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Guia de Defesa Popular Da Justiça Reprodutiva
Guia de Defesa Popular Da Justiça Reprodutiva
Defesa
Popular
da JustiÇa
Reprodutiva
1
Guia de
Defesa
Popular
da JustiÇa
Reprodutiva
2020
Realização:
Apoio:
VIVENDO A (IN)JUSTIÇA 11
REPRODUTIVA
Direitos, situações e
instituições relevantes
DIREITO À SAÚDE 11
SUS - SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE 12
DEVERES DO(A) PROFISSIONAL DE SAÚDE 14
ABUSO SEXUAL 16
DIREITO AO ABORTO LEGAL 19
DIREITO À MATERNIDADE DESEJADA E DIGNA 22
VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA 25
(No parto e no abortamento)
QUEM É QUEM? 27
Boa leitura!
Passe a palavra!
7
O QUE É JUSTIÇA
REPRODUTIVA?
Foi na Conferência sobre Popu- movimento de direitos das mulhe-
lação e Desenvolvimento da Or- res, liderado e representado por
ganização das Nações Unidas, mulheres brancas de classe média,
realizada no Cairo em 1994, que não defenderia as necessidades
se definiu, internacionalmente, o das mulheres racializadas, e outras
conceito de direitos sexuais e di- mulheres marginalizadas e pesso-
reitos reprodutivos, abandonan- as trans. Esse grupo se nomeou
do-se a anterior abordagem de Mulheres de Descendência Africa-
controle populacional que domi- na pela Justiça Reprodutiva (Wo-
nava as discussões e as políticas men of African Descent for Repro-
públicas sobre reprodução e fer- ductive Justice) e com elas nasceu
tilidade. Assim, após a chamada o conceito de justiça reproductiva,
Conferência de Cairo, mulheres apontando as limitações de um pa-
e homens foram reconhecidos radigma de direitos individuais e
como sujeitos do direito básico de integrando o acesso à saúde e aos
“decidir livre e responsavelmente direitos no campo sexual e repro-
sobre o número, o espaçamento e dutivo à justiça social.
a oportunidade de ter filhos e de
ter a informação e os meios de as- O termo foi popularizado mais
sim o fazer, e o direito de gozar do tarde, especialmente a partir do
mais elevado padrão de saúde se- trabalho desenvolvido pelo Cole-
xual e reprodutiva. Inclui também tivo SisterSong, que define a jus-
o direito de toda pessoa de tomar tiça reprodutiva como “o direito
decisões sobre a reprodução, livre humano de se manter a autono-
de discriminação, coerção ou vio- mia corporal pessoal, de ter filhos
lência.” (§ 7.3, do Capítulo VII, da e de não ter filhos, e de educar os
Plataforma de Ação de Cairo) filhos que temos em comunida-
des seguras e sustentáveis”1.
Pouco antes da Conferência de
Cairo, um grupo de mulheres ne- No Brasil, a política de embran-
gras se reuniu em Chicago, nos Es- quecimento, impulsionada pelo
tados Unidos, por entender que o estado no final do século XIX,
2 LEAL, Maria do Carmo et al. A cor da dor: iniquidades raciais na atenção pré-natal e
ao parto no Brasil. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, p.1-17, 2017.
3 MARTINS, Eunice Francisca et al. Causas múltiplas de mortalidade materna
relacionada ao aborto no Estado de Minas Gerais, Brasil, 2000-2011. Cadernos de Saúde
Pública, v. 33, n. 1, p. 1–11, 2017.
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Somando forças nessa tarefa, em caso de sua negação. Pois não
que é coletiva e cabe a todas nós, basta termos o direito formal, é
apresentamos abaixo algumas preciso também termos as condi-
garantias básicas que temos nas ções para seu exercício. Uma das
leis brasileiras, como fazer para primeiras condições é informa-
usufruí-las e que medidas tomar ção e conhecimento.
10
VIVENDO A (IN)JUSTIÇA
REPRODUTIVA
Direitos, situações e instituições relevantes
DIREITO À SAÚDE
Você sabia?
