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Metais

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Sumário
Metais
Objetivo ............................................................................................ 04
Introdução ......................................................................................... 05
1. Características Físicas ............................................................ 06
2. Trabalho a Frio: Encruamento e Usinagens ............................... 08
3. Trabalho a Quente: Forja e Siderurgia ...................................... 13
Síntese ............................................................................................. 16
Referências Bibliográficas .................................................................... 17
Objetivo
Ao final desta unidade de aprendizagem, você será capaz de:

▪▪ Introduzir os processos de obtenção e conformação dos cristais metálicos.

4 Mecânica dos Materiais


Introdução
O cristal metálico possui características mecânicas quase insuperáveis
para o Mundo Antigo. As várias ligas de metal superavam facilmente todos
os outros materiais naturais usados nas armas, nos utensílios e nas máquinas.

Os metais podem ser conformados tanto a quente, quanto a frio, o


que permite uma série de aplicações, quase impossíveis para outros tipos de
materiais naturais.

A abundância de metais in natura determinava o quanto uma


população poderia prevalecer sobre a outra. O mundo ocidental, moldado
pelas tradições greco-romana e pela religião judaico-cristã, dominou as
forjas de ferro e aço posteriormente ao oriente (China e Japão), mas as
sociedades orientais eram extremamente fechadas, dificultando a expansão
do seu o domínio cultural.

O ocidente se fez valer de ampla vantagem tecnológica no seu


expansionismo cultural, comercial e cultural nos séculos XV, XVI e XVII
muito graças ao domínio das forjas de aço. Em especial, o norte da Europa,
que possuía jazidas de ferro e carvão em abundância e soprava o carvão com
foiles para obter a temperatura necessária para malhar o ferro e obter o aço,
já no ano 1000 A.C.

Os metais permitiram um domínio bélico sobre as populações do


Novo Mundo (América).

Nos tempos atuais, existem materiais que superam os metais


em tenacidade e resistência, usando alguns compósitos e polímeros de
engenharia, como a fibra de carbono. Porém, o custo ainda é elevado para
substituir a maioria dos seus usos.

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1. Características Físicas
Os cristais metálicos são relativamente escassos na natureza por causa
do fato de sua oxidação ser mais comum do que sua cristalização.

Alguns minérios de ferro, de cobre, de alumínio, de estanho e de


mercúrio podem ser encontrados com mais facilidade do que os metais
nobres, tais como: prata, platina e ouro. Estes últimos são escassos, também,
por razões geológicas e até astronômicas, pois são elementos de maior
massa atômica e sua formação, que ocorre no interior das estrelas, por fusão
termonuclear, tende a acontecer no final do ciclo dessas estrelas.

Logo, entende-se que os metais mais nobres e de massa atômica maior


também existem em menor quantidade no cosmos.

A natureza das ligações químicas metálicas causa toda a diferença


de como os cristais metálicos possuem natureza física diferente das outras
substâncias naturais. Segundo Therald (1980, p.239-240):

Ligação metálica é uma ligação química de átomos caracterizada


normalmente por um subnível eletrônico d completo e um s incompleto, pelo
qual os elétrons fluem livremente através de uma estrutura cristalina definida.
Em relação às condições normais de temperatura e pressão, a ligação metálica
confere a substância um alto ponto de fusão e vaporização e usualmente
apresenta uma densidade superior a outras ligações químicas. Tal ligação
também fornece outras propriedades tais como facilidade na conformação,
ductilidade, brilho e alta condutividade térmica e elétrica mesmo quando no
estado líquido.

Apesar de que, em alguns aspectos, a definição acima seja questionada


pela pesquisa de ponta em materiais, ela concorda em algumas partes sobre o
que é observado no uso dos metais: eles são duros, porém dúcteis o suficiente
para serem conformados em diversas formas e, geralmente, são mais tenazes
do que outros materiais.

Dessa forma, as duas grandes características mecânicas dos metais (na


sua forma cristalina), que os diferem dos outros materiais naturais, são:

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Maior tenacidade

A tenacidade é a energia total necessária para provocar a fratura do material


sob deformação, desde seu comprimento inicial (sem carga) até a sua ruptura.

