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I SÉRIE — NO 21 «B. O.

» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 24 DE MARÇO DE 2016 769


Artigo 41.º-D Artigo 46.º-B

Interrupção da prescrição da coima Valor das coimas

1. A prescrição da coima interrompe-se com o início da Para efeitos previstos na presente lei, o valor de cada
sua execução, em caso de pagamento fracionado. dia de coima é xado em 5.000$00 (cinco mil escudos)
e em 20.000$00 (vinte mil escudos) quando se tratar,
2. A prescrição da coima ocorre quando, desde o seu respetivamente, de pessoa singular ou de pessoa coletiva
início e ressalvado o tempo de suspensão, tiver decorrido ou entidade equiparada.
o prazo normal da prescrição acrescido de metade.
Artigo 46.º-C
Artigo 44.º-A
Punição de atos preparatórios
Contraordenações leves
São punidos os atos preparatórios dos crimes previstos
1. Constituem contraordenações leves punidas com na presente lei.”
coima de 100.000$00 (cem mil escudos) a 2.000.000$00
(dois milhões de escudos): Artigo 3.º

Revogação
a) O incumprimento por Organização de Sociedade
sem Fins Lucrativos (OSFL) da obrigação É revogado o artigo 11.º da Lei n.º 38/VII/2009, de 27
estabelecida nos números 2 e 4 no artigo 20.º-A; de abril.
b) Os incumprimentos de obrigações estabelecidos Artigo 4.º
especicamente na presente lei que não constituam
infração especialmente grave ou grave. Republicação

2. Quando a infração for praticada por uma pessoa É republicada, em anexo à presente lei, a Lei n.º 38/VII/2009,
singular, a coima é de 50.000$00 (cinquenta mil escudos) de 27 de abril, com as modicações ora introduzidas, e
a 1.000.000$00 (um milhão de escudos). procedendo à renumeração dos artigos.

Artigo 44.º-B Artigo 5.º

Determinação da sanção aplicável Entrada em vigor

1. Na determinação da sanção atende-se às seguintes A presente lei entra em vigor no dia seguinte ao da
circunstâncias: sua publicação.

a) A quantia da operação ou os ganhos obtidos como Aprovada em 29 de janeiro de 2016.


consequência da omissão ou atos constitutivos
O Presidente da Assembleia Nacional, Basílio Mosso
da infração;
Ramos.
b) O grau de responsabilidade ou intenção com que
Promulgada em 14 de março de 2016.
atuou o infrator;
Publique-se.
c) A conduta anterior do infrator, na entidade culpada
ou em outra, em relação às exigências previstas O Presidente da República, JORGE CARLOS DE
nesta lei; ALMEIDA FONSECA.
d) O caráter da representação que a pessoa em Assinada em 17 de março de 2016.
causa possui;
O Presidente da Assembleia Nacional, Basílio Mosso
e) A capacidade económica do infrator quando a Ramos.
sanção seja multa.
ANEXO
2. A sanção a ser aplicável não pode ser mais benéca
para o infrator do que o incumprimento das normas REPUBLICAÇÃO DA LEI N.º 38/VII/2009,
infringidas. DE 20 DE ABRIL
(a que se refere o artigo 4.º)
Artigo 46.º-A

Proteção dos intervenientes


Lei n.º 38/VII/2009

É garantida a proteção a quem tiver colaborado de 20 de abril


concretamente na investigação dos crimes previstos no
presente capítulo, nos termos da lei n.º 81/VI/2005, de 12 Por mandato do Povo, a Assembleia Nacional decreta,
de setembro, que estabelece medidas para proteção de nos termos da alínea b) do artigo 175.º da Constituição
testemunhas em processo penal. o seguinte:
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CAPÍTULO I ii. Bens detidos pelo agente criminoso ou por


terceiro, transferidos pelo agente criminoso
DISPOSIÇÕES GERAIS para terceiro, permanecendo o primeiro com
Artigo 1.º direitos, tais como o direito de posse, usufruto,
direito de natureza hereditária, entre outros
Objeto de natureza obrigacional e real sobre o bem
transferido;
A presente lei estabelece medidas destinadas a prevenir
e reprimir o crime de lavagem de capitais, bens, direitos iii. Bens ou direitos obtidos mediante transação
e valores. ou troca com os bens obtidos por meio da prática
Artigo 2.º do fato ilícito típico;

Denições iv. Direitos, direta ou indiretamente, obtidos


por meio do fato ilícito típico ou direitos sobre
1. Para efeitos da presente lei, entende-se por: os bens obtidos direta ou indiretamente pela
prática do fato ilícito típico;
a) «Autoridade competente»: todas as autoridades
públicas a quem foram atribuídas v. Bens transformados ou misturados com os bens
responsabilidades no combate à lavagem de provenientes da prática do crime de lavagem
capitais ou crimes subjacentes associados, de capitais.
designadamente:
g) «Boa-fé»: ignorância desculpável de que os bens,
i. A Unidade de Informação Financeira (UIF); direitos, valores ou vantagens do crime se
relacionavam com atividades ilícitas;
ii. Os órgãos de polícia criminal;
h) «Caráter inabitual da operação»: operação isolada
iii. As autoridades judiciárias;
em que ainda assim se não justifique em
iv. As que recebem declarações sobre o transporte virtude de, no caso concreto, não ser habitual
transfronteiriço de numerário e de instrumentos a sua prática;
negociáveis ao portador;
i) «Consco»: a perda denitiva de bens ou vantagens
v. As com responsabilidades de regulação e do crime, por decisão de um tribunal;
supervisão, para garantir que as entidades
j) «Congelamento» ou «apreensão»: a proibição
sujeitas cumprem as suas obrigações de prevenção
temporária de transferir, converter, alienar,
à Lavagem de Capitais.
dispor ou movimentar bens ou fundos ou outros
b) «Banca correspondente»: a prestação de serviços ativos económicos pertencentes a indivíduos ou
bancários por um banco a outro banco; entidades de que se suspeite estarem envolvidos
em lavagem de capitais;
c) «Banco de fachada»: banco que não dispõe de
qualquer presença física no país no qual k) «Entidades sujeitas»: são as instituições nanceiras
esteja constituído e autorizado, e que não se e as atividades e profissões não financeiras
integra num grupo nanceiro regulado sujeita designadas, obrigadas ao cumprimento dos
à supervisão consolidada e efetiva; deveres de prevenção em matéria de lavagem
de capitais e nanciamento da proliferação das
d) «Beneficiário»: pessoa singular ou coletiva ou armas de destruição em massa, constantes do
entidade sem personalidade jurídica identicadas artigo 4.º;
pelo ordenante como recetoras da transferência
eletrónica solicitada; l) «Entidades de regulação e supervisão»: as entidades
referidas no artigo 5.º com as competências de
e) «Beneciário efetivo»: pessoa singular proprietária prevenção dos crimes de lavagem de capitais,
última ou que detém o controlo final de um ali denidas;
cliente e/ou a pessoa singular por conta da qual
é efetuada uma operação. Inclui também as m) «Falsa declaração»: declaração incorreta do
pessoas que controlam efetivamente uma pessoa montante de numerário ou de instrumentos
coletiva ou uma entidade sem personalidade negociáveis ao portador transportado ou
jurídica. uma declaração incorreta de qualquer outra
informação relevante exigida ou de outra
f) «Bens»: ativos de qualquer tipo, designadamente: forma solicitada pelas autoridades. Este termo
abrange igualmente a falta de declaração tal
i. Corpóreos ou incorpóreos, móveis ou imóveis, como exigida;
tangíveis ou intangíveis, adquiridos por qualquer
meio, de origem legítima ou ilegítima, e os n) «Fundos»: quaisquer bens corpóreos ou incorpóreos,
documentos ou instrumentos jurídicos que tangíveis ou intangíveis, móveis ou imóveis,
atestam a propriedade ou outros direitos sobre independentemente da forma como sejam
os referidos ativos; adquiridos, e os documentos ou instrumentos
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jurídicos sob qualquer forma, incluindo a habituais do cliente ou que a instituição


eletrónica ou digital, que comprovem o direito financeira ou atividades e profissões não
de propriedade ou outros direitos sobre esses; nanceiras designadas acreditem poder estar
relacionada com um ato criminoso ou constituir
o) «Infração principal»: fato ilícito, típico e punível o lucro da atividade criminosa. As operações
com pena de prisão de que derive um bem que suspeitas incluem tentativas de operações;
possa passar a constituir objeto de uma infração
denida no artigo 39.º; w) «Transporte físico transfronteiras»: todas as
entradas ou saídas físicas de numerário ou de
p) «I nstrumentos ne gociáveis ao portador»: instrumentos negociáveis ao portador de um
instrumentos monetários ao portador, tais como: país para outro, designadamente:
i. Cheques de viagem; i. Na sua bagagem ou veículo;
ii. Instrumentos negociáveis, incluindo cheques, ii. Através de um contentor;
notas promissórias e ordens de pagamento, que
sejam ao portador, endossados sem restrição, iii. Remessa postal;
feitos para um beneficiário fitício ou em tal
forma que a titularidade seja transferível com x) «Unidade de Informação Financeira -UIF»: Serviço
a entrega; de informação nanceira que funciona como
centro nacional para receber, requerer, analisar
iii. Instrumentos incompletos, incluindo cheques, e difundir informação relativa a eventuais
notas promissórias e ordens de pagamento, atividades de lavagem de capitais. A sua
assinados, mas em que seja omisso o nome do organização, competência e funcionamento são
beneciário; regulados em diploma próprio;
q) «Movimento físico transfronteiriço»: qualquer y) «Valor envolvido na operação» valor que, de
entrada ou saída física de numerário ou de acordo com o critério de razoabilidade no caso
instrumentos negociáveis ao portador de um concreto, indicia a possibilidade de existência
país para outro, seja através de: de lavagem de capitais;
i. Transporte físico por uma pessoa singular ou z) «Vantagens do crime»: bens de qualquer tipo,
na sua bagagem ou veículo; direitos ou valores provenientes da prática,
sob qualquer forma de comparticipação, de
ii. Envio de numerário através de um contentor, ou; fato ilícito, típico e punível com pena de prisão,
iii. Remessa postal de numerário ou de instrumentos assim como os bens que com eles se obtenham;
negociáveis ao portador por uma pessoa singular aa) «Volume da operação» quantidade de operações
ou coletiva. sucessivas de igual natureza que, por si só,
r) «Natureza da operação»: tipo ou género de operação não se justique.
ou uma série de operações suscetíveis de, por 2. Para os efeitos previstos na alínea t) do número
si só, ser indiciadora da prática do crime de anterior, e nos termos da presente lei, consideram-se
lavagem de capitais; PEP designadamente:
s) «Organização sem fins lucrativos – OSFL»:
a) “Funções públicas proeminentes”:
organização que tem por principal objeto a
recolha e a distribuição de fundos para fins i. Chefe de Estado;
caritativos, religiosos, culturais, educacionais,
sociais ou fraternais ou para outras nalidades ii. Chefe do Governo;
similares;
iii. Membros do Tribunal Constitucional, do
t) «Pessoas politicamente expostas - PEP»: as pessoas Supremo Tribunal de Justiça, do Tribunal de
nacionais ou estrangeiras, a quem estão ou Contas, de tribunais superiores e de outros
foram cometidas funções públicas proeminentes, órgãos judiciais de alto nível, cujas decisões
bem como os membros próximos da sua família não são habitualmente suscetíveis de recurso,
e pessoas que reconhecidamente tenham com salvo em circunstâncias excepcionais;
elas estreitas relações de natureza societária
iv. Membros do Governo;
ou comercial;
v. Membros de família reais;
u) «Títulos ao portador»: instrumentos monetários
na forma ao portador como cheques, cheques vi. Parlamentares;
de viagem e promissórias;
vii. Altos responsáveis dos partidos políticos;
v) «Transação suspeita»: transação que é invulgarmente
complexa, que não tenha objeto legítimo viii. Embaixadores, Chefes de missões diplomáticas
aparente, não congruente com os negócios e postos consulares;
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ix. Ociais Superiores das Forças Armadas e da Artigo 5.º


