes ao fu n c io n a m e n to da e m p re sa , e s ta ­
b e le c im e n to ou s e rv iç o , "compreendem motivos de ordem econômica, tecnológica,
estrutural ou similar" (“informe VIII (i)” cit., págs. 21/3).

30. Desde logo, esclarece o art. 5.° da Convenção que não c o n s titu irã o causa
ju s tific a d a para a despedida do trabalhador:

“a) a filia ç ã o a um s in d ic a to ou a p a rtic ip a ç ã o em a tiv id a d e s s in d ic a is fora


das horas de trabalho ou, com o consentimento do empregador, du­
rante as horas de trabalho;
b) s e r c a n d id a to a re p re s e n ta n te dos tra b a lh a d o re s ou atuar, ou h a v e r atua­
do, ne ssa qu a lid a d e ;

c) a p re s e n ta r um a q u e ixa ou participar de um procedimento estabelecido


contra o empregador por supostas violações de leis ou regulamentos,
ou recorrer ante as autoridades administrativas competentes;
d) a raça, a cor, o sexo, o estado civil, as responsabilidades familiares, a
gestação, a religião, as opiniões políticas, a ascendência nacional ou
a origem social;

e) a ausência ao trabalho durante a licença de maternidade".

31. A au sê n cia do empregado ao serviço, por m o tiv o de enfermidade ou


lesão, quando de c a rá te r te m p o rá rio , não constitui justa causa para a rescisão
do contrato de trabalho (art. 6.°).

32. C — P ro c e d im e n to s para a d e sp e d id a — A Convenção prescreve que a


despedida do trabalhador, motivada por sua conduta ou rendimento, não deverá
ser efetivada “antes de que se lhe haja oferecido a p o s s ib ilid a d e de defender-se
das acusações formuladas contra ele, a menos que não seja razoável pedir-se ao
empregador que lhe conceda esta possibilidade” (art. 7.°). Um prazo de aviso prévio,

39
ou um a in d e n ização q u e o s u b s titu a , s e rá d e v id o s e m p re qu e o tra b a lh a d o r não
“ se ja cu lp a d o de um a fa lta g ra v e de ta l ín d o le que s e ria de sarra zo a d o p e d ir ao
e m p re g a d o r a c o n tin u a ç ã o do e m p re g o d u ra n te o prazo do p ré -a v is o " (a rt. 8 ° ).

33. A R e com endação p re v ê a lg u m a s no rm a s c o m p le m e n ta re s :

a) s a lv o qu an do a le g is la ç ã o ou a p rá tic a n a cio n a l c o n s id e ra m a fa lta com o


re s c is iv a do c o n tra to de tra b a lh o , sua g ra v id a d e d e c o rre rá da re in c id ê n ­
c ia ou da p ré v ia a d v e rtê n c ia por e s c rito po r p a rte do e m p re g a d o r
(ite m 7);

b) a d e s p e d id a do tra b a lh a d o r p o r d e s e m p e n h o in s a tis fa tó r io p re s s u p õ e que


o e m p re g a d o r lh e haja da do in s tru ç õ e s a p ro p ria d a s , co m a d v e rtê n c ia p o r
e s c rito , e o d e c u rs o de u m p e río d o razoável para qu e e le m e lh o re o seu
tra b a lh o (ite m 8 );

c ) o tra b a lh a d o r d e ve te r d ir e ito a s s is tê n c ia de o u tra p e sso a para d e fe n ­


der-se das a cu saçõ es re la tiv a s á sua co n d u ta ou ao seu tra b a lh o (ite m 9 );

d ) o d e c u rs o de um p ra zo razo áve l, de sd e que o e m p re g a d o r te v e c o n h e ­


c im e n to da fa lta , im p o rta em re n ú n c ia ao seu d ire ito de r e s c in d ir o
c o n tra to e s te ia d o ne ssa fa lta (ite m 10);

e) é a co n s e lh á v e l qu e o e m p re g a d o r c o n s u lte os re p re s e n ta n te s d o s tr a ­
b a lh a d o re s a n te s de d e c id ir d e s p e d ir um e m p re g a d o (ite m 11);

f ) o e m p re g a d o r d e ve c o m u n ic a r p o r e s c rito ao tra b a lh a d o r a sua d e c is ã o


de d e s p e d i-lo (ite m 12); e, a p e d id o d e s te , de ve exp o r-lh e , p o r e s c rito ,
o m o tiv o ou m o tiv o s da te rm in a ç ã o do c o n tra to de tra b a lh o (ite m 13.1).

