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Restauração, Positivismo,
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Neocriticismo, Historicismo
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e Neoidealismo
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Filosofia rousseau maquiavel
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kegaard hobbes
leu leibniz kant 1
Restauração, Positivismo, Neocriticismo, Historicismo e Neoidealismo
pascal heráclito
er sartre parmênides
más1.deAaquino
filosofia na era da Restaura- nha e atrasado em relação à Revolução
ttgenstein
ção e o hume
Posi�vismo na Cultura Eu- Industrial.
schopenhauer
ropeia
l marx epicuro Pode-se organizar a filosofia deste perí-
1.1 A filosofia odo da seguinte forma: 1) na França: os
al voltaire tales na França e na Itália na ideólogos (Antoine-Louis-Claude Des-
carteserarousseau
da Restauração
tutt de Tracy e Pierre Cabanis); o espiri-
galileu heidegger
Marcado por revoltas, a Revolução tualismo (Maine de Biran); o espiritua-
x popper spinoza
Industrial e o crescimento da classe lismo eclético (Victor de Cousin); os tra-
avel média, o período da Restauração euro- dicionalistas (Louis de Bonald e Joseph
kierkegaard
ntaigne (1814-1848) refere-se à luta por de Maistre); 2) na Itália: na esteira do
peia heráclito
dos par�dários da monarquia Iluminismo (Gian Domenico Romagno-
parte hume
el platão
caulteuropeia pela legi�midade interna si, Carlos Cattaneo e Giuseppe Ferrari);
wittgenstein
contra os carbonários e por vezes mili- hostis ao Iluminismo (Pascal Galluppi,
es tomás de aquino
tares que seguiam os ideais jacobinos Antônio Rosmini e Vincenzo Gioberti).
auvoir
da habermas
Revolução Francesa. Essas guerras
galileu leibniz os ideais de liberalismo e 1) na França: os ideólogos (Antoine-
espalhavam
a pascal por toda a Europa. Os mo- -Louis-Claude Destu� de Tracy e Pierre
heráclito
socialismo
narcas europeus (como João VI de Por- Cabanis); o espiritualismo (Maine de
aire wittgenstein
uinotugal, Fernando I das Duas Sicílias, Fer- Biran); o espiritualismo eclé�co (Victor
kierkegaard
nando I da Áustria, Frederico Guilherme de Cousin); os tradicionalistas (Louis de
picuro hegel
III da Prússia, e Carlos X da França) Bonald e Joseph de Maistre)
dt bacon
viram platão
esses movimentos como uma
stinho sócrates
tenta�va de subjugar seus tronos. Em Antoine-Louis-Claude Destu� de Tracy
kegaard hobbes
resposta, eles tentaram afirmar seu foi um filósofo, polí�co, soldado francês
kant e a legi�midade mo- e líder da escola filosófica dos Ideólo-
conservadorismo
leu leibniz
pascalnárquica, mas apenas “jogaram lenha gos. Criou o termo idéologie (1801) no
heráclito
na fogueira”. A mudança finalmente se tempo da Revolução Francesa, com o
er sartre parmênides
fez claro durante as difundidas revolu- significado de ciência das ideias, toman-
másções
de aquino
de 1848. Os monarcas responde- do-se ideias no sen�do bem amplo de
kegaard
ram ouhobbes
abdicando ou aderindo aos prin- estados de consciência. Militar de car-
leu leibniz kant
cípios democrá�cos e cons�tucionais. reira, aderiu à Revolução, destacando-
pascal à essa conturbada época, após a -se como deputado. Fez parte do grupo
heráclito
Devido
do jacobi�smo e a implantação dos sensualistas, com orientação nos
derrotaparmênides
per sartre
do protestan�smo liberal por parte dos pensamentos de Condorcet. Seus pen-
omás de aquino
ingleses, o Con�nente europeu ficou samentos republicanos entraram em
1

ttgenstein hume
poli�camente afastado da Grã-Breta- conflito com os par�dários de Bonapar-
schopenhauer
l marx epicuro
2
Restauração, Positivismo, Neocriticismo, Historicismo e Neoidealismo

te, que os acusaram de idéologues. De- fisiologista e filósofo francês. Foi sepul-
corrido cerca de uma década da queda tado no Panteão de Paris. Contrário à
da Bastilha, o filósofo francês, exilado psicologia como estudo da alma, ele
em Bruxelas, começou a publicar Elé- reduz a vida consciente ao funciona-
ments D'Idíologie (1801-1815), em 4 mento do sistema cerebral: o cérebro é
volumes, postulando a fundação de um o órgão do pensamento e da vontade.
original campo de estudos des�nado a
formar a base de todas as ciências: a Maine de Biran foi um filósofo francês.
ciência das ideias. O projeto desta ciên- Seu trabalho filosófico foi realizado na
cia era o de tratar as ideias como fenô- forma de memórias, reflexões e diários.
menos naturais que exprimiam a rela- Através da meditação introspec�va dos
ção entre o homem, organismo vivo e seus próprios estados �sicos e psíqui-
sensível e o seu meio natural de vida. cos, chegou à concepção de que a cons-
Assim, para ele, o que o estudo da ideo- ciência, entendida como uma substân-
logia possibilitava era o conhecimento cia independente, existe somente como
da verdadeira natureza humana ao per- esforço oposto à resistência do objeto
guntar de onde provinha nossas ideias e externo. Na resistência é que se daria a
como se desenvolviam. Poucos anos consciência do “eu”, resultado final da
depois dessa publicação, o termo ideo- introspecção que iria além dos múl�-
logia adquiriu uma conotação, eminen- plos estados, nos quais os sensualistas
temente pejora�va, a ponto do ensino (como Condillac), dissolviam a subje�vi-
da disciplina Ciência Moral e Polí�ca, dade. Maine de Biran estabelece ainda
ser proibida no Ins�tut de France (1812) uma dis�nção fundamental entre a
por Napoleão Bonaparte, que pragma�- impressão passiva (provocada pelo
camente preferia a força dos canhões a exterior) e a a�va (resultante da a�vida-
das palavras, que acusou o autor e de interna do sujeito). Seus esforços
outros professores da citada disciplina, foram para cons�tuir o que seria uma
de pregarem oposição ao seu governo. antropologia filosófica: a dis�nção
Inspirou o posi�vismo de Auguste entre vida animal, vida humana e vida
Comte e teve como discípulos Stendhal espiritual. Seu pensamento manifestou
e Sainte-Beuve e morreu em Paris. De- uma evolução, através de etapas que
fendia a distribuição de poderes, a podem ser caracterizadas como verda-
liberdade polí�ca, considerando que deiras conversões ao platonismo e ao
esta não pode florescer sem liberdade cris�anismo. Maine de Biran foi o inicia-
individual e sem liberdade de imprensa. dor da reação espiritualista que marcou
a filosofia francesa no começo do
Pierre-Jean-Georges Cabanis foi um século XIX. Sua vida, seus desenganos,
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Restauração, Positivismo, Neocriticismo, Historicismo e Neoidealismo

sucessos e suas posições filosóficas difundida por Théophile Gau�er e assu-


estão presentes em Diário ín�mo, con- mida como lema pelo parnasianismo.
siderada uma de suas melhores obras, e
cuja edição defini�va somente apare- Louis de Bonald foi um filósofo francês
ceu em 1927, ou seja, mais de um adversário do iluminismo e da teoria
século após sua morte. polí�ca em que se baseou a Revolução
Francesa. Juntamente com Lamennais
Victor de Cousin foi um filósofo, polí�- no domínio da filosofia, Joseph de
co, reformador educacional e historia- Maistre na religião, Ferdinand d'Ecks-
dor francês. Líder da Escola Eclé�ca, tein na história, Louis de Bonald é consi-
tendo sido seu fundador, o ecle�smo foi derado, no domínio da filosofia polí�ca,
brevemente influente da filosofia fran- como um dos expoentes máximos da
cesa que combinava elementos do idea- filosofia católica contra-revolucionária.
lismo alemão e do Realismo do Senso
Comum escocês. Foi membro da Acade- Joseph de Maistre foi um escritor, filó-
mia Francesa de Letras. Como adminis- sofo, diplomata e advogado. Foi um dos
trador de instrução pública por mais de proponentes mais influentes do pensa-
uma década, Cousin também teve uma mento contrarrevolucionário ultramon-
influência importante na polí�ca educa- tanista no período imediatamente
cional francesa. Cousin não desenvol- seguinte à Revolução Francesa de 1789.
veu um sistema filosófico próprio, origi- Era a favor da restauração do Reino da
nal, mas construiu um sistema a par�r França, que ele via como uma ins�tui-
de outros. Conseguiu, porém, mudar a ção de inspiração divina. Argumentava
ênfase da filosofia francesa do materia- também a favor da suprema autoridade
lismo para o idealismo e tornou-se o do Papa, quer em matérias religiosas
mais conhecido pensador francês de como também em matérias polí�cas.
sua época. Via um pouco de verdade De acordo com Joseph de Maistre,
em cada uma das filosofias, e reuniu-as apenas os governos baseados na cons�-
em quatro categorias: sensualismo, ide- tuição cristã, implícita nos costumes e
alismo, ce�cismo e mis�cismo. Foi cri�- ins�tuições de todas as sociedades
cado pelos ateus, por um lado, e, por europeias, mas especialmente nas mo-
outro, provocou também o desagrado narquias católicas europeias, poderiam
da Igreja Católica, por buscar, nos acon- evitar as desordens e as matanças que
tecimentos históricos, evidências da se seguem à implementação de progra-
mão de Deus e por negar a revelação mas polí�cos racionalistas, tais como a
divina. A ele é atribuída a criação da então recente Revolução Francesa. De-
expressão “arte pela arte”, depois fensor entusiasta da autoridade estabe-
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Restauração, Positivismo, Neocriticismo, Historicismo e Neoidealismo

