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P.º R. P.

73/2006 DSJ-CT - Ped ido de registo de hipo teca


vo lun tá ria fu ndado em del ib era ção tomada em assembleia de
credores, homo logada po r d ecisão jud icial transitada em
julgado , no âm bito do processo e spe cial d e re cupera ção d e
em pre sa . – Susce ptib ilidad e da referida gara ntia real ser
e nt end ida como p rovi dên cia de r ee st rut ura ção f inan c ei ra a
ap rovar em a ss emb le ia de cre dore s . – In suf ici ên cia do s
e lem en tos con t ido s nas d iver sa s ce rt idõ es jud icia is
apresentada s , com v i sta a af erir da existência da d ita hipo teca .
– Lim ites da obriga ção d e f isca lizaçã o pe lo co nse rvado r do
cump rimento das ob rigações f isca is, nomea damente, no qu e
r es pe ita ao im post o de se lo , no dom ín io do C PEREF .

PARE CER

Re la tór io

O p r e s ent e r e cu r s o h i e r á rq u ic o v em i n t e r po st o d o d es p ach o d e
r e c u s a d e c on v e r s ão , requ i s it a da pel a A p. 3 / 2 00 6 02 0 6, d a in s c r i ç ã o
d e h i p ot ec a v ol u n t á r i a qu e, d e m an da da p e l a A p. 01 / 2 00 50 7 19 , h a v i a
s i d o l a v r ad a p r ov i so r i a m e n t e p o r d ú v id a s, c o m f u n da m ent o n a f al t a
d e p ro v a d o cu mp r im e n t o d as o br i g a çõe s f i s ca i s , em e spec i a l , n o q u e
r e s p e it a ao i m p o st o d e s e l o , n os t e rmos d o pr e v is t o n o ar t i g o 7 2. ºdo
C ód i g o d o R eg i st o P r e d i a l .

A conversão da aludida in scrição já havia sido anteriormente


s o l i c i t a da pela A p. 0 4/ 20 06 0 10 6, i n s t ru í d a com uma d e n om i n a d a
“ Fund a m ent a çã o do r e qu e r ime nt o”, c u jos t e rmo s s e d ã o a qu i p o r
in teg r a l men t e r ep rodu zi do s, e da qu a l resu lta, em conclusão, que n ã o
f az s en t ido i s en t ar a d aç ã o em cum p r i m en t o d e b en s d a e m p r e sa e a
c e ss ã o d e b en s aos c r e do r e s – m e di das i n t eg r ant e s d a ree s t ru t u r aç ã o

1
f in anc e ir a – e , n o m esm o âmb it o, tr ib ut a r a c on sti tui çã o d e hi pot ec a s,
f az en d o apelo, em r e f o rço desta i n t e rp r et aç ã o, às c on s i d e raç õ e s
i n s e rt as no n.º 10 do pr e â m bu l o do diploma qu e a p r ov ou o
C.P .E. R.E.F. n o sentido de qu e o mesmo adoptou um con junt o de
i n c en t i v os a t r av é s d o s qu ai s s e p r ocu r a ev i t ar p e n a l i z a çõ e s i n d ev i d as
ou g ra v es in c onv eni en t es p ar a as oper a ç ões jur í di ca s, ec on óm ic as e
f i n an c e i r as em qu e p o d e d es d ob r a r-se o p r oce s s o d e r e cu p e raçã o,
t en d o- s e a f as t a d o, c o m es sa i n t e n ç ão, alg uns enc a rg os d e caráct er
f is cal ou p ar afi sc al r el aci on a dos c om os n eg óci os jur íd icos
s u s c ept í v e i s d e con st i t u í r em o m e i o d e r e cup er a ç ã o a p rov ad o p e l o s
c r ed or es, t en d o, n om ead am ent e em vis t a o im pos to d e sel o.
E st e p ed i d o de conve rsã o f o i re cu s ad o , c om b a s e na a l í ne a e)
d o n . º 1 d o a rt i g o 6 9. ºd o C ód i g o do Regist o P r edial, u ma v ez qu e,
t en d o s ido a c e it e com o t ítu lo p ar a o reg is to de h ip ot e ca a c e rt id ão d a
d e l i b e r a ç ão d a a ssem b l e i a sob r e o mei o d e r ec u p e r aç ã o a p r ov ado,
co m h om ol og a ç ão t rans i t a d a em jul g ad o , a q u es tão do
r e c on h e ci m ent o da i s enç ã o do i m p ost o n ã o par ec e t e r s i do o b j e ct o d e
d esp ach o ju di ci al, sendo que a mesma não result a directamen te da
lei, in cu mbin do a legit imidade para definir orientações interpret at ivas
e x p re ss a s d a s n o rma s f is c ai s à D i r ec ç ã o- G e ral d a s C on t r i bu i ç õ es e
impost os, e não ao C onservador.

O p e d i do d e c on v e r s ã o, obj e c t o d o d e sp a ch o d e r e cus a o r a
impugnado, foi instru ído com uma declaração escrit a, da autoria do
r e q u i s i t ant e , o r ef e r i d o g es t or jud i c i a l , q u e , a t r av és d e l a , p ro c u r a
fu nd a me nt a r o d it o a c t o d e reg is to . Ass i m , começ a p o r af i r m a r q u e a
sociedade recupera nda consti tui a f av or do Inst itu to de Gest ão
F i n an c e i r a d a S eg u ra n ç a S oc i a l a hi poteca v olunt ári a, int eg r ada num a
d as c on di ç ões i m p ost as , por d e spa ch o do respectivo Conselho
D ir e ct iv o, para v ot a r f av o ra v el m en t e a m ed i d a de r ee s t ru t u r aç ã o
f i n an c e i r a p r o p o s t a p el o g est o r ju dic ia l n o âmb i t o d o cor r e sp on den t e
p r o c es so e s p ec i a l d e r e cu p e raç ã o d e e m p r e sa , ao a b r i g o d o D . L . n . º
1 3 2/ 93 , de 2 3 d e Ab r i l , c o m a s a l t e rações int r oduz idas pelo D. L. n.º
3 1 5/ 98 , de 2 0 d e O u t u b r o. E a c on st i t u i ç ã o d es s a h i p ot e c a i n s c re v e-