Polícia; Entidades de regulação e supervisão
x. Presidentes das Câmaras Municipais; São entidades de regulação e supervisão:
xi. Os membros do Conselho ou Direção do Banco a) O Banco de Cabo Verde, para as instituições
Central; nanceiras referidas no artigo 7.º;
xii. Dirigentes dos ministérios;
b) A Inspeção-geral de Jogos para pessoas físicas ou
xiii. Membros dos órgãos executivos de organizações coletivas que exploram casinos, jogos de fortuna
de Direito Internacional; ou azar, lotarias, apostas mútuas e promotores
de jogos de fortuna ou azar;
xiv. Membros dos órgãos de administração,
da direção ou de fiscalização das empresas c) A Ordem dos Advogados, relativamente aos
públicas, do Conselho de Administração das Advogados e Solicitadores;
Autoridades Administrativas Independentes, e
d) A Direção-geral dos Registos, Notariado e
de sociedades anónimas de capitais exclusiva ou
Identificação, relativamente aos Notários e
maioritariamente públicos, institutos públicos,
Conservadores dos Registos;
fundações públicas, estabelecimentos públicos,
qualquer que seja o modo da sua designação, e) A Direção Nacional das Receitas do Estado,
incluindo os órgãos de gestão das empresas relativamente à Direção das Alfândegas;
integrantes dos setores empresariais e locais;
f) A Inspeção-geral das Construções e da Imobiliária
xv. Diretores, Diretores-adjuntos e Membros e relativamente às entidades que exerçam
do Conselho de Administração e pessoas que atividades de promoção imobiliária, mediação
exerçam funções equivalentes em organização imobiliária, compra e venda de imóveis bem
internacional; como entidades construtoras que procedam à
venda direta de imóveis;
b) “Membros próximos da família”:
g) A Ordem dos Prossionais Auditores e Contabilistas
i. O cônjuge ou unido de fato;
certificados, relativamente aos Auditores,
ii. Os pais, os lhos e os respetivos cônjuges ou Contabilistas e Consultores scais;
unidos de fato, os irmãos;
h) A Inspeção-geral das Atividades Económicas,
c) “Pessoas com reconhecidas e estreitas relações de relativamente aos comerciantes de bens de
natureza societária ou comercial”: valor elevado, nomeadamente veículos, obras
de arte, antiguidades e joias;
i. Qualquer pessoa singular, que seja notoriamente
conhecida como proprietária conjunta com a i) A Plataforma das ONG’s, relativamente às
pessoa politicamente exposta de uma pessoa Organizações Sem Fins Lucrativos;
coletiva, ou que com ele tenha relações comerciais
próximas; j) A Unidade de Informação Financeira, relativamente
às entidades que não estejam sujeitas à
ii. Qualquer pessoa singular que seja proprietária supervisão de outra autoridade.
do capital social ou dos direitos de voto de uma
Artigo 6.º
pessoa coletiva, que seja notoriamente conhecido
como tendo como único beneciário efetivo a Competências
pessoa politicamente exposta.
1. Compete às autoridades de regulação e supervisão
Artigo 3.º regular, supervisionar, scalizar, inspecionar e garantir
Direito subsidiário o cumprimento do disposto na presente lei.

Ao crime previsto na presente lei são subsidiariamente 2. Compete, especialmente, às autoridades de regulação
aplicáveis as normas do Código Penal, Código de Processo e supervisão:
Penal, a lei que estabelece os princípios gerais da cooperação
a) Editar regras de boas práticas com o propósito de
judiciária internacional em matéria penal.
combater a lavagem de capitais e de outros bens;
Artigo 4.º
b) Garantir que as entidades sujeitas estão a cumprir
Entidades sujeitas as suas obrigações no âmbito da alínea a) do
artigo 8.º.
Estão obrigadas ao cumprimento dos deveres previstos
na presente lei as instituições nanceiras e as atividades c) Acompanhar e scalizar a aplicação das regras e
e profissões não financeiras designadas que tenham medidas de prevenção aos respetivos setores;
a sua sede no território nacional, assim como as suas
sucursais, liais e outras formas de representação que d) Recolher informação e outros dados junto das
estejam sediadas aqui ou no exterior. entidades sujeitas e executar inspeções no
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local ao nível do grupo, podendo as autoridades o) Determinar o tipo e o âmbito de medidas a adotar
de regulação e supervisão delegar as suas pelas entidades sujeitas para cada um dos
competências a outras entidades; requisitos estabelecidos no artigo 9.º, tendo em
consideração o risco de lavagem de capitais e
e) Ordenar, quando e sempre que necessário, a o volume da atividade comercial;
apresentação de quaisquer informações
relevantes, obter cópias de documentos, em p) Informar as entidades sujeitas sobre o destino
qualquer formato, e retirar documentos das das operações suspeitas comunicadas à UIF;
instalações de uma instituição nanceira ou
instituição não nanceira; q) Emitir diretivas sobre a forma como apresentar
essas comunicações de operações suspeitas.
f) Aplicar medidas e sanções às instituições nanceiras
e atividades e profissões não financeiras 3. Ainda, quanto às instituições nanceiras e pessoas
designadas por violação do cumprimento das físicas ou coletivas que exploram casinos, jogos de fortuna
obrigações, previstas na presente Lei, inclusive ou azar, lotarias, apostas mútuas e promotores de jogos de
o poder de cancelar, restringir ou suspender a fortuna ou azar, cabe à entidade de regulação e supervisão:
autorização, se for caso disso;
a) Procurar que aquelas adotem as medidas necessárias
g) Aprovar regulamentos de execução, orientações e para evitar que os agentes dos crimes ou os
recomendações para ajudar as entidades sujeitas respetivos comparticipantes, adquiram ou
no cumprimento das obrigações previstas na sejam beneciários efetivos de participações de
presente Lei; controlo ou de participações signicativas em
instituições nanceiras ou que nelas ocupem
h) Aprovar regulamentos que obriguem as entidades funções de direção;
sujeitas a aplicar medidas de diligência
reforçadas, ou outras medidas, relativamente b) Gar antir qu e as in stituições financeiras
a relações de negócio e operações com pessoas implementem políticas empresariais consistentes
singulares e coletivas e instituições nanceiras de acordo com as leis nacionais e os padrões
de países que não aplicam normas internacionais internacionais de supervisão, que devem
de prevenção à lavagem de capitais, ou não as ser também aplicadas à supervisão em base
aplicam de forma satisfatória; consolidada.

4. Tratando-se de atividades e prossões não nanceiras


i) Cooperar e partilhar informações com outras
designadas, cabe à entidade de regulação e supervisão
au t o ri da de s c o m pe t e n t e s n o t oc an t e a
proceder à scalização em função do risco e assegurar a
investigações e processos relativos à lavagem
boa aplicação de sistemas de scalização adequados a
de capitais, infrações subjacentes associadas;
outras categorias de atividades e prossões não nanceiras
j) Vericar se as sucursais estrangeiras e as liais designadas que garantam que o regime de prevenção de
maioritárias das entidades sujeitas, adotam lavagem de capitais seja implementado.
e aplicam medidas para dar cumprimento ao
CAPÍTULO II
disposto na presente Lei;
DISPOSIÇÕES PREVENTIVAS
k) Colaborar sem demora e de forma eficaz com
suas homólogas que desempenhem funções Artigo 7.º
equivalentes, bem como com outras autoridades
Âmbito subjetivo
competentes, quer nacionais quer estrangeiras,
nomeadamente na troca de informações; 1. Estão obrigadas ao cumprimento dos deveres
previstos na presente lei as instituições nanceiras e as
l) Estabelecer e aplicar critérios de idoneidade e
atividades e prossões não nanceiras designadas que
adequação para a titularidade, controlo ou
tenham a sua sede no território nacional, assim como as
participação, direta ou indireta, na direção,
suas sucursais, liais e outras formas de representação
gestão ou funcionamento de instituições
que estejam sediadas aqui ou no exterior.
nanceiras;
2. São instituições nanceiras:
m) Estabelecer regras e normas relativas às
percentagens de participação de accionistas a) As instituições de crédito, designadamente:
em instituições financeiras de controlo de
ações maioritárias e de participação, direta i. Os bancos;
ou indireta, na administração de instituições
nanceiras ou na condução das atividades ou ii. As sociedades de investimento;
do funcionamento de entidades sujeitas; iii. As sociedades de locação nanceira;
n) Manter dados estatísticos sobre medidas adotadas iv. As sociedades de fatoring;
e sanções impostas no quadro de aplicação da
presente lei; v. As sociedades nanceiras para aquisições e crédito;
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vi. As sociedades emitentes ou gestoras de cartões d) As pessoas, físicas ou jurídicas, que se dedicam
de crédito; habitualmente ao comércio ou organizam a
venda de joias, pedras ou metais preciosos,
vii. As sociedades de garantia mútua; objetos de arte ou antiguidades;

viii. As sociedades de desenvolvimento regional; e) Os comerciantes de veículos;

ix. Outras que como tal sejam qualicadas pela lei; f) As entidades que exerçam atividades de promoção
imobiliária, mediação imobiliária, compra e venda
b) As instituições de moeda eletrónica; de imóveis, bem como entidades construtoras
que procedam à venda direta de imóveis;
c) As seguradoras e as sociedades gestoras de fundos
de pensões; g) Os comerciantes que transaccionem bens cujo
pagamento seja efetuado em numerário, em
d) Os fundos de pensões e os organismos de montante igual ou superior a 1.000.000$00 (um
investimento coletivo desde que dotadas de milhão de escudos), independentemente de a
personalidade jurídica; transação ser realizada através de uma única
operação ou de várias operações aparentemente
e) As sociedades gestoras de fundos de investimento relacionadas entre si;
e as sociedades depositárias de valores afetos
a fundos de investimento, de acordo com o h) As organizações sem ns lucrativos, nos termos
Decreto-lei n.º 15/2005, de 14 de fevereiro; estabelecidos pelo artigo 35.º;

f) Sociedades de gestão nanceira; i) Os advogados, solicitadores, notários, conservadores


dos registos, outras prossões jurídicas independentes,
g) Sociedade de capital de risco; auditores, contabilistas e consultores scais, quando
intervenham ou assistam, a título prossional,
h) As agências de câmbio. em operações de:
3. São igualmente consideradas instituições nanceiras: i. Compra e venda de bens imóveis, estabelecimentos
comerciais e participações sociais;
a) As instituições de autorização restrita;
ii. Gestão de fundos, valores mobiliários ou outros
b) As sociedades de entrega rápida de valores em ativos do cliente;
numerário;
iii. Abertura e gestão de contas bancárias, de
c) As entidades referidas como sujeitas à supervisão poupança ou de valores mobiliários;
da Auditoria Geral do Mercado de Valores
Mobiliários, nos termos do Código do Mercado iv. Organização de contribuições destinadas à
de Valores Mobiliários; criação, exploração ou gestão de sociedades;

d) Os serviços postais, na medida em que prestem v. Criação, operação e gestão de pessoas coletivas
atividades nanceiras ao público. ou de entidades sem personalidade jurídica e
compra e venda de entidades comerciais;
4. Ainda, consideram-se instituições nanceiras outras
denidas em legislação especíca. vi. Alienação e aquisição de direitos sobre
p ra t i c a n t e s de a t i v i d a de s d e s p o r t i va s
5. São abrangidas também as sucursais, liais e agências prossionais;
situadas em território nacional, das entidades referidas no
número anterior que tenham a sua sede no estrangeiro, j) Os prestadores de serviços a sociedades e a fundos
bem como as sucursais nanceiras exteriores. duciários sempre que preparem ou efetuem
operações para um cliente no quadro das
6. São atividades e prossões não nanceiras designadas: seguintes atividades:

a) Os casinos, incluindo os casinos online; i. Atuação como agentes na constituição de pessoas


coletivas;
b) As entidades pagadoras de prémios de apostas ou
lotarias, sempre que procedam a pagamentos ii. Atuação como administradores ou secretários de
a vencedores de prémios de apostas ou lotarias uma sociedade, associados de uma sociedade de
de montante igual ou superior a 300.000$00 pessoas ou como titulares de posições semelhantes
(trezentos mil escudos); em relação a outras pessoas colectivas ou
procedam às diligências necessárias para que
c) As pessoas responsáveis pela gestão, exploração um terceiro atue das formas referidas;
e comercialização de lotarias e outros jogos de
azar respeitante às operações de pagamento iii. Fornecimento de sede social, endereço comercial,
de prémios; instalações ou endereço administrativo ou postal
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a uma sociedade ou a qualquer outra pessoa 2. Será designada em diploma próprio, no prazo de
coletiva ou a entidades sem personalidade cento e vinte dias após a entrada em vigor desta lei, a
jurídica; autoridade competente para coordenar a resposta nacional
aos riscos mencionados no número anterior.
iv. Atuação como administrador de um fundo
fiduciário explícito ou o exercício de função 3. As avaliações previstas no número 1 devem ser
equivalente para outros tipos de entidade atualizadas, documentadas e colocadas à disposição das
sem personalidade jurídica ou procedam às autoridades competentes e dos organismos de regulação
diligências necessárias para que outra pessoa e supervisão.
atue das formas referidas;
4. As entidades sujeitas devem adotar medidas adequadas
v. Intervenção como acionistas por conta de outra para identicar, avaliar e compreender os respetivos riscos
pessoa ou proceder às diligências necessárias de lavagem de capitais, nomeadamente o risco de cliente,
para que outra pessoa intervenha dessa forma. risco-país ou risco geográco, fatores de riscos associados
ao produto, serviço, operação ou canal de distribuição,
k) As outras atividades e prossões que vierem a ser estando obrigados a:
designadas por lei.
a) Documentar as respetivas avaliações dos riscos;
Artigo 8.º
b) Considerar todos os fatores de risco relevantes
Deveres das entidades sujeitas antes de determinar o nível de risco global e o
nível adequado e tipo de medidas de atenuação
As entidades sujeitas estão vinculadas, no desempenho
a aplicar;
da respetiva atividade, ao cumprimento dos seguintes
deveres: c) Manter essas avaliações atualizadas; e
a) Dever de avaliação e abordagem dos riscos; d) Dispor de mecanismos adequados para comunicar
a informação sobre a avaliação dos riscos às
b) Dever de identicação e vericação de identidade; autoridades competentes e aos organismos de
c) Dever de diligência relativo à clientela; auto-regulação.

