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ORIENTANDO: PEDRO PAULO DA SILVA FREITAS

ORIENTADOR: PROF. MSC.HELDER RONAN DE SOUZA MOURÃO

NÃO BINARIEDADE: A ADESÃO DA LINGUAGEM NEUTRA/INCLUSIVA NO


JORNALISMO

MANAUS/AM
2023
PEDRO PAULO DA SILVA FREITAS

NÃO BINARIEDADE: A ADESÃO DA LINGUAGEM NEUTRA/INCLUSIVA NO


JORNALISMO

ESTE TRABALHO É
REQUISITO PARCIAL PARA
OBTENÇÃO DO TÍTULO DE
BACHAREL EM
JORNALISMO MOSTRADO
AO PROFESSOR MSC.
HÉLDER MOURÃO.

MANAUS/AM
2023
SUMÁRIO

1 PROBLEMA.......................................................................................................... 4
1.1 OBJETIVO GERAL........................................................................................... 5
1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS............................................................................ 5
2 JUSTIFICATIVA.................................................................................................. 6
3 MARCO TEÓRICO.............................................................................................. 11
4 METODOLOGIA.................................................................................................. 17
5 CRONOGRAMA................................................................................................... 19
6 REFERÊNCIAS..................................................................................................... 20
1. PROBLEMA
“Pois se uma língua não mudar, se não evoluir para responder às necessidades da
sociedade que a utiliza, está condenada a perecer, converte-se em uma língua morta” (Toledo,
2014, p.24).
Essa será a frase/pensamento central deste trabalho, pois a partir dela os
questionamentos levantados aqui serão respondidos posteriormente. Podemos separar essa
discussão de algumas formas: A atualização da língua e a necessidade da aplicação desta nova
forma de se informar pelos jornalistas, a resistência da sociedade para com essa atualização,
qual o intuito desta nova medida? O que e quem esta proposta afeta? Como, onde e quando
começar? Por que é necessário? Quais propostas e abordagens os jornalistas podem utilizar
para adquirir uma linguagem mais neutra/inclusiva? Por que não deve haver resistência por
parte da comunidade jornalística para com essa nova linguagem? Fazer parte da comunidade
LGBTQIAPN+ é sinônimo de ter uma doença psicológica? Pessoas trans fingem ser quem
são? Quanto a língua portuguesa, será um processo de difícil aprendizagem?
Segundo William Randolph Hearst, “Jornalismo é publicar tudo aquilo que alguém
não quer que se publique, todo o resto é publicidade”. Partindo desse ponto podemos dizer
que pessoas preconceituosas não querem que seja dito, exposto ou divulgado a respeito da
comunidade queer, principalmente, a respeito das pessoas que não se encaixam ou não se
veem representadas pelo sistema binário de gênero, pessoas não-binárias. No entanto, com o
passar dos anos, a comunidade queer ganhou uma certa notoriedade, onde profissionais das
mais diversas áreas afirmam publicamente que fazem parte desta comunidade.
Existe uma frase que resume muito bem o “problema” ou traz uma outra
perspectiva a respeito do tema discutido que é do Fernando Pessoa, diz assim “Minha pátria é
minha língua”, esta frase bate de frente com o porquê da utilização de uma abordagem mais
inclusiva pela sociedade no que diz respeito a linguagem neutra. Por que querem mudar a
língua? Bom, primeiramente, não é uma mudança e sim uma atualização com o intuito de
representar uma parte da sociedade que existe, mas que ainda não é representada na própria
língua.
O intuito deste trabalho não é forçar ou obrigar ninguém a utilizar a linguagem
neutra, mas trazer reflexões e propostas de mudanças nas frases que as tornam mais acessíveis
e respeitosas, pois, no atual cenário do país, o pronome neutro não é ensinado nas escolas, não
é divulgado para todas pessoas aprenderem a como utilizá-lo, ou seja, as camadas são muito
mais profundas, exigem que profissionais de várias áreas diferentes trabalhem juntos para
facilitar a explicação, a compreensão, a necessidade de se atualizar a língua e
consequentemente atualizar esses profissionais que passarão a aderi-la.

1.1 OBJETIVO GERAL


Abordar a complexidade do tema e desmistificar informações equivocadas.

1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS


Analisar as camadas profundas por trás do tema.
Apurar a necessidade da linguagem pelos profissionais da comunicação.
Entender o contexto atual e suas projeções pro futuro.
2. JUSTIFICATIVA
Falar sobre não-binariedade é importante pra mim pois é uma parte de quem eu
sou. Não tenho tantas referências nas quais posso me inspirar como jornalista, mas existem
pessoas brilhantes que são não-binárias também e que tem uma grande influência pra mim,
um grande exemplo é Jonathan Van Ness, um integrante de um programa chamado “Queer
Eye” na Netflix.
A forma como ele vê o mundo, se apresenta para as pessoas (no caso, estou o
tratando no pronome masculino por motivos de Jonathan não se importa com qual pronome
será tratada, seja ela/elu/ele), é uma inspiração já que me identifico com o jeito dela. É
importante ressaltar que embora uma pessoa não-binária não se incomode com o pronome ao
qual será tratada, isso pode variar de pessoa não-binária a pessoa não-binária.
Um dos conceitos básicos do jornalismo é retratar a realidade da maneira que ela
é/está, tendo isso em mente o tema se torna importante para mostrar a vivência e realidade de
pessoas não-binárias. A representatividade de pessoas da comunidade ainda é precária no
jornalismo, veja bem, não estou dizendo que não tem, mas sim que ainda não é o suficiente.
Alguns jornalistas “se assumiram” como parte da comunidade nos últimos anos, tais como
Fernanda Gentil, Pedro Figueiredo, Matheus Ribeiro.
O uso da linguagem inclusiva, é de suma importância para o jornalismo por
justamente ter o papel de retratar a realidade de forma verdadeira, sem tabus ou preconceitos,
pois no jornalismo não há margem para esse tipo de atitude ou “posicionamento”.
Sabemos sobre a dificuldade de adaptar o discurso para abranger todas as pessoas,
porém se torna necessário para a compreensão e validação das pessoas não-binárias, para que
se sintam pertencentes a pátria e na sua língua nativa, o que também será debatido sobre as
possibilidades de adesão e perspectivas para o futuro.
As pessoas precisam e tem o direito de serem respeitadas acima de qualquer coisa;
o respeito deve prevalecer, logo, o tema debatido neste trabalho é de extrema relevância para
a sociedade. Todavia, o intuito é fazer com que a maior parte da população consiga entender
sem muitas dificuldades a como tratar o outro de uma maneira mais respeitosa e inclusiva.
Além de ter como objetivo desmitificar problemáticas levantadas por parte conservadora da
sociedade, já que na sociedade atual essas pessoas são invalidadas e desrespeitadas o tempo
todo, justamente pela falta de compreensão do assunto ou pela falta de educação ou
simplesmente pela ignorância mesmo.
“Pois se uma língua não mudar, se não evoluir para responder às necessidades da
sociedade que a utiliza, está condenada a perecer, converte-se em uma língua morta” afirma
Leslie Toledo. Essa frase explica a importância desta nova abordagem pelos veículos de
comunicação, utilizar a linguagem inclusiva/neutra e trazer para mais perto da realidade um
avanço da língua, já que “por intermédio da linguagem aprendemos a nomear o mundo em
função dos valores imperantes na sociedade. As palavras determinam as coisas, os valores, os
sentimentos, as diferenças”, segundo Toledo.
A cobertura jornalística de qualidade e comprometida com a veracidade dos fatos é
essencial para a abordagem dessa pauta tão complexa e polêmica, uma vez que se torna
necessário uma explicação digna e honesta, pois nas palavras de Toledo “O problema não está
na língua em si que, como vimos, é ampla e mutável, mas sim nas travas ideológicas, na
resistência em dar um uso correto a ela, em utilizar palavras e expressões inclusivas”. Logo, o
profissional capacitado para apurar e contextualizar a população sobre o tema é o jornalista.
No decorrer deste estudo, percebi que a inclusão está para além da comunidade, mas
para toda uma gama de minorias que não são representadas ou foram ocultadas pelo
machismo e pelo patriarcado durante todos esses anos. Um problema estrutural e cultural,
perpetuado pelo androcentrismo, ou seja, pela supervalorização do homem, o que Toledo
deixa bem claro em seu livro “Manual para o uso não sexista da linguagem”, que é uma fonte
fortíssima para o presente trabalho.
Um outro ponto de vista sobre o assunto é o de Judith Butler, autora do livro
“Problemas de Gênero: Feminismo e subversão da identidade”, que faz importantes
questionamentos a respeito da biologia humana como destino, além de sugerir a distinção
entre sexo/gênero; e complementa direta e indiretamente os questionamentos feitos por
Toledo.
Concebida originalmente para questionar a formulação de que a biologia é o
destino, a distinção entre sexo e gênero atende à tese de que, por mais que o
sexo pareça intratável em termos biológicos, o gênero é culturalmente
construído: consequentemente, não é nem o resultado causal do sexo nem
tampouco tão aparentemente fixo quanto o sexo. Assim, a unidade do sujeito
já é potencialmente contestada pela distinção que abre espaço ao gênero
como interpretação múltipla do sexo. (BUTLER, 2003, p.21).
Se o gênero são os significados culturais assumidos pelo corpo sexuado, não
se pode dizer que ele decorra de um sexo desta ou daquela maneira. Levada
a seu limite lógico, a distinção sexo/gênero sugere uma descontinuidade
radical entre corpos sexuados e gêneros culturalmente construídos.
(BUTLER, 2003, p.21).
Supondo por um momento a estabilidade do sexo binário, não decorre daí
que a construção de “homens” se aplique exclusivamente a corpos
masculinos, ou que o termo “mulheres” interprete somente corpos femininos.
Além disso, mesmo que os sexos pareçam não problematicamente binários
em sua morfologia e constituição (ao que será questionado), não há razão
para supor que os gêneros também devam permanecer em número de dois. A
hipótese de um sistema binário dos gêneros encerra implicitamente a crença
numa relação mimética entre gênero e sexo, na qual o gênero reflete o sexo
ou é por ele restrito. (BUTLER, 2003, p.21).
Quando o status construído do gênero é teorizado como radicalmente
independente do sexo, o próprio gênero se torna um artifício flutuante, com a
consequência de que homem e masculino podem, com igual facilidade,
significar tanto um corpo feminino como um masculino, e mulher e
feminino, tanto um corpo masculino como um feminino. (BUTLER, 2003,
p.21).