2
s e n a i m pos i ç ã o d a c on di ç ão p r ev i s t a naquele despacho como ref orç o
d a s h i p ot e c a s l eg a i s j á ex i s t en t e s, res u lt an d o d a s d ema i s c l á u sul a s
ali in sertas qu e os p r az os d e v en ci m ent o d a d í v i d a con s o l i da da e m
3 1 /1 2/ 04 f or am d il at ados em 150 p rest aç ões m en sa is e f or am
p e r d oa d os os j u ros v en c i d o s . Por outro l ad o , f oi a c o rd a d a e
a u t o riz a d a a a p l i c a ç ã o d a t ax a d e ju r o anu al d e 2, 5%, i n f e ri o r à
s u p l e t i v am ent e p r ev i st a, antes aplicável, de 4%.
D on de c on c lu i qu e a p r o vidê n ci a d e r e e s tru tu ra ç ã o f in an c ei r a
a p r ov ad a t e v e u m a i n ci d ên c i a s u b st a n c i al n o p a s si v o d a s oc i eda d e
r e cu p e ran d a , m ed i da c o n t emp l ad a n a a l í n ea c ) d o n . º 1 do a r t i g o 88 . º
d o C. P . E. R. E. F. q u e, c on jug ada c om a al ín ea c ) d o art ig o 12 0. º d o
m esm o c ód i g o t em c om o c on s e qu ên ci a l e g al a i s e n ç ã o d o i m p os t o d e
s e l o, sendo que o acto ap resentado in t eg r a- s e na e num e r açã o
t ax at iv a des t es p r ec e it os .

A S r. ª C on s er v a d o ra r e cor r i da r e cus ou o p e d i d o d e c on v er s ã o,
c o m b a s e n a su bs i s t ê n c i a d as dú v i das s u s c it a das , e c om o a p o i o l eg a l
do a r t ig o 69.º, n.º 1, alínea e), do C ó d ig o do R e g is t o P r ed i a l ,
c on s id eran do qu e se est iv er inequív oca e docum ent alment e
c om pr ov ad o qu e a ap r ov aç ã o da h i pot ec a c om o m edi d a de
r e e s tru tu ra ç ã o fin an c ei r a t ev e c om o c on t ra p art id a um a m o di fi caç ã o
d o s p r az os d e v en ci m en t o ou d a s t ax as d e ju r o d o s c r é di t o s p r evi st a s
n a a lín ea c) do n.º 1 d o a rt ig o 8 8.º c i t ad o, h á p os s i b i lid a d e d e um
m el h o r en qu ad r amen t o da p r ov i d ên ci a ap rov ad a n es s e preceito,
e s t an d o, n e st e c aso, i s ent o d e i m p os t o d e s el o . M a s é a Direcção
G e r a l d o s I m p o st os , qu e pod e r á i s ent a r a c on st i t u i çã o d e h i pot e c a
v ol u n t ár i a d o i m p os t o d e s el o, h i p o t ec a qu e, m e s m o c om p r ov ad a t a l
c on t ra p art id a, n ão d eix a d e s er uma caus a in di rec t a daqui l o qu e v em
prev isto n os r e f e r i d o s ar t i g o e a l í n e a , c u j a let r a n ã o a c on t emp l a .
P a ra , a f in a l , c on c l u i r que: “A hi pot eca volunt ári a é um n egóci o
ju rí di c o qu e v ai para al ém de um a mera m odifi c aç ã o d os p raz os d e
v en cim ento ou das t ax a s d e ju ro d os c r édit os, e que a ent i d a d e com
legitimidade para defin i r o ri en t aç õ es i n t e rp r et a t i v a s exp r e ss as das
normas fiscais é a Direcção Geral dos I mp os t os e n ã o o Cons erv a dor .

3
E m 1 0 d e M a rç o d e 2 0 06 , s ob a Ap. 03 , f o i i n t e r p o s t o rec u r s o
h i e r á rqu i co d a d i t a r e cu s a, r e s u lt and o d as res p ec t iv as a l e g a ções ,
n o m ea d ame nt e, qu e a h ipot e ca v o lun tá r ia a f av o r d o I n st itut o d e
Ge s t ã o Fi n an c ei r a d a Seg ura nç a S o c ia l – reg i s t ad a p rov i s o ri a m ente
p o r dúv i da s , n a s eq u ênc i a da A p. 0 1/ 2 0 05 0 71 9 - f o i c on s t i t u í da n o
c u m p r i m en t o d a c on d i çã o a q u e o c on s e l h o D i r ec t i v o d a qu e l e I n s t itu t o
subord inou a votaçã o favorável, por part e do seu repres entante, da
proposta de reestruturação financeira apresentad a pelo aludido gestor
j u d i c i a l, a u t o r iz an d o c on d iç õ e s e xcepcion a is de regulariz a ção das
dividas da empresa à Segurança Social, traduzidas em: a m o rt i z aç ão
da div ida de c ont ribu iç ões c ons olid ad a at é 3 1 D ez04 em 15 0
p r e st aç õ es m en s ais , s en d o a s p ri m eir a s v i n t e e qu a t r o r e du z i d as a
m et ad e do valor das r es t ant e s; i nexig ibil idade t otal dos ju ros
v en ci do s; e j ur o vin c end o à t ax a d e 2,5 % ao a no .
A qu e la h ip o t ec a int e g ra , a ss im , n o ent e nd e r do r e c o rr ent e , a
p r ov i d ên ci a ap r ov ad a, decorr endo d e u m a d as con d i ç õ e s d e ss a m ed i d a
i m p ost a s p o r aq u el e c r e d or , e n qua n t o g a r an t i a d o c r éd i t o q u e s of r e u
r e d u ç ão , b em c om o a r e s p ec t i v a t ax a d e j u r o, e a i n d a c o m o r e f orç o
d a s out r as hi p ot eca s l eg ai s, i n s e r in d o- s e n o qua d r o da s m e d i d as d e
r e e s tru tu ra ç ã o f in an c e ir a, c om in c id ênc ia n o pas s iv o da e m p r es a , q u e
p o d e m s er a p r ov ada s p e l a ass e m b l e i a d e c r ed o re s e , d e s ig n a d ame n t e ,
na p r ev ist a na a lín ea c) do n .º 1 do a r t ig o 8 8. º do CPE REF ,
i d e n t i f i c ad a c om o a modi fica ção dos praz os de vencimento ou das
t ax a s de j u r o dos c ré d i t os . D a c o n ju g a ç ã o d e s t a n o r ma c om a p r e v is t a
n o a rt i g o 1 2 0 . º, a l í n e a c ) , d o m es mo C ó d i go, d e c o r r e u m a s it u aç ã o
ob ject iv a de is enç ã o do imp ost o de s elo da h ipot eca em cau sa,
isen ç ã o q u e, r esu l t and o d i re ct a ment e da lei, é de aplicação
automática, não dependente da apreciação casuística do fisco.
N ã o há , p o is , m otiv o p a r a a r ec u s a d e c on v er s ã o d o reg i s t o
p r ov i s ó r i o d e h i p ot ec a q u e, com o r ef e rid o , s e f u n da m en t ou n a f a l t a d e
p a g am en t o d o i m pos t o d e sel o , c on s i d e r an do qu e e st e, a f i n a l , n ão é
d e v i do.

