Na contemporaneidade, entende-se o território como capaz de ser manifestado pelo
indivíduo (o "território ontologicamente simbólico", como aponta Haesbaert), logo interações
entre indivíduos já poderiam ser consideradas como multiterritorialidades: um fenômeno no qual territórios que existem aproximados por uma rede territorial se entrecruzam e potencialmente se transformam. Esse conceito pode, eventualmente, ser confundido com o processo de Globalização que, por sua vez, é desencadeado através da interação social, cultural, espacial e econômica das sociedades enquanto que a multiterritorialidade trata justamente do espaço/território. A própria noção pós-moderna do território como possuidor de aspectos difusos – podendo ser aí incluso o espacial – quando no caráter simbólico já abarca a possibilidade de que existam ocupando o mesmo espaço físico como, por exemplo, o território simbólico Salvador e o território simbólico Kirimurê. Imaginando a proporção dos territórios que compõem Salvador/Kirimurê, o dos povos originários encontra-se sub-representado principalmente se considerando o tempo que ocupam estas terras, e as consequências do processo colonial que expatriou vários deles. Isso ocorre devido à negligência e ignorância da sociedade soteropolitana que, por sua vez, são decorrentes de todo o processo de desenvolvimento da cidade após o colonialismo, visto que a cultura imposta, sobre as pessoas que aqui estavam anteriormente, sobrepôs toda a cultura de povos que ocupavam esse espaço há milênios, fazendo com que a mesma fosse tão mínima que pudesse quase cair em esquecimento. E embora na multiterritorialidade contemporânea exista a mistura difusa de uma grande diversidade de territórios, considera-se também a existência explícita de certas hegemonias capazes de transitar muito mais facilmente entre eles, ainda sendo a predominante na EBA (assim como em todo Brasil) a hegemonia de influência euro-ocidental. Através da arte, que podemos entender como componente cultural do território simbólico, e particularmente do muralismo, que é um dos exemplos mais extremos da arte se manifestando através do território funcional, é de nosso interesse inserir mais do simbólico do Kirimurê na multiterritorialidade Kirimurê/Salvador, e fazê-lo interagir e florescer com o simbólico do Salvador que aqui já se faz muito complexo e presente, criando assim uma multiterritorialidade em potencial que possa estimular uma sensação maior de acolhimento e comunidade em atuais e futuros ocupantes do espaço acadêmico. Afinal, Salvador só existe em decorrência da apropriação de um território, já ocupado e carregado de cultura, Kirimurê. A característica transitória do território simbólico na era da informação transcreve-se no aspecto transitório do mural que sujeita-se às transformações do espaço e da arquitetura trazendo visibilidade a um contexto desconhecido por inúmeros integrantes e participantes de toda uma comunidade pertencente àquele território e que o torna ser o que é.