3 Capitulo 2017

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Topografia: planimetria para Engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

III – MEDIÇÃO DE DISTÂNCIAS

____________________________________________________________________________________
A medição de distâncias e ângulos possibilita o posicionamento de um ponto em um
determinado sistema de referência.
As distâncias podem ser determinadas percorrendo o alinhamento do início ao fim, medindo
diretamente a grandeza procurada - processo direto [2] - ou a partir de observações que estejam ligadas,
implícita ou explicitamente, à distância procurada - processo indireto [3]. No processo indireto serão
estudados, neste capítulo, os métodos: Taqueométrico [3.1] e brevemente, mira horizontal [3.2] e medida
eletrônica de distâncias [3.3].
Após estudar os processos diretos e indiretos é apresentado um processo de medição de
distâncias relativas a pontos inacessíveis [4]. A seguir serão estudados os efeitos da curvatura da Terra
[5] e da altitude [6] nas distâncias.
Dependendo da finalidade do trabalho, da precisão requerida e do tamanho da área a ser
levantada, a distância observada deve ser reduzida ao nível do mar e daí, ao plano topográfico. Ainda
neste capítulo serão estudadas as reduções de distâncias em levantamentos topográficos [7.1] e em
trabalhos de locação de projetos [7.2].
____________________________________________________________________________________

1- INTRODUÇÃO

Como em toda ciência experimental, qualquer medida topográfica está naturalmente


contaminada por erros. Os erros, ou as propriedades estatísticas, das medidas, serão estudados no
capítulo 4; mas, por uma questão de didática, antes de dar início ao assunto de medição de distâncias, é
necessário verificar a definição de erro relativo (er), que é a razão adimensional entre o erro cometido
na medição e o valor mais provável para a grandeza observada.
Se, por exemplo, ao se medir uma distância de 1000 m comete-se um erro de 50 cm, o erro
relativo será de 0,0005; que é igual ao erro (0,50 m) dividido pela distância (1000 m). Ele pode ser
expresso em porcentagem (%), multiplicando-o por 100, ou seja:

er  0,0005  100  0,05 %

ou em partes por milhão (ppm), multiplicando-o por 106 :

er  0,0005  10 6  500ppm

ou ainda expresso no formato de escala, ou seja, o algarismo 1 no numerador e no denominador a razão


adimensional entre o valor mais provável para a grandeza e o erro cometido; para o exemplo:

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Rodrigues, D. D- 2010 Medição de Distâncias

0,50 m 1
er  
1000 m 2000

Mostrando que o erro cometido é de uma unidade para duas mil unidades medidas. O erro
relativo é uma medida da qualidade da observação; quanto menor for este erro, melhor foram efetuadas
as observações.
Como mostra a Figura 3.1, a distância inclinada ou espacial (DI), entre dois pontos pode ser
decomposta em:

 Distância Horizontal (DH): também conhecida como distância REDUZIDA. É a distância


entre dois pontos medida em um plano horizontal. Esta distância é a que, por força de
lei, consta em escrituras imobiliárias. Por isso é também denominada ‘distância legal’.

 Distância Vertical (DV) ou Diferença de Nível (DN): é a distância entre dois pontos
medida ao longo da vertical. Pode ser ao longo da vertical de A ou de B – Figura 3.1.

A • DH

DI DVAB

Figura 3.1- Distâncias inclinada, horizontal e vertical entre dois pontos.

Para pesquisar: As verticais que passam pelos pontos A e B são paralelas? Ou seja, o plano horizontal
que passa por A é também perpendicular à vertical de B?

Como visto no capítulo I, a Topografia pode ser dividida em planimetria, altimetria e


planialtimetria. A Planimetria trata das distâncias e ângulos horizontais, assuntos deste texto, e a
altimetria, que busca descrever o relevo do lugar, trata de ângulos e distâncias verticais. Altimetria e
planialtimetria não fazem parte do escopo deste trabalho.

Para observar distâncias horizontais há dois processos, a saber: o direto e o indireto.

2- PROCESSO DIRETO

Nesse processo o seguimento a ser medido deve ser percorrido do início ao fim. Portanto,
obstáculos como lagos, rios, construções, etc., entre os extremos do seguimento a ser medido, podem
impedir o emprego do processo direto.
Caso não haja obstáculos, podem ser empregados os seguintes instrumentos:

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 Trena de Ínvar (liga de aço e níquel – 36% de níquel).