lecida, que a revolução pretendia des- mo espiritualista e a todas as meta�si-


truir, defendeu-a em todos os domí- cas, ele diz que a filosofia deve recon-
nios: no Estado, enaltecendo a monar- quistar o fato. Aqui está a grandeza do
quia; na Igreja, enaltecendo os privilé- posi�vismo.
gios do papado; e no mundo, glorifican-
do a providência divina. É o autor da Pascal Galluppi busca salvar os núcleos
célebre frase: “Toda nação tem o gover- fundamentais da tradição religiosa e
no que merece”. meta�sica (existência de Deus, realida-
de do mundo externo, validez da lei
2) na Itália: na esteira do Iluminismo moral etc.) dos assaltos do rela�vismo.
(Gian Domenico Romagnosi, Carlos Cat- É necessário, dizia ele, voltar à expe-
taneo e Giuseppe Ferrari); hostis ao riencia e à tradição.
Iluminismo (Pascal Galluppi, Antônio
Rosmini e Vincenzo Giober�) Antônio Rosmini foi um padre católico,
teólogo e filósofo italiano. Foi declarado
Gian Domenico Romagnosi, filósofo ita- beato em 2007 e é considerado um dos
lialiano, desenvolveu uma “filosofia mais originais e importantes teólogos e
civil” e, por meio dela, dar-nos uma filósofos italianos da primeira metade
moral, um direito e uma polí�ca com do século XIX. Seu trabalho intelectual
sólidos fundamentos. Ele percorre o pretendeu restabelecer o equilíbrio
método do caminho empírico. A civiliza- entre a razão e a religião que havia sido
ção dos homens não é um evento fortemente abalado com o advento do
necessário: a decadência pode ocorrer iluminismo. Os temas principais que
em qualquer estágio. trabalhou foram a ontologia, a dignida-
de do homem, a moralidade, os direitos
Carlos Ca�aneo, discípulo de Ramagno- humanos, a natureza da sociedade, da
si, dizia que a filosofia é uma milícia. Ela inteligência e do conhecimento, a cos-
deve enfrentar os problemas reais e mologia e a teologia natural, abordando
tentar transformar a face da terra. O também a arte, a polí�ca, a educação e
federalismo é a única teoria possível da o casamento.
liberdade. An�-revolucionário e refor-
mista, ele viu na razão o instrumento da Vincenzo Giober� era contra o psicolo-
gradual libertação do homem em rela- gismo. O caminho indicado por ele é o
ção à barbárie e à ignorância. ontologismo: não é o saber construído
pelo homem que fundamenta Deus,
Giuseppe Ferrari, outro discípulo de mas é Deus que cons�tui o fundamento
Ramagnosi, contrário ao tradicionalis- e a validez de nossas cognições.
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Restauração, Positivismo, Neocriticismo, Historicismo e Neoidealismo

1.2 O Posi�vismo na Cultura Europeia As caracterís�cas do posi�vismo são as


seguintes: 1) conhecimento à parte da
A revolução industrial mudou radical- metafisica: “Em ciência não há profun-
mente o modo de vida na Europa. Os didade”. “Os modernos, rejeitando
entusiasmos se cristalizaram em torno formas substanciais e qualidades ocul-
da ideia de progresso humano e social tas, têm-se esforçado para sujeitar os
irrefreável, uma vez que possuíam os fenômenos da natureza às leis da mate-
instrumentos para a solução dos pro- má�ca. (NEWTON, Philosophie natura-
blemas que afligem a humanidade. lis principia mathema�ca). A ciência
Esses instrumentos eram, na concepção não vai atrás do que sobreexcede as
de época, a ciência e suas aplicações na efe�vas possibilidades do conhecimen-
indústria, bem como o livre intercâmbio to humano; detém-se no que lhe é
e a educação. Dessa forma, a era do po- acessível: atém-se ao dado, ao fundado
si�vismo é perpassada por um o�mis- empiricamente; 2) conhecimento rela�-
mo geral, que brota da certeza de pro- vo: é rela�vo por que diz respeito, no
gresso rumo a condições d e bem-estar plano do objeto, à relações; seu objeto
generalizado em uma sociedade de é o objeto que o homem, sujeito da
“ordem e progresso”. Nessa nova socie- relação do conhecimento, e estritamen-
dade, o processo de industrialização e o te nas condições dela, pode apreender;
desenvolvimento da ciência e da tecno- 3) conhecimento descri�vo: as ciências
logia cons�tuem os pilares do meio dizem como é o mundo, como os fatos
sociocultural que o posi�vismo inter- se relacionam entre si. A ciência não
preta, exalta e favorece. O posi�vismo visa conhecer as causas primeiras ou
reivindica o primado da ciência: nós finais, e nem conhecer o todo, mas
conhecemos somente aquilo que as apenas descrever os fenômenos; 4)
ciências nos dão a conhecer, pois o conhecimento hipoté�co: “Provar por
único método de conhecimento é o das experimentos” (Newton); “demonstrar
ciências naturais. A posi�vidade da por experiências sensíveis” (Galileu);
ciência e a divinização do fato, onde o “demonstrar pelo uso combinado entre
dado social e polí�co é tudo, leva a raciocínio e observação” (Comte). As
mentalidade posi�vista a combater as hipóteses que os posi�vistas defendem
concepções idealistas e espiritualistas são: proposições (sempre são falsas ou
da realidade, concepções que os posi�- verdadeiras); testáveis empiricamente;
vistas rotulavam como meta�sicas, plausíveis, verossímeis, ar�culadas com
embora mais tarde ele mesmo caiu em o conjunto das hipóteses cien�ficamen-
uma meta�sica igualmente dogmá�ca. te aceitas até o momento atual; 5)
conhecimento metódico: O método (in-
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Restauração, Positivismo, Neocriticismo, Historicismo e Neoidealismo

du�vismo) é o mesmo para todas as como o esquema de toda a evolução da


ciências empíricas e por esse método a humanidade. O estágio atual, para
ciência se define. Comte, é o estágio posi�vo. Os méto-
dos teológicos e meta�sicos não são
Abordar-se-á o posi�vismo a par�r dos mais empregados por ninguém. Consi-
seus principais pensadores. Ei-los: 1) o derando a evolução da sociedade, o
criador do posi�vismo: Comte (França); progresso social também segue a dinâ-
2) os difusores do posi�vismo na mica dessas três leis: ao estágio teológi-
França: Laffi�e, Li�ré, Renan, Taine e co, corresponde a supremacia do poder
Bernard; 3) o posi�vismo u�litarista militar (feudalismo); ao estágio meta�-
inglês: Malthus, Smith, Ricardo, Ben- sico, corresponde a revolução (que
tham e James Mill. O posi�vismo começa com a Reforma Protestante e
influenciou o u�litarismo de Stuart Mill; termina com a Revolução Francesa); ao
4) o posi�vismo evolucionista: Spencer estágio posi�vo, corresponde a socie-
(Inglaterra); 5) o posi�vismo na Itália: dade industrial. Dessa forma, o verda-
Lombroso, Gabelli, Angiulli, Villari, deiro homem, que superou as supers�-
Tommasi, Murri e Ardigò; 6) o posi�vis- ções, as crenças e as idealizações, acre-
mo materialista na Alemanha: Vogt, dita somente no poder da ciência que,
Molescho�, Büchner e Haeckel. aliada à tecnologia, conduzirão a huma-
nidade, enfim, a um reino de bem-estar.
1) o criador do posi�vismo: Comte Esse bem-estar será marcado pelo fim
(França) dos problemas materiais fundamentais
que afligem a humanidade. A ciência
Isidore Auguste Marie François Xavier posi�vista abandona a causa primeira e
Comte foi um filósofo francês que for- valoriza o estado atual dos fenômenos,
mulou a doutrina do Posi�vismo. Ele é ou seja, não interessa à ciência como foi
considerado como o primeiro filósofo e o porquê é, mas sim o como é. A evo-
da ciência no sen�do moderno do lução e progresso são inexoráveis e
termo. Comte também é visto como o seguem uma linha evolu�va. O método
fundador da disciplina acadêmica de defendido é o indu�vo: as leis gerais
Sociologia. Para Comte (1798-1857), o que regem os fenômenos de toda
ser humano passa por três estágios: ordem são descobertas a par�r da ob-
todo homem é teólogo, na infância; é servação sistemá�ca. A teoria é extraí-
meta�sico, em sua juventude; e é �sico da do real – indução - e não o contrário
em sua maturidade. Com a lei dos três – dedução. A ciência é a autoridade
estágios, Comte constrói uma grandiosa legí�ma acima da polí�ca e religião e
filosofia da história, que se apresenta ela trata apenas do observável e do
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Restauração, Positivismo, Neocriticismo, Historicismo e Neoidealismo