Uma pesquisa feita pela ONU, em população. Por isso, é fundamental
2017, mostrou que quase 80% da defender o SUS, como medida de
população brasileira que depende justiça social!
do SUS se autodeclara negra (preta
ou parda)6. O IBGE7, por outro lado, Mas, para além de funcionar repa-
mostrou, em 2019, que pessoas ne- rando desigualdades, o SUS também
gras são 75% entre as mais pobres beneficia toda a sociedade brasileira.
no Brasil, e pessoas brancas são 70% Mesmo quem paga consulta médi-
entre as mais ricas. O exame conjun- ca particular, ou quem tem plano de
to desses dois dados nos mostra o saúde privado, usa o SUS. Afinal, o
quão é importante é o SUS no en- SUS engloba muitas ações para além
frentamento das desigualdades de do atendimento clínico e/ou hospita-
classe e raça no país: é o SUS o prin- lar, como, por exemplo, o controle de
cipal garantidor do serviço de saúde qualidade da água potável, o trans-
para as pessoas pretas e pardas, que plante de órgãos, a vacinação e a doa-
perfazem a parcela mais pobre da ção de leite humano.
6 Fonte: https://nacoesunidas.org/quase-80-da-populacao-brasileira-que-depende-
do-sus-se-autodeclara-negra/
7 IBGE. Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil. 2019. Disponível em: https://
12
biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101681_informativo.pdf.
Atendimento básico
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DEVERES DO(A) PROFISSIONAL DE SAÚDE:
Cuidado e atenção de qualidade, Sigilo e Confidencialidade
14
Toda a informação clínica e ele- cina n. 1931/2009), em seus princí-
mentos identificativos de cada pes- pios fundamentais, estabelece que
soa sob tratamento estão contidos médicas e médicos devem guardar
no seu processo clínico, sendo seu sigilo sobre as informaçòes que de-
direito conhecer os dados regista- tenham em razão do exercício de
dos, exceto se a sua revelação for sua profissão. O Código Penal, em
considerada prejudicial ou se conti- seu artigo 154, estabelece que é
ver informação sobre terceiros. crime “revelar alguém, sem justa
causa, segredo de que tem ciência
5) Pedir o consentimento livre e infor- em razão de função, ministério, ofí-
mado da pessoa sob seus cuidados cio ou profissão, e cuja revelação
possa produzir dano a outrem”.
O consentimento prévio, livre e in-
formado é imprescindível antes da O dever de sigilo por ser quebrado
realização de qualquer ato médico. A apenas para a proteção da paciente
pessoa sob cuidados de saúde pode e com o seu consentimento ou se
decidir se aceita ou recusa um trata- houver risco para outros pacientes.
mento ou intervenção. Em caso de A quebra do dever de sigilo pro-
emergência ou de incapacidade para fissional fora das situações acima
prestar o consentimento, este deve- pode levar à instauração de proce-
rá ser requerido ao representante le- dimento criminal, civil e ético-pro-
gal da pessoa sob tratamento. fissional contra quem revelou a in-
formação e à reparação dos danos
6) Confidencialidade e respeito à pri- causados ao paciente.
vacidade da pessoa de que cuida
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ABUSO SEXUAL
Assédio sexual
16
Estupro e estupro de vulnerável
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Atenção! A autoridade policial
não pode negar a realização do
registro de ocorrência. Se isso
acontecer, acione a Ouvidoria da
Polícia. Sendo insuficiente, acione
o Ministério Público local e de-
nuncie a recusa e o crime.
Muito importante! Ainda que de-
cida não fazer o registro de ocor-
rência, a vítima tem o direito de
receber o tratamento médico ade-
quado à situação, que inclui a re-
alização de exames e a medicação
para prevenir doenças sexualmen-
te transmissíveis (como o HIV) e
evitar gravidez. Além disso, mes-
mo que busque o apoio médico e
psicológico muito tempo após a
fato, a vítima tem direito ao aborto
legal se da agressão resultar uma
gravidez. O atendimento de saúde
independe de qualquer envolvi-
mento da polícia ou de outras au-
toridades com o fato.