 Trena de Aço – Constitui-se de uma lâmina de aço inoxidável devidamente
graduada. Comprimentos disponíveis no mercado: 1, 2, 3, 5, 10, 20 e 50 metros.
 Trena de Fibra de Vidro - É feita de material bastante resistente (produto inorgânico
obtido do próprio vidro por processos especiais). Comprimentos mais comumente
disponíveis no mercado: 20 e 50 metros.
 Trena de Lona - É feita de pano oleado ao qual estão ligados fios de arame muito
finos que lhe dão alguma consistência e invariabilidade de comprimento.
Comprimentos normalmente disponíveis no mercado: 20 e 50 metros.
 Roda Contadora – Instrumento utilizado para medir distâncias curvas.

Se o seguimento a ser medido é maior que a trena utilizada ou o terreno é muito íngreme, divide-
se o seguimento em seções, alinhadas com os extremos do seguimento, conforme esboça a Figura
3.2. A materialização de alinhamentos, seja na construção de pontes que se inicia dos dois lados de
um rio, seja na construção de túneis, de dutos em geral e de linhas de transmissão de energia elétrica
constitui uma interessante aplicação da topografia.

Para pesquisar: como alinhar seções de um seguimento cujos extremos não são visíveis entre si?

l4
l3 l5

l2 B

l1

HZ
• B’


• •
A’ • DH AB  l1  l 2    l 5

Figura 3.2 – Divisão de um seguimento em seções para medição de


distâncias pelo processo direto

2.1- Fontes de erros na medição direta de distâncias horizontais


 Erros de Leitura: embora seja muito simples fazer leituras em uma trena; é bom
tomar alguns cuidados, principalmente para não inverter a
origem da trena e não misturar leitura no sistema métrico com
leitura em outras unidades, como polegadas por exemplo.

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Rodrigues, D. D- 2010 Medição de Distâncias

 Dilatação térmica: depende do material de composição do instrumento, do


comprimento da trena e da diferença entre a temperatura
ambiente e a de aferição. Se houve dilatação o valor lido (VL)
será menor que o valor procurado (VP), ou seja (VL < VP).
 Elasticidade: depende do material de composição do instrumento, do comprimento,
espessura e largura da trena e da diferença entre a tensão aplicada
na medição e na aferição. Com a distensão da trena o valor lido
torna-se menor que procurado (VL < VP).
 Catenária: curvatura ou barriga que se forma ao tencionar a trena. É função do seu
peso, do seu comprimento e da tensão aplicada, a Figura 3.3 ilustra este
erro. Devido à catenária o valor lido é sempre maior que o procurado (VL
> VP).

T T

Figura 3.3 – Catenária ao medir um comprimento l aplicando


uma tensão T em uma trena de peso p.

 Falta de horizontalidade da trena: Com a trena inclinada o valor lido será sempre
maior que o procurado (VL > VP). O menor valor
para a distância é a distância horizontal. Uma
forma de eliminar esse erro é oscilar a trena em
torno da linha de referência – uma baliza por
exemplo - e anotar o menor valor.
 Erro de alinhamento das seções: Ocorre quando as seções não estão alinhadas
com os pontos extremos. Neste caso VL > VP.
 Inclinação da baliza: Qualquer inclinação na baliza na direção do alinhamento
provocará um aumento ou diminuição na distância que está
sendo medida, caso esteja incorretamente posicionada para
trás ou para frente, respectivamente. Este tipo de erro só
poderá ser evitado se for feito uso do nível de cantoneira ou
substituindo a baliza por um fio de prumo.

Medir distâncias horizontais pelo processo direto pode ser muito moroso, caro e impreciso se a
equipe de trabalho não estiver bem treinada e o relevo for muito acidentado. Caso haja algum obstáculo
no alinhamento deve-se empregar o processo indireto.

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3- PROCESSO INDIRETO

Não há necessidade de percorrer o alinhamento e podem ser empregados os seguintes


instrumentos e métodos:
 Taqueômetro (ou simplesmente teodolito) + mira vertical = Taqueometria;
 Teodolito + mira horizontal;
 Distanciômetro (ou estação total) + refletor. Dependendo do tipo de estação total e
da distância a ser medida, o refletor pode ser dispensado;
 Satélite de navegação + receptor + antena: não há necessidade da intervisibilidade
entre as estações;
 Quasares + Antenas parabólicas (VLBI – “Very Long Baseline Interferometry”). Para
distâncias longas, como a distância entre a América e a África, por exemplo. È,
atualmente, a técnica que propicia maior precisão na medição de tais distâncias.