fato. Do posi�vismo surgiu o cien�ficis- derou-se nos círculos agnós�cos e ateus


mo, que é uma crença infundada de que a sua parte menos sólida era a crí�-
que a ciência pode e deve conhecer ca do Novo Testamento, vista como
tudo. pouco conclusiva. As Origens do Cristia-
nismo ou A História de Israel foram bem
2) os difusores do posi�vismo na aceites nesses setores de opinião, con-
França: Laffi�e, Li�ré, Renan, Taine e siderando-se que os meios �sico, inte-
Bernard lectual, e social, terão sido recons�tuí-
dos com rigor. Os seus retratos (de
Pierre Laffi�e foi um filósofo francês, Jesus, Nero, Eclesiaste, Marco Aurélio,
discípulo de Auguste Comte e seguidor São Paulo) terão sido mais ou menos
da Religião da Humanidade e, portanto, imaginados e subje�vos, tendo no
do Posi�vismo. Tendo sido o mais próxi- entanto Renan sabido evitar um simbo-
mo dos discípulos de Comte ao longo lismo excessivo. As comparações entre
de toda sua vida, tornou-se um de seus o passado e o presente tornavam a nar-
13 executores-testamenteiros – aliás, ra�va viva e suges�va, fornecendo
foi o presidente desse grupo – e foi o muitos elementos de controvérsia. Um
responsável pela reunião e manutenção es�lo refinado, elegante, sem sustenta-
em mãos de posi�vistas da casa, da ção sensível, respondia às menores nu-
biblioteca e dos originais dos escritos ances da ideia. Um pouco neutro em
de Augusto Comte, no que se tornaria, diferentes lugares na descrição, nunca
no século XX, o Museu Casa de Augusto se mostrou muito carregado em cor,
Comte. mas brilhou ao res�tuir o espírito da
paisagem. Na úl�ma parte de sua vida,
Émile Maximilien Paul Li�ré foi um lexi- ter-se-á inclinado para um certo dile-
cógrafo e filósofo francês, famoso pela tan�smo, mas não tocando sobre a uni-
autoria do Dictionnaire de la langue dade fundamental caracterís�ca de seu
française, mais conhecido como o pensamento. Sob a a�tude um pouco
Li�ré. Formado em medicina, Li�ré do- falsa do autor à moda, reconhecia-se o
minava o inglês, alemão, grego, la�m e racionalista radical, que jamais deixou o
sânscrito. Era um fervoroso democrata ce�cismo invadir suas certezas nem
que par�cipou da insurreição contra o seus par�dos an�-clericais e an�-católi-
rei Carlos X em 1830. cos. Ele terá pretendido dis�nguir os
religiosos e a religião, procurando mos-
Joseph Ernest Renan foi um escritor, trar como se formam os primeiros.
filósofo, teólogo, filólogo e historiador Explicando psicologicamente o fenôme-
francês. Da sua vasta produção, consi- no da crença, também por aí se juntou à
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Restauração, Positivismo, Neocriticismo, Historicismo e Neoidealismo

filosofia racionalista radical, segundo o mista britânico. É considerado o pai da


seguinte princípio: nem revelação, nem demografia por sua teoria para o con-
milagre. Mas esta obra de ciência irreli- trole do aumento populacional, conhe-
giosa, ele a fez religiosamente; não qui- cida como malthusianismo. Em sua
sera estar a�ngido à categoria do ideal, obra Ensaio sobre o Princípio da Popula-
que para ele resulta no lugar de Deus. É ção, Malthus deixou evidente seu pessi-
neste espírito que ele foi, depois de Vol- mismo quanto ao desenvolvimento
taire, e com o qual se parecia tão pouco, humano. Ele acreditava que a pobreza
um propagador da história das religi- fazia parte do des�no da humanidade,
ões. baseado na premissa de que a popula-
ção possuía potencial de crescimento
Hippolyte Adolphe Taine foi um crí�co e ilimitado, ao contrário da produção de
historiador francês, membro da Acade- alimentos. Malthus concluiu que, se o
mia francesa. Foi um dos expoentes do crescimento populacional não fosse
Posi�vismo do século XIX, na França. O con�do, a população cresceria segundo
Método de Taine consis�a em fazer his- uma progressão geométrica (2,4,8,16,
tória e compreender o homem à luz de 32), e a produção de alimentos cresce-
três fatores determinantes: meio am- ria segundo uma progressão aritmé�ca
biente, raça e momento histórico. Estas (2,4,6,8,10,12). Malthus considerava
teorias foram aplicadas ao movimento que a população dobraria a cada 25
ar�s�co realista. anos.

Claude Bernard um médico e fisiologis- Adam Smith foi um filósofo e economis-


ta francês. O historiador da ciência cha- ta britânico nascido na Escócia. Teve
mado I. Bernard Cohen da Universidade como cenário para a sua vida o atribula-
de Harvard denominou-o “um dos do Século das Luzes, o século XVIII. É o
maiores homens de ciência de todos os pai da economia moderna e é conside-
tempos”. É conhecido fundamental- rado o mais importante teórico do libe-
mente pela criação da medicina experi- ralismo econômico. Autor de Uma
mental/baseada em evidências. investigação sobre a natureza e a causa
da riqueza das nações, a sua obra mais
3) o posi�vismo u�litarista inglês: Mal- conhecida, e que con�nua sendo usada
thus, Smith, Ricardo, Bentham e James como referência para gerações de eco-
Mill. O posi�vismo influenciou o u�lita- nomistas, na qual procurou demonstrar
rismo de Stuart Mill que a riqueza das nações resultava da
atuação de indivíduos que, movidos
Thomas Robert Malthus foi um econo- inclusive (e não apenas exclusivamente)
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Restauração, Positivismo, Neocriticismo, Historicismo e Neoidealismo

pelo seu próprio interesse (self-inte- Jeremy Bentham foi filósofo, jurista e
rest), promoviam o crescimento econô- um dos úl�mos iluministas a propor a
mico e a inovação tecnológica. construção de um sistema de filosofia
moral, não apenas formal e especula�-
David Ricardo foi um economista e polí- va, mas com a preocupação radical de
�co britânico. Ele e sua família tem ori- alcançar uma solução a prá�ca exercida
gens sefarditas que remontam a Holan- pela sociedade de sua época. As pro-
da e Portugal. Ricardo exerceu uma postas têm, portanto, caráter filosófico,
grande influência tanto sobre os econo- reformador e sistemá�co.
mistas neoclássicos, como sobre os eco-
nomistas marxistas, o que revela sua James Mill foi um historiador e filósofo
importância para o desenvolvimento da escocês e o pai de John Stuart Mill. Foi
ciência econômica. Os temas presentes um par�dário do liberalismo e um
em suas obras incluem a teoria do famoso representante do radicalismo
valor-trabalho, a teoria da distribuição filosófico, uma escola de pensamento
(as relações entre o lucro e os salários), também conhecida por u�litarianismo,
o comércio internacional, temas mone- a qual defende uma base cien�fica para
tários. A principal questão levantada a filosofia.
por Ricardo nessa obra trata da distri-
buição do produto gerado pelo trabalho John Stuart Mill foi um filósofo e econo-
na sociedade. Isto é, segundo Ricardo, a mista britânico. É considerado por
aplicação conjunta de trabalho, maqui- muitos como o filósofo de língua inglesa
naria e capital no processo produ�vo mais influente do século XIX. É conheci-
gera um produto, o qual se divide entre do principalmente pelos seus trabalhos
as três classes da sociedade: proprietá- nos campos da filosofia polí�ca, é�ca,
rios de terra (sob a forma de renda da economia polí�ca e lógica, além de
terra), trabalhadores assalariados (sob influenciar inúmeros pensadores e
a forma de salários) e os arrendatários áreas do conhecimento. Defendeu o
capitalistas (sob a forma de lucros do u�litarismo, a teoria é�ca proposta
capital). O papel da ciência econômica inicialmente por seu padrinho, Jeremy
seria, então, o de determinar as leis Bentham. Além disso, é um dos mais
naturais que orientam essa distribuição, proeminentes e reconhecidos defenso-
como modo de análise das perspec�vas res do liberalismo polí�co, sendo seus
atuais da situação econômica, sem livros fontes de discussão e inspiração
perder a preocupação com o cresci- sobre as liberdades individuais ainda
mento em longo prazo. nos tempos atuais. Mill chegou a ser
membro do Parlamento Britânico,
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Restauração, Positivismo, Neocriticismo, Historicismo e Neoidealismo

eleito em 1865, tendo defendido princi- especiais (família, amigos, marido,


palmente o direito das mulheres, che- esposa, etc.) e, por conseguinte, pro-
gando a apresentar uma pe�ção para movemos mais a felicidade destas pes-
estender o sufrágio às mulheres. soas do que outras.

