Teologia

Liberal
E outras coisas
meio amargas

Conteúdo licenciado para Antônia Amélia Lima - mansoesparaiso@gmail.com

 Teologia Liberal e outras coisas meio amargas

“Aqueles que desejam ter sucesso

devem fazer as perguntas preliminares corretas.”
(Aristóteles)

A gente se acostuma, mas não devia.

A gente se acostuma ao pouco, ao pequeno, ao mínimo, ao reles, ao raso e ao vil,

mas não devia.

A gente se acostuma ao provisório, ao torto, ao capenga, ao conflito, ao dano, ao distrato,

ao agridoce e à escassez, mas não devia.

A gente se acostuma à espera, ao atraso, à ausência e ao embargo.

A gente se acostuma a esperar porque não é hora, a correr porque passou da hora
e a murchar porque já não tem mais hora.

A gente se acostuma a comer na sala e assistir TV na cama,

a comer qualquer coisa e a ser mastigado,
a dormir tarde e acordar cansado.

A gente se acostuma a trabalhar com sono,

a dormir pensando no trabalho e não tomar café da manhã,
mas não devia.

A gente se acostuma a olhar tudo o que deseja e a desejar todos os olhares.

A gente se acostuma a precisar do que deseja e não desejar o que precisa,

mas não devia.

A gente se acostuma a receber menos, a pagar mais,

a comprar coisas que custam muito e valem pouco.

A gente se acostuma ao cafona, ao estreito, ao precário, ao defeito e à azia,

mas não devia.

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 A gente se acostuma à cidade pálida, a olhar só para a calçada, a ver só carro cinza,
a viver sem brisa e não deixar o céu azulejar o dia.

A gente se acostuma a ver música, a ouvir livro, a não ir ao cinema e às telas menores.

E, porque se acostuma às telas menores, logo fica com o olhar pequeno.

E, porque fica com o olhar pequeno, logo diminui as coisas importantes

(e a importância das coisas), mas não devia.

“O inglesismo do inglês é audível apenas para quem conhece outro idioma.

Da mesma maneira e pela mesma razão,
apenas os Sobrenaturalistas veem de fato a Natureza.
Você deve afastar-se um pouco dela, depois virar-se e olhar para trás.
Desse modo, finalmente, a verdadeira paisagem se tornará visível.”
(C.S. Lewis)

A gente se acostuma ao descanso sobressaltado,

à alegria ligeira e ao rancor demorado.

A gente se acostuma a ter memória boa para as coisas ruins,

e memória ruim para as coisas boas, mas não devia.

A gente se acostuma à rapidez das estações, à aridez das emoções;

a chegar na parada, ver o ônibus indo embora, e ficar.

A gente se acostuma ao desespero, ao descompasso, à desesperança.

E, sem fé, nem um pouquinho sequer, não damos o passo, voltamos o pé.

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 A gente se acostuma a ter medo do escuro quando somos crianças
e a ter medo da luz quando somos adultos, mas não devia.

A gente se acostuma a não ler romance, a ler só a manchete.

E, porque só lê a manchete, logo não sabe um monte de coisas.
E, porque não sabe um monte de coisas, logo vive sem saber.

A gente se acostuma à violência.

E, porque se acostuma à violência, logo aceita as mortes.
E, porque aceita as mortes, logo fica dormente, mas não devia.

A gente se acostuma à guerra e à fome.

E, porque se acostuma à guerra e à fome,

logo se acostuma a um mundo sem Graça.

E, porque se acostuma a um mundo sem Graça,

logo se acostuma a uma terra sem paz.

E, porque se acostuma a uma terra sem paz,

logo se acostuma a uma casa sem amor.

E, porque se acostuma a uma casa sem amor,

logo se acostuma a uma igreja sem perdão.

E, porque se acostuma a uma igreja sem perdão,

logo se acostuma a uma religião sem fé.

E, porque se acostuma a uma religião sem fé,

logo aceita um dogma sem Deus, mas não devia.

“Aqueles que fazem da religião seu deus,

não terão Deus para sua religião.”
(Thomas Esrkine)

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 A gente se acostuma ao concreto.

E, porque se acostuma ao concreto, logo percebe o que é visível.

E, porque percebe o que é visível, logo confia na Razão.

E, porque confia na Razão, logo adere ao natural.

E, porque adere ao natural, logo rejeita o sobrenatural.

E porque rejeita o sobrenatural, logo duvida de milagres.

E, porque duvida de milagres, logo não acredita na Ressurreição.

E, porque não acredita na Ressurreição, logo não aguarda o regresso de Cristo.

E, porque não aguarda o regresso, logo não confia no Evangelho.

E, porque não confia no Evangelho, logo não crê em Jesus,

mas devia.

A gente se acostuma a criticar artes que não dominamos

e analisar um pintor que desconhecemos.

A gente se acostuma a uma fé adolescente produzindo uma religião velha,

mas não devia.

A gente se acostuma à técnica apontando (supostas) falhas na Bíblia,

à Razão zombando do milagre, à lógica duvidando da Trindade,
à ciência acusando a ausência de Deus.

E, porque se acostuma a tudo isso, logo não acredita em nada,

desconfia de tudo e vive pela metade.

E, porque vive pela metade, não se entrega por inteiro.

E, porque não se entrega por inteiro, logo não vive o todo.

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 Entretanto, a gente não se acostuma como o apóstolo João,
que olhou para Jesus e viu a Palavra (Verbo).

E logo a gente não olha a Palavra e vê Jesus.

Porque, logo, os possíveis problemas que se têm com a Escritura

saberíamos ser recíprocos,
pois assim como a gente pode olhar problemas no Santo Livro,
ele também enxerga os problemas em nós.

E tudo seria superado

ao nos relacionarmos com a Bíblia como ela é,
sabendo que o livro é “uma Pessoa”.

E, porque essa Pessoa é Jesus, também é Deus.

E, porque é Jesus, logo voltará.

E, porque voltará, logo a gente não vai precisar se acostumar

ao óbito, à cólera, à lápide e à lágrima.

“[...] Mas tudo se torna diferente

quando reconhecemos que a Natureza é uma criatura,
uma coisa criada, com seu cheiro forte ou sabor particular.
Não há mais necessidade de selecionar e desprezar.
Não é nela, mas em Algo muito além dela,
que todas as linhas se encontram
e todos os contrastes são explicados.”
(C.S. Lewis)

Teologia Liberal e outras coisas meio amargas.

Guilherme Oliveira| Redator do Mundo Bíblico

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