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Tratamento da

Água e Efluentes
Hannah de Oliveira Santos Bezerra

Unidade 2

Livro Didático
Digital
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Diretora Editorial
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autor
HANNAH DE OLIVEIRA SANTOS BEZERRA
A AUTORA
Hannah de Oliveira Santos Bezerra
Olá. Meu nome é Hannah de Oliveira Santos Bezerra. Sou doutora
em Administração de empresas pela Universidad de Salamanca, Espanha.
E atualmente faço parte de uma fundação de apoio à pesquisa. Minha
experiência morando fora por sete anos me fez aprender não somente
sobre Administração de empresas, mas também sobre idiomas, cultura,
comidas, pessoas. Durante meu doutorado, pude realizar um curso sobre
gestão ambiental no tratamento de águas, o que me permitiu adquirir
conhecimentos suficientes para produzir este e-book. Sou apaixonada
por transmitir conhecimentos e minha experiência de vida àqueles que
estão iniciando em suas profissões. Por isso fui convidada pela Editora
Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito
feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte
comigo!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda
vez que:

INTRODUÇÃO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de se apresentar um
de uma nova com- novo conceito;
petência;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram que
vações ou comple- ser priorizadas para
mentações para o você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamen- atenção sobre algo
to do seu conheci- a ser refletido ou
mento; discutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das
assistir vídeos, ler últimas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando o desen-
atividade de au- volvimento de uma
toaprendizagem for competência for
aplicada; concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Processos, operações e tecnologias do tratamento da
água ...........................................................................................................12

Tratamento de água para garantir o acesso à água limpa........12

Fases do tratamento da água.............................................................................13

Diferentes tipos de tratamentos de água................................................14

Purificação da água...................................................................................14

Dessalinização da água.........................................................................17

Tratamento de águas residuais......................................................20

Tratamento aeróbico e anaeróbico da água...........................21

Tratamentos biológicos............................................................................................21

Sistemas mediante reatores aeróbicos.....................................................22

Estágios de tratamentos com reatores aeróbicos.........22

Classificação de reatores aeróbicos.............................................................23

Sistemas mediante reatores anaeróbicos...............................................24

DigestãoAnaeróbica..................................................................................................25

Degradação anaeróbica de matéria orgânica.....................................26

Aplicação da digestão anaeróbica................................................................28

Vantagens e desvantagens de sistemas aeróbicos versus


sistemas anaeróbicos: critérios básicos para sua seleção......29

Processos físicos para tratamento de águas..........................31

Separação de substâncias finas e grossas com a ajuda de


peneiramentos e peneiras.....................................................................................31

Separação mecânica de substâncias sólidas por filtração......32

Limpeza de águas residuais com tecnologia de membrana...32

Tratamento mediante flotação..........................................................................34

Separação de substâncias sólidas por sedimentação................34

Processos químicos para tratamento de água...................................35

Neutralização.................................................................................................35

Redução de oxidação............................................................................35

Adsorção e quimissorção...................................................................36

Precipitação.....................................................................................................37

Floculação..........................................................................................................37

Trocador de íons.........................................................................................38

Estações de tratamento de água e estações de tratamento


de esgotos................................................................................................39

Estação de tratamento da água......................................................................39

Constituição da estação de tratamento....................................................42

Estação de tratamento do esgoto.................................................................43


O que é estação de tratamento de esgoto?......................44

Como surgiram as estações de tratamento de esgoto


no Brasil?..............................................................................................................................45

Como funciona uma estação de tratamento de esgoto?........46


Tratamento da Água e Efluentes 9

02
UNIDADE
10 Tratamento da Água e Efluentes

INTRODUÇÃO
A água é o recurso básico para garantir a vida de todos os seres
vivos do planeta. O acesso à água, ao saneamento e à higiene é um
direito fundamental e, no entanto, bilhões de pessoas em todo o mundo
continuam enfrentando diariamente enormes dificuldades em acessar
os serviços mais básicos. Para obter água potável, basta abrir a torneira,
certo? No entanto, existem milhares de pessoas em todo o mundo que
não podem fazer esse simples gesto para poder beber água ou usá-lo
para lavar ou cozinhar. O tratamento da água é essencial para que as
pessoas tenham acesso à água limpa. Nesta unidade, iremos estudar a
importância do tratamento de águas e como ele é feito. Ao longo desta
unidade letiva você vai mergulhar neste universo!
Tratamento da Água e Efluentes 11

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 2. Nosso propósito é auxiliar
você no desenvolvimento das seguintes objetivos de aprendizagem até o
término desta etapa de estudos:

1. Compreender os objetivos, classificação e tecnologias do


tratamento da água;

2. Aplicar os processos químicos para o tratamento de água e


efluentes;

3. Classificar os processos biológicos;

4. Investigar os vários processos biológicos aplicados ao tratamento


de águas e esgotos.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao


conhecimento? Ao trabalho!
12 Tratamento da Água e Efluentes

Processos, operações e tecnologias do


tratamento da água
INTRODUÇÃO:

Ao término deste capítulo você será capaz de compreender


quais são os objetivos do tratamento da água, além de
entender como é feita a classificação e tecnologias do
tratamento da água. Entender como funciona todo esse
processo será fundamental para o exercício de sua profissão.
E então? Motivado para desenvolver esta competência?
Então vamos lá. Avante!

Tratamento de água para garantir o acesso


à água limpa
Através do tratamento da água, um processo com operações de
diferentes tipos (físico, químico, físico-químico ou biológico), cujo objetivo
é a eliminação e / ou redução da contaminação ou das características
indesejáveis das águas.

O objetivo deste processo é obter água com as características


apropriadas para o uso que você deseja fornecer. Portanto, o processo de
tratamento da água varia dependendo das propriedades iniciais da água
e também de seu uso final.

O tratamento da água é cada vez mais necessário devido à escassez


de água potável e à crescente necessidade da população mundial. Como
vimos na unidade anterior, do total de água do planeta, apenas 2,5% é de
água doce e, dessa quantidade, apenas 0,4% é adequado para consumo
humano (CAMPOS; STUDART, 2003).

A água coletada no subsolo ou na superfície deve ser tratada para


garantir sua salubridade como materiais em suspensão, microorganismos
e outros elementos que impossibilitam o consumo direto, sem riscos à
saúde. Para garantir seu consumo, ele deve ser submetido a uma série de
processos que o tornam potável.
Tratamento da Água e Efluentes 13

Fases do tratamento da água


A água pode ter uma origem superficial (rios, lagos) ou subterrânea
(extração através de poços) e, dependendo de sua qualidade, pode
precisar de um tratamento de purificação ou simplesmente desinfecção.
O processo de purificação de água consiste nas seguintes etapas:
Figura 1 – A figura representa as etapas do processo de purificação

Fonte: Adaptado de Campos e Studart (2003)

• Pré-tratamento: Uma primeira triagem é realizada para


remover corpos estranhos presentes na água. Nesta fase,
também é feita uma primeira dosagem de permanganato
de cloro ou potássio.

• Coagulação-floculação-decantação: Trata-se de separar e


extrair as partículas que estão flutuando na água.

• Filtragem no leito de areia: Nesta fase, a água ainda contém


micro-flocos, que são retidos em um fundo arenoso.
14 Tratamento da Água e Efluentes

• Dosagem final de cloro: Em uma última fase, a água passa


para um tanque de onde é lançada na rede.

Diferentes tipos de tratamentos de água


Deve investir em três principais tratamentos de água, são eles:
purificação da água, dessalinização e tratamento das águas residuais.
Vejamos com mais detalhes cada uma delas.

Purificação da água
A água potável é um ativo vital escasso. Estima-se que apenas
0,4% da água do planeta seja adequada ao consumo humano. Portanto, é
essencial investir na purificação da água, para garantir que todos tenham
acesso a esse recurso vital.

DEFINIÇÃO:

A purificação da água é o processo pelo qual a água é


tratada para que possa ser consumida pelo homem sem
apresentar riscos à sua saúde. Refere-se a beber e preparar
alimentos (Campos e Studart, 2003).

