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O cristão frente à tentação

A seguir, foi Jesus levado pelo Espírito ao deserto,


para ser tentado pelo diabo (Mt 4.1).
John Knox (1505-1572), reformador escocês fundador da Igreja Presbiteriana,
escreveu desde o texto acima um importante tratado denominado A primeira
tentação de Cristo.1 Nele, o patriarca destacou importantes lições que convém
trazer à igreja de hoje.
Ele iniciou tratando da distinção de finalidades entre Deus e o diabo quando
agem sobre as pessoas. O Senhor Deus, como ensina Tiago, “não pode ser
tentado pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta” (Tg 1.13). Ora, em que sentido
deveria ser compreendida a palavra tentação nesse trecho, segundo o “servo de
Deus e do Senhor Jesus Cristo” (Tg 1.1)? A resposta a essa pergunta dependerá
do agente da tentação: se for Deus, não será para o mal. Se for o diabo, sempre
será para o pior.
O próprio Tiago deixa isso claro no corpo de sua carta. Ele havia exortado os
irmãos dispersos a que tivessem toda alegria por passarem por várias tentações
(Tg 1.2). Sim, tentações, pois, no idioma grego, a mesma palavra é traduzida para
o português por provação nos versos Tg 1.2-3, e por tentação em Tg 1.13. Assim,
o tradutor (João Ferreira de Almeida) quis facilitar o entendimento do leitor
trazendo, para a mesma palavra, ideias diferentes conforme o ensino de Tiago.
Desse modo, aprende-se que o Senhor sempre apresenta aos Seus eleitos
situações que demonstrarão que eles, sob o senhorio e poder de Jesus Cristo,
foram aprovados, têm crescido na fé e devem seguir adiante.
O diabo, bem diferentemente, apresenta aos homens situações nas quais possa
“roubar, matar e destruir” (Jo 10.10). Mentiroso, logrou, entre milhares de
exemplos, enganar a mulher no Éden, gerar desconfiança em Abrão e fazer Davi
cobiçar. Os intentos do inimigo, que deveriam ser conhecidos pelos cristãos (2Co
2.11), são tão contrários à honra do Senhor quanto à vida dos seres humanos,
especialmente do povo eleito por misericórdia (Rm 9.23).
Com tal esclarecimento prévio, John Knox entendeu corretamente que o texto
em Mt 4.1 (foi Jesus levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo)
ensina as duas tentações, isto é, a de Deus, para a exposição da aprovação de
Cristo Jesus, e a do diabo, que desejava fazê-lO cair.

1
KNOX, John The first temptation of Christ. In: FULLER, D. O. A Treasury of evangelical writings. 2nd ed. Michigan, USA: Kregel
Publications, 1991, p.165-178.
A primeira tentação de Cristo, assim, foi Deus quem a fez, e isso para
demonstrar a competência daquele que, humilhado, era o Filho do Altíssimo (Lc
1.32), aquele que tinha o Espírito sem medida (Jo 3.34), o filho de mulher que
esmagaria a cabeça da serpente (Gn 3.15). Ali estava o homem que venceria o
mundo (Jo 16.33) – e, a ressurreição o demonstra, o venceu (Mc 16.6).
Como isso pode ser aplicado aos crentes de todos os tempos? Cada cristão é
exposto às tentações do maligno para satisfazer as suas necessidades mais
básicas (Mt 4.3), para fazer-se grande diante de Deus (Mt 4.5-6) e para fazer-se
grande diante dos homens (Mt 4.8-9).
Os homens caídos sucumbem a cada um desses tipos de tentação e confirmam
a sua morte perante Deus, pois confiam em si mesmos e nos deuses que fabricam
para si. Escravos que são, seguindo ao pai da mentira todos os dias, querem viver,
querem ter e querem poder. Estão sempre prontos a declarar a sua
independência de Deus, mesmo que tragam palavras piedosas em seus lábios.
Mentem a si mesmos, ao mundo e a Deus – imitam a seu pai.
O cristão, por sua vez, antes de se considerar como uma vítima exposta ao
mundo, deve recordar da sua nova vida em Cristo, da habitação do Santo Espírito
em seu ser e das promessas feitas pelo Deus fiel. Armado espiritualmente (Ef
6.13-18), dependendo do Senhor (Jo 15.5), o cristão buscará, antes e acima de
tudo, o reino de Deus e a Sua justiça (Mt 6.33) e entenderá que, frente a
tentação, vive para a glória de Deus e, por Seu poder, crescerá em santidade,
vencendo do mesmo modo que o Senhor Jesus o fez.
O Senhor nos tenta (prova) para mostrar, em nós, a Sua vitória. Aleluia!

Pr. Fernando Jorge Maia Abraão

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