5. As entidades sujeitas devem ainda:


d) Dever de recusa;
a) Dispor de políticas, procedimentos e controlos, que
e) Dever de conservação;
devem ser aprovados pela alta direção, para
f) Dever de exame; atenuar e gerir ecazmente os riscos de lavagem
de capitais identicados ao nível das pessoas
g) Dever de comunicação; sujeitas, dos países ou das zonas geográcas;

h) Dever de declaração de transportes físicos b) Aplicar medidas especicamente orientadas para


transfronteiriços; a gestão dos riscos de lavagem de capitais, caso
estabeleçam relações de negócio ou executem
i) Dever de abstenção; operações com um cliente que não esteja
sicamente presente para efeitos de identicação;
j) Dever de colaboração;
c) A s se g u ra r qu e a s m ed i d a s de s t i na d as a
k) Dever de condencialidade; impedir ou a mitigar a lavagem de capitais
são proporcionais aos riscos identificados e
l) Dever de controlo;
lhes permitem desenvolver os seus recursos
m) Dever de formação. de modo mais ecaz possível.

Artigo 9.º d) Tomar medidas reforçadas quando identicam


cenários de risco mais elevado;
Transferências de Fundos e pagamentos
e) Assegurar que documentos, dados e informações
As transferências internacionais de moeda nacional recolhidos no âmbito do dever de diligência
ou estrangeira, meios de pagamento sobre o exterior ou relativo à clientela são atualizadas e relevantes
títulos ao portador, só podem ser realizadas por intermédio para a realização de revisões dos registos
de instituições bancárias ou nanceiras autorizadas a existentes, sobretudo para categorias de clientes
proceder a essas operações. com risco mais elevado. Os registos devem ser
Artigo 10.º
postos à disposição da UIF, das autoridades de
regulação e supervisão e das demais autoridades
Dever de avaliação nacional e abordagem dos riscos competentes.
1. O Governo deve em diploma próprio tomar medidas f) A implementação das políticas, dos procedimentos e
ecazes para avaliar, compreender e atenuar os riscos dos controlos devem ser monitorados e reforçados
de lavagem de capitais. sempre que necessário.
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6. As políticas, os procedimentos e controlos referidos 3. A obrigação de declaração não é reputada executada


na alínea a) do número anterior devem ser proporcionais se as informações fornecidas são incorretas ou incompletas.
à natureza, ao tamanho e ao volume das atividades das
entidades sujeitas. 4. O disposto no número 2 também se aplica às pessoas
que transportem metais e pedras preciosas.
Artigo 11.º
Dever de declaração de transportes físicos transfronteiriços 5. É proibida a circulação da moeda não declarada,
ou falsamente declarada até se determinar se ela está
1. As pessoas, nacionais ou estrangeiras, que entram relacionada com a lavagem de capitais.
ou saem do território Cabo-verdiano, devem declarar,
por escrito as divisas ou títulos ao portador ou moeda 6. Havendo falsas declarações sobre a origem das divisas
eletrónica, por qualquer meio, sempre que o montante e títulos ao portador, a quantidade não declarada de moedas
transportado seja igual ou superior a 1.000.000$00 (um nacional, estrangeira ou de instrumentos negociáveis ao
milhão de escudos) ou equivalente em moeda estrangeira. portador, o transportador/detentor sujeita-se ao crime por
falsas declarações previstas em legislação penal.
2. A Direção das Alfândegas deve:
a) Por sua própria iniciativa, informar, de imediato a 7. A obrigação de monitorizar a circulação de moeda e
UIF, sempre que saiba, suspeite ou tenha razões instrumentos negociáveis ao portador também se aplica ao
sucientes para suspeitar que teve lugar, está em uxo de moeda através do correio e do uso de contentores.
curso ou foi tentada a realização de movimentos 8. Do montante apreendido lavra-se um auto que é
físicos transfronteiriços de moedas nacional, remetido ao Banco de Cabo Verde, devendo este conservá-lo
estrangeira ou de instrumentos negociáveis ao até decisão da autoridade judiciária.
portador, suscetíveis de estarem associados à
prática de crime de lavagem de capitais; Artigo 12.º

b) Enviar a informação resultante destas declarações Dever de identicação e vericação da identidade


à UIF;
1. As entidades sujeitas devem identicar os seus clientes,
c) Proceder à identificação do transportador de regulares ou ocasionais e vericar as suas identidades,
espécies e instrumentos ao portador do montante do beneciário, fundador, administrador ou outra pessoa
previsto no número anterior; com controlo efetivo dos fundos duciários sempre que
com eles estabeleçam qualquer relação de negócio.
d) Exigir informações aos transportadores sobre a
origem das divisas e títulos ao portador e a 2. As entidades sujeitas devem identicar e vericar
que se destinam; a identidade dos seus clientes e do beneciário efetivo,
e) Apreender ou reter a totalidade do montante de quando:
divisas ou dos títulos ao portador não declarados,
a) Pretender abrir conta ou estabelecer uma relação
sempre que exista uma suspeita de lavagem de
de negócio comercial com um cliente;
capitais ou sempre que tenham sido apresentadas
falsas declarações às autoridades alfandegárias, b) Realizar transações ocasionais no montante
incumbindo tal tarefa ao agente aduaneiro igual ou superior a 1.000.000$00 (um milhão
responsável pelo turno, por um período nunca de escudos) independentemente de se tratar
inferior a seis meses; de uma única transação ou várias transações
f) Conservar pelo praz o de set e an os toda a aparentemente conexas;
documentação recolhida relativamente a c) Realizar transferência nacional ou internacional
movimentos físicos transfronteiriços de moeda no montante igual ou superior a 1.000.000$00
estrangeira ou de instrumentos negociáveis ao (um milhão de escudos) em nome de um cliente;
portador, ou o seu registo e car disponível para
a UIF, o Banco de Cabo Verde e as autoridades d) Existir suspeita que as operações, independentemente
judiciárias e policiais competentes; do seu valor e de qualquer excepção ou
g) Emitir procedimentos e regras relacionados com limiar, possam estar relacionados com o
a implementação do presente artigo; crime de lavagem de capitais, tendo em conta
nomeadamente a sua natureza, complexidade,
h) Criar um sistema de manutenção de informações caráter atípico ou não habitual em relação ao
e registo dos mont antes em m oedas ou perl ou atividade do cliente, valores envolvidos,
instrumentos negociáveis ao portador, bem frequência, local de origem e destino, situação
como dos dados de identicação do portador, económica e nanceira dos intervenientes ou
sempre que uma declaração ultrapasse o meios de pagamento utilizados;
limite previsto, uma declaração seja falsa ou
se suspeite de lavagem de capitais; e) Existir dúvidas acerca da veracidade ou adequação
de dados de identicação do cliente previamente
i) Em caso de apreensão do montante superior ao obtidos.
declarado ou não declarado, as instituições
envolvidas devem respeitar os procedimentos 3. É proibido manter relação negocial ou realizar
previstos em legislação. operações com pessoas físicas ou jurídicas que não tenham
I SÉRIE — NO 21 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 24 DE MARÇO DE 2016 777

sido devidamente identicadas. É vedada, em particular, tenham adquirido através de cartão bancário ou
a abertura, contratação ou manutenção de contas, ativos cheque não inutilizado e no montante máximo
ou instrumentos numerados, cifrados, anónimos ou com equivalente ao somatório das aquisições;
nomes tícios.
b) Para pagamentos de prémios à ordem dos
4. Os elementos relativos à identificação do cliente frequentadores premiados previamente
devem ser anotados, por escrito, em impresso próprio identicados e resultantes das combinações
ou no documento comprovativo da operação realizada. do plano de pagamentos das máquinas ou de
sistemas de prémio acumulado.
5. A identicação de centros de interesses coletivos
sem personalidade jurídica constituídos de acordo com o 4. A identidade dos frequentadores do casino deve ser
direito estrangeiro ou instrumentos legais semelhantes, sempre objeto de registo.
sem personalidade jurídica, deve incluir a obtenção e
5. As entidades pagadoras de prémios de apostas ou
vericação do nome dos administradores, instituidores
lotarias devem identificar os vencedores dos prémios
e beneciários.
sempre que o montante ganho for igual ou superior a
6. Sempre que a entidade sujeita tenha conhecimento 600.000$00 (seiscentos mil escudos).
ou fundada suspeita de que o cliente não atua por conta 6. As entidades que exerçam atividades de mediação,
própria, deve tomar medidas adequadas que lhe permitam promoção imobiliária, compra e venda de imóveis, bem
conhecer a identidade da pessoa ou entidade por conta como entidades construtoras que procedam à venda
de quem o cliente está a atuar, nomeadamente dos direta de imóveis, devem identificar os seus clientes,
beneciários efetivos. representantes e beneficiários efetivos, sempre que
7. As entidades sujeitas devem também vericar se realizem operações para os seus clientes, devendo ainda
os representantes dos clientes se encontram legalmente recolher os seguintes elementos:
habilitados a atuar em seu nome ou representação. a) Identicação clara dos intervenientes;
8. A obrigação de identicação prevista no presente b) Montante global do negócio jurídico;
artigo aplica-se também aos clientes já existentes quanto
às operações em curso e às futuras. c) Menção dos respetivos títulos representativos;

9. A vericação da identidade dos clientes existentes d) Meio de pagamento utilizado e respet ivo
será objecto de regulamentação emitida pelas autoridades comprovativo;
de regulação e supervisão, no prazo de 180 dias após a e) Identicação do imóvel.
entrada em vigor da presente lei.
7. Os negociantes em metais preciosos ou em pedras
Artigo 13.º
preciosas, obras de arte ou antiguidades, devem identicar
Dever de identicação e vericação de identidade especíco os seus clientes sempre que realizem operações em
numerário com um cliente, de montante igual ou superior
1. As companhias de seguros e os intermediários de 800.000$00 (oitocentos mil escudos).
serviços de seguros devem identicar os clientes e vericar
a sua identidade, sempre que os prémios de seguros pagos 8. Os Advogados, Solicitadores, Notários, Conservadores
durante um ano excedam 110.000$00 (cento e dez mil dos Registos, Contabilistas, Auditores e Consultores
escudos), se o pagamento for realizado sob a forma de Fiscais, devem identicar os seus clientes sempre que
um prémio único excedendo 220.000$00 (duzentos e vinte preparem ou efetuem operações para os seus clientes, no
mil escudos) e no caso de contratos de seguros de pensões âmbito das atividades descritas na alínea i) do número
relacionados com o emprego ou a atividade prossional do artigo 7.º.
do segurado, quando estes contratos contenham uma 9. Prestador de serviços a sociedades e a fundos
cláusula de remissão e possam ser usados como garantias duciários, devem identicar os seus clientes sempre
de empréstimos. que preparem ou efetuem operações para um cliente no
2. No caso de concessionários de exploração de jogos e quadro das atividades descritas na alínea j) do número
casinos o dever de identicação e vericação da identidade 6 artigo 7.º.
dos frequentadores deve ser feito à entrada da sala de 10. As entidades que procedam a pagamentos a vencedores
jogo ou quando adquirirem ou trocarem chas de jogo, de prémios de apostas ou lotarias devem proceder à
ou símbolos convencionais utilizáveis para jogar, num identicação e vericação da identidade do beneciário
montante total igual ou superior a 300.000$00 (trezentos do pagamento, sempre que o valor do prémio seja igual
mil escudos). ou superior a 600.000$00 (seiscentos mil escudos).
3. Os concessionários de casinos devem emitir cheques Artigo 14.º
seus, obrigatoriamente nominativos e cruzados, com Elementos de identicação e vericação da identidade
indicação de cláusula proibitiva de endosso apenas: de clientes

a) Em troca de chas ou símbolos convencionais à 1. A identicação das pessoas singulares deve incluir
ordem dos frequentadores identicados que os o nome completo, liação, estado civil, prossão, data e
778 I SÉRIE — NO 21 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 24 DE MARÇO DE 2016