A purificação consiste principalmente na eliminação de substâncias


tóxicas para as pessoas, como cromo, chumbo ou zinco, além de algas,
areia ou bactérias e vírus que podem estar presentes na água. Em resumo,
elimine qualquer risco potencial para a saúde das pessoas.

A água é tornada potável no que é tecnicamente conhecido como


Estação de Tratamento de Água Potável (ETAP). Essas instalações são
comumente referidas como estações de tratamento de água.

O processo de purificação da água varia de acordo com as condições


naturais do território.

Exemplo: Se a fonte da água é superficial (água de um rio ou


lago), o tratamento de purificação geralmente consiste em um processo
de separação de certos componentes da água natural, seguido pela
precipitação de impurezas, filtração e desinfecção com cloro ou ozônio.
Tratamento da Água e Efluentes 15

Se a fonte de água tem presença de sais e / ou metais pesados, os


processos de eliminação desse tipo de impurezas são mais complicados
e caros. Em áreas com escassez de água e recursos costeiros, a água
potável pode ser obtida por dessalinização, que geralmente é realizada
por osmose reversa ou destilação.

Apesar do fato de que, como vimos, os processos de purificação


variam de acordo com a situação, apresentaremos abaixo uma série de
etapas que geralmente são recorrentes (CAMPOS; STUDART, 2003).

1. Pré-tratamento da água. O primeiro passo é remover


grandes sólidos. Uma cerca é geralmente colocada para
impedir que peixes ou galhos vazem. Depois, com a ajuda
de uma armadilha de areia, a areia é separada da água para
evitar que danifique as bombas da estação de tratamento
de água. Nesta fase, a pré-desinfecção também é comum
para destruir algumas substâncias orgânicas.

2. Coagulação - floculação: As bombas de baixa pressão


transportam a água para uma câmara de mistura, onde
são incorporados os componentes que tornam a água
potável. Nesta fase do processo de purificação, o pH é
ajustado pela adição de ácidos ou álcalis e agentes de
coagulação são adicionados à água.

3. Decantação: No decantador, as partículas em suspensão


que transportam a água são separadas por gravidade. Os
sedimentos nocivos mais densos permanecem no fundo,
onde são removidos e os menos densos permanecem
dissolvidos na água decantada.
16 Tratamento da Água e Efluentes

Figura 2 – Exemplo de decantação da água

Fonte: Pixabay

4. Filtração: Após o processo de decantação, a água é passada


através de um meio poroso para remover sedimentos
menos densos. Esses filtros acabam sobrecarregando as
impurezas. Existem diferentes tipos de filtros, como areia
ou carvão ativado, que podem ser abertos e por gravidade
ou fechados e pressurizados. A etapa da filtração pode ser
considerada como um fenômeno físico.

5. Desinfecção da água: Finalmente, é adicionado cloro


para eliminar qualquer tipo de bactéria ou vírus. Se você
deseja eliminar patógenos das águas subterrâneas ou de
fontes naturais, isso também pode ser alcançado através
da irradiação de raios ultravioleta ou com a aplicação de
ozônio, por exemplo.
Tratamento da Água e Efluentes 17

6. Análise: Após a conclusão do processo na ETAP, é


essencial realizar várias análises da água para garantir
que o processo de purificação seja bem-sucedido. A água
potável deve ser incolor, inodora e sem sabor e estar em
conformidade com os regulamentos em vigor em cada
país.

Dessalinização da água
Aproximadamente dois terços da superfície do planeta são
cobertos com água, mas apenas 2,5% dessa água é fresca e apenas 0,3%
é adequada para consumo humano.

Toda a água restante, encontrada nos oceanos e mares, não é


potável devido ao seu nível de salinidade. Como podemos tirar proveito
dessa fonte inesgotável de água para os locais onde ela é mais necessária?

DEFINIÇÃO:

De acordo com Celli (2017) a dessalinização ou dessalinização


da água consiste em um processo de tratamento de água
pelo qual a água do mar ou a água salobra é convertida em
água potável, a fim de suprir a população com as maiores
dificuldades no acesso à água doce.

Existem diferentes métodos para minimizar os níveis de salinidade


na água, embora o processo de osmose reversa seja o sistema de
dessalinização mais difundido e avançado do mundo, sua implementação
representa mais de 60% em comparação com outros métodos. Vejamos
como ocorre esse processo:

1. Osmose Reversa: É o sistema de dessalinização mais


difundido e avançado do mundo. Sua implementação
representa mais de 60% em comparação com outros
métodos.
18 Tratamento da Água e Efluentes

Figura 3 – Equipamento do sistema utilizado para realização da osmose reversa

Fonte: Freepik

O processo de osmose reversa consiste em aplicar pressão a


uma solução de água salgada e passá-la através de uma membrana
semipermeável, cuja função é permitir que o solvente (água) passe por
ela, mas não o soluto (os sais dissolvidos). O solvente (água) passa através
da membrana, do lado onde a concentração de sais é mais alta para o
lado onde a concentração de sais é mais baixa. O resultado é que parte da
solução concentrada se esgota a favor do doce (CELLI, 2017).

Este processo de tratamento de água é realizado graças à


contribuição da energia externa na forma de pressão, que supera a
pressão osmótica natural presente na referida solução.

2. Destilação: O processo consiste em aquecer a água até


que ela evapore e depois condensá-la para obter água
fresca. Esse processo de dessalinização é realizado em
várias etapas, a temperatura e a pressão diminuem em
cada etapa até que o resultado desejado seja alcançado.
Tratamento da Água e Efluentes 19

Além disso, o calor obtido da condensação também serve


para destilar a água.

3. Congelação: Esse processo de dessalinização consiste


em pulverizar água do mar em uma câmara refrigerada
a baixa pressão. Isso faz com que os cristais de gelo se
formem na salmoura, que são posteriormente separados
para obter água fresca.

4. Evaporação relâmpago: Nesse processo, a água é


introduzida em uma câmara abaixo da pressão de
saturação na forma de gotas finas. Parte dessas gotículas
de água é imediatamente convertida em vapor, que é
posteriormente condensado, obtendo água dessalinizada.
A água restante é introduzida em outra câmara a pressões
mais baixas que a primeira e o processo é repetido até
atingir o desempenho desejado.

5. Formação de hidratos: Esse processo de dessalinização


não é usado em larga escala porque envolve grande
dificuldade tecnológica. O processo consiste em adicionar
hidrocarbonetos à solução salina que forma hidratos
complexos na forma cristalina, que são posteriormente
separados para obter água dessalinizada.

6. Eletrodiálise: O processo de dessalinização consiste no


fenômeno pelo qual uma corrente elétrica é passada
através de uma solução iônica. Os íons positivos (cátions)
migrarão para o eletrodo negativo (cátodo), enquanto os
íons negativos (ânions) migrarão para o eletrodo positivo
(ânodo). Duas membranas semi-impermeáveis são
colocadas entre os dois eletrodos que seletivamente
permitem apenas a passagem de Na + ou Cl-, a água
contida no centro da célula eletrolítica é dessalinizada
progressivamente, obtendo água fresca.
20 Tratamento da Água e Efluentes

Tratamento de águas residuais


O tratamento de águas residuais consiste em uma série de processos
físicos, químicos e biológicos que removem contaminantes da água para que os
humanos possam fazer uso dela. A purificação de águas residuais de centros ou
indústrias urbanas é realizada em uma estação de tratamento de águas residuais
(ETAR).

Na ETAR, os processos de purificação (que ocorrem naturalmente no leito


do rio) são realizados de maneira concentrada e automatizada.

Os processos de depuração das águas residuais podem ser físicos,


químicos ou biológicos. Veremos com detalhes como cada um desses
processos ocorre na Unidade 3 dessa disciplina.

VOCÊ SABIA?

Na maioria dos casos é necessário combinar duas ou mais


técnicas para a obtenção de água com a qualidade exigida.
Além disso, o atual estágio de desenvolvimento tecnológico
permite obter água com elevado grau de qualidade a partir
de, praticamente, qualquer fonte, porém, o custo ainda é
elevado, tornando o processo inviável.