A maneira como Butler descreve sexo e gênero como uma construção cultural
dando margem para serem analisadas as outras vertentes do gênero e do sexo, é intrigante,
pois traz à tona uma reflexão sobre as outras possibilidades, como são? O que são? Judith
também aborda sobre um comportamento, vestimentas como um fator independente de sexo
ou gênero, necessitando apenas de um corpo, um exemplo disso poderíamos citar os modelos
na passarela, principalmente, no cenário atual, onde esse paradigma de feminino e masculino
está sendo debatido e deixando a moda cada vez mais “andrógina”.
Segundo o Art. 1º do código de ética dos jornalistas brasileiros, temos como base
o direito fundamental do cidadão à informação, que abrange seu direito de informar, de ser
informado e de ter acesso à informação. Ou seja, esse trabalho tem o objetivo de informar de
maneira ética e coerente a respeito da linguagem neutra e inclusiva, pois é uma possível
mudança histórica na língua.
No Art. 2º do código de ética dos jornalistas, está especificando que os
jornalistas não podem admitir que o acesso a informação seja impedido por nenhum tipo de
interesse, razão. Citarei 3 tópicos dentro desse artigo que são essenciais para explicar a
relevância do tema no jornalismo:
I- A divulgação da informação precisa e correta é dever dos meios de
comunicação e deve ser cumprida independentemente de sua natureza jurídica – se pública,
estatal ou privada – e da linha política de seus proprietários e/ou diretores.
IV- A prestação de informações pelas organizações públicas e privadas, incluindo
as não-governamentais, é uma obrigação social.
V- A obstrução direta ou indireta à livre divulgação da informação, a aplicação de
censura e a indução à autocensura são delitos contra a sociedade, devendo ser denunciadas à
comissão de ética competente, garantido o sigilo do denunciante.

Eu escolhi fazer uma reportagem especial sobre este tema, justamente para
apresentar pessoas não-binárias e expor suas singularidades, particularidades, pois faz parte
do ser não-binário apenas ser, o que isso quer dizer? Muitos temas podem ser percebidos e
recebidos de formas diferentes por parte da própria comunidade, não tem como comparar
pessoas não-binárias porque cada uma se expressa à sua maneira, cada uma veste o que
quiser, cada uma age da forma que quiser (dentro dos conformes da lei, é claro), cada uma é
única.
E é justamente essa particularidade que me fascina, me encanta, pois nada mais é
do que uma expressão de sua personalidade, daquele ser, você gostar ou não, entender ou não,
não te diz respeito, aquela pessoa só quer existir a sua maneira, pois essa lógica binária não
faz sentido na cabeça dessas pessoas, e é isso que quero mostrar com a vídeo reportagem.
Mostrar que nossas diferenças não nos demonizam ou nos distanciam, no final ainda somos
pessoas e temos direitos pelos nossos próprios corpos.
Apresentar essas pessoas de forma digna, pois o preconceito e a intolerância,
muitas vezes chegam antes dessa apresentação, chegam antes de saber o caráter de alguém,
chegam antes delas terem o direito de apenas EXISTIR. Além de ser um ato político, já que
simplesmente por nossa existência, já estamos incomodando muita gente. Gente essa que
demoniza, julga, condena e faz de tudo para impedir que tenhamos visibilidade ou quaisquer
reconhecimentos. No entanto, quero proporcionar um espaço acolhedor e aconchegante para
outros da minha comunidade.

3. MARCO TEÓRICO

O que é Jornalismo? (inserir autores clássicos que dão a definição de jornalismo: Felipe
Pena, Nelson Traquina; Mário Erbolato);
Um importante jornalista brasileiro chamado Clóvis Rossi, trouxe uma perspectiva
única a respeito do que é jornalismo, perspectiva essa que condiz com o intuito deste trabalho,
onde a tentativa de extinguir ou pelo menos diminuir drasticamente o preconceito é o foco
central, através da informação acessível e de qualidade.
Jornalismo, independentemente de qualquer definição acadêmica, é uma
fascinante batalha pela conquista das mentes e corações de seus alvos:
leitores, telespectadores ou ouvintes. Uma batalha geralmente sutil e que
usa uma arma de aparência extremamente inofensiva: a palavra, acrescida,
no caso da televisão, de imagens. Mas uma batalha nem por isso menos
importante do ponto de vista político e social, o que justifica e explica as
imensas verbas canalizadas por governos, partidos, empresários e entidades
diversas para o que se convencionou chamar veículos de comunicação de
massa. (ROSSI, Clóvis, 2000, p.6).
Em outras palavras o jornalismo é de extrema importância para a sociedade, pois o
trabalho produzido tem em si a expectativa quanto a seriedade, confiabilidade e segurança, na
apuração feita pelo profissional. Além de dar voz para aqueles que muitas vezes não são nem
pauta para a grande maioria, comentar a respeito de problemas que a sociedade sofre e
abordar propostas para soluções.
Rossi aborda a palavra como uma “arma” e que de fato é ameaçadora, porém por
muitos subestimada, porque o que a torna perigosa é justamente o que está sendo dito, quem
está falando, como, onde, quando e por que está falando. Essas 6 (seis) perguntas quando
respondidas se tornam de fato uma arma quando utilizadas para expor algo que grandes
empresários, políticos, celebridades ou algum órgão público não queira que seja exposto para
a sociedade, o que é exatamente a proposta do ser jornalista.
Por se tratar de algo tão poderoso e que nem todes prestam atenção no seu
potencial, citarei um rápido exemplo da importância do jornalismo, nos últimos anos,
principalmente, entre 2018 a 2022. O Brasil enfrentou/enfrenta uma tentativa de invalidação
das apurações feitas pelos veículos de comunicação, onde parte da sociedade, questiona (o
que até certo ponto é saudável) sobre a veracidade dos fatos apresentados nos telejornais,
porém com o aumento dessa desconfiança e o avanço das fake News, que são matérias falsas,
mentiras criadas para justamente causar essa confusão, muitas pessoas foram influenciadas
negativamente e acabaram acreditando em matérias sensacionalistas, mentirosas.
O que até nos dias de hoje, gera uma certa desconfiança por parte da população em
acreditar no que está sendo apresentado, uma batalha árdua estava/está sendo travada para
combater as fake News. Perceba que mesmo com os jornalistas provando por A+B que
estavam certos, apresentando fatos inquestionáveis, a população ainda assim se recusou a
acreditar, devido a gigantesca polarização em que se encontrava/encontra o povo brasileiro.
Park situa a notícia como algo que possui um interesse pragmático para o
leitor, abordando sobre eventos que causam “mudanças súbitas e decisivas,
quase sempre” (PARK, 2008b, p. 64), e cuja função poderia ser associada à
mesma exercida pela percepção no indivíduo: “não apenas informa, mas
orienta o público, dando a todos a notícia do que está acontecendo” (PARK,
2008b, p. 60). Este ponto de vista “parkiano” associa-se à ideia de
“manutenção da ordem social”, que aponta para o jornalismo como voltado
para a manutenção do controle social, preservando a cordura do indivíduo e
sua integração na sociedade (BERGANZA CONDE, 2000). (TAVARES, M.
B. Frederico; BERGER, Christa. P.7).