lugar de nascimento, residência, Número de Identicação deve abrir a conta, iniciar a relação de negócio ou efetuar
Fiscal, o local de trabalho, o número de contato, o endereço a operação, ou ainda, fazer cessar a relação de negócio e,
eletrónico. considerar a possibilidade de fazer uma comunicação de
operação suspeita à UIF.
2. A vericação é efetuada pela apresentação de qualquer
documento de identicação ocial válido, onde conste a 4. Os procedimentos de diligência relativos à clientela
respetiva fotograa e assinatura. são aplicáveis quer aos novos clientes, quer aos existentes,
de modo regular e em função do nível de risco existente.
3. A identicação das pessoas coletivas deve incluir;
5. Considerando a avaliação do risco representado pelo
a) Nome, natureza e forma legal, lugar da sede; tipo de cliente, pela relação de negócio ou transação, as
b) Identidade dos gerentes ou administradores; entidades de regulação e supervisão podem determinar,
através de regulamento, as situações em que as obrigações
c) Identicação de quem detém os poderes para as constantes previstas na presente Lei podem ser reduzidas
obrigar. ou simplicadas, em relação à identicação e vericação
da identidade do cliente ou do beneciário efetivo.
4. A vericação da identicação das pessoas coletivas é
efetuada pela apresentação da certidão dos seus estatutos. 6. Para além da identicação dos clientes, dos seus
representantes e dos beneciários efetivos as entidades
5. A identicação de fundos duciários constituídos de sujeitas devem:
acordo com o direito estrangeiro ou instrumentos legais
semelhantes, sem personalidade jurídica, deve incluir a) Obter informação sobre a nalidade e a natureza
a obtenção e vericação do nome dos administradores, pretendida da relação de negócio;
instituidores e beneciários.
b) Obter informação relativa a clientes que sejam
Artigos 15.º pessoas coletivas ou entidades sem personalidade
Dever de diligência relativo ao cliente jurídica, que permita compreender a estrutura
de propriedade e de controlo do cliente;
1. As entidades sujeitas devem adotar, para além da
identicação dos clientes, representantes e beneciários c) Obter informação, quando o perfil de risco do
efetivos, as seguintes medidas de diligência em relação cliente ou as caraterísticas da operação o
aos clientes: justifiquem, sobre a origem e o destino dos
fundos movimentados no âmbito de uma relação
a) Tomar medidas adequadas que lhes permitam de negócio ou na realização de uma transação
compreender a estrutura de propriedade e de ocasional;
controlo do cliente e determinar a identidade
da pessoa singular que efetivamente detêm d) Manter um acompanhamento contínuo da relação
poderes ou controlam o cliente; de negócio, a m de assegurar que tais operações
são consistentes com o conhecimento que a
b) Compreender e, quando adequado, obter informação instituição possui do cliente, dos seus negócios
sobre o objeto e a natureza da relação de negócio; e do seu perl de risco, incluindo se necessário
a origem dos fundos;
c) Manter atualizados os elementos de informação
obtidos no decurso da relação de negócio. e) Manter atualizados os elementos de informação
obtidos no decurso da relação de negócio.
d) Manter uma vigilância contínua sobre a relação de
negócio e examinar atentamente as operações 7. Salvo quando existam suspeitas de lavagem de capitais,
realizadas no decurso dessa relação, para as entidades sujeitas cam dispensadas do cumprimento
assegurar que essas operações são consistentes dos deveres enunciados nos númeross 1 e 2 deste artigo
com o conhecimento que a instituição tem do e no artigo 12.º, nas situações em que o cliente seja:
cliente, dos seus negócios e do seu perl de risco,
incluindo, se necessário, a origem dos fundos. a) Estado, autarquias ou pessoa coletiva de direito
público, de qualquer natureza;
2. Essas medidas devem ser adotadas sempre que:
b) Entidade que presta serviços postais;
a) Estabeleçam relações de negócio;
c) Autoridade ou organismo público sujeito a práticas
b) Efetuem transações ocasionais, acima de contabilísticas transparentes e objeto de
1.000.000$00 (um milhão de escudos); scalização.
c) Exista suspeita de lavagem de capitais; ou 8. Nos casos previstos no número anterior, as entidades
d) Tenha dúvidas quanto à veracidade ou à adequação sujeitas devem, em qualquer caso, recolher informação
dos dados de identicação do cliente previamente suciente para vericar se o cliente se enquadra numa
obtidos. das categorias ou prossões, bem como acompanhar a
relação negocial de forma a poder detetar transações
3. Quando as entidades sujeitas não puderem dar complexas ou de valor anormalmente elevado que não
cumprimento ao previsto nas alíneas a) e b) do n.º 1, não aparentem ter objetivo económico ou m lícito.
I SÉRIE — NO 21 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 24 DE MARÇO DE 2016 779

9. Excetuando-se as situações de suspeitas de lavagem g) Compreender claramente as responsabilidades


de capitais, as entidades nanceiras cam dispensadas de cada instituição;
do cumprimento dos deveres enunciados nos artigos 12.º
e 15.º, nas seguintes situações: h) Quanto às contas correspondentes de transferência,
que se assegurem de que o banco cliente aplicou
a) Nos contratos de seguro Vida e de fundos de as medidas de diligência contínua relativamente
pensões ou produtos de aforro de natureza à clientela que tem acesso direto às contas
semelhante cujo prémio ou contribuição anual do banco correspondente, e de que aquele
não seja superior a 110.000$00 (cento e dez banco está habilitado e capacitado a fornecer
mil escudos) cujo prémio único não exceda os dados adequados sobre a identicação dos
220.000$00 (duzentos e vinte mil escudos); seus clientes, quando tal lhe for solicitado pelo
banco correspondente.
b) Nos contratos de seguro associados a planos de
pensão desde que não contenham uma cláusula Artigo 17.º
de resgate nem possam ser utilizados para
garantir empréstimos; Bancos de fachada

c) Nos regimes de pensão, planos complementares de 1. Nenhum banco pode operar em Cabo Verde se
pensão ou regimes semelhantes de pagamento não dispuser de presença física no país, se não estiver
de prestações de reforma aos trabalhadores licenciado pelo Banco de Cabo Verde e não pertencer a
assalariados, com contribuições efetuadas um grupo nanceiro regulamentado sujeito a supervisão
mediante dedução nos salários e cujo regime numa base consolidada.
vede aos beneficiários a possibilidade de
transferência de direitos. 2. As instituições nanceiras não devem estabelecer
nem manter relações de negócio:
Artigo 16.º

Bancos correspondentes a) Com bancos registados em jurisdições onde não


tenham presença física, e que não pertençam
As instituições nanceiras, no que respeita às suas a um grupo nanceiro regulamentado, sujeito
relações transfronteiras entre bancos correspondentes a supervisão numa base consolidada.
e a outras relações semelhantes, além da aplicação das
medidas de diligência relativas à clientela, devem: b) Com instituições, ou clientes de países que
permitam que as suas contas sejam utilizadas
a) Recolher informações sucientes sobre a instituição por bancos registados em jurisdições onde não
que solicita a relação e com quem executam tenham presença física, e que não pertençam
a relação de correspondência, de modo a a um grupo nanceiro regulamentado sujeito
compreenderem plenamente a natureza da a supervisão;
sua atividade e a conhecerem, a partir de
informações publicamente disponíveis, a c) Se as obrigações previstas no número anterior não
reputação da instituição e a qualidade da sua puderem ser cumpridas.
supervisão, nomeadamente para o efeito de
vericarem se a instituição em causa foi objeto 3. As instituições nanceiras devem assegurar-se que
de uma investigação ou de uma intervenção da as suas instituições clientes não permitam que as suas
autoridade de supervisão, relacionada com a contas sejam utilizadas por bancos de fachada.
lavagem de capitais;
Artigo 18.º
b) Avaliar os controlos existentes na instituição
que solicita a relação de correspondência, em Transferência de fundos ou de valores
matéria de prevenção à lavagem de capitais;
1. Os prestadores de serviços de fundos ou de valores
c) Obter a aprovação da sua alta direção antes de devem manter uma lista atualizada dos seus agentes que
estabelecerem novas relações de correspondência; podem ceder às autoridades competentes.

d) Recolher informação sobre a natureza das atividades 2. Quando recorram a agentes devem assegurar que
da instituição que solicita a relação; estes se incluam nos seus programas anti lavagem de
capitais e controlem o cumprimento destes programas
e) Avaliar a reputação da instituição que solicita a por parte dos mesmos agentes.
relação e a natureza da supervisão a que está
sujeita, de acordo com a informação disponível Artigo 19.º
publicamente;
Novas tecnologias
f) Determinar se a instituição foi sujeita a investigação
ou a medida regulamentar envolvendo crime 1. A autoridade central em matéria de cooperação
de lavagem de capitais; internacional em matéria penal, as instituições nanceiras
780 I SÉRIE — NO 21 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 24 DE MARÇO DE 2016

e as atividades e prossões não nanceiras designadas Artigo 21.º


devem identicar e avaliar os riscos de lavagem de capitais Dever de recusa de realização das operações
que possam resultar:
1. As entidades sujeitas devem recusar o início da
a) Do desenvolvimento de novos produtos e novas relação de negócio, a realização da operação pretendida:
práticas comerciais, nomeadamente novos
mecanismos de distribuição, a) Em caso de ausência de identicação do cliente ou
do representado ou beneciário efetivo;
b) Da utilização de tecnologias novas ou em fase
de desenvolvimento relacionadas com novos b) Se não for fornecida a informação sobre a estrutura
produtos ou com produtos pré-existentes. de propriedade e controlo do cliente, a natureza
e a nalidade da relação de negócio;
2. As entidades sujeitas devem avaliar o risco antes do
lançamento dos novos produtos ou práticas comerciais c) Se não se conhece a origem e o destino dos fundos
ou da utilização de tecnologias novas ou em fase de nos casos previstos na presente lei.
desenvolvimento. Artigo 22.º

3. Ainda, as entidades sujeitas devem adotar medidas Dever de diligência acrescida


adequadas para gerir e mitigar esses riscos.
1. Sem prejuízo do cumprimento do disposto nos artigos
Artigo 20.º
12.º e 20.º, as entidades sujeitas devem aplicar medidas
Identicação através de intermediários acrescidas de diligência em relação aos clientes e às
operações, atendendo à natureza, complexidade, volume,
1. As entidades sujeitas podem recorrer a terceiros ou caráter não habitual, ausência de justicação económica
intermediários para realizar a identicação e vericação ou suscetibilidade de enquadrar num tipo legal de crime.
da identicação dos clientes, se estiverem assegurados
os seguintes critérios: 2. Vericadas as circunstâncias descritas no número
anterior, as entidades sujeitas devem procurar informação
a) Quando solicitados, possam fornecer imediatamente do cliente sobre a origem e destino dos fundos e reduzir
cópias dos documentos de identificação dos a escrito o resultado destas medidas, que deve estar
clientes e beneficiários efetivos bem como disponível para as autoridades competentes.
vericar a sua identidade e outros documentos
relacionados com a obrigação de diligência; 3. São sempre aplicáveis medidas acrescidas de diligência
às operações realizadas à distância e especialmente às que
b) Estejam estabelecidos em Cabo Verde ou noutro possam favorecer o anonimato, às operações efetuadas
Estado cuja legislação imponha obrigações com pessoas politicamente expostas, às operações de
de diligência equivalentes às exigidas pela correspondência bancária com instituições nanceiras
presente lei e se encontrem sujeitos a supervisão bancárias estabelecidas em países terceiros e a quaisquer
adequada; outras designadas pelas autoridades de regulação e
supervisão do respetivo setor, desde que legalmente
c) Tenham a possibilidade de compreender e, quando
habilitadas para o efeito.
adequado, obter informação sobre o objeto e a
natureza da relação de negócio; 4. Sem prejuízo de regulamentação emitida pelas
autoridades competentes, nos casos em que a operação
d) Estejam sujeitos a regulação e supervisão, bem como
tenha lugar sem que o cliente, ou o seu representante, ou
adotar providências destinadas ao cumprimento
o seu beneciário efetivo estejam sicamente presentes,
das obrigações de diligência relativas à clientela
a vericação da identidade pode ser complementada por
e de conservação de documentos.
documentos ou informações suplementares consideradas
2. Sem prejuízo do referido no número anterior, a adequadas para vericar ou certicar os dados fornecidos
responsabilidade pelo cumprimento dos deveres contidos pelo cliente.
na presente lei continua a caber à entidade obrigada que
5. Ainda, as entidades sujeitas devem aplicar medidas
recorreu a terceiros.
de vigilância reforçadas:
3. No caso de operações financeiras realizadas
a) Para clientes, relações de negócio ou operações
internacionalmente e sem contato pessoal com o cliente,
em categorias de risco mais elevadas;
caso subsistam dúvidas sobre a identidade do mesmo e o
montante ou a natureza da operação o justicarem, pode b) Aos clientes anteriores à promulgação do presente
ser solicitado ao beneciário da operação que a identicação diploma, em função do nível de relevância e
e a natureza da operação sejam comprovadas por uma risco, e cumprir o dever de vigilância sobre
instituição nanceira reconhecidamente idónea. essas relações.
4. As instituições financeiras devem sempre, na 6. As instituições nanceiras devem aplicar medidas de
determinação dos países em que podem estar estabelecidos os diligência reforçadas a relações de negócio e operações com
terceiros que cumprem os critérios, atender às informações pessoas, singulares e coletivas, e instituições nanceiras
disponíveis sobre o nível de risco associado a esses países. de países com um risco mais elevado de lavagem de
I SÉRIE — NO 21 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 24 DE MARÇO DE 2016 781

capitais para esse efeito designados pelo Grupo de Ação Artigo 25.º
Financeira Internacional, os quais devem ser ecaz e Dever de conservação de documentos
proporcional aos riscos.
1. As entidades sujeitas devem conservar, por um
7. As entidades sujeitas devem considerar a possibilidade período mínimo de sete anos após o momento em que
de fazer uma declaração suspeita quando: foi efetuada a transação ou a partir do m da relação
de negócio ou após a data da transação, sob qualquer
a) Se vê impossibilitada de vericar a identidade do
forma de suporte, os originais ou cópias dos seguintes
cliente ou do beneciário efetivo;
documentos, internos ou internacionais:
b) Iniciou uma relação de negócio e se vê
a) Demonstrativos da identidade dos clientes,
impossibilitada de vericar satisfatoriamente a
beneciários e representados;
identidade do cliente ou do beneciário efetivo
e, ainda pôr termo à relação de negócio. b) Cópias dos registos relativos às transações
executadas, de modo a permitir a reconstituição
Artigo 23.º
das transações, bem como os relatórios escritos
Adequação ao grau de risco referidos na presente lei.