4
S u s t ent an d o a qu a l i f i c aç ão de rec u s a da c on v e rs ã o, a
c on s e rv at ó r i a “a qu o” r eit er a a op in iã o a nt es ex p r es sa d e qu e a
h ip ot eca v olu nt ár i a n ão d eix a ap en as d e s er um a c au sa ind irec t a
d a qui l o qu e v em previ st o no art ig o 8 8 .º, al ínea c) do CPE REF , n ã o
estando prevista concretam ent e n a l eitu r a d a l ei , como represent a um
n eg ó ci o ju rí di c o qu e v ai pa r a al ém d e u m a m e r a mod i f i c aç ã o d os
p r az o s d e v en ci m ent o ou d as t ax as de j u r o d os c r éd i t os. E int er ro g a-
se sobre se este acto expressamente previs to na Tabela Geral do
I m p os t o de Selo se pode c on s i d e rar e sp e c i al e i n equ i v oc a m en t e
con t ido na alín ea c) do art igo 120.º do CPE REF, por f orma a
b e n ef i c i a r d a r e spe c t iv a i s en ção, i n t e r r o g aç ã o à q u a l , d e i m e d i at o,
r e s p ond e q u e n ã o p o d e h av e r u m r ec on h ec i men t o a u t om á t i c o d e t a l
i s e n ç ã o, a t en t a a e s p ec í f i c a f a l t a de previsão, naquele preceito, da
c on st itu içã o d e h ipot e ca v o lun tá r ia .

E sp l an a das as p os i ç õ e s ad o pt ad a s pelo r e c o r r en t e e pela


recorrida relativamente às questões suscitad as no processo registral
em apreço, importa emitir parecer sobre o mérito do recurso, tendo
em linh a de con t a a t empestiv a int erposição do mesmo, a legitimidade
das p a rte s e a não oc o rr ê n c i a de q u a lq u er q u est ão prévia ou
preju d icial qu e obste ao seu conh eciment o.

Fundamenta ção

1 – A ques t ão f und a ment a l q u e os aut os p r es ent es su sc it a m é,


no en t en d e r da rec o r r i d a, saber se a h i p ot e c a v o l u n t á r i a, com o
m e d id a de r e e st rutu r a çã o f in an ce ir a, p o d e b en ef i c i a r da i s e n ç ã o d o
impost o de selo, prev ist a na alín ea c) do art igo 120. º do CPE REF , n a
m e d i d a em q u e t en h a com o con t r ap a rt i d a a m o d if i c aç ã o d os p r az os d e
v en c i m ent o o u d as t ax a s d e ju r o d os cr é d i t os , con f o r m e o p r ev i s t o n o
art igo 88.º, n .º 1, alín ea c) , do mesmo C ódigo.
Na o r i g em do pr o b l e m a está um p r o c es so e s p ec i a l de
r e cu p e ra çã o da e m p r es a “…, L im i t a d a” , com sed e e m… , …,

5
apresentado em juíz o em 19/01/04, e, como tal sujeito – consoante
d e c o rr e do e st ab e l e c i d o n o a r t i g o 12 . º , n . º 1, d o D . L . n . º 5 3/ 200 4 ,
de 18 de M a rç o , que ap r ov ou o a ct u a l C ód i g o da Ins o l v ên c i a e
Recu peraçã o de Empresas - à disc iplina jurídica introduzida pelo
c i t ad o C ód i g o d os P r oc e ss o s E sp ec ia i s d e R ec u p e r aç ã o da E mp r esa e
d e F a l ê n ci a , ab r ev i a d a m ent e d es i g n a do p or C P E RE F, ap rov ad o p e l o
D . L . n . º 13 2 / 9 3, d e 2 3 d e Abr i l , e a l t e r a d o p e l os D . L . n . º 1 5 7/ 97, d e
2 4 d e J u n h o, D . L . n . º 3 15 / 98 , d e 20 d e O u t u b ro , D . L . n . º 3 23/ 2 00 1 ,
d e 1 7/ 1 2 e D . L . n.º 3 8/ 2 00 3, d e 8 d e M a rç o.
E n t r e a s d i v e rs a s p r ov i d ên cia s q u e e s t e d i p lo m a p r evê , c o m
vista à r e cu p era ç ã o f in a n c e i r a da e mp re s a, c on t a- s e a da
r e e s tru tu ra ç ã o f in an c e ir a que , d e ac or d o c o m a n oç ã o leg a l forn e cid a
pelo artigo 87.º, se analisa na a d opç ã o p el o s c r e d o r es d e u m a o u
m ai s prov id ên ci as d estin adas a m odi fi car a si tu aç ão do p as siv o d a
e m p r e sa o u a alt e ra r o s eu c a pit a l , em t e rm os q u e as s eg u r em , por s i
só, a superioridade do ac tivo sobre o passivo e a existência de um
fu ndo de m an ei o positi vo.
As med id a s i n t eg r a do r as d e st a f i gu r a da r e e st ru t u r a çã o
financeira a que os credor es podem recorrer são as enumeradas no
a r t i g o 8 8. º , t od as e l a s c ar ac t e r iz ad a s p o r s e r em o p e ra çõ e s s i m p l e s ,
de execução imediata ou de realização a curt o prazo que, sem
n e c es s id ad e d e r ec u r s o a n o v a ad m in i s t r aç ã o o u d e f o r m u l aç ão d e
qualqu er plano global d e a ct i v i d ad e, p o d e m c on t r i bu i r e f i c az m en t e
p ar a o san ea ment o ec onómico da emp res a.
N o n .º 1 d o c i t a d o p r e c e it o s ão enunciadas as prov idências de
r e e s tru tu ra ç ã o f inan c e ir a c om in c id ên c ia no p a ss iv o da e m p r esa ,
enquanto o n.º 2 é reservado àquelas cu ja ef icácia se rev ela n a
estrutura do respectivo capital. Trat a-s e , e m qu a l qu e r dos c as o s, d e
uma enumeração exau stiva (nas diversas alín eas de cada um dos
d i t o s n ú mer o s) d a s m e d i d a s i n t eg r ador a s d a mod i f i c aç ã o d a s i t u a çã o
do p as s iv o e da a l t e r aç ã o do capital da e m p r e sa , q u e,
respect ivament e, consubst anciam, a re e s t rutu ra ç ã o f in an c e ir a. Sen do
c e r t o qu e e s t a s em p r e d em a n d a rá , s e j a qual f o r, d en t r e aqu e l e s , o
me i o ou m ei os a d op t a d os , q ue a e mp re s a f i q ue , d e s d e l o g o, c o m um

