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H. M. S.

Veiga et al 127

Relações entre comportamento pró-ativo e


comprometimento organizacional

Relations between proactive behavior and


organizational commitment

Heila Magali da Silva Veiga *1; Sheila Francisca Machado **; Izabela
Maria de Oliveira Pinheiro ** & Cínthia Regina Moura Rebouças**
* Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, Brasil
** Centro Universitário de Brasília, Brasília, Brasil

Resumo
O comportamento pró-ativo diz respeito a ações que visam beneficiar a organização e antecipar
problemas futuros, por esse motivo é altamente aquilatado no atual mundo do trabalho. Entre os
antecedentes dessa variável, um aspecto pouco investigado e com resultados contraditórios é o
comprometimento organizacional. Com vistas a preencher tal lacuna, o objetivo geral do presente
trabalho é investigar a influência do comprometimento organizacional (afetivo, calculativo e
normativo) no comportamento pró-ativo. Para a condução do estudo, foi utilizada uma amostra não
probabilística de 457 trabalhadores de 22 organizações públicas e privadas. Foram utilizadas escalas
validadas psicometricamente para aferir cada uma das variáveis. Os resultados mostram que os
trabalhadores pesquisados apresentam pró-atividade acima do ponto médio da escala (3,31; dp=
0,88). A análise de regressão múltipla padrão mostrou que as três variáveis antecedentes explicaram
16% da variável critério, comportamento pró-ativo. Os resultados são discutidos com base na
literatura da área.
Palavras-Chave: Comportamento pró-ativo, Comprometimento organizacional, Comportamento
organizacional.

Abstract
Proactive behavior is related to actions that will benefit the organization and anticipate future
problems; therefore it is highly gauged in the current labor market. Among the antecedents of this
variable is the impact of organizational commitment which is one of little investigated and with
contradictory results. In order to address this research gap, the overall purpose of the present study is
to identify the influence of organizational commitment (affective, calculative and normative) on
proactive behavior. To conduct the study a non-probability sample of 457 workers from twenty-two
public and private organizations was selected. Psychometrically validated scales were used to measure
each variable. The results show that workers presented pro-activity above the midpoint of the range
(3.31, SD = 0.88). An analysis of the standard multiple regression showed that the three antecedent
variables explained 16% of the criterion variable, proactive behavior. The results are discussed b ased

1 Contato: heila.veiga@gmail.com

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on literature from the area


Key-words: Proactive behavior, Organizational commitment, Organizational behavior.

O estudo do comportamento pró-ativo é & Ashford, 2008, p. 4).


de vital relevância no atual contexto de Os primeiros estudos sobre
constantes mudanças organizacionais, comportamento pró-ativo foram publicados
especialmente num cenário em que é em 1996, na Alemanha (Frese, Kring, Soose
requerido do trabalhador capacidade de & Zempel, 1996), e, desde então, proliferam-
tomar decisões e de se antecipar aos se os trabalhos em diferentes países (Fay &
problemas. Ressalta-se ainda que, dada à Sonnentag, 2010); no entanto, no Brasil, os
complexidade e incertezas no mundo do trabalhos sobre esse construto ainda são
trabalho, não é possível especificar todos os escassos (Veiga, Torres, Bruno-Faria, 2011).
comportamentos que serão demandados, Ao inspecionar a literatura sobre os
assim sendo, os trabalhadores devem ter antecedentes de comportamento pró-ativo,
iniciativa para identificar necessidades um aspecto que é parcamente investigado é
futuras e desenvolver estratégias para a influência do comprometimento
alcançá-las. organizacional (Parker, Turner & Williams,
A literatura aponta que os 2006). O comprometimento organizacional
comportamentos pró-ativos estão associados diz respeito a um vínculo psicológico que o
com desempenho superior (Crant, 2000; trabalhador estabelece com a organização,
Porath & Bateman, 2006) e criatividade que diminui a probabilidade de ele querer
(Kim, Horn & Crant, 2009). Bateman e deixar a organização (Allen & Meyer, 1996).
Crant (1999) afirmam que trabalhadores Os estudos que investigam as relações entre
pró-ativos são aqueles que: (1) buscam por os construtos, além de serem restritos,
oportunidades de mudança; (2) são trazem resultados contraditórios (Strauss,
orientados a objetivos; (3) antecipam-se aos Griffin & Rafferty, 2009). Assim, com vistas
problemas; (4) fazem as coisas de um modo a contemplar tal lacuna, o objetivo geral do
diferente e fazem coisas diferentes; (5) são presente trabalho é analisar a influência do
orientados para ação; e (6) perseveram. As comprometimento organizacional no
pessoas pró-ativas criam e buscam comportamento pró-ativo. Para o alcance do
oportunidades para a mudança, ao passo que objetivo proposto, foram definidos como
as menos pró-ativas tendem a seguir apenas objetivos específicos: definir o grau de pró-
o que está determinado (Bateman & Crant, atividade dos trabalhadores pesquisados;
1993). Os trabalhadores pró-ativos são identificar o comprometimento
“aqueles que não deixam a vida lhes levar”, organizacional (afetivo, calculativo,
ao contrário, eles antecipam ações com normativo) mais presente na amostra; e
vistas a contribuir com a organização (Grant investigar as relações entre as variáveis.