Em casos de violência contra crian-
ças e adolescentes, o conselho tu-
telar pode ser acionado, especial-
mente se o suspeito for alguém
próximo, sempre visando a preser-
vação da vítima. O Ministério Pú-
blico e/ou a Delegacia da Infância
e da Juventude também podem e
devem receber a denúncia. Se não
houver delegacia especializada,
busque uma delegacia normal.
Para todos esses casos: a culpa
NÃO é da vítima.
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DIREITO AO ABORTO LEGAL
Feto anencefálico
20
Você sabia?
O site https://mapaabortolegal.org ◊ Para ter atendimento pós-abor-
oferece um mapa com os estabe- to, nenhuma pessoa precisa
lecimentos do SUS que oferecem o revelar as condições em que
serviço de aborto legal. Ainda que aborto se deu. Se você precisa
qualquer hospital que ofereça ser- compartilhar a experiência com
viços de ginecologia e obstetrícia alguém, conte a pessoas de sua
deva ter equipamento adequado e confiança. Você tem direito ao
equipe treinada para realizar abor- tratamento de saúde adequado
to legal, muitos ainda se recusam a e de qualidade, em qualquer si-
realizá-lo. Para identificar o serviço tuação.
mais próximo de você, acesse o site.
◊ Existe um mapa colaborativo que
É muito comum no Brasil que os busca identificar os serviços de
profissionais de saúde denunciem saúde que estão criminalizando
à polícia mulheres ou pessoas que, mulheres ou pessoas que
no contexto de um atendimento de abortam. Se você tem uma
saúde, relatam ter induzido o seu história para compartilhar,
aborto. Diante disso, é muito impor- accesse aqui
tante saber:
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DIREITO À MATERNIDADE DESEJADA E DIGNA
Quem não quer ser mãe, tem o após o parto, inclusive no con-
direito de receber informações trato de experiência ou com
suficientes para prevenir uma prazo determinado. Além disso,
gravidez e interromper uma gra- caso a gravidez ocorra durante
videz não desejada. o aviso prévio, tanto trabalha-
do quanto indenizado, a mu-
Por outro lado, quem quer ser lher não poderá ser dispensada
mãe, tem direito a viver a materni- (Constituição Federal. ADCT ar-
dade de forma digna e contar com tigo 10, II, b).
apoio social para tanto.
◊ Acompanhamento de saúde:
A gestante adolescente tem o di- Toda gestante trabalhadora
reito, garantido pelo Estatuto da tem o direito de ser dispensa-
Criança e do Adolescente, de ser da do horário de trabalho pelo
atendida com sigilo, privacidade, tempo necessário para a reali-
autonomia, e receber informa- zação de, no mínimo, seis con-
ções sobre saúde sexual e repro- sultas médicas e demais exa-
dutiva. Assim como ser atendida mes complementares, durante
sozinha, se preferir. o período da gravidez. No SUS,
gestantes têm garantidas seis
consultas de pré-natal no posto
Toda gestante/mãe tem direito: de saúde mais próximo de sua
casa. Esse acompanhamento
◊ Não discriminação: É proibido médico gratuito inclui a realiza-
que qualquer regulamento de ção de todos exames e demais
empresa, convenção coletiva procedimentos necessários (Lei
ou contrato individual de tra- n. 9.263, de 1996)
balho, restrinja o direito da mu-
lher ao emprego por motivo de ◊ Acompanhante durante o tra-
gravidez. Gravidez não é fun- balho de parto: Toda gestan-
damento para demissão nem te tem direito a uma pessoa
para negativa de admissão (Lei acompanhante durante o tra-
n. 9.029, de 1995) balho de parto, assim como
imediatamente no pós-parto.