3.1- TAQUEOMETRIA

O goniômetro que além de medir ângulos horizontais e verticais é dotado de fios estadimétricos
pode ser chamado de taqueômetro ou simplesmente teodolito. A Figura 3.4 mostra os fios do retículo, ou
fios estadimétricos, de um teodolito com o qual se pode também determinar as distâncias horizontal e
vertical.

Fio Vertical. Empregado para medir


Fio estadimétrico superior.
ângulos horizontais.

Fio Médio ou nivelador.


Fio estadimétrico inferior. Empregado para medir ângulos
verticais.

Figura 3.4 – Fios do retículo e distância entre o fio superior e o inferior (h).

A Figura 3.5 mostra em destaque o centro do teodolito e a posição dos fios do retículo. A razão
entre a distância da localização dos fios ao centro do aparelho – distância Ob na Figura 3.5 - e a
distância do fio superior ao inferior – ac da Figura 3.5 ou h da Figura 3.4 - é conhecida como ‘constante
estadimétrica’.

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Rodrigues, D. D- 2010 Medição de Distâncias

a
O w .
b
c

Figura 3.5 – Posição dos fios do retículo em relação


ao centro de um teodolito.

A constante estadimétrica de um teodolito dada por:

Ob
 g (3.1)
ac

é normalmente igual a 100, ou seja, ac é cem vezes menor que Ob. Se, por exemplo, Ob for igual a 10
cm, ac será 1mm. Dessa forma o ângulo w mostrado na Figura 3.5 é muito pequeno e igual a

ac 1 180
w  rad   34' (3.2)
Ob 100 100  60  

3.1.1- Medição com a luneta na horizontal ( Zˆ  90 o ou ˆi  0o )

A Figura 3.6 esquematiza a medição de uma distância horizontal, DH, por taqueometria com a
luneta na posição horizontal. O teodolito está num dos extremos do seguimento a ser medido e no outro
está uma régua graduada, denominada mira, perfeitamente na vertical. FS, FM e FI são as leituras
realizadas na mira, observando, pela ocular, as posições dos fios superior, médio e inferior,
respectivamente.
Da Figura 3.6, verifica-se que o triângulo Oac é semelhante ao triângulo OAC e, portanto,

OB Ob (3.3)

AC ac

Mas Ob ac é a constante estadimétrica, g, do teodolito e de acordo com a Figura 3.6:

AC  FS  FI (3.4)

sendo (FS – FI) conhecida com leitura estadimétrica e representada pela letra ‘m’. Assim,

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OB  AC  g  (FS  FI)  g  m  g (3.5)

ou seja, se as observações forem realizadas com a luneta na horizontal,

DH  m  g (3.6)

C
c b
O
. .
B
FS
a
FM
A
FI

DH = OB = ?

Figura 3.6 – Taqueômetro, mira vertical e medição de distância por taqueometria com luneta
na horizontal.

Fontes de erro: a medição de distâncias horizontais por taqueometria, com a luneta na


horizontal, apresenta as seguintes fontes de erro:

 Leitura na mira: é função da refração atmosférica, da capacidade de aumento da luneta,


de defeitos na graduação da mira, da paralaxe, etc;

 Imprecisão na constante estadimétrica;

 Não verticalidade da mira.

Para minimizar os erros devido à refração atmosférica recomenda-se não realizar medidas,
na mira, abaixo de meio metro, principalmente em dias e/ou lugares quentes. Erros devido à paralaxe
são evitados se as leituras FS, FM e FI são feitas de uma única vez, sem que o observador altere seu
ponto de vista de leitura. O problema com a capacidade de aumento da luneta é resolvido evitando medir
distâncias grandes, acima de 70 metros. A verticalidade da mira pode ser garantida empregando um
nível de cantoneira ou um fio de prumo, e para minimizar este erro, recomenda-se não realizar leituras
na parte superior da mira.

3.1.2- Medição com a luneta inclinada

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Rodrigues, D. D- 2010 Medição de Distâncias

Neste caso, devido à diferença de nível entre os extremos do seguimento a ser medido, para
visar a mira há necessidade de inclinar a luneta para cima ou para baixo, de um ângulo iˆ em relação ao

plano horizontal, como indicado na Figura 3.7.

Da Figura 3.7 verifica-se que

DH  OB  cos î (3.7)

C
C’

FS
B
b
FM
c
A’
w A
O î FI

a

DH = ?

Figura 3.7 – Taqueômetro, mira vertical e medição de distância por taqueometria com luneta inclinada.