A tenacidade permite um amplo uso dos metais em armas e utensílios,


pois faz com que se executem tarefas mecânicas repetitivas diversas vezes, sem
que deformações ou fraturas inutilizem a peça.

Como exemplo, podemos citar o Machado de Guerra Egípcio, que


conferiu a essa civilização antiga uma grande vantagem contra os outros
grupos que os atacavam, pois simplesmente deformavam muito pouco em
batalha, mantendo seu corte.

Facilidade de conformação

Os metais aceitam tanto conformações quentes (forja) como


conformações frias (trefilação, laminação etc.) e podem ser moldados em
diversas formas. Basicamente, nenhum outro tipo de material natural possui
essa característica.

Além das características mecânicas, os metais contam com


características físicas importantes:

▪▪ Alta condutividade térmica e elétrica que os tornam únicos em


dispositivos elétricos e máquinas térmicas;
▪▪ Brilho, fundamental para superfícies refletoras e outros
instrumentos óticos;
▪▪ Dureza, que também contribui com altos ponto de fusão e
vaporização necessários em dispositivos que devem suportar altas
pressões, temperaturas ou centelhas elétricas de alta voltagem.

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Modernamente, muitos materiais compósitos (fibra de carbono e
grafeno) passaram a competir com os metais em aplicações mais especializadas,
tanto na mecânica de alto desempenho (aviação e astronáutica) quanto nas
aplicações eletroeletrônicas.

Contudo, o reinado do metal cristalino ainda parece distante de ser


superado no volume. É possível perceber isso no grande volume produzido
anualmente, na casa 1,5 bilhões de toneladas de aço bruto. Isso mostra que o
uso de materiais substitutivos ainda é incipiente.

Saiba Mais
O rosqueamento em torno convencional é mostrado no vídeo indicado
com o posicionamento da widia (ponta de material mais duro do que
se deseja desbastar).
O tipo de filete depende do tipo de rosca que se pretende fazer. No
caso do vídeo, o filete é triangular. Cabe reparar que o rosqueamento
foi feito a frio sem nenhum tipo de arrefecimento (refrigeração). Assista agora

2. Trabalho a Frio: Encruamento e Usinagens


A possibilidade de conformação dos metais cristalinos com processos frios
faz toda a diferença na escolha de materiais para as diversas atividades tecnológicas.

O trabalho a frio, também chamado encruamento, tende a produzir


linhas de discordância na estrutura cristalina das ligas de metais cristalinos.
Esse processo costuma aumentar a dureza da liga metálica e a sua resistência.

A liga metálica consiste em material formado por mais de um tipo


de átomo, em que, pelo menos um deles é um metal, e a ligação química
predominante é a metálica.

O melhor exemplo de liga metálica seria o aço, liga ferrosa que, no


mínimo, também possui carbono na sua composição.

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Figura 1: Linhas de discordância produzidas por encruamento em liga metálica, vistas em microscópio eletrônico. Fonte: CIMM.

Importante
As discordâncias criam falhas mapeadas na estrutura cristalina. Isso altera as características
mecânicas da liga metálica, principalmente, a dureza.

Geralmente, os materiais encruados tendem a ficar mais duros, mas


existe um limite para esse encruamento antes que esse material comece a ficar
duro demais e a falhar com rachaduras ou rompimentos. Esse limite é dado
pela porcentagem de trabalho a frio:
A0 − Af
%TF
= ×100%
A0
Aqui, A0 é a maior área inicial da peça, em que sofreria laminação ou
estiramento, reduzindo sua espessura em direções transversais às áreas iniciais
e aumentando sua área final (Af ).

Os processos frios de laminação tendem a transformar lingotes de


ligas metálicas em lâminas. Tanto a laminação como o estiramento podem ser
feitos a frio ou a quente.

Neste tópico, estamos tratando dos processos frios, e o estiramento


pode ser mostrado pelo processo de trefilação, que consiste em tracionar
cilindros ou fios de material metálico, sob forma (fieira), reduzindo seu
diâmetro e produzindo um encruamento, o que torna o material mais duro.

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Figura 2: Estiramento na forma de uma trefilação. Fonte: EBAH (Alberto Medeiros).

No caso da trefilação a frio, a liga metálica deve ser de material já com


relativa dureza (fios de aço), pois ele será tracionado pela região de menor
diâmetro. Repare que o material está sendo tracionado à direita da fieira.

