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ENSAIO CRÍTICO SOBRE “PODER, ESTADO E DEMOCRACIA”

TEORIA DO ESTADO E DEMOCRACIA


PROFESSOR HUGO REZENDE HENRIQUES

IASMIN BORGES VASCONCELOS - 12221DIR036

AUTORITARISMO BRASILEITO E SUAS INFLUÊNCIAS NA ATUAL


DEMOCRACIA: O APOGEU ENTRE 2018 E 2022

UBERLÂNDIA
2023
IASMIN BORGES VASCONCELOS

AUTORITARISMO BRASILEITO E SUAS INFLUÊNCIAS NA ATUAL


DEMOCRACIA: O APOGEU ENTRE 2018 E 2022

Ensaio crítico elaborado e apresentado na


Universidade Federal de Uberlândia, para o curso de
Teoria do Estado e Democracia, ministrado pelo
Prof. Doutor Hugo Rezende Henriques.

UBERLÂNDIA
2023
1. INTRODUÇÃO
Entende-se por autoritarismo o modelo de governo baseado na centralização de
poderes, com traços de hierarquia de posições, abuso de poder, oposição à liberdade
individual, exclusão de direitos e tentativa de alienação. Dessa forma, tal sistema político se
mostra oposto ao molde democrático ideal, que se baseia em uma forma de democracia
representativa e participativa, na qual os representantes devem garantir os direitos da
população e há também a soberania popular, que vai muito além do voto direto.
A partir disso, o presente ensaio crítico, relacionado ao tema geral Poder, Estado e
Democracia tem como objetivo principal analisar como o autoritarismo brasileiro influenciou
e influencia a atual democracia do país, com foco no período de 2018 a 2022. Para isso, é
necessário compreender o que foi o autoritarismo brasileiro e como esse modelo foi efetivado,
como ocorreu a transição até a democracia representativa estabelecida no Brasil e sobretudo,
de que modo os dois modelos de governo estão entrelaçados e de que maneira se apresentou
no período referenciado. Assim, busca-se evidenciar como questões evidentes no passado
nacional ainda estão diretamente ligadas com ações e modelos políticos da atualidade.

2. AUTORITARISMO BRASILEIRO
A consolidação do Estado nacional brasileiro é marcada por uma tendência de
valorização das relações sociais de poder, desigualdade e a dominação de classes. Para Lilia
Moritz Schwarcz, em seu livro “Sobre o autoritarismo brasileiro”, tais características se
fortaleceram desde o período escravocrata do país, no século XVI, como é evidenciado no
seguinte trecho:
No Brasil, o sistema escravocrata transformou-se num modelo tão enraizado que
acabou se convertendo numa linguagem, com graves consequências. Grassou por
aqui, do século XVI ao XIX, uma escandalosa injustiça amparada pela artimanha da
legalidade. Como não havia nada em nossa legislação que vetasse ou regulasse tal
sistema, ele se espraiou por todo o país, entrando firme nos “costumes da terra”.
Imperou no nosso território uma grande bastardia jurídica, a total falta de direitos de
alguns ante a imensa concentração de poderes nas mãos de outros. (SCHWARCZ,
Lilia, 2019, p.22)

Ainda, segundo Simon Schwartzman, no livro “Bases do Autoritarismo Brasileiro”, é