◊ Estabilidade provisória: A tra- (Lei n. 11.108, de 2005, e Por-
balhadora mãe não pode ser taria n. 2.418, de 2005, do Mi-
demitida desde a confirmação nistério da Saúde)
da gravidez até cinco meses
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◊ Receber Declaração de Compa- a mãe tem o direito de se au-
recimento sempre que for às sentar todos os dias, por dois
consultas de pré-natal ou fizer períodos de meia hora, ou um
algum exame. Esse documento período de uma hora, para
servirá para justificar sua au- amamentar. Quando a saúde
sência no trabalho. do filho exigir, o período de 06
meses poderá ser estendido
◊ Licença maternidade: Em regra, (Consolidação das Leis Traba-
a lei brasileira garante a toda lhistas, artigo 396, seção V)
mulher o direito a 120 dias de
licença-maternidade, sem pre- ◊ Amamentação em local pú-
juízo do emprego e do salário, blico: Toda mãe tem o direito
inclusive às mães desempre- de amamentar seu bebê em
gadas, às adotivas e às que ti- qualquer local, público ou pri-
veram um bebê natimorto. A vado, na presença ou não de
trabalhadora empregada deve, outras pessoas, independente
mediante atestado médico, da idade ou sexo, e mesmo
notificar o seu empregador da que o estabelecimento tenha
data do início do afastamento uma área “reservada” para a
do emprego, que poderá ocor- amamentação. Nenhuma mãe
rer a partir do 28º dia antes do pode ser constrangida ou im-
parto (artigo 392 da Consolida- pedida de amamentar.
ção das Leis Trabalhistas). Para
as trabalhadoras de empresas ◊ Mãe Estudante: A partir do oi-
que aderiram ao Programa Em- tavo mês de gestação e durante
presa Cidadã e para as servido- três meses, as mães que estu-
ras públicas, a licença materni- dam devem ser assistidas pelo
dade é de 180 dias. regime de exercícios domicilia-
res e ter preservado o direito
◊ Transferência de função: Mu- à realização dos exames finais
dar de função ou setor em seu (Lei 6202/1979 ).
trabalho, caso ele apresente
riscos ou problemas para a sua ◊ Preferência no atendimento:
saúde ou do seu bebê. Para Gestantes e mulheres com
isso, é preciso que você apre- bebês têm preferência em
sente um atestado médico qualquer atendimento, em es-
comprovando a necessidade tabelecimentos públicos ou pri-
de mudar de função. vados, bem como lhes devem
ser destinados os assentos pre-
◊ Ausência para amamentar: Até ferenciais em todos os tipos de
o bebê completar seis meses, transporte público.
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Você sabia?
◊ Mulheres que vivem com HIV/ ◊ As mulheres que sofrem
AIDS não devem amamentar um aborto espontâneo,
o seu bebê como medida comprovado por atestado
preventiva de transmissão médico, têm direito a um
do vírus. Por isso, elas têm o repouso remunerado (licença
direito de receber a fórmula do trabalho) de duas semanas
láctea, que é distribuída (artigo 395, da CLT) e salário-
gratuitamente no SUS. Em maternidade correspondente ao
caso de dúvida, procure um mesmo período (§ 5º, do artigo
profissional ou serviço de 93, do Decreto 3.048/1999).
saúde próximo de você.
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Essa é uma ação ilegal, que deve ser resistida e denunciada. Se você sabe
de alguém que está vivendo isso, busque ajuda na defensoria pública ou
em uma clínica de direitos humanos. Quanto mais rápido agir, mais chan-
ces há de reverter essa atuação violenta do estado e do serviço de saúde.
13 https://www.derechos.org.ve/pw/wp-content/uploads/11.-Ley-Org%C3%A1nica-
sobre-el-Derecho-de-las-Mujeres-a-una-Vida-Libre-de-Violencia.pdf.
14 http://servicios.infoleg.gob.ar/infolegInternet/anexos/150000-154999/152155/
norma.htm.
15 https://inamu.gob.pa/normativa/ley-n82-de-23-octubre-2013-que-tipifica-el-
femicidio-y-la-violencia-contra-la-mujer/.
16 http://www.impo.com.uy/bases/leyes/19580-2017.
17 https://www.comunicacion.gob.bo/sites/default/files/dale_vida_a_tus_derechos/
archivos/LEY%20348%20ACTUALIZACION%202018%20WEB.pdf.