1. No cumprimento dos deveres de identicação e de 2. No caso das instituições financeiras, para além
diligência previstos nos artigos 12.º, 15.º e 22.º, as entidades dos documentos constantes do número anterior, devem
sujeitas devem adaptar a natureza e a extensão dos conservar as chas de abertura de contas de depósito
procedimentos de vericação e das medidas de diligência, e correspondência relacionada, durante, pelo menos, o
em função do risco associado ao tipo de cliente, à relação período de sete anos a seguir ao encerramento da conta
de negócio, ao produto, à transação e à origem ou destino ou ao m da relação de negócio.
dos fundos.
3. As entidades sujeitas, sempre que solicitadas, devem
2. As entidades sujeitas devem estar em condições de fornecer cópias dos documentos referidos nos números
demonstrar a adequação dos procedimentos adotados anteriores às autoridades competentes e à UIF, para
nos termos do número anterior, sempre que tal lhes efeitos de investigação do crime de lavagem de capitais
seja solicitado pela competente autoridade de regulação e inteligência de informações.
e supervisão. Artigo 26.º

Artigo 24.º Dever de exame

Pessoas politicamente expostas 1. Sem prejuízo do dever de diligência reforçada, as


entidades sujeitas devem examinar com especial cuidado
1. As entidades sujeitas quando estão a fazer negócio ou e atenção, de acordo com a sua experiência prossional, o
transações com pessoas politicamente expostas, além da seu conhecimento do cliente, as suas atividades comerciais
aplicação de medidas de diligência relativas à clientela, e o seu perl de risco, qualquer conduta, atividade ou
devem: operações cujos elementos caraterizadores o tornem
suscetível de estar relacionada com a lavagem de capitais.
a) Dispor de procedimentos adequados e baseados
no risco, para determinar se o cliente ou 2. Para efeitos do número anterior o exame da operação
representante ou beneciário efetivo é uma deve incidir, nomeadamente, sobre:
pessoa politicamente exposta, e se nacional
ou estrangeira; a) A natureza, a finalidade, a frequência, a
complexidade, a invulgaridade e a atipicidade
b) Obter a autorização da sua alta direção para o da conduta, atividade ou operação;
estabelecimento ou manutenção, no caso de
clientes existentes de relações de negócio com b) A aparente inexistência de um objetivo económico
tais clientes ou beneciários efetivos; ou de um m lícito associado à conduta, atividade
ou operação;
c) Tomar as medidas necessárias para determinar a
origem do património e dos fundos envolvidos, c) O montante, a origem e o destino dos fundos
nas relações de negócio ou nas transações movimentados;
ocasionais;
d) Os meios de pagamento utilizados;
d) Efetuar um acompanhamento contínuo e reforçado e) A natureza, a atividade, o padrão operativo e o
da relação de negócio. perl dos intervenientes;
2. O regime previsto no número anterior deve continuar f) O tipo de transação ou produto que possa favorecer
a aplicar-se a quem, tendo deixado de ter a qualidade de especialmente o anonimato.
pessoa politicamente exposta, continue a representar um
risco acrescido de lavagem de capitais, devido ao seu perl 3. A aferição do grau de suspeição evidenciado por
ou à natureza das operações desenvolvidas. uma conduta, atividade ou operação não pressupõe
782 I SÉRIE — NO 21 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 24 DE MARÇO DE 2016

necessariamente a existência de qualquer tipo de b) Tomar medidas razoáveis no sentido de identicar


documentação conrmativa da suspeita, antes decorrendo transferências eletrónicas transfronteiras sem
da apreciação das circunstâncias concretas, à luz dos as informações do ordenante ou do beneciário;
critérios de diligência exigíveis a um profissional, na
análise da situação. c) Ter políticas e procedimentos baseados em riscos,
para determinar quem executa, recusa ou
Artigo 27.º suspende uma transferência eletrónica por falta
de ordenante ou beneciário e quando necessário
Obrigações relativas a transferências eletrónicas
tomar medida de seguimento adequada.
1. As transferências eletrónicas podem ser nacionais 7. Caso existam limitações de ordem técnica que
ou transfronteiras. impeçam que as informações sobre o ordenante ou o
beneciário, previstas no número 2, sejam transmitidas
2. Quando as instituições financeiras desenvolvem com a transferência eletrónica doméstica correspondente,
atividades de transferências eletrónicas nacionais, devem a instituição nanceira que as recebe deve manter um
incluir: registo de toda a informação recebida da instituição
nanceira ordenante ou de outra instituição nanceira
a) O nome do ordenante;
intermediária.
b) O número de conta do ordenante se essa for 8. A instituição nanceira beneciária que receber uma
utilizada para o processamento da operação. Na transferência eletrónica transfronteira cuja informação
ausência da conta, o número único de referência sobre o ordenante seja incompleta, tal como prevista no
utilizado para rastrear a operação; número 2, deve verificar a identidade do beneficiário
dessa transferência.
c) A morada do ordenante, ou o número do documento
de identidade nacional, ou o seu número de 9. No caso de transferências eletrónicas transfronteiriças,
identicação de cliente, ou a data e o local de as instituições nanceiras beneciárias devem:
nascimento;
a) Vericar a identidade do beneciário, caso esta
d) O nome do beneciário; e não tenha sido previamente verificada, as
informações dos clientes quando há suspeita de
e) O número de conta do beneciário se essa conta lavagem de capitais, e conservar esta informação
for utilizada para o processamento da operação de acordo com o disposto no artigo 25.º;
ou, na ausência da conta, o número único de
referência que permita rastrear a operação. b) Tomar medidas razoáveis no sentido de identicar
transferências eletrónicas transfronteiras sem
3. Quando as instituições financeiras desenvolvem as informações do ordenante ou do beneciário;
atividades de transferências eletrónicas transfronteiras
de fundos, igual ou superior a 1.000.000$00 (um milhão c) Ter políticas e procedimentos baseados em riscos
de escudos) devem também incluir informação acerca do para determinar quem executa, recusa ou
ordenante, como indicado para as transferências eletrónicas suspende uma transferência eletrónica por
nacionais, que devem acompanhá-las ao longo de toda a falta de ordenante ou beneciário e quando
cadeia de pagamento. necessário tomar a medida de seguimento
adequada.
4. A instituição nanceira que pretenda efetuar uma
transferência eletrónica e que não esteja em condições 10. Além destas exigências, a autoridade de supervisão
de cumprir os requisitos estabelecidos no número 2, deve pode exigir que as instituições nanceiras apliquem outras
abster-se de efetuá-la. medidas com a nalidade de gerir os riscos de lavagem
de capitais decorrentes das transferências eletrónicas.
5. A instituição financeira que efetuar ou receber
transferências eletrónicas transfronteiras, deve adotar 11. As instituições nanceiras que iniciem transferências
medidas razoáveis, para identificar aquelas que não eletrónicas devem conservar todas as informações do
incluam as informações exigidas no número 2, e aplicar ordenante e do beneciário de acordo com o disposto no
procedimentos baseados no risco a m de determinar artigo 25.º.
quando deve executar, receber, rejeitar ou suspender uma
Artigo 28.º
transferência eletrónica e quando deve adotar medidas
adequadas de acompanhamento. Dever de controlo

6. No caso das transferências eletrónicas transfronteiriças, 1. As entidades sujeitas devem aprovar, por escrito e:
as instituições nanceiras intermediárias devem:
a) Desenvolver políticas, procedimentos, programas,
a) Assegurar que conservem as informações sobre o sistemas e controlos internos de prevenção de
ordenante ou o beneciário que acompanham lavagem de capitais que incluam dispositivos
a transferência eletrónica; adequados de observância regulatória;
I SÉRIE — NO 21 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 24 DE MARÇO DE 2016 783

b) Desenvolver procedimentos adequados na 8. Salvo no que respeitar às obrigações de identicação


contratação e recrutamento dos seus funcionários, do cliente e de recusa em aceitar relação de negócios ou
a m de garantir que esta se efetua de acordo operação solicitada, não são exigíveis outras obrigações
com critérios exigidos; impostas na presente lei às entidades sujeitas que exerçam
actividades e prossões não nanceiras que se mostrarem
c) Implementar um dispositivo de controlo interno manifestamente incompatíveis com a natureza, estrutura
independente para vericar o cumprimento das e dimensão de tais entidades.
políticas, procedimentos, sistemas e controlos
internos e assegurar que tais medidas são Artigo 29.º
ecazes e coerentes com o disposto na presente Dever de formação
lei;
1. Todas as entidades sujeitas devem garantir a formação
d) Indigitar um responsável ao nível da direção para contínua e adequada aos seus empregados e dirigentes,
aplicação dos requisitos previstos no presente para assegurar que estes se mantêm informados sobre os
diploma; vários aspetos do novo quadro regulamentar em matéria
de prevenção e combate à lavagem de capitais, novos
e) Estabelecer políticas e procedimentos de partilha
desenvolvimentos, técnicas, métodos e tendências das
de informações necessárias para efeitos de
atividades ligadas a estes.
diligência aplicável ao cliente e gestão da
lavagem de capitais; 2. As medidas previstas no número anterior devem
incluir programas especícos e regulares de formação,
f) Assegurar diligências para o cumprimento da
adequados a cada setor de atividade, que habilitem os
auditoria do cliente ao nível do grupo e a obtenção
seus destinatários a reconhecer operações que possam
de informação das operações em sucursais e
estar relacionadas com a prática daqueles crimes e a
liais, caso sejam necessárias ao combate da
atuar de acordo com as disposições da presente lei e das
lavagem de capitais;
respetivas normas regulamentares.
g) Editar um manual de procedimento adequado
3. As entidades sujeitas devem conservar, durante um
de prevenção à lavagem de capitais, que deve
período de cinco anos, cópia dos documentos ou registos
ser atualizado, com informações completas
relativos à formação prestada aos seus empregados e
sobre as medidas de controlo interno a que
dirigentes.
se referem os números anteriores. O manual
estará à disposição da entidade de regulação Artigo 30.º
e supervisão, que pode propor a adopção de
medidas corretivas oportunas. Filiais e sucursais

2. Cabe igualmente às entidades sujeitas comunicar 1. As instituições sujeitas, relativamente às suas


aos funcionários os procedimentos, políticas e controlos sucursais ou liais em que detenham uma participação
internos. maioritária, estabelecidas em países terceiros, devem:

3. Ainda, as entidades sujeitas devem possuir uma a) Aplicar medidas equivalentes às previstas
função de auditoria interna independente dos demais na presente lei em matéria de deveres de
serviços, com funcionários especicamente destacados identicação, de diligência, de conservação e
para esse efeito. de formação;

4. Os programas em matéria de prevenção e combate b) Comunicar as políticas e procedimentos internos


à lavagem de capitais, tal como previsto no número denidos em cumprimento do disposto no artigo
anterior, aplicam-se, conforme o caso, a todas as sucursais 33.º que se mostrem aplicáveis no âmbito da
nacionais e estrangeiras, liais e empresas com participação atividade das sucursais e das liais.
maioritária.
2. Caso a legislação do país terceiro não permita a
5. Sempre que o requisito do combate à lavagem de aplicação das medidas previstas na alínea a) do número
capitais de um país de acolhimento for menos exigente anterior, as entidades sujeitas devem informar desse fato
do que os do presente diploma, as instituições nanceiras as respetivas autoridades de regulação e tomar medidas
devem aplicar os requisitos da presente lei às suas sucursais suplementares destinadas a prevenir o risco de lavagem
e liais maioritárias nos países de acolhimento. de capitais.
Artigo 31.º
6. Caso não seja possível aplicar os requisitos previstos
na presente lei às sucursais e filiais maioritárias nos Dever de colaboração e informação
países terceiros, as instituições nanceiras devem aplicar
medidas de gestão de risco suplementares e informar o 1. As entidades sujeitas devem fornecer ao juiz ou
seu supervisor em Cabo Verde. ao Ministério Público, quando estes o ordenarem ou
requererem, informações, documentos, bem como quaisquer
7. As entidades sujeitas devem remeter à UIF o seu outros objetos ou outros bens que possam derivar de
manual de procedimento. atividade criminosa que tiverem na sua posse, que devam
784 I SÉRIE — NO 21 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 24 DE MARÇO DE 2016

ser congelados ou apreendidos e que sejam necessários à 3. Não constitui violação do dever enunciado no número
instrução do processo por crime de lavagem de capitais, anterior, a divulgação de informações, legalmente devidas,
afastando a obrigação de sigilo. às autoridades de supervisão ou de scalização previstos
na presente lei, incluindo os organismos de regulação
2. As informações constantes do número anterior devem prossional das atividades e prossões não nanceiras
ser transmitidas à UIF e às entidades de regulação e designadas sujeitas à presente lei.
supervisão previstos na presente lei, sempre que estes
o solicitarem. 4. Quem, ainda que com negligência, revelar ou
favorecer a descoberta da identidade de quem forneceu
3. O não cumprimento do dever nos termos dos números informações, ao abrigo dos artigos referidos no número
1 e 2, ainda que negligente, faz incorrer o seu agente anterior, é punido com pena de prisão até três anos ou
num crime de desobediência qualicada, além de coima. com pena de multa.
Artigo 32.º 5. O disposto no número 1 também não impede a
Dever de abstenção divulgação da informação, para efeitos de prevenção
da lavagem de capitais entre instituições congéneres,
1. As entidades sujeitas devem abster-se de executar baseada no memorando de entendimento ou desde que
qualquer operação sempre que saibam ou suspeitem haja reciprocidade, em matéria de prevenção à lavagem
estar relacionada com a prática dos crimes de lavagem de capitais.
de capitais e informar desse fato a UIF. Artigo 34.º

2. A UIF deve imediatamente solicitar ao Procurador- Dever de comunicação


geral da República ou ao magistrado do Ministério Público
por ele designado, a conrmação ou o levantamento da 1. As entidades sujeitas devem informar a UIF
decisão de suspensão da operação. imediatamente, via fax ou correio eletrónico, logo que
saibam, suspeitem ou tenham razões sucientes para
3. O Procurador-geral da República ou o magistrado suspeitar que teve lugar, está em curso ou foi tentada
do Ministério Publico por ele designado pronuncia-se uma operação suscetível de configurar a prática do
sobre a conrmação ou o levantamento da suspensão da crime de lavagem de capitais, ou sempre que tenham
operação no prazo máximo de três dias úteis, sob pena conhecimento de quaisquer fatos que possam constituir
de a operação poder ser realizada. indícios da prática daqueles crimes.