Aqui o triângulo Oac é semelhante ao triângulo OA’C’ e não ao OAC. Portanto,

OB Ob
 g (3.8)
A' C' ac

ou seja,

OB  A ' C'  g (3.9)

A distância A’C’ não pode ser determinada diretamente das leituras estadimétricas, mas

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A ' C'  A ' B  BC' (3.10)

Como o ângulo w é muito pequeno pode-se adimitir a seguinte hipótese simplificativa: os ângulos
AÂ' B e CĈ' B são “retos” e portanto:

A' B  AB  cos î e BC'  BC  cos î (3.11)

Consequentemente

A' C'  AB  cos î  BC  cos î  ( AB  BC)  cos î  AC  cos î (3.12)

Substituindo esta equação na (3.9) tem-se:

OB  AC  cos î  g (3.13)

Substituindo a equação (3.13) na (3.7) e lembrando que AC = FS – FI = m, tem-se:

DH  m  g  cos 2 î (3.14)

Se o ângulo vertical lido é o zenital, tem-se:

DH  m  g  sen 2 Ẑ (3.15)

uma vez que o cos î  cos(90  Ẑ)  senẐ , no primeiro ou segundo quadrante e o

cos î   sen(270  î )   senẑ para ẑ no terceiro ou quarto quadrante.

Fontes de erro: além daquelas que ocorrem quando a luneta está na horizontal têm-se como
fontes de erro:

 Leitura do ângulo vertical e

 A hipótese simplificativa adotada para se chegar à equação (3.11).

Como pode ser visto nos exercícios abaixo, o efeito de um erro na observação do ângulo de
inclinação é bem menor que o efeito de um erro de leitura na mira.

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Rodrigues, D. D- 2010 Medição de Distâncias

EXERCÍCIOS PROPOSTOS
1) De uma estação A, foi visada com a luneta na horizontal, uma mira vertical colocada em um ponto
B. Foram feitas as seguintes leituras: fio inferior = 0,753 m e fio superior = 2,003 m. Calcule a
distância horizontal entre os pontos (AB). E se a leitura no fio superior fosse 2,000 m em vez de
2,003, qual seria a nova distância? Calcule a diferença entre as distâncias encontradas, em
centímetros.

2) De uma estação A foi visada uma mira vertical posicionada em um ponto B. Foram feitas as
seguintes leituras: fio inferior = 0,998 m, fio médio = 1,500m, fio superior = 2,002m, com ângulo
zenital de 89º 05’ 00”. Calcule a distância horizontal entre os pontos (AB). E se o ângulo zenital
fosse 89º 00’ 00”, qual seria a nova distância? Calcule a diferença entre as distâncias
encontradas, em centímetros.

3.2- UTILIZANDO MIRA HORIZONTAL

Mira horizontal, também conhecida como estádia, é uma haste de metal com baixo coeficiente
de dilatação térmica, dotada de dois alvos em seus extremos sendo a distância entre eles conhecida
com precisão.
Para medir distâncias empregando a mira horizontal, instala-se o teodolito e a mira nos extremos
do seguimento a ser medido – Figura 3.8. Utilizando o visor óptico, deixa-se a mira perpendicular ao
alinhamento. Após medir o ângulo horizontal  mostrado na Figura. 3.8, calcula-se a distância horizontal
DH.
Da Figura 3.8, onde b é a distância entre os alvos da mira, verifica-se que:

 b
tg  (3.16)
2 2  DH
portanto,
b
DH  (3.17)

2  tg
2

Se b = 2,000 m, então:
1 
DH  (m)  cot g (m) (3.18)
 2
tg
2
Fontes de erro: A obtenção de distâncias empregando mira horizontal tem as seguintes fontes de erro:
 erro no comprimento da estádia (mira);
 erro de centralização do goniômetro e da mira;
 erro na observação de  e
 falta de perpendicularidade da estádia com o alinhamento a ser medido.

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O comprimento da estádia bem como a necessidade de visualizar dois alvos distando dois
metros um do outro, torna pouco exeqüível o uso desse instrumento em espaços urbanos e rurais,
principalmente em matas, limitando-o para trabalhos de triangulação, onde uma ou outra distância deve
ser medida.


