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DO CORPO EXPURGADO AO CORPO CUIDADO: ANÁLISE DA EXPERIÊNCIA

DE SOFRIMENTO E EMANCIPAÇÃO DE UMA INFLUENCIADORA DIGITAL

Autoras:
Jéssica Cristina Rodrigues1
Júlia Loren dos Santos Rodrigues2

Resumo: Este estudo teve como objetivo compreender, diante de uma perspectiva
fenomenológica-existencial, a experiência de sofrimento atrelado a vivência de
transtornos alimentares de uma influenciadora digital que assume como proposta de
trabalho produzir conteúdo para conscientização e crítica dos padrões idealizados do
corpo feminino. A pesquisa contou com a participação de uma digital influencer. Para
a coleta de dados, utilizou-se como método a entrevista semiestruturada, sendo esta
gravada e posteriormente transcrita. Os resultados dessa pesquisa foram dispostos
em duas categorias: 1 - Ser-mulher na era da técnica e 2 - Do corpo expurgado ao
corpo cuidado. O relato demonstra a influência do imperativo estético feminino que
evidencia o modo de viver contemporâneo técnico e capitalista que, ao limitar os
modos-de-ser, apresenta-se correlacionado com a probabilidade de ocorrência dos
transtornos alimentares em cada sociedade. Sendo assim, através da pesquisa foi
possível demonstrar quais as consequências associadas à busca de uma imagem
pré-determinada imposta e validada culturalmente para atender aos padrões estéticos
e como tais exigências podem trazer sofrimento para as mulheres.

Palavras-chave: Transtornos alimentares; Saúde da mulher; Mídias sociais;


Fenomenologia; Psicologia.

1
Aluna do 10° período do Curso de Psicologia da Fundação Presidente Antônio Carlos de
Conselheiro Lafaiete – MG. E-mail: jessicarodriguees1486@gmail.com
2
Psicóloga, Profa. do curso de Psicologia da Fundação Presidente Antônio Carlos de Conselheiro
Lafaiete – MG. E-mail: julia.santos@unipac.br
1 INTRODUÇÃO