4. O Procurador-geral da República notica a entidade 2. Para além do enunciado no número anterior, as entidades
comunicante da sua decisão dando também conhecimento sujeitas devem comunicar à UIF, independentemente
à UIF. da suspeita, as operações em numerário de que tenham
conhecimento cujos montantes sejam iguais ou superiores,
5. No caso da entidade sujeita considerar que a suspensão tratando-se de uma única ou várias operações que parecem
referida no número 1 não é possível ou que, após consulta ligadas, a:
à UIF, pode ser suscetível de prejudicar a prevenção ou
a futura investigação do crime de lavagem de capitais, a a) 1.000.000$00 (um milhão de escudos) para:
operação pode ser realizada, devendo a entidade sujeita
fornecer, de imediato, à UIF as informações respeitantes i. Operações de depósito em instituições bancárias,
à operação. compra de ações e aplicações nanceiras;

Artigo 33.º ii. Pagamento de prémios de seguros ou de contratos


de seguros de pensões;
Dever de condencialidade
iii. Sociedades de entrega rápida de valores em
1. As entidades sujeitas e os membros dos respetivos numerário;
órgãos sociais, ou que nelas exerçam funções de direção, de
gerência ou de chea, os seus empregados, os mandatários iv. Operações de promoção, mediação, compra,
e outras pessoas que lhes prestem serviço a título venda e revenda de imóveis;
permanente, temporário ou ocasional que forneçam as
informações transmitidas ou requisitadas pela UIF ou v. Para as operações de câmbio de moeda;
pelas autoridades judiciárias competentes sobre operações vi. Comerciantes que transaccionem bens cujo
suspeitas de lavagem de capitais, ou sobre processos em pagamento seja efetuado em numerário;
investigação, não podem revelar tal fato a cliente ou a
terceiros, nem que se encontra em curso uma investigação vii. Em operações de compra de chas em casinos,
criminal e, tampouco que foi transmitida à UIF uma por junto ou acumulado, numa mesma partida.
informação conexa com a comunicação realizada.
3. Excetuam-se do número anterior as operações de
2. A identidade do empregado ou dirigente da entidade depósito em espécie por uma pessoa ou uma empresa
obrigada que tenha fornecido as informações referidas no cuja natureza da atividade necessita da utilização de tal
número anterior, deve ser mantida em sigilo, havendo procedimento, nomeadamente o Estado, os supermercados,
apenas lugar à identicação da entidade transmitente. as empresas de transporte público.
I SÉRIE — NO 21 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 24 DE MARÇO DE 2016 785

4. Às informações prestadas nos termos do número 4. Para efeito do número anterior, as organizações
anterior é aplicável o regime previsto no artigo 33.º. sem ns lucrativas cam sujeitas durante o período de
sete anos a conservar todos os registos de identicação
5. As informações fornecidas no presente artigo apenas das pessoas que forneçam ou recebam a título gratuito
podem ser utilizadas em processo penal, não podendo fundos ou recursos da fundação, nos termos dos artigos
ser revelada, em caso algum, a identidade de quem as 12.º, 14.º e 15.º, devendo estes registos estar à disposição
forneceu. da UIF e da autoridade judiciária.
6. As comunicações recebidas e os relatórios disseminados
pela UIF ao Procurador-geral da República não têm valor 5. O disposto nos números anteriores será aplicável às
probatório e não podem ser incorporadas nos processos associações, correspondendo em tais casos aos órgãos do
judiciais ou administrativos. governo ou da assembleia geral, aos membros dos órgãos
de representação que gere os interesses da associação e
7. A UIF valora a qualidade das comunicações recebidas o organismo encarregado de vericar a sua constituição,
das entidades sujeitas e notica-lhes periodicamente. no exercício das suas funções.
8. As comunicações de operações suspeitas devem conter 6. Atendendo aos riscos a que se encontram expostos
as seguintes informações: o setor, são extensíveis às fundações e às associações as
a) Relação e identificação das pessoas físicas ou restantes obrigações estabelecidas na presente lei.
jurídicas que participam na operação e conceito Artigo 36.º
de sua participação na mesma;
Suspensão de execução da operação
b) Atividade conhecida das pessoas físicas ou jurídicas
na operação e correspondência entre a atividade 1. As entidades sujeitas, podem, quando haja receio
e a operação; do desaparecimento dos fundos, sem informar o cliente,
c) Relação de operações vinculadas e datas a que se suspender a execução de quaisquer operações que
referem com indicação da sua natureza, prossão, fundadamente suspeitem estar relacionadas com a
moeda em que se realizam, quantia, lugar ou prática dos crimes previstos no artigo 39.º e informar
lugares de execução, nalidade e instrumentos desse fato à UIF.
de pagamentos ou descontos realizados;
2. A UIF deve imediatamente transmitir o pedido
d) Medidas tomadas pelo sujeito obrigado ao comunicante ao Procurador-geral da República ou ao magistrado do
em investigar a operação comunicada; Ministério Público, por ele designado.

e) Exposição das circunstâncias das quais se pode 3. O Procurador-geral da República ou o magistrado do


inferir o indício ou certeza de relação com a Ministério Publico por ele designado procede, no prazo
lavagem de capitais ou que tenham aparente de dois dias úteis à confirmação ou ao levantamento
falta de justicação económica, prossional da suspensão da operação, devendo, em qualquer caso,
ou de negócio para a realização da operação; noticar a entidade sujeita da decisão de conrmação da
suspensão, diretamente e imediatamente, por qualquer
f) Quaisquer outros dados relevantes para a prevenção
meio, sob pena de a operação poder ser realizada por aquela
da lavagem de capitais que se determinar nos
entidade, dando também conhecimento da decisão à UIF.
termos regulamentares.
Artigo 35.º Artigo 37.º

Organismos sem ns lucrativos Participações da autoridade de supervisão

1. As organizações sem ns lucrativos devem: 1. O Banco de Cabo Verde deve igualmente informar
a) Produzir relatórios, anualmente ou sempre que a UIF sempre que, na sua atividade de inspeção ou de
haja alteração no objeto e a nalidade das suas qualquer outro modo, tenha conhecimento de fatos que
atividades; indiciem a prática de crime previsto na presente lei.

b) Identicar a pessoa ou pessoas que gerem, controlam 2. Às informações prestadas nos termos do número
suas atividades, e compreendem os dirigentes, anterior é aplicável o regime previsto nos artigos 31.º e
os membros do conselho de administração e os 34.º da presente ei.
administradores.
Artigo 38.º
2. Igualmente, as organizações sem fins lucrativos
devem publicar anualmente, no boletim oficial ou no Exclusão de responsabilidade
quadro de anúncios legais, seus estados nanceiros com
1. Não constitui violação do dever de sigilo bancário,
a divulgação das suas despesas e receitas.
nem envolve responsabilidade penal, civil, disciplinar
3. Os dirigentes ou responsáveis das organizações não- ou contraordenacional a prestação de informação ou
governamentais, em exercício de funções, o pessoal com colaboração, fundadamente e de boa-fé para quem as
responsabilidade pela gestão das mesmas zelam para que tiver prestado ou para a instituição a que se encontrar
estas não sejam utilizadas para a lavagem de capitais. vinculado.
786 I SÉRIE — NO 21 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 24 DE MARÇO DE 2016

2. Igualmente, os dirigentes, administradores e funcionários Artigo 40.º


são eximidos, pela lei, de responsabilidade criminal ou Agravação
civil por quebra das regras de condencialidade, impostas
por contrato ou por qualquer disposição legislativa, A pena prevista no artigo anterior é agravada de metade
regulamentar ou administrativa, quando declarem, de boa-fé, nos seus limites mínimo e máximo se:
as suas suspeitas à UIF, ainda que não conhecessem,
com precisão, qual era a atividade criminal em questão a) O crime de lavagem de capitais for praticado por
e mesmo que a atividade ilegal de que suspeitavam não associação ou organização criminosa, por quem
tenha realmente ocorrido. dela faça parte ou a apoie;

CAPÍTULO III b) O fato ilícito típico de onde provêm as vantagens for


tráco ilícito de estupefacientes e substâncias
DISPOSIÇÕES PENAIS
psicotrópicas, tráfico de pessoas ou armas
Artigo 39.º proibidas e substâncias explosivas;
Lavagem de capitais
c) O agente praticar o crime de lavagem de capitais
1. Quem converter ou transferir vantagens do crime, de modo habitual.
ou auxiliar ou facilitar alguma dessas operações, com o
Artigo 41.º
m de dissimular a sua origem ilícita ou pôr obstáculos
à sua confiscação, ou, ainda, ajudar qualquer pessoa Determinação da pena aplicável
envolvida na prática da infração principal a furtar-se às
consequências jurídicas dos seus atos, será punido com 1. A pena aplicável nos termos do disposto no artigo
pena de prisão de quatro a doze anos. anterior não pode ser superior ao limite máximo da pena
prevista para a infração principal.
2. Na mesma pena incorre quem ocultar ou dissimular
a verdadeira natureza, origem, localização, disposição, 2. Para efeito do disposto no número anterior, no caso
movimentação, ou titularidade de vantagens do crime. das vantagens serem provenientes de fatos ilícitos típicos
de duas ou mais espécies, leva-se em conta a pena cujo
3. Incorre ainda na mesma pena, quem adquirir ou
limite máximo seja mais elevado.
receber a qualquer título, utilizar, detiver ou conservar
vantagens do crime. Artigo 42.º

4. A punição pelo crime de lavagem de capitais previstos Responsabilidade criminal das pessoas coletivas
nos números anteriores tem lugar ainda que o fato ilícito
relativo à infração principal tenha sido praticado no 1. As pessoas coletivas, ainda que irregularmente
estrangeiro, desde que seja também punível pela legislação constituídas, e as associações sem personalidade jurídica
do lugar em que tiver sido praticado. são responsáveis pelo crime de lavagem de capitais,
quando cometido, em seu nome e no interesse coletivo:
5. O fato será punível ainda que o procedimento criminal
relativo à infração principal depender de queixa e esta a) Pelos seus órgãos ou representantes;
não tiver sido tempestivamente apresentada.
b) Por uma pessoa sob a autoridade destes, quando o
6. Ainda incorre na mesma pena, quem: cometimento do crime se tenha tornado possível
a) Se associar para cometer, tentar cometer, ajudar em virtude de uma violação dolosa dos deveres
ou incitar alguém a cometer ou o aconselhar de vigilância ou controlo que lhes incumbem.
para esse efeito, ou facilitar a execução dos
2. A responsabilidade das entidades referidas no número
fatos previstos nos números anteriores;
anterior não exclui a responsabilidade individual dos
b) Estabeleça ou mantenha relação jurídica de respetivos agentes.
natureza económica com quaisquer sujeitos ou
Artigo 43.º
entidades, sabendo que estão envolvidos em
atividades de lavagem de capitais, ou adquira Penas aplicáveis às pessoas coletivas
ou aumente a participação de controlo relativo
a imóvel, empresa ou outro tipo de pessoa 1. Pelo crime referido no número 1 do artigo anterior
coletiva, ainda que irregularmente constituída, são aplicáveis às entidades aí referidas as seguintes
situados, registados ou constituídos em território penas principais:
nacional ou em outra jurisdição;
a) Multa;
c) For autor da infração principal, praticar os fatos
típicos ilícitos estabelecidos neste número e b) Dissolução judicial.
nos anteriores. 2. A pena de multa é xada nos termos do Código Penal.
7. Para a comprovação de que um bem é produto do
crime de lavagem de capitais, não é exigível que a pessoa 3. Se a multa for aplicada a uma associação sem
tenha sido condenada por uma infração subjacente. personalidade jurídica, responde por ela o património
comum e, na sua falta ou insuciência, solidariamente,
8. A negligência é sempre punível. o património de cada um dos associados.
I SÉRIE — NO 21 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 24 DE MARÇO DE 2016 787