DH
A

Fig. 3.8: Medida de distância com mira horizontal

3.3- MEDIDA ELETRÔNICA DE DISTÂNCIAS

O primeiro instrumento eletrônico para medir distâncias foi inventado pelo físico sueco Dr. Erik
Bergstrand, por volta de 1950, e denominado Geodímetro - um acrônimo para “geodetic distance meter”.
Este instrumento foi capaz de medir à noite, distâncias de até 40 km, empregando a luz visível. Cerca de
sete anos depois, na África do Sul, o Dr. T. L. Wadley inventou o Telurômetro, primeiro Medidor
Eletrônico de Distâncias (MED) a empregar microondas e capaz de medir, à noite ou durante o dia,
distâncias de até 80 km.
Atualmente, os medidores eletrônicos de distâncias empregam o laser visível (RL) ou infra
vermelho próximo - laser invisível (IR) -, com comprimentos de onda variando de 500 nm a 1100 nm,
para medir distâncias de até 5 km, com precisão de (10 mm + 5 ppm a 1 mm + 1 ppm). Há as chamadas
trenas eletrônicas que medem distâncias de até 300 m e as Estações totais, instrumentos que além de
permitirem a medição distâncias, também permitem medir ângulos horizontais e verticais
eletronicamente.
A Figura 3.9 representa o processo de medição eletrônica de distâncias. Num dos extremos do
seguimento a ser medido é posicionado o medidor - instrumento que gera sinais eletromagnéticos,
emite-os, recebe-os de volta e realiza medidas e cálculos – e no outro extremo é posicionado o refletor,
que tem a função de refletir para o medidor os sinais por ele emitidos. Há instrumentos que emitem o
laser visível e dispensam o refletor para distâncias pequenas, menores que 300 metros.

3.3.1- Princípio da medida eletrônica de distâncias

Afinal o que mede um distanciômetro?

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Rodrigues, D. D- 2010 Medição de Distâncias

Refletor
Emissor/Receptor
D

DH

Fig. 3.9 - Medida eletrônica de distância

a) o tempo de propagação (t) do sinal (?)

A precisão desta observação depende da estabilidade do oscilador, normalmente de cristal, do


medidor eletrônico de distâncias. Seja na Figura 3.9: D, a distância a ser medida e V, a velocidade de
propagação do sinal, cerca de 3 x 108 m/s no vácuo.
Se o tempo de propagação t, de ida e volta do sinal, é observado tem-se:

vt
D ; (3.19)
2

Se o instrumento medisse o tempo com uma precisão máxima de 10 -6 segundos, o que já pode
ser considerado como uma boa precisão para medida de tempo, a precisão na distância seria de:

3  10 8  10 6
D   150 m (3.20)
2

que é uma precisão muito ruim para as distâncias empregadas em topografia.


Devido à dificuldade de se medir o tempo de propagação da luz com tamanha precisão, os MED
atualmente disponíveis não fazem essa observação.
Atualmente, com o desenvolvimento de osciladores atômicos de átomos frios com uma margem
de erro da ordem de 1 segundo a cada 3 bilhões de ano, ou 10-17 S/S, vislumbra-se a possibilidade de se
ter instrumentos que meçam com precisão o tempo de propagação da radiação eletromagnética.

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b) A diferença de fase entre o sinal recebido e o emitido ()

Na Figura 3.9 verifica-se que há, no caminho de ida e volta do sinal entre os extremos do
seguimento a ser medido, um número inteiro de comprimentos de ondas que será representado por m, e
uma parte fracionária da onda representada pela letra d. Portanto, da referida Figura, conclui-se que:

2  D m    d (3.21)

À parte fracionária d corresponde uma diferença de fase f de forma que:

rad
d  (3.22)
2
Portanto,

2D  m    . (3.23)
2


Fazendo    defasagem do sinal recebido em ciclos, tem-se:
2

 
D m   (3.24)
2 2

onde m é o valor observado e D e m são incógnitas.


Para solucionar a indeterminação da equação (3.24) os distanciômetros emitem dois diferentes
sinais L1 e L2 (SILVA, 1993). Se 1  2 tal que m1 = m2 = m então:

1 
D m   1  1 (3.25)
2 2
e
2 
D m   2 2 (3.26)
2 2

e assim tem-se um sistema de duas equações e duas incógnitas, D e m, uma vez que m1 e m2 são
medidos e 1 e 2 conhecidos.
Se, por outro lado, 2  2D, tal que m2 = 0, então:

2
D  2 , (3.27)
2

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Rodrigues, D. D- 2010 Medição de Distâncias

  
 D  1  1 
m1  int eiro de  2  (3.28)
 1 
 
 2 
e
1 
D  m1   1  1 . (3.29)
2 2

Para compreender melhor este caso veja o seguinte exercício: se 1 = 20m; 2 = 2000m e os
valores observados 1 = 0,451 ciclos e 2 = 0,470 ciclos tem-se, empregando as equações (3.27), (3.28)
e (3.29) que:

0,470  2000
D   470 m
2

 470  0,451  10 
m1  int eiro de    46
 10 
e portanto,
D  46  10  0,451  10  464,51 m

EXERCÍCIOS PROPOSTOS:
3) Se uma estação total mede distâncias com uma incerteza de (2 mm + 2 ppm) qual será o erro
relativo, em ppm, para as distâncias de 20, 100, 1000 e 2000 metros?
4) E se a incerteza fosse (5 mm + 5 ppm)?