Desde a antiguidade, os indivíduos coabitam em uma sociedade onde o corpo


é cultuado e visto como o pilar da existência. Na Grécia Antiga, imagens de corpos
são consideradas precursoras do processo de corpolatria, ou seja, através das figuras
é possível compreender a abertura, na cultura ocidental, de um processo que visava
a perfeição corpórea (TURCHERMAN, 2004).
O lugar do corpo na sociedade, sua concepção na vida cotidiana, no imaginário
e na realidade foram se remodelando em consonância com o contexto histórico
vivenciado (Jacques Le Goff, 1924). Em qualquer período histórico, cultura e espaço,
a relação do homem com o mundo transcorre através e a partir de seu corpo. Assim,
é possível conceber o corpo como uma construção social e um refletor de tramas e
sentidos culturais (LE BRETON, 2006).
A ascensão industrial e capitalista presente no século XX elevou o
desenvolvimento técnico-científico, possibilitando um crescimento de procedimentos
e práticas direcionadas ao corpo (PAIM; STREY, 2004). Reflete-se, também, que em
uma sociedade capitalista, o corpo passa a ser compreendido de forma equivalente,
isto é, passa a ser alvo de investimento pessoal, um objeto de consumo, se
assemelhando a uma propriedade privada (Baudrillard, 2010). No transcorrer dos
anos, a idealização cultural resultou em transformações no corpo, haja visto que, o
avanço tecnológico viabiliza alterações constantes, propiciando uma espécie de
metamorfose, na qual o corpo ideal se apresenta como resultado dos procedimentos
disponíveis em cada época (COUTO, 2000).
Nas sociedades de consumo, a identidade se vincula cada vez mais a
produção de uma imagem e um modo de ser padronizada pelo mercado e, dessa
forma, o sujeito busca se reinventar com o propósito ilusório de ser aceito. Entretanto,
ao compreender que a indústria cultural visa aos lucros, é perceptível que são
desenvolvidas imagens irreais, por meio das quais um padrão inatingível é promovido
e sempre renovado com o objetivo de conquistar e abarcar diferentes grupos sociais
(BENJAMIN, 1995).
Em uma era marcada pela tecnologia, os indivíduos estão em constante
contato com um excesso de informações, sendo que essa transmissão ininterrupta
de dados, assume como uma das suas finalidade a criação de uma necessidade de
consumo amparada na sensação de pertencimento e bem-estar. A indústria cultural,
dessa forma, direciona-os aos seus interesses, trazendo a ilusão de estar
concedendo os desejos da grande massa (HORKHEIMER; ADORNO, 2002).
Partindo da compreensão de que a persuasão da imagem tem potencial para
influenciar como os indivíduos percebem a própria aparência, é possível captar como
o século XX ao combinar a indústria da moda, cosmética, Hollywood e da publicidade
foram cruciais para a construção de um ideal físico. Diante da conciliação das
indústrias, o uso da maquiagem foi incorporado pelas mulheres, bem como a
valorização do corpo esbelto e esguio (FEATHERSTONE, 1993).
O corpo feminino diante das mudanças socioculturais e com a evolução da
sociedade industrial, passou a ser concebido como um objeto manipulável, alvo de
uma padronização e uma forma de domínio por parte da sociedade dominante. As
mudanças provocadas pela evolução dos padrões estéticos resultam, muitas vezes,
em um formato de existência adaptativa. Desse modo, as mulheres não reconhecem
suas verdadeiras características e escolhas, tornando-se vulneráveis a perda de sua
singularidade (BORIS; CESÍDIO, 2007).
De acordo com a literatura, a imposição de um formato de existência foi
colocada para as mulheres, sua forma de agir, como devem se parecer e o formato
de seu corpo passaram a ser valorizados, contribuindo para criação e manutenção de
um modo objetificado de se perceber no mundo. Tal conceito, refere-se a análise de
um sujeito a nível de objeto, dominado pelo outro e suscetível a utilização. Desse
modo, a imagem da mulher é banalizada e reduzida (BORIS; CESÍDIO, 2007).
A dimensão do corpo da mulher é normalizada desde as primícias dos regimes
patriarcais e traz reflexos das mudanças sociais ao longo do tempo. O tamanho do
corpo da mulher, outrora, em períodos onde os alimentos eram insuficientes, era
proporcional à percepção do seu poder. Entretanto, nos dias atuais, a magreza
representa a autodisciplina e o sucesso, haja vista que, os alimentos ricos em
açúcares e gorduras são os que se apresentam de forma mais acessível. Assim
sendo, é possível perceber ainda que os cenários econômicos também influenciam
na modificação dos padrões estéticos (OLIVEIRA & HUTZ, 2010).