Bentham e Stuart Mill são os dois gran- Contudo, o U�litarismo afirma que não
des pensadores u�litaristas. O u�litaris- devemos considerar a felicidade destas
mo é a doutrina que visa promover a pessoas como melhores ou especiais.
maior felicidade para as pessoas envol- Para entender isso, imagine a seguinte
vidas na ação. Podemos ver a definição situação hipoté�ca: um trem desgover-
do U�litarismo em três afirmações, as nado está em alta velocidade dirigindo-
quais estão necessariamente relaciona- -se diretamente contra 5 operários que
das: 1. “As ações são julgadas certas ou estão sob o trilho, os quais certamente
erradas em virtude de sua consequên- iriam morrer. Entretanto, antes do trem
cia”, isto é, se considerarmos que o chegar nestes 5 operários, há uma
nosso agir tem um início (intenção) e bifurcação no trilho, a qual conduziria o
um fim (consequência), o u�litarismo trem, caso fosse desviado, para uma
julga o agir como certo ou errado atra- linha paralela e, por conseguinte, não
vés da consequência/fim que ele mataria os 5 operário. Há, no entanto,
obteve (diferente de Kant que julga o uma criança brincando no trilho parale-
agir por meio da intenção); 2. Ao avaliar lo, a qual também seria morta caso o
a consequência, a única coisa que trem fosse desviado. Na bifurcação há
importa é a quan�dade de felicidade ou um homem que tem o poder de mudar
infelicidade produzida, ou seja, o U�li- o rumo do trem para a linha paralela, na
tarismo considera a ação certa se ela qual está a criança. Por força do des�-
produziu como consequência a maior no, o homem que está na bifurcação e
felicidade/deleite das pessoas que tem o poder de mudar o rumo do trem
estão envolvidas na ação; 3. A felicidade é o pai da criança. Ele tem duas opções:
deve ser promovida de maneira impar- deixar o trem seguir e matar os 5 operá-
cial, ou seja, ao agir preciso produzir rios ou desviar o trem e ver seu filho
uma consequência que gere a maior morrer. Qual seria a decisão certa
felicidade para as pessoas envolvidas de segundo o U�litarismo? Ele precisa des-
maneira imparcial. O que significa este viar o trem e salvar a maior quan�dade
termo imparcial? A felicidade das pes- de vidas, ou seja, gerar a maior quan�-
soas possuem o mesmo valor. No dade de felicidade. Ele deve promover a
entanto, estamos acostumados a tratar felicidade de modo imparcial, isto é,
algumas pessoas na sociedade como não poderia deixar 5 vidas se perderem
11
Restauração, Positivismo, Neocriticismo, Historicismo e Neoidealismo

porque a vida que estava na linha para- produz a maior quan�dade de felicida-
lela era de seu filho. Se ele �vesse salva- de, ou seja, quanto maior a duração e
do a vida de seu filho e deixado os 5 intensidade (=quan�dade) de felicidade
operários morrerem, a consequência gerada, mais felizes serão as pessoas.
do agir teria gerado maior infelicidade e No entanto, Stuart Mill, em sua obra
seria, portanto, segundo o U�litarismo, U�litarismo, é quem sofis�ca a teoria.
uma ação errada. Na Parte II do seu livro, Mill traz uma
inovação ao U�litarismo, a saber, o
A imparcialidade é, em resumo, a pro- hedonismo qualita�vo. Desta forma,
moção da felicidade dos presentes na durante a avaliação de uma ação deve-
ação sem olhar quem eles são. O U�lita- mos prestar a atenção, além da quan�-
rismo é uma doutrina atraente por dois dade (duração e intensidade), na quali-
mo�vos: 1. O bem que o U�litarista dade dos prazeres gerados, uma vez
busca promover – felicidade/deleite – é que há prazeres inferiores e prazeres
o que todos nós buscamos promover na superiores. São prazeres superiores: os
nossa vida; 2. Outro atra�vo é o conse- prazeres do intelecto, das emoções, da
quencialismo, ou seja, o que importa na imaginação e os sen�mentos morais;
ação é a consequência dela, isto é, a são prazeres inferiores: os prazeres cor-
consequência da ação para estar certa póreos, etc. Os prazeres superiores são
precisa promover a felicidade das pes- mais desejáveis em função do maior
soas envolvidas. Desta forma, precon- bem que geram. São superiores
ceitos, como, por exemplo, contra também pela sua permanência, maior
negros etc., não são em momento segurança para alcançá-lo e menor
algum aprovados pelo U�litarismo, custo. Stuart Mill chama a atenção para
porque os “preconceituosos” não con- o fato de que a fraqueza de caráter faz
seguem explicar como pessoas negras as pessoas escolherem os prazeres que
poderiam ser causa da infelicidade da estão “mais à mão”, ou seja, os prazeres
maioria. Nesta medida, o U�litarismo inferiores. Stuart Mill valoriza mais os
fornece um teste para visualizar quais prazeres superiores pela qualidade da
as regras de conduta irão assegurar a felicidade, de modo que é melhor ser
felicidade da maioria, além de ser um ser humano insa�sfeito do que um
alheio e autônomo em relação às porco sa�sfeito (o porco sa�sfaz apenas
supers�ções e preconceitos. os prazeres inferiores). Uma objeção/-
crí�ca contra essa teoria é que o U�lita-
Dito isso, sabemos que o pai do U�lita- rismo exige muito das pessoas. Esta ob-
rismo é Jeremy Bentham, o qual trouxe jeção ganha relevância quando o U�li-
a ideia de que a ação certa é aquela que tarismo pede para que a promoção da
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Restauração, Positivismo, Neocriticismo, Historicismo e Neoidealismo

felicidade seja imparcial, ou seja, não Durante quatro dias, os três homens se
podemos promover a felicidade apenas alimentaram do corpo e do sangue de
daqueles que conhecemos (família, Parker. Por fim, o socorro chegou. Esse
amigos, etc.), mas da maioria envolvida relato lembra a Tragédia dos Andes.
na ação. Em outras palavras, o U�litaris- Esses homens agiram corretamente? 2.
mo afirma que as felicidades do melhor No seu país, a tortura de prisioneiros de
amigo, da mãe, do pai, etc. possuem o guerra é proibida. Você é tenente do
mesmo valor que a felicidade de uma Exército e recebe um prisioneiro recém-
pessoa desconhecida. Deste modo, -capturado que grita: 'Alguns de vocês
quando se faz uma ação é necessário morrerão às 21h35'. Suspeita-se que
promover a felicidade da maioria das ele sabe de um ataque terrorista a uma
pessoas, mesmo que entre a minoria boate. Para saber mais e salvar civis,
das pessoas não estejam o amigo, a você o torturaria? 3. Um amigo quer lhe
mãe e o pai. O U�litarismo considera a contar um segredo e pede que você não
felicidade de todas as pessoas como conte a ninguém. Ele conta que atrope-
iguais. Porém, nós preferimos promo- lou um pedestre e, por isso, vai se refu-
ver a felicidade de algumas pessoas giar na casa de uma prima. Quando a
específicas na sociedade simplesmente polícia lhe procura querendo saber do
porque temos afinidade com elas. amigo, o que você faz? 4. Você está em
um parque de diversões com sua famí-
A seguir, será citado vários dilemas e lia, esposa e filhos e quando vai com-
casos morais. Pode-se responder a eles prar uma pipoca, um barulho abafado
via o universalismo kan�ano ou o u�li- te chama a atenção. Você vê que atrás
tarismo consequencialista. Ei-los: 1. No dos sanitários uma cena bizarra se con-
verão de 1984, quatro marinheiros figura. Um pedófilo abusa de uma crian-
ingleses estavam à deriva em um ça e a menina parece bastante sua filha,
pequeno bote salva-vidas no Atlân�co idade aproximada, cor dos cabelos,
Sul. Eles �nham apenas duas latas de aparência. Você toma um choque...
nabos em conserva e estavam sem água avista uma ferramenta, uma chave de
potável. Quando não �nham mais o que boca... O que você faz? Esmaga o crânio
comer, o capitão sugeriu um sorteio do monstro? Chama a polícia? O mons-
para determinar quem morreria para tro será julgado e em breve poderá
que os outros pudessem sobreviver. estar livre, pois poderá pagar um bom
Porém, Parker (um dos tripulantes) não advogado e dirá que ouve vozes, que
concordou e não houve sorteio. Toda- possui problemas psiquiátricos e em
via, no dia seguinte, não havendo navio breve estará nas ruas novamente e
à vista, o capitão decidiu matar Parker. poderá molestar mais crianças... quem
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Restauração, Positivismo, Neocriticismo, Historicismo e Neoidealismo