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Comportamento pró-ativo: definição (1996) e a de Kamia e Porto (2009),


Na literatura internacional, o observa-se que ambas relatam que são
comportamento pró-ativo foi introduzido na comportamentos: (1) dirigidos à
Alemanha e denominado de personal organização; (2) extrapapel; (3)
initiative (Frese, Kring, Soose & Zempel, autoiniciados; (4) foco no longo prazo; (5)
1996); contudo, em língua portuguesa, os direcionado a um objetivo; (6) persistente
pesquisadores têm optado por denominá-lo diante dos obstáculos; (7) envolvem a busca
de modo distinto, pois nesse idioma, o ativa por oportunidades. Segundo Frese
termo iniciativa remete à ideia de traço (2001), o comportamento pró-ativo é uma
disposicional, e o foco da variável em estudo “síndrome comportamental resultante de
está no comportamento. Assim, seguindo o três elementos-chave: autoiniciado, foco no
mesmo posicionamento dos autores futuro e persistente diante dos obstáculos”
brasileiros (Kamia & Porto, 2009; Veiga, (p. 100). Afirmar que se trata de uma
Porto, Lima & Canova, 2008; Veiga, Torres síndrome comportamental significa dizer
& Bruno-Faria, 2011), neste trabalho, optou- que se refere à ocorrência de diversos
se por denominar o construto personal comportamentos que, juntos, significam
initiative de comportamento pró-ativo. O iniciativa.
comportamento pró-ativo é definido como: Frese, Fay, Hilburger, Leng e Tag (1997)
examinam cinco elementos presentes na
... um padrão de comportamentos que
implicam iniciativas as quais vão além conceituação, a saber: é consistente com as
daquilo que está nas exigências do cargo. metas da organização, focado no longo
É caracterizado por cinco elementos: é
consistente com as metas da organização, prazo, direcionado para um objetivo
focado no longo-prazo, direcionado para
um objetivo específico, persistente diante específico, persistente diante dos obstáculos
dos obstáculos e autoiniciado. (Frese, Kring, e autoiniciado:
Soose & Zempel, 1996, p. 38)

Em conceituação semelhante, o conceito


(1) consistente com as metas da
é definido como:
organização: esse construto se refere

... o conjunto de comportamentos dirigidos exclusivamente àqueles comportamentos


a metas em que o trabalhador busca que beneficiam a organização, de modo que,
espontaneamente por mudanças no seu
ambiente de trabalho que visam solucionar para serem considerados pró-ativos, os
problemas e implementar ideias que
beneficiam a organização. Esses comportamentos devem estar ligados à
comportamentos são restritos à organização missão da organização;
e podem se manifestar de diferentes formas
no contexto de trabalho e envolvem três (2) foco no longo prazo: um aspecto a ser
dimensões básicas: (1) busca ativa por
oportunidades de mudança, (2)
considerado é a temporalidade do objetivo,
planejamento e execução de ideias, (3) pois, na iniciativa pessoal, a ênfase está no
enfrentamento de obstáculos. (Kamia &
Porto, 2009, p. 361) futuro. Por exemplo, se a máquina de um
trabalhador quebra e ele solicita o conserto,
Ao analisar comparativamente as
o foco está no curto prazo, pois ele precisa
definições de Frese, Kring, Soose & Zempel

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continuar a executar o seu trabalho. Todavia, trabalhador apresentou algum


