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Sr ener tacc eee areal tabito 255 6.1. A globalizagao Ua economia 255 6.2. Eleltos da olcbalizagao sobre o mcvimento sindical ~ 287 6.3, Aclausula socal’... 164. A Decarogdo sobre 8 principios ede fundamenalenotrabaino.. 262 6.5. As cite convencies internacional. usu. 05.1. Cunvengs. 37, de 1848, Tata da tberdade sindcal © pote icaizagdu i 0 direlta de sink 8.5.2. A Convenedo n. 98, 1919 Tate do eel ge sncealzaac de negociagso caletivacnm:nenmman 265 6.5.3. AConvengo , 29, de 1930, Tale do tabelho fergade ve 265 6.54. AConvengaa n, 105, de 1957. Trala da abcligto do trabalho foryade . 265 6.8.8. AConvengaa n. 138, de 1873 Troe da dace minima pere acini 's80.no emprego... ia 6.56.4 Convengao n 132, de 1999. Dispce ecbre a probigac cas ricies formas ¢e trabalho infantil e ayao imediata para sua eliminagae... 266 6,7. Ganvengéa 100, de 1951, ata da gualdade do remuneragdo.. 267 858. AConvengh 11, do 1988, Trot da destino (emrroge © 20UP EGA nnn 264 268 a 267 8.6, Avoaptocrica de Dectaracao 0b 08 Bprnhios¢ het kindomen 208 67. iniis aes 268 8.8. A Feigao social da globalizagdo... am 7. tes Fundamentals nas Reto de Trabalho: no Mundo Ocidenta! 6 mo Japa... ios 278 7.1. Generalidades, - 278 7.2. Alemania: 7.3. Bélgica.. 7.4. Espana... 75, Estadoe Unidos da América 7.10. Portugal 7.44. Reine Unido 7.42, Unido Europeia.... TE: 05 DIREITOS FUNDAMENTAIS TER GAS RELAGOES DE TRABALHO: BRASIL cumini 4. Introduce a 2 tae Sa ae a 3, A Proluigdo de Trabalho Escravo (ou Trabalho Forgado). 314 8 4.0 Respeity 8 Infimidade. uno ae Vida Privada si 5.0 Respelto Z fe 6.0 Respeito & Honra 7.0 Respeito & imagem. 7.4. Imagem-atrbuto da personalidade. 7.2, imagem-retrato ace do Conacinin © Oro A Lie Manfetto co Porearento; bor c de Crenga; e @ Liberdade de Expressao @ informagao. “alga, ce ro 0 sino ca Carespondinca e das Comuncarses 9 Pkaoescae Canoes Tetons A Guntn Cone Eanes. 042 328 328 331 336 410. Dirello& Igualdadle. Proibigdo de Discniminag0..... . 350 10.1. Direito 8 igualdade.... . = 10.1.1. Generalidades. ram i 10.1.2. lqualdade perante a Ie... - 35 10.1.3. Igualdade em direitos aceite 10.1.4, Inuakdade de dite... soninee 854 10.1.5. lualdade jurdica, 40.1.6. 0 principio de Isonomia. 10.2. Nao discriminagao. 102.1. Genero (9ex0). 10.2.2. Raga (cor) 102.3. Wade. 10.2.4, Estado de saide... 10.25. Deficisncia, 10.2.6. Natureza do trabalho... 10.27. Sobrequalificagao...0. “41. Os Direltos de Solidariedade on. 11.4, Generaiicades.. 11.2, Diroto & sinaicalizagso (liberdade sindical). is 373 378 378 Em 1976, com reviséo em 2000, a organizagao para a cooperacao e desenvolvimento econémico aprovou as Diretrizes da OCDE para Empresas Multinacionais, s quais aderiu o Brasil. Essas Diretrizes no tém forga Juri- limitam-se a fixar principios e regras voluntarias para que os ‘empresarios adotem uma conduta responsavel e com elas coerente. Seus aspectos principals so os seguintes: a divulgaco de informagdes, as re- lagbes industriais e © emprego, o ambiente, a luta contra a corrup¢ao, os interesses dos consumidores, a ciéncia e a tecnologia, a concorréncia ¢ os ‘encargos tributarios. Incluem-se, ainda, os direitos humanos, porque confe- ‘em &s empresas multinacionais a obrigacao de “respeitar os direitos huma- ‘nos das pessoas afetadas por suas atividades, de acordo com as obrigagées 08 compromissos internos do pais de acolhida™™™, ‘A responsabilidade social da empresa possui duas dimensées: uma dimens&o interna e uma dimensao externa, A dimensdo interna diz respeito aos trabalhadores © & geste do ambiente, mais concretamente: & gestéo de recursos humanos, a salide © a seguranga no trabalho, & adaptacao as mudangas, as reestruturagdes no emprego, a gestdo do impacto ambiental @ dos recursos naturais. A dimenséo externa nao se restringe ao 2mbito da ‘empresa, pois se estende as comunidades locais, abrangendo uma série de interlocutores, tais como os sécios comerciais, os fornecedores, os con- sumidores, as autoridades publicas e a até mesmo as ONG defensoras do ambiente ¢ outros representantes da sociedade civil". (20)ROMITA Aon Say. AS deze da OCOE para Empresas Muinacionas. x; Blin a Academia Nacional do Dirsito do Trabalho, p. 13, abr, 2011, marie (31) CASTRO SANCHEZ. Cine! vo GUESADA ALCALA, Caren, Responsabid dt r ny =m la esfera de los derechos humanos, In: TEJADA MUNOZ, Victoria Femandez de Cont) Barecos humans y races are La Conta Nettle, 2010. 254 6. Os Direitos Fundamentais na Optica da Organizacao Internacional do Trabalho 6.1. A globalizagao da economia ‘Ao longo da historia, a economia apresenta uma evolugsio: comeca familiar & passa por sucessivas etapas, sendo local, nacional, regional para alcangar nivel mundial como sucede na atualidads. Nos quatro ou neo tiltimes decénios do século XX, ocorreu uma intensificagaio sem precedentes no fluxo de correntes comerciais no mundo inteiro, em virtude das transformagdes tecnolégicas advindas do uso intensivo do computador @ do robé e faciitadas pelo espantoso desenvolvimento das.telecomunicagées via salélite e dos transportes. As fronteiras tradicionais entre os Estados passam a ser ignoradas. A ‘era pos-industrial, caracterizada como civilizagao do conhecimento, pressu- pe © aumento da produtividade das empresas, estimulada pela competicao crescente, pelo consumismo desenfreado e peta explosto demogratica. Aintensificago do comércio intemacional tende a eliminar as barreiras alfandegérias, a restringir 0 protecionismo, a eliminar 0 dumping. A fim de {entarintroduzir certo nivel de disciplina e ordem no comércio internacional, criada em 1995 a Organizagao Mundial do Comércio, com sede em Genebra. Este proceso, denominado globalizaggo (ou mundializagao) da economia, ‘no elimina, porém, as formas tradicionais de comércio, locais, nacionais @ regionais, Estas modalidades preexistentes coexistem com a economia globalizada, conservam suas caractertisticas apresentam os mesmos problemas anteriores, mas sofrem o impacto do pracesso de mundializagao. ‘A globalizago da economia no é uma ideologia, é apenas um fato, um novo cenario na histéria da humanidade. Nao é boa nem ma, em si mesma, produz efeitos benéficos por um lado e maléficos, por outro, segundo a optica pela qual é encarada. E certo, sem duvida, que defronta detratores, que a ‘acusam de representar manifestagao de um capitalismo selvagem e produto ‘nocivo do neoliberalismo. Ha quem veja nela uma “fabrica de perversidade™””, (1) SANTOS, tito, Por uma outa globaizago — do pensamento unico & consciéncia Un Veal, 10. ed. Ro de Janeiro: Record, 2008p. 59. 255 | aul a causa do aumento inexoravel da pobreza no mundo, quem afirme que S.Sociedade global subsume formal ou realmente a sociedade nacional, compreendendo individuo, classe, movimento social, cultura, Iingua, religiéo, froeda, mercado, formas de trabalho, modos de vida"? e quem descubra que > internacionalismo, antigamente uma arma de propaganda do movimento do proletanado contra os goverrios belices ¢ contra oe capitalistas, trabalhg agora para 0 adversario™. 