O trecho final desta citação “casa” perfeitamente com o tema deste trabalho, pois
segundo Park, “o jornalismo é voltado para a manutenção do controle social, preservando a
cordura do indivíduo e sua integração na sociedade”, ou seja, se pensarmos que o jornalismo
tem esse poder de “controle social” podemos sim ajudar na adaptação da sociedade para uma
nova maneira de se comunicar.
Além de se conectar diretamente com a afirmação de Toledo para com a
linguagem, “Pois se uma língua não mudar, se não evoluir para responder às necessidades da
sociedade que a utiliza, está condenada a perecer, converte-se em uma língua morta”.
Podemos dizer que o mesmo se aplica para o jornalismo, se ele não acompanha as mudanças
da sociedade, da língua, do mundo, do que e com o que este profissional estagnado no tempo
trabalhará? Do que adianta estudar comunicação e se recusar a adaptar o seu discurso para
uma nova forma de se comunicar? Essa pergunta não é uma ameaça, algumas pessoas podem
sugerir que a comunidade está querendo “obrigar” a todes a utilizar uma linguagem mais
inclusiva/neutra.
No entanto, ao analisarmos mais afundo a respeito do porquê utilizar essa
linguagem, percebemos que as pessoas as quais serão beneficiadas, não fazem
necessariamente parte apenas da comunidade LGBTQIAPN+, pessoas com deficiência sofrem
com o bullying de uma sociedade que agride, exclui, ridiculariza, verbal e fisicamente,
pessoas que não se encaixam em seus padrões (diferentes), e a chave para evitar essas
situações é a informação, oferecida e devidamente apurada pelos jornalistas.

O que é Reportagem Especial? (apresentar melhor as características da reportagem,


mostrando em que ela se difere dos demais formatos de jornalismo; ver o livro A
REPORTAGEM: TEORIA E TÉCNICA DE ENTREVISTA E PESQUISA
JORNALÍSTICA de Nilson Lage)
Antes de explicar o conceito de reportagem especial, é necessário entender o que é
uma reportagem, a grosso modo, uma reportagem tem a proposta de abordar alguma pauta
seja ela sobre algum esporte ou sobre um evento de gala ou sobre o alagamento no centro de
Manaus, onde o seu objetivo é retratar a realidade da forma como está, interpretá-la ou expor
através de uma apuração (pesquisa) aprofundada sobre a pauta.
“A reportagem, embora os teóricos acadêmicos que tratam do gênero
jornalístico não o estabeleçam explicitamente, pode ser caracterizada em
duas linhas gerais: a) como notícia ampliada e b) como um gênero
autônomo.” (KINDERMANN, 2003, p. 38).

Neste caso, o conceito de reportagem segundo Kindermann como uma notícia


ampliada, implica na contextualização rápida do que é notícia. Notícia é a cobertura
jornalística a respeito de um fato, onde o objetivo do repórter é informar sobre a realidade que
o cerca, além de responder a seis (6) perguntinhas o que, quem, como, quando, onde e por
quê? Essas respostas formarão a notícia, que geralmente tem uma cobertura mais objetiva,
não se aprofunda tanto no fato. O que nos traz para o conceito de reportagem especial, que
nada mais é do que como sugerido por Kindermann, uma notícia aprofundada, ou seja, o
objetivo de responder as 6 perguntinhas se mantém, mas se amplia para alguma outra vertente
que o fato proporcionou/proporciona, analisando e se aprofundando no tema.
O processo de construção de uma reportagem especial para TV é dividido em 5 partes,
que são respectivamente, preparação da pauta, apuração da informação, entrevistas, textos
jornalísticos, edição e técnicas em jornalismo.
Preparação da pauta: A pauta é o assunto da matéria, geralmente é dada pelo editor
chefe. Em outras ocasiões é feita pelo próprio repórter, dependendo do veículo de
comunicação.
Com pauta ou sem pauta, lugar de repórter é na rua. É lá que as coisas
acontecem, a vida se transforma em notícia. Muitas vezes, quando ficamos
sem assunto, o veterano fotógrafo Gil Passarelli e eu saímos sem pauta
nenhuma, sem destino certo – e não me lembro de termos voltado algum dia
sem matéria. (KOTSCHO, 2004, p. 12).

Apuração da informação: A apuração das informações é a fase do processo da


produção jornalística, que investiga as informações confirmadas que serão inseridas no texto
final, isto é, na reportagem de televisão. Para apurar os acontecimentos, é primordial ir ao
local do ocorrido, buscar documentos que comprovem o fato, adquirir dados, entrevistar
pessoas que possam dar depoimentos. Esses elementos em um texto segundo as técnicas
jornalística são chamados de fontes e também de personagens, são eles que determinam a
credibilidade do jornal. Por isso, não podem faltar nos veículos de comunicação, seja jornal
impresso, rádio ou televisão. Segundo o autor Nilson Lages, 2009, P. 62, “as fontes podem ser
mais ou menos confiáveis (confiança, como se sabe, é coisa que se conquista), pessoais,
institucionais ou documentais”.
“Encarregado de fazer uma matéria sobre os moradores de apartamentos, - A
vida empilhada sobre lajes de concreto -, acabei, durante o trabalho,
encontrando um personagem raro, que mereceu um perfil à parte. “Isso
acontece muitas vezes: Você vai levantar um assunto e descobre alguém com
uma história tão boa que deve ser destacada da matéria principal”.
(KOTSCHO ,2004, p. 43).

Entrevistas: Nilson Lage (2009) define a entrevista é o procedimento clássico de


apuração de informações em jornalismo. É uma expansão da consulta às fontes, objetivando,
geralmente, a coleta de interpretações e a reconstituição de fatos. Existem vários tipos de
entrevistas, porém em televisão ela é ocasional. Entrevista ocasional - é um tipo não
programado anteriormente. Os questionamentos da entrevista são feitos para o entrevistado
sobre determinado tema, a resposta é interessante, pois, o indivíduo fica aprisionado no
compromisso com verdade e relevância de qualquer assunto tratado ao vivo na TV. Através
deste despreparo, o entrevistado acaba dando respostas sinceras.
“A entrevista em televisão tem o poder de transmitir o que o jornalismo
impresso nem sempre consegue: a exposição da intimidade do entrevistado.
Os gestos, o olhar, o tom de voz, o modo de se vestir, a mudança no
semblante influencia o telespector e a própria a ação do entrevistador, que ao
adquirir experiência consegue tirar do entrevistado mais do que ele gostaria
de dizer”. (BARBEIRO ,1946, p. 85).

Textos jornalísticos: O texto que forma a reportagem em um telejornal, geralmente é


feito no final, depois de apurar todos os dados informativos. Este tipo de texto em TV é
chamado de Off, nos termos técnicos do jornalismo, isto é, texto narrativo da reportagem.
Depois de realizado o texto, o repórter grava sua narração, dando sempre ênfase na entonação
da voz para dar vida na reportagem de maneira que desperte atenção dos telespectadores,
facilitando a compreensão da informação que se deseja passar.
Off” ou texto em off é a parte da notícia gravada pelo reportes ou pelo
apresentador, para ser conjugada com as imagens do fato, sem que o rosto de
quem faz a leitura apareça no vídeo. Nas matérias em off, a narração do
locutor ou do repórter deve estar harmoniosamente conjugada com as
imagens que cobrem o texto lido. (REZENDE, 2000. p. 149).
Na TV, bem como no rádio, o texto deve ser coloquial e o jornalista precisa
ter em mente que está contando uma história para alguém; mas existe uma
diferença fundamental: o casamento da palavra com a imagem. É a
sensibilidade do jornalista que vai fazer essa "união" atingir o objetivo de
levar ao ar uma informação fácil de ser compreendida pelo telespectador
(BARBEIRO, 1946, p. 97).

Edição: A edição é o processo de finalização das reportagens, o editor é o profissional


capacitado em organizar de forma seletiva e coerente as imagens e áudio que serão
transmitidos no vídeo.
A função de editor na TV é trabalhosa, dá pouca visibilidade ao jornalista,
mas é de fundamental importância, pois a edição é a montagem final da
reportagem que vai ao ar no telejornal. É nessa etapa de elaboração da
matéria que fica mais clara a ação do jornalista em excluir e suprimir parte
do material colhido, sob ação da subjetividade. BARBEIRO (1946, p. 102).

Técnicas de jornalismo: As imagens captadas pelos cinegrafistas de um telejornal ou


programa de TV, exige técnicas enquadramentos que colaboram com a estética do programa.
Os profissionais responsáveis em gravar as imagens, devem saber que a lente grande-angular
muitas vezes causa a distorção das imagens. Os cinegrafistas também devem configurar na
câmera, a cor que deve sempre ser ajustada para não correr o risco de a imagem ficar saturada
ou escura.
Qualidade do equipamento- seja de captura (câmera fotográfica, scanner
etc.), de visualização (tela de computador, celular, televisão etc.) Ou de
impressão, a qualidade do equipamento é o segundo elemento importante
para que se consiga uma boa imagem. (MARTINS, 2010, p. 175).