se ele avalia que o problema pode acontecer comportamento além daqueles requeridos.
novamente e busca alternativas para que isso Para tanto, foram feitas perguntas como:
não ocorra (como dar sugestões à equipe “você se lembra de alguma situação, no
técnica, aprender a consertar o último ano, em que você tenha analisado
equipamento), o foco passa a estar no longo algum problema do seu ambiente de
prazo. E, nessa última situação, tem-se um trabalho e proposto uma solução?”.
comportamento pró-ativo; Na segunda etapa, o pesquisador
(3) direcionada a objetivos específicos: a apresentava alguns problemas como: “o que
definição dos objetivos e metas específicas é você faria se os seus colegas de trabalho
mandatória, pois eles serão transformados sempre cometessem erros que exigissem que
em ação. Os objetivos são o ponto de você trabalhasse mais?”. Após o participante
partida da ação, eles são como dar a sua resposta (por exemplo, chamaria o
representações internas de estados supervisor para ajudar), o pesquisador
almejados; levantava uma razão para o fracasso de tal
(4) persistente diante das barreiras: ao se alternativa (o supervisor não terá tempo para
programarem ideias com foco no futuro, se envolver no problema), a fim de verificar
podem surgir diversos problemas ao longo se o respondente apresentava uma nova
do percurso. Se a pessoa desiste diante deles, resposta e, a cada nova proposta, outra
não há a iniciativa. É preciso que haja barreira era levantada. O objetivo dessa
persistência no alcance das metas para que o etapa era avaliar enfrentamento de
objetivo seja alcançado; obstáculo.
(5) autoiniciada e pró-ativa: os A terceira parte foi denominada de
comportamentos vão além do que é abordagem pró-ativa, e nela o pesquisador
requerido formalmente; o trabalhador deve analisava as respostas anteriores e verificava
analisar o seu ambiente de trabalho e se a pessoa tinha padrões de resposta que
identificar oportunidades de mudança sem implicavam superação de barreiras ou
que haja uma exigência formal para tal. simplesmente delegava as soluções a outrem.
Num quarto momento, foi adotada uma
Medida do comportamento pró-ativo medida geral de iniciativa, a qual
Os proponentes do conceito de correspondia a uma impressão geral do
comportamento pró-ativo (Frese, Kring, entrevistador sobre o grau de iniciativa
Soose & Zempel, 1996) desenvolveram pessoal do respondente. Essa análise era
abordagem multimétodo para sua realizada ao término da entrevista e
investigação. A metodologia desenvolvida ancorada nos elementos constituintes da
por eles abarca diversas etapas. definição de comportamento pró-ativo.
Primeiramente, tem-se uma medida geral de Em quinto lugar, foi usada uma medida
iniciativa no trabalho para verificar se o de iniciativa para estudar. Entre os itens,

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tem-se: “você tem intenção de participar de Bruno-Faria, no prelo), foi proposta a versão
algum programa de educação relacionado reduzida da ECPO. Para o desenvolvimento
com o seu trabalho?”. Uma sexta estratégia da versão reduzida, a ECPO foi aplicada a
foi à utilização de uma escala autoaplicável uma amostra de conveniência de 1.205
sobre comportamentos pró-ativos, com itens trabalhadores de diferentes organizações e, a
como: “eu ativamente ataco os problemas”. partir desses dados, foi empreendida nova
Em sétimo lugar, foi utilizada uma medida análise fatorial. Após seguirem as
de comportamentos pró-ativos, a qual foi recomendações presentes nos compêndios
respondida pelo cônjuge do trabalhador. As de psicometria (Pasquali, 2005), a nova
cinco primeiras medidas eram avaliadas pelo escala ficou composta por 13 itens, a
entrevistador e, num segundo momento, confiabilidade obtida foi de 0,94 e a
outro entrevistador treinado as avaliava. unifatorialidade confirmada. Assim, dada a
Para testar o modelo, as medidas foram qualidade psicométrica da versão reduzida
aplicadas a amostras representativas de da ECPO, neste estudo, ela foi aplicada.
trabalhadores das Alemanha Oriental e
Ocidental em três estudos distintos. Em Antecedentes de comportamento pró-
todos eles, os diversos instrumentos ativo
apresentaram confiabilidade satisfatória (alfa Crant (2000), a partir da análise da
de 0,70 a 0,93) e se correlacionaram literatura, propõe que o comportamento
moderadamente (Frese, Kring, Soose & pró-ativo é influenciado por variáveis
Zempel, 1996). Em trabalho posterior, Fay e individuais e contextuais conforme ilustra a
Frese (2001) analisaram 11 estudos que Figura 1. Os fatores individuais podem ser
também utilizaram essas medidas e divididos em duas categorias: na primeira,
verificaram que a escala (sexta estratégia) estão os aspectos disposicionais, como
possui validade de construto e o conceito de personalidade pró-ativa e autoeficácia; e, na
comportamento pró-ativo é unidimensional. segunda, estão aspectos como necessidade
No Brasil, foi desenvolvida e validada a de realização e envolvimento com o
Escala de Comportamento Pró-ativo nas trabalho.
Organizações (ECPO) (Kamia & Porto, Entre os antecedentes contextuais, são
2009). Os resultados da análise fatorial citados cultura organizacional, normas
mostraram a existência de um único fator, o organizacionais e suporte gerencial. Além
qual explicou 43% da variância total. disso, Crant (2000) destaca que os modelos
Considerando como ponto de eliminação de investigação devem considerar os
dos itens a carga fatorial inferior a 0,50, a processos cognitivos que levam as pessoas a
escala final ficou composta por 27 itens. A se comportarem de maneira pró-ativa, ou
confiabilidade obtida através do alfa de não; de modo que um avanço na área
Cronbach foi de 0,95. deveria ser a “identificação de novos
Em outro trabalho (Veiga, Torres & moderadores” (p. 454). Nesse modelo,

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verifica-se ainda que o comportamento pró- (Crant, 1995), avaliações feitas por
ativo se relaciona com resultados; por supervisores (Thompson, 2005) e sucesso na
exemplo, o desempenho de vendedores (Pitt, carreira (Seibert, Crant & Kramer, 1999).
Ewing & Berthon, 2002) e corretores