importante analisar o caso da igreja católica nas relações de Estado e sociedade no país, isso
porque, no padroado portugues utilizado no Brasil, a igreja era vista como parte do Estado, na
qual a religião cuidava de setores da sociedade de forma independente, como ritos e a
educação. (SCHWARTZMAN, Simon, 2018, p.16). Sendo assim, como a igreja católica era
marcada pela forte ligação com as elites, tal processo, depois derrubado, se mostrou ligado a
fundamentos autoritários.
Dessa forma, desde os primórdios da nação brasileira traços do autoritarismo estão
presentes e mostraram-se em constante transformação de acordo com o período histórico.
Ainda, de acordo com Schwarcz, o Brasil sempre foi um país de hierarquias, desde a colônia
de exploração e a divisão em monoculturas (marcada por senhores de terra, violência e poder
e monopólio econômico) até o período da Primeira República, na qual os coronéis
dominavam e eram como “caciques” eleitorais e políticos.(SCHWARCZ, Lilia, 2019, p.19).
A partir desse ponto de vista, a autora reitera:
Diante desses grandes poderes personalizados e localizados, acabamos por criar
práticas patrimonialistas, que implicam o uso do Estado para a resolução de questões
privadas. Por outro lado, se durante os últimos trinta anos forjamos instituições mais
consolidadas, ainda hoje elas dão sinais de fraqueza quando balançam em função
dos contextos políticos.(SCHWARCZ, Lilia, 2019, p.19).
Como visto, a formação do Estado brasileiro foi, de certo modo, extremamente
influente para posterior consolidação de ideais autoritários. Nessa perspectiva, é preciso
evidenciar dois momentos marcantes e explícitos do autoritarismo no país: o Estado Novo
(1937 a 1945) e a Ditadura Militar brasileira (1964 a 1985).
De acordo com o pressuposto, instaurou-se desde o golpe militar de 1930, que colocou
Getúlio Vargas no poder, um intenso e transformador período com bases e princípios
autoritários. O principal objetivo da tomada de poder era pôr fim à República Oligárquica,
retirar Washington Luís, atual presidente da época, de seu cargo e impedir a posse de Júlio
Prestes. Para isso, um dos fatores que contribuíram para esse processo foi a crise econômica
de 1929 que atingiu o país, aumentando, assim, as insatisfações políticas.
Primeiramente, foi implantado o chamado governo provisório (1930 a 1934) que tinha
como objetivo reformar o modelo político, baseado na implantação de um governo
centralizador, que era apoiado por tenentistas que buscavam a implementação de um modelo
de governo republicano autoritário. Entre as principais medidas, características do
autoritarismo, foram o fechamento do congresso nacional e do Senado, mudança de
governadores dos estados, que foram escolhidos por Vargas e a suspensão da Constituição de
1891.
Com o movimento de insatisfação e a necessidade de elaboração de uma nova
constituição, iniciou-se o Governo Constitucional, que foi marcado pela aprovação da
Constituição de 1934. Após a promulgação da Constituição, Vargas foi reeleito de forma
indireta, e seu mandato duraria até 1938. Entretanto, durante esse período o país passou por
intensas transformações e estava em um processo de radicalização, na qual o presidente queria
modificar a forma de governar o Brasil, aumentando seus poderes. A partir disso,
acontecimentos marcaram um caminhar autoritário, sendo eles: o fechamento da Aliança
Nacional Libertadora (ANL), que apoiava o Partido Comunista Brasileiro, a aprovação da Lei
de Segurança Nacional e a aplicação do estado de sítio, que caminharam para um posterior
golpe.
Em 10 de novembro de 1937 foi implantado no Brasil o Estado Novo, período
ditatorial do governo de Getúlio Vargas. Tal fato, foi defendido pelo presidente e apoiadores
com justificativas de uma ação comunista, denominada Plano Cohen, um documento falso
que ditava um golpe comunista no país. Assim, neste momento, Vargas apresenta uma nova
constituição e faz o cercamento do país.
A Constituição brasileira de 1937 imposta aos brasileiros ficou conhecida como
“polaca”, isso porque foi inspirada em leis fascistas como a Constituição polonesa de 1935.
Suas principais características eram: centralização do poder, extinção de partidos políticos,
censura os meios de comunicação, extinção do poder legislativo, pena de morte para crimes
políticos, governadores escolhidos pelo presidente e proibição do direito de greve. Deste
modo, notável de forma clara normas que apresentavam esses aspectos. “In verbis”:
“ Art 74 - Compete privativamente ao Presidente da República:
a) sancionar, promulgar e fazer publicar as leis e expedir decretos e regulamentos
para a sua execução;
b) expedir decretos-leis, nos termos dos arts. 12 e 13;
c) manter relações com os Estados estrangeiros;
d) celebrar convenções e tratados internacionais ad referendum do Poder
Legislativo;
e) exercer a chefia suprema das forças armadas da União, administrand-as por
intermédio dos órgãos do alto comando;
f) decretar a mobilização das forças armadas
g) declarar a guerra, depois de autorizado pelo Poder Legislativo, e,
independentemente de autorização, em caso de invasão ou agressão estrangeira;
h) fazer a paz ad referendum do Poder Legislativo;
i) permitir, após autorização do Poder Legislativo, a passagem de forças estrangeiras
pelo território nacional;
j) intervir nos Estados e neles executar a intervenção, nos termos constitucionais;
k) decretar o estado de emergência e o estado de guerra nos termos do art. 166;
l) prover os cargos federais, salvo as exceções previstas na Constituição e nas leis;
m) autorizar brasileiros a aceitar pensão, emprego ou comissão de governo
estrangeiro;
n) determinar que entrem provisoriamente em execução, antes de aprovados pelo
Parlamento, os tratados ou convenções internacionais, se a isto o aconselharem os
interesses do País.” (CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL,
1937)