'A globalizagao da economia, que inova a divistio internacional do trabalho, afeta 0 proprio modo capitalista de produgao e os métodos de ‘organizagéo do trabalho. Além disso, traz em seu bojo 0 subproduto da sociedade de isco. E corto que o modo capitalista de produgao, apés essas transformagées, ndo sera mais o mesmo. A revolucao cientiica e tecnolégica determina a necessaria renovacao do capitalismo. Essa renovagao ocorre, em certos setores, com grande entusiasmo, porém em muitos outros ela se faz ‘acompanhar de bastante apreensio. ‘Aempresa conserva sua caracteristica de lugar privilegiado para onde confluem os mecanismos fundamentais da economia: é nela que se realizam {98 investimentos produtivos, desenvolvem-se as relaydes sociais e a diviséo do trabalho, 0s novos saberes lecnolégicos se intagram no processo de criagdo de riquozas. Mas a empresa é a moldura da ago, no a propria ago, E a moldura se adapta ao conteiido. A empresa se transforma: nao mais a ‘empresa tayloriana (1° tipo); nao mais a empresa astatal, que encontrava justificativa nos abjetives da planificacao centralizada (2° tipo); agora, surge ‘2 empresa de 3* tipo, que atua no ambito de uma economia mundializada, Geniro de sistemas industriais cada vez mais complexos ¢ interligados, ‘sob @ influéncia de tecnologias cada vez mais sofiticadas que causam a desestabilizagao dos antigos equilibrios, ameagam os mercados cativos e geram desemprego. ‘A destaylorizago néo se faz sem difculdades. Os trabalhadores resister: ‘nem sempre dominam os conhecimentos basicos necessarios. A criagao de ‘empregos mais quaitficados, o trabalho em grupo, tuco isso obriga & mudanga de habitos ¢ & reflexdo, quase nunca obtendo a adestio espontanea dos que ‘sao atingidos pela nova ardem de coisas. Um novo contrato social se impde: (2) JEZZINI, Nader Al. A globalzeed0 e seus impactos sociais Curiibe: Jurua, 2002. p, 10. [G) ANNI, Octavio. Teoras da globalizagdo, Rio de Janeiro: Chvilzagao Brasileira, 2003. F. 239-240, (@) MARTIN, Hans-Peter; SCHUMANN, Harold, A armacina da giovatizagao. Trad, Licia P ‘ho e Melo, Lisboa: Teramar, 1998p. 124 (8) BECK. en. Le soled cet rego, Trad Jorge Navara Barcelona Pai, 1988 256 tegragao técnica, subcontratagao, fabricagao por encomenda, hordrios ‘modulados, dstribuigao "telemitica’, gestdo ‘stock zero" ou ‘justin time” exigem tum entendimento entre empresarios e sindicatos, pautado por compromissos ‘laros e explicitos, assentados sobre bases sélidas e duradouras®. Urge idestacar a “dimenséo social da globalizacao”. Como quer Alain Supiot, ha ‘que se fazer no piano intemacional com os direitos fundamentais do traba- Ihador 0 que se conseguiu no plano interno com o direito do trabalho nos paises industrializados durante os dois sltimos séculos, ou seja, “abrir para ‘08 fracos a oportunidade de voltar as armas do Direito contra aqueles que ‘sam 0 Direito para exploré-los"”. 12. Efeitos da globaliza¢éo sobre o movimento sindical Os sindicatos se opéem a globalizagao, com 0 argumento de que ela reduz.0s niveis de protecdo trabalhista. Nao hd divida de que ela, em certos .cas0s, gera desemprego. © fendmeno da globalizacdo, em certos setores mais sensiveis aos seus ‘feilos, provoca apreenséo em vez de entusiasmo. O processo globalizante ‘é mais veloz do que a capacidade de adaptacdo desses selores, por forga da rapidez com que se desenvolve a revolugdo tecnolégica, lastreada no progresso das comunicagées e na civiiza¢ao do conhecimento. Por outro lado, esse proceso & mais abrangente do que as transformagées operadas no mundo pelas anteriores revolugdes industriais: ele atinge nao 86 a atividade industrial, mas também areas comerciais, financeiras e de servigos, antes cobertas por algum sistema de protego. © desemprego ‘assume proporg6es alarmantes. O perecimento de grande numero de oficios ® profissées obriga grandes contingentes de trabalhadores a procurar novas, formas de obtengo de ganho. A criminalidade cresce. A miséria com legiées de excluidos aumenta Surge a questéo de saber se a intensificagao do comércio internacional ov no compativel com a protegao dos trabalhadores ou, em outros, termos, se a expanséo progressiva do livre comércio e principio de no ‘iscriminago (que se desdobra no tratamento igualitario entre as nagbes & entre nacionais e estrangeiros) ajudam ou prejudicam a melhoria da condigao social dos trabalhadores. Se se considerar 0 postulado da livre competi¢ao, ' resposta parece dbvia: as normas sobre condigdes de trabalho produzem feito negativo, jé que aumentam o custo da produgao e podem desestimular (6) ROMITA, Arion SaySe. Globalzagto da economia 1997. p.21 (7 SUPIOT, Alain. Home juricus — essai sur la fonction anthropologique du droit. Pais: Seuil, 2008. p, 314. deto do trabalho. S80 Paulo: LT 257 investimentos, além de afetarofluxo das correntes comercials. Anecessidade de elevar 0 grau de competitividade das empresas gera presses tendentes a reduzir 0s custos socias (salarios e encargos). Naturalmente, a resisténcia 8 esse movimento é grande e ele deve conter-c6 om limites accitéveis, pois se cada pais decidisse adaplar a legislacao do trabalho as exigéncias das empresas exportadoras, o resultado seria uma encamicada batalha comercial 1o plano extemno e 0 caos social, no plano interno. ‘As facilidades proporcionadas pela mobilidade do capital e a gandincia das empresas multinacionais por lucros sempre crescentes estimulam a instalago de centros de produgo e exportacdo em paises que mantém baixos niveis salariais, possuem sistema precario de seguridade social ¢ ‘desconhecem um movimento sindical independente e vigoroso. Por seu turno, ‘0 desenvolvimento do comércio mundial dé ensejo a fusdes de empresas, ‘que 880 sempre seguidas de planos de ajuste com despedidas em massa, Mesmc em paises que logram certo nivel de crescimento econémico nominal, registre-se a elevacao das taxas de desemprego estrutural ou tecnol6gico. 3s efeitos da globalizagao da economia irradiam-se também sobre © movimento sindical, restringindo reduzindo © poder que o sindicalisme ‘combativo tradicionalmente exercia no mundo das relagdes de trabalho. AAs transformagées ocortidas no mundo capitalista determina a necessidade de mudangas no movimento sindical. Essas transformagdes afetam a organizaco do trabalho, obtigando o sindicato a adaptar-se a rnovas realidades; por outro lado, elas geram novas estruturas produtivas, ‘que alteram a individualidade dos prestadores de servigos, irradiando efeitos sobre a representatividade dos érgéos de classe. Um dos efeitos mais desastrosos da globalizaco da economia, sempre assinalado pelos estudiosos do tema, é o desemprego, desemprego estrutural surpreendeu os sindicatos de trabalhadores, ‘em toda parte. Eles ndo estavam preparados para entrentar 0 desafio. Aparelhados para a defesa e a promogo dos interesses dos trabalradores ‘ocupados no mercado formal, entendiam ser sua missdo a reivindicegao de maiores salérios e melhores condigées de trabalho, Timidamente, diante da ameaca representada pelo desemprego, assumem posicéo defensiva, tentando exercer controle sobre a producao e pleiteando a preservagao dos ‘empregos dos ameagados de dispensa pelo relreinamento profissioval. Os novos tempos solapam o poder negocial dos sindicatos (baryaining power), ‘que simultaneamente veem decrescer assustadoramente 0 nimero de filados. A desvertizalizagao da industria fragmentando a produgo em grande ‘numero de unidades, enfraquece 0 poder de aglutinacao dos sindicatos, 2 258 eh bragos com a dispersdo dos trabalhadores, ja desinteressados das lutes oletivas e muito mais preocupados com a manutengo do proprio emprego, Como 0 trabalho se toma um "bem escasso" (Manoel Alonso Clea), quem tem um emprego cuida, antes de qualquer outra coisa, de preserva- “jo. O trabalhador tende a guiar seu interesse pela l6gica dos valores em- presaviais. A subjetividade do interesse individual sobrepde-se a (A quase inexistente) consciéncia de classe e afasta a nogdo de homogeneidade profissional. Os préprios métodos de negociacéo coletiva, entre um sindcato de trabahadores a representar 0 conjunto da profissao e as organizagdes, ppatronais que falam em nome de um ramo de produc3o, perdem o sentido ‘e abrem espago a negociagdes de nivel inferior, assumindo a feicao de negodiago por empresa. Neste nivel, o sindicato ndo retine as mesmas ‘qualifcagdes como interlocutor, podendo ser substitulde (em certos ‘casos, até com vantagem para os beneficirios diretos) por unidades de negociagao de outra natureza, com as comissées de fabrica (ou censelhos dde estabelecimento, comités de empresa). Historicamente, desde sua origem, o sindicato reivindicava por todos @ ‘em name de todos. Os assalariados compunham um todo homagéneo, cujos memtros enfrentavam as mesmas dificuldades de vida e softiam a mesma exploragao no trabalho. A emancipacao da classe trabalhadora, unida por ddefinicdo, dependia das reivindicagées coletivas, uniformes e uniformizan- tes. Agora, a fragmentagao resullante da introdugao de relacées de trabalho alipicas © precérias, que cria uma diversidade de ocupagées até en‘do des- conhecida, debilta 0 poder do sindicato. A antiga “comunh&o de interesses" desaparece ante a alomizagao das atividades produzidas pelo telet'abalho, Por novas formas de trabalho em domicilio, pelo trabalho informal. 