sabe seus filhos... 5. Na Roma an�ga, fosse libertada e levada à luz do Sol,
cristãos eram jogados aos leões no Coli- toda a prosperidade, beleza e deleite da
seu para a diversão da mul�dão. Sim, cidade seria destruída. Entretanto,
de fato, o cristão sofre dores excrucian- alguns cidadãos, homens ou mulheres,
tes quando o leão o ataca e o devora, jovens ou velhos, resolvem silenciosa-
mas pensemos no êxtase cole�vo dos mente sair da cidade, se afastando para
expectadores que lotam o Coliseu. longe de Omelas, e ninguém sabe para
Também havia a figura dos gladiadores onde vão. É jus�ficável prender a crian-
(na polí�ca do “pão e circo”), que se ça no porão para o bem estar de todos
enfrentavam para entreter o público e o na cidade? 7. Imagine que é um prisio-
duelo só terminava quando um deles neiro num campo de concentração. Um
morria ou quando um deles ficava guarda está prestes a enforcar o teu
desarmado ou ferido sem poder com- filho que tentou escapar e quer que
bater. Nesse momento do combate é sejas tu a executá-lo. O guarda diz que,
que era determinado por quem presidia caso não o faças, não só ele irá matar o
aos jogos se o derrotado morria ou não, teu filho, como também outro prisio-
frequentemente influenciado pela neiro inocente. Não tens qualquer
reação dos espectadores do duelo. dúvida de que ele o consegue fazer. O
Jogar cristãos aos leões e a luta de gla- que fazer? Enfim, dilemas e casos
diadores é justificável? 6. O conto Os morais são analisados, filosoficamente,
que se afastam de Omelas, de Ursula K. por meio de critérios na tomada de
Le Guin relata a história de uma cidade decisão. E os dois grandes critérios são:
utópica de felicidade e deleite, cujos o universalismo kan�ano ou o u�litaris-
habitantes são inteligentes e cultos. mo consequencialista.
Tudo em Omelas é agradável, exceto
pelo terrível segredo da cidade: a boa 4) o posi�vismo evolucionista: Spencer
aventurança de todos na cidade exige (Inglaterra)
que uma única criança seja man�da
infeliz, presa na sujeira, escuridão e Tratar-se-á, agora, do posi�vismo evolu-
miséria, e que todos os seus cidadãos cionista de Herbert Spencer. Spencer
descubram isso quando �verem idade foi um filósofo, biólogo e antropólogo
para compreender, normalmente entre inglês, bem como um dos representan-
os oito e os doze anos. Após descobri- tes do liberalismo clássico. Ele foi um
rem a verdade sobre a criança, a maio- profundo admirador da obra de Charles
ria das pessoas em Omelas ficam inicial- Darwin. É dele a expressão “sobrevivên-
mente chocadas e enojadas, mas cia do mais apto”, e em sua obra procu-
acabam por concluir que se a criança rou aplicar as leis da evolução a todos
14
Restauração, Positivismo, Neocriticismo, Historicismo e Neoidealismo

os níveis da a�vidade humana. Spencer Posi�va de Direito Penal, mais precisa-


teve suas ideias enormemente distorci- mente a que se refere ao posi�vismo
das. Essas distorções lhe renderam a evolucionista, que baseava sua inter-
alcunha de “Pai do Darwinismo Social”. pretação em fatos e inves�gações cien-
Todavia, Spencer jamais u�lizou este �ficas. Em 1880 funda juntamente com
termo ou defendeu a morte de indiví- Ferri e Garofalo o jornal “Archivio I Psi-
duos “mais fracos” assim como foi um chiatria, antropologia criminale e scien-
notável opositor de governos militares za penale” que se tornou o grande por-
e autoritários, de qualquer forma de ta-voz do movimento posi�vista. De-
cole�vismo, do colonialismo, do impe- senvolveu a teoria de que o criminoso é
rialismo e das guerras. Ele estudou o ví�ma principalmente de influências
comportamento humano como um atávicas, isso é, uma regressão heredi-
órgão biológico. O filósofo aplicou à tária a estágios mais primi�vos da evo-
sociologia ideias que re�rou das ciên- lução, jus�ficando sua tese com base
cias naturais, criando um sistema de nos estudos cien�ficos de Charles
pensamento muito influente a seu Darwin. Uma de suas conclusões é pos-
tempo. Suas conclusões o levaram a sibilitar a equivalência do criminoso a
defender a primazia do indivíduo um doente que não pode responder por
perante a sociedade e o Estado, e a seus atos por lhe faltarem forças para
natureza como fonte da verdade, lutar contra os ímpetos naturais. De
incluindo a verdade moral. No campo fato, para ele o crime é uma circunstân-
pedagógico, Spencer fez campanha cia natural por ser de caráter primaria-
pelo ensino da ciência, combateu a mente hereditário, porém inaceitável
interferência do Estado na educação e socialmente e acabou por se mostrar
afirmou que o principal obje�vo da favorável à pena de morte e prisão per-
escola era a construção do caráter. pétua como verificado em “As mais
recentes descobertas e aplicações da
5) o positivismo na Itália: Lombroso, Ga- psiquiatria e antropologia criminal” de
belli, Angiulli, Villari, Tommasi, Murri e 1893. Seus principais sucessores foram
Ardigò Raffaelle Garofalo (cujos estudos cola-
boraram na formação da Psicologia Cri-
Cesare Lombroso foi um psiquiatra, minal), Enrico Ferri e principalmente
cirurgião, higienista, criminologista, Gina e Paola, filhas de Lombroso que
antropólogo e cien�sta italiano. Lom- juntas formaram grandes expoentes da
broso é creditado como sendo o criador Escola Posi�va de Direito Penal.
da antropologia criminal e suas ideias
inovadoras deram nascimento à Escola Aris�de Gabelli foi um educador e polí-
15
Restauração, Positivismo, Neocriticismo, Historicismo e Neoidealismo

�co italiano. Aris�de Gabelli estava polí�ca secular e liberal. Segundo An-
entre os principais promotores do posi- giulli, a primeira forma de pedagogia
�vismo filosófico na Itália. No entanto, ocorre na família em que o pai repre-
ele não compar�lhou algumas tendên- senta a autoridade e a mãe o tempera-
cias, como o materialismo e a a�tude mento, através do afeto, de comporta-
an�clerical. Mais do que um teórico po- mentos infan�s: esses elementos
si�vista, como Roberto Ardigò, foi ele essenciais des�nados à formação har-
quem quis traduzir em prá�ca os princí- moniosa de um cidadão capaz de
pios de organização escolar. Sua con- expressar solidariedade social e vonta-
cepção filosófica é considerada muito de de progredir resistindo às pressões
semelhante ao pragmatismo do ameri- administrativas que caracterizavam os
cano John Dewey. primeiros anos do nascimento do
estado unitário italiano.
Andrea Angiulli foi um filósofo e educa-
dor italiano, importante expoente do Pasquale Villari dedica seus estudos à
posi�vismo pedagógico italiano. An- historiografia e à metodologia da histo-
giulli acreditava que deveriam ser feitos riografia por meio do posi�vismo. Villari
esforços para reformar a educação em estuda o período medieval, modernista
um sen�do popular e nacional, colocan- e, portanto, também posi�vista. O
do esse projeto no contexto de uma caminho historiográfico de Villari
renovação de toda a sociedade que também está entrelaçado com os temas
somente através da educação teria con- filosóficos da segunda metade do
seguido manter suas caracterís�cas ao século XIX.
longo do tempo. Era necessária uma
fusão entre cultura, sistemas educacio- Salvatore Tommasi foi um patologista
nais e polí�ca social, realizando, assim, italiano, um importante representante
o programa de pensamento posi�vista da pesquisa médica na segunda metade
que, segundo Angiulli, tem um valor do século XIX na Itália e um dos princi-
principalmente pedagógico, uma peda- pais expoentes do posi�vismo italiano.
gogia cien�fica, segundo os ditames po-
si�vistas, mas também literário e libe- Augusto Murri era um médico italiano.
ral. Portanto, a pedagogia não pode Ele é considerado um dos maiores clíni-
deixar de levar em consideração a cos de seu tempo, autor de uma vasta
antropologia que demonstra a impor- a�vidade cien�fica.
tância da família como núcleo fundador
da sociedade e da sociologia que esta- Roberto Felice Ardigò foi psicólogo, filó-
belece o elo entre a educação e uma sofo e pedagogo italiano. A originalida-
16
Restauração, Positivismo, Neocriticismo, Historicismo e Neoidealismo