Assim, é possível ver o extremo autoritarismo presente na Carta Magna de 1937 e


como Getúlio Vargas, mesmo com a tentativa de se mostrar democratico, exercia um governo
das elites e com viés ditatorial. Nessa lógica, Gabriel Lopes Duffes, conclui, em seus estudos
“Da Revolução de 1930 ao golpe de 1937 (estado novo)”, que:
[...]Getúlio Vargas não foi o santo que a memória brasileira a ele consagrou. Logo
quando assumiu o poder, sua primeira ação foi fechar o Congresso Nacional traindo
seus companheiros, ferindo o Estado democrático brasileiro. Também é certo que há
quase um século 147 atrás, o autoritarismo estava em voga e seria anacrônico querer
que um político dos anos 1930 se comportasse como um social democrata de
algumas décadas depois. Vargas trabalhou muito sua imagem para nunca parecer o
homem autoritário e ditador, que era. (DUFFES, Gabriel, 2020, p.146)

Ademais, a Ditadura militar brasileira, imposta em 1964 foi outro marco para o
movimento autoritário no Brasil, de modo que se mostra fundamental analisar os antecedentes
do golpe civil-militar. “Os anos que antecederam o golpe civil-militar de 1964 foram anos de
grande efervescência política e cultural.” (ARAUJO, Maria; SILVA, Izabel; SANTOS,
Desirree, 2013, p. 11), com a renúncia de Jânio Quadros e a posse de João Goulart houveram
mudanças significativas no modelo político. Primeiramente, foi estabelecido um modelo
parlamentarista em 1961, entretanto dois anos depois foi restaurado o regime presidencialista,
favorecendo grupos esquerdistas e as camadas mais pobres, como explicitado a seguir:
A posse de Jango, marcada pela vitória da Campanha da Legalidade, conferiu ânimo
aos grupos nacionalistas e de esquerda que colocaram, na ordem do dia, a pauta das
reformas estruturais. Entre as principais reformas estavam as reformas fiscal,
administrativa, universitária e, principalmente, a reforma agrária. Do programa de
reformas faziam parte também políticas nacionalistas, como o controle sobre o
capital estrangeiro e o monopólio de setores estratégicos da economia. Entre todas
estas bandeiras, a reforma agrária era a mais contundente. No Nordeste rural, as
Ligas Camponesas, lideradas pelo advogado Francisco Julião, levantaram a bandeira
“Reforma agrária já! Reforma agrária na lei ou na marra”(ARAUJO, Maria; SILVA,
Izabel; SANTOS, Desirree, 2013, p. 12)