Você apresenta características básicas da reportagem enquanto técnica e forma de


produção jornalística. Precisa se aprofundar na reportagem enquanto gênero e na
reportagem especial como gênero de ainda maior profundidade, que leva mais corpo na
pauta, na captação, na escrita e principalmente na edição;

O que é Não-Binário?
Não-binário é um termo usado para referir-se as pessoas que não se caracterizam nem
do gênero masculino e nem feminino. Desse modo, esses indivíduos não pertencem de forma
exclusiva a um desses gêneros, sendo, na realidade, o não-binário um gênero. A identidade e a
expressão de gênero de uma pessoa não-binária não se prendem ao masculino ou ao feminino.
Faz-se necessário uma análise rápida sobre o conceito de identidade e como ela é
construída, utilizando da perspectiva do livro “Gênero e sexualidade na atualidade” do autor
Leandro Colling, percebemos que ao fazermos perguntas como:
Quem é você? Onde nasceu? Onde mora? Onde estudou? Do que gosta?
Essas perguntas, que parecem simples, fazem com que criemos um texto
sobre quais são as nossas identidades, sobre como nos identificamos em
relação a diversos aspectos e como nos explicamos para as demais pessoas.
Esse breve texto descreve as identidades dessa pessoa (de ordem nacional,
de gênero, territorial, escolaridade, esportiva e musical). Além disso,
também nos dá pistas sobre como a cultura na qual ela vive interfere e
interferiu profundamente nessas características com as quais ela passou a se
identificar. É por essas e outras coisas que os estudos sobre as diversas
identidades que existem em nossa sociedade tendem a defender que as
nossas identidades são culturais, ou seja, elas não são completamente inatas,
naturais ou determinadas por algum componente genético. (COLLING,
2018, p. 9).

Essa última parte em específico poderia causar uma polêmica, “como assim nossas
identidades não são completamente determinadas por componente genético, sendo que há
diferenças entre homens, mulheres e pessoas intersexo? Para responder esta pergunta Colling
diz o seguinte:
No entanto, é evidente que a composição biológica dos nossos corpos, que é
diferenciada, interfere na construção das nossas identidades. Por exemplo:
uma pessoa com a pele clara não será identificada como negra e não sofrerá
uma série de preconceitos de ordem racial que atingem as pessoas negras em
uma sociedade racista como a nossa. Mas, ainda assim, isso não quer dizer
que as identidades raciais sejam construídas de forma determinista por
algum componente biológico e/ou genético. Se pensássemos assim,
estaríamos, no final das contas, pensando por uma perspectiva racista. O que
os estudos das identidades questionam, dentro dessa perspectiva cultural, é:
por que atribuímos valor positivo para determinados corpos e não para todas
as pessoas? É a partir daí que começamos a perceber que, se formos
responder aquelas perguntinhas iniciais de uma forma um pouco mais
profunda, veremos que as respostas estarão carregadas de processos
históricos, políticos e econômicos que forjaram as formas com as quais
constituímos as nossas identidades. (COLLING, 2018, p. 9 e 10).

Identidade de gênero: Identidade de gênero é uma experiência interna e


individual do gênero de cada pessoa, que pode ou não corresponder ao sexo atribuído no
nascimento, incluindo o senso pessoal do corpo (que pode envolver, por livre escolha,
modificação da aparência ou função corporal por meios médicos, cirúrgicos e outros) e outras
expressões de gênero, inclusive vestimenta, modo de falar e maneirismos (PRINCÍPIOS,
2006).
Expressão de gênero: Expressão de gênero é como a pessoa manifesta
publicamente, por meio do seu nome, da vestimenta, do corte de cabelo, dos comportamentos,
da voz e/ou características corporais e da forma como interage com as demais pessoas. Nem
sempre é possível saber o gênero de uma pessoa apenas observando sua expressão de gênero
(adaptado de GLAAD, 2016).
Gênero Fluido: Pessoas que mudam de gênero de tempos em tempos. As
mudanças podem ser graduais ou súbitas, em diversos intervalos de tempo, entre certos
gêneros ou entre gêneros completamente diferentes a cada mudança. (Adaptado de
orientando.org).
Agênero: Pessoa que não se sente pertencente a nenhum gênero (CADERNO,
2017).
Androginia: Termo genérico usado para descrever qualquer indivíduo que assuma
postura social, especialmente a relacionada à vestimenta, comum a ambos os gêneros
(BRASIL, 2016a).
Binarismo de gênero: Ideia de que só existe macho/fêmea, masculino/feminino,
homem/mulher, sendo considerada limitante para as pessoas não-binárias (CADERNO,
2017).
Cisgênero: Termo utilizado para descrever pessoas que não são transgênero
(mulheres trans, travestis e homens trans). “Cis-” é um prefixo em latim que significa “no
mesmo lado que” e, portanto, é oposto de “trans-” (GLAAD, 2016).

Orientações sexuais (algumas):


Homossexual: É a pessoa que se sente atraída sexual, emocional ou afetivamente
por pessoas do mesmo sexo/gênero (adaptado de GÊNERO, 2009).
Heterossexual: Indivíduo atraído amorosa, física e afetivamente por pessoas do
sexo/gênero diferente (adaptado de GÊNERO, 2009).
Lésbica: Mulher (cis ou trans) que é atraída afetiva e/ou sexualmente por pessoas
do mesmo sexo/gênero (cis ou trans). Não precisam ter tido, necessariamente, experiências
sexuais com outras mulheres para se identificarem como lésbicas (GÊNERO, 2009).
Pansexualidade: A pansexualidade é uma orientação que rejeita especificamente a
noção de dois gêneros e até de orientação sexual específica (MARSHALL CAVENDISH
CORPORATION, 2010).

História da luta LGBT+:


Para começar a explicar sobre a história da luta LGBTQIAPN+ foi utilizado o
livro Manual de Educação LGBTI+, dos órgãos Aliança Nacional LGBTI+, sendo seu diretor-
presidente Toni Reis; a organização espanhola Gay Latino; e a Enciclopédia LGBTI+.
Também serão utilizados outros livros dessas organizações (Manual de Comunicação
LGBTI+ e Manual de Advocacy, Litigância Estratégica, Controle Social e Accountability
LGBTI+).
O livro (qual dos citados acima?) passa de forma bem objetiva pela luta da
comunidade e conta desde sua origem até os dias atuais, dividindo-a da seguinte forma:
Pré-História - A antropologia mostra que as relações homossexuais eram permitidas,
desempenhando um papel importante nos rituais de passagem masculinos (em Pápua-Nova
Guiné; nas ilhas Fiji, na Melanésia e Oceano Pacífico).
500 anos antes de Abraão - Documentos egípcios revelam que a homossexualidade existia
não somente entre os homens, mas também entre deuses, como Horus e Seth. A
bissexualidade dos homens era naturalmente aceita nesse período, no entanto, a
homossexualidade passiva deixava-os incomodados.
Grécia – 3.000-1.400 a.C - Não havia discriminação das relações homossexuais. Era uma
prática recomendável, que envolvia aquisição e transmissão de sabedoria, sendo vastamente
considerada mais nobre que o relacionamento heterossexual. O casamento hétero era visto
como uma maneira de assegurar uma descendência legítima e adquirir poder, não o objeto de
convergência para o amor, afeto ou emoção.
Ilha de Lesbos – Séc. VI a.C - Safo, poetisa, passional e austera concebe uma escola para
moças onde leciona a poesia, a dança e a música e é aclamada por Platão como a décima
musa. Hoje a palavra lésbica, que se referia apenas àquela que habitava a Ilha de Lesbos,
representa alguém que, como Safo de Lesbos e suas seguidoras, amam e se relacionam com
outras mulheres. Pouco se tem além de Safo ao pesquisarmos a lesbianidade na história,
apenas nos tempos modernos ela retorna à visibilidade.
1.700 a.C - Código de Hamurabi. Nas civilizações antigas da Mesopotâmia, embora não
existissem leis que proibissem ou concordassem com a prática homossexual, o Código de
Hamurabi continha privilégios aos prostitutos e prostitutas que participavam dos cultos
religiosos. Assim, os homens devotos poderiam ter relações com os “servos sagrados”.
China – 1.122-156 a.C - Relatos encontrados propagam a impressão clara de uma
homossexualidade aberta na vida da corte. O casamento heterossexual era um elo de classe
social e o amor romântico era vivido fora deste fosse com homens ou mulheres.
Roma – meados de 69 a.C – A homossexualidade era tolerada. O imperador Júlio Cesar era
conhecido como “omnium virorum mulier, omnium mulierum virum” – mulher de todos os
homens e homem de todas as mulheres. A passividade na relação era rechaçada, sendo que o
polo passivo da relação não possuía qualquer relevo social e era equiparado aos escravos.
Roma – meados de 533 d.C – Com o advento do Cristianismo em Roma, Justiniano edita
uma lei que pune com a fogueira e a castração os homossexuais, caminho que se segue
durante as Idades Média e Moderna.
Idade Média – A homossexualidade toma força nos mosteiros e acampamentos militares e é
a Igreja a maior perseguidora dos pares do mesmo sexo. Qualquer ato sexual desprovido de
função procriadora é caracterizado pecado. As relações homossexuais recebem o sufixo
“ismo” e são caracterizados, pela ciência e religião, como uma anomalia da natureza, uma
doença.
Período Renascentista – Leonardo Da Vinci, Michelangelo, Shakespeare, Caravaggio, entre
outros tiveram notórias paixões homossexuais. Porém, a homossexualidade continua na
obscuridade.
Um fato interessante deste livro é que percebemos que os homossexuais só foram
vistos com maus olhos após a adesão do Cristianismo e dessa lei feita por Justiniano, perceba
que antes disso, os homossexuais eram livres para viver e explorar sua sexualidade, vistos por
algumas culturas como deuses, ou apenas como pessoas (que é o que são) ou até mesmo como
uma fonte natural de sabedoria, apesar de nem todas as culturas aclamarem os homossexuais,
eles ainda podiam viver.
Vale ressaltar que a luta da comunidade LGBTQIA+ não é um ataque à religião,
mas sim ao fundamentalismo religioso e político, este que oprime e manipula pessoas para
seguir um determinado pensamento, comportamento ou apenas para reforçar preconceito.
Moltmann (1993), analisou a forma como este tema se desenvolveu na atualidade:
A temática do fundamentalismo está presente na atualidade de forma
complexa e difusa. Não só restrita ao ambiente religioso, mas presente em
outros âmbitos da vida com significados e atuações múltiplos. Nos séculos
XX e XXI, testemunhamos um tipo de fundamentalismo que investe na
política em nome da religião. A base de alguns governos está apoiada em
ideias fundamentalistas. Isto tem implicações sociais graves. O
fundamentalismo religioso e os aportes da ciência, por exemplo, vivem um
conflito permanente gerando alienação, violência e morte. A tensão é
decorrente do posicionamento científico que entra em conflito com as
verdades dos Textos Sagrados (MOLTMANN, 1993, p. 142).