Figura 1: Modelo dos antecedentes de comportamento pró-ativo

Diferenças individuais
- Construtos relacionados
com pró-atividade
- Personalidade pró-ativa
- Iniciativa pessoal
- Autoeficácia no papel
- Busca por desafios

Outras diferenças Comportamentos


individuais pró-ativos
- Envolvimento com o trabalho - Ações em geral
- Orientação para objetivos - Identificação de
- Desejo por feedback oportunidades
- Necessidade por orientação - Desafiar o status quo Resultados
- Criação de condições
favoráveis - Desempenho

Comportamentos - Sucesso na carreira


de contexto específico
- Socialização
- Busca por feedback
- Inovação
- Coping
Fatores contextuais

- Cultura organizacional
- Normas sociais
- Suporte gerencial

Fonte: Adaptado de Crant (2000, p. 438)

Ao revisar a literatura, verifica-se que têm Os estudos que investigam a relação entre
sido investigados como preditores as pró-atividade e organizacional são raros
variáveis contextuais: cultura organizacional (Den Hartog & Belschak, 2007) e os
(Crant, 2000), valores organizacionais (Veiga, achados não são consensuais (Strauss,
Porto, Lima & Canova, 2008; Veiga, Torres Griffin & Rafferty, 2009). Parker, Turner e
& Bruno-Faria, 2011), clima organizacional Williams (2006), por um lado, dizem que
(Veiga, Porto & Laboissière, 2011), controle elevado grau de afeto positivo não significa
(Fay & Frese, 2001; Frese, 2001), autonomia que o trabalhador irá se engajar em
(Grant & Ashford, 2008; Parker, Turner & comportamentos pró-ativos. Nessa mesma
Williams, 2006), complexidade (Frese, Garst direção, Fay e Frese (2001) sustentam que
& Fay, 2007), suporte da chefia (Fay & são os afetos negativos que encetam os
Frese, 2001). Já na lista dos aspectos comportamentos pró-ativos.
individuais, destacam-se: personalidade Por outro lado, Strauss, Griffin e Rafferty
(Crant, 2000; Frese, 2001) e autoeficácia (2009) encontraram que comprometimento
(Ohly & Fritz, 2007). organizacional afetivo está associado

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significativamente com comportamento pró- de estudos e significativas contribuições


ativo. Os autores defendem que indivíduos teóricas para o estudo do comprometimento
com forte comprometimento com a organizacional (Medeiros, Albuquerque,
organização são mais prováveis de sugerir e Siqueira & Marques, 2002; Ribeiro, 2008;
implementar melhorias na organização. Ribeiro & Bastos, 2010; Bastos & Menezes,
Hakanen, Perhoniemi, Toppinem-Tanner 2010; Moscon, Bastos & Souza, 2012).
(2008) afirmam que os trabalhadores, ao Ao discorrer acerca do
sentirem afetos positivos, motivação no comprometimento organizacional, é
trabalho e engajamento com o trabalho, ao relevante analisar a sua dimensionalidade,
longo do tempo, irão apresentar isto é, trata-se de um construto
comportamentos de iniciativa no ambiente unidimensional ou multidimensional. Alguns
de trabalho. Outros trabalhos apontaram autores o definem como um construto
ainda que o comprometimento com a equipe unidimensional (Mowday, Steers & Porter,
esteja associado com a pró-atividade (Den 1979); enquanto outros o classificam como
Hartog & Belschak, 2007), e sendo multidimensional (Meyer & Allen,
comprometimento organizacional afetivo é 1991; O’Reilly & Chatman, 1986). Apesar
preditor de geração e implementação de dos avanços obtidos, o estudo do
ideias inovadoras no ambiente de trabalho comprometimento organizacional ainda
(Ng, Feldman & Lam, 2010). carece de refinamento conceitual (Moscon,
Bastos & Souza, 2012), de modo que o
Comprometimento organizacional debate sobre a dimensionalidade do
As organizações querem empregados construto permanece atual (Menezes &
identificados com sua visão, metas e, por Bastos, 2011).
conseguinte, que busquem alcançá-las. Esse Ao fazer um levantamento da literatura
interesse pelo vínculo que o trabalhador nacional e estrangeira, Medeiros,
estabelece com a sua organização tem levado Albuquerque, Siqueira & Marques (2002)
a um aumento no número de estudos sobre afirmam que existe um consenso entre os
o comprometimento organizacional ao autores quanto às suas múltiplas bases
longo dos anos. (afetiva, instrumental ou calculativa e
No exterior, há diversos trabalhos normativa) e focos (organização, carreira e
produzidos a partir da década de 1970 sindicato). Diversas pesquisas realizadas no
(Mowday, Steers & Porter, 1979; Mowday, país corroboram essa visão (Medeiros &
Porter & Steers, 1982). No Brasil, os Enders, 1998; Moraes, Marques & Correia,
primeiros estudos foram empreendidos no 1998; Pinto, 2011). Neste trabalho, assume-
final da década de 1980 (Borges-Andrade, se que o comprometimento organizacional é
Afanasieff & Silva, 1989). A despeito dos um construto multidimensional (três
estudos nacionais terem sido iniciados componentes) do comprometimento.
depois, atualmente, há um número elevado Enfatiza-se que, embora as três dimensões