Na sequência do governo Jango, houveram inúmeros movimentos de participação da


sociedade pública, sendo um período marcado por forte radicalização política e divergências
entre grupos, principalmente com a direita. Após inúmeras articulações militares, e como
principais argumentos a corrupção que acontecia no Brasil e uma possível tomada de poder
comunista, em 31 de março de 1964 João Goulart foi deposto por um golpe civil-militar.
Assim, começaram os 21 anos marcados pelo extremo autoritarismo das elites
militares. Os brasileiros opostos ao regime, sofriam violência, eram torturados, censurados,
partidos políticos e sindicais foram considerados ilegais, os direitos fundamentais
negligenciados, houve o aumento das desigualdades sociais e a corrupção ainda se manteve
presente. Dessa maneira, no livro “Ditadura Militar e Democracia no Brasil: História, Imagem
e Testemunho”, Maria Araujo, Izabel Silva e Desirree Santos expressam como foi Ditadura
Militar brasileira da seguinte forma:

Após o golpe de 1964, o Brasil iniciou uma longa ditadura que perdurou até 1985.
Lideranças políticas e sindicais foram presas, parlamentares cassados, militantes
políticos exilados. A ditadura fechou os partidos políticos existentes e criou dois
novos: Aliança Renovadora Nacional (ARENA) e Movimento Democrático
Brasileiro (MDB) — um partido de situação e outro de “oposição consentida”. O
novo governo editou Atos Institucionais com os quais criava condições excepcionais
de funcionamento “legal” para atos ilegais e arbitrários. (ARAUJO, Maria; SILVA,
Izabel; SANTOS, Desirree, 2013, p. 12)

Tais atos institucionais citados aumentaram de forma significativa o poder do


presidente da república e tornaram legais a repressão do período. Como exemplos e principais
Atos Institucionais, tem se o AI-1 e AI-5, o primeiro tinha o objetivo de legitimar o poder e
afastar outros partidos políticos e o segundo aumentar os poderes, de forma que:
O AI-5 fechou o Congresso Nacional por tempo indeterminado; cassou mandatos de
deputados, senadores, prefeitos e governadores; decretou o estado de sítio;
suspendeu o habeas corpus para crimes políticos; cassou direitos políticos dos
opositores do regime; proibiu a realização de qualquer tipo de reunião; (ARAUJO,
Maria; SILVA, Izabel; SANTOS, Desirree, 2013, p. 12)

Dessa forma, a partir do que foi apresentado, conclui-se que desde a formação do
Brasil e explicitamente em determinados períodos, como o Estado Novo e a Ditadura Militar,
traços e movimentos autoritários compuseram a história do país. Sendo assim, destaca-se a
importância de analisar como o autoritarismo se funde na sociedade brasileira.

3. DO AUTORITARISMO À DEMOCRACIA
Pode se dizer que a fase democrática brasileira é recente, isso porque o século XX foi
marcado por moldes de governos autoritários e de centralização do poder. O primeiro passo
para a redemocratização do país aconteceu pelo fracasso da abertura da ditadura, que ocorreu
nas eleições de 1974, no governo de Ernesto Geisel.
Nessa eleição, os militares foram derrotados e começou um intenso processo de
reivindicações por um governo verdadeiramente democratico. Como consequências, tem se a
revogação do AI-5, a lei de anistia, que permitiu que exilados políticos retornassem ao país, e
o restabelecimento do pluripartidarismo, que possibilitou a eleição para governadores em
1982.
Uma importante ação popular para a revigoração da democracia foram as Diretas já,
que exigiam eleições diretas em 1985, com a aprovação da Emenda Dante de Oliveira. “As
Diretas, como ficaram conhecidas as jornadas de luta democrática de 1984,foram a maior
mobilização política de massas da história do Brasil nos últimos trinta anos.”(ARCARY,
Valerio, 2014, p.237). Entretanto, mesmo com a grande repercussão, as diretas já não foram
aprovadas e em 1985, de forma indireta, Tancredo Neves foi eleito presidente por um colégio
eleitoral. Porém, não conseguiu assumir, e seu vice, José Sarney foi nomeado presidente.
Durante o governo Sarney foi feita uma Assembleia Constituinte com o intuito de
elaborar uma nova Constituição, visto que a anterior não possuía um viés democratico e
estava desatualizada. Dessa forma, foi elaborada a Constituição brasileira de 1988, que tinha
como principal característica ser cidadã, ou seja, garantia direitos fundamentais, liberdade de
expressão, voto livre e principalmente, a liberdade de voto. Assim, foi estabelecida
novamente a democracia no Brasil, de forma que, todos os seguintes governos enquadraram
se como “democráticos”.