de de sua filosofia difere tanto do enci- bíblico sobre a história da terra e a


clopedismo naturalista quanto do espí- origem da vida. Ele reforçou a sua aver-
rito tradicional do sistema, a priori, são, contra Rudolf Wagner, à ideia de
dedu�vista, dogmá�co. A filosofia imortalidade da alma.
encontra sua especificidade no funda-
mento do fato (�sico ou psíquico) e na Jacob Molescho� foi um fisiologista e
argumentação indu�va, contra as dedu- escritor holandês em dieté�ca. Ele é
ções meta�sicas a priori, que não têm conhecido por suas visões filosóficas
base na experiência, como a dedução em relação ao materialismo cien�fico.
lógico-matemá�ca. Uma filosofia, que Ele era membro da Academia Alemã de
aceita o método cien�fico e quer se Ciências Leopoldina (desde 1884).
chamar cien�fica, rejeita, portanto,
teses meta�sicas, en�dades transcen- Friedrich Karl Chris�an Ludwig Büchner
dentes verificáveis, aceita as hipóteses foi um filósofo, fisiologista e médico
a serem verificadas. Segundo Ardigò, o alemão que se tornou um dos expoen-
naturalismo renascen�sta surgiu pela tes do materialismo cien�fico do século
primeira vez contra o racionalismo me- XIX. Ele foi, principalmente, um fisiolo-
ta�sico abstrato da filosofia, que se gista, não um meta�sico. Matéria e
seguiu ao empirismo, iluminação e sen- força (ou energia) são, ele sustentou,
sismo, até o darwinismo e o posi�vis- infinitas; a conservação da força decor-
mo. Uma filosofia posi�va não pode re da imperecibilidade da matéria, a
nutrir certezas defini�vas (se deseja ser base úl�ma de toda ciência.
portadora de teses reformuláveis, como
as teorias cien�ficas) e não pode ser um Ernst Heinrich Philipp August Haeckel
sistema unitário e dogmá�co. Ardigò foi um zoólogo, naturalista, eugenicista,
propõe uma filosofia que, tendo perdi- filósofo, médico, professor, biólogo ma-
do a esfera das ciências naturais posi�- rinho e ar�sta alemão que descobriu,
vas, se especifica autonomamente descreveu e nomeou milhares de novas
como a ciência dos fatos psíquicos (psi- espécies mapearam uma árvore genea-
cologia) e fatos sociais (sociologia). lógica relacionando todas as formas de
vida e cunharam muitos termos em bio-
6) o posi�vismo materialista na Alema- logia, incluindo ecologia, filo, filogenia e
nha: Vogt, Molescho�, Büchner e Hae- Pro�sta. Haeckel promoveu e populari-
ckel zou Charles Darwin na Alemanha e
desenvolveu a teoria da recapitulação
Karl Vogt foi um zoólogo decididamente (é uma hipótese histórica de que o
contrário à ideia criacionista e ao relato desenvolvimento do embrião de um
17
Restauração, Positivismo, Neocriticismo, Historicismo e Neoidealismo

animal, da fer�lização à gestação ou Há duas escolas: 1) a Escola de Marbur-


eclosão (ontogenia), passa por estágios go: Cohen, Natorp e Cassirer; 2) Escola
que se assemelham ou representam de Baden: Windelband e Rickert.
estágios adultos sucessivos na evolução
dos ancestrais remotos do animal (filo- 1) a Escola de Marburgo: Cohen, Natorp
genia). e Cassirer

2. O Neocri�cismo e o Historicis- Seus principais representantes são Her-


mo mann Cohen, o líder da Escola de Mar-
burgo, Paul Natorp e Ernst Cassirer.
2.1 O Neocri�cismo Zurück zu Kant! (“Retorno a Kant!”) era
a palavra de ordem dessa corrente de
O neokan�smo ou neocri�cismo é uma pensamento, que no entanto não pre-
corrente filosófica desenvolvida princi- tendia um simples retorno mas o apro-
palmente na Alemanha, a par�r de fundamento da filosofia kan�ana, em
meados do século XIX até os anos 1920. duas linhas: em direção a uma racionali-
Preconizou o retorno aos princípios de zação da religião (Cohen, com referên-
Immanuel Kant, opondo-se ao idealis- cia ao judaísmo); em direção a uma
mo objetivo de Georg Wilhelm Friedrich teoria do conhecimento (Cassirer). O
Hegel, então predominante, e a todo século XIX foi marcado pela hegemonia
tipo de metafísica, mas também se do hegelianismo. Após a morte de
colocava contra o cien�ficismo posi�- Hegel, a filosofia caiu em descrédito. A
vista e sua visão absoluta da ciência. O par�r dos anos 1850 alguns pretendiam
neokan�smo pretendia, portanto, recu- mesmo o seu desaparecimento, alegan-
perar a a�vidade filosófica como refle- do que não oferecia respostas aos pro-
xão crí�ca acerca das condições que blemas sociais, históricos e polí�cos. O
tornam válida a a�vidade cogni�va – retorno a Kant parecia então o único
principalmente a Ciência, mas também modo possível de pensar a ciência e o
os demais campos do conhecimento – lugar da razão. Assim, a maioria dos
da Moral à Esté�ca. As principais ver- pensadores do fim do século XIX e do
tentes do neocri�cismo alemão foram a início do século XX é, em alguma
Escola de Baden, que tendia a enfa�zar medida, neokan�ana. Michel Foucault,
a lógica e a ciência, e a Escola de Mar- autor de uma tradução da Antropologia
burgo, que influenciaram boa parte da do ponto de vista pragmá�co de Kant,
filosofia alemã posterior, par�cular- em uma ocasião declarou “Somos todos
mente o Historicismo e a Fenomenolo- neokan�anos”. Os aspectos é�cos do
gia). neokan�smo frequentemente o leva-
18
Restauração, Positivismo, Neocriticismo, Historicismo e Neoidealismo

ram para a órbita do socialismo. Os Arbeinten, dedicada à defesa e difusão


neokan�anos �veram grande influência do neokan�smo da Escola de Marburgo.
sobre o marxismo austríaco (Max Adler) Seu livro mais importante é Sistema de
e sobre a social-democracia alemã, atra- filosofia, publicado em 1902.
vés do revisionismo de Eduard Berns-
tein. A Escola Neokan�ana teve uma Paul Gerhard Natorp foi um filósofo e
influência duradoura e sua importância educador alemão, considerado um dos
foi muito além da Alemanha. Ela cunhou co-fundadores da escola de neokan�s-
termos como epistemologia e sustentou mo de Marburg. Ele era conhecido
sua preponderância sobre a ontologia. como uma autoridade em Platão. Ele
Natorp teve decisiva influência na histó- influenciou os primeiros trabalhos de
ria da Fenomenologia e a ele é credita- Hans-Georg Gadamer e teve um efeito
da, juntamente com Edmund Husserl a profundo no pensamento de Edmund
adoção do vocabulário do idealismo Husserl, o “pai” da fenomenologia. Seus
transcendental. O debate entre Cassirer alunos incluíram o filósofo e historiador
e Mar�n Heidegger sobre a interpreta- Ernst Cassirer, o teólogo Karl Barth e o
ção de Kant levou este úl�mo a formular autor do doutor Zhivago, Boris Paster-
as razões pelas quais Kant teria sido um nak.
precursor da fenomenologia – embora
esta ideia seja contestada por Eugen Ernst Alfred Cassirer foi um alemão filó-
Fink. sofo. Treinado na Escola de Marburg, ele
seguiu inicialmente seu mentor Her-
Hermann Cohen foi um filósofo alemão mann Cohen na tenta�va de fornecer
judeu, considerado de suma importân- uma filosofia idealista da ciência. Após a
cia para a inserção do judaísmo no morte de Cohen, Cassirer desenvolveu
grande debate universalista da moderni- uma teoria do simbolismo e a usou para
dade. Seus primeiros estudos deram-se expandir a fenomenologia do conheci-
em Breslau, no ginásio e no Seminário mento em uma filosofia mais geral da
Teológico estabelecido pela comunida- cultura. Cassirer foi um dos principais
de judaica, à qual sua família pertencia. defensores do idealismo filosófico no
Completou seus estudos filosóficos em século XX. Seu trabalho mais famoso é a
Berlim e em Halle, obtendo seu douto- A Filosofia das Formas Simbólicas
rado em 1865. Professor na Universida- (1923-1929). Embora seu trabalho
de de Marburgo e �tular de filosofia tenha recebido uma recepção mista
entre 1876 e 1912, ano em que mudou- logo após sua morte, os estudos mais
-se para Berlim, publicou com Paul recentes comentaram o papel de Cassi-
Nartop a revista Philosophische rer como um defensor estridente do
19
Restauração, Positivismo, Neocriticismo, Historicismo e Neoidealismo