De acordo com um artigo científico de pós-graduação do aluno Carlos Alberto


Motta Cunha, que traz à tona justamente essa pesquisa sobre Fundamentalismo à Brasileira,
explica segundo a perspectiva de Martin Marty sobre “os diversos tipos de conservadorismos,
ortodoxias, e outros tradicionalismos, que não são necessariamente fundamentalistas”. Motta
então se questiona a respeito de quando esses posicionamentos se tornam manifestações
fundamentalistas? Segundo o autor Amós Oz: “o fanatismo é, com frequência, intimamente
relacionado a uma atmosfera de desespero profundo. Num lugar em que as pessoas sintam que
não há nada além de derrota, humilhação e indignidade, podem recorrer a várias formas de
violência desesperada” (OZ, 2004, p.16-17).
Portanto, nessa perspectiva, a partir do momento em que um conservador se
torna um fanático religioso ele automaticamente se torna também um fundamentalista, não é
atoa que a comunicação para com essas pessoas se torna extremamente difícil, uma vez que
ao contestar o que essas pessoas pregam e tentar explicar as diferentes visões de mundo, a
pluralidade do ser humano, ou que as outras religiões merecem respeito também, é
interpretado como se fosse blasfêmia ou um ataque a crença dessas pessoas.

1.587 d.C – O Tratado Descritivo do Brasil registra a presença das (indígenas) Cudinas, um
equivalente das travestis ou mulheres transexuais contemporâneas. [...] o tratado em questão
revela que as Cudinas recebiam o mesmo tratamento e exerciam as mesmas atividades que as
mulheres cisgêneras. (Oliveira,2018).
1.670 d.C – Segundo o antropólogo Luiz Mott, Zumbi, líder do Quilombo das Palmeiras e
guerreiro da resistência negra ao escravismo, teve relações homossexuais.
Alemanha, entre 1865-1875 – Karl Heinrich Ulrichs, um dos pioneiros do movimento por
justiça e humanidade para casais do mesmo sexo, defende que os instintos denominados
“anormais” são inatos e, assim, naturais.
1.869 d.C – O médico húngaro Karoly Benkert utiliza o termo homossexual formulado pela
união do prefixo grego homós “semelhante/ a mesmo”, e pelo sufixo sexual do latim sexus
“relativo ao sexo”.
1893 - Médicos que acreditavam que a homossexualidade era uma moléstia física ou psíquica
tentam “curá-la” com choques elétricos, lobotomias, injeções hormonais e até mesmo
castração.
Alemanha Nazista, aproximadamente entre 1933-1945 – Depois da Primeira Guerra
Mundial, em Berlim, na Alemanha, a homossexualidade masculina gozava de maior liberdade
e aceitação do que em qualquer outra parte do mundo. Contudo, a partir da tomada de poder
por Hitler, os gays e, em menor grau, as lésbicas, passaram a ser dois entre os vários grupos
sociais a serem atacados pelo Partido Nazi, acabando também vítimas do Holocausto. As
estimativas sobre o número de gays mortos nos campos de concentração variam muito, mas,
segundo um sobrevivente, “dezenas de milhares” de homossexuais foram mortos nos campos
de concentração (Heger, 1989, p.8).
Nova Iorque – 28 de junho de 1969 – No bairro de Greenwich Village explode uma rebelião
de travestis e gays denominada “Revolta de Stonewall”, na qual, durante uma semana, eles
protestaram e enfrentaram a força policial, dando início ao “Dia do Orgulho LGBTI+”,
popularmente conhecido como “Dia do Orgulho Gay”.
1993 – A homossexualidade deixa de ser classificada como doença após anos de pesquisa e
sem nada que comprovasse não ser ela natural. A Organização Mundial da Saúde (OMS) a
insere no capítulo “Dos sintomas decorrentes de circunstâncias psicossociais”.
Brasil 1999 – Justiça do Rio Grande do Sul, em decisão pioneira, fixa competência às varas
de família para julgar ações decorrentes de uniões homoafetivas, até então julgadas pelas
varas cíveis, dando assim o passo inicial para que estas conquistassem o status de família.
Holanda – 21 de abril de 2001 – Entra em vigor, pela primeira vez na modernidade,
legislação de abertura do casamento a pares do mesmo sexo.
Brasil – 2002 – A então desembargadora do Rio Grande do Sul, Maria Berenice Dias, em
suas decisões utiliza o termo homoafetividade buscando demonstrar que, como entre casais
heterossexuais, as relações homossexuais se baseiam no afeto entre duas pessoas e se trata de
uma ligação muito mais forte que a atração sexual.
Brasil – 07 de agosto de 2006 – Lei Maria da Penha entra em vigor dispondo em seu art.2º
que, independente da orientação sexual, etnia, classe, toda mulher goza dos direitos
fundamentais inerentes à pessoa humana. Ainda com base em seu art.5º percebe-se que a lei,
em determinadas circunstâncias, pode, por analogia, aplicar-se a Travestis e Transexuais,
abrangendo toda e qualquer violência doméstica independente da sexualidade dos integrantes
da família.
Brasil – 05 a 08 de junho de 2008 – Ocorre a 1º Conferência Nacional GLBT em Brasília, na
qual se decide utilizar a letra “L” antes do “G” na sigla do movimento. Tal ocorre pelo
crescimento do movimento lésbico e como manifestação de apoio por parte da comunidade de
gays, bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros, buscando, assim, mais visibilidade
para as mulheres do movimento – que passa, então, a ser denominado LGBT. Este rótulo,
meramente político, ainda é muito debatido e por vezes é acrescido de novas terminologias
como o “I”, de Intersexo.
Brasil – 05 de maio de 2011 - O STF, ao julgar a ADI 4277 e ADPF 132, em decisão
histórica, reconhece união estável para casais do mesmo sexo e cria jurisprudência inédita
pressionando o Legislativo Brasileiro a quebrar seu silêncio frente às relações homoafetivas.
Brasil – entre os dias 15 e 18 de dezembro de 2011 – Ocorre em Brasília a 2ª Conferência
Nacional de Políticas Públicas e Direitos Humanos de LGBTTT.
Brasil – 14 de maio de 2013 – É publicada a Resolução nº 175 do Conselho Nacional de
Justiça que obriga os cartórios a realizarem a cerimônia de Casamento em igualdade de
condições aos casais homoafetivos, com base nos princípios de liberdade, igualdade e
promoção do bem de todos sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
outras formas de discriminação, previstos na Constituição Federal. Apesar de o judiciário
Brasileiro reconhecer o direito ao Casamento homoafetivo em igualdade de condições, a
legislação nacional expressa não sofre alterações.
Brasil – 5 de março de 2015 – Em julgamento ao Recurso Extraordinário nº 846.102, o
Supremo Tribunal Federal, tendo como relatora a Ministra Cármen Lúcia, define que a união
entre casais homoafetivos pode ser definida como família nos termos da Constituição
Brasileira, nos seguintes termos: “A Constituição Federal não faz a menor diferenciação entre
a família formalmente constituída e aquela existente ao rés de fato. Como também não
distingue entre a família que se forma por sujeitos heteroafetivos e a que se constitui por
pessoas de inclinação homoafetiva”.
Brasil – 17 de janeiro de 2018 - por meio da Portaria nº 33, o Ministério da Educação
homologou o Parecer CNE/CP Nº 14/2017 e o Projeto de Resolução, do Conselho Nacional
de Educação, que define o uso do nome social em toda a educação básica do Brasil.
Brasil – 28 de janeiro de 2018 – O Conselho Federal de Psicologia publicou a Resolução nº
CFP 01/2018, que regulamenta a forma como a categoria deve atuar no atendimento a
travestis e transexuais. Devem atuar de forma a contribuir para a eliminação da transfobia –
compreendida como todas as formas de preconceito, individual e institucional, contra as
pessoas travestis e transexuais. Orienta, ainda, que as e os profissionais não favoreçam
qualquer ação de preconceito e nem se omitam frente à discriminação de pessoas transexuais
e travestis.
Brasil – 1º de março de 2018 – Em julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade
(ADI) nº 4275, o Supremo Tribunal Federal determinou que a retificação do registro civil, no
tocante a mulheres trans, travestis e homens trans, deve se dar de modo desburocratizado – ou
seja, sem demanda judicial, nos próprios cartórios, por meio de autodeclaração -, sem limite
de idade (respeitando a maioridade civil e a representação dos responsáveis no caso das
pessoas menores de idade), não sendo necessária tanto a apresentação de laudos psicológicos
e psiquiátricos quanto a cirurgia de readequação sexual.
Brasil 1º de março de 2018 – O Tribunal Superior Eleitoral determinou que a partir das
eleições de 2018 a autodeclaração de pessoas transgênero – que não se identificam com o
sexo biológico, como transexuais ou travestis – será considerada na verificação do
cumprimento das cotas obrigatórias de gênero dos partidos políticos e que podem concorrer
nas eleições utilizando o nome social.
Brasil – 27 de março de 2018 – O Conselho Federal de Psicologia publicou a Resolução nº
CFP 10/2018, que dispõe sobre a inclusão do Nome Social na Carteira de Identidade
Profissional da Psicóloga e do Psicólogo e dá outras providências.
2019 – Em maio a 72ª Assembleia Mundial de Saúde adotou a décima primeira revisão da
Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-
11), retirando as categorias relacionadas às pessoas trans da lista de Transtornos Mentais e
Comportamentais.
Brasil – 13 de junho de 2019 – No julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade por
Omissão nº26 e do Mandado de Injunção nº 4733, o Supremo Tribunal Federal determinou
que a discriminação e a violência LGBTQIfóbicas se enquadram como forma de racismo,
puníveis como tal.
Brasil – 8 de maio de 2020 – No julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº
5543, o Supremo Tribunal Federal determinou ser inconstitucional a inabilitação temporária
de gays e outros homens que fazem sexo com homens para a doação de sangue, conforme a
Portaria nº 158/2016 do Ministério da Saúde, e a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº
34/2014 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).
Após analisarmos a história da luta da comunidade LGBTQIA+ percebemos que
esta comunidade sofreu e ainda sofre muito com a intolerância, preconceito e discriminação,
contudo, seguiu, segue e seguirá resistindo a toda forma de opressão. Há pessoas que
acreditam que a homofobia não existe, ou que essas violências apresentadas anteriormente
não passam de “mimimi”, isso se estende até os dias atuais.
Vale salientar que a LGBTIfobia pode ser definida como o medo, a aversão, ou o
ódio irracional a todas as pessoas que manifestem orientação sexual ou identidade/expressão
de gênero diferente dos padrões heteronormativos, mesmo pessoas que não são LGBTI+, mas
são percebidas como tais. A LGBTIfobia, portanto, transcende a hostilidade e a violência
contra LGBTI+ e associa-se a pensamentos e estruturas hierarquizantes relativas a padrões
relacionais e identitários de gênero, a um só tempo sexistas e heteronormativos (adaptado de
JUNQUEIRA, 2007).