4– DETERMINAÇÃO DE DISTÂNCIAS HORIZONTAIS ENVOLVENDO PONTOS INACESSÍVEIS

É comum na engenharia necessitar-se de distâncias relativas a pontos inacessíveis. Caso se


disponha de uma estação total capaz de medir sem refletor e o alvo reflete o espectro da radiação
emitida pelo aparelho, o problema está então resolvido; senão, podem ser empregadas as leis do seno e
co-seno como mostrado a seguir.
Seja a Figura 3.10 a representação de uma situação onde a distancia PQ, envolvendo um ponto
inacessível, deve ser determinada. Devem ser observadas, no mínimo, as seguintes grandezas:
 A distância horizontal AB e
 Os ângulos horizontais α1, α2, β1 e β2.
Há dois caminhos para se determinar a distância horizontal PQ. Um é determinar pela lei dos
senos as distâncias AP e AQ e pela lei dos co-senos, PQ; outro é determinar PQ a partir de BP e BQ. A
seguir será desenvolvido o procedimento seguindo o primeiro caminho. Fica a cargo do leitor,
desenvolver o segundo.

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Topografia: planimetria para Engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

ω1

A α1
α2 β1
B
β2

ω2

Q
Figura 3.10 – Determinando distâncias relativas a pontos inacessíveis

Do triângulo ABP, tem-se que:

AP AB sen1 (3.30)
  AP  AB 
sen1 sen1 sen1

Como 1  180  (1  1 ) , então o sen1  sen(1  1 ) , e

sen1 (3.31)
AP  AB 
sen(1  1 )

Da mesma forma pode-se verificar que

sen 2 . (3.32)
AQ  AB 
sen( 2   2 )

Determinadas as distâncias AP e AQ, tem-se, do triângulo APQ da Figura 3.10:

PQ2  AP 2  AQ 2  2  AP  AQ  cos(1  2 ) (3.33)

De onde se determina a distância horizontal PQ.


Quando os ângulos ω1 e ω2 são muito pequenos a precisão da distância determinada é ruim. A
melhor precisão é obtida quando esses ângulos se aproximam de 90º. È a influência da geometria na
precisão! Esse assunto será estudado com mais profundidade em disciplina específica.
Com este método pode-se, a partir de uma distância pequena determinar uma distância maior, a
partir dessa outra maior ainda e assim por diante, de forma que a partir de uma distância pequena se
possa determinar grandes distâncias. A esse procedimento dá-se o nome de ‘desenvolvimento de
bases’.

53
Rodrigues, D. D- 2010 Medição de Distâncias

EXERCÍCIOS PROPOSTOS:
5) Utilizando a Figura 3.10, calcular as distâncias AP e BQ, considerando a medida da base AB =
60m, e os ângulos horizontais α1 = 42º ; α2 = 57º ; β1 = 32º; β2 = 46º.
6) Sabendo que na Figura 3.11 (que está fora de escala), a distância horizontal entre as estações A

e B (AB), é igual a 20 m, e os ângulos horizontais horários, 2Â1  56 o 30' 16,90" ;

2ÂB  112 o 33' 11,60" ; AB̂1  102 o 19' 04,00" e AB̂2  59 o 12' 53,10" , calcular a distância
horizontal entre os pontos 1 e 2.

1
A

Figura 3.11: Distância envolvendo ponto inacessível

5 - EFEITO DA CURVATURA DA TERRA NAS DISTÂNCIAS HORIZONTAIS

Da Figura 3.12, onde


A e B = dois pontos situados em uma esfera;
R = raio de curvatura da esfera;
s = distância esférica AB;
c = a corda correspondente à s;
d = distância horizontal AB, e
 = o ângulo de convergência entre as verticais que passam por A e B,

d
A B’
s
c
B
R

O
Fig. 3.12: Distâncias horizontal, esférica e corda.