6
p a ss iv o inf e r io r a o a c t iv o e com u m fun do d e ma n e io p os it iv o. 1
E m n e n h u m a d as e l e n c ad as p r ovidências se en contra menção
e x p re ss a à c o n st i t u i ç ã o d e h ip o t ec as volun t árias. Af ig ura-se, todav ia,
q u e es t e t er á s i d o o exp ed i e nt e e nc on t r ad o p e lo I n st i t u t o d e G e s t ã o
Fin an c ei r a d a S eg u r a n ç a S oc i a l – c omo o rg ani s m o c o m pe t en t e para
ap rec i a r e d ec i d i r sob r e a p os i ç ã o a assumir por aquela no âmbito dos
p r o c es sos e s p ec i a i s d e r e cup e r aç ã o d e e m pr es a s 2 – par a s erv ir d e
c on t ra p art i d a à r ed u ç ã o do v a l o r d os r e s p ect i v o s c r éd i t o s sob r e a
e m p r es a , q u er qu ant o a o c ap i t a l , quer quanto aos juros, bem como à
m o d i f i ca çã o d os pr a z os d e v en c i m ent o ou da s t a x a s d e j u r o d o s
mes mos cr éd it os , pr ov id ênc ia s est as sim, expressamente enquadradas
n o p ro c ess o d e r e es t rutu r açã o f in ance ir a , c o m in c id ên c ia n o p as siv o
d a e m p res a , c on s oa n t e a p re v i s ã o c on t i d a n a s a l í n e a s a) e c ) d o n . º 1
d o c i t ad o a r t i g o 8 8. º .
D e f act o , a v o t aç ã o f av o ráv e l, p o r p a rte d a c r edo r a , S egur a n ç a
S oc ial, da p r op os ta d e r ees t rutu r açã o f in anceir a , ap res ent ad a p elo
r e s p ec t iv o g e st o r j u d i c i a l, f i c ou su bor d in a da a c e rta s c on d i çõ e s ,
e s p ec i f i c ad a s n as v á r i as a l í n e as d o n . º 1 d o d e sp a ch o d o C o n se l h o
D irect iv o daqu ele Inst itut o ( cu jo c on t e ú d o é p a rt e c om p on en t e d a
r e e s tru tu ra ç ã o f in an c e ir a a pr o v ad a pela assembleia de credores e,

1
“… se a tomada de medidas que integram a reestruturação financeira não conduzir ao alcance
simultâneo dos referidos objectivos, a providência não pode ser homologada, salvo se for reconduzível às
figuras da concordata ou gestão controlada, mas então segundo o regime próprio da cada uma delas (…)
a providência da reestruturação financeira só pode ser adoptada nos casos em que a contabilidade da
empresa esteja devidamente arrumada, segundo as regras gerais pertinentes e deve, de imediato, uma vez
homologada e realizados os actos correspondentes, reflectir-se nela.”- In “Código dos Processos
Especiais de Recuperação da Empresa e de Falência Anotado”, Luís A. Carvalho Fernandes e João
Labareda, pág. 232.
2
Cfr., a propósito da posição adoptada por este Instituto, Henrique Vaz Duarte, in “Questões Sobre
Recuperação e Falência”, 2.ª edição, pág. 270: “É este departamento que tem vindo a acompanhar de
perto a problemática da dívida das empresas insolventes e a sua regularização judicial nas acções de
recuperação. Como representante de créditos públicos, este Instituto tem vindo a manter posição
responsável, coerente …, possuidor … de uma filosofia própria de actuação, dirigida ao duplo objectivo
de recuperação do malparado a par da ideia de sustentação da devedora viável. Por isso, assume
posição francamente activa e colaborante junto do gestor judicial, questionando quer o retrato produtivo
da empresa e a sua capacidade de pagamento, bem como o posicionamento da ex-gerência no projecto
de viabilidade proposto. (…) Em regra, a Segurança Social é adversa à medida pura da concordata, bem
como à gestão controlada com manutenção dos mesmos corpos gerentes. Bem como a outras medidas
que restrinjam substancialmente os respectivos créditos… . Em suma, pode este credor aceitar uma
redução de valores (nos juros reclamados, que não no capital), desde que tal sacrifício atinja solidária e
igualmente créditos da mesma natureza. Uma outra condicionante respeita à constituição de garantias,
para defesa futura do crédito …”.