COMEÇAR AQUI UM TÓPICO QUE DEBATE ESSA PARTE DA LINGUAGEM E


DISCURSO

Como citado anteriormente, a linguagem neutra busca se comunicar de maneira a


não demarcar gênero no discurso linguístico, a fim de incluir todos os indivíduos. Para isso,
utiliza-se os sistemas elu ou ile, porém, existem estudos que mostram outros sistemas como o
el, ili, ilu. Um dos principais objetivos da linguagem neutra é propor uma reflexão sobre a
hierarquia linguística, além de questionar o masculino genérico.
“A língua é poder: construímos significações de quem somos como sociedade
na e por meio da linguagem”. Explica Jocemara Cardoso, doutora em linguística e
coordenadora da comissão de diversidade, inclusão e igualdade da Associação Brasileira de
Linguística (CDII-Abralin). – onde ela cita isso? Qual livro ou artigo?
Não tem como falar sobre linguagem neutra sem questionar o sistema e a sua
estrutura, afinal estamos refletindo e aprendendo sobre possíveis mudanças na língua e na
sociedade, assim como a luta antirracista conseguiu apresentar a problemática por trás de
termos como “mulata ou denegrir”, consequentemente, mudando a forma como nos
comunicamos com pessoas pretas.
Jocemara Cardoso, destaca que o adjetivo neutro em linguagem neutra “não
significa neutralidade social, política ou ideológica, mas ruptura com o binarismo existente
sobre as questões de gênero na nossa sociedade.”
Faz-se necessário que a classe jornalística entenda a diferença entre linguagem
neutra e linguagem inclusiva, e utilize a que melhor preferir nos seus textos e/ou falas.
Portanto, reconhecer que esta atitude traz humanidade, dignidade, respeito, além de validar a
existência de pessoas não-binárias. A proposta não é excluir os homens ou as mulheres, até
porque para existir pessoas não-binárias precisa existir um homem e uma mulher.
A noção de que o jornalismo é uma ferramenta extremamente poderosa é quase
(esse quase pois existem pessoas que defendem que para ser jornalista não precisa de
formação), um senso comum, mas precisamos nos atentar também para a sua estrutura
hierárquica. Sobre isso utilizaremos o pensamento de Abramo (1987), a respeito da essência
do jornalismo:
“[O jornalismo] é uma profissão constituída de funções que se destinam a
planejar e obter informações do mundo real – físico ou social –, organizar,
estruturar e hierarquizar essas informações, explicá-las, analisá-las e
interpretá-las, e apresentá-las e difundi-las através de diversos processos (...)
Não é uma atividade geral, que qualquer um possa fazer. É um processo
específico e complexo e que, por isso, exige formação especializada.”
(Abramo, 1987).

Ainda nessa linha de pensamento, podemos então entender que ao abordarmos


o tema da linguagem neutra e inclusiva, ou quaisquer outros temas sejam política, esporte,
moda, cidade, país, entre outros, é necessária uma cobertura jornalística com ética profissional
e alinhada com a veracidade dos fatos, trazendo assim uma informação de qualidade. Porém,
um dos principais problemas que a comunidade encontra nesses veículos de comunicação, é a
falta de representatividade, sejam nos próprios repórteres, ou nas matérias sobre a
comunidade LGBTQIA+, para além das estatísticas de morte ou sobre casos de
homotransfobia, isso quando é permitido pelos donos dos jornais/portais, falar sobre essa
comunidade.
Segundo o artigo científico dos estudantes Gustavo Haiden de Lacerda e
Luciana Cristina Dias Di Raimo, que se interessaram em refletir sobre como o percurso do
jornalismo o leva a constituir-se enquanto transmissor de “fatos verdadeiros” e como essa
posição vem sendo desafiada pela prática de fake News no meio digital, utilizando o
pensamento de Mariani (1996), chegaram a seguinte reflexão:
A imprensa é fundada no Brasil no início do século XIX, com a vinda da
família real para o país, em 1808, uma vez que ela se interessava em saber o
que estava acontecendo em Portugal. Antes disso, leis de censura já haviam
fechado tipografias que tentaram espaço em algumas regiões do país, além
de impedirem e limitarem a circulação de diversos livros pelo território
brasileiro. Conforme Mariani (1996), já aí começa a formar-se um quadro de
funcionamento da instituição jornalística, marcada tanto por uma relação
submissa ao poder vigente, no intuito de divulgar os ideais de uma elite e
combater os movimentos contrários, quanto por constituir-se em torno de
uma política de silêncio, isto é, de censuras. Fica postulado, assim, segundo
Mariani (1996), que a imprensa é a instituição que organiza e faz circular os
sentidos que são possíveis, ou melhor, os sentidos que são permitidos.