No próximo capítulo, veremos mais detalhadamente como acontece


os processos aeróbicos e anaeróbicos no tratamento de águas.

RESUMINDO:

Nesse capítulo vimos a importância de se estudar o


tratamento de água, além de entender quais são as fases
do tratamento de água, e que em algumas situações,
dependendo da qualidade da água, pode precisar de um
tratamento de purificação ou simplesmente desinfecção.
Também tomamos conhecimento sobre os diferentes tipos
de tratamento da água, tais como a purificação da água,
dessalinização e tratamento de águas residuais. E em cada
um desses tratamentos, vimos como acontece, passo-a-
passo, o processo de tratamento de água. Espero que você
tenha aprendido muito nesse capítulo, e esteja preparado
para adquirir mais conhecimento no próximo!
Tratamento da Água e Efluentes 21

Tratamento aeróbico e anaeróbico da


água
INTRODUÇÃO:

Nesse capítulo, compreender os objetivos do tratamento


da água e as tecnologias utilizadas nesse processo. Além
disso, abordaremos quais são os processos biológicos
disponíveis para o tratamento da água. Preparado para
embarcar nesse mundo? Vamos lá!

Tratamentos biológicos
Os tratamentos biológicos de águas residuais (reatores aeróbicos
e anaeróbicos) aproveitam a capacidade de certos microorganismos
(dentre os quais se destacam as bactérias) de assimilar a matéria orgânica
e os nutrientes dissolvidos nas águas residuais a serem tratados para seu
próprio crescimento, realizando a remoção de componentes solúveis
em água (CHERNICHARO, 2000). A matéria orgânica solúvel é assimilada
pelos microorganismos como fonte de carbono. Após esta operação, a
biomassa gerada a partir do sobrenadante é separada por decantação. Para
o crescimento de microrganismos é necessária, além da matéria orgânica,
a presença de nitrogênio e fósforo no efluente. Se a sua concentração não
for suficiente, eles devem ser adicionados ao tratamento.

A aplicação tradicional consiste na remoção de matéria orgânica


biodegradável, solúvel e coloidal, bem como na remoção de compostos
que contêm nitrogênio e fósforo. É um dos tratamentos mais comuns, não
apenas no caso de águas residuais urbanas, mas em grande parte das
águas industriais, devido à sua simplicidade e baixo custo econômico de
operação (CHERNICHARO, 2000).

Os únicos requisitos para a aplicação bem-sucedida dessas


tecnologias são que a contaminação é biodegradável e que não há
presença de nenhum composto biocida no efluente a ser tratado.

De acordo com Chernicharo (2000) os microrganismos podem


assimilar a matéria orgânica consumindo oxigênio, ou na sua completa
22 Tratamento da Água e Efluentes

ausência, o que nos leva a ter 2 sistemas biológicos de tratamento de


águas residuais:

• Sistemas Aeróbicos

• Sistemas Anaeróbicos

A seleção do tipo mais conveniente de processo biológico deve


ser analisada caso a caso, com base nas características do efluente a ser
tratado.

Sistemas mediante reatores aeróbicos


Os sistemas aeróbicos de tratamento de águas residuais aproveitam
a capacidade dos microorganismos de assimilar matéria orgânica e
nutrientes (nitrogênio e fósforo) dissolvidos nas águas residuais para
seu próprio crescimento, na presença de oxigênio, que atuará como
um aceitador de elétrons no processo oxidação de matéria orgânica
(CHERNICHARO, 2000; VON SPERLING, 2005).

Tratamento aeróbico: Neste tipo de tratamento, são realizados


processos catabólicos oxidativos. Como o catabolismo oxidativo requer
a presença de um oxidante da matéria orgânica e normalmente não está
presente nas águas residuais, ele precisa ser introduzido artificialmente. A
maneira mais conveniente de introduzir um oxidante é dissolver o oxigênio
da atmosfera, usando aeração mecânica, o que implica altos custos
operacionais do sistema de tratamento. Além disso, a maior parte do DQO
da matéria orgânica é convertida em lodo, que possui um alto conteúdo
de material vivo que deve ser estabilizado (CHERNICHARO, 2000).

Essa particularidade implica altos rendimentos de energia e uma


importante geração de lodo, consequência do alto crescimento de
bactérias em condições aeróbicas.

Estágios de tratamentos com reatores aeróbicos


DE acordo com Von Sperling (2005) um sistema de tratamento
aeróbico é composto pelos seguintes estágios:
Tratamento da Água e Efluentes 23

1. Pré-tratamento: O pré-tratamento é comum a todos os


tratamentos de água, seja purificação, purificação ou
dessalinização, e seu objetivo é impedir que grandes
fragmentos, como galhos, causem uma falha na estação
de tratamento de água.

2. Tratamento primário: O tratamento primário serve para


remover sólidos, areias, graxas e óleos flutuantes e
suspensos.

3. Tratamento secundário: O tratamento secundário


geralmente consiste em diferentes tipos de tratamentos
biológicos da água, que, como vimos, seu principal
objetivo é a remoção da matéria orgânica.

4. Tratamento terciário: O tratamento terciário concentra-se


na eliminação de patógenos, embora também consiga
reduzir sólidos em suspensão e matéria orgânica residual.
Este tipo de tratamento de purificação de água é altamente
recomendado caso você queira reutilizar a água para
irrigação de jardins públicos ou agricultura sem causar
nenhum risco à saúde humana.

Classificação de reatores aeróbicos


Dependendo do sistema utilizado para o crescimento da biomassa,
os sistemas de tratamento aeróbico são classificados em (CHERNICHARO,
2000; VON SPERLING, 2005):

1. Biomassa em suspensão (lodo ativado): a biomassa cresce


livre ou em suspensão no interior do biorreator, causando
a formação de flocos.

• Processo convencional: Simples aeração.

• Reatores seqüenciais (SBR): esse tipo de reator opera


de forma descontinuada e todos os processos ocorrem
no mesmo tanque sequencialmente ao longo do tempo.
É uma boa alternativa para as indústrias que produzem
24 Tratamento da Água e Efluentes

pequenos efluentes, mas com uma alta variabilidade em


termos de suas características.

• Reatores de Biomembrana (MBR): Este reator é semelhante


ao do lodo ativo, com a singularidade de possuir um
módulo de membranas de ultrafiltração no interior. Este
módulo permite a separação do lodo e do líquido por
meio de membranas, obtendo vantagens importantes em
relação aos decantadores secundários tradicionais. É uma
alternativa para os casos em que há pouco espaço.

• BIOCARB®: é um modelo exclusivo patenteado pela


Condorchem Envitech e baseia-se no desenvolvimento de
um reator aeróbio de leito fixo, cujo material de enchimento
é carvão granulado de linhita. O carbono filtra, adsorve e
suporta o biofilme, além de alimentar os microorganismos
com minerais e oligoelementos. Por outro lado, o processo
de adsorção dá uma dupla contribuição ao processo,
laminando os picos de carga de poluentes e aumentando
o tempo de permanência dos poluentes no interior
do reator, possibilitando a degradação de compostos
orgânicos persistentes.

Sistemas mediante reatores anaeróbicos


O mecanismo mais importante para a remoção da matéria orgânica
presente nas águas residuais é o metabolismo bacteriano. O metabolismo
consiste no uso de bactérias da matéria orgânica como fonte de energia
e carbono para gerar nova biomassa. Quando a matéria orgânica é
metabolizada, parte dela é transformada quimicamente em produtos
finais, em um processo que é acompanhado para a liberação de energia
chamada “catabolismo” (SPERLING, 2005).

Outro processo chamado “Anabolismo ou Síntese” ocorre


simultaneamente, onde parte da matéria orgânica é transformada em
novo material celular (VAN HAANDEL; LETTINGA, 1994).
Tratamento da Água e Efluentes 25

Figura 4 - Representação esquemática do metabolismo bacteriano

Fonte: Adaptado de Van Haandel e Lettinga (1994).

O anabolismo é um processo que consome energia e só é viável se


ocorrer um catabolismo para fornecer a energia necessária para a síntese
celular. Por outro lado, o catabolismo só é possível se houver a presença
de uma população bacteriana viva.

