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Relacoes Entre Comportamento Pro Ativo e
Relacoes Entre Comportamento Pro Ativo e
Veiga et al 127
Heila Magali da Silva Veiga *1; Sheila Francisca Machado **; Izabela
Maria de Oliveira Pinheiro ** & Cínthia Regina Moura Rebouças**
* Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, Brasil
** Centro Universitário de Brasília, Brasília, Brasil
Resumo
O comportamento pró-ativo diz respeito a ações que visam beneficiar a organização e antecipar
problemas futuros, por esse motivo é altamente aquilatado no atual mundo do trabalho. Entre os
antecedentes dessa variável, um aspecto pouco investigado e com resultados contraditórios é o
comprometimento organizacional. Com vistas a preencher tal lacuna, o objetivo geral do presente
trabalho é investigar a influência do comprometimento organizacional (afetivo, calculativo e
normativo) no comportamento pró-ativo. Para a condução do estudo, foi utilizada uma amostra não
probabilística de 457 trabalhadores de 22 organizações públicas e privadas. Foram utilizadas escalas
validadas psicometricamente para aferir cada uma das variáveis. Os resultados mostram que os
trabalhadores pesquisados apresentam pró-atividade acima do ponto médio da escala (3,31; dp=
0,88). A análise de regressão múltipla padrão mostrou que as três variáveis antecedentes explicaram
16% da variável critério, comportamento pró-ativo. Os resultados são discutidos com base na
literatura da área.
Palavras-Chave: Comportamento pró-ativo, Comprometimento organizacional, Comportamento
organizacional.
Abstract
Proactive behavior is related to actions that will benefit the organization and anticipate future
problems; therefore it is highly gauged in the current labor market. Among the antecedents of this
variable is the impact of organizational commitment which is one of little investigated and with
contradictory results. In order to address this research gap, the overall purpose of the present study is
to identify the influence of organizational commitment (affective, calculative and normative) on
proactive behavior. To conduct the study a non-probability sample of 457 workers from twenty-two
public and private organizations was selected. Psychometrically validated scales were used to measure
each variable. The results show that workers presented pro-activity above the midpoint of the range
(3.31, SD = 0.88). An analysis of the standard multiple regression showed that the three antecedent
variables explained 16% of the criterion variable, proactive behavior. The results are discussed b ased
1 Contato: heila.veiga@gmail.com
tem-se: “você tem intenção de participar de Bruno-Faria, no prelo), foi proposta a versão
algum programa de educação relacionado reduzida da ECPO. Para o desenvolvimento
com o seu trabalho?”. Uma sexta estratégia da versão reduzida, a ECPO foi aplicada a
foi à utilização de uma escala autoaplicável uma amostra de conveniência de 1.205
sobre comportamentos pró-ativos, com itens trabalhadores de diferentes organizações e, a
como: “eu ativamente ataco os problemas”. partir desses dados, foi empreendida nova
Em sétimo lugar, foi utilizada uma medida análise fatorial. Após seguirem as
de comportamentos pró-ativos, a qual foi recomendações presentes nos compêndios
respondida pelo cônjuge do trabalhador. As de psicometria (Pasquali, 2005), a nova
cinco primeiras medidas eram avaliadas pelo escala ficou composta por 13 itens, a
entrevistador e, num segundo momento, confiabilidade obtida foi de 0,94 e a
outro entrevistador treinado as avaliava. unifatorialidade confirmada. Assim, dada a
Para testar o modelo, as medidas foram qualidade psicométrica da versão reduzida
aplicadas a amostras representativas de da ECPO, neste estudo, ela foi aplicada.
trabalhadores das Alemanha Oriental e
Ocidental em três estudos distintos. Em Antecedentes de comportamento pró-
todos eles, os diversos instrumentos ativo
apresentaram confiabilidade satisfatória (alfa Crant (2000), a partir da análise da
de 0,70 a 0,93) e se correlacionaram literatura, propõe que o comportamento
moderadamente (Frese, Kring, Soose & pró-ativo é influenciado por variáveis
Zempel, 1996). Em trabalho posterior, Fay e individuais e contextuais conforme ilustra a
Frese (2001) analisaram 11 estudos que Figura 1. Os fatores individuais podem ser
também utilizaram essas medidas e divididos em duas categorias: na primeira,
verificaram que a escala (sexta estratégia) estão os aspectos disposicionais, como
possui validade de construto e o conceito de personalidade pró-ativa e autoeficácia; e, na
comportamento pró-ativo é unidimensional. segunda, estão aspectos como necessidade
No Brasil, foi desenvolvida e validada a de realização e envolvimento com o
Escala de Comportamento Pró-ativo nas trabalho.