34. A R ecom endação d is p õ e , ainda, que, d u ra n te o prazo do a v is o p ré v io ,


o tra b a lh a d o r de ve t e r d ir e ito a p e río d o s de te m p o liv re razo áve is, s e m p e rd a da
rem u n e ra çã o , a fim de p ro c u ra r o u tro e m p re g o (ite m 16). E, se o s o lic ita r, d e ve rá
re c e b e r um c e rtific a d o d o e m p re g a d o r In d ica n d o s o m e n te as d a ta s do co m e ç o e
da te rm in a ç ã o da re la ç ã o de tra b a lh o e, bem a s s im , a n a tu re za das ta re fa s que
d e s em p enh ava . A a v a lia çã o da sua c o n d u ta ou do seu tra b a lh o p o d e rá ta m b é m
s e r pedida p e lo tra b a lh a d o r, no m e s m o ou num s e g un do c e rtific a d o (ite m 17).

35. D — D e c u rs o c o n tra a d e s p e d id a a rb itrá ria , ô nu s da p ro v a e re p a ra ç ã o —


E sta tu í o a rt. 8.° da C o n ve n çã o :

"O tra b a lh a d o r qu e c o n s id e re in ju s tific a d a a te rm in a ç ã o de sua re la çã o de


tra b a lh o te rá d ir e ito a re c o rre r c o n tra a m esm a p e ra n te um o rg a n is m o neu­
tro , co m o um trib u n a l, um trib u n a l do tra b a lh o , um a ju n ta de a rb itra g e m ou
um á r b it r o ” .

E aduz: s e a d e s p e d id a fo i a u to riz a d a p e la a u to rid a d e c o m p e te n te , a ap lica çã o


de ssa no rm a p o d e rá v a ria r de c o n fo rm id a d e co m a le g is la ç ã o e a p rá tic a n a cio nal
(a rt. 8.°, § 2 ° ). C o nsid e ra r-se -á qu e o tra b a lh a d o r re n u n c io u ao seu d ir e ito de re ­
c o rre r (p re s c riç ã o ), se não o e x e rc e r d e n tro de um prazo razoável (a rt. 8 ° , § 3.°).

36. Q ua nto a p ro v a da causa ju s tific a d o ra da de sp e d id a , a le g is la ç ã o n a c io ­


nal ou as d e m a is fo n te s fo rm a is de d ire ito "d e v e rã o p re v e r um a ou o u tra da s
s e g u in te s p o s s ib ilid a d e s , ou am bas:

40
a) in c u m b irá ao e m p re g a d o r o ônus da prova da existência de uma causa
justificada para a despedida tal como foi definida no artigo 4.° da pre­
sente Convenção;
b) os organismos mencionados no artigo 8° da presente Convenção terão a
faculdade de decidir sobre as causas invocadas para justificar a des­
pedida, tendo em conta as provas apresentadas peias partes e de con­
formidade com os procedimentos estabelecidos pela legislação e a prá­
tica nacionais’’ (art. 9.“, § 2°).
37. A legislação nacional ou as demais fontes formais de direito deverão
dispor sobre a medida em que os precitados organismos neutros terão a faculdade
de decidir se são justificadas as despedidas fundadas na necessidade de funcio­
namento da empresa, estabelecimento ou serviço (art. 9°, § 3.°).