O catabolismo é dividido em dois processos fundamentalmente


diferentes: (1) catabolismo oxidativo e (2) catabolismo fermentativo. O
catabolismo oxidativo é uma reação redox, onde a matéria orgânica é o
redutor que é oxidado por um oxidante. Na prática, o oxidante pode ser
oxigênio, nitrato ou sulfato. O catabolismo fermentativo é caracterizado
pela ausência de um oxidante: o processo resulta em um rearranjo
dos elétrons na molécula fermentada, de maneira que pelo menos
dois produtos sejam formados. Eles são geralmente necessários várias
fermentações sequenciais para formar produtos estabilizados (VAN
HAANDEL; LETTINGA, 1994).

Digestão Anaeróbica
A digestão anaeróbica é o processo fermentativo que ocorre no
tratamento anaeróbico das águas residuais. O processo é caracterizado
pela conversão de matéria orgânica em metano e CO2, na ausência de
oxigênio e com a interação de diferentes populações bacterianas.
26 Tratamento da Água e Efluentes

A digestão anaeróbica é um processo que ocorre em ambientes


naturais como pântanos, em áreas alagadas para o cultivo de arroz, nos
sedimentos de lagos e mares, em áreas anóxicas do solo, em fontes de
fontes termais sulfurosas e no trato digestivo de ruminantes (DÍAZ-BÁEZ,
2002).

IMPORTANTE:

Áreas anóxicas são zonas áreas de água do mar, água doce


ou subterrânea que estão esgotadas de oxigênio dissolvido.

Equilíbrio: No campo do tratamento de águas residuais, a


contaminação orgânica é avaliada por meio de DQO (demanda química de
oxigênio), que mede basicamente a concentração de matéria orgânica. A
maneira de apreciar o que acontece com a matéria orgânica no tratamento
anaeróbico de águas residuais é comparando seu saldo de DQO com o
tratamento aeróbico.

Tratamento Anaeróbico: A digestão anaeróbica é um processo


de transformação e não destruição da matéria orgânica, como não há
presença de oxidante no processo, a capacidade de transferência de
elétrons da matéria orgânica permanece intacto no metano produzido.
Dado que não há oxidação, o DQO teórico do metano deve ser equivalente
à maior parte do DQO da matéria orgânica digerida (90 a 97%), uma parte
mínima do DQO é convertida em lama (3 a 10 %) Nas reações bioquímicas
que ocorrem na digestão anaeróbica, apenas uma pequena parte da
energia livre é liberada, enquanto a maior parte dessa energia permanece
como energia química no metano produzido (DÍAZ-BÁEZ, 2002).

Degradação anaeróbica de matéria


orgânica
A degradação anaeróbica da matéria orgânica requer a intervenção
de vários grupos de bactérias anaeróbias facultativas e estritas, que utilizam
os produtos metabólicos gerados por cada grupo sequencialmente. A
Tratamento da Água e Efluentes 27

digestão anaeróbica da matéria orgânica envolve três grandes grupos


tróficos e quatro etapas de transformação. Vejamos:

1. Hidrólise

• Grupo I: bactérias hidrolíticas

2. Acidogênese

• Grupo I: bactérias fermentativas

3. Acetogênese

• Grupo II: bactérias acetogênicas

4. Metanogênese

• Grupo III: bactérias metanogênicas

O processo começa com a hidrólise de polissacarídeos, proteínas


e lipídios pela ação de enzimas extracelulares produzidas pelas bactérias
do grupo I. Os produtos dessa reação são moléculas de baixo peso
molecular, como açúcares, aminoácidos, ácidos graxos e álcoois, que
são transportados através da membrana celular; são subsequentemente
fermentados em ácidos graxos com baixo número de carbono, como
ácidos acético, fórmico, propiônico e butírico, além de compostos
reduzidos, como etanol, além de H2 e CO2. Os produtos de fermentação
são convertidos em acetato, hidrogênio e dióxido de carbono pela ação
das bactérias do grupo II, conhecidas como “bactérias produtoras de
hidrogênio acetogênico”.

Finalmente, o grupo III ou bactérias metanogênicas convertem


acetato em metano e CO2, ou reduzem o CO2 em metano. Essas
transformações envolvem dois grupos metanogênicos responsáveis
pela realização das transformações acima mencionadas: acetotrófica e
hidrogenotrófica. Em menor grau, compostos como metanol, metilaminas
e ácido fórmico também podem ser utilizados como substratos para o
grupo metanogênico (DÍAZ-BÁEZ, 2002).
28 Tratamento da Água e Efluentes

Aplicação da digestão anaeróbica


A digestão anaeróbica tem sido amplamente utilizada para estabilizar
o lodo das estações de tratamento de águas residuais domésticas e, em
menor grau, mas com uma tendência de aumento significativo, é usada
para o tratamento de águas residuais diluídas, como é o caso da água
residual doméstica, com considerável sucesso em zonas climáticas
tropicais e águas residuais concentradas, como as industriais (destilarias,
cervejarias, malherías, fábricas de papel, comida etc).

A digestão anaeróbica não se limita apenas à remoção de matéria


orgânica das águas residuais, existem outras aplicações, tais como:

• Redução de sulfato: aplicada na remoção e recuperação


de sulfuretos e metais pesados.

Os sulfetos formados biologicamente formam precipitados


altamente insolúveis com metais pesados, como cobre ou zinco. Se os íons
metálicos desses precipitados estiverem presentes em alta concentração,
eles poderão ser recuperados para reutilização na indústria.

Os sulfetos formados biologicamente podem ser parcialmente


reoxidados sob condições microaerofílicas por bactérias quimiotróficas
(sulfoxidação), na forma insolúvel de enxofre elementar. O enxofre
elementar sedimentado pode ser coletado para reutilização industrial. A
sulfoxidação pode ser usada no pós-tratamento de águas residuais e na
limpeza de gases.

• Desnitrificação: é um processo anóxico no qual os nitratos


são reduzidos ao gás nitrogênio. A desnitrificação é usada
no pós-tratamento de águas residuais para remover
nutrientes.

• Biorremediação: a digestão anaeróbica pode ser usada


para biodegradação ou biotransformação de poluentes
tóxicos. Comunidades de microorganismos em ambientes
anaeróbicos podem causar oxidação de poluentes a
produtos estáveis (CO2) ou biotransformação de poluentes
em substâncias menos tóxicas. A biorremediação
Tratamento da Água e Efluentes 29

anaeróbica pode ser usada no tratamento de efluentes


industriais que contêm substâncias tóxicas, como é o caso
da indústria de plásticos, cujas águas residuais contêm
altas concentrações de tereftalato:

Vantagens e desvantagens de sistemas


aeróbicos versus sistemas anaeróbicos:
critérios básicos para sua seleção
Os critérios que ajudam a selecionar se um processo aeróbico é
mais conveniente ou se um processo anaeróbico será mais benéfico são
a concentração de matéria orgânica a ser removida, se a remoção de
nitrogênio for necessária, a disponibilidade de espaço físico e a relação
entre custo de investimento e custo de explotação do projeto. A seguir
veremos as vantagens e desvantagens desse processo.

Vantagens:

• Permite tratar uma grande variedade de águas residuais:


os dois requisitos que devem ser atendidos são que sejam
biodegradáveis;

• A digestão aeróbica nos proporciona maior desempenho.


Y = 0,4, o que significa que 0,4 gramas de biomassa são
removidos de 1 grama de matéria orgânica;

• De fácil operação;

• Custo de investimento baixo;

• Minimiza a produção de odores;

• Reduz coliformes e organismos patogênicos, bem como


gorduras;

• Produz sobrenadante esclarecido;

• Mais tipos de bactérias podem ser usados para digestão;

• Reduz a taxa de respiração do lodo.


30 Tratamento da Água e Efluentes

Desvantagens:

• Custo de explotação alto devido ao gasto contínuo de


energia associado à aeração;

• Muitos parâmetros para controlar para que os resultados


sejam ótimos: pH, temperatura, % de matéria orgânica,
fluxo de entrada, % de tóxicos (biocidas);

• Em uma parada para manutenção ou avaria, os custos


aumentam em comparação com a necessidade de
manter os níveis de Matéria Orgânica necessários para a
sobrevivência de microrganismos.