4. BRASIL CONTEMPORÂNEO E O AUTORITARISMO: 2018 A 2022


Na atualidade, o tipo de democracia exercido é o denominado representativo, sendo
que no Brasil a Constituição cidadã de 1988 prevê ainda, a participação popular, tornando
uma democracia participativa. Entretanto, o que acontece na realidade não é a efetivação
desse modelo democratico ideal, assim, observa-se traços autoritários e que distanciam a
população da política e de seus direitos.
Dessa forma, nosso presente anda, mesmo, cheio de passado, e a história não serve
como prêmio de consolação.(SCHWARCZ, Lilia, 2019, p.19). E assim Lilia Schwarcz
destaca em seu livro “Sobre o autoritarismo brasileiro” como a atualidade é marcada por
manifestações autoritárias, sendo um período violento, intolerante e de violação dos direitos
civis. A autora ainda evidência sobre o Brasil e as influências autoritárias no contexto
contemporâneo:
No Brasil também andamos “surfando” numa maré conservadora. Afinal, uma certa
demonização das questões de gênero, o ataque às minorias sociais, a descrença nas
instituições e partidos, a conformação de dualidades como “nós” (os justos) e “eles”
(os corruptos), a investida contra intelectuais e imprensa, a justificativa da ordem e
da violência, seja ela produto do regime que for, o ataque à Constituição e,
finalmente, o apego a uma história mítica, fazem parte de uma narrativa de mais
longo curso, a qual, no entanto, tem grande impacto no nosso contexto nacional e
contemporâneo. (SCHWARCZ, Lilia, 2019, p.19)

A partir dessa perspectiva, pode-se citar que desde 2016 o país sofreu diversas
mudanças no cenário político. Isso aconteceu principalmente com o chamado Golpe de 2016,
que culminou no impeachment da então presidente Dilma rousseff, durante esse período
ocorreram inúmeros manifestações de direita com cunho liberal. A principal justificativa para
o movimento era um possível avanço comunista no país, a questão da corrupção e da
economia. Nessa lógica, Maria do Socorro Sousa de Araújo e Alba Maria Pinho de Carvalho
no artigo “Autoritarismo no Brasil do presente: bolsonarismo nos circuitos do
ultraliberalismo, militarismo e reacionarismo” definem:
A rigor, o ano de 2016 consubstancia uma nova época histórica na vida brasileira,
instaurando um tempo de autoritarismo, em meio às configurações formais da
democracia representativa, na República Brasileira. Trata-se de um ataque frontal à
democracia no Brasil, atingindo as instituições e permeando a própria cultura
política.(ARAÚJO, Maria; CARVALHO, Alba, 2021)
Tal movimento, pode ser considerado elaborado para a posterior eleição de 2018, na
qual é eleito Jair Messias Bolsonaro como presidente do Brasil. A partir de 2018 é observado
o aumento do autoritarismo no país e como o próprio presidente apoiou e proferiu tal situação.
Em estudos realizados pelo Centro de Análise da Liberdade e do Autoritarismo (LAUT), os
relatórios demonstraram que no período de 2018 a 2021 houveram quedas na democracia,
liberdade e no estado de Direito. Além disso, foi constatado temor da população para se
expressarem quanto a temas específicos, como gênero e sexualidade, e 1692 atos autoritários
durante o governo Bolsonaro (entre janeiro de 2019 e dezembro de 2021). (Brito A. S.;
Mendes C. H.; Sales F. R.; Amaral M.C.S.; Barreto M.S. 2022, p.16)
Bolsonaro, antes e durante seu governo propagou e defendeu ideias autoritárias como
a ineficiências das urnas eletrônicas e seus resultados, criticou abertamente as mídias,
espalhou diversas fakes news, principalmente em relação a pandemia de covid-19, aclamou a
ditadura militar, apresentou falas racistas e sexistas, entre outras ações. Como dados, tem se
os resultados do estudo “Ódio e fake news como estratégia política no discurso de Bolsonaro
nas redes sociais digitais” feito por Denis Augusto Carneiro Lobo1 e Desirèe Luíse Lopes
Conceição, que em análises buscando discurso de ódio e fake news no twitter de Bolsonaro
concluíram:
Chegou-se ao resultado de que houve FDs com incitação ao ódio em 6% de todas as
publicações realizadas, bem como 2% de menção ao termo fake news ou notícia
falsa. Se segmentado por categoria, nota-se que as FDs com incitação ao ódio, em
seus diferentes tipos11 , estão atreladas principalmente aos conteúdos
Ideológico/Partidário (60%) e em segundo lugar à Promocional/Comunicação
(16%). Já a presença do termo fake news ou semelhante foram localizadas
principalmente nas comunicações do presidente sobre a Mídia (81%) enquanto
aconteceu com bem menos frequência em Promocional/Comunicação (13%),
ocupando o segundo lugar. (LOBOL, Denis; CONCEIÇÃO, Desirèe, 2019, p. 7)