Organizações (ECPO) (Kamia & Porto, Entre os antecedentes contextuais, são
2009). Os resultados da análise fatorial citados cultura organizacional, normas
mostraram a existência de um único fator, o organizacionais e suporte gerencial. Além
qual explicou 43% da variância total. disso, Crant (2000) destaca que os modelos
Considerando como ponto de eliminação de investigação devem considerar os
dos itens a carga fatorial inferior a 0,50, a processos cognitivos que levam as pessoas a
escala final ficou composta por 27 itens. A se comportarem de maneira pró-ativa, ou
confiabilidade obtida através do alfa de não; de modo que um avanço na área
Cronbach foi de 0,95. deveria ser a “identificação de novos
Em outro trabalho (Veiga, Torres & moderadores” (p. 454). Nesse modelo,
verifica-se ainda que o comportamento pró- (Crant, 1995), avaliações feitas por
ativo se relaciona com resultados; por supervisores (Thompson, 2005) e sucesso na
exemplo, o desempenho de vendedores (Pitt, carreira (Seibert, Crant & Kramer, 1999).
Ewing & Berthon, 2002) e corretores
Diferenças individuais
- Construtos relacionados
com pró-atividade
- Personalidade pró-ativa
- Iniciativa pessoal
- Autoeficácia no papel
- Busca por desafios
- Cultura organizacional
- Normas sociais
- Suporte gerencial
Ao revisar a literatura, verifica-se que têm Os estudos que investigam a relação entre
sido investigados como preditores as pró-atividade e organizacional são raros
variáveis contextuais: cultura organizacional (Den Hartog & Belschak, 2007) e os
(Crant, 2000), valores organizacionais (Veiga, achados não são consensuais (Strauss,
Porto, Lima & Canova, 2008; Veiga, Torres Griffin & Rafferty, 2009). Parker, Turner e
& Bruno-Faria, 2011), clima organizacional Williams (2006), por um lado, dizem que
(Veiga, Porto & Laboissière, 2011), controle elevado grau de afeto positivo não significa
(Fay & Frese, 2001; Frese, 2001), autonomia que o trabalhador irá se engajar em
(Grant & Ashford, 2008; Parker, Turner & comportamentos pró-ativos. Nessa mesma
Williams, 2006), complexidade (Frese, Garst direção, Fay e Frese (2001) sustentam que
& Fay, 2007), suporte da chefia (Fay & são os afetos negativos que encetam os
Frese, 2001). Já na lista dos aspectos comportamentos pró-ativos.
individuais, destacam-se: personalidade Por outro lado, Strauss, Griffin e Rafferty
(Crant, 2000; Frese, 2001) e autoeficácia (2009) encontraram que comprometimento
(Ohly & Fritz, 2007). organizacional afetivo está associado
tratem do mesmo construto, elas possuem Para avaliar o construto, Siqueira (1995)
uma dinâmica própria, bem como construiu e validou uma escala denominada
antecedentes e consequentes distintos Escala de Comprometimento
(Mathieu & Zajac, 1990; Ribeiro & Bastos, Organizacional Afetivo (ECOA), cuja forma
2010). completa é composta por 18 expressões de
O comprometimento afetivo é afetos direcionados à organização. Todos os
caracterizado por um vínculo emocional que itens formaram um único fator e os itens
o trabalhador estabelece com a organização. apresentaram correlação item total de 0,50 a
O comprometimento calculativo é definido 0,83. A confiabilidade da escala obtida foi de
como a necessidade de permanecer na 0,95, valor este considerado excelente
organização devido à comparação do (Pasquali, 2005).