RESUMINDO:

Nesse capítulo mostramos quais os dois tipos de sistemas


biológicos disponíveis para o tratamento da água.
Aprendemos que os microrganismos podem assimilar a
matéria orgânica consumindo oxigênio, ou na sua completa
ausência, o que nos leva a ter 2 sistemas biológicos de
tratamento de águas residuais: sistemas aeróbicos e
sistemas anaeróbicos. Vimos como acontece todo os
estágios e classificação de tratamentos com reatores
aeróbicos e anaeróbicos. E depois de ver detalhadamente os
dois tipos de sistemas, vimos as vantagens e desvantagens
de cada um. Ufa! Foram muitos conhecimentos adquiridos
até aqui, verdade? Mas ainda tem mais! No próximo
capítulo aprenderemos sobre os processos físicos para o
tratamento de águas.
Tratamento da Água e Efluentes 31

Processos físicos para tratamento de


águas
INTRODUÇÃO:

Nesse capítulo veremos detalhadamente como acontecem


os processos químicos para o tratamento de água e
efluentes. Pronto para adquirir muito conhecimento? Vamos
nessa!

Separação de substâncias finas e grossas


com a ajuda de peneiramentos e peneiras
Telas e peneiras removem substâncias sólidas nocivas da água.
Com esse processo mecânico, por exemplo, fraldas, cabelos, lenços
umedecidos e absorventes são separados do fluxo de águas residuais.
Antes de limpar as águas residuais industriais, as peneiras também
capturam fibras têxteis, etiquetas de papel, resíduos de plástico ou
detritos de produção, como casca de batata ou outros detritos de casca.

Dependendo do escopo da aplicação, telas finas ou grossas são


usadas. Estes limpam a água por meio de barras dispostas em paralelo.
Pelo contrário, as peneiras têm grades, furos e malhas. Com vários
tamanhos de abertura, de peneiras grosseiras (> 20 mm) a micro peneiras
(<0,05 mm), elas se separam das substâncias sólidas emergentes do lixo
grosso resultante de nossa civilização, das partículas de areia e lama do
fluxo de águas residuais.

De importância vital é a limpeza preliminar mecânica no tratamento


de águas residuais domésticas. Especialmente as fibras, especialmente as
fibras têxteis extremamente resistentes ao rasgo dos lenços umedecidos
e velo ou material não tecido, que contêm as águas representam um
desafio. Essas fibras tendem a se interligar e podem causar entupimentos
e causar tremendos danos às bombas e agitadores.

Os especialistas da Environmental Expert GmbH selecionam as


peneiras rotativas corretas ou as telas de autolimpeza junto com você,
32 Tratamento da Água e Efluentes

para evitar possíveis danos às suas instalações de tratamento com


antecedência e, portanto, manutenção desnecessária, o que economiza
custos.

Separação mecânica de substâncias sólidas


por filtração
A filtragem separa as substâncias sólidas dos líquidos. Para isso, a
mistura a ser separada passa por um filtro. No caso mais simples, pode ser
feito de papel. Para aplicações técnicas, principalmente filtros têxteis ou
de metal são usados. Filtros de areia, peneiras rotativas e filtros de tecido
também são usados com frequência.

Com a ajuda de instalações de filtro, substâncias suspensas


orgânicas e inorgânicas, areia e poeira podem ser removidas da água. Na
tecnologia de águas residuais, esse processo de separação mecânica
é usado, entre outros, para desidratação de lodo em prensas de filtro.
No tratamento de água para uso industrial e água potável de águas
superficiais, a filtragem também é aplicada; como regra geral, em um
processo de várias etapas.

A filtração por membrana também é um processo de separação


mecânica. Nesse caso, uma membrana serve como meio filtrante.
Este método é normalmente usado para separar componentes muito
pequenos.

Limpeza de águas residuais com tecnologia


de membrana
A filtração por membrana pode separar as águas residuais e
concentrar as substâncias dissolvidas e não dissolvidas. Assim, a separação
é realizada sob pressão; a membrana, com uma largura de poro definida,
retém partículas (por exemplo, moléculas) de um determinado tamanho
(VON SPERLING, 1996). Os diferentes processos são utilizados para
tratamento de água, limpeza de águas residuais, reciclagem de água de
processo e concentração de materiais recicláveis para sua recuperação.
Tratamento da Água e Efluentes 33

A microfiltração é usada para separar partículas, bactérias e


leveduras. É usado, entre outras coisas, para esterilização a frio e
separação de emulsões de óleo e água.

A ultrafiltração é um processo importante para o tratamento de água


potável e efluentes. É utilizado para separar partículas, microrganismos,
proteínas e turbidez da água, entre outros, no biorreator de membrana
(MBR).

A ultrafiltração é usada, por exemplo, para limpar a água de


recirculação nas piscinas. Como a formação de camadas de entupimento
aderentes na membrana pode ser bem evitada, as instalações
de tratamento de esgoto existentes estão sendo cada vez mais
complementadas por uma ultrafiltração chamada etapa de polimento.
Na modernização de instalações de tratamento clássico mais antigas, a
ultrafiltração pode ser inserida diretamente no ou após o reservatório de
bioventilação para substituir as etapas de tratamento subsequentes ou
para aumentar o desempenho do tratamento biológico de águas residuais.

A nanofiltração permite que vírus, íons de metais pesados, moléculas


grandes e partículas muito pequenas sejam separadas. Este processo é
usado no amolecimento da água e no tratamento da água potável.
Figura 5 – Representação da nanofiltração para purificação da água

Fonte: Freepik
34 Tratamento da Água e Efluentes

A osmose reversa é uma etapa importante do processo na


concentração de lixiviados de aterros, no tratamento de água potável
em regiões rurais que não estão conectadas à rede de abastecimento,
na dessalinização da água do mar ou na descalcificação de caldeiras em
usinas de energia. Para isso, aumenta a concentração de substâncias
dissolvidas em líquidos através de uma membrana semi-permeável,
revertendo o processo de osmose com pressão: se a pressão for
maior que a respectiva pressão osmótica, as moléculas de solvente se
difundem no lado de a membrana na qual as substâncias dissolvidas e
menos concentradas são encontradas. Esse processo também é usado
para obter água ultrapura.

Tratamento mediante flotação


Na flutuação, substâncias dispersas ou suspensas em líquidos
são transportadas para a superfície com a ajuda de pequenas bolhas de
gás, onde são removidas com um dispositivo de remoção. Os processos
de flutuação são usados no tratamento de águas residuais para separar
óleos, graxas e finas substâncias sólidas em suspensão.

Quanto menores as microbolhas, melhor as partículas ou gotículas


são depositadas. Por esse motivo, a flutuação do ar dissolvido (DAF) é
frequentemente usada na tecnologia de tratamento de águas residuais.
Isso foi observado por sua eficiência e economia comprovadas. Os
procedimentos de flutuação também podem ser aprimorados usando
meios auxiliares, como coletores, skimmers, reguladores ou dispositivos
de pressão.

Separação de substâncias sólidas por


sedimentação
Na sedimentação, a força da gravidade nos tanques de sedimentação
é usada para separar partículas sólidas. Um tanque de sedimentação
é um tanque plano quase sem fluxo de corrente, especialmente para
processos de sedimentação. Partículas sólidas são depositadas no fundo.
Tratamento da Água e Efluentes 35

Os processos de sedimentação são usados várias vezes no


tratamento de águas residuais: substâncias não dissolvidas são
depositadas no tanque de decantação primário. Estes formam o lodo
primário, que depois engrossa e se torna anaeróbico no digestor. Isso
gera lodo digerido e gás de digestão, que em sua forma já limpa como
biogás pode ser usado para produzir eletricidade e atender à demanda
de energia. O lodo de esgoto gerado de forma aeróbica também pode
ser introduzido no digestor, depois de separado por sedimentação da
água residual no tanque de decantação. Partículas mais pesadas que a
água pode ser separada do líquido com a ajuda de armadilhas de areia ou
coletores de lodo.