Entre as principais falas de negacionismo da ciência estão a que o presidente dita a


Covid-19 como uma mera “gripezinha”, como o próprio caracteriza, e a defesa do uso da
hidroxicloroquina para o tratamento da doença, sem comprovação científica. Nessa lógica,
Antonio Peixoto Oliveira, em sua tese de mestrado “No olho do furacão: A circulação das
fake news do governo Jair Bolsonaro nas plataformas durante a pandemia do Covid-19”
destaca:
O Governo Bolsonaro, caraterizado pela manutenção de um estado de crise
permanente, por meio de uma sequência de micro crises políticas com a imprensa e
governadores, é alicerçada em desinformação, tanto antes quanto durante a
pandemia da Covid-19. O Presidente e seus aliados focam o arsenal para a postagens
nas redes sociais e declarações igualmente polêmicas na imprensa, muitas delas com
informações falsas que acirram a polarização, como veremos na linha do tempo.
(OLIVEIRA, Antonio, 2021, p.114)
Por fim, como característica autoritária do governo tem se a desvirtuação das leis, que
foi feita por meio da edição de decretos que deveriam regulamentar as leis. Em uma pesquisa
realizada por Oscar Vilhena (professor da FGV Direito-SP), Ana Laura Barbosa (Mestre e
pesquisadora FGV) e o professor Rubens Glezer, com o objetivo de mapear a atuação de
bolsonaro entre 2019 e 2020 observou-se que nesse período o presidente editou 939 decretos,
sendo o maior número de decretos assinados em um primeiro mandato. (GALF, Renata, 2022)
A partir do pressuposto, os pesquisadores ainda afirmam que uma das barreiras para
um projeto autoritário de Bolsonaro foi o Legislativo, uma vez que não aprovava e nem
colocava em pautas projetos de interesse do presidente. Ainda, concluem que Bolsonaro se
mostra uma figura autoritária que busca a erosão do regime. (GALF, Renata, 2022)

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante o exposto, conclui-se que a formação do Brasil está configurada em bases do
autoritarismo e em diversos momentos históricos, ações e medidas autoritárias estiveram
presente, sejam de forma explícita ou implícita, forte ou fraca. Isso se comprova a partir dos
dados apresentados.
Além disso, é importante destacar como movimentos populares anti-autoritarismo têm
um papel fundamental para a dissolução de regimes de cunho autoritário. Ainda, deve-se dar
ênfase para a necessidade de mudança na atualidade do país, para que não haja a permanência
dessa forma de violência e para que sejam garantidos os direitos fundamentais dos cidadãos.
Por fim, percebe-se de forma clara como não é possível analisar o presente sem
averiguar o passado. De forma que, os acontecimentos atuais são fonte de momentos
históricos com situações políticas semelhantes. Assim, mesmo que o Brasil seja dito como
democratico e de soberania popular, observa-se traços autoritários que tendem a desvalorizar
os direitos, gerar desigualdades e visam apenas benefícios à elite brasileira.
REFERÊNCIAS
SCHWARCZ, Lilia Moritz. Sobre o autoritarismo brasileiro. São Paulo, 2019. Companhia
das Letras. Disponível em:
https://www.mprj.mp.br/documents/20184/1330165/Sobre_o_autoritarismo_brasileiro.pdf.
Acesso em: 1 jun. 2023.