idealismo moral da era do Iluminismo e no que protestou outros neokan�anos


a causa da democracia liberal em um do seu tempo e que man�nha que
momento em que a ascensão do fascis- “para perceber Kant da maneira correta
mo fez tal defesa. fora de moda. Dentro significa ir para além dele”. Contra os
da comunidade judaica internacional, o seus contemporâneos posi�vistas, Win-
trabalho de Cassier também foi visto delband argumentou que a filosofia
como parte de uma longa tradição de deveria se envolver em diálogo hu-
pensamento sobre filosofia é�ca. Cassi- manís�co com as ciências naturais em
rer supera, por um lado, o modelo me- vez de se apropriar de maneira não
ta�sico (pensamento teoré�co puro) e crí�ca das suas metodologias. Os seus
o modelo empírico (conhecimento interesses nas ciências culturais e psico-
reflexo), e propõe a integração dos lógicas representam uma oposição às
modos de produção cultural. Estes escolas do psicologismo e historicismo.
(mito, religião, linguagem, conceitos Windelband confiou o seu esforço para
cien�ficos) seriam extensões da função a�ngir além de Kant em filósofos como
simbólica. Na opinião de Cassirer, a Hegel, Herbart e Lotze. Próximo de Win-
consciência ultrapassa, com sua delband era Heinrich Rickert. Os discí-
impregnação simbólica, os dados ime- pulos de Windelband não eram apenas
diatos para a�ngir o total da experiên- notórios filósofos, mas sociólogos como
cia cultural. Segundo ele, todo o conhe- Max Weber e teólogos como Ernst Tro-
cimento humano depende do poder de eltsch e Albert Schweitzer.
formar experiência mediante algum
�po de simbolismo. Segundo o profes- Heinrich Rickert teve uma longa e bem-
sor Donald Philip Verene, “a concepção -sucedida carreira acadêmica, apesar
de símbolo de Cassirer influencia até dos problemas de saúde. O filósofo
hoje a antropologia teórica, a psicolo- recebeu diversos prêmios, além de ter
gia, a linguística a linguística estrutural, lecionado e, em alguns casos, supervi-
a crítica literária, a teoria do mito a sionado importantes pensadores ale-
estética e a fenomenologia. Seus estu- mães da geração seguinte, como Mar�n
dos sobre a Renascença e o Iluminismo Heidegger, Emil Lask e Walter Benja-
ainda permanecem como trabalhos pio- min. Rickert estabeleceu trocas intelec-
neiros na história intelectual”. tuais com as principais figuras da filoso-
fia de seu tempo, como Wilhelm Dil-
2) Escola de Baden: Windelband e they, Georg Simmel, Edmund Husserl,
Rickert Max Weber e Karl Jaspers. Uma das
principais realizações do filósofo foi ter
Wilhelm Windelband foi um neokan�a- elaborado uma fundamentação rigoro-
20
Restauração, Positivismo, Neocriticismo, Historicismo e Neoidealismo

sa para as ciências culturais no plano rismo e da experiência difere da con-


conceitual e lógico. Apesar de ter rece- cepção britânica de empirismo. Seus
bido poucas traduções, percebe-se um principais conceitos procuram funda-
crescente interesse em sua obra. mentar as “ciências do espírito” (ciên-
cias humanas) como forma de conheci-
2.2 O Historicismo mento, em oposição às “ciências da
natureza”. Para tal, dialoga e aprofunda
O historicismo caracteriza-se por ser o pensamento de Kant, John Locke, Au-
um retorno à tradição das ciências do guste Comte, Stuart Mill, Berkeley,
espírito fundamentado em uma herme- Rudolf Hermann Lotze, entre outros. As
nêu�ca radical, que problema�za as ciências do espírito teriam como objeto
concepções de ciência histórica. A ten- o homem e o comportamento humano;
dência historicista surgiu no final do para Dilthey é possível, diante do
século XIX e perdurou até a década de mundo humano, adotar uma a�tude de
1930 em diversos contextos nacionais, “compreensão pelo interior”, ao passo
tais como na Alemanha, Itália, Grã-Bre- que, diante do mundo da natureza, essa
tanha, Espanha, França e Estados via de compreensão estaria completa-
Unidos. Ques�onamentos como a natu- mente fechada. Os meios necessários à
reza e o método da história, e de sua compreensão do mundo histórico-so-
historicidade, o caráter cien�fico ou cial podem ser, dessa maneira, �rados
não do método histórico são centrais no da própria experiência psicológica, e a
historicismo. Os historicistas cri�cam a psicologia, deste ponto de vista, é a pri-
falta de reconhecimento da Escola His- meira e mais elementar das ciências do
tórica Alemã da diferenciação metodo- espírito. A experiência imediata e vivida
lógica entre as ciências da natureza e as na qualidade de realidade unitária (Erle-
ciências do espírito e enfa�zam o pri- bnis – Vivência; Experiência) seria o
mado da razão histórica em oposição à meio a permitir a apreensão da realida-
razão científica. de histórica e humana sob suas formas
concreta e viva. Em seus ensaios intitu-
Wilhelm Chris�an Ludwig Dilthey foi lados Estudos sobre os Fundamentos da
um filósofo hermenêu�co, psicólogo, Ciências do Espírito e Teoria das Con-
historiador, sociólogo e pedagogo cepções do Mundo, Dilthey submete a
alemão. Dilthey lecionou filosofia na uma análise rigorosa o conceito de Erle-
Universidade de Berlim. Considerado bnis. Em A Essência da Filosofia, obra de
um empirista, o que contrastava com o 1907, Dilthey chega a afirmar a falência
idealismo dominante na Alemanha em da filosofia como meta�sica. Dilthey
sua época, mas sua concepção do empi- propõe uma filosofia histórica e rela�va
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Restauração, Positivismo, Neocriticismo, Historicismo e Neoidealismo

que analise os comportamentos huma- dois filósofos já vistos no tópico ante-


nos e esclareça as estruturas do mundo rior, a saber, Windelband e Rickert. Para
no qual vive o homem contrapondo-se Windelband, as ciências dis�nguem-se
a uma meta�sica que se pretende colo- sobre bases metodológicas. E Rickert
car como imagem compreensiva da rea- destaca o papel de referência aos valo-
lidade e a reduzir todos os aspetos da res no trabalho do historiador.
realidade a um único princípio absolu-
to. Nicola Abbagnano, em sua História Georg Simmel foi um sociólogo alemão.
da Filosofia, descreve que, para Dilthey, Professor universitário admirado pelos
a historicidade é essencial ou cons�tu�- seus alunos, sempre teve dificuldade
va do homem e, em geral, do mundo em encontrar um lugar no seio da rígida
humano. Em segundo lugar, na concep- academia do seu tempo. Simmel desen-
ção de Dilthey, o mundo histórico é volveu a sociologia formal, ou das
cons�tuído por indivíduos que, enquan- formas sociais, influenciado pela filoso-
to “unidades psico�sicas vivas”, são os fia kan�ana (o neokan�smo era uma
elementos fundamentais da sociedade: corrente muito forte na Alemanha da
é por isso que o obje�vo das ciências do época) que dis�nguia a forma do conte-
espírito é “o de reunir o singular e o údo dos objetos de estudo do conheci-
individual na realidade histórico-social, mento humano. Tal dis�nção pretendia
de observar como as concordâncias (so- tornar possível o entendimento da vida
ciais) agem na formação do singular”. social já que no processo de sociação
Por isso, no domínio das ciências do (Vergesellschaftung, termo que cunhou
espírito, a historiografia tem um carác- para o estudo da sociologia) o invarian-
ter individualizante e tende a ver o uni- te eram as formas em que os indivíduos
versal no par�cular. A filosofia se torna se agregavam e não os indivíduos em si.
uma das estruturas que cons�tuem Os processos qualita�vos, no entanto,
uma civilização e o trabalho do historia- que assumiam tais formas também
dor seria precisamente captar as rela- deveriam ser estudados pela sociologia
ções que, em uma sociedade, ligam as geral, subproduto da formal, como a
diferentes manifestações do mundo concebia Simmel. O autor não conferia
cultural. É sobre este postulado que se aos grupos sociais unidades hipostasia-
apoiam as principais obras históricas de das, supervalorizadas com relação ao
Dilthey, como A Análise do Homem, A indivíduo (um distanciamento seu com
História da Juventude de Hegel e Estudo relação a Durkheim, por exemplo).
sobre a História do Espírito Alemão. Antes via neste o fundamento dos
grupos, daí que as formas para Simmel
Destacam-se, também, no historicismo, cons�tuem-se em um processo de inte-
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Restauração, Positivismo, Neocriticismo, Historicismo e Neoidealismo

ração entre tais indivíduos, seja por ou o dinossauro, e nesse sen�do somos
aproximação, seja pelo distanciamento, todos spenglerianos”. As previsões pes-
compe�ção, subordinação, etc. simistas de Spengler sobre o inevitável
declínio do Ocidente inspiraram intelec-
Oswald Arnold Go�ried Spengler foi tuais do Terceiro Mundo, desde a China,
um historiador e filósofo alemão, cuja Coréia até o Chile, ansiosos para iden�-
obra O Declínio do Ocidente (1918) foi ficarem a queda do imperialismo oci-
uma referência nos debates historiográ- dental. Na Grã-Bretanha e Estados
ficos, filosóficos e polí�cos entre os Unidos, no entanto, o pessimismo de
intelectuais conservadores europeus, Spengler foi posteriormente anulada
ao longo do século XX. Seu livro foi um pelo o�mismo de Arnold J. Toynbee, em
sucesso entre os intelectuais em todo o Londres, que escreveu a história do
mundo, uma vez que previa a desinte- mundo na década de 1940, com uma
gração da civilização europeia e norte- maior ênfase na religião.
-americanos depois de uma “idade de
cesarismo” violento, argumentando por Ernst Troeltsch foi um escritor e teólogo
analogias detalhadas com outras civili- alemão que ao lado de Max Weber ela-
zações. Ele aprofundou o pessimismo borou alguns conceitos relacionados à
pós Primeira Guerra Mundial na religião. Na obra Die Soziallehren der
Europa. O filósofo alemão Ernst Cassirer christlichen Kirchen und Gruppen, Tro-
explicou que, no final da Primeira eltsch, visando analisar a organização
Guerra Mundial, muitos �tulos de religiosa dentro dos parâmetros buro-
Spengler foram o suficiente para infla- crá�cos, fez a dis�nção de igreja e seita.
mar a imaginação: “Neste momento A primeira significa um organismo reli-
muitos, se não a maioria de nós, se deu gioso grande e bem-estabelecido,
conta de que havia algo de podre no exemplo �pico é a Igreja Católica. A
estado de nossa civilização ocidental segunda refere-se a um agrupamento
altamente valorizada. O livro de Spen- menor de fiéis, geralmente iniciado em
gler expressa de uma forma ní�da e protesto aos rumos tomados por uma
incisiva esta inquietação geral.” Nor- determinada igreja. Na sequência,
throp Frye argumenta que, embora Howard Becker acrescentou dois outros
todos os elementos da tese de Spengler �pos: denominação e culto, sendo o
tenham sido refutados uma dúzia de primeiro para representar uma seita
vezes, é “um dos grandes poemas que se acalmou e se transformou em
român�cos do mundo” e que suas um organismo ins�tucionalizado e o
ideias principais são “tão parte de nossa segundo para conceber organizações
perspec�va mental hoje como o elétron religiosas menos coesas e mais transitó-
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Restauração, Positivismo, Neocriticismo, Historicismo e Neoidealismo