38. O fim p e rs e g u id o pela Convenção é a re in te g ra ç ã o do trabalhador arbi­


trariamente despedido; isto é, a anulação do ato patronal que não se fundar,
comprovadamente, em qualquer dos motivos relacionados no art. 4°. M a s a Confe­
rência teve de aprovar uma no rm a fle x ív e l a respeito, atendendo a que em muitos
países o trabalhador não tem o direito de retornar ao emprego, quando imotiva­
damente despedido. A fórmula encontrada para satisfazer a maioria foi a seguinte:
"Art. 10 — Se os organismos mencionados no artigo 8.° da presente Con­
venção chegarem à conclusão de que a terminação da relação de trabalho é
injustificada e se, em virtude da legislação e da prática nacionais, não esti­
verem facultados ou não considerem possível, dadas as circunstâncias,
anular a despedida e eventualmente ordenar ou propor a readmissão do
trabalhador, terão a faculdade de determinar o pagamento de uma indeni­
zação adequada ou outra reparação que considere apropriada”.
39. Analisando-se o dispositivo, verifica-se que se o organismo estiver auto­
rizado a anular a despedida e ordenar ou propor a readmissão do trabalhador,
deverá fazê-lo, se considerar injustificada a resilição do contrato de trabalho e
se as circunstâncias do caso não a desaconselharem. A indenização adequada ou
outra reparação apropriada somente deverá ser determinada quando, apesar de
injustificada a despedida, o organismo não tiver competência para ordenar o re­
torno do trabalhador ao emprego ou o mesmo for contra-indicado pelas circunstân­
cias configuradas no caso examinado. A prática de falta grave exclui o direito à
indenização (art. 12, § 3°, da Conv.).
40. Obviamente, também nos casos de d e s p e d id a s d e c o rre n te s de cau sas
e c o n ô m ic as, te c n o ló g ic a s , e s tru tu ra is ou análogas o trabalhador deverá ter direito,
seja a uma in de niza ção calculada em razão "do tempo de serviço e do montante
do salário", paga "d iretamente pelo empregador ou por um fu n d o constituído me­
diante cotizações dos empregadores", seja ao se g u ro -d e s e m p re g o ou outra for­
ma de assistência aos desempregados, seja a uma combinação das mencionadas
prestações (art. 12, § 1.°, da Conv.).
41. F — N o rm as e s p e c ia is para a d e sp e d id a p o r m o tiv o s e c o n ô m ic o s , te c n o ­
ló g ic o s , e s tru tu ra is ou análogos —
Algumas regras especiais foram inseridas na
Convenção a propósito desse tema, que adquiriu inquestionável relevo em virtude
da crise econômica internacional que aflige o mundo atual e das modificações

41
te c n o ló g ic a s re s u lta n te s do ace n tu a d o e v e lo z d e s e n v o lv im e n to da c iê n c ia e da
te c n o lo g ia.

42. V is a n d o a re d u z ir, ta n to q u a n to p o s s ív e l, as d e sp e d id a s c o le tiv a s de


tra b a lh a d o re s , e s te iadas ne ssas causas, o art. 13 da C o nve nção p re c e itu a :

“ Q uando o e m p re g a d o r p re v ir d e spe did as po r m o tiv o s e c o n ô m ic o s , te c n o ­


ló g ic o s , e s tru tu ra is ou an álogos:

a) p ro p o rc io n a rá aos re p re s e n ta n te s do s tra b a lh a d o re s in te re s s a d o s , em
te m p o o p o rtu n o , a in fo rm a ç ã o p e rtin e n te , in c lu íd o s os m o tiv o s das d e s­
pe didas p re v is ta s , o n ú m e ro e c a te g o ria s do s tra b a lh a d o re s qu e pode m
ser a fe ta d o s e o p e río d o d u ra n te o qual d e v e rã o e fe tiv a r-s e essa s
d e sp e d id a s;

b) de c o n fo rm id a d e com a le g is la ç ã o e a p rá tic a n a c io n a is , o fe re c e rá aos


re p re s e n ta n te s dos tra b a lh a d o re s In te re s s a d o s , tã o ce d o q u a n to p o s s í­
v e l, um a o p o rtu n id a d e para e n ta b o la r c o n s u lta s s o b re as m e d id a s qu e
devam ad otar-se para e v ita r ou lim ita r as d e s p e d id a s e as m e d id a s para
a te n u a r as c o n s e q ü ên cia s ad versa s das m esm a s para o s tra b a lh a d o re s
a fe ta d o s , e n c o n tra n d o , po r e x e m p lo , no vos e m p re g o s ".

43. Em ta is casos, o n ú m e ro de tra b a lh a d o re s d e s p e d id o s p o de rá s e r lim i­


ta d o p o r le i, c o n tra to c o le tiv o , la ud o a rb itra l, s e n te n ç a ju d ic ia l ou o u tro in s tr u ­
m e n to a d m itid o pela p rá tic a n a cio nal (a rt. 13, § 2.º e a rt. 14, § 2 ° ). Por sua vez,
no m e sm o m o m e n to em que p re v ir ta is d e sp e d id a s, o e m p re g a d o r d e v e rá n o tifi­
c a r a a u to rid a d e c o m p e te n te , p re s ta n d o -lh e as in fo rm a ç õ e s in d ica d a s na alín e a a
do a rt. 13, a c im a tra n s c rito (a rt. 14, § 1.°). E a le g is la ç ã o n a c io n a l d e v e rá f ix a r um
pra zo m ín im o , co n ta d o de ssa n o tific a ç ã o , para que o e m p re g a d o r po ssa e fe tiv a r
as d e s p e d id a s (a rt. 14, § 3.°).