Desse modo, deve possuir limite de resistência à tração (LTR -


unidade I) alto. Geralmente, a trefilação é mais comum em ligas de aço e
materiais mais duros.

Já a extrusão a frio tende a ser mais executada em metais cristalinos e


ligas mais macias (alumínio, cobre e suas ligas).

Figura 3: Extrusão com o mecanismo básico da máquina extrusora. Fonte: EBAH (Adriano Almeida).

10 Mecânica dos Materiais


A extrusão é oposta à região de carga mecânica da trefilação, já
que empurra o tarugo de liga metálica sobre a ferramenta de redução da
área transversal. Repare que na figura, o pistão empurra o tarugo sobre a
ferramenta da esquerda para a direita.

Esse método também é utilizado a quente em polímeros e outros


materiais mais macios. Pode ser utilizado para conformar tubos de aço. Nesse
caso, o aço deve ser aquecido bem acima da sua temperatura de recristalização.

Apesar das linhas de discordância da rede molecular serem importantes,


a estrutura mais prática para a análise de um metal é a estrutura de grãos.

Os grãos do metal, na prática, são mais fáceis de serem analisados,


pois são estruturas maiores. O seu tamanho fica na casa dos 1 μm=10-6m,
que são mil vezes maiores, em média, do que as células cristalinas na casa dos
nanômetros (1 ηm=10-9m), que é a escala molecular.

No encruamento, esses grãos são deformados e, junto com as linhas


de discordância, tendem a cisalhar menos, pois suas alças passam a se travar,
deixando o material mais duro sobre o encruamento.

Importante
Cisalhamento: deformação a qual está sujeito um corpo quando forças paralelas, contrárias e não
concorrentes provocam em um elemento de volume, um deslocamento entre planos diferentes.

Figura 4: Deformação dos grãos de uma peça de latão sob encruamento. Fonte: EBAH (Sâmara Pimy).

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Podemos ver, na Figura 4, que o encruamento, provavelmente um
estiramento (trefilação) ou laminação, deformou os grãos, o que tornou o
material mais duro.

Análise dos contornos dos grãos é denominada análise metalográfica e


consiste em uma preparação da amostra metalográfica para posterior análise
em microscópio metalográfico invertido.

Os contornos dos grãos são observados, assim como a presença de


impurezas. Todo o processo de observação em microscópio, nos dias atuais, é
registrado em fotos e comparado com gabaritos e softwares computadorizados.

Geralmente, o gráfico de tensão deformação está correlacionado com


a deformação dos grãos. Para melhor análise, podemos sobrepor um gráfico
antes e depois do encruamento. Veja.

Gráfico 1: Efeito na curva de tensão x deformação quando uma liga é submetida ao encruamento. Fonte: Do autor.

O gráfico mostra uma liga metálica genérica com curva ‘A’ submetida a
um encruamento, sofrendo uma mudança na sua curva de tensão x deformação.

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Na extensão B, o material tem claramente seu limite resistência à
tração (LTR) aumentado. A visualização de amostra metalográfica antecipa
esse resultado e torna desnecessário um ensaio de tração após o encruamento.

Para materiais ferrosos (ferro fundido, aço e ligas), a maior parte do


trabalho a frio se dá nas conformações finais das peças, chamadas usinagens. Isso
acontece em função do alto valor da temperatura de recristalização (o que veremos
adiante), o que torna esses materiais duros demais para certos encruamentos.

A usinagem mecânica é o processo de desbaste de peças metálicas


ou não, de forma a dar contornos finais e acabamento. Como exemplo de
máquinas de usinagem temos o torno, a fresadora, a furadeira, a retificadora.

Quando a peça é submetida à usinagem, localmente a ação de desbaste


tende a deformar grãos e tornar o local mais duro.

Saiba Mais
Atualmente, os processos de usinagem foram automatizados. Em vez
de máquinas individuais, a usinagem, na sua totalidade, é executada
por centrais automáticas (CNC). No vídeo indicado, você verá uma
fresadora robótica automática que reproduz em alumínio um modelo
em escala de automóvel. O modelo é apenas digitalizado no software
dedicado da central. Assista agora

3. Trabalho a Quente: Forja e Siderurgia


Dentre os processos de conformação a quente de metais cristalinos e
ligas, destaca-se a forja.