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Topografia: planimetria para Engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

pode-se verificar, que:


do triângulo retângulo AOB’:

d  R  tg  (3.34)

do setor OAB:

s  R .  rad (3.35)

e

c  2R . sen (3.36)
2

Com estas equações é possível relacionar distância horizontal, distância esférica e corda. Expressando
a tangente do ângulo de convergência em série de Taylor, tem-se:

3 2  5
tg        (3.37)
3 15

Mas, das equações (3.34) e (3.35),


d
tg   (3.38)
R
s
e   (3.39)
R

Portanto, empregando-se apenas os dois primeiros termos da (3.37), tem-se:

d s s3
  (3.40)
R R 3  R3
ou seja
s3
ds (3.41)
3  R2

que é o efeito da curvatura da terra nas distâncias horizontais.


O erro relativo caso a curvatura seja desconsiderada pode ser calculado por:

1 1 s2 .
Er    (3.42)
s 3  R2 3  R2
ds s2

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Rodrigues, D. D- 2010 Medição de Distâncias

EXERCÍCIOS PROPOSTOS :
7) Dados: s = 30 km, R = 6.371 km
Calcular:
i) A distância horizontal d
ii) O efeito da curvatura da Terra nesta distância, ou seja, calcular d – s.
iii) O erro relativo caso a curvatura seja desconsiderada:
iv) Realizar estes mesmos cálculos para s = 10 km, 5 km, 500 m e 100 m.
As respostas para esse exercício estão na Tabela 3.1.

Tabela 3.1: Efeito da curvatura em diferentes distâncias


s (Km) d (m) d - s (mm) Er (ppm)

30 30000,222 221,7 7,4

10 10000,008 8,2 0,82

5 5000,001 1,0 0,21

0,500 500,000 0,001 0,002

0,100 100,000 0,000 008 0,000 08

Observe que a correção da curvatura da Terra se faz necessária quando a distância a ser
representada em um plano é tal que, o seu efeito seja considerável, não seja despresível, para os fins a
que se destina a planta.

6 - EFEITO DA ALTITUDE NAS DISTÂNCIAS HORIZONTAIS

Adotando a esfera como modelo físico e matemático para a Terra, as superfícies de nível serão
esferas concêntricas. Da Figura 3.13, onde

si

i •

hi sg

R 

Figura 3.13- Efeito da altitude nas distâncias.

56
Topografia: planimetria para Engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

R = raio do modelo terrestre;


hi = altitude da seção i;
si = distância esférica na superfície de nível da seção i,
sg = distância esférica ao nível do geóide 1 (nível médio dos mares),
correspondente à si e
 = o ângulo de convergência correspondente à si,
de maneira análoga à equação (3.39), verifica-se que:

sg si
   (3.43)
R R  hi
e portanto,
R
s g  si  (3.44)
R  hi

de onde se verifica que “ R R  hi  ” é um fator de escala que converte distâncias medidas na

superfície física (si) em distâncias ao nível do geóide (sg).


Assim, pode-se concluir que a distância entre dois pontos, para fins de mapeamento, depende
da posição do seguimento medido em relação ao nível médio dos mares, ou seja, depende da altitude
deste seguimento.

EXERCÍCIOS PROPOSTOS:
8) Dados: hi = 800 m, R = 6.371 km e si = 30 km
Calcular:
i) O fator de escala R R  hi ;

ii) A distância ao nível do geóide, sg;


iii) O efeito da altitude nesta distância, ou seja, calcular s i – sg;
iv) O erro relativo caso este efeito seja desconsiderado;
v) Realizar estes mesmos cálculos para hi = 100, 500, 1000 e 1500 m.

As respostas para esse exercício estão na Tabela 3.2.

Tabela 3.2: Efeito da altitude nas distâncias


h (m) R / R+h sg (m) si - sg (m) Er (ppm)

1500 0,99976 30007 7,06 235

1000 0,99984 30005 4,71 157

800 0,99987 30004 3,77 125

500 0,99992 30002 2,35 78

100 0,99998 30000 0,47 16

1
Geóide: é a superfície equipotencial que mais se aproxima do Nível Médio dos Mares não perturbado e prolongado através dos
continentes.

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Rodrigues, D. D- 2010 Medição de Distâncias

Observe que o efeito da altitude é muito maior que o efeito da curvatura da Terra. Observe
também que o erro relativo depende somente da altitude do seguimento medido e pode ser dado por:

h
Erh   10 6 (ppm ) (3.45)
Rh

O efeito da altitude deve ser corrigido quando há grandes variações de altitude na região a ser
mapeada ou quando se pretende conectar a planta à carta do município, do estado ou do País.