DUFFES. Gabriel Lopes. Da Revolução de 1930 ao Golpe de 1937 (Estado Novo). In:
Revista Digital Simonsen; Rio de Janeiro, novembro de 2020. Disponível em:
http://www.simonsen.br/revista-digital/wp-content/uploads/2020/12/13.-REVISTA-n-13.pdf#
page=133. Acesso em: 2 jun. 2023.

BRASIL. Constituição (1937). Lex: Constituição dos Estados Unidos do Brasil, de 10 de


novembro de 1937. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao37.htm. Acesso em: 3 jun.
2023.

ARAUJO, Maria; SILVA, Izabel; SANTOS, Desirree. Ditadura Militar e Democracia no


Brasil: História, Imagem e Testemunho.1. ed. - Rio de Janeiro : Ponteio, 2013. Disponível
em:
https://marxists.architexturez.net/portugues/tematica/livros/diversos/ditadura_militar_demo.p
df. Acesso em: 3 jun. 2023.

ARCARY, Valerio. O OUTRO 25 DE ABRIL E AS DIRETAS JÁ. São Paulo: Outros


Tempos, vol. 11, n.17, 2014 p.230-245. Disponivel em:
https://outrostempos.uema.br/index.php/outros_tempos_uema/article/view/337/263. Acesso
em: 2 jun. 2023.

ARAÚJO, Maria; CARVALHO, Alba. Autoritarismo no Brasil do presente: bolsonarismo


nos circuitos do ultraliberalismo, militarismo e reacionarismo. Rev. katálysis, 2021.
Disponivel em: https://www.scielo.br/j/rk/a/KWXN3b3JFnjyYvw6PTtpjcw/. Acesso em: 2
jun. 2023.

Brito A. S.; Mendes C. H.; Sales F. R.; Amaral M.C.S.; Barreto M.S. (2022). São Paulo. O
caminho da autocracia - Estratégias atuais de erosão democrática. Centro de Análise da
Liberdade e do Autoritarismo (LAUT)

LOBO, Denis; CONCEIÇÃO, Desirèe. Ódio e fake news como estratégia política no
discurso de Bolsonaro nas redes sociais digitais. 43º Encontro Anual da Anpocs, 2019.
Disponível
em:file:///C:/Users/DELL/Documents/Documentos%20ufu/2019_lobo_odio_fake_news.pdf.
Acesso em: 3 jun. 2023.
OLIVEIRA, Antonio. NO OLHO DO FURACÃO: A CIRCULAÇÃO DAS FAKE NEWS
DO GOVERNO JAIR BOLSONARO NAS PLATAFORMAS DURANTE A
PANDEMIA DA COVID-19. Tese (Mestre em Comunicação)- Universidade Federal de
Santa Maria. Santa Maria, 2021. Disponível em:
https://repositorio.ufsm.br/bitstream/handle/1/25696/DIS_PPGCOMUNICA%c3%87%c3%8
3O_2021_OLIVEIRA_ANTONIO.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 3 jun. 2023.

GALF, Renata. Bolsonaro adota ‘infralegalismo autoritário’ contra democracia, apontam


pesquisadores. São Paulo: Folha de S. Paulo, 2022. Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2022/01/bolsonaro-adota-infralegalismo-autoritario-con
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SCHWARTZMAN, Simon. Bases do Autoritarismo Brasileiro. Rio de Janeiro: Campus,


3.ed. 1988.

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