Forja é a oficina ou estabelecimento onde se fundem e modelam


metais, em especial, os materiais ferrosos, Ferro fundido e ligas de aço, muitas
vezes, só são modificados na sua forma em temperaturas maiores do que a
temperatura de recristalização.

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Para muitos autores da ciência dos materiais, todo trabalho executado
sobre o metal abaixo da temperatura de recristalização é considerado um
trabalho frio.

Na prática, perto dessa temperatura, tem-se uma competição entre


o surgimento de discordâncias e deformação dos grãos e o recozimento. O
recozimento acontece quando, sob temperatura de recristalização, grãos antigos
se fundem, transformando-se em grãos novos, destruindo discordâncias e as
deformações dos grãos.

Nas diversas técnicas de forja, existe uma competição entre endurecer


com o trabalho a frio (encruamento) e amolecer com o trabalho a quente.
Em especial, isso é bastante evidente nos processos siderúrgicos que tratam
exclusivamente de conformar, por meio da fundição, forja e encruamento,
ferro e ligas de aço.

TEMPERATURA DE RECRISTALIZAÇÃO PARA ALGUNS MATERIAIS E LIGAS DE USO COMUM


Material Temperatura de Recristalização
Cobre Eletrolítico (99,999%) 121
Cu - 5% Zn 315
Cu - 5% Al 288
Cu - 2% Be 371
Alumínio Eletrolítico (99,999%) 279
Alumínio (99,0%) 288
Ligas de Alumínio 315
Níquel (99,999%) 571
Monel (Ni - Cu) 593
Ligas de Magnésio 252
Ferro Eletrolítico 398
Aço de Baixo Carbono 538
Zinco 10
Chumbo -4
Estanho -44

Quadro 1: Temperaturas de recristalização das principais ligas metálica. Fonte: CIMM.

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Podemos reparar que os valores mais altos estão entre as ligas e cristais
metálicos mais duros (níquel e aço).

Uma vez forjado, o aço tem um processo dos mais importantes: a têmpera.

Além de fixar o carbono, a têmpera também produz tensões residuais


importantes. O aço, após a têmpera tende a ficar muito duro, por conta da
recristalização rápida.

Importante
O mais importante na metalurgia é entender que os processos frios e quentes se alternam
para alcançar o resultado esperado. Logo, laminações e estiramentos podem ser sucedidos de
aquecimentos acima da temperatura de recristalização e têmperas (resfriamentos rápidos, no
caso do aço). No fim dos processos, prevalecem os trabalhos frios de usinagem.

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Síntese
Os metais cristalinos e suas ligas são especiais por causa de suas
características mecânicas únicas, principalmente, em relação à sua tenacidade
e facilidade de conformação.

Praticamente nenhum outro material natural tem características semelhantes.

Vimos como o encruamento tende a endurecer os metais e os trabalhos


quentes tendem a amolecê-lo, em especial quando acima da temperatura de
recristalização. Vimos, também, a diferença entre trefilação e extrusão a frio.

Fica claro que cada metal cristalino tem o seu próprio caminho de processos,
alternando conforme a necessidade. Enquanto alguns metais praticamente saem
da fundição para o uso, outros aceitam diversos tipos de conformação.

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Referências Bibliográficas
ASKELAND, Donald R.; PHULÉ, Pradeep P. Ciência e engenharia dos
materiais. São Paulo: Cengage Learning, 2008.

GARCIA, Amauri; SPIM, Jaime Alvares; SANTOS, Carlos Alexandre.


Ensaios dos materiais. Rio de Janeiro: LTC, 2000.

MOELLER,Therald. Chemistry: With inorganic qualitative analysis. New


York: Academic Press, 1980.

PROCESSOS DE FABRICAÇÃO. Rosqueamento no torno - rosca no


torno. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=IkI4csl2mb4.
Acesso em: 12 abr. 2018.

SHACKELFORD, James F. Ciência dos materiais. São Paulo: Pearson, 2008.

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https://www.youtube.com/watch?v=_-g7upgmtII. Acesso em: 12 abr. 2018.

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