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à saúde, à integridade física e men- deseje tomar medidas jurídicas
tal, e à não discriminação. Além dis- mais tarde;
so, durante qualquer atendimento
de saúde, temos direito: ◊ Se desejar tomar medidas ju-
rídicas, você pode: (i) fazer um
◊ À confidencialidade e à priva- registro da ocorrência na dele-
cidade: ninguém pode difundir gacia de polícia mais próxima
ou divulgar informação sobre o de você, para que as medidas
nosso estado de saúde sem o criminais sejam tomadas; (ii)
nosso consentimento; fazer uma denúncia no conse-
lho profissional, que poderá
◊ A receber um tratamento de impor medidas disciplinares a
saúde adequado e de qualida- quem cometeu a violência obs-
de, segundo a evidência cientí- tétrica e (iii) buscar uma advo-
fica mais recente; gada feminista e dar início a
◊ A ser tratada com respeito, dig- um processo de reparação dos
nidade e atenção; danos morais (e materiais, se
houver) sofridos.
◊ A tomar as decisões sobre o
tratamento que receberemos,
dando o nosso consentimento
livre e informado, a negar-nos
a receber qualquer tratamento
que não desejemos e a deixar
o sistema de saúde se não es-
tivermos satisfeitas com o tra-
tamento recebido (pedir a alta
voluntária).
Se você viveu uma situação que
acredita ser violência obstétrica,
ou sabe de alguém que viveu, há
algumas medidas que você pode
tomar:
◊ Converse com alguém de sua
confiança e busque apoio, para
não se sentir sozinha;
◊ Escreva o que aconteceu com
você ou com a pessoa que você
conhece, com detalhes, caso
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QUEM É QUEM?
Ministério Público
Você sabia?
Diante da prevalência do problema da violência contra a mulher no Brasil,
praticamente todos os Ministérios Públicos estaduais criaram um órgão
especializado para o atendimento e acompanhamento da mulher vítima
de violência. Se você foi vítima ou sabe de alguém que foi e precisa de
ajuda, procure o centro de apoio no seu estado.
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Defensoria Pública
29
Você sabia?
◊ Existem casos em que a assistência prestada pela Defensoria Pública
independe da insuficiência econômica, como nas hipóteses de
curadoria especial ou crianças desamparadas em situação de risco. O
caso será analisado para definir se é possível ou não a defesa por parte
da Defensoria Pública.
◊ Muitas Defensorias Públicas estaduais, compreendendo a necessidade
de oferecer um atendimento especializado às mulheres, criaram
núcleos especializados. Verifique se não existe um núcleo especializado
em sua cidade e faça contato! Ele certamente será útil na sua atuação
como defensora popular da justiça reprodutiva.
◊ A Defensoria Pública de São Paulo, em 2017, ajuizou 30 Habeas Corpus
em defesa de mulheres que haviam sido criminalizadas por aborto. A
atuação da Defensoria rendeu um importante precedente para a luta
contra a criminalização das mulheres que abortam. Trata-se do Habeas
Corpus n. 2188896-03.2017.8.26.0000, julgado pelo Tribunal de Justiça
de São Paulo em 2018. Nele, o tribunal entendeu que o testemunho da
médica, que revelou no processo criminal o segredo de sua paciente
que havia abortado, constitui prova ilícita e, por isso, contamina todo
o processo. Além disso, o tribunal confirmou que “médicos e outros
profissionais e todos vinculados à informação confidencial têm o
dever ético e jurídico de guardar o segredo que têm acesso em razão
da relação de confiança estabelecida e ínsita na relação médico-
paciente”. Essa decisão não deixa dúvidas: o profissional de saúde não
pode denunciar uma mulher que aborta! Além de violação de conduta
profissional, a quebra do sigilo é também um crime.
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Delegacia de Mulheres
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Para continuar a leitura...
32
Legislações citadas
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Norma Técnica de Atenção Humanizada ao Abortamento (2011)
a) a desfrutar de uma vida sexual satisfatória e sem risco;
b) a procriar, com liberdade para decidir fazê-lo ou não, quando e com que frequência;
c) à informação e ao acesso a métodos seguros, eficientes e exequíveis de
planejamento familiar de sua escolha;
d) ao acesso a serviços de acompanhamento na gravidez e no parto sem
riscos, garantindo-lhes as melhores possibilidades de terem filhos sãos.
Código Penal
ABUSO SEXUAL
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter
conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro
ato libidinoso: (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com me-
nor de 14 (catorze) anos: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
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§ 1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput
com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o neces-
sário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra cau-
sa, não pode oferecer resistência. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
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