44. C o m o be m a c e n tu a Pl á R o drig ue z, a a u to rid a d e a d m in is tra tiv a a s s im p ro ­


voca da po derá c o n tro la r e v e r ific a r : “ a) a e x is tê n c ia real das d ific u ld a d e s ; b) a
im p o s s ib ilid a d e de s e re m ad otad as o u tra s m ed id as s u b s titu tiv a s ou a In s u fic iê n c ia
das m esm a s para re s o lv e r a s itu a ç ã o ; c) os c rité rio s o b je tiv o s u tiliz a d o s na s e le ­
ção do pe sso a l en ca m in h a d o ao s e g u ro -d e s e m p re g o ". (Ob. c it., pág.. 172], E esse
ren o m a d o ju r is ta u ru g u a io Ind ica, d e n tre o u tra s , as s e g u in te s m ed id as, que po­
d e rão s e r ad otadas em ta is ca so s: plano de re o rga niza ção da em p resa , que to rn e
d e s n e c e s s á ria s as d e sp e d id a s ou as adie c o n s id e ra v e lm e n te ; não p ro v im e n to das
vagas re s u lta n te s das d e s p e d id a s ; e s tím u lo às a p o s e n ta d o ria s ; s u p re s s ã o das
horas e x tra o rd in á ria s ; a m p lia ç ã o do prazo do a v is o p ré v io ; re d u çã o da jornada
de tra b a lh o ou do n ú m e ro de dias tra b a lh a d o s no m ês; su sp en são do c o n tra to de
tra b a lh o ; red uçã o do s a lá rio (ob. c it., págs. 125 a 129).

45. Tam bém a R ecom endação n. 166 en um e ra um a s é rie de p ro v id ê n c ia s


com o o b je tiv o de lim ita r as d e s p e d id a s d e c o rre n te s de causas e co n ô m ica s, te c n o ­
ló g ica s, e s tru tu ra is ou análogas e ate nua r-lhe s os e fe ito s :

a) ajud a da a u to rid a d e c o m p e te n te na busca de so lu ç õ e s p e rtin e n te s


(ite m 19.2);

b) c o n s u lta do e m p re g a d o r aos re p re s e n ta n te s dos tra b a lh a d o re s a n te s de


in tro d u z ir m o d ific a ç õ e s Im p o rta n te s nos seus p ro gra m as, organização,

42
e s tru tu ra ou te c n o lo g ia , v is a n d o a e x a m in a r suas p o s s ív e is re p e rc u s s õ e s
e p re v e n ir ou a te n u a r se u s e fe ito s p re ju d ic ia is (ite m 20);

c) re s triç ã o à c o n tra ta ç ã o de p e s s o a l, tra n s fe rê n c ia s in te rn a s de e m p re g a ­


dos, fo rm a ç ã o e rea da ptaçã o p ro fis s io n a l, a p o s e n ta d o ria v o lu n tá ria com
adequada co m p e n sa çã o do s s a lá rio s , d im in u iç ã o das h o ras e x tra o rd in á ­
ria s e red uçã o da du raçã o n o rm a l do tra b a lh o (ite m 21);

d) re d u çã o da d u raçã o n o rm a l do tra b a lh o , quando se tra ta r de d ific u ld a d e s


e co n ô m ica s p a ssag eira s, a sse gu rand o-se aos tra b a lh a d o re s um a co m p e n ­
sação p a rc ia l pela pe rda dos s a lá rio s c o rre s p o n d e n te s às h o ras n o rm a is
não tra b a lh a d a s (Ite m 22);

e) fix a ç ã o p ré v ia dos c rité rio s de s e le ç ã o para o pe ssoa l a s e r a tin g id o


p o r ta is d e sp e d id a s, de fo rm a a c o n c ilia r os in te re s s e s e m p re s a ria is
com os do s tra b a lh a d o re s (Ite m 23);

f) os tra b a lh a d o re s d e sp e d id o s que m a n ife s ta re m o d e s e jo de re to rn a r ao