Processos químicos para tratamento de


água
Alguns processos químicos são utilizados no tratamento da água.
Veremos a seguir alguns desses tratamentos.

Neutralização
A neutralização é usada na tecnologia de águas residuais para
ajustar o valor do pH. Em particular, após processos como precipitação e
floculação e para neutralizar águas residuais industriais, ácidos ou bases
são adicionados conforme necessário.

Redução de oxidação
As reações redox (redução-oxidação) são aplicadas no tratamento
químico de águas residuais e no tratamento de água potável de diferentes
maneiras. Assim, a oxidação radical com ozônio e peróxido de hidrogênio
é usada para remover eficientemente hidrocarbonetos clorados e
pesticidas da água potável.

No tratamento de águas residuais, processos de oxidação também


são usados para eliminar compostos pouco biodegradáveis. Uma técnica,
especialmente eficaz nesse caso, é a limpeza fotoquímica, na qual os
radicais hidroxi são gerados pela luz UV a partir do peróxido de hidrogênio
36 Tratamento da Água e Efluentes

ou ozônio na presença de água. Os processos avançados de oxidação


(POA) são usados, entre outras coisas, para degradar ingredientes ativos
farmacêuticos, como antibióticos, citostáticos ou hormônios e outros
vestígios de substâncias antropogênicas.

Da mesma forma, os íons de ferro e manganês em águas


destinadas ao abastecimento causam depósitos, incrustações e
possibilitam o aparecimento de bactérias ferruginosas nocivas nas redes
de abastecimento, além de serem responsáveis pelo aparecimento de
gosto e odor, manchas em roupas e aparelhos sanitários e interferir em
processos industriais. (SPERLING, 1996)

Nesse caso, são necessários processos de redução para a


transformação de íons de metais pesados em, por exemplo, sulfetos
pouco solúveis.

Adsorção e quimissorção
A adsorção é chamada de acúmulo de substâncias na superfície
de um corpo sólido. É tipicamente um processo físico, com o qual as
moléculas aderem à superfície limite sob o efeito das forças de Van der
Waals. Se as substâncias aderem à superfície de uma substância sólida
devido ao efeito de ligações químicas, isso é chamado quimissorção. Ao
contrário da adsorção, a quimissorção é geralmente irreversível.

Os carbonos ativados são usados na limpeza de águas residuais


para coletar as substâncias dissolvidas na água, que não podem ser
suficientemente removidas por processos econômicos, como métodos
biológicos de tratamento de águas residuais, precipitação e floculação.
Assim, os corantes das indústrias de tingimento de tecidos geralmente só
podem ser removidos inteiramente pelo método de adsorção de carvão
ativado. Traços de substâncias antropogênicas, como resíduos de drogas
e substâncias orgânicas polares, como compostos organo-halogênio
adsorvíveis a COA, também aderem ao carvão ativado.

O carvão ativado dotado também pode ser usado para remover


arsênico e metais pesados. Além disso, os grânulos de hidróxido de ferro
são adequados para remover metalóide tóxico chamado arsênico da água
Tratamento da Água e Efluentes 37

potável, das águas subterrâneas contaminadas e das águas residuais


industriais pesadamente carregadas. Com isso, o hidróxido de ferro reage
com os íons arseniato para formar arseniato de ferro. Este processo é
muito eficiente e econômico ao mesmo tempo.

Precipitação
A precipitação é um processo químico com o qual uma substância
previamente dissolvida é separada de uma solução. Um método usual para
isso é a reação de precipitação adicionando as substâncias apropriadas.
Assim, os metais pesados podem ser precipitados por transferência para
hidróxidos metálicos dificilmente solúveis. Ocasionalmente, precipitação
como carbonato ou sulfeto também pode ser necessária.

Frequentemente, os ânions podem ser precipitados como sal de


cálcio, sal de ferro ou sal de alumínio. Desta forma, os íons fluoreto podem
ser separados por uma reação de precipitação com leite de limão. No
curso do tratamento de águas residuais na estação de tratamento, a
concentração de fosfato é reduzida pela adição de sais como sulfato de
ferro (II), cloreto férrico e cloreto de alumínio. Esse processo, chamado
precipitação de fosfato, pode ser integrado como precipitação simultânea
na fase de purificação biológica ou adicionado como um estágio
subsequente separado do processo.

Floculação
A floculação cria as condições para que mesmo as partículas mais
finas, que estão em suspensão ou na forma de uma solução coloidal,
possam ser separadas da água. Por exemplo, com cargas superficiais
iguais, essas minúsculas partículas sólidas não podem se acumular em
aglomerados maiores devido à sua repulsão eletrostática recíproca.

Com a ajuda de produtos químicos adequados, chamados


floculantes, essas partículas podem ser aglomeradas. Neste, os
macrocopes são gerados, que são então sedimentados. A floculação é
aplicada para melhorar as propriedades de sedimentação e remoção de
água do lodo de esgoto. Usando sais de ferro e alumínio como floculante,
uma precipitação de fosfato pode ser realizada ao mesmo tempo.
38 Tratamento da Água e Efluentes

Trocador de íons
Trocadores de íons são materiais que substituem íons em uma solução
por outros íons. Assim, por exemplo, com um trocador de cátions, os íons
cálcio podem ser trocados por íons sódio. Quando este trocador de íons
se esgota, ou seja, completamente saturado com íons cálcio, ele deve ser
regenerado.

Esse processo funciona porque os íons se ligam mais fortemente ao


trocador de íons, quanto maior sua carga e, na mesma carga, maior o raio dos
íons. O íon de ligação mais forte substitui o íon de ligação mais fraco.

Trocadores de íons são adequados para a separação seletiva


de metais pesados e ânions. Portanto, eles são usados como um “filtro
supervisório” após precipitação / floculação. Eles também são usados para
amolecer, dessalinizar e alterar a salinização da água. Eles são especialmente
importantes na indústria de semicondutores, onde são usados para obter
água desmineralizada extremamente limpa, chamada água ultrapura.

Os trocadores de íons também são utilizados no tratamento de


águas residuais de equipamentos de revestimento galvânico contendo íons
metálicos ou na limpeza de águas residuais com fenol da indústria química.
Assim, íons metálicos e fenóis podem ser recuperados.

RESUMINDO:

Nesse capítulo vimos como acontece a separação de


substâncias finas e grossas com a ajuda de peneiramentos
e peneiras e a separação mecânica de substâncias
sólidas por filtração. Além disso, aprendemos como é
feita a limpeza de águas com tecnologia de membrana
utilizando a microfiltração, ultrafiltração, nanofiltração ou a
osmose reversa. Discorremos sobre o tratamento de água
mediante flotação, separação de substâncias sólidas por
sedimentação e por fim, vimos os processos químicos para
tratamento de água, que são: neutralização, redução de
oxidação, adsorção e quimissorção, precipitação, floculação
e trocador de íons. Foram muitos conhecimentos adquiridos
até aqui. Espero que você tenha aprendido muito!
Tratamento da Água e Efluentes 39

Estações de tratamento de água e estações


de tratamento de esgotos

INTRODUÇÃO:

Nesse capítulo, veremos as definições sobre estações de


tratamento de água (ETAs), e como elas funcionam para
entregar a água potável que consumimos. Ainda neste
capítulo, falaremos sobre as estações de tratamento de
esgoto (ETEs), como surgiram as primeiras estações no
Brasil, como funciona todo o processo de tratamento de
esgoto e quais são os objetivos dele, a sua importância.
Preparado? Boa leitura!

Estação de tratamento da água

DEFINIÇÃO:

Conjunto de reservatórios e estruturas onde a água bruta


recebe diferentes tratamentos para alcançar a qualidade
da água potável. Também é chamado pelo acrônimo: ETA
(Libânio, 2005).