Essa narrativa nos permite entender que existem pessoas com o poder de decidir o
que será ou não publicado, isto é, para além do processo editorial, onde muitas pautas por
mais bem apuradas que sejam, são excluídas seja pelo dono do jornal/portal não estar de
acordo, seja por haver conflitos de interesses com o Estado, a Igreja (veja bem, aqui não
estou me referindo aos cristãos, mas a instituição), o Mercado, etc. Segundo Mariani
(1996), o discurso jornalístico:
sobretudo na sua forma de reportagens, funciona como uma modalidade de
discurso sobre, pois coloca o mundo como objeto. A imprensa não é o
'mundo', mas deve falar sobre esse mundo. Retratá-lo, torná-lo
compreensível para os leitores. O cotidiano e a história, apresentados de
modo fragmentado nas diversas seções de um jornal, ganham sentido ao
serem 'conectados' interdiscursivamente a um "já"fá" dos assuntos em pauta.
E essa interdiscursividade pode ser reconstruída através da análise dos
processos parafrásticos presentes na cadeia intertextual que vai se
construindo ao longo do tempo. (MARIANI, 1996, p. 64).

Afirma Mariani (1996), “que o discurso jornalístico contribui na constituição do


imaginário social e na cristalização da memória do passado bem como na construção da
memória do futuro”. Por esse viés, podemos concluir que o papel da classe jornalística é
fundamental para auxiliar a população a entender sobre as pautas das pessoas minorizadas
(Pessoas pretas, mulheres, a comunidade LGBTQIA+, pessoas com deficiência), pois, ao
relembrar o passado, ou seja, a forma como essas pessoas foram tratadas, torturadas,
discriminadas, invisibilizadas, especifica o motivo da luta continuar.
Vale ressaltar, o significado de grupos invisibilizados, que nada mais são do que
“grupos humanos concretos, variáveis em tamanho, conforme os territórios em que habitam e
os momentos históricos da sociedade, condenados pelos processos e estruturas sociais
vigentes a viver à margem, em estado de exclusão social, destituídos de cidadania e das
condições mínimas de dignidade humana”, segundo o Instituto Brasileiro de Análises Sociais
e Econômicas.
A linguagem neutra visa se comunicar de maneira a não demarcar gênero no
discurso linguístico, a fim de incluir todos os indivíduos. Aplica-se a pessoas não-binárias,
bebês intersexo, ao nos referirmos a um grupo de pessoas com mais de um gênero ou quando
não sabemos quais pronomes usar com determinada(s) pessoa(s).
A linguagem inclusiva visa não demarcar o binarismo de gênero, no entanto, ao
invés de flexionar adjetivos, pronomes e outros, dedica-se em alterar ou reformular frases, de
modo que os termos utilizados não se refiram a nenhum gênero.
O objetivo de adequar a linguagem para abranger mais pessoas é um desafio a ser
enfrentado por todes, mas principalmente, pelos profissionais de comunicação. Afinal, o
público-alvo desta abordagem precisa dessa validação, uma das propostas é de que ajudaria na
diminuição do preconceito para com os divergentes da cisheteronormatividade, porém, ao
analisarmos a estrutura patriarcal e machista, percebemos que será necessário muito mais
empenho para transformar a realidade dessas pessoas.
Uma análise necessária e inclusive está diretamente ligada ao tema deste trabalho
é a respeito da linguagem, quais propostas/alternativas podemos oferecer para jornalistas com
o intuito de abranger/incluir mais pessoas no discurso. No entanto, para cumprir com esta
análise, é necessário dar o contexto a respeito de algumas diferenças entre mulheres e
homens, que segundo María J. Escudero et alii, não passa de uma construção cultural
chamada de gênero, além de determinar os seus papéis sociais.
Todas as demais diferenças que se atribuem a mulheres e homens,
sensibilidade, doçura, submissão, dependência, fortaleza, rebeldia, violência,
independência são culturais e, portanto, aprendidas; é uma construção
cultural chamada gênero. O gênero, feminino ou masculino, que nos
adjudicam ao nascer, refere-se ao conjunto de características simbólicas,
sociais, políticas, econômicas, jurídicas e culturais, atribuídas às pessoas de
acordo com seu sexo. São características históricas, social e culturalmente
designadas a mulheres e homens em uma sociedade com significação
diferenciada do feminino e do masculino, construídas ao longo do tempo e
que variam de uma cultura a outra. Portanto, modificáveis (María J.
Escudero et alii). Da mesma forma, o gênero está institucionalmente
estruturado, isto é, é construído e se perpetua em todo o sistema de
instituições sociais (família, escola, Estado, igrejas, meios de comunicação),
os sistemas simbólicos (linguagem, costumes, ritos) e os de normas e valores
(jurídicos, científicos, políticos), (TOLEDO, 2014 p.19).

Um trecho importantíssimo desta citação, é a respeito do gênero, que nada mais


é do que “uma construção cultural. Portanto, modificáveis” como explicou Escudero. Essa
perspectiva de que é modificável, por conta das várias culturas existentes no planeta, nos faz
refletir e questionar a respeito do que mais foi construído culturalmente e automaticamente
atribuído como masculino ou feminino. E logo após essa pergunta, Toledo já nos responde
com “o gênero está institucionalmente estruturado, isto é, é construído e se perpetua em todo
o sistema de instituições sociais (família, escola, Estado, igrejas, meios de comunicação), os
sistemas simbólicos (linguagem, costumes, ritos) e os de normas e valores (jurídicos,
científicos, políticos).”
Partindo dos sistemas simbólico e o de instituições sociais, mais precisamente, a
linguagem e os meios de comunicação, podemos anular qualquer justificativa sem
embasamento teórico que conteste a adaptação/estudo da nova forma de se comunicar que a
comunidade LGBTQIAPN+ reivindica com o intuito de incluir mais pessoas na própria
língua, além de requisitar a utilização desta linguagem inclusiva/neutra pelos veículos de
comunicação social. Para Toledo, o sistema de gênero em uma sociedade determinada
estabelece, dessa maneira, o que é “correto”, “aceitável” e possível para mulheres e homens.
Os papéis que se atribuem para mulheres e homens (mulher-mãe, dona de casa, responsável
pelas tarefas associadas à reprodução familiar; homem-pai, provedor, chefe de família)
juntamente com as identidades subjetivas, cumprem um papel importante na determinação das
relações de gênero. Esse sistema de gênero é transmitido, aprendido e reforçado por meio de
um processo de socialização.
A socialização é o processo de aprendizagem dos papéis sociais. É um
processo no qual a pessoa está imersa inclusive antes de nascer, nas
expectativas que nossa futura família tem sobre nós e pelo qual aprendemos
e interiorizamos as normas, valores e crenças vigentes na sociedade. Uma
das características mais importantes da socialização, dada sua relevância, é a
socialização de gênero; processo pelo qual aprendemos a pensar, sentir e
comportar-nos como mulheres e homens segundo as normas, crenças e
valores que cada cultura dita para cada sexo. Basicamente seria a
aprendizagem dos papéis sentimentalmente mais expressivos para as
mulheres e dos papéis instrumentais para os homens, associada à valorização
da superioridade dos homens e às características estereotipadas femininas e
masculinas. Por meio dessa socialização, diferente em cada cultura, é que
nos ensinam modelos de conduta que são aceitos socialmente para mulheres
e homens e quais não são. Assim como as consequências que tem a adoção
ou transgressão desses modelos. O processo de socialização de gênero se
desenvolve ao longo de toda a vida e é transmitido por meio dos diferentes
agentes de socialização: família, escola, meios de comunicação e linguagem,
entre outros. (TOLEDO, 2014, p.20).