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tratem do mesmo construto, elas possuem Para avaliar o construto, Siqueira (1995)
uma dinâmica própria, bem como construiu e validou uma escala denominada
antecedentes e consequentes distintos Escala de Comprometimento
(Mathieu & Zajac, 1990; Ribeiro & Bastos, Organizacional Afetivo (ECOA), cuja forma
2010). completa é composta por 18 expressões de
O comprometimento afetivo é afetos direcionados à organização. Todos os
caracterizado por um vínculo emocional que itens formaram um único fator e os itens
o trabalhador estabelece com a organização. apresentaram correlação item total de 0,50 a
O comprometimento calculativo é definido 0,83. A confiabilidade da escala obtida foi de
como a necessidade de permanecer na 0,95, valor este considerado excelente
organização devido à comparação do (Pasquali, 2005).
custo/benefício associados ao deixar a Ao falar de comprometimento
empresa. O comprometimento normativo é organizacional calculativo, uma ideia central
caracterizado por uma crença que o para sua compreensão é a de side-bets,
trabalhador tem de que é obrigado a ficar na termo utilizado por Becker (1960) para se
empresa (Meyer & Allen, 1991). referir ao ato do indivíduo avaliar
Para compreender a visão positivamente seus resultados (posição
multidimensional do comprometimento alcançada na organização, bem como
organizacional, faz-se mister apresentar os benefícios) decorrentes de seus
enfoques afetivo, instrumental ou calculativo investimentos e, ao mesmo tempo, pela
e normativo, pois, a partir desses, é possibilidade de perder essas vantagens caso
formulado o modelo tridimensional de se desligasse da organização. Na definição
(Allen e Meyer, 1990; Meyer & Allen, 1991), desse componente, existe a ideia de troca
o qual é o mais difundido e aceito nos econômica com a empresa, na medida em
diferentes estudos (Moscon, Bastos & que é vantajoso para o empregado
Souza, 2012), e também foi adotado neste permanecer. Esse comprometimento
trabalho. calculativo/instrumental é “um produto da
Um grupo de pesquisadores liderados por comparação de relações racionais. Pondera-
Porter (Porter, Lawler & Hackman, 1975) se o custo/benefício de ficar com o de
começou a estudar comprometimento na ingressar em outra organização” (Ribeiro &
década de 1970. Para eles, o Bastos, 2010, p. 8).
comprometimento era formado por três Com o objetivo de construir e validar um
elementos: forte crença e aceitação dos instrumento adequado à realidade brasileira,
valores organizacionais, disposição em Siqueira (1995) elaborou a Escala de
exercer um esforço pela organização e o Comprometimento Organizacional
desejo de se manter ligado à organização. O Calculativo (ECOC), a qual é formada por
enfoque afetivo foi o que recebeu maior 15 frases que descrevem perdas ou custos
atenção por parte dos autores. associados ao rompimento das relações de

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trabalho com a empresa. Essa escala está componentes: afetivo, instrumental ou


dividida em quatro dimensões que medem: calculativo e normativo. Esses autores
perdas sociais no trabalho (α = 0,72), perdas introduzem a ideia de que é mais apropriado
de investimentos na organização (α = 0,71), falar em componentes do
perdas de retribuições organizacionais (α= comprometimento, em vez de tipos, pois um
0,71) e perdas profissionais (α = 0,78). mesmo trabalhador pode experienciar todas
No que tange ao comprometimento as formas em diferentes graus.
organizacional normativo, um importante Segundo eles, o que é comum a essas três
marco na operacionalização do conceito foi abordagens é que o comprometimento é um
apresentado por McGee e Ford (1987), pois, estado psicológico que caracteriza a relação
ao estudarem os instrumentos para medir os do trabalhador com a organização e tem
componentes – afetivo e instrumental –, eles implicações na decisão de continuar ou não
identificaram um novo componente do como membro da organização. O
comprometimento, o normativo. Um comprometimento afetivo se refere à ligação
vínculo normativo é formado por um emocional, à identificação e ao
conjunto de pensamentos, reconhecimento envolvimento com a organização. Os
de obrigações e deveres morais para com a empregados que têm um elevado
organização, os quais são acompanhados por comprometimento afetivo continuam na
sentimentos de culpa e preocupação quando organização porque querem. O
o empregado cogita em deixar a empresa. comprometimento instrumental ou
Assim, o vínculo normativo baseia-se na calculativo diz respeito ao conhecimento dos
esfera cognitiva, pois reflete a percepção de custos associados com a saída da
obrigações e deveres morais que o organização. Os empregados que estão
empregado tem em relação à organização. ligados à organização com
Uma escala para avaliar esse tipo de comprometimento organizacional
comprometimento foi desenvolvida por calculativo permanecem trabalhando nela
Siqueira (2000), esta é formada por sete porque avaliam que precisam. Por fim, o
frases do cujo índice de precisão é de 0,86, comprometimento normativo, refere-se a
os itens formam um único fator. um sentimento de obrigação de continuar na
empresa. Dessa maneira, os empregados
O modelo multidimensional de Meyer e com alto nível de comprometimento
Allen normativo continuam na organização
Com o objetivo de integrar o arcabouço porque se sentem obrigados.
teórico e desenvolver uma metodologia Fundamentando-se no modelo de
integrada de compreensão do comprometimento organizacional descrito
comprometimento organizacional, Meyer e acima, os autores realizaram diversos
Allen (1991) propuseram um modelo de estudos com o objetivo de operacionalizar o
comprometimento formado por três construto e, posteriormente, construir e