O principal objetivo da Estação de Tratamento de Água (ETA) é


garantir padrões de consumo para consumo humano. A água deve ter
uma aparência limpa, pureza de sabor e estar livre de microorganismos
patogênicos. Para que ele permaneça nessas condições, devemos evitar
sua contaminação por resíduos. Seja agrícola (químico ou orgânico),
esgoto, resíduos industriais ou sedimentos provenientes da erosão
(JORDÃO; PESSÔA, 2011).
40 Tratamento da Água e Efluentes

Figura 6 – Estação de tratamento de água

Fonte: Pixabay

A poluição da água prejudica seu uso, afetando diretamente os


seres humanos. Usamos água para beber, para nossa higiene, para lavar
roupas e utensílios. E, principalmente, pela nossa comida e nossos animais
de estimação. Além disso, a água tem como principal função suprir toda a
estrutura das cidades: indústrias, empresas, escolas, hospitais, casas, etc.

A estação de tratamento de água visa reduzir a concentração de


poluentes na água. E, principalmente, eliminar materiais orgânicos e
microrganismos patogênicos para consumo. Em outras palavras, tratar a
água para que ela não apresente riscos à saúde pública.

Muitas casas nas grandes cidades recebem água corrente de rios


ou represas. Esta água está sujeita a tratamentos especiais para eliminar
impurezas e micróbios que prejudicam a saúde.

Primeiro, a água do rio ou barragem é transportada através de tubos


grossos, chamados tubos principais, para as estações de tratamento de
água. Após a purificação, a água é levada para grandes tanques e depois
distribuída para as casas (ver Figura 7) (JORDÃO; PESSÔA, 2011).
Tratamento da Água e Efluentes 41

Figura 7 – Fluxograma do abastecimento de água

Fonte: Freepik

Na estação de tratamento, a água passa por tanques de cimento


e recebe produtos como sulfato de alumínio e hidróxido de cálcio (cal
hidratada). Essas substâncias fazem com que as finas partículas de areia
e argila presentes na água se unam, formando partículas maiores, os
flocos. Esse processo é chamado de floculação. Como essas partículas
são maiores e mais pesadas, elas se assentam gradualmente no fundo de
outro tanque, o tanque de sedimentação. Desta forma, algumas impurezas
sólidas são retidas na água (VON SPERLING, 1996).

Depois de algumas horas no tanque de decantação, a água que


está acima das impurezas e que é mais limpa passa por um filtro composto
de várias camadas de pequenas pedras (cascalho) e areia. À medida que
a água passa pelo filtro, partículas de areia ou argila que não assentam
ficam presas nos espaços entre os grãos de areia. Alguns dos micróbios
também estão presos nos filtros. É o estágio conhecido como filtração.
42 Tratamento da Água e Efluentes

Depois disso, a água é transportada através de tubos subterrâneos


para casas ou edifícios.

VOCÊ SABIA?

Nem todos os micróbios que podem causar doenças são


depositados no fundo do tanque ou retidos pelo filtro.
Portanto, a água recebe produtos que contêm o elemento
cloro, que mata micróbios (cloração) e flúor, um mineral
importante para a formação dos dentes.

Mesmo aqueles que recebem água da estação de tratamento devem


filtrá-la para consumo. Isso ocorre porque pode haver contaminação nos
tanques de água de edifícios ou casas ou infiltração nos canos. Os tanques
de água devem sempre ser bem fechados e limpos pelo menos a cada
seis meses. Além disso, em certos momentos, quando o risco de doenças
transmitidas pela água aumenta, é necessária atenção adicional.

Constituição da estação de tratamento


Segundo Von Sperling (1996) no projeto de uma estação de
tratamento de esgotos, normalmente não há o interesse em se determinar
os diversos compostos dos quais a água residuária é constituída, tendo em
vista a complexidade das análises de laboratório que seriam necessárias
e a pequena utilidade prática desses resultados como elementos para
subsidiar o projeto e operação da mesma. Desta forma, é preferível a
utilização de parâmetros indiretos que traduzam o carácter ou potencial
poluidor do despejo em questão. Esses parâmetros são divididos em três
categorias: físicos, químicos e biológicos (SPERLING, 1996).

As impurezas de natureza física são causadas por substâncias cuja


presença afeta as características da água, independentemente de sua
natureza química ou biológica. Partículas sólidas suspensas ou em estado
coloidal (orgânicas ou inorgânicas) alteram a transparência (turbidez) e
cor da água, podendo precipitar-se na forma de lodo. Além disso, outras
substâncias dissolvidas também poderão conferir alterações de cor,
manifestação de odor e também variações de temperatura.
Tratamento da Água e Efluentes 43

As impurezas de natureza química constituem-se de substâncias


orgânicas e inorgânicas solúveis. A fração orgânica é representada por
proteínas, gorduras, hidratos de carbono, fenóis e por uma série de
substâncias artificiais, fabricadas pelo homem, como detergentes e
defensivos agrícolas. As substâncias minerais mais importantes são
nutrientes (nitrogênio e fósforo), enxofre, metais pesados e compostos
tóxicos (SPERLING, 1996).

De acordo com Von Speling (1996), a constituição da planta


dependerá de dois fatores:

• As características iniciais da água a ser tratada (salinidade,


turbidez, dureza, características biológicas, etc.).

• As características finais da água a ser tratada, ou seja, o


uso a que se destina.

Será composto pelos seguintes elementos:

• Dispensador de floculante;

• Decanter de folha;

• Equipamento de filtração;

• Bomba de lama;

• Dispensador de cloro.

Estação de tratamento do esgoto


A água encontrada no meio ambiente é um bem extremamente
precioso e presente no cotidiano de cada cidadão. Afinal, lavar as mãos,
tomar banho, lavar a louça e as roupas e usar a descarga do vaso sanitário
são ações que fazem parte do dia a dia das pessoas de qualquer cidade.
Toda a água que é eliminada nesse uso é chamada de esgoto.

Nesse contexto, o saneamento básico, especialmente as estações


de tratamento de esgoto, é fundamental para garantir que essas águas
servidas retornem para a natureza despoluída, contribuindo com a
prevenção de doenças, a promoção da saúde e a melhora da qualidade
de vida da comunidade.
44 Tratamento da Água e Efluentes

O que é estação de tratamento de esgoto?


De modo geral, o esgoto é formado pela água que, após a utilização,
tem as suas características naturais alteradas, tornando-se imprópria
para o uso. O esgoto pode ter origem doméstica, ou seja, aquele que
é produzido pela utilização de água em atividades do dia a dia de uma
residência, como lavagem de peças de roupa e de utensílios de cozinha,
limpeza de cômodos, banho, descarga de vasos sanitários e outros.

A água que escorre pelos ralos de estabelecimentos comerciais e


de indústrias também cai na rede de esgoto e deve ser transportada para
receber o devido tratamento, por meio das tubulações.

O objetivo do tratamento do esgoto é remover os poluentes da água


previamente usada pela população, de forma a devolvê-la aos corpos
hídricos em boas condições e de acordo com os parâmetros exigido
pelos órgãos ambientais. Para tanto, foram criadas as ETEs. Nesses locais,
o esgoto passa por diversos processos, químicos, físicos e/ou biológicos,
que garantem a retirada dos poluentes de forma eficaz.
Figura 8 – Exemplo do descarte incorreto do esgoto em um rio

Fonte: Freepik
Tratamento da Água e Efluentes 45

De modo geral, é possível dizer que o foco do tratamento dos


esgotos é contribuir com a saúde da população e preservar o meio
ambiente, especialmente garantindo a qualidade das águas de lagoas,
rios, mares e até de reservatórios subterrâneos. Isso é importante para
garantir a sustentabilidade desse recurso, que é finito, para toda a
comunidade biótica que depende dele, bem como oferecer melhores
condições de vida para as pessoas.

Como surgiram as estações de tratamento de esgoto


no Brasil?
A vinda da Família Real Portuguesa, em 1808, favoreceu a
disseminação da cultura europeia no Brasil, o que incluía a preocupação
com a saúde pública e o saneamento básico. Dessa forma, um ano após
a chegada da corte, criou-se o cargo de Provedor-mor da Saúde da
Corte e Estado do Brasil. Esse funcionário era responsável por fiscalizar
as quarentenas dos navios que chegavam aos portos do Rio de Janeiro
e verificar as condições de armazenamento de mantimentos e alimentos,
por exemplo.