7
c omo t al, in teg r a a c ert id ã o ju d ic i a l ap r e s en t ada ) , d e s i g n a d a m ent e, a
m anut en ção das hi pot ecas leg ai s consti tuí das 3 e o r ef o rç o dest as,
a t r av és da c on s t i t u i ç ão d e h i p o t ec as volun t ár i as, n o p r azo m áx im o d e
oi to di as ap ós a dat a d a as semb l ei a def init iv a de c r edores qu e ap rov e
a m e did a d e r e cu p er a ç ã o, s ob r e a … , s i t a n a f re g u e si a de… , c on c el ho
d e … , d i st r i t o d e … , r el at i v o à d ív i d a d e con t rib u i çõ e s do p e rí od o d e
J u l 95 a D e z 04 e r es p ec t i v o s j u r os d e m or a .
Na s e quê n c i a do p r e en c h i m e n t o das d i t as c on d iç ões , s ão
a u t o riz a d a s a am ort iz aç ã o da dív id a de c ont ribu iç ões c on soli d ad a at é
á d at a d e 3 1D ez 04 em 1 5 0 p r e st aç õ es m en s a i s, s en d o as pr i m ei ra s
vinte e q u at r o r e d u z i das a m e t a de do valor das r es t a n t e s,
i nexig ibil idade tot al d o s ju ros v en ci do s , e ju ro vin cendo à t ax a d e
2 , 5% ao an o.
E st as p r ov i d ên c i as d e m o d i f i c aç ã o e e x t i n ç ã o d e c r é d it o s sã o
t í p i c as de o u t ra pro v i d ên c i a d e recu per a ç ã o – a c on c o rdat a – mot i v o
pelo qu al a lei ( a rt. 92.º, n .º 1) sujeita a deliberação da assembleia
de cred ores que env ol va a r ed uç ã o ou extinç ã o d e cr éd it os ou a
a l t e r aç ã o das con d i ç õ e s de a m or t i z a ç ã o, ou a taxa de j u ro dos
c r é di t o s sob r e o d ev e dor a o d i s p os t o n os a rt i g o s 6 7. º , 6 9 . º, 7 0. º e
7 1 . º ( a p l ic á v e i s à c on c o rd at a ) . P revê ainda o n.º 3 daquele artigo
92.º - de aplicação limitada à deliberação que aprove aquela medida -
que a d el i b e r a ç ã o da a ss em b l e i a , dep o i s de h o m o l ogad a, prod uz
i m e di at am en t e os s e u s ef ei t o s , s em n e c e ss i d a de d e qu a l q u er ac t o o u
f o rma li d ad e p os t eri o r. O que s e en con t r a e m c on s on ân c i a p e rfe i t a
c o m o p re v i st o n o a r t i g o 94 . º d o mes m o d i p lo m a , q u e s e o cu p a d o s
efe i t os da d el i b era ç ã o d a a s s em b l e i a d e c red o re s, e s e ap l i c a nas
demais situações, design ad amente naquelas em que a ef icácia plen a
d o exp e d ie n t e a d opt a do ex i j a a p rá t i ca d e out r os a ct os.

2 - C om eç a o re f e ri d o a rt i g o 94 .º p or a nunc i a r que a
d e l i b e r a ç ão qu e ap r ov e u ma ou mai s m e d i da s de r ee s t ru t u r aç ã o
f in anc e ir a, u ma v ez h o m o loga d a, v a le n ã o a p ena s n as r e la ç õ e s entr e
os c r ed o r e s e a e m p r es a , mas t ambém em relação a terceiros,

3
Todavia, segundo resulta das fichas relativas aos prédios abrangidos, não registadas.

8
lev a nd o, d est a s ort e, em cont a o f act o d e algun s dos meios que a
i n t eg r a m p od e r em ch oc a r com os i n t e r e sses de qu e m não e st á
envolvido no processo, nem é credor, como poderá acon tecer nos
c a s os d e c e ss ã o d e b en s o u d a ç ão em c u m p r i m en t o .

S e gu i d a me n t e , d i sp õ e s ob r e m a t é r i as q u e p a rti c u l a r m en t e n o s
interessam, já que têm a ver com o r e g i s t o d e t a is m e d i d as d e
recu p eração. Ass im, resu lt a d o n. º 2 d o art igo em c aus a qu e é t ítu lo
b a st ant e p ar a a in s c r ição d os ac t os su jeit os a r eg ist o (sej a
n at u r a l m ent e , p o r imp o s iç ã o d e st e C ód i g o –c f r . A r t s . 5 9. º e 6 0. º - ,
seja por d e t e r m in aç ã o de q u a l qu er lei registal) a c e r t id ã o da
d e l i b e r a ç ão t o m ad a e d a r e s p ec t iv a h o m o l og aç ã o j u d i cia l q u e , d e
resto, const itu i t ítu lo execut ivo, quant o às obrigações dela
d e c o rr en t e s .
Af igu ra-se, p ois, fac e aos ex p r es sos t ermos da lei, qu e aqu el a
cer t id ã o t i t u l a, em g er a l , d e f o rma b a s t an t e, o s a c t os d e l i b e r a d o s e
h o m o l og ad o s, t o rna n d o d i s pe n sáv e is a s f o rma l i d a d es – m e s m o que ad
s u b st an t i a m – em princípio essenciais p ar a ass e g u r ar a v a l i d ad e d e
certos actos, a qual deixará de estar condicion a da pelo recurso a
in st ru ment os em regra necessários p a ra o s t i t u lar , n o m ea d a m ent e, a
es c r it ur a p úb lic a. 4
M as , c o mo s e s a be, t od a a reg r a c omp o rt a e x cep ç õ es, qu e a qu i
p o d e m adv i r , ou da l e i o r d e n a r a p rá t i c a de a c t o s subs e qu en t e s à
d e l i b e r a ç ão, p or os c on s id er a r i n d i sp e n s áv e i s à p e rf e i ç ã o d o ac t o
( c omo suc e d e n o ca s o d o aum e n t o d e c a p it a l , q u e, n os t e r m os d o n . º
5 d o a rt .º 9 0 .º , t inh a d e c ons t ar d e escritura pú blica), ou da própria
deliberação ser tomada em termos de não titular, ela mesma, os
actos cu ja prát ica delibera, u ma vez qu e, pelo seu cont eú do,
n ec es s it a d e act os comp lement a r es qu e a ex ecut em.

4
“E, bem vistas as coisas, compreende-se que assim seja, porquanto os objectivos normalmente visados
com a exigência de formalidades especiais para certos actos – conveniente ponderação, segurança
jurídica, garantia de condições de validade – estão assegurados pela intervenção necessária do tribunal
e consequente fiscalização a que procede nos termos do art.º 56.º, n.º 2. Seria, em bom rigor,
incompreensível que, relativamente aos actos homologados pelo tribunal, fosse precisa a intervenção de
outras entidades, de carácter eminentemente administrativo, elas próprias sujeitas a controlo
jurisdicional da sua actuação. – Cfr. Código cit., nota 1 de rodapé, pág. 244.