6.3. A “cléusula social” © impetuoso proceso de intemacionalizagso da produc3o leva o movimento sindical em muitos paises a advogar a adogao de mecidas de Protegao mais ampla e eficaz. Postulam que, pelo menos, sejam respeitados 08 direitos de sindicalizagao @ negociagao coletiva e que sejam aplicadas normas sobre fxago de salérios minimos, medidas de medicina e seguranga No trabatho, prevencao de acidentes, proibigao de trabalho forcado e sobre ‘emprego de menores. Deveria ser prevista a incluso em todos os iratados. ‘de comércio de uma cléusula que obrigasse os signatérios a respeitar as ‘obrigagGes trabalhistas. ‘Achamada “clausula social’ apresenta cardter ambivalente, porque, se ‘de um lado representa uma garantia de jogo limpo em tema de comércio 259 internacional, por outro lado pode mascarar um neocolonialisimo baseado em praticas comerciais protecionistas. Vale lemibrar, a propésito, a teoria das vantagens comparativas, de David Ricardo®. Segundo essa teoria, na expli- cago de Paulo Singer, “cada pais naturalmente se especializa nos ramos lem que tem maiores vantagens, isto &, em que seus custos de produgao séio ‘menores do que os de seus parceiros”. S40 as vantagens naturais e artificiais {gue indicam os produtos que cada pais pode obter com menores custos, na divisio internacional do trabalho. Parece claro que 0 fator salario constitui item relevante entre as vantagens comparativas no confronto dos custos da produgo. Os baixos salérios, acompanhados de beneficios previdenciétios inexistentes ou reduzidos, influem para baratear o produto e permitem com- petir no comércio exterior em posiggo vantajosa, j& que possibiltam vendas ‘a pregos inferiores aos fixados pelos demais paises. ‘A questo do dumping social divide os paises desenvolvidos e os paises ‘em vias de desenvolvimento. Os primeiros defendem a incluso da chamada cléusula social no sistema multilateral de comércio enquanto 0s outros a ela 88 opdem. Arazdo do dissenso é de facil apreensao: © dumping social ati vantagem comparativa e relativa aos paises em desenvolvimento sobre 0s paises desenvolvidos no campo das trocas intemacionais, jé que nos primeiros o custo da produgio ¢ inferior ao observado nos outros, Os salérios @ os chamados encargos sociais constituem componentes dos pregos dos produtos e, sendo eles mais baixos nos paises em desenvolvimento do que nos paises desenvolvides, colocam os primeiros em vantage sobre os iitimos. A prética do dumping social representa, portanto, forma de concorréncia desieal, além de redundar frequentemente em violagao dos direitos fundamentais dos trabalhadores. Cumpre observer, porém, que, sem embargo de ser essa vantagem considerada injusta pelos protecionistas, 0 ‘custo mais baixo decorre “da propria situagao de desenvolvimento e, muitas vezes, da miséria que aflige boa parte do globo", como quer Durval de Noronha Goyos Jr." ‘Com a criagdo da Organizagao Mundial do Comércio (OMC), em 1995, tornou-se aguda a questo do dumping social. Além disso, por forga dos efeitos nocivos provocads pela globalizagao da economia sobre os paises ‘em desenvolvimento, tomou-se imperioso compatibilizar 0 livre comércio (8) RICARDO, Davis, Prinajpios de econamia polica @ tributagto. Trad. de Paulo Henrique Ribeiro Sandroni S80 Paulo: Abril Cultural (Col. Os Economistas), 1982. p. 101 e sags. (a * ‘eigao ong @ de 1817), (@) SINGER, Paulo. Apresentacdo a RICARDO, David. Principios de economia poica @ tn butagdo, et, p. XX, (10) GOYOS JR. Durval de Noronha. © “dumping social” @ a agenda para a nova rodada de nnegociaptes da Organizagao Mundial do Comércio, In: ALVES DOS SANTOS eal. Direio do lrabatho na integracso regional, S80 Paulo: Observador Legal, 2002. p. 183. a com a protegao social. Surgiu um clamor peta ralificagso aplicacao de determinadas convengdes intemacionais aprovadas pela OT, a fm de garantr 08 direitos fundamentais no trabalho. ‘A campanha pela ralificagdo e aplicagao das referidas convengdes tem ‘origem, porém, fora do émbito da OIT. Em 1995, na Conferéncia Mundial sobre 0 Desenvolvimento Social promovida pela Organizagao das Nagées Unidas em Copenhague (a chamada Cipula de Copenhague), os Chefes de Estado e de Govemo deliberaram promover a observancia das convengies dda OIT sobre proibizao de trabalho forcado e do trabalho das criangas, sobre direito de sindicalizagao e liberdade sindical e bem assim sobre o principio de ndo-discriminago. Na verdade, a ONU prociamou, na Cipula Mundial de Copenhague, o primade do social sobre 0 econdmico. A Declaragao de ‘Copenhague afirma, contra a légica liberal, a primazia dos direitos e das ne- cessidades humanas sobre as leis econdmicas. (© “ceticismo” quanto & conjugagao de equilibrio macroeconémico com ‘orrespeito aos diretios sociais fundamentais exacerbou-se com a deciséo to- mada pela OMC em 1996". A Declaraco aprovada na Reunigo Ministerial da OMC realizada em Cingapura salientou: “Repelimos o uso das normas trabaihistas para fins protecionistas e admitimos que nao se deve questionar fem absoluto as vantagens comparativas dos paises, em particular a de bal- x08 salérios dos paises em desenvolvimento". A declaragdo, portanto, pos fim 0 debate sobre a “sl4usula social”. Em complement a essa deliberagao, foi assumido 0 compromisso de “oumprir as normas trabalhistas internacional- mente estabelecides" e de reconhecer a Organizaco Internacional do Tra- batho como érgao competente para adolar e promover a aplicacao dessas normas'?, O movimento nessa direcao deveria culminar com a atribuigo & OIT de competéncia para dirimir ltigios, tal como preconiza Alain Supiot®. No sintagma cléusula social, 0 termo social ¢ empregado em sentido amplo, a ensejar divergéncia de entendimento a propésito de seu significado. Falar de cléusula social poe em tela de juizo a violagio de normas fundamentais de trebalho, e nao 0 conjunto de um sistema social. Nao alude a salério minimo, seguro-desemprego, previdéncia social, protegao contra a despedida nem duragéo do trabalho. A expressao cléusula social pode ser definida como toda disposicao ‘de tratados comerciais que atraia para os Estados signatérios a obrigagao {11} BARTOLOME! DE LA CRUZ, Héctor G. A globalizago da economia @ o dirs interna ‘ional do trabalho: realiiades e desafie. In: Anais do Semindrio intemacional "Relacdes de Trabalho” — aspectos juicos, sovais¢ econémicos, Basia: MTb, 1998. p. 30. (12) OECHSLIN, J.J. Empleadores: tras Singapur, la OFT debe actuary rapid. In: OT Tra- ‘bajo — revista dela OT, n. 20, p. 13, jun. 1887. (13) SUPIOT, Alan. La justice sociale saise par a regulation. In: AAVV. Justice et dots funda ‘montaux — études ofetes & J. Normand. Paris: Lites, 2003. p. 438. 261 de respeitar as normasfundamentaisde trabalho estabelecidas pela OIT @ suscetivels de acarretar sangdes em caso de violagao, Por sua natureza “contratual’,a cléusula social extrapola o significado de mero compromisso ‘moral, to frequente em deciaragdes de cunho internacional: ela autoriza og paises membros da OMC a apreciar se houve respeito & clausulae, se for 9 aso, a adotar as medidas convenientes'. 6.4. A Declaragao sobre os principios e direitos fundamentais no trabalho ‘A Organizagao Internacional do Trabalho foi levada, em consequéncia, aiintervir no debate e deliberou adotar uma declaragao a respeito dos direitos fundamentais no trabalho. Na realidade, a matéria no constituia novidade no ambito da OIT: por ocasiéo dos trabalhos preparatérios da Conferéncia Mundial de Direitos Humanos (que afinal se realizou em Viena, em 1993), a OIT apresentou 20 Comité Preparatério da Conferéncia Mundiel, na 43 ‘Sessao (Genebra, abri-maio de 1993), um documento no qual salienta que se concentra em sua protego, na esfera da atividade econdmica, em questées que dizem respeito aos direitos humanos fundamentais, como o trabalho forcado, a discriminagao no emprego, o trabalho informal e a liberdade de associagao sindicat"®. ‘A “memoria” apresentada pelo Diretor Geral do Bureau Intemacional do Trabalho, Michel Hansenne, a Conferéncia Internacional do Trabalho, em sua 85* reunido (Genebra, 1997), assinala que a liberalizacao mundial do comércio “deve caminhar de maos dadas com 0 progresso social. Nesse texto, seu autor pde a nu os temores em relagdo aos efeitos sociais, potencialmente negativos da “santificacdo da globalizacao, da obsesso pela competitvidade e pelo abandono dos valores”. Anuncia a aprovago de uma declaragao solene, destinada a promover 0 respeito universal dos direitos humanos fundamentais no trabalho, como definidos nas (entéo) sete (hoje, ‘ito) convengdes internacionais basicas aprovadas pela OIT. Esclarece que a tentativa de estabelecer um vinculo direto entre 0 comércio internacional 05 direito trabalhistas fundamentais mediante um sistema de sangdes (a denominada “clausula social") levou a acusagdes reciproces de dumping social e protecionismo encoberto. Os debates que se realizaram em foros internacionais e em especial na O!T convergiram para um consenso quanto a duas consideragées correlatas: 1" — as vantagens comparalivas dos paises ‘em desenvolvimento devidas a seus menores salérios ¢ niveis de protego (14) GRANGER, Clotide: SIROENS Jean-Marc, La clause sociale dane le trailés commer- ‘aux. n: DAUGAREILH, Isabelle (sous la dir). Mandlalsation, travail et drois fondamentaur, uxelas: Bruylant, 2005, p. 182 (15) TRINDADE, Aniénio Augusio Cangado, Tratado de dirito intemactonal dos direitos hu ‘manos. 