Toledo diz que a socialização, diferente em cada cultura, é a responsável por


ensinar os modelos de conduta que são aceitos socialmente para mulheres e homens. Partindo
desse mesmo ponto, quando algumas pessoas não se veem representadas ou não conseguem
seguir o modelo imposto, sofrem as consequências, que são atitudes, falas e em alguns casos
agressões físicas e psicológicas; Antes de analisar a linguagem, precisamos mencionar que a
língua em si não é sexista como sistema, mas o que é sexista é o mau uso que se faz dela, uso
consolidado, aceito e promovido pela sociedade, segundo Toledo. Há possibilidade de alterar
a língua para uma versão condizente com a realidade atual.
A língua é um fato tão cotidiano que o assumimos como natural, sendo que
poucas vezes nos detemos a perguntar-nos o alcance e a importância da
mesma. Neste sentido, menciona Edward Sapir que “falta apenas um
momento de reflexão para convencer-nos de que esta naturalidade da língua
é uma impressão ilusória”. Mas, a linguagem não é algo natural e sim uma
construção social e histórica, que varia de uma cultura para outra, que se
aprende e que se ensina, que forma nossa maneira de pensar e de perceber a
realidade, o mundo que nos rodeia e o que é mais importante: pode ser
modificada. Por intermédio da linguagem aprendemos a nomear o mundo em
função dos valores imperantes na sociedade. As palavras determinam as
coisas, os valores, os sentimentos, as diferenças. (TOLEDO, 2014, p.22).
Por outro lado, a língua é um instrumento flexível, em evolução constante,
que pode ser perfeitamente adaptada a nossa necessidade ou ao desejo de
comunicar, de criar uma sociedade mais equitativa. Portanto, as línguas não
são inertes, e sim instrumentos em trânsito, pois se uma língua não mudar, se
não evoluir para responder às necessidades da sociedade que a utiliza, está
condenada a perecer, converte-se em uma língua morta. As línguas vivas
mudam continuamente, incorporando novos conceitos e expressões e, nesse
sentido, não há nenhum problema em criar palavras para adaptar-se à nova
realidade social, como é o caso de toda a nova linguagem gerada pelo uso da
Internet (e-mail, chat, web, etc.), ou as mudanças que supõem a incorporação
das mulheres a profissões e cargos que antes lhes seriam vetadas ou de difícil
acesso: surgem então ministras, executivas, presidentas... Estes são exemplos
de uma mudança nos usos da linguagem: o que antigamente se considerava
como um erro gramatical hoje aparece como algo cotidiano e aceitável. O
problema não está na língua em si que, como vimos, é ampla e mutável, mas
sim nas travas ideológicas, na resistência em dar um uso correto a ela, em
utilizar palavras e expressões inclusivas. (TOLEDO, 2014, p.24).

“As palavras determinam as coisas, os valores, os sentimentos, as


diferenças”, essa frase de Toledo explica o porquê da linguagem neutra está em processo de
pesquisa/análise. Nenhuma proposta surge sem embasamento teórico e/ou histórico, pelo
menos esse “privilégio” a comunidade LGBTQIA+ não tem. A comunidade não se pode dar
ao luxo de ser ignorante, por isso, sempre que faz algum questionamento, tem bastante estudo
por traz. Todavia, no que diz respeito a linguagem neutra, como visto anteriormente, não
existe impedimento na língua para questionar ou estudar novos métodos de comunicação,
logo, o estudo se mostra como uma possibilidade, procurar resultados que agreguem, de fato,
algo para todas as pessoas.
Faz-se necessário a compreensão de que estudar sobre novas formas de se
comunicar não significa, necessariamente, excluir o masculino ou feminino, mas sim de
acrescentar uma terceira alternativa. No entanto, ao recebermos os frutos dessas pesquisas
podemos sim determinar quais palavras devem ou não serem substituídas ou evitadas, como o
caso de “mulata”.
O contexto histórico é extremamente necessário para explicar para a
população o porquê dessas palavras não serem mais utilizadas, pois reforçam uma violência
que é o racismo. Acredito que no decorrer deste trabalho ficou explícito que não há como
falar de linguagem neutra/inclusiva sem mencionar as outras pautas sociais, a luta feminista, a
luta antirracista e a luta de pessoas com deficiência.
O interessante de se analisar aqui é justamente o fato dessas pautas estarem
reivindicando direitos sobre seus próprios corpos, por existir de forma digna e serem
respeitadas por serem quem são. Butler, trouxe um viés que questionava/questiona os papéis
sociais, dizendo que são uma construção social que varia de sociedade a sociedade, cultura a
cultura, mas uma coisa que as pessoas não estão conseguindo interpretar é que se esses papéis
de gênero, funcionam para um grupo de pessoas bem específico (geralmente brancas de classe
média/alta), ou seja, funciona para uns e exclui outros.

AQUI VOCÊ JÁ FAZ OUTRO TÓPICO ONDE DEBATE ESSA QUESTÃO DA LINGUAGEM JÁ
APLICADA AO JORNALISMO, LEVANDO EM CONTA O JORNALISMO COMO A FORMA
DE CONHECIMENTO MAIS PRESENTE NA VIDA DAS PESSOAS;

4. METODOLOGIA
O presente trabalho tem como objetivo trazer uma pesquisa exploratória a respeito
da adesão da linguagem neutra/inclusiva pelos jornalistas. A proposta da pesquisa
exploratória é de entender como as coisas funcionam, para isso utilizarei as autoras Judith
Butler e Leslie Toledo para ajudar na compreensão do tema; uma das características do estudo
exploratório é ter um processo de pesquisa flexível e não estruturado, ou seja, utiliza da
análise de dados primários, considerando uma pequena amostra, numa abordagem qualitativa.
A pesquisa qualitativa apresenta os resultados através de percepções e análises,
descrevendo a complexidade do problema e a interação de variáveis. Onde a interpretação
focará nas opiniões, intenções, pensamentos e comportamentos; a abordagem tem como
objetivo apresentar “o ponto de vista” de cada entrevistado [psicóloga, jornalista, professor e
uma (ou mais) pessoa(as) não-binária(as)].
Utilizarei neste projeto Manaus como centro de pesquisa a respeito da vida de pessoas
não-binárias, apresentando propostas para colegas jornalistas com o intuito de mostrar o
porquê a classe jornalística deve aderir a linguagem, ou melhor, as linguagens neutra e
inclusiva; se torna necessário explicar primeiro para os colegas de profissão, para então
explicar para a sociedade, já que ainda existem tabus, preconceitos, ignorância e intolerância a
respeito desse assunto.
O propósito de introduzir os jornalistas nesta nova forma de se comunicar é
justamente para diminuir ou, com muito esforço, extinguir o preconceito para com pessoas
que não se enquadram no sistema cis heteronormativo, mas o que é a cis
heteronormatividade? A cis heteronormatividade nada mais é do que uma imposição social
para ser ou se comportar de acordo com os papéis de cada gênero. Porém alguns podem
ainda não perceber o problema dessa imposição e o problema é justamente que quem não se
enquadra, sofre bullying, chegando a ser marginalizado como é o caso de pessoas trans (sejam
elas binárias ou não) e/ou ignorados.
A intenção com as pessoas não-binárias é de apresenta-las de forma digna e respeitosa
para a sociedade, para que estas tenham a oportunidade de serem vistas e reconhecidas como
PESSOAS, antes de qualquer julgamento. Mostrar que mesmo com diferenças na forma de
enxergar, entender e viver no mundo, ainda são seres humanos. O que uni els profissionais de
comunicação com els não-bináries é o fato de jornalistas terem compromisso de apresentar
notícias, reportagens de interesse público, de dar voz aos que não tem.
Uma das técnicas utilizadas neste trabalho será a entrevista, onde a elaboração do
roteiro será específica para cada entrevistado, com a psicóloga pretendo abordar questões que
trazem reflexões e algumas respostas mesmo que óbvias, pois alguns precisam delas, com o
objetivo de esclarecer de uma vez por todas que fazer parte da comunidade NÃO É sinônimo
de doença. Já com o professor de português a finalidade é analisar a complexidade e as
possibilidades de como utilizar corretamente os 4 sistemas de pronomes neutros.
A aproximação com pessoas não-binárias já será para obter informações a respeito de
suas vivências, como são tratadas e ouvir suas histórias, e por fim chegamos ao jornalista, os
questionamentos feitos serão sobre o que profissionais da área estão pensando sobre, se há a
possibilidade dessa linguagem entrar em prática o mais rápido possível ou se ainda será
necessário alguns anos a mais, como está o mercado para os que divergem da cis
heteronormatividade, reforçar a necessidade da linguagem.
Uma dificuldade que pode vim a surgir na realização desta pesquisa é a respeito de
não conseguir organizar os dias para as entrevistas, comprometendo assim a obtenção dos
dados; o equipamento necessário também pode ser um problema, comprometendo a qualidade
técnica do trabalho; os dados obtidos não suprirem ou sustentarem o suficiente a pesquisa. O
tempo pode afetar também, dependendo dos locais que serão gravados, possíveis locais para
as gravações são Teatro Amazonas, Largo de São Sebastião, Praça da Saudade ou da Polícia
ou na própria instituição de ensino Fametro.

5 CRONOGRAMA
TIVIDADES MA ABRI MAI JU JU AG SE OU NO DEC
R L O N L O T T V

TEMA/
X
PROBLEMA

OBJETIVOS X

APURAÇÃO E
X X
FONTES

JUSTIFICATIVA X X

MARCO
X
TEÓRICO
PLANEJAMENT
O E ROTEIRO X
DE GRAVAÇÃO

GRAVAÇÃO X X X

EDIÇÃO X
ENTREGA X

18/1
DEFESA
2
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Artigo sobre o significado de Jornalismo. Site Significadosbr. 2023.


https://www.significadosbr.com.br/jornalismo

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Bertucci, Pri. Manifesto Ile para uma comunicação radicalmente inclusiva. 2015.
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https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/234583

Mariani, Bethânia. O comunismo imaginário: Práticas discursivas da imprensa sobre o


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português brasileiro e em francês. 2022.
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