9
E x c lu í d a s a s s it u a ç ões a c a b ada s d e r ef er i r , “ … d es d e q u e o a c t o
e m ca u s a s e a c h e s u f i c i ent e m en t e i d e n t i f i c a do n a h om ol og aç ão –
d i r ec t am ent e ou p or r e f er ê n c i a à d eli beração -, e , ain da qu e, para
t an to , h aj a n e c es si d ad e d e r e c o r r er aos esclarecimentos que o juiz
p r o du z i r á em c u m p r i m en t o do d ev e r i m p os t o pelo n.º 3, ele
c on si d e ra- s e r e al i z a d o c om a a p r ov açã o d a a ss em bl e i a , e m b or a s ó
p r o duz a ef e it os c om a d eci sã o h om o log at ó ri a do t r ibun a l.” . 5

P o r ú lt imo, o n .º 3 d o a r t ig o e m ap reciação at ribui competên cia


ao g est or j u d i c i a l p a r a p romo ve r o re g i st o dos act o s a e l e su jeito s,
b e m c o mo p a ra pr a t i c ar e r e qu e r e r t od o s os ac t os n e c es sá r ios à
perf eita execução da deliberaç ão homologada, reserv an do para a
co m p et ênc i a d o jui z o e s c la re c i m en t o d a s d úvi d as l e va nt ad a s pe la
execução da prov idência.

3 – I mpor t a a lu di r , p o r f im , n o âmb i t o d as d i sp o s iç õ e s d o
C P E R E F ap l i c á v e i s à m a t ér i a d o s a u t os , ao benefício (isenção) relativo
a o i m p ost o d e s e l o , c on sa gr a d o n o a r t i g o 120 . º , r e l a t i v a m en t e à s
p r ov i d ên cia s de rec u p e r aç ão de emp r e sa – qu an do a ele se
encontrassem sujeitas – en u m e r a d as n as a l í n e as a ) a f ) , n as q u a i s s e
in clu em – alín ea c) – a s m od i f i c aç õ e s d o s pr azo s d e v en ci m ent o o u
d a s t a x a s d e j u r o d o s c r édi t o s, p r evi s t as n a al í n e a c) d o n . º 1 d o
arti go 88.º .
T r at a- s e d e u ma enu mer aç ão ta xa t iva , c on quant o es ta belec id a
e m f u n ç ão d o s act o s e m si m e s m o c o n s i d e ra d o s, r az ã o p e l a q u a l
b en ef i c i a rá s em p r e o s uje i t o p as s i vo do i m p o st o, qu e r s e ja, a
e m p r es a d e v ed o r a, o s s eu s c r e d or e s, o u a l gum d e l e s . I s en t a n d o d o
imposto de selo uma série de ac tos ligados à exec ução de variad as
p r ov i d ên cia s d e r ec u p e r aç ã o, e st e a rt i g o i n s crev e - s e n o p r op ó s it o,
anun ciado n o n.º 10 do relat ório do D i p l o m a p r e a mbu l a r d o r ef e r i d o
C ód i g o de, m ed i ant e a a do p ç ão d e u m con j u n t o d e in c en t i v os d e
n atu r ez a f isc a l, e v i ta r p en al iz aç õ e s i nd ev id as ou gr a v es
i n c on v en i e n t e s pa ra a s o p era ç õ e s ju ríd i c a s, e con ómi ca s ou f i n an c e i r a s

5
Código cit., pág. 245.

10
e m qu e pod e d es d ob r a r- s e o p r o c es so d e r e cu p er a ç ã o.

4 – Ef ectu ad o, nos t er mos ac a b ad os de ex por , o enqu a d ra ment o


l e g a l a b st r ac t o d a q u e st ã o a d e c id i r e t en d o p r e s ent e a d i sc i p l i n a
ju rídica daí resu ltant e, impõe- se, agor a, subsumir a esta a situaç ão
de f ac t o c o n c r et a, p o r f o rma a r e sol v e r o p r e s ent e p r o c es so de
impugnação.
D e cor r e do e x p o st o, q u e a con s t i t u i ção d a h ip ot e c a v o l u n t á r i a
e m a p r eç o s e c on f i g u r a c om o u m ac t o n ec es s á r i o à ex e c u ç ã o d a
p r ov i d ên cia d e r e cu p er a çã o a d o pt ada , n a exa c t a m e d id a e m qu e é
in st ru ment o in dispensáv el à efe c t iv a çã o do p r o c e ss o de
r e e s tru tu ra ç ã o f in an c e ir a a pr o v ad o, cons is t ente n a r e duç ã o d o valor
d o s c r é d ito s d a S e gu r an ç a S oc i a l s o b r e a e m p r esa r e cu p eran d a, qu er
q u a n t o ao c a p i t a l , q u er qu ant o a os ju r os , b em c o m o n a m od i f ic a ç ão
d a s resp ec t ivas taxas , com en qu ad rament o legal nas alíneas a) e c)
d o n . º 1 do a rt i g o 88 . º d o C P E RE F.
É c on s a bi d o que o acto de c o n s t it u i ç ã o ou m o d i f i c aç ã o de
h ipot eca v olunt ária, quando recaia sob r e b en s i m ó v e i s, d ev e, e m
c on f or m i da d e c o m a p r ev i s ão c on t i d a n os ar t ig o s 7 14 . º d o C ó dig o
Civ i l e 80 . º, n . º 1 , a l í ne a h) , d o C ód i g o do N ot a ri ad o , c ons t a r de
e s c r it u r a p ú b l i c a, sem p r e ju í z o, t od av ia , d a r es sa l v a e st ab e l e c i d a pel a
a l í n e a f ) d o a rt i g o 8 1 . º d e ste ú lt i m o C ód i g o, ao a d m it i r a p rá t i c a , n os
t e r m os d a l e g i s l a ç ão e sp e c i a l r e sp e ct i v a , d e out ros actos regu lados n a
l e i.
N e st e s s e d e v e, a n os s o v e r, t e r-s e por i n c lu í da a c on st i t u i ç ã o
de h i p ot ec a v olu n t á r i a, no â mb i t o do pr o c e ss o e s p ec i a l de
recu pera çã o de empresa, face à estatuição legal inserta no artigo
94.º, em articulação com o disposto nos artigos 54.º a 56.º, todos do
CPE REF.
R esu l t a de t a i s p r ec e i t os que a c e rt i dã o d a d e l ib e raç ã o t o mada
na as s em b l e i a de c r e d ore s , qu e a p r ov ou a pro v i d ên c i a da
r e e s tru tu ra ç ã o f in an c e ir a, tra du z ida na r e du ç ã o d o v a lor d o s cr é d ito s
d a S eg u ra n ç a S oc ia l , q uant o a o c ap i t a l e a os juros , b e m c o m o na
modifica çã o dos respectivos praz os de vencimento e taxas,