4. A título acessório o tribunal pode aplicar às pessoas Artigo 47.º


coletivas, as seguintes penas: Bens, direitos ou valores oriundos de crimes praticados
no estrangeiro
a) Privação de subsídios públicos;
1. O juiz determina, na hipótese de existência de tratado
b) Proibição de participar em arrematações e concurso ou convenção internacional e por solicitação de autoridade
públicos durante um período mínimo de três anos. estrangeira competente, medidas conservatórias sobre
Artigo 44.º
bens, direitos ou valores oriundos de crimes precedentes
associados à lavagem de capitais praticado no estrangeiro.
Atenuação especial da pena
2. Aplica-se o disposto neste artigo, independentemente
1. A pena pode ser especialmente atenuada quando de tratado ou convenção internacional, quando o governo
o agente auxilie concretamente, ou de forma relevante, do país da autoridade solicitante prometer reciprocidade
na recolha de provas decisivas para identificação e a Cabo Verde.
detenção dos responsáveis pela prática dos fatos ilícitos
subjacentes, bem como no congelamento e apreensão dos 3. Na falta de tratado ou convenção, os bens, direitos
bens e produtos provenientes dos mesmos fatos. ou valores privados sujeitos a medidas conservatórias por
solicitação de autoridade estrangeira competente ou os
2. É garantida a proteção de quem tiver colaborado recursos provenientes da sua alienação serão repartidos
concretamente na investigação do crime, nos termos da entre o Estado requerente e Cabo Verde, na proporção
lei de proteção de testemunhas. de metade, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro
de boa-fé.
CAPÍTULO IV
Artigo 48.º

DISPOSIÇÕES PROCESSUAIS PENAIS Perda


ESPECIAIS
1. Sem prejuízo do regime geral previsto no Código
Artigo 45.º Penal e dos direitos de terceiros de boa-fé, em caso de
condenação por lavagem de capitais ou por qualquer
Congelamento e consco de bens e direitos de origem ilícita
infração principal, o tribunal declara a perda de fundos
Sem prejuízo do disposto no Código Penal quanto à ou bens que constituam:
perda de bens e instrumentos do crime, os bens imóveis a) O produto de crime, incluindo rendimentos,
ou móveis, direitos, títulos, valores, quantias e quaisquer recompensas, juros, fundos ou bens misturados
outros objetos depositados em bancos ou outras instituições com esse produto ou obtidos a partir ou em troca
de crédito pertencentes ao arguido de uma infração principal de tal produto, ou bens cujo valor corresponde
ou sobre os quais ele exerce poder de fato correspondente ao valor dos proveitos obtidos;
ao direito de propriedade ou qualquer outro direito real
cam sujeitos à apreensão, como medida cautelar, e à b) Ativos de valor correspondente, na impossibilidade
conscação. de apreender o produto do crime;
Artigo 46.º c) O objeto da infração;
Apreensão de bens e direitos
d) Receitas e outros benefícios resultantes de fundos
ou bens previstos nas alíneas anteriores;
1. A autoridade judiciária procede à apreensão de bens
imóveis ou móveis, direitos, títulos, valores, quantias e e) Instrumentos utilizados ou destinados a serem
quaisquer outros objetos depositados em bancos ou outras utilizados na prática do crime; ou
instituições de crédito, mesmo que em cofres individuais,
em nome do arguido ou de terceiros, quando tiver fundadas f) Fundos ou bens referidos nas alíneas anteriores,
razões para crer que eles constituem vantagens do crime, que foram transferidos para outrem, salvo
ou se destinam à atividade criminosa. se o terceiro provar que adquiriu tais bens
mediante o pagamento de um preço justo ou
2. As instituições nanceiras ou equiparadas, associações, como contraprestação por serviços no valor
sociedades civis ou comerciais, repartições de registo equivalente ao de tais bens, ou com base noutras
ou scais e demais entidades públicas ou privadas não razões fundadas, e que o terceiro não estava
podem recusar o cumprimento de pedido de informação ciente da origem ilícita de tais bens.
ou apresentação de documentos efetuados pela autoridade
judiciária, respeitante a bens, depósitos ou valores a que 2. Se tiver sido cometida uma infração ao abrigo da
se refere o número anterior. presente lei, e o seu autor não for condenado por ser
desconhecido ou ter falecido, o Ministério Público deve
3. A apreensão de bens ou vantagens do crime prevista solicitar ao Tribunal competente que emita uma declaração
na presente lei, quando decretada no processo penal, de perda dos fundos ou bens a favor do Estado, desde que
extingue-se, e é ociosamente cancelado o seu registo, comprove que os fundos ou bens são proventos de lavagem
se decorrido oito meses, não for deduzida a acusação. de capitais, ou qualquer crime subjacente.
788 I SÉRIE — NO 21 «B. O.» DA REPÚBLICA DE CABO VERDE — 24 DE MARÇO DE 2016
Artigo 49.º Artigo 53.º

Destino dos bens perdidos a favor do Estado Cooperação com congéneres estrangeiras

1. Os bens e valores declarados perdidos a favor do 1. As autoridades nacionais competentes devem garantir
Estado são destinados nos termos da Lei n.º 18/VIII/2012, a cooperação internacional com as suas congéneres
de 13 de setembro, que criou Gabinete de Recuperação estrangeiras em matéria de prevenção e repressão da
de Ativos (GRA) e do Gabinete de Administração de Bens lavagem de capitais.
(GAB) e estabeleceu ainda as regras de administração
2. A cooperação deve ser prestada de modo célere,
dos bens recuperados, apreendidos ou perdidos a favor
construtivo e efetivo, devendo ser assegurados mecanismos
do Estado.
ecazes de troca de informação.
2. Não devem ser vendidos os bens, objetos ou 3. A troca de informação deve ser efetuada espontaneamente
instrumentos confiscados pelo Estado que, pela sua ou a pedido do país que submete o pedido de informação,
natureza ou caraterísticas, podem ser utilizados para podendo ser referente à lavagem de capitais, bem como
cometer outros crimes. em relação aos fatos ilícitos típicos de onde provêm as
vantagens.
3. Não devem ser destruídos os bens, objetos ou
instrumentos conscados que tenham interesse criminal, 4. A troca de informação não pode ser recusada ou
cientíco ou didático. sujeita a qualquer condição indevida, desproporcionada,
ou restritiva.
4. Na falta de acordo internacional, os bens, valores
ou produtos apreendidos à solicitação de autoridade 5. A cooperação internacional não pode ser recusada
estrangeira, bem como os fundos provenientes da sua unicamente com o fundamento de que o pedido está
venda, são repartidos em partes iguais entre o Estado relacionado com questões scais.
requerente e o Estado de Cabo Verde, após decretada a
respetiva perda. 6. A cooperação não pode ser recusada com base em
legislação que imponha deveres de condencialidade e de
Artigo 50.º sigilo às autoridades nacionais competentes, exceto se as
informações relevantes forem adquiridas em circunstâncias
Cooperação e coordenação nacionais
que envolvam sigilo prossional.
1. O Governo cria por diploma próprio no prazo de Artigo 54.º
cento e vinte dias após a entrada em vigor deste diploma,
Acesso, difusão e retorno da informação
uma comissão interministerial com atribuição de denir
e determinar a coordenação das políticas em matéria de 1. Para cabal desempenho das suas atribuições de
prevenção e combate à lavagem de capitais. prevenção da lavagem de capitais, a UIF pode requerer
e deve ter acesso, em tempo útil, à informação nanceira,
2. As autoridades nacionais competentes devem cooperar administrativa, judicial e policial, a qual ca sujeita ao
e, quando necessário, coordenar-se, no âmbito desta disposto ao dever de sigilo.
Comissão, ao nível operacional e da denição de políticas,
para o desenvolvimento e a aplicação de estratégias e de 2. Compete à UIF, no âmbito das suas atribuições e
atividades, com base nos riscos identicados, destinadas competências legais, e às autoridades de regulação e
a prevenir e a combater a lavagem de capitais. supervisão mencionadas no artigo 5.º, emitir alertas e
difundir informação atualizada sobre tendências e práticas
Artigo 51.º
conhecidas, com o propósito de prevenir a lavagem de
Cooperação entre autoridades de regulação e supervisão capitais.

As autoridades responsáveis pela regulação e supervisão 3. A UIF deve dar o retorno oportuno de informação
de entidades sujeitas, devem colaborar com as suas às entidades sujeitas e às autoridades de supervisão
homólogas estrangeiras na prevenção e na luta contra a e de fiscalização mencionadas no artigo 5.º, sobre o
lavagem de capitais e crimes subjacentes. encaminhamento e o resultado das comunicações suspeitas
de lavagem de capitais por aquelas comunicadas.
Artigo 52.º
Artigo 55.º
Cooperação entre as Unidades de Informações Financeiras Recolha, manutenção e publicação de dados estatísticos

1. A UIF pode partilhar informações, quer espontaneamente, 1. Cabe à UIF preparar e manter atualizados dados
quer mediante pedido, com qualquer congénere ou outras estatísticos relativos ao número de transações suspeitas
autoridades competentes estrangeiras, em matéria de comunicadas e ao encaminhamento e resultado de tais
prevenção e combate à lavagem de capitais e crimes comunicações.
subjacentes, numa base de reciprocidade ou de comum
acordo no quadro de acordos de cooperação. 2. As autoridades judiciárias, por intermédio do
membro do Governo responsável pela área da Justiça,
2. Para os efeitos referidos no número anterior a UIF bem como as autoridades policiais devem remeter à UIF,
pode celebrar acordos ou memorandos de entendimentos. anualmente, os dados estatísticos relativos à lavagem
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de capitais, nomeadamente o número de denúncias acusação, só o podendo ser em separado, em ação cível,
realizadas, processos-crimes abertos, pessoas acusadas, nos casos previstos no Código de Processo Penal, com as
pessoas condenadas, pessoas extraditadas, pedidos de necessárias adaptações.
cartas rogatórias recebidos e solicitados, montante dos
Artigo 59.º
bens congelados, apreendidos ou declarados perdidos a
favor do Estado. Autonomia dos crimes previstos nesta lei relativamente
aos crimes antecedentes
3. As autoridades judiciárias devem criar um sistema
destinado a manter estatísticas completas sobre auxílio 1. O processo do crime de lavagem de capitais e de consco
judiciário mútuo referente a apreensão, congelamento e de bens é autónomo do processo da infração principal.
conscação de bens, extradição, bem como outros pedidos
2. O processo do crime de lavagem de capitais e o
de cooperação solicitados ou recebidos.
pedido de consco são instruídos, com base em indícios,
Artigo 56.º respetivamente, da existência da infração principal e da
Defesa de direitos de terceiro de boa-fé origem ilícita dos bens, sendo puníveis os fatos previstos
nesta lei, ainda que desconhecido ou isento de pena o
1. Tomado conhecimento da apreensão, o terceiro que autor daquele crime.
invoque a titularidade de coisas, direitos ou valores
apreendidos nos termos do artigo anterior, pode deduzir, CAPÍTULO V
no processo respetivo, a defesa dos seus direitos, através
CONTRAORDENAÇÕES
de requerimento fundamentado em que alegue e prove
fatos de que resulta a sua boa-fé. Secção I

2. O requerimento a que se refere o número anterior é Disposições Gerais


autuado por apenso, noticando-se o Ministério Público
Artigo 60.º
para, em dez dias, deduzir oposição.
Direito subsidiário
3. A decisão é proferida pelo juiz logo que se encontrem
realizadas as diligências que considere necessárias, salvo Às infrações previstas neste capítulo é subsidiariamente
se quanto à titularidade das coisas, direitos ou valores aplicável o regime geral das contraordenações.
a questão se revelar complexa ou susceptível de causar
Artigo 61.º
perturbação ao normal andamento do processo penal, casos
em que o juiz pode remeter o terceiro para os meios cíveis. Aplicação no espaço

4. O disposto nos números anteriores é aplicável, ainda Seja qual for a nacionalidade do agente, o disposto no
que o terceiro de boa-fé tenha apenas tido conhecimento do presente capítulo é aplicável a:
desapossamento das coisas, direitos ou valores apreendidos
após terem sido declarados perdidos a favor do Estado. a) Fatos praticados em território cabo-verdiano;
Artigo 57.º b) Fatos praticados fora do território nacional de que
Conscação de bens e direitos
sejam responsáveis as entidades referidas no
artigo 7.º, atuando por intermédio de sucursais
1. O juiz, a requerimento do Ministério Público, pode ou em prestação de serviços.
decretar na decisão nal, o consco de bens imóveis ou
móveis, direitos, títulos, valores, quantias e quaisquer c) Fatos praticados a bordo de navios ou aeronaves
outros objectos depositados em bancos ou outras instituições de bandeira cabo-verdiana, salvo tratado ou
de crédito, mesmo que em cofres individuais, em nome convenção internacional em contrário.
do arguido ou de terceiros, de origem ilícita. Artigo 62.º