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validar escalas para medir os três Rego (2003) levanta que o desejo dos
componentes do comprometimento (Allen trabalhadores em contribuir com os
& Meyer, 1990; Meyer & Allen, 1984, 1991; objetivos organizacionais parece ser
Meyer, Allen & Smith, 1993). Outros influenciado pela natureza do vínculo
trabalhos, realizados por diferentes autores, psicológico que estabelecem com a
com base no modelo de Allen e Meyer organização. Assim, indivíduos
(1990) e Meyer & Allen (1991), confirmaram comprometidos afetivamente tenderiam a
a estrutura de três componentes (Dunham, buscar mais ativamente os objetivos da
Grube & Castañeda, 1994; Hackett, Bycio & organização. O vínculo normativo também
Hausdorf, 1994; Herscovitch & Meyer, 2002; se mostra relacionado positivamente com
Irving, Coleman & Cooper, 1997; Meyer, comportamentos que favorecerão a
Allen & Smith, 1993). Contudo, os organização, embora, o sentimento de
resultados não são redundantes quanto à obrigação resultante desse enfoque não
escala de comprometimento calculativo, pois suscite o mesmo entusiasmo do
não há consenso se ela é uma medida componente afetivo. Por outro lado, se o
unidimensional (McGee & Ford, 1987; vínculo mais presente for o calculativo, os
Meyer, Allen & Gellatly, 1990). trabalhadores tenderão a apresentar apenas
A despeito da ampla aceitação e utilização aqueles comportamentos mínimos exigidos,
do modelo tripartite de comprometimento podendo, inclusive, apresentar
organizacional, esse construto ainda carece comportamentos não desejados pela
de precisão conceitual (Moscon, Bastos & organização. Na literatura nacional, são
Souza, 2012). Entre as indagações postas, restritos os trabalhos que investigam as
tem-se: (1) a unidimensionalidade do consequências do comprometimento
componente calculativo (McGee & Ford, organizacional (Medeiros, Albuquerque,
1987; Meyer, Allen & Gellatly, 1990); (2) Siqueira & Marques, 2002), sendo
elevada correlação entre as dimensões necessários novos estudos nessa direção
afetiva e normativa, o que leva a um (Ribeiro, 2008). A partir do exposto, as
questionamento sobre a pertinência de hipóteses de pesquisa são:
ambas dado o elevado grau de sobreposição H1a: há uma relação positiva entre
(Ribeiro, 2008; Menezes & Bastos, 2011); (3) comprometimento organizacional afetivo e
serem incluídos na definição do construto comportamento pró-ativo;
aspectos relacionados com intenção de H1b: há uma relação positiva entre
permanecer na organização. Estudos comprometimento organizacional
apontam que o desejo de permanecer na normativo e comportamento pró-ativo;
organização é uma consequência do enfoque H1c: há uma relação negativa entre
afetivo, e não parte constituinte do conceito comprometimento organizacional
(Bastos & Menezes, 2010; Menezes & calculativo e comportamento pró-ativo.
Bastos, 2011).

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Método participação, explicações sobre o sigilo e


Amostra possibilidade de desistir de participar a
A amostra pesquisada foi não qualquer momento, sem nenhum prejuízo
probabilística de 473 trabalhadores oriundos para o respondente. Na segunda parte do
de 22 organizações públicas e privadas do instrumento, estavam as medidas de
Distrito Federal, sendo de, comprometimento organizacional afetivo,
aproximadamente, 20 o número de calculativo e normativo, compostas por
respondente em cada uma delas. A idade cinco itens, 15 itens e sete itens,
média foi de 32,54 anos (dp= 8,98), a respectivamente. Esse instrumento foi
escolaridade variou de segundo grau (23%) a desenvolvido e validado por Siqueira (1995,
pós-graduação (26,8%) e o tempo médio de 2000, 2001) e a confiabilidade das medidas
serviço foi de 5,83 anos (dp= 6,53). Entre os foi de 0,92 para os componentes: afetivo e
cargos ocupados, 11,5% possuíam cargos de normativo e 0,86 para o calculativo.
gestor, 28,5% de técnicos e 25,1% de cargos A terceira parte trazia a versão reduzida
administrativos e o restante não informou. da Escala de Comportamentos Pró-Ativos
Para a inspeção e análise do banco de nas Organizações (Veiga, Torres & Bruno-
dados, foram seguidas as recomendações de Faria, no prelo), a qual é formada por 13
Tabachnick e Fidell (2001). Utilizando a itens e possui confiabilidade de 0,94. Por
distância Mahalanobis, foram identificados e fim, na quarta parte foram solicitados os
eliminados dezesseis outliers multivariados, dados demográficos (sexo, idade,
o que resultou em uma amostra final de 457 escolaridade) e funcionais (cargo, tempo na
respondentes. empresa). A confiabilidade, neste estudo, foi
similar ou superior àquela das pesquisas
Instrumentos originais, como apresentado na Tabela 1, a
O questionário para a coleta de dados foi qual traz também exemplos de itens das
composto por quatro partes. Na primeira, escalas utilizadas.
foi apresentado o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE), em que
constavam objetivo da pesquisa, convite à