2. ed. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2003, 1*v, p. 305. 262 a social s80 legitimas, desde que sirvam de estimulo ao desenvolvimento e nao ‘sejam mantidas artificiaimente como estratégia comercial; 2 —o processo Ge Iiberalizag3o comercial e melhoria das condiges de vida e de trabalho somente pode desenvolver-se se houver um respeito universal aos direitos humanos no trabalho" Na 86 reunigo da Conferéncia Internacional do Trabalho, reelizada em Genebra, em 18 de junho de 1998, foi adotada a Declaragéo da OIT sobre (08 principics e direitos fundamentais no trabalho e seu seguimento. Trata- ‘se, come informa a Apresentacéo, da autoria de Miche! Hansenne, de uma resposta aos desafios gerados pela globalizagdo da economia. Acrescen- ta a Apresentago: “Mesmo que a globalizacao da economia seja um fator de crescimento econémico, e mesmo sendo uma condi¢ao essencial para o reso social, tudo confirma que ndo se trata de uma condigdo suficiente para assegurar dito progresso. O crescimento deve ser acompantiado, pots, {de um minimo de regras de funcionamento social fundadas em valores co- ‘uns, em virtude das quais os proprios interessados tenham a possibllidade de reivindicar uma participacdo justa nas riquezas que tenham contribuldo para criar, A Declaragao pretende conciliar a preocupagao de eslimular os es- {orgos de todos os paises em conseguir que 0 progresso social accmpanhe 0 progresso da economia, por um lado e, por outro, respeitando a dversidade de situagdes e as possiblidades e as preferéncias de cada pals’. A Declarago tem por objetivo explicito contribuir decisivamente para alcangar 0 objetivo enunciado no § 54, b, do Programa de Agao adatado pela Conferéncia de Cupula de Copenhague, realizada em 1995, a saber, “prote- ger e fomentar 0 respeito aos direilos basicos dos trabalhadores”, aplicando plenamente as convencées da OIT no que se refere aos Estados que as raffcaram e levando em considerago 0s principlos nelas consagrados, no ‘caso dos Estados que nao as ralffcaram. Salienta a Apresentago, ainda, que a Declaragéo obriga todos os ‘Membros da OIT, mesmo que nao tenham ratificado as referides conven- \qSes, a respeitar de boa-é e em conformidade com a Constituigao da OT ‘6s principios relativos aos direitos fundamentals que séo objeto dessas con- vengdes'”, No item 22, a Declaragao afirria que “todos os Membros, ainda que no tenham ratificado as convengées internacionais reconhecidas como funda- rmentais, t&m um compromisso derivado do fato de pertencer & OrganizacSo (18) OFF, Laactivided normative de Ia CIT en la era de la mundiaizacion, Memaria del Director ‘General. ConferenciaIniernacional del Trabajo, 888 reunién, Genebra; OT, 1987 (7) HANSENNE, Michel, Apresentaréo a Declaracio da OFT sobre os prnciios « direitos fundamentals no rabaiho @ Seu sequinento, Trad. ée Edison Alckmin Cunha, Genebra: OT, 1998. p. 304. de respeitar, promover e tornar realidade, de boa-fé e de conformidade com a Constituigd0, os principios relativos aos direitos fundamentais que S20 objet dessas convengies, isto é: a) a liberdade sindical e o reconhecimento efet vo do direito de negociacao coletiva; b) a eliminago de todas as formas de trabalho forcado ou obrigatério; c) a abolicdo efetiva do trabalho infantil; d) a eliminagao da discriminacao em matéria de emprego e ocupacao". 6.5. As olto convengées internacionais ‘As olto convengdes internacionais basicas a que se refere a Declara. ¢0 so, em ordem cronolégica de sua aprovacao, as seguintes: 1 — Con. Vengo sobre trabalho forgado, de 1930, n. 28; 2* — Convengo sobre a liberdade sindical e a protegao do direito de sindicalizacéo, de 1948, n. 87; 3* — Convengio sobre o direito de sindicalizagao e negociag&o coletiva, de 1949, n. 98; 4* — Convengao sobre igualdade de remuneragao, de 1951, n 100; 5 — Convencao sobre a aboligéo do trabalho forgado, de 1957, n. 105; 6" — Convengao sobre a discriminago no emprego e ocupacao, de 1958, 1. 111; 7° — Convengdo sobre a idade minima de admissdo no emprego, de 1973, n. 138; 8° — Convengao sobre as piores formas de trabalho das crian- gas, de 1999, n. 182. ‘As convengdes acima relacionadas explicitam e desenvolvem os quatro direitos fundamentais no trabalho, discriminados no item 2? da Declaraco, a saber: a) liberdade sindical e direito de negociago coletiva: Convengées n, 87, de 1948 e 98, de 1949; b) eliminagao do trabalho forcado: Convencdes 1. 29, de 1930 e 105, de 1957; c) aboligao do trabalho das criangas: Con- vengies n. 138, de 1973 e 182, de 1999; d) eliminagao da discriminacéo: Convengées n. 100, de 1951 e 111, de 1958. 6.5.1. A Convengao n. 87, de 1948. Trata da liberdade sindical e protegao do direito de sindicalizagao Empregadores e trabalhadores, sem qualquer distingdo e sem autori- zagao prévia, tém 0 direito de constituir as organizagdes que consideram convenientes, assim como de filar-se a essas organizagdes, tendo como objetivos a promogao € a defesa de seus interesses, com a Unica condigée de respeltar seu estalulo. A legislagao nacional determinard os limites da aplicaglo da Convengéo as forgas armadas e a policia. As organizagées tem 0 direito de constituir federagdes e confederagdes © bem assim 0 de las fliar-se, Tém, também, da mesma forma que as federagdes e confede- ragbes, 0 direito de fliar-se a organizagdes intemacionais de trabalhadores ¢ de empregadores, respectivamente. Além disso, as organizagdes, federa- 982s e confederagées tém o direito: de redigir seus estatutos e regulamentos i ‘administrativos; de escolher livremente seus representantes; de organizar ‘sua administracao e suas alividades; de formular seu programa de aco. 65.2. A Convencao n. 98, de 1949. Trata do direito de sindicalizagao e de negociagao coletiva Os trabahadores devem ser protegidos contra qualquer discriminacao ‘antissindical, 2rincipalmente: atos que tenham como condigao para admis- s40 OU permanéncia no emprego a nao fiiagao a um sindicato ou deixar de dele particpar; despedidas ou qualquer outra medida prejudicial, quando otivadas po’ fliago sindical ou participagao em atividades sindicais fora do horario de trabalho ou, com 0 consentimento do trabalhador, durante as horas de trabalho. Doverdo ser adotadas medidas adequadas Ais condigSes nacionals para ‘estimular e fomentar 0 pleno desenvolvimento e utilizagao dos procedimen- tos de negociagdo voluntéria de convengdes coletivas entre, de um lado, os cempregadores e, de outro, as organizagies de trabalhadores com o objetivo de regulamentar condigoes de trabalho, 6.5.3. A Convengao n. 29, de 1930. Trata do trabalho forcado ‘Trabalho forgado ou obrigatério é todo trabalho ou servigo exigido de um individuo sob a ameaga de alguma penalidade ou para 0 qual dito individuo no se ofereca voluntariament. © Estado que ratificar a Convengdo se obriga a suprimir, o mais rapida- mente possivel, o emprego de trabalho forgado ou obrigatério em todas as suas formas. 