custo/benefício associados ao deixar a Ao falar de comprometimento
empresa. O comprometimento normativo é organizacional calculativo, uma ideia central
caracterizado por uma crença que o para sua compreensão é a de side-bets,
trabalhador tem de que é obrigado a ficar na termo utilizado por Becker (1960) para se
empresa (Meyer & Allen, 1991). referir ao ato do indivíduo avaliar
Para compreender a visão positivamente seus resultados (posição
multidimensional do comprometimento alcançada na organização, bem como
organizacional, faz-se mister apresentar os benefícios) decorrentes de seus
enfoques afetivo, instrumental ou calculativo investimentos e, ao mesmo tempo, pela
e normativo, pois, a partir desses, é possibilidade de perder essas vantagens caso
formulado o modelo tridimensional de se desligasse da organização. Na definição
(Allen e Meyer, 1990; Meyer & Allen, 1991), desse componente, existe a ideia de troca
o qual é o mais difundido e aceito nos econômica com a empresa, na medida em
diferentes estudos (Moscon, Bastos & que é vantajoso para o empregado
Souza, 2012), e também foi adotado neste permanecer. Esse comprometimento
trabalho. calculativo/instrumental é “um produto da
Um grupo de pesquisadores liderados por comparação de relações racionais. Pondera-
Porter (Porter, Lawler & Hackman, 1975) se o custo/benefício de ficar com o de
começou a estudar comprometimento na ingressar em outra organização” (Ribeiro &
década de 1970. Para eles, o Bastos, 2010, p. 8).
comprometimento era formado por três Com o objetivo de construir e validar um
elementos: forte crença e aceitação dos instrumento adequado à realidade brasileira,
valores organizacionais, disposição em Siqueira (1995) elaborou a Escala de
exercer um esforço pela organização e o Comprometimento Organizacional
desejo de se manter ligado à organização. O Calculativo (ECOC), a qual é formada por
enfoque afetivo foi o que recebeu maior 15 frases que descrevem perdas ou custos
atenção por parte dos autores. associados ao rompimento das relações de
validar escalas para medir os três Rego (2003) levanta que o desejo dos
componentes do comprometimento (Allen trabalhadores em contribuir com os
& Meyer, 1990; Meyer & Allen, 1984, 1991; objetivos organizacionais parece ser
Meyer, Allen & Smith, 1993). Outros influenciado pela natureza do vínculo
trabalhos, realizados por diferentes autores, psicológico que estabelecem com a
com base no modelo de Allen e Meyer organização. Assim, indivíduos
(1990) e Meyer & Allen (1991), confirmaram comprometidos afetivamente tenderiam a
a estrutura de três componentes (Dunham, buscar mais ativamente os objetivos da
Grube & Castañeda, 1994; Hackett, Bycio & organização. O vínculo normativo também
Hausdorf, 1994; Herscovitch & Meyer, 2002; se mostra relacionado positivamente com
Irving, Coleman & Cooper, 1997; Meyer, comportamentos que favorecerão a
Allen & Smith, 1993). Contudo, os organização, embora, o sentimento de
resultados não são redundantes quanto à obrigação resultante desse enfoque não
escala de comprometimento calculativo, pois suscite o mesmo entusiasmo do
não há consenso se ela é uma medida componente afetivo. Por outro lado, se o
unidimensional (McGee & Ford, 1987; vínculo mais presente for o calculativo, os
Meyer, Allen & Gellatly, 1990). trabalhadores tenderão a apresentar apenas
A despeito da ampla aceitação e utilização aqueles comportamentos mínimos exigidos,
do modelo tripartite de comprometimento podendo, inclusive, apresentar
organizacional, esse construto ainda carece comportamentos não desejados pela
de precisão conceitual (Moscon, Bastos & organização. Na literatura nacional, são
Souza, 2012). Entre as indagações postas, restritos os trabalhos que investigam as
tem-se: (1) a unidimensionalidade do consequências do comprometimento
componente calculativo (McGee & Ford, organizacional (Medeiros, Albuquerque,
1987; Meyer, Allen & Gellatly, 1990); (2) Siqueira & Marques, 2002), sendo
elevada correlação entre as dimensões necessários novos estudos nessa direção
afetiva e normativa, o que leva a um (Ribeiro, 2008). A partir do exposto, as
questionamento sobre a pertinência de hipóteses de pesquisa são:
ambas dado o elevado grau de sobreposição H1a: há uma relação positiva entre
(Ribeiro, 2008; Menezes & Bastos, 2011); (3) comprometimento organizacional afetivo e
serem incluídos na definição do construto comportamento pró-ativo;
aspectos relacionados com intenção de H1b: há uma relação positiva entre
permanecer na organização. Estudos comprometimento organizacional
apontam que o desejo de permanecer na normativo e comportamento pró-ativo;
organização é uma consequência do enfoque H1c: há uma relação negativa entre
afetivo, e não parte constituinte do conceito comprometimento organizacional
(Bastos & Menezes, 2010; Menezes & calculativo e comportamento pró-ativo.
Bastos, 2011).
lativo ... Eu perderia o prestígio que tenho hoje por ser em-
pregado dessa empresa.
... Eu teria mais coisas a perder do que a ganhar com
esse pedido de demissão
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