e m p re g o devem te r p rio rid a d e para a re a d m is s ã o , d u ra n te um c e rto pe ­
ríodo , de sde que o e m p re g a d o r v o lte a c o n tra ta r pe sso a l com q u a lifi­
cação co m p a rá v e is . A ord e m de p rio rid a d e de ve a te n d e r, em e s p e c ia l, a
a n tig u id a d e dos tra b a lh a d o re s (Ite m 24);

g) a a u to rid a d e c o m p e te n te , se p o s s ív e l e m c o la b o ra çã o com o e m p re g a ­
do r e os re p re s e n ta n te s dos tra b a lh a d o re s in te re s s a d o s , de ve ad o ta r
m e d id a s adequadas às c irc u n s tâ n c ia s n a cio n a is para p ro m o v e r a c o lo ­
caçã o do s tra b a lh a d o re s d e sp e d id o s , p ro p ic ia n d o -lh e s , se f o r o caso, f o r ­
m ação ou rea da ptaçã o p ro fis s io n a l (ite m 25);

h) d u ra n te o p e río d o de fo rm a ç ã o ou re a da ptaçã o p ro fis s io n a l, a que alud e


o ite m a n te rio r, d e v e ria c o n s id e ra r-s e a p o s s ib ilid a d e de a s s e g u ra r a lg u ­
m a re n da ao tra b a lh a d o r, e, qu an do e s te tiv e r de tro c a r de re s id ê n c ia
para in g re s s a r em no vo e m p re g o , g a ra n tir-lh e o re e m b o ls o , to ta l ou
p a rc ia l, das re s p e c tiv a s d e sp e s a s (ite m 26).

46. V I — C o n c lu s õ e s

O d ir e ito ao tra b a lh o , do q u al d e c o rre a n e ce s s id a d e de s e r g a ra n tid a a


se g u ra n ç a no e m p re g o , c o m a c o n s e q u e n te lim ita ç ã o das h ip ó te s e s de d e s p e d id a
ju s tific á v e is , e s tá h o je re c o n h e c id o p o r Im p o rta n te s in s tru m e n to s in te rn a c io n a is e
a m p la m e n te co n sa g ra d o p e lo D ire ito C o m pa ra do . O D ire ito , h o je , pre ocu pa-se c o m
a in te g ra ç ã o do tra b a lh a d o r na em p resa . E, c om o a ssin a la ra m Paul D u ran d e
A n d ré V itu , “ a p e rm a n ê n cia do tra b a lh a d o r no e m p re g o c o n trib u i para a d ig n id a d e
da pessoa hum ana; in co rp o ra -se à con cep ção nova, s e g un do a qual o tra b a lh o
não pode s e r c o n s id e ra d o c om o m e rc a d o ria ; e v ita , para o tra b a lh a d o r, o ris c o de
se e n c o n tra r sem ocu pa ção ou o de n e c e s s ita r m u d a r de a tiv id a d e ou de re s i­
d ê n cia ; ate nua o s e n tim e n to de in seg uran ça, que é um do s tra ç o s d o m in a n te s da
p s ic o lo g ia o p e rá ria " ( “ T ra ité de D r o it du T ra v a il” , Paris, D alloz, 1950, pág. 96,
v o l. II). Daí a co n c lu s ã o do d o u to A m a u ri M a s c a ro N a s c im e n to , pa ra q u e m “ a fa s­
to u -s e a co n ce p çã o da d is p e n s a co m o d ir e ito p o te s ta tiv o e co m o a to s u je ito ao
a rb ítrio p a tro n a l e em seu lu g a r re p e rc u tiu a id é ia da ru p tu ra c o n tra tu a l c om o

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um procedimento constituído de fases nas quais exercita-se o direito de d is p e n s a
sob c o n tro le " ("Dispensa do empregado: direito comparado e perspectivas bra­
sileiras", in LTr, São Paulo, 1980, vol. 44, pág. 1.335).
Senhoras e Senhores Congressistas.
47. No momento em que a Assembléia Nacional Constituinte elabora a
futura Constituição brasileira, afigura-se-nos oportuno que os juristas e dirigentes
sindicais aqui reunidos defendam a inserção, no seu texto, do principio da
“ G a ra n tia do e m p re g o c o n tra a d e sp e d id a a r b itr á r ia ” .

48. Não sendo pertinente à Carta Magna disciplinar todos os aspectos e


condições que devem ser considerados na aplicação dessa norma programática,
c u m p rirá à le i o rd in á ria d is p o r s o b re a re s p e c tiv a re g u la m e n ta çã o .

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