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Sem plano, Castro ressuscita a polícia do inimigo público número 1

Ao menos 35 ônibus e um trem foram queimados em represália à morte de um miliciano


o maior ataque ao transporte público do Rio de Janeiro.
O Rio de Janeiro viveu duas tragédias nesta segunda, dia 23. A primeira foi o
inédito ataque de milicianos ao transporte público do Rio. A segunda, e mais grave,
foi a coletiva do governador Cláudio Castro. Mais grave porque de bandido se espera
tudo. De um governador, a expectativa é um pouco maior. Mesmo no Rio de Janeiro.

Sem qualquer plano, visão estratégica ou política estruturante para apresentar, o


governador apelou para bravatas. E citou, inacreditavelmente, os nomes de três
bandidos como se fosse um técnico de futebol anunciando a escalação do meio-campo.
"Zinho, Tandera e Abelha. Não descansaremos até prendermos", esbravejou o
governador.
Castro ressuscitou a fracassada política pública de criação do inimigo público
número 1, extinta pelo ex-secretário de segurança pública José Mariano Beltrame.
Ela é perfeita para governadores incompetentes, porque substitui a necessidade de
apresentar à sociedade um plano de combate ao crime organizado. De quebra, cria no
imaginário da população uma luta simplória do mal contra o bem. O mal é
personificado num bandido. O bem é o governador, porque ele é chefe das forças que
combaterão o mal.
Como Castro passa a ser o "autodeclarado bem", ele não precisa explicar seus
fracassos: por que extinguiu a secretaria de segurança, por que resiste à criação
de uma corregedoria unificada, forte e independente, por que assiste passivamente
às humilhantes operações da Polícia Federal, levando policiais corruptos para atrás
das grades, por que seu secretário de Polícia Civil foi preso por ligações com a
máfia do bicho; por que seu secretário de Assuntos Penitenciários foi preso
negociando uma trégua com uma facção criminosa, por que entregou o cargo de chefe
da Polícia Civil a deputados de sua base eleitoral...

Nada disso é o problema. O problema agora é Zinho, Tandera e Abelha. Lógico que
bandido tem que ser tirado de circulação. Ninguém defende o contrário. Mas
transformar isso na única política pública de segurança de um governo é um truque
medíocre. O Rio já teve vários inimigos públicos número 1 desde a década de 1980.
Já foi Escadinha, substituído por Gordo, substituído por Fernandinho Beira-Mar,
substituído por Uê, substituído por Elias Maluco... Uma farta linha de produção
onde não faltam peças de reposição.

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