Dessa forma, fica evidente que as práticas alimentares estão correlacionadas
de forma direta aos padrões estéticos pré-determinados e que as mulheres,
predominantemente, sofrem implicações da problemática. Percebe-se que a
sociedade pós-moderna compreende o corpo feminino como um modelo
comprometido com a eterna busca de um corpo ideal imposto e validado
culturalmente. Neste contexto, o alcance do modelo corporal, predominantemente
magro, está ligado diretamente a uma promessa de felicidade e bem-estar
(VIGARELLO, 2012).
É perceptível que a utopia dos padrões de beleza presentes em cada
sociedade tem correlação com os transtornos apresentados, ou seja, quanto mais
irreal a padronização, maior a probabilidade de as mulheres terem o desenvolvimento
de transtornos alimentares impulsionado (OLIVEIRA & HUTZ, 2010). A busca
excessiva pelas formas ditas perfeitas tem, muitas vezes, como resultados a
insatisfação com o corpo, distorções da imagem corporal, sentimento de tristeza,
frustração e a disseminação de transtornos alimentares, reverberando na saúde
mental e física das mulheres.
Os transtornos relacionados à alimentação definem-se pela fobia da
inadequação do próprio corpo em razão de um modelo corporal pré-estabelecido
(Vianna, 2005). A busca pelos padrões utópicos de jovialidade e beleza engendra um
empenho farmacológico, sendo que por vezes, as mulheres fazem uso indiscriminado
dos inibidores de apetite (MELO & OLIVEIRA, 2011).
Dessa forma, a mulher é direcionada, através da pressão estética, ao
descontentamento em relação ao seu próprio corpo, recorrendo, assim, a
comportamentos que lesam seu próprio organismo (OLIVEIRA & HUTZ, 2010). A
personificação de bem-estar e sucesso está alicerçada ao padrão corporal
estabelecido socialmente, cujo corpo que não se adequa deverá sacrificar-se para se
encaixar, quando não, estará condenado ao desprezo e ao insucesso (SUENAGA,
2012). Dessa maneira, as imposições sobre o corpo feminino se potencializaram ao
nível de gerar a submissão de mulheres a procedimentos excessivamente agressivos
e invasivos (COELHO, 2013).
Nas últimas duas décadas, a prevalência dos Transtornos Alimentares
aumentou significativamente (GALMICHE et al., 2019), sendo que, de acordo com a
Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 4,7% dos brasileiros sofrem
transtornos alimentares (OMS, 2020). Os transtornos alimentares são caracterizados
como desvios do comportamento alimentar que podem ter como consequência o
emagrecimento excessivo, obesidade, desenvolvimento de incapacidades, além de
outras interferências físicas e psíquicas (CLAUDINO & BORGES, 2002).
Dentre as principais alterações existentes tem-se a bulimia nervosa e a
anorexia nervosa. A primeira caracteriza-se por episódios de excesso de apetite, na
qual o indivíduo experiencia sensações de perda de controle diante da ingestão de
alimentos de uma maneira muito rápida. Além disso, os episódios são marcados por
métodos compensatórios inadequados como vômitos induzidos, uso de
medicamentos como laxantes e/ou diuréticos de maneira abusiva, dietas restritivas e
abuso de cafeína, tendo como finalidade controlar ou reduzir o peso corporal. A
anorexia nervosa, por sua vez, apresenta-se como uma resistência à ingestão de
alimentos resultando em seu principal sintoma, a perda de peso exacerbada, sendo
essa em virtude de uma preocupação excedente com o aumento do peso. Desse
modo, tais transtornos levam o indivíduo a perseguição rigorosa de uma magreza
extrema (GRANDO et al., 2006).
Diante do exposto, é possível perceber a interferência social nas delimitações
do corpo feminino e no possível desenvolvimento de transtornos alimentares. Dentro
desse contexto, compreende-se que o corpo da mulher é subjugado aos olhares do
outro (VIGARELLO, 2012). Se outrora os corpos eram influenciados pelas obras de
artes e esculturas, na atualidade os padrões estéticos são definidos pelas mídias
sociais contemporâneas, estas se constituem enquanto um meio de comunicação
utilizado por determinada rede social, na qual, por vezes, visa-se promover o
consumo e a disseminação de regras (CIRIBELI; PAIVA, 2011).
Portanto, as mídias sociais estabelecem um novo modo de submeter-se ao
olhar alheio, perpassado pela necessidade de mostrar-se perfeito (VIGARELLO,
2012). Diante disso, o cotidiano transformou-se em um espetáculo online e as redes
sociais tornaram-se instrumentos ideais para que o indivíduo contemporâneo
interprete a suposta melhor versão de si mesmo, partindo de narrativas imagéticas