Tabela 1: Exemplos de itens e confiabilidade das escalas utilizadas


Variável Exemplo de item Confiabilidade neste
estudo
Comprometimento A empresa onde trabalho me faz sentir...... 0,94
organizacional afetivo ...Animado com ela
... Contente com ela
Comportamento Pedir demissão da empresa onde trabalho e ir traba- 0,90
organizacional calcu- lhar para outra empresa não valeria a pena porque...

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Relações entre comportamento pró-ativo e comprometimento organizacional 138

lativo ... Eu perderia o prestígio que tenho hoje por ser em-
pregado dessa empresa.
... Eu teria mais coisas a perder do que a ganhar com
esse pedido de demissão

Comprometimento Acredito que... 0,85


organizacional ... Eu seria injusto com essa empresa se pedisse de-
normativo missão agora e fosse trabalhar para outra.
... É minha obrigação continuar trabalhando para essa
empresa.

Comportamento Participo ativamente da empresa analisando as melho- 0,95


pró-ativo res práticas para o trabalho.
Crio oportunidades para agir de forma a melhorar
esta organização.

Procedimento de coleta e análise de instrumento seria aplicado.


dados Para análise dos dados, foram feitas
As organizações foram selecionadas por análises estatísticas descritivas (média, desvio
conveniência e, em seguida, apresentado o padrão), análise de correlação de Pearson e
objetivo do estudo. Após o aceite da regressão múltipla padrão.
organização, a pesquisa foi apresentada aos
trabalhadores e aqueles que concordaram Resultados
em participar responderam às medidas em Na Tabela 2, estão apresentadas as
seu local de trabalho individualmente. A estatísticas descritivas bem como as
organização definiu os setores nos quais o correlações entre as variáveis.

Tabela 2: Estatísticas descritivas e correlações entre as variáveis


Variável Média DP 1 2 3
1. Comportamento Pró-ativo 3,31 0,88 -
2. CO_afetivo 3,10 0,92 0,25** -
3. CO_normativo 2,45 0,77 0,31** 0,44** -
4. CO_calculativo 2,48 0,70 0,35** 0,32** 0,56**
** p < 0,01

Conforme observado na Tabela 2, os médio da escala (3,31; desvio padrão= 0,88).


trabalhadores pesquisados apresentaram Entre os componentes de
comportamento pró-ativo acima do ponto comprometimento organizacional, o que

▲ Gerais: Revista Interinstitucional de Psicologia, 6 (1), jan - jun, 2013,127-143


H. M. S. Veiga et al 139

apresentou maior média foi o afetivo (3,10; comprometimento organizacional afetivo é