O objetivo desse serviço era basicamente evitar a propagação de


doenças entre os cidadãos. Para potencializar esse efeito, criou-se a
Junta de Higiene Pública, em 1850. Esse órgão tinha a função de unificar
os serviços sanitários do Império. Dessa forma, durante esse período
ocorreram as primeiras medidas sanitárias de grande importância no país.

Já em meados do século XIX, Dom Pedro II implementou o serviço de


limpeza das residências do Rio de Janeiro e do esgoto das águas pluviais.
Nessa época, o sistema de esgotos compreendia duas redes separadas,
sendo uma para águas pluviais e outra para os rejeitos sanitários somado
à contribuição pluvial de pátios internos e telhados.

As obras foram inauguradas em 1864, e marcam o início do uso


de estações de tratamento de esgoto no Brasil. Na época, elas eram
constituídas por tanques de ferro de grandes proporções, abertos e com
grades de barras, que recebiam o esgoto sanitário da população.
46 Tratamento da Água e Efluentes

A limpeza era feita de forma manual, com utensílios semelhantes


a grandes peneiras. Além disso, o esgoto desses tanques recebia um
tratamento químico de cal e sulfato de alumínio, que agiam como redutores
de odores e aceleravam a decantação do material em suspensão. Após
esse tratamento primário, o esgoto final da estação era lançado no mar.

A partir dos anos 40, se iniciou a comercialização dos serviços de


saneamento. Surgem então as autarquias e mecanismos de financiamento
para o saneamento, com influência do Serviço Especial de Saúde Pública
(SESP), hoje denominada Fundação Nacional de Saúde (FUNASA).

Em meados da década de 50, os investimentos em tratamento de


esgoto começaram a aumentar de forma pontual. Nas décadas de 70 e
80 houve um investimento ainda maior, motivado por diversos estudos
sobre a redução da taxa de mortalidade a partir do saneamento.

Com isso, criaram-se diretrizes de implementação, medidas e


infraestruturas para o saneamento básico no Brasil. Em 1971, foi instituído
o Plano Nacional de Saneamento (PLANASA), com foco principalmente
na expansão do serviço de abastecimento de água. Outro marco do
saneamento no país foi a Lei Federal 11.445, editada em 2007 e conhecida
como o marco legal do saneamento básico, com diretrizes para viabilizar
os avanços necessários para o setor.

Ao longo desses anos, os sistemas de tratamento de esgoto


passaram por avanços e novas tecnologias foram implementadas. Apesar
disso, é evidente que em quase 50 anos, o cenário do saneamento no
país pouco evoluiu. Segundo dados do Sistema Nacional de Informações
sobre Saneamento (SNIS) coletados em 2017, 47,6% da população ainda
não tem coleta de esgoto e 55% do esgoto gerado não é tratado no país.

Como funciona uma estação de tratamento


de esgoto?
Como vimos nos capítulos anteriores, a água utilizada nas
residências, estabelecimentos comerciais e indústrias se torna o que
chamamos de esgoto. Ao deixar as casas, ele é encaminhado por
Tratamento da Água e Efluentes 47

tubulações para as redes coletoras e o destino final é a ETE, estação de


tratamento de esgoto.

Contudo, nas estações de tratamento de esgoto doméstico,


também chegam outros efluentes, como os industriais e as águas pluviais.
O ReCESA 2 (2008) apresenta três tipos diferentes de vazões que alcançam
as estações de tratamento de esgoto:

• Vazão doméstica: provem de esgotos em uma determinada


localidade. Geralmente, é constituída pelos esgotos
gerados nas residências, no comércio, nos equipamentos
e instituições presentes na localidade. Portanto, a
magnitude da vazão doméstica de esgotos é tanto maior
quanto maior for a população da comunidade. Devido à
flutuação da população e as horas de maior intensidade
nas atividades que requerem o uso da água, essa vazão
sofre variações ao longo da hora, do dia e do ano.

• Vazão de infiltração: é constituída pela água que adentra


na rede coletora através de tubos defeituosos, juntas,
conexões, poços de visita, entre outros. Dessa forma,
quanto mais extensa e mais antiga for a rede coletora,
espera-se uma maior contribuição da vazão de infiltração
no total de esgotos que chegam à estação de tratamento,
sobretudo nos períodos de chuva. O material da tubulação,
também influencia na vazão de infiltração. Tubos de
PVC são mais estanques que tubos de manilha de barro
vidrado.

• Vazão industrial: depende do tipo e porte da indústria,


grau de reciclagem da água e, dentre outros, da existência
de pré-tratamento. Esta vazão pode ou não ser aceita pela
companhia de operação dos sistemas para integrar a rede
pública, em função das suas características.

Inicialmente, o tratamento do esgoto consiste na separação da


parte líquida da sólida. Nessa primeira etapa ocorre a remoção de
materiais grosseiros, como objetos sólidos (papéis, plástico e outros),
48 Tratamento da Água e Efluentes

areia e gordura. O sistema é composto geralmente por peneiras e grades,


responsáveis pela retenção desses materiais.

Depois disso, o esgoto é transportado para uma caixa cuja função é


retirar os resíduos de areia e a gordura que permaneceram. Esses resíduos
podem ser removidos de forma manual ou mecanizada e, posteriormente,
devem ser destinados de maneira adequada aos aterros sanitários.

Ao longo dos anos, dois parâmetros importantes foram utilizados


para medida indireta da matéria orgânica presente no esgoto: Demanda
Bioquímica de Oxigênio (DBO) e Demanda Química de Oxigênio (DQO).
Ambos determinam o consumo de oxigênio para decomposição da matéria
orgânica e não sua concentração direta. No caso da DBO, a demanda
é bioquímica, ou seja, exercida por microrganismos decompositores
e no caso da DQO, utiliza-se produto químico como oxidante, a saber:
dicromato de potássio (DÍAZ-BÁEZ, 2002).
Figura 9 – Vista aérea de uma estação de tratamento de esgoto

Fonte: Pixabay

Os processos subsequentes do tratamento do esgoto dependem da


tipologia do sistema de tratamento e podem ser divididos em três níveis:
Tratamento da Água e Efluentes 49

primário, secundário e terciário, de acordo com o grau de poluentes que


se deseja remover.

Vamos revisar quais são esses conceitos a seguir.

As tecnologias abordadas pela Norma Brasileira – NBR 12.209/2011,


que define parâmetros e critérios para projeto hidráulico de Estações de
Tratamento de Esgoto Doméstico, são:

• Preliminar: grades de barras, peneiras e desarenadores;


Primário: decantador primário convencional ou
quimicamente assistido, ou ainda o reator UASB;

• Secundário: são divididos em biomassa suspensa


e biomassa aderida, onde a principal tecnologia de
biomassa suspensa é o lodo ativado e suas variantes e no
caso da biomassa aderida, são os filtros em geral, com ou
sem aeração;

• Terciário: desinfecção com cloração, radiação UV e


ozonização. Ainda nesta etapa, são incorporadas as
tecnologias que objetivam remoção de nutrientes
(nitrogênio e fósforo), como as variantes do processo de
lodo ativado. Contudo, o sistema terciário ainda é muito
pouco aplicado nas estações de tratamento brasileiras
(ReCESA 2, 2008).

RESUMINDO:

No último capítulo desta unidade, aprendemos sobre as


estações de tratamento da água e do esgoto, como cada
uma funciona e suas principais características. Vimos como
a água percorre desde onde é retirada até ir para as casas.
Também vimos como as estações de esgoto surgiram no
Brasil e qual é seu objetivo e importância. Espero que você
tenha aprendido muito sobre o tratamento da água e do
esgoto, e que possa colocar seu conhecimento em prática.
Até mais!
50 Tratamento da Água e Efluentes

REFERÊNCIAS
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entre tecnologias. Gestão Tecnologia e Inovação. Vol.01 n.1, 2017.

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Residuárias – Vol. 3 – Lagoas de Estabilização. 1ª Edição. Editora UFMG -
Belo Horizonte, 1996. 140 p.
Tratamento da Água e
Efluentes

Hannah de Oliveira Santos Bezerra

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