que se transformam em um palco onde é possível criar o “próprio eu”. Sendo assim,
a vida íntima passou a ser exibida incessantemente e os indivíduos passaram a criar
versões de si estimuladas pelo desejo de aprovação dos seus espectadores.
(SIBILIA, 2016).
A disseminação de imagens no Instagram, mídia social que oferece aos
usuários a oportunidade de compartilhar suas vidas através da publicação de imagens
e vídeos (BOWN; BRODERICK , 2017), propicia um espaço livre para a produção de
narrativas, sendo estas, por vezes, marcadas pela adulteração e efemeridade,
visando sustentar aparências irreais que tencionam legitimar-se como verídicas.
Mediante a isso, percebe-se a perda da autenticidade e o falseamento da realidade,
já que as imagens são passíveis de manipulação fotográfica (SANTAELLA, 2004).
Nesse contexto, Freitas (2016) compreende que a contemporaneidade vive na
sociedade da exposição, desse modo, as redes sociais se estruturam pela arquitetura
de visibilidade, permitindo que os indivíduos se mostrem e também sejam
observados.
Diante da sociedade de exposição sucedeu-se os denominados
influenciadores digitais. Estes se constituem enquanto indivíduos que se destacam
na internet, criando e distribuindo conteúdos diversificados, sendo capazes de,
através da sensação de proximidade construída, impactar no consumo e no
comportamento de seus seguidores, podendo ainda afetar a formação social de
muitos indivíduos, bem como participar de forma efetiva do processo de manutenção
ou resistência frente aos padrões socialmente construídos e vigentes no contexto
histórico contemporâneo (LOMADEE, 2018).
Todavia, ao considerarmos as mídias sociais como um instrumento de
interação social, captura de informação e troca, é possível perceber sua
potencialidade em educar, conscientizar e influenciar de maneira positiva a forma
como a sociedade se comporta (CUGLER; OLIVEIRA, 2015). Diante disso, os atores
que compõem essa rede têm como possibilidade utilizar o espaço virtual para um
discurso reflexivo e responsável sobre a relação com um corpo real, auxiliando no
rompimento das amarras sociais que certamente se tornam mais eficazes quando se
desenrolam coletivamente.
Sendo assim, é possível perceber, amparado em uma perspectiva teórica
fenomenológica existencial, que o modo de viver da sociedade contemporânea
apresenta-se de acordo com um modo técnico e capitalista, no qual a maneira como
o corpo foi tradicionalmente concebido já não é satisfatória para manifestar as
vivências atuais do homem em sua corporeidade (PRADO, 2012)
O modo contemporâneo de viver estimula uma dicotomia entre o ser e a
aparência, evidenciando uma relação fragmentada com o mundo. Desse modo, é
possível perceber uma vivência de modo inautêntico e ao invés de apresentar-se
como é, tem-se apenas uma aparência, revelando a incoerência entre o que se é e o
que se mostra. Sendo assim, fica evidente o laço de desunião íntima com o mundo e
a promoção de uma relação com o corpo que demonstra ser utilizado apenas como
coisa para ser exposta ao externo (PRADO, 2012).
Partindo desse pressuposto, entende-se que a forma de ser no mundo é
corporal, sendo esta manifestação transcendente aos aspectos biológicos,
contemplando esferas emocionais, sociais, culturais e espirituais. Dessa forma, cuidar
do corpo perpassa o cuidado do outro, do mundo, de si, ou seja, da existência em sua
totalidade (SILVA, 2006).
Dentro deste contexto, o corpo feminino é socialmente naturalizado por uma
ótica de corpo sem corporeidade, isto é, um corpo visto como doutrinado, algo pronto,
um objeto submetido às ordens impostas e que não possui em si o direito de viver e
expressar-se (ARENDT, 2001). Sendo assim, a mulher ocupa, por vezes, um lugar
dado pelo social e tem suas escolhas advindas de um eu encapsulado expresso pela
vivência impessoal.
Mediante a importância da temática e a crescente demanda no contexto atual,
nota-se que compreender como os padrões estéticos vigentes, reverberados nas
mídias sociais contemporâneas e mediados pelos influenciadores digitais, impactam
na saúde mental das mulheres é essencial para desmistificação dos estereótipos de
beleza ainda dominantes e para prevenir possíveis quadros psicopatológicos que
possam desencadear prejuízos de natureza psicológica, biológica e aumento de
morbidade e mortalidade da mulher. Vale salientar que, segundo critérios de dados
estabelecidos pela Associação Americana de Psiquiatria, esse transtorno ocorre em
0,5% a 3% da população