2. Constitui indício da origem ilícita dos bens, depósitos Negligência


ou valores a que se refere o número anterior, para efeitos
de confiscação, a sua desproporcionalidade face aos Nas contra-ordenações previstas neste diploma é
rendimentos do arguido, a impossibilidade de determinar punível a negligência.
a licitude da sua proveniência, bem como a falsidade Artigo 63.º
da resposta do arguido às perguntas efectuadas pela
autoridade judiciária sobre a sua situação económica e Cumprimento do dever
nanceira.
Sempre que a contra-ordenação resulte da omissão de
Artigo 58.º um dever, a aplicação da sanção e o pagamento da coima
Processo de consco de bens ou vantagens do crime não dispensam o infrator do seu cumprimento, se este
ainda for possível.
1. O processo de confisco de bens ou vantagens do
Artigo 64.º
crime a que se refere a presente lei tem a natureza de
processo civil. Responsabilidade

2. O pedido de consco de bens ou vantagens do crime 1. Pela prática das contra-ordenações que consistam
é deduzido no processo penal respetivo, até à dedução da na inobservância das regras de conduta das entidades
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nanceiras são responsáveis estas entidades, desde que c) Noticação ao arguido para exercício do direito de
os seus dirigentes, empregados e representantes tenham audição ou com as declarações por ele prestadas
atuado no exercício das suas funções, ainda que de modo no exercício desse direito;
ilícito, ou em nome e no interesse das referidas instituições.
d) Decisão da autoridade de supervisão e inspeção
2. O disposto no número anterior não afasta a que procede à aplicação da coima.
responsabilidade disciplinar dos titulares dos órgãos
dirigentes, empregados ou colaboradores das entidades 2. Nos casos de concurso de infrações, a interrupção da
nanceiras, a que haja lugar, nem o direito de regresso prescrição do processo criminal determina a interrupção
pelos prejuízos causados às instituições nanceiras pelos da prescrição do procedimento contraordenacional.
seus dirigentes, empregados ou representantes. 3. A prescrição do procedimento tem sempre lugar quando,
3. A eventual invalidade ou inecácia das operações desde o seu início e ressalvado o tempo de suspensão,
realizadas entre a instituição e o cliente não obsta à tiver decorrido o prazo da prescrição acrescido de metade.
responsabilidade da entidade nanceira. Artigo 69.º
Artigo 65.º Suspensão da prescrição da coima
Destino das coimas
A prescrição do pagamento da coima suspende-se
O produto das coimas reverte a favor do Estado. durante o tempo em que:
Artigo 66.º a) Por força da lei ou regulamento a execução não
Prescrição
pode começar ou não pode continuar a ter lugar;

1. O procedimento relativo às contra-ordenações previstas b) A execução foi interrompida;


neste capítulo prescreve no prazo de cinco anos a contar c) Foram concedidas facilidades de pagamento.
da sua prática.
Artigo 70.º
2. A prescrição das coimas e sanções acessórias é de
Interrupção da prescrição da coima
cinco anos a contar da data da aplicação da sanção ou do
trânsito em julgado da sentença de impugnação. 1. A prescrição da coima interrompe-se com o início da
Artigo 67.º sua execução, em caso de pagamento fracionado.
Suspensão da prescrição 2. A prescrição da coima ocorre quando, desde o seu
início e ressalvado o tempo de suspensão, tiver decorrido
1. A prescrição do procedimento contraordenacional
o prazo normal da prescrição acrescido de metade.
suspende-se, para além dos casos especialmente previstos
na lei, durante o tempo em que o procedimento: Artigo 71.º

a) Não puder legalmente iniciar-se ou continuar por Competência para instrução e aplicação de sanções
falta de autorização legal;
1. A averiguação das contra-ordenações previstas neste
b) Estiver pendente a partir do envio do processo diploma e a instrução dos respetivos processos cabem
ao Ministério Público até à sua devolução à à entidade que detiver a competência de supervisão ou
autoridade administrativa; scalização do respetivo setor de atividade.

c) Estiver pendente a partir da noticação do despacho 2. Compete às autoridades de supervisão de cada setor e
que procede ao exame preliminar do recurso da na sua falta à UIF o poder de aplicar as coimas previstas
decisão da autoridade de supervisão e inspeção neste diploma, com a faculdade de delegação.
que aplica a coima, até à decisão nal do recurso.
3. A UIF é informada, semestralmente, pelas autoridades
2. Nos casos previstos nas alíneas b) e c) do número de regulação e supervisão, de todas as sanções denitivas
anterior, a suspensão não pode ultrapassar um ano. aplicadas às entidades reguladas.
Artigo 68.º Artigo 72.º

Interrupção da prescrição Contraordenações graves

1. A prescrição do procedimento por contraordenação 1. Constituem contra-ordenações graves, puníveis


interrompe-se com a: com coima de 500.000$00 (quinhentos mil escudos) a
5.000.000$00 (cinco milhões de escudos) as seguintes
a) Qualquer noticação, nomeadamente comunicação infrações:
ao arguido dos despachos, decisões ou medidas
contra eles denidos; a) O incumprimento de obrigação de obter informação
sobre o propósito, relação de negócios e origem
b) Realização de quaisquer diligências de prova,
dos fundos;
designadamente exames e buscas, ou com o
pedido de auxílio às autoridades policiais ou a b) Incumprimento da obrigação de aplicar medida
qualquer autoridade administrativa; de diligência devida aos clientes;
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c) O incumprimento da obrigação de aplicar medidas 2. Quando a infração for praticada por uma pessoa
de diligência reforçada; singular, a coima é de 250.000$00 (duzentos e cinquenta
mil escudos) a 2.500.000$00 (dois milhões e quinhentos
d) O incumprimento da obrigação de abstenção; mil escudos).
e) O incumprimento da obrigação de comunicação Artigo 73.º
sistemática;
Contra-ordenações especialmente graves
f) O incumprimento da obrigação de conservação de
documentos; 1. Constituem contra-ordenações especialmente graves,
puníveis com coima de 750.000$00 (setecentos e cinquenta
g) O incumprimento da obrigação de aprovar por escrito
mil escudos) a 6.000.000$00 (seis milhões de escudos),
e aplicar medidas de políticas e procedimentos
as seguintes infrações:
declarados de controlo interno;
h) O incumprimento da obrigação de estabelecer a) O incumprimento das obrigações de identicação
órgãos de controlo interno independente; e de verificação da identidade de clientes,
representantes ou beneficiários efetivos,
i) O incumprimento da obrigação de tomar medidas previstos neste diploma;
adequadas para manter a condencialidade
sobre a identidade dos funcionários, diretores b) O incumprimento da obrigação de comunicação,
ou agentes que realizaram uma comunicação; nos termos previstos na presente lei;
j) O estabelecimento ou manutenção de relação de c) O incumprimento da obrigação de colaboração à
negócio ou a execução de operações proibidas; UIF, autoridades judiciárias e às entidades de
k) O incumprimento da obrigação de declaração de regulação e supervisão;
movimentos de meios de pagamento; d) O incumprimento da obrigação de condencialidade;
l) A ausência de denição e aplicação de políticas e
e) O incumprimento da obrigação de observância de
procedimentos internos de controlo;
medidas reforçadas aos clientes e às operações
m) A não adopção de medidas e de programas de suscetíveis de revelar um maior risco de lavagem
divulgação e formação em matéria de prevenção de capitais e às relações transfronteiriças de
da lavagem de capitais; correspondência;
n) A abertura de contas anónimas ou manutenção de f) A resistência ou obstrução à realização da inspeção;
contas anónimas ou sob nomes manifestamente
tícios; g) O incumprimento doloso da obrigação de congelar ou
bloquear fundos, ativos nanceiros ou recursos
o) O recurso à execução das obrigações de identicação económicos de pessoas físicas ou jurídicas,
e diligência por entidades terceiras, com entidades ou grupos designados;
inobservância das condições e termos previstos
no artigo 8.º; h) O incumprimento doloso da proibição de colocar os
fundos, ativos nanceiros ou recursos económicos
p) Não inclusão da informação na mensagem ou
à disposição de pessoas físicas ou jurídicas,
formulário de pagamento que acompanha a
entidades ou grupos designados;
transferência eletrónica do ordenante;
q) A constituição de bancos de fachada em território i) A ausência de conservação dos originais, das
cabo-verdiano, assim como o estabelecimento cópias, das referências ou de outros suportes
de relações de correspondência com os bancos duradouros;
fachada ou com outras instituições que
j) O incumprimento do dever de abstenção de
reconhecidamente permitam que as suas contas
execução de operações suspeita e da respetiva
sejam utilizadas por bancos de fachada;
obrigação de prestação de informação à UIF e
r) A não adequação da natureza e da extensão dos às autoridades judiciárias;
procedimentos de vericação da identidade e das
medidas de diligência ao grau de risco existente, k) O incumprimento de ordens de suspensão da
bem como a ausência de demonstração de tal execução de operações suspeita e a execução
adequação perante as autoridades competentes; de tais operações, após a confirmação, pela
autoridade judiciária ou pela UIF, da ordem
s) A omissão, total ou parcial, de medidas acrescidas de suspensão;
de diligência aos clientes e às operações
bancária com instituições estabelecidas em l) O cometimento de uma infração grave antes de
países terceiros; e decorridos 5 (cinco) anos sobre a prática da
mesma infracção.
t) O incumprimento da obrigação de recusa de
execução de operações em conta bancária, de 2. Quando a infração for praticada por uma pessoa
estabelecimento de relações de negócio ou de singular, a coima é de 400.000$00 (quatrocentos mil
realização de transações ocasionais. escudos) a 3.000.000 $00 (três milhões de escudos).
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Artigo 74.º b) Publicidade da decisão punitiva pela autoridade
Contraordenações leves
de regulação ou supervisão, a expensas do
infrator; e
1. Constituem contraordenações leves punidas com
c) Tratando-se de entidade sujeita que para operar
coima de 100.000.$00 (cem mil escudos) a 2.00.000$00
carece de autorização administrativa, a
(dois milhões de escudos):
revogação desta.
a) O incumprimento por Organização de Sociedades Artigo 78.º
sem Fins Lucrativos (OSFL) da obrigação
estabelecida nos números 2 e 4 do artigo 35.º; Proteção dos intervenientes

b) Os incumprimentos de obrigações estabelecidos É garantida a proteção a quem tiver colaborado


especicamente na presente lei que não constituam concretamente na investigação dos crimes previstos no
infração especialmente grave ou grave. presente capítulo, nos termos da Lei n.º 81/VI/2005, de
12 de setembro, que estabelece medidas para proteção
2. Quando a infração for praticada por uma pessoa de testemunhas em processo penal.
singular, a coima é de 50.000$00 (cinquenta mil escudos)
Artigo 79.º
a 1.000.000$00 (um milhão de escudos).
Valor das coimas
Artigo 75.º

Determinação da sanção aplicável Para efeitos previstos na presente lei, o valor de cada
dia de coima é xado em 5.000$00 (cinco mil escudos)
1. Na determinação da sanção atende-se às seguintes e em 20.000$00 (vinte mil escudos) quando se tratar,
circunstâncias: respetivamente, de pessoa singular ou de pessoa coletiva
ou entidade equiparada.
a) A quantia da operação ou os ganhos obtidos como
consequência da omissão ou atos constitutivos Artigo 80.º
da infração; Punição de atos preparatórios

b) O grau de responsabilidade ou intenção com que São punidos os atos preparatórios dos crimes previstos
atuou o infrator; na presente lei.
c) A conduta anterior do infrator, na entidade culpada Artigo 81.º
ou em outra, em relação às exigências previstas
Remissões
nesta lei;
As remissões de normas contidas em diplomas
d) O caráter da representação que a pessoa em
legislativos ou regulamentares para a legislação revogada
causa possui;
consideram-se referidas às disposições correspondentes
e) A capacidade económica do infrator quando a do presente diploma.
sanção seja multa. Artigo 82.º

2. A sanção a ser aplicável não pode ser mais benéca Revogação


para o infrator do que o incumprimento das normas
infringidas. É revogada a Lei n.º 17/VI/2002, de 16 de dezembro.

Artigo 76.º Artigo 83.º

Montante das coimas Entrada em vigor

Em caso de negligência, o montante da coima não pode O presente diploma entra em vigor 30 dias após a sua
ser superior a metade do montante máximo previsto para publicação.
a respetiva contraordenação. Aprovada em 3 de março de 2009.
Artigo 77.º
O Presidente da Assembleia Nacional, Aristides
Sanções acessórias Raimundo Lima

Com as sanções previstas no artigo 45.º podem ser Promulgada em 14 de abril 2009
aplicadas ao infrator as seguintes sanções acessórias:
Publique-se.
a) Inibição do exercício de cargos sociais e de funções
de administração, direção, gerência ou chea O Presidente da República, PEDRO VERONA
de entidades nanceiras, por um período de RODRIGUES PIRES
um a dez anos, quando o arguido seja membro Assinada em 16 de abril de 2009
dos órgãos das entidades sujeitas exerça cargos
de direção, chefia, gerência ou atue em sua O Presidente da Assembleia Nacional, Aristides
representação, legal ou voluntária; Raimundo Lima

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