0 fato de exigir ilegalmente trabalho forgado ou obrigatorio sera objeto de sangdes penais realmente eficazes e aplicadas com rigor. ‘S80 excluidos do campo de aplicagao da Convengao os seguintes tipos de trabalho: trabalho de carater puramente militar exigido em virtude das leis, sobre servico militar obrigatério; trabalho que integre as obrigagées civicas ‘normals dos cidadaos; trabalho exigido de uma pessoa em virtude de con- que o procedimento previsto pela Declaragao para o cumprimento das conveng6es fundamentais seja efetivado. A Unica obrigagao imposta 20s Memibros ¢ a de apresentar um relalério anual sobre 0 estado da legislacao a pralica no que diz respeito aos temas tratados nas convengées. Se um Estado no adolar as medidas necessérias para tornar efetivos os principios contidos nas convencdes fundamentais, ndo sofrerd outras sangdes além das de carater moral Para arrematar esas consideragées, Efrén Cérdova formula algumas sugestdes. Parte ele da verificagzio de que, enquanto a economia eo comercio internacional alcangaram dimens6es globais, as instituigdes e as normas {rabalhistas conservam sua indole basicamente nacional ou local. Nao existe | ‘um diteito internacional do trabalho com efetiva vigéncia em todos os paises. ‘As legisiagées nacionais s8o inadequadas para enfrentar os problemas peculiares as circunsténcias da economia globalizada. Sé com atores socials Peoom legislag3o que apresentem a mesma dimenséo internacional sera sivel fazer frente as dificuldades. Deveria ser instituida uma regulag3o flobal, aplicdvel ao funcionamento do comércio sem fronteiras. Sé serlam Somitidas as transferéncias de empresas ou estabelecimentos deumpais para Gulro apés 0 cumprimento de certas exigéncias. Seriam adotadas medidas tficazes para erradicar o dumping sociel, que, além de enselar concorréncia Gesieal, permite a volacao de direitos fundamentals. A Constituicso da OT devoria ser revista, a fim da prever efetivas sangSes ao descumprimento das convenes ratificadas. Se, atualmente, os crimes contra a humanidade so objeto de julgamento perante um Tribunal Internacional, nao seria injuridico Submeter a julgamento perante uma corte internacional uma empresa ou mesmo um Estado que violasse os direltos fundamentais no trabalho. Quais Setlam as sangdes? Seriam aquelas jé conhecidas no direito internacional. ‘A OMC pode impor sangSes comerciais ao pals considerado infrator dos tratados intemaciorais. Tal possibiidade nao esta prevista na Constituigo da OIT, mas deveria estar. As sang6es de embargo so perfeitamente goeitavels, Afirma Efren Cordova, com acerto, que “os efeitos sociais da ‘lobalizagao da economia sé encontram compensaeao satisfatéria em uma ‘orrespectiva intemacionalizagao da resposta social". € necessério superar a assimetria atualmente registrada, pois, enquanto a economia e o comércio se globalizaram, as insttuigBes trabalhistas se conservam em niveis nacionais ou regionais™ 6.7. O trabalho decente ‘A Organizagao Internacional do Trabalho desfraldou a bandeira do trabalho decente para todos, como meio para lograr uma globalizagao justa, capaz de favorecer a inclusdo social. Em sucessivos pronunciamentos, Diretor Geral do Bureau Internacional do Trabalho, Juan Somavia, salienta {que o trabalho decente para homens e mulheres € um dos objetivos centrais perseguidos pela OIT'', ‘A Comisséo Mundial sobre a dimensdo social da globalizagao, constituida pela OIT e reunida em Londres em fevereiro de 2004, recomendou que o trabalho decente se converta em um objetivo global, a ser alcangado mediante politicas complementares em escala nacional e internacional”. (18) CORDOVA, Efrén, Proteccin labora y fomento del comercio internacional en tiempo de {obalzacin, In: Derecho labora. Montevideo, t. XLV, n. 205, p. 107 e segs anJmar. 2002. (19). Trabajo, Genabra:n. 93, p. 4, fev. 2000. (20) OT. Trabajo, Genabra:n. 50. p. 5, mar. 2004 269 a (© Conselho Eccndmico © Social das Nages Unidas (ECOSOC), na sesso de alto nivel realizada em julho de 2006, aprovou uma Declaragao Ministerial de amplo alcance sobre o emprego pleno e produtivo ¢ o trabalho decente. Esta Declarago conclama a comunidade internacional a redobrar os esforgos na luta contra a pobreza e a promogdo do desenvolvimento sustentado. Nela, os ministros reafirmaram que “as oportunidades para que os homens e as mulheres possam conseguir um trabalho produtivo em condigdes de liberdade, equidade, seguranga ¢ dignidade sao essenciais para garantir a erradicagao da fome e da pobreza, a melhoria do bem-estar econdmico @ social de todos, a obten¢ao de um crescimento econdmico sustentado e um desenvolvimento sustentével em todos 0s paises e bem assim uma globalizacio plenamente inclusiva e equitativa’®”. Diretor do Departamento de Normas internacionais do Trabalho, Jean-Claude Javilliet, afirma que o principal pilar da nogao de trabalho decente, que conslitui o nticleo da estratégia da OIT, é 0 respeito aos direl- tos fundamentais no trabalho. Esta definicao poderia ser também traduzida ‘como "o caminho dos direitos para o trabalho decente’, sabendo-se que os debates em tomo da globalizagao passarao a ser orientados no sentido do respeito aos direitos humanos™ © conceito de trabalho decente foi formulado pela Organizagao Intemna- cional do Trabalho para assinalar as prioridades da Organizagéo e atualizar ‘seu enfoque para o século XXI. Baseia-se no reconhecimento de que o tra- balho ¢ fonte de dignidade pessoal, estabilidade familiar, paz na comunidade, de democracias que produzem para as pessoas e crescimento econdmico que aumenta as possibiidades de trabalho produtivo e o desenvolvimento das empresas. Na visto da OIT, o emprego produtivo e o trabalho decente ‘880 elementos-chave para alcangar a redugao da pobreza. trabalho decente reflete as prioridades da agenda social, econémica € politica do sistema internacional, a saber: globalizac3o justa, atenuacao da pobreza, seguranca, incluso social, dignidade, diversidade. A implantago do Programa de Trabalho Decente persegue quatro objetivos estratégicos, sem descurar a igualdade de género: criar postos de trabalho, garantir 0s dreitos dos trabalhadores, ampliar a promogao social @ romover o didlogo e a composigao dos conflitos no trabalho". A 978 Conferénsia Internacional do Trabalho, realizada em 2008, aprovou por consenso dos Estados membros, dos trabalhadores e dos (21) OIF. Trabajo, Genebracn. 57, p. 4, set. 2008. (22) JAVILLIER, Jean-Claude. troduccén a OT, Derechos undamentalos on oltre ynonmes ‘nvemacionales del abajo. Madr: Ministerio de Trabajo y Asurios Socisies, 2003, p. 12. (23) OFT. Trabsjo, Genebracn. 87, p. 5, set. 2006. 270 empregadores, a “Declaragao sobre a Justiga Social para uma globalizagsio fequltativa’, com o objetivo de fortalecer a capacidade da OIT para promover Programa de Trabalho Decente e encontrar uma resposta eficaz para os crescentes desafios da globalizagéo. De manera especifica, a Declaragao assenla novas bases sobre as qusis a OIT pode apoiar efetivamente os esforgos de seus membros para promover e alcangar 0 progresso e a justiga social mediante os quatro bbjetivos do Programa de Trabalho Decente: emprego, protegso social, didlogosocal ¢ tripartismo, além dos direitos e principlos fundamentals no trabalho. Ao ressaltar a natureza interdependente e de miltua relagdo destes quatro objetivos, a Declaragao salienta que a falta de apoio a qualquer deles debilta 0 avango na promogo dos demas. A Declaragao prociama que a globalizag8o provoca uma profunda reforma no mundo do trabalho. Por um lado, afirma que ela proporcionou a muitos paises o beneficio de alas taxas de crescimento, criagao de emprego, ‘absorgao em zonas urbanas modernas de grande parle da populago rural pobre, além do incentivo da inovagdo para o desenvolvimento de produtos @ ’ circulaglo de ideias. Por outro lado, contudo, a glabalizagao provocou em ‘grande nimero de paiseso surgimento de desatios emtermos dedesigualdade de renda, altos niveis de desemprego e pobreza, vulnerabilidade econémica ante as crises internacional e o crescimento do trabalho sem protecdo e da ‘economia informal A Declarago, por seu significado, representa um importante passo & frente no tocante & promogo e a realizacao da Declaracdo relativa aos Prin- cipios e Direitos Fundamentals no Trabalho, adotade pela OIT em 1998, 6.8. A feledo social da globalizagéo A globalizago da economia tem ocupado a atenogo da Orgar internacional do Trabalho. E claro que o foco dessa atengéo reside na dirrensao social da globalizago (ou mundializagao, conforme a preferéncia em lingua francesa e, algumas vezes, em castelhano). Em novembre de 1090, 0 Consalho de Administrago