11
h o m o l og ad a ju d i c ia l m e n t e , é t ít u l o b as t ant e p a ra o r e g i st o da
h ip ot e ca v o lunt á r ia c on v enc io n ad a n o â m b it o d a qu e le pr o c e d iment o
d e r ecu p er a ç ã o, d es d e qu e es s a d e l i b er a ç ã o t en h a s i d o ad o pt ad a em
t e r m os de e la m e sma t it u la r a qu e la g a r an t i a r ea l , a c u ja c on s t i t u iç ã o
deu assent iment o.
R e s o l v id o, c o mo se e n c on t ra, qu e a a c e i t aç ão o u a cor d o d a
empres a devedora, titular insc rita dos bens objecto da prev ista
h i p ot e ca , não são n e c es sá r i o s à a p r ov aç ã o e h o m ol o g a ç ã o das
p r ov i d ên cia s de rec u p e r aç ão ( cf r. art. º 55.º), aquela t itu lação
d e m an da rá , n a t u r al m e n t e, a p r e c i sa e c o m p let a i d en t i f i c a ç ão dos
prédios abran g idos [cfr. Art s. 716. º, C. C. e 44.º, n.º 2, alín ea b), C.
R . P . ] , b em c o m o a d e t e r m ina ç ã o d o m o n t ant e d o c r éd i t o a s s e gu rad o ,
d o s s eu s a c e ss ó r i os e d o r es p ec t iv o f u n d amen t o ( cf r. art s. 69 3. º, C .
6
C. e 96. º, C . R. P. ).
Salien t e-se, a est e propósit o, que a certidão judicial
ap res en t ad a inclui um d esp a cho do M e ri t í ss i m o Ju i z , datado de
1 1 / 0 7/ 05 , q u e, a lé m de pr o c e de r à d e t er mi n a ç ão dos p r éd i os –
a t r av és da i n d i c a ção d os r esp e ct i v os n ú m e r os d e i n s cr i çã o m at r i c ial e
d e d es cr i ç ã o p r ed i a l – sob re o s qu a is i n c i d i r á a d it a h ip o t ec a, ref e r e
t extu alment e: “C onf o rm e r esu lt a d o dis p os to n o a r t. º 94 .º d o CP EREF ,
i ncum be ao g est or jud ic ial p r om ov er o registo dos actos que dele
n e c es si t em, s en d o q u e a ce rtidã o da de libe ra ção tomada e d a
r e s p e ct i va hom o l og a çã o jud i cia l s er v e d e t ít u l o b a s ta n te p a ra a
i n sc ri çã o d os a c tos s u je itos a reg is t o. P er a nt e o d is p os to n a
c i t ad a dis p os i ç ã o legal, ent en d e- s e que c ab e ao g e s t or j u di ci al
e f e ct u a r o r e g i st o d a s h i p ot e c as supr a m en ci o n ad as , re gi st o es se
q ue se rá e f e ct ua d o c om ba se na c e rt idã o da del ib era çã o e
r e s p e ct i va h om ol og a çã o j ud i cia l.” , p r e v e n in d o , a s s i m, n os t e r m os
legais ( cf r . s eg m ent o f in a l do n . º3 do i n v oc a d o ar t . º 9 4. º) , a
e v en t u a l id a d e do s u r g i m ent o de d ú v i d as s u s c ept í v e i s de criar

6
Em cumprimento do princípio da especialidade, uma das características fundamentais que, a par dos da
realidade (trata-se de um direito real), publicidade (o registo é requisito de eficácia, mesmo em relação às
partes), indivisibilidade (subsiste, por inteiro, sobre cada uma das coisas oneradas e sobre cada uma das
partes que as constituam) e acessoriedade (ligação da garantia hipotecária à dívida garantida), a doutrina
assinala comummente à hipoteca.

12
o b st ác u l os à c on cr e t i z a ç ã o d a p r o je c t ad a med i d a d e r e cu p er aç ã o.
( D e st ac a dos a n eg r it o n o ss o s) 7
C on s t a a in d a , d a p a r t e f i n a l d o a l u d i d o d es p ach o, q u e “… com
v ist a a tal regi st o, p ass e e ent r eg u e ao Sr. Gest or Ju di cial a c ertid ã o
s oli cit ada qu e d everá en gl ob ar os elem ent os ref eri dos a fl s. 736,
i ncl uin do o p r es ent e d es pa ch o. ”. Acon t ece qu e n ã o vislu mbramos,
entre as folhas que comp õem a cert idão em causa, alguma com a
i n d i c ad a n u m e r aç ão , nem d e sc o rt i n a m o s ref e r ê n c i a aos a l e g ad o s
elementos (montante e fundamento do créd ito assegurado e seus
acessórios ) – a não ser na declaração c o m p l e m en t a r d o r eq u er en t e d o
r e g ist o e m c au s a, c on st an te d o v e rs o d a r e s pec t iva r e quis iç ã o - , n ã o
o b st ant e o s m es mo s s e a ch a r e m pr es e n t es n o e x t r a ct o d a i n s cr i ç ã o
h ipot ecária, lav rada prov isoriament e por dú v idas.
E st a q u a l i f i c aç ã o min gu an t e d o r e g i sto n ã o r adic o u , p orém , n a
detectada omissão de tais elementos no título apresentado, mas,
o u t r os s i m, n a f a l t a d e p r o v a d o c u mpr i m e n t o das o b r i gaç õ e s f i s c ai s ,
n o m ea d ame n t e, n o q u e r es p e i t a a o i m p o s t o d e s e l o , a q u e , n os
t er mos do p r ev isto n o r esp ect iv o C ó d i g o, s e a c h a s u b o r d in ad a a
c on st itu içã o d a h ipot e ca v o lun tá r ia.
S o m os d e p a r e c e r, c o n t u d o, f a c e a o e x p os t o, q u e, u ma v e z
admitida aquela constitu ição como act o in discut iv elment e ligado à
execução da providência de reestru t u r a ç ã o f i n an c e i r a a d o p t ad a , a
isenção do respectivo impost o de selo, consagrada no mencionado
artigo 1 20 . º , a l í n ea c) , a pa r e c e c om o c or o l á r i o n ec es s á r i o d es s e
entendimento, impondo-se ob jectivamente.
P or out ro lado, a cert idão judi cial apresentada, carecendo,
embora, dos elementos a que atrás aludimos, não deixa de ser título
suficien te para a prov a legal da hipoteca registad a (não há sequer
motivos para supor que o Ex.mo Gestor Judicial, atento o teor do