rias. Anthony Giddens avalia com certa interpretação do pensamento hegelia-


cautela estes conceitos, por estarem no que associa as ideias de Kant e Fichte
vinculados as tradições cristãs, confor- a temas idealistas. Destacam-se
me anota o autor, o hinduísmo é tão também os estudos de Francesco De
heterogêneo que não parece plausível Sanc�s sobre a esté�ca hegeliana e,
tentar imprimir os traços de organiza- posteriormente, os trabalhos de Bene-
ção burocrá�ca. de�o Croce e Giovanni Gen�le. A Spa-
venta ligam-se Donato Jaia, Sebas�ão
Friedrich Meinecke foi um historiador e Maturi e Gen�le. Croce inspirou-se em
professor universitário alemão. Foi pro- De Sanc�s.
vavelmente o mais famoso historiador
alemão durante a primeira metade do Em 1913, Giovanni Gen�le publica A
século XX. Foi o primeiro reitor da Uni- reforma da dialética hegeliana. Em sua
versidade Livre de Berlim. Para ele, o obra, Gen�le vê na lógica hegeliana a
rela�vo, visto como desejado por Deus, categoria do devir como coincidente
torna-se como que absoluto. com o ato puro do pensamento, ao qual
se transmite toda a realidade da nature-
3. O Neoidealismo za, da história e do espírito. A essa visão
subje�vista de Gen�le, contrapõe-se, a
Neoidealismo ou neo-hegelianismo par�r de 1913, Benede�o Croce (primo
refere-se a uma vertente (ou vertentes) de Bertrando Spaventa), que, no seu
do pensamento inspirada pelos traba- Ensaio sobre Hegel, interpreta o pensa-
lhos do filósofo idealista alemão Georg mento hegeliano como historicismo
Georg Wilhelm Friedrich Hegel e na imanen�sta. Autoin�tulado “filósofo do
qual se incluem as doutrinas de um fascismo”, ele foi influente em fornecer
grupo de filósofos influentes na Grã- uma base intelectual para o fascismo
-Bretanha e nos Estados Unidos entre italiano, e escreveu sob pseudônimo
1870 e 1920, além dos pensadores ita- parte de A Doutrina do Fascismo (1932)
lianos Benede�o Croce e Giovanni Gen- com Benito Mussolini. Esse é um ensaio
�le. atribuído a Benito Mussolini . Na verda-
de, a primeira parte do ensaio, in�tula-
Sobre o neoidealismo italiano. O inte- do “Ideias Fundamentais” foi escrito
resse pela doutrina hegeliana na Itália pelo filósofo Gen�le, enquanto apenas
difundiu-se no século XIX, sobretudo a segunda parte (“Doutrina polí�ca e
através das obras de Augusto Vera e social”) é a obra do próprio Mussolini.
Bertrando Spaventa, que pode ser con- Gen�le estava envolvido no ressurgi-
siderado como o precursor, na Itália, da mento do neoidealismo hegeliano na
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Restauração, Positivismo, Neocriticismo, Historicismo e Neoidealismo

filosofia italiana e também desenvolveu a filosofia da religião de Thomas Hill


seu próprio sistema de pensamento, Green e Edward Caird, mediante a apli-
que ele chamou de “idealismo real” ou cação do sistema dialé�co hegeliano
“atualismo”, e que tem sido descrito aos princípios religiosos. Entre os neo-
como “o extremo subje�vo da tradição -hegelianos ingleses destaca-se Francis
idealista”. Herbert Bradley, que, em sua obra Apa-
rência e realidade (1893), afirmava o
Benede�o Croce foi um filósofo, histo- aspecto contraditório da experiência
riador e polí�co italiano que escreveu sensível e a necessidade de ir além da
sobre diversos assuntos, incluindo filo- con�ngência, a�ngindo o absoluto
sofia, história, historiografia e esté�ca. hegeliano como síntese de finito e infi-
Em muitos aspectos, Croce era liberal, nito. Efe�vamente, o absoluto apresen-
embora se opusesse ao livre comércio tado por Bradley aparece num registro
do laissez-faire. Exerceu considerável quase neoplatônico já que o aspecto
influência sobre outros intelectuais ita- finito da realidade desaparecia diante
lianos, incluindo o marxista Antonio da prevalência do infinito. A concepção
Gramsci e o fascista Giovanni Gen�le. de Bradley despertou acesas polêmicas
Croce foi presidente da PEN Interna�o- em que se reivindicava, com Bernard
nal, a associação mundial de escritores, Bosanquet, a função essencial da con-
entre 1949 a 1952. Foi indicado ao tradição na dialé�ca hegeliana e, com
Nobel de Literatura dezesseis vezes. John Ellis McTaggart, os aspectos espiri-
tuais do pensamento hegeliano. A crise
Sobre o neoidealismo inglês. Carlyle é do neoidealismo inglês ocorre com
um dos predecessores do neoidealismo James Black Baillie, que, em Estudos
inglês. Em 1865, o filósofo escocês sobre a natureza humana, diante do
James Hutchinson S�rling (1820-1909), drama da Primeira Guerra Mundial,
ao publicar a obra O segredo de Hegel, repudia o o�mismo idealista do histori-
teve o mérito de haver introduzido e cismo hegeliano e retoma a tradição
difundido na Inglaterra o pensamento empirista da filosofia inglesa.
hegeliano, apresentado então como
uma evolução da filosofia transcenden- Sobre o neoidealismo estadunidense.
tal de Kant. O neo-hegelianismo, em Emerson é um dos predecessores do
contraposição ao posi�vismo imperan- neoidealismo na América. Em 1890,
te, pretendia sa�sfazer a necessidade com alguns estudos crí�cos de William
de uma é�ca baseada em valores ideais Torrey Harris sobre a Ciência da Lógica,
e religiosos, contrapondo-a à moral u�- de Hegel, o interesse pelo pensamento
litarista. Nessa direção, desenvolvia-se hegeliano, considerado sobretudo em
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Restauração, Positivismo, Neocriticismo, Historicismo e Neoidealismo

seus aspectos religiosos, difundiu-se O neo-hegelianismo, depois de ter mar-


também nos Estados Unidos. O maior cado fortemente a cultura filosófica ita-
intérprete dessa corrente religiosa neo- liana por mais de quarenta anos, entra
-hegeliana foi Josiah Royce, que defen- em crise no segundo pós-guerra, sendo
deu uma fusão entre a tradição do sub- subs�tuído pelo existencialismo, pelo
je�vismo de Berkeley e a problemá�ca neoposi�vismo, pela fenomenologia e
das filosofias do espírito pós-kan�anas. pelo marxismo.

Indicações de Leituras

1. Tratado de economia política, de Destu� de Tracy


2. Discurso sobre o Espírito Positivo, de Auguste Comte
3. Ensaio sobre o Princípio da População, de Malthus
4. Riqueza da Nações, de Adam Smith
5. Princípios de Economia Política e Tributação, de David Ricardo
6. O panóptico e Uma introdução aos princípios da moral e da legislação, de
Jeremy Bentham
7. O utilitarismo e Sobre a liberdade, de John Stuart Mill
8. Primeiros Princípios, de Herbert Spencer
9. A Filosofia das Formas Simbólicas, de Cassirer
10. Introdução às Ciências Humanas, Construção Do Mundo Histórico Nas
Ciências Humanas e A essência da filosofia, de Dilthey
11. Questões fundamentais da sociologia: indivíduo e sociedade, de Georg
Simmel
12. O Declínio do Ocidente, de Spengler
13. Los fundamentos de la filosofia del derecho, de Gen�le
14. História como história da liberdade e Estética como ciência da expressão
e linguística geral, de Benede�o Croce

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