da OT institulu © Grupo de Trabalho sobre a Dimensao Social da Mundializagao, em substitul- {G40 ao Grupo de Trabalho sobre a Liberalizagao do Comércio Internacional. Tinha ele por missao investigar a interagdo entre es diferentes dimensdes das politicas econémicas e sociais em face das novas caracteristicas da eco- rnomia mundial. Sugeriu 0 Grupo de Trabalho que fosse criada uma comiss80 mundial, constituldo por pessoas de reconhecido conhecimento sobre a di- mensio social da economia globalizada. an Em marco de 2002, foi instalada no Conselho de Administragio a Comissao Mundial para a Dimensao Social da Globalizago, composta de 26 membros. Em fevereiro de 2004, a Comissao apresentou um relat6rio, ‘no qual 6 preconizada a insttuigdo de politicas voltadas pera a adogdo de padrdes sociais e trabalhistas minimos no processo de globalizagao. Peralelamente ao funcionamento da Comissio, © Grupo de Trabalho prosseguiu em sua atividade. Em sua agenda de trabalho, trés temas mere- ceram atengao especial: governanga, coparticipagdo sociale responsabilida- de social Anogo de governanga & assim def fa pelo Grupo de Trabalho: © termo “governanga’, tal como se utiliza nos textos de ciéncias socials, pode-se definir como a influéncia sobre o controle, dire- $0 ou regulamentacao do conjunto de instituigdes e politicas que determinam o funcionamento de uma economia e uma socieda- de. Trata-se de um conceito mais amplo que o da estrutura da autoridade politica ¢ fungao de gover, e inclui as fungdes que desempenham as instituigbes econémicas e sociais que susien- tam 0 funcionamento de uma economia. Estas instituig6es incluem © conjunto de normas e regras tanto formais como informais que orientam as interagdes entre os agentes no govemamentais, ‘como as organizagdes de empregadores e os sindicatos @ as orga- nizagdes nao governamentai O conceito de coparticipagao é apresentado desta forma: ‘Acoparticipagao social refere-se as relagbes de colaboraco entre ‘osgovernos eas organizagées de empregadorese de trabalhadores para alcangar, de acordo miituo, objetivos econémicos e socials. A.copatticipagao & considerada pelo Grupo de Trabalho como importan- te fator de incremento da produtividade, incentivando a competitividade eco- némica. Os direitos fundamentais dos trabalhadores no 6 constituen um fim em si mesmos, mas também meios para se alcangar a boa governanga, Quanto a responsabilidade social, cabe desde logo reconhecer que ndo existe dela uma definiggo aceita por todos. Segundo o relatério do Grupo de Trabalho, a responsabilidade social abrange uma ampla variedade de inicia- tivas, de ordem econdmica, social e ambiental, que no se apoiam exclu vamente em conceites juridicos, a serem adotados de forma voluntéria pelas empresas. Entre essas iniciativas, mencionam-se os cédigos de conduta, as agéncias de certificagao do cumprimento de normas trabalhistas, os contra~ {0s globais ¢ o investimento sociaimente responsivel 272 i | Do relatétio, merece destaque 0 conceito de boa governanga, assim exposto: Boa governanca, nos niveis nacional e global, deve promover va- lores como liberdade, seguranca, diversidade, justica e solidarie- dade. Ela deve ainda assegurar respeito pelos direitos humanos, 0 direito internacional, democracia e participagao, promover a inicia- tiva empresarial e aderir 20s principios da responsablidade, eficd- cia e subsidiariedade. Como observa Ericson Criveli, “© processo de integrago global apre- senta novos c inéditoe desatios 2o sistema multilateral liderarl plas Nacties Unidas. Para que este continue a ser 0 nucleo do sistema multilateral, algu- mas reformas devem ser feilas em trés areas em particular. A primeira 6 a da representaedo democralica e tomada de decisées; a segunda é a da res ponsabilidade de todos os participantes no processo de covernanga; a ter- celta é a da oceréncia das politicas econémicas e sociais™". A Organizagéio Internacional co Trabalho insttulu 0 dia 17 de fevereiro como o Dia Mundial dda Justiga Social. Segundo @ Constituigao da OIT (1919), ‘a paz universal e duradoura 86 podera ser alcangada se se basear na justica social”. Ajustica social depende da implementacao de trabalho decente, tal como conceituado pela OT, © trabalho decente promove a relagao entre emprego e justiga; po © dignidade; protegao social e democracia; seguranga nacional e mundial. A ‘economia do mundo, nos dias que correm, ostenta fratures que revelam in- certeza e vulnarabilidade, sentimento de excluséo © opressio, falta de opor- tunidades e de empregos. ‘ais deficigncias s6 serdo debeladas se for alcaganda uma globalizagao justa, que preconiza uma nova vis8o da sociedade e da economia, com a ‘adogo de um equilibrio entre o papel do Estado, do mercado e da socieda- de, além de uma compreenséo clara das possibilidades e fmitagSes da ago individual dentro desse context. Segundo dectaragao do Diretor Geral do Bureau Internacional do Trabalho, Juan Somavia, para que o mundo avance na diregao de uma nova era de justiga social, cinco s40 os requisites: 1?— reconhecer que o trabalho nao & uma mercadoria, As politicas sociais devem basear-se nos valores humanos de solidariedade, dignidade e liberdade. trabaho nao é somente um custo da producao, 6 uma fonte de dignidade pessoal, estabilidade familiar © paz na comunidade; 2° — Fazer com que 0 objetivo de gerar empregos (24) CRIVELLL, Exleson, Direto Intemacional do Trabalho contemporsnge. Sao Paulo: LT, 2010. p, 180-194, 23 Constitua 0 alvo central a politica macroeconémica do Estado, juntaments ‘com 0 combate a inflagdo ¢ contas fiscais equilibradas. 3¢— Oferecer uma protegdo social (seguridade social) compativel com ponto de vista fiscal (equilfbrio entre a arrecadagao e os gastos do governo); 4® —reconhecer que 08 direitos fundamentals no trabalho e o didlogo social, com base na liberdade € na dignidade da pessoa humana, constituem também instrumentos para incrementar a produtividade e alcangar um desenvolvimento equilbrado; 52 — estimular 08 investimentos em pequenas empresas, setores de emprego intensivo, em mercados de trabalho inclusivos na intensificacao dag qualificagées. za 7. Direitos Fundamentais nas Relagoes de Trabalho: no Mundo Ocidental e no Japao 7.1. Generalidades ‘A regulagao da relagdo de trabalho subordinado ¢ filha de uma combinacao de duas culturas juridicas: a romana @ a germanica, ou, para falar com mais simplicidade, de uma combinacao de uma nogéo patrimonial com um vinculo de natureza pessoal. Embora a pessca do trabalhador ndo seja 0 objeto do contrato (objeto do contrato @ a energia laborativa, fisica ‘© mental, posta pelo empregado a disposicao do empregador), nao se controverte que 0 envolvimento pessoal do trabalhador na execugao das, ‘obrigagées contratuais (por ser 0 contrato de trabalho um tipo contratual de ‘execugao continuada ou de trato sucessivo) produz consequéncias juridicas relevantes. No ¢ possivel devolver 0 trabalho prestado ao trabalhador que ‘oexecutou. ‘Aaplicagao dos direitos fundamentais no ambito da relagao de trabalho subordinado volta-se primordialmente para o aspecto pessoal do contrato, sem todavia obscurecer certos aspectos de indole patrimonial, como sejam a justa remunerago ou, pelo menos, o salario minimo, a indenizago pela perda injustiicada do emprego etc. Aqui, cabe estabelecer uma distingao entre o contrato de trabalho tipice e 0 atipico. O direito do trabalho sofre uma {ratura interna entre, de um lado, os trabalhadores que desfrutam plenamente 08 direllos garantidos pelo contrato tipico e, de outro lado, os que 0 contrato. atipico alira ao espaco do trabalho-mercadoria, Esta dualidade no regime da subordinaggo revela, como observa com acuidade Alain Supiot, a deficiéncia do direto do trabalho, concebido como © instrumento de harmonizagao das duas faces do trabalho: o trabalho mercadoria (ou trabalho abstrato, fonte de riquezas exteriores e mensuréveis) © 0 trabalho como expressao da pessoa (ou trabalho concreto, fonte de Fiqueza interior nao mensurével)” E para 0 contrato de trabalho tipico e o trabalho como expressto da Pessoa (trabalho concreto) que se volta a analise dos ordenamentos a seguir sinteticamente elaborada, levando em conta apenas alguns pouces paises, (1) SUPIOT, Alan, Critique du droit du travail, Paris: PUF, 1994. p. 