7
“E, bem vistas as coisas, compreende-se que assim seja, porquanto os objectivos normalmente visados
com a exigência de formalidades especiais para certos actos – conveniente ponderação, segurança
jurídica, garantia de condições de validade – estão asseguradas pela intervenção necessária do tribunal
e consequente fiscalização a que procede, nos termos do art.º 56.º, n.º 2. Seria … incompreensível que,
relativamente aos actos homologados pelo tribunal, fosse depois precisa a intervenção de outras
entidades, de carácter eminentemente administrativo, elas próprias sujeitas a controlo jurisdicional da
sua actuação.”. – In Código cit., pág. 244.

13
c i t ad o des p ach o do M . t o Ju iz , t enh a in clu ído, n a ref erida declaraç ã o
complementar, dados inex actos relativamente aos ditos elementos).
S ó n a ev ent ualid ade d e o n ão s er , é qu e se ju stif icaria a manut en ção
d o reg ist o c omo prov is ório por dú v id as , já n ão alic erç a das n o mot iv o
a t r ás i n v oc a d o, an t e s f u n d ada s n a i nsuf i c i ê n c i a d o t í t u l o , s o b p en a d a
p r o c ed ên cia d o r e cu rs o p od er c on du z i r à f e i t u ra d e u m r e g i st o n u l o ,
c on f or m e a p r ev i s ão c on t i da n a a l í n ea b ) d o a rt i g o 1 6. º do C ód i g o d o
R eg i st o P r ed i a l . Sol u ç ão qu e, a p esa r d e c ont ra ri a r o p ri nc í p io da
in alt erabilidade dos mot iv os alegados como fun dament o da
p r ov i s o r i ed a d e p o r d ú v i d as d o r eg i st o ( cu j a j u st i f i ca ç ão r e s i d e n a
i d e i a d e q u e n ã o p o d e m s er su sc i t ada s dúv i d as ou a l e ga d o s m ot i v o s
n ã o c on s t a n t e s d os r e s p ect i v o s d es pa ch os d e qua l i f i c a ç ã o, e m s ed e d o
p e d i d o d e r e m o ç ão d a qu e l as o u d e i m pu gn aç ão, dad o qu e as r az õ e s
con d icionant es da realiz ação do reg i s t o com c ar á cte r d ef i n it i v o ,
d e c o rr en t e s d a sua p o st e r ior i n v oc aç ã o, m an t e r i a m o s i n t e r es sa d o s
in seguros qu ant o à v iabilidade da su a pret en são, com t odos os
a d ju nt os in c onv en ient es, d es ig na d ament e, em ma t ér ia d e c ert eza e
s e gu r an ç a d o s s eu s d i r e i t os) t e m v i n do a s er d e f en d i d a p o r es t e
C on s e l h o, j u st a m ent e nos c a s os ( on d e, s e gun d o ent e n d emo s, o
p r e s ent e não se i n c l u i) em que as r a z õ es d et e r m i n a n t es da
prov isoriedade por dúvidas, não invocada s, mas já existentes , ao
t e m po d a e m i s s ã o d o r e sp e ct i v o d es pa ch o, p o ss a m c on du z i r à f e i t u r a
de regist os nulos. 8

C onsiderando o exposto, entendemos que o recurso merece


p rovim ent o , e f o rmu l a m os a s s eg u int e s

C O N C L U S Õ E S

I – A certidão da de libe ra ção tomada na assemb le ia de


cr edor es qu e a provo u a pr ovid ên cia de re cu pera ção finan ce ira ,

8
Cfr., v. g., parecer emitido no P. R. P. 315/2002 DSJ-CT, in BRN, II, n.º 1/2004, pág. 2.

14
trad uzida na redução do va lor dos créd ito s da Seg ura nça Socia l,
q uan to ao cap ita l e ao s ju ro s, bem como na mo difi ca ção do s
r e s p e ct iv o s p ra z o s de v e nc ime n to e taxas, hom o log a d a
jud i cia lme nte , é título basta nte para o re gisto da hipo teca
vo lun tá ria co nvencio nada no âmb ito daqu ele pr ocedi men to de
r e cup eraç ã o , desd e q ue e ssa d ecl a ra çã o te nha s ido a dop tada
em te rmo s de e la me smo t i tu lar aq ue la gara nt ia rea l a cuja
c o n st i tu iç ã o d eu a sse nt ime nto .

II – É t í tu lo ins uf ic ie nte p a ra o reg i sto da r e f e r id a


h ipo te ca a cer t idão p rev is ta na an te rior co nclus ão que não
con te nha as i nd icações re la tiva s à id en tifi ca ção do s p réd io s
d ela ob je cto – nom eadame nt e , a travé s da re ferê ncia ao s
r e s p e ct iv o s núm e r o s de i n sc ri ção m a t r ic ia l e de d e s cr ição
p red ial -, bem como os dados re la tivo s ao mo ntant e e
fu ndamen to do cré di to a s se gura do e seu s a ce ssó r ios .

I I I – A c o n st i tu iç ã o d a h ip o te ca v o lu n tá r ia , n o s t e rm o s
r efe ri dos na co ncl u são I, e stá , confo rme a p rev isão co nt ida no
ar t igo 120 .º , al ín ea c), do C PEREF , i s enta d e imp os to d e se lo .

I V – A r e g ra d a i na lt e rab il idad e do s mo tivo s alegado s


como fundamento da prov iso riedad e p or dúv ida s do registo sé
c e d e rá q ua nd o a s r a z õ e s não i nv o c a d a s , m a s já e x is te nt e s a o
t empo da em i ssão do re sp ectiv o d espa cho, po ssam con duz ir à
f e i tu ra d e r e g is to s nu los .

Este parecer foi homologado pelo Exmo. Senhor Director-Geral


e m 05 . 0 3.2 0 07 .

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