desvio padrão = 0,92), seguido pelo algo a ser perseguido pelas organizações,
calculativo (2,48; desvio padrão= 0,70); a pois ele se mostra antecedente de melhor
dimensão com menor média foi a normativa desempenho no trabalho, maior esforço na
(2,45; desvio padrão= 0,77). realização das atividades no trabalho, menor
Ao analisar as correlações entre rotatividade e menos absenteísmo (Siqueira
comportamentos pró-ativo e organizacional, & Gomide Jr, 2004).
observa-se que aquele conceito se relacionou As hipóteses de pesquisa (“H1a” e
positivamente com as bases: calculativa (r= “H1b”) foram confirmadas, pois os
0,35; p< 0,01), normativa (r= 0,31; p< 0,01) comprometimentos organizacional afetivo e
e afetiva (r= 0,25; p< 0,01). normativo se mostraram antecedentes de
Em seguida, foi realizada a análise de comportamento pró-ativo. Verificou-se que
regressão múltipla padrão, a fim de verificar a identificação com as metas e o sentimento
a influência das variáveis antecedentes de obrigação em permanecer na organização
(comprometimento organizacional afetivo, explicaram os comportamentos pró-ativos.
calculativo e normativo) na variável critério. Ribeiro e Bastos (2010) afirmam que os
O conjunto de preditores explicou 16% da trabalhadores comprometidos tendem a
variância do comportamento pró-ativo (r= demonstrar esforços extras para contribuir
0,40; r2= 0,16; F= 27,4; p<0,001) e o fator voluntariamente com a organização. Neste
que mais contribuiu foi calculativo (β= 0,25; estudo tal assertiva foi confirmada; mais
t= 4,70; p<0,001), seguido de afetivo especificamente, observou-se que os
(β=0,11; t=2,4; p< 0,05) e normativo trabalhadores comprometidos apresentam
(β=0,11; t=2,12; p< 0,05). comportamentos autoiniciados com vistas a
antecipar problemas futuros e, dessa forma,
Discussão e conclusão beneficiar a organização. Os trabalhadores
Os trabalhadores pesquisados relatam que sentem um “forte vínculo afetivo com a
apresentar comportamentos de iniciativa no organização são mais prováveis de dar
ambiente de trabalho. Tais comportamentos sugestões e implementar melhorias”
são relevantes, pois estão associados com (Strauss, Griffin & Rafferty, 2009, p. 288).
criação e implementação de ideias novas no Tais achados corroboram outras
ambiente laboral (Bunce & West, 1995), com pesquisas que apontam o relacionamento
sucesso e efetividade organizacional (Crant, positivo entre os construtos (Hakanen,
2000) e com desempenho no trabalho Perhoniemi, Toppinem-Tanner, 2008;
(Frese, 2008; Parker & Collins, 2008). Strauss, Griffin & Rafferty, 2009). Parker
Entre os vínculos estabelecidos com a (2007, citado por Strauss, Griffin & Rafferty,
organização, prevalece o afetivo, o que 2009) também observou que o afeto
denota que eles se identificam com a visão e positivo está diretamente associado com a
objetivos da organização na qual atuam. O persistência para o alcance de objetivos pró-

▲ Gerais: Revista Interinstitucional de Psicologia, 6 (1), jan - jun, 2013,127-143


Relações entre comportamento pró-ativo e comprometimento organizacional 140

ativos. Meyer, Stanley, Herscovithc & compreender as inter-relações entre as


Topolnytsky (2002) também relataram que variáveis em questão. Outra proposição é a
os componentes: afetivo e normativo se utilização da abordagem multimétodo para
relacionaram positivamente com investigação do comportamento pró-ativo.
comportamentos de cidadania Sugere-se também a utilização de outros
organizacional, sendo mais forte para o instrumentos de comprometimento
primeiro enfoque, o que reforça a ideia de organizacional, tais como os que aferem as
que o vínculo afetivo e normativo se intenções comportamentais de
associam com comportamentos de pró- comprometimento para investigar as
atividade. relações com pró-atividade. Acrescenta-se
Diferentemente do que havia sido ainda a importância de serem incluídas
hipotetizado (“H1c”), o comprometimento outras variáveis no modelo de investigação
organizacional calculativo se relacionou com vistas a ampliar a compreensão acerca
positivamente com pró-atividade, sendo esse do modo como o comprometimento dos
enfoque aquele com maior contribuição trabalhadores pode afetar na pró-atividade.
significativa única. Pode-se inferir que tais Entre esses aspectos, podem ser incluídas
trabalhadores avaliam que têm mais custos variáveis como valores pessoais, normas
que benefícios com o rompimento do sociais e cultura organizacional.
vínculo com a organização e, assim sendo,
avaliam que devem apresentar Referências
comportamentos de iniciativa no trabalho. Allen N. J., & Meyer, J. P. (1990). The
measurement and antecedents of affective,
Depreende-se que o trabalhador com continuance, and normative commitment to the
vínculo calculativo apresenta organization. Journal of Occupational Psychology, 63,
1-18.
comportamentos pró-ativos, pois avalia que
Allen N. J., & Meyer, J. P. (1996). Affective,
são um requisito relevante para sua continuance, and normative commitment to the
manutenção na organização. Assim, não organization: an examination of construct
validity. Journal of Vocational Behaviour, 49(3), 252-
apenas os afetos positivos e o sentimento de 276.
obrigação para com a empresa predisseram Bastos, A. V. B., & Menezes, I. G. (2010)
pró-atividade, mas também a avaliação Intenção de permanência na organização: um
constituinte ou consequente do
cognitiva de que sair da empresa traz mais comprometimento organizacional? Estudos de
Psicologia, 15(3), 299-307.
prejuízos que ganhos.
Algumas limitações podem ser apontadas Bateman, T. S., & Crant, J. M. (1993). The
proactive component of organizational behavior.
no estudo, como a utilização de pesquisa Journal of Organizational Behavior, 14(2), 103-118.
exclusivamente quantitativa, não foi
Bateman, T. S., & Crant, J. M. (1999). Proactive
verificada a representatividade da amostra behavior: meaning, impact, recommendations.
Business Horizons, 42(3), 63-70.
em cada organização pesquisada. Um avanço
para novos estudos seria a realização de Becker, H. S. (1960). Notes on the concept of
commitment. The American Journal of Sociology,
entrevistas e/ou grupo focal para 66(1), 32-40.

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