7 – REDUÇÕES DE DISTÂNCIAS MEDIDAS PELO PROCESSO DIRETO

A Figura 3.14 representa a medição de várias seções de uma distância longa, pelo processo
direto. Tal distância deve ser corrigida dos efeitos da altitude e da curvatura da Terra. À estas correções
da-se o nome de ‘Reduções’. Há duas situações em que as reduções devem ser aplicadas:
 quando se vai confeccionar uma planta topográfica, ou seja, os dados serão
coletados em campo e processados para serem representados em um plano,
item 7.1; e
 quando os dados serão extraídos de uma planta e materializados na superfície
física, ou seja, quando se fará ‘locações’, item 7.2.

ZA ZB

A d1 D
d2 S
d3
· · Superfície de
·
dn nível de A
hA
B
Superfície
física
DH
Plano topográfico
Sg
Geóide (Nível
R Médio dos Mares)

CG
CG
Figura 3.14 – Medição de várias seções de uma distância longa, pelo processo direto.

58
Topografia: planimetria para Engenheiros Agrimensores e Cartógrafos

7.1- TERRENO  PLANTA: reduções aplicadas na confecção de uma planta.

a) Supeficie fisica  Superfície do Geóide: corrige-se o efeito da altitude.

R R R R
Sg  s1   s2   s3       sn  (3.46)
R  h1 R  h2 R  h3 R  hn

e se as seções medidas são curtas,

si  di (3.47)

e
R
Sg  R  h  di (3.48)
i

uma vez que o efeito da curvatura em cada di será nulo.

Se a variação em altitude na área que está sendo mapeada é pequena, pode-se adotar uma
mesma altitude média (hm) para a região e

R
Sg    di (3.49)
R  hm

b) Superfície do Geóide  Plano Topográfico: corrige-se o efeito da curvatura em Sg.

Sg 3
DH  Sg  (3.50)
3  R2

7.2- PLANTA  TERRENO: reduções aplicadas em locações de projetos.

a) Plano Topográfico  Superfície do Geóide: efeito da curvatura

Aqui há necessidade de se realizar iterações uma vez que Sg se encontra nos dois lados da
equação. Deve-se inicialmente atribuir o valor da distância horizontal à Sg.

Sg0  DH (3.51)

Sg 3j1
Sg j  Sg j1  (3.52)
3  R2

com j = 1,2, · · · até que Sg j  Sg j1 atinja um determinado critério de convergência.

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Rodrigues, D. D- 2010 Medição de Distâncias

c) Superfície do Geóide  Supeficie fisica: efeito da altitude.

R  hm
Ssf  Sg  (3.52)
R

EXERCÍCIOS PROPOSTOS:
9) Um seguimento de aproximadamente 500 m, localizado a uma altitude média de 800 m, foi
dividido em dez seções para ser medido com trena de invar. Os valores das seções, em metros,
são: 49,973, 49,853, 49,936, 49,875, 49,941, 49,832, 49,876, 49,946, 49,912, 49,954.
Determinar o valor da distância reduzida ao plano topográfico tangente ao geóide. Considerar o
raio da Terra igual a 6371 Km.
10) Em um mapa na escala 1/2000, construído em um plano topográfico tangente ao nível médio
dos mares, foi medida uma distância de 56 cm. Sabendo que a região em que se encontra o
seguimento medido está a uma altitude de 800 m, determinar o valor da distância esférica
correspondente, a ser locada com trena, na superfície física. Considerar o raio da Terra igual a 6
371 Km.

Soluções e Respostas dos exercícios propostos:


1) Para FS = 2,003m, DAB = 125,00 m. Para FS = 2,000m, DAB = 124,70 m. Diferença de 30 cm.
2 Para ẑ = 89º 05’, DAB = 100,374 m. Para ẑ = 89º 00’, DAB = 100,369 m. Diferença de 0,5 cm.
3) Para D = 20m; er = 102 ppm. Para D = 100m; er = 22 ppm. Para D = 1000m; er = 4 ppm. Para D =
2000 m; er = 3 ppm.
4) Para D = 20m; er = 251 ppm. Para D = 100m; er = 51 ppm. Para D = 1000m; er = 6 ppm. Para D =
2000m; er = 3,5 ppm.
5) AP = 33,08 m e BQ = 51,46 m.
6) D12 = 100,94 m.
7) Tabela 3.1
8) Tabela 3.2.
9) DH = 499,035 m.
10) Ssf = 1120,141 m.

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