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Dormindo Sob O Escudo

Em meados do século X a.C., Davi era o rei de Israel. O escolhido


do SENHOR iniciou o seu reino aos 30 anos de idade, ocupando o
trono ao longo de 40 anos (2Sm 5.4). Nesse longo período – tão
longo quanto a peregrinação do povo liberto do Egito pelo deserto
e, numericamente, lembrando a duração das chuvas do dilúvio,
Gn 7.17, o período em que Moisés esteve no alto do monte do
SENHOR, Ex 24.18, e o jejum do Senhor Jesus no deserto, Mt 4.2,
entre outras muitas referências –, Davi obteve, pelo poder de
Deus, muitas vitórias, enfrentando, também, muitas provas. As
mais pesadas delas, porém, resultaram de seus próprios pecados.
Assim foi quanto aos efeitos mortais do censo por ele levantado
conforme o registro de 2Sm 24 (1Cr 21). Contudo, os efeitos do
seu adultério (2Sm 11.1-5), anunciados pelo profeta Natã (2Sm
12.7-14), foram os mais sentidos pelo abençoado rei de Israel.
Sentidos pelo rei e vergonhosos para o povo, de modo que não
foram recontados, após o retorno do exílio (1Cr 9.1 e 2Cr 36.23),
nos Livros das Crônicas.
Registra-se no Segundo Livro de Samuel que, em cumprimento
da palavra profética, Amnon, filho de Davi, cometeu violento
incesto contra a sua meia-irmã Tamar. Absalão, vingando a
violência contra a sua irmã, matou Amnon e, passados alguns
anos, insurgiu-se contra o rei, fazendo-o fugir (2Sm 15.14) e pedir
o socorro do SENHOR (2Sm 15.31).
Nesse contexto terrível, o salmista escreveu o poema que hoje
temos como o terceiro do saltério. O texto que precede o poema,
integrando o corpo bíblico, consta escrito em itálico na tradução
ARA, e atesta a situação histórica acima mencionada: Salmo de
Davi quando fugia de Absalão, seu filho.
Os versos 1 e 2, “SENHOR, como tem crescido o número dos
meus adversários! São numerosos os que se levantam contra
mim. São muitos os que dizem de mim: Não há em Deus salvação
para ele”, expõem o coração contrito de Davi, seu abatimento
diante dos próprios pecados e da situação que se desenvolvia. Ele
chorava, triste e envergonhado (cabeça coberta), caminhando
descalço (2Sm 15.30). Os crentes devem ter em mente que os
seus pecados têm consequências, que tristeza e dor podem
compor as suas vidas. Não devem esquecer, porém, que o Senhor
tem, em Cristo, os Seus ouvidos abertos às suas orações. No
íntimo dos seus corações, cristãos, digam a Deus o que lhes
acontece em plena confiança.
Confiança é exatamente o que vem registrado nos versos 3-4 e
8 do Sl 3. Tendo aberto o seu coração ao Senhor, o salmista
confessa a sua fé no único Deus. Diz ele: “Porém tu, SENHOR, és o
meu escudo, és a minha glória e o que exaltas a minha
cabeça. Com a minha voz clamo ao SENHOR, e ele do seu santo
monte me responde” (Sl 3.3-4). E, ao final do seu cântico: “Do
SENHOR é a salvação, e sobre o teu povo, a tua bênção” (Sl 3.8). A
situação era dura, mas Deus era o escudo de Davi. Ele estava
humilhado em seus pecados e humilhado por seu filho rebelde,
mas o SENHOR era a sua glória e aquele que levantaria a sua
cabeça. Onde quer que estivesse, em fuga no deserto ou em sua
casa, Davi sabia que Deus o ouvia e a ele responderia. Ele sabia
que em Deus estava a esperança e a salvação do povo escolhido.
Os crentes devem ter em mente que, em todas as situações,
Deus, e não os homens, é o seu sustento, o seu amparo, a sua
esperança e defesa. Arrependidos, os cristãos choram, confessam
e pedem a Deus socorro. Fazem isso seguros de que Ele é fiel e
confiável.
Firmado no SENHOR, Davi declara a sua tranquilidade. Se eram
muitos os seus inimigos, o próprio Deus o sustentava e ele
poderia, assim, dormir tranquilo e levantar-se, refeito, para um
novo dia: “Deito-me e pego no sono; acordo, porque o SENHOR
me sustenta. Não tenho medo de milhares do povo que tomam
posição contra mim de todos os lados.” Quantos cristãos há que,
aflitos, não dormem. Desconfiados e ansiosos, são corroídos por
dentro. Os crentes devem ter em mente que o seu Senhor lhes dá
descanso para a alma (Mt 11.28-30), lhes dá o sustento pacífico
(Sl 23.1-3). Diante de Deus, cristãos, confiantes, descansem, pois
é o SENHOR quem luta as batalhas do Seu povo quebrantado e
contrito (Ex 14.14). Sim, cristãos! O salmista sabia disso e
descansava: “Levanta-te, SENHOR! Salva-me, Deus meu, pois
feres nos queixos a todos os meus inimigos e aos ímpios quebras
os dentes” (Sl 3.7). Inteligência e habilidade são armas do nosso
Deus dispostas em nossas mãos. Não as desprezemos. Porém, os
crentes devem ter em mente que Deus dará, a Seu tempo, a paga
aos ímpios, preservando os Seus filhos que n’Ele se refugiam.
Quem fez os conselhos de Aitofel serem superados pelos de Husai
(2Sm 17.14 e 23)? Quem prendeu os cabelos de Absalão a uma
árvore em meio ao combate (2Sm 18.9)? Não foram ações
humanas. É o Senhor quem vence as batalhas do Seu povo. Lutem,
cristãos! Lutem em oração.
Queira Deus que nós, o Seu povo crente, aprendamos as Suas
lições no Sl 3.
Pr. Fernando Jorge Maia Abraão

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