256, 275 ‘além do Mercosul e da Unido Europeia. Note-se que entre eles — excetuado. © Reino Unido — registra-se a consideracio do elemento personalista e a correlativa existéncia de protego da dignidade do trabalhador, como tracos, caracteristicos do atual estagio de evolucao do direito do trabalho, centrado, ‘na pessoa do trabalhador, como salientam Francesco Santoni® ¢ Raffaele, de Luca Tamajo™, 7.2, Alemanha © principio do Estado Social, como principio de determinago do ob. Jetivo do Estado, consagrado pela Lei Fundamental da Repiiblica Federal da Alemanha, art. 20 (1), autoriza a aplicacao dos direitos fundamentals no Ambito do Direito do Trabalho, jé que se orienta para a meta da justiga ¢ garantia sociais no Estado liberal democrético. A Grundgesetz, porém, n&o se limita a enunciar 0 principio, mas garante expressamente a igualtade, ‘especialmente entre homens e mulheres (art. 38,2)a liberdade de expresséo do pensamento (art. 5°), a liberdade de coalizéo (art. $, 3), a liberdade de circulagdo (art.11), a liberdade de escolha da profissao (art. 12, 1), a proibigtio de trabalho forgado (art.12, 2 e 3). De grande significado social é o preceito contido no art 6° (4), segundo © qual toda mae tem direito & protegdo e assisténcia da comunidade. Desse dispositivo decorre um mandato para o legislador, no sentido de editar nor- mas de protego para mulheres profissionais durante a gravidez, especial- mente protegao efetiva contra a despedida, regulamentagao dos salarios licenga para a criagao dos flhos, cémputo do periodo de afastamento para fins de aposentadoria. Mais explicitas, contudo, sao as constituicdes estaduais, ja que diversas delas incorporam catalogos mais ou menos extensos de direitos fundamen- tals econémicos e socials. Entre outros direitos, sio previstos os de protegaio das mulheres e das maes, pagamento igual para trabalho igual de homens, ‘mulheres e menores, direito a uma habitagdo adequada, direlto a formagéo profissional escolar, acesso a seguranca social e garantia de um salério ‘minima, fiscalizagao pelo Estado da economia quanto a distribuigso de bens, além de direito a0 trabalho e direito a auxiio por desemprego involuntéro. (2) SANTONI, Francesco. A ulela da dignidade e da plvacidade do trabalhadr. In: PERONE. ‘Gian Carlo; SCHIPANI, Sandro (coord). Princpios para um “digo-tio" de dirt do trabalho para a América Latina, Tred, de Edson Alkmin Cunha, Sao Paul: Lr, 1996 p. 176. {G) TAMAJO, Raffaele de Luca; RUSCIANO, Mario, Brew ncte suilelecniche lutche ai imi- {aztone de! potere imprecitoriale a tute del avoralore subordinato, In; LIPARI, Nicolo (a cura 4). Tecniche giriciche e sviuppo dela persona. Roma-Bari Lalerza, 1974. p00. (4) SCHAUB, Gunter Arbeifsrechis-Handbuch. 6. ed, Munique: C. Beck’ sche Verlagbuch- hhandiung, 1987. p. 6-7, 76 ‘A incorroragéo de direitos fundamentals sociais foi especialmente marcante nas constituigSes de novos estados-membros apés a reunificacao ‘operada em 1990, como reflexo dos desejos © esperancas de bem-estar ¢das pessoas, além do apoio dos programas de alguns partidos politicos. Receberam énfase especial os direitos ao trabalho, & habitago, a educacao f¢ formacao profissional, & protego da vida e da sade e bem assim & remuneragdo adequada e férias pagas. ‘A protegao social encontra, portanto, na legislagao alema, consagragao compativel com o principio do respeito & dignidade da pessoa humana, pre- visto no art. “® da Constituigao, Cabe acrescentar que a jurisprudéncia do Tribunal Constitucional toma efetiva a conexao entre dignidade do homem e direitos de liberdade e igualdade". 7,3. Bélgica Na reviséo constitucional de 1994, 0 art. 23 dispde que “cada um tem o direito de lever uma vida de acordo com a dignidade humana’. A Constituig&o belga, portanio, ao contrério da Lei Fundamental da Alemanha, nao consa- ‘gr@0 diteto ao respeito e & protecdo da dignidade da pessoa humana como um direto intangivel. Apenas estabelece que cada um tem o direito de levar vida de acordo com as exigéncias da dignidade humana. Sem dignidade, 0 direito a vida perde o valor. Aalinea 2* do art. 23 da Constituicao determina que, para esta fina- lidade (isto €, para assegurar o desenvolvimento de uma vida segundo os ditames da dignidade humana), a lei garanta, levando em conta as obriga- Bes correspondentes, os direitos econémicos, sociais e culturals e fixe as condigdes de seu exercicio. Em duasacepges distintas orespeito a dignidade humana é proclamado pela jurisprudéncia constitucional: de acordo com a primeira, o direito A dignidade representa manifestagdo do direito & vida e serve de base tanto pata o direito ao respeito a vida privada como aos direitos econémicos & sociais; na segunda acepcdo, a dignidade consiitui o objetivo que o legislador deve persegurr, quando levado a consagrar novos direitos. ‘Segundo 0 direito constitucional belga, a dignidade da pessoa humana representa, portanto, o valor supremo em fungo do qual o poder publico mantém condutas de abstanco, mas também prestagées posttivas™. (8) WEBER, Abracht Estado socal. Dios fundamentals soca © saguranga social da Re- Bibi Federal da Alemanha, In; BARROS, Sergio Resende de, ZILVET, Fernando Auréio Dirt consitucanel — esiudos em homenagem 8 Manoel Gongsives Fert Fito. S80 Patio Daca, 1999. p. 1321. {G)DELPEREE, Francia. Odeio & dlgnitade humana, n: BARROS, Sergo Recende da; SIL- ‘VET, Fernando Aur (coor), iret consucinel — estudos em homensgem a Manoel ‘Songatves Ferra Filho. 8 Paul: Diléica, 1968p. 181-162, m 7.4. Espanha O ordenamento juridico espanhol consagra os direitos fundamentais do trabalhador no seio da relagao de trabalho subordinado. E o faz mercé de Preceitos constitucionais, de dispositivos da legislagao infraconstitucional, notadamente a Lai do Estatuto dos Trabalhadores (Real Decreto Legisiativo 11995, de 24 de marco, que aprova o texto refundido da Le! do Estatuto dos ‘Trabalhadores) e bem assim da jurisprudéncia do Tribunal Constitucional. Para ordenacdo sistemdtica desses direitos, pode ser adotada a apre- ‘sentada por Palomeque Lopez e Alvares de /a Rosa. Eles classificam os direitos em especificos e inespecificos. primeiro grupo é constituido pelos direitos especiticos, isto 8, aqueles ‘cuja origem ou razao de ser esté na relago de trabalho, de sorte que nao possivel tecnicamente seu exercicio fora delas. A relacdo de trabalho representa 0 pressuposto de seu nascimento e exercicio. Este grupo é integrado por direitos coletivos e individuais. Os direitos coletivos (de natureza ou alcance coletivo) sao: a) em relacéo as fungées dos sujeitos sindicais, a liberdade sindical, em seus diferenciados aspectos (art. 7* e 28.1 da Constituigéo); b) em relacéo aos direitos de conflio, o direito & greve (art. 28.2 da Constituigéo) e 0 direito dos trabalhadores e dos empresarios de adotar medidas de confit coletivo (art, 37.2 da Constituigo); c) no tocante aos direitos de negociagao, o direito negociacdo coletiva de condigées de trabalho (art. 37.1 da Constituigao) 4) relativamente aos direitos de participagao, o direito dos trabalhadores de participagéo na empresa (art. 129.2 da Constituigdo). Os direitos individuais se agrupam em duas categorias: a) direitos dos trabalhadores que explictam condigées minimas de trabalho; b) direitos de pprotecao social dos trabalhadores. Os da primeira categoria sdo: 0 direito 20 trabalho (art. 36.1 da Constituigdo), 0 direito a livre escolha de profissao ou ‘oficio (art. 35.1 da Constituigdo), 0 direito & promocao através do trabalho (art, 35.1 da Constituigao), 0 direito & remuneracdo suficiente e a igualdade salarial entre homens e mulheres (art. 35.1 da Constituicao), 0 direito & formagao e readaptagao profissionais (art. 40.2 da Constituigao), 0 direlto @ seguranga e higiene no trabalho (art. 40.2 da Constituigao), 0 direito 20 repouso necessério (art. 40.2 da Constituigao). Os direitos da segunda ‘categoria 80 08 seguintes: 0 direito a uma politica orientada para o pleno ‘emprego (art. 40.1 da Constituig&o), 0 direito seguridade social (art. 40.1 ‘da Constituigao), 0 direlto & protecdo das pessoas portadoras de deficiéncia (art. 49 da Constituicéo). Ha, ainda, os chamados direitos fundamentais inespecifioos (os do se- ‘gundo grupo acima delineado). Trata-se de direitos fundamentals de caréter 278 ral, vale dizer, no especiicamente trabalhistas, mas que S80 exercidos, fos sujeltos da relago de trabalho (em particular, os trabalhadores) om Pe respectivo émbito e, neste caso, adquirem um contetdo (ou dimenséo) (abalhista superveniente. Produz-se uma “impregnagao lrabalhista" de di- fotos de titularidade geral ou inespeciica, exercides no ambito da relagso vf trabalho. Tais direitos so atribuidos em carater geral aos cidados, mas Goo exercidos no seio de uma relagSo Juridica trabalhista por cidados que $40, 20 mesmo tempo, trabalhadores. A celebragao do contrato de trabalho $0 implica, de modo algum, a negagao, em face do trabalhador, dos direitos {ue the 880 atrbuldos como cidadao. Séo, em suma, direitos do cidadso- Srabalhador, exercidos pelo trabalhador-cidadao. (Os direitos fundamentais inespecificos so: 0 dirello a igualdade e & nao discriminagao (art. 14 e 35.1 da Constituigo, consagrados pela legisiagao trabolhista nos art. 4.2, ¢,e 17 da LET — Let do Estatuto dos Trabalhadores) [ liberdade ideologica e religiosa (art. 16.2 da Constituiga0); 0 direito & honra, $ intimidade pessoal e & propria imagem (art. 18.1 da Constituigao), previsto pelo art. 4.2 @ da LET; a iberdade de expresso (art. 20.1, a, da Constit 20), acolhida peta legisiag’o ordinaria como garantia dos representantes Soe trabalhadores na empresa (art. 68, d, da LET); a liberdade de informacao {art 20-1, d, da Constituigdo}: 0 direito de reunido (art. 21 da Constituicdo), projetado no 2mbito das relagdes trabalhistas pelos art. 4.1, f, © 77 a 80 da LET e 1, b, da Lel Organica de Liberdade Sindical; direilo a tutela efetiva (art. 24 da Constituigao), acolhido pela legislagao trabalhista nos art. 42, g, € 65.1 da LET e na Lei de Processo do Trabalho; 0 direto de nao ser punido por acdes ou omiss6es que no momento de sua produgso nao constituam Galt, falta ou infragdo administrativa (art. 9.3 da Constituigdo); direito & ‘educagao (art. 27.1 da Constituigao)”. ‘A protegio dos direitos fundamentais no ambito da relagao de trabalho & con aoe Eoperha pola reprudénela do TbunalContucona segundo a qual o exercicio de tais direitos mantém plena efetividade na fexecugge do contrato de trabalho (que n&o pode privar de tals direitos fqueles que prestam servigos nas organizagbes produtivas, que nao sao alheias aos principios e direitos constitucionals), advertindo, porém, que ele deve ser compativel com as exigéncias da boa-fé, cuja vulneragao converte fem ilicito ou abusivo 0 exercicio de tais direitos. Como observa Maria Emilia Casas Baamonde, a jurisprudéncia constitucional “modaliza’ o exercicio dos direitos fundamentais no seio da relagao de trabalho, que softem o“especifico ‘condicionamento” resultante da insercao da prestagdo de trabalho em uma a ateaee Manvel. Deocho del Ta {) PALOMEQUE LOPEZ, Manuel Carlos: ALVARES DE LAROSA, Sooo Conte Cote Ramin ows, 241 p22 279 | corganizagao alhela, de modo que os direitos do trabalhador devem adaptar-se {as necessidades da organizagao produtiva em que se integra". 7.5. Estados Unidos da América Durante os primeiros decénios do século XX, a relagao individual de trabalho (employment relationship), sob a influéncia do liberalismo do século anterior, ra mune a qualquer tipo de regulagdo, prevalecendo a strict at-wil doctrine, Os sujeitos do contrato individual de trabalho eram livres para ajus- tar o que Ihes aprouvesse sem interferéncia exterior, fosse de que natureza fosse (lel, convengao coletiva). ‘As mas consequéncias da economia de livre mercado geraram a cons- ciéncia da necessidade de injetar na relagao de trabalho alguns direitos de que 0s individuos dispunham como membros da sociedade ou criar outros direitos especificos, capazes de assegurar aos trabalhadores 0 que se |ulga- va representer um minimo aceitével de nivel de vida. Os diretios do trabalhador no seio da relago individual de trabalho (workplace rights) derivam de fontes auténomas ou heterénomas. As fontes do primeio grupo podem ser individuais ou coletivas. A fonte individual consiste nas concessées unilaterais do empregador (unilateral employer grants), consagradas “pela politica da empresa” (company policy). A do Segundo tipo & a negociacdo coletiva (collective bargaining), que produz 0 contrato coletvo de trabalho, celebrado pela empresa como sindicato (union contract). A fonte heterénoma & a lei (statutory provision). Os direitos dos trabalhadores podem ser classificados, portanto, em: a) direitos derivados das concesstes dos empregadores (enterprise rights); b) direitos obtidos pela ‘via de negociacao sindical (collective contract rights); c) direitos assegurados por lei (statutory rights) ‘Apés a Segunda Guerra Mundial, 0 regime dos direitos dos trabalha- ‘dores derivava da negociagao coletiva e da legislagao. Durante aproxima- ‘damente trés decénios (desde cerca de 1945 até meados dos anos 1970), .@ negociagtio coleliva representou @ principal fonte desses direitos, carac- terizando 0 chamado periovo cidssicy das movers relayes industiais. A ‘era classica, porém, findou, As empresas norte-americanas viram-se diante ‘da necessidade de proceder a umia enorme reestruturagao industrial com 8 ‘inalidade de se integrarem na vida econémica internacional. Os produtos '@ servigos passaram a enfrentar uma intensa competicdo internacional. Diane ‘dessa presséo, as empresas foram forgadas @ produzir mais e melhor, 2 (S)CASAS BAAVONDE. Maia Ea Even constcinaly derecho dl abajo, PE- BRRIAS OREN, Nn a Punts coe merascbtnants on as scones abo Vatoot ex Rov, 20006. 88 bes _ | reduzir custos, a introduzir rapidamente novos produtes e servigos no mer- ado. a adotar novas estralégias gerenciais, a empregar inovagées tecnoi6- ‘gas, tudo com 0 objetivo de incrementar a produtividade. Diante desse novo quadro provocado pelos desafios da competioao internacional, as empresas reviram suas prioridades © reconsideraram fuas politicas de administragao de pessoal. A forga do trabalho estével fornou-se menos importante do que a capacidade de adaptagéo, com as consequéncias conhecidas: contratos de trabalho por tempo indeterminado foram substituidos por contratos de curta duragao, mals flexiveis, @ os custos com a mao de obra foram submetidos a ofileriosa reviséo, sendo cortados muitos fringe benefits. O resultado foi o aumento de empregos com baixos salarios e reduzidos beneficios, ou seja, empregos de baixa qualidade em ‘Comparacéo com os tradicionais empregos de alta qualidade regidos por normas sindicais. Também cresceu o niimero de colocagbes de tempo parcial @ de trabalhadores temporarios, subcontratagbes © joradas de trabalho mais extensas. Essas transformagées foram acompanhadas pelo visivel declinio dos sindicatos de trabalhadores (unions), que paulatinamente perderam forgas, ‘em virtude, principalmenie, de dois fatores: 1? — a mudanga do perfil das grandes organizagdes produtivas, que de indistrias pesadas se transforma- ram em servigos e indiistrias leves; 2° — a forga de trabalho se alterou, mereé da incluso de mulheres, de trabalhadores de escritrio (white-color ‘employees), de trabalhadores nao vinculados a setores produtivos e de tra- balhadores jovens. ‘As mudangas estruturais e @ perda de poder do movimento sindical provocaram o deciinio do método de obtengao de direitos dos trabalhadores por intermédio da negociagao coletiva. Se 05 direitos dos trabalhadores sofrem erosio em duas fontes — a concesséo dos empregadores ea atuacdo sindical —, resta o apelo & intervengéo do legislador. ‘Sem divida, depois da negociagao coletiva, a concessdo de beneficios ‘aos trabalhadores por lei (statutory provision of rights) representava a segunda instituigao fundamental do regime de direitos dos trabalhadores do periodo pés-guerra. Quando o segmento da forga de trabalho coberto pela negociagao coletiva encolheu significativamente, os defensores dos interesses dos trabalhadores voltaram-se, por falta de melhores meios, para © campo politico. Os defensores dos direitos dos trabalhadores passaram @ esperar do Congresso e do poder legislativo dos diferentes estados @ concessao direta de novos direitos por meio de leis. O centro de gravidade da fonte de direitos deslizou do movimento sindical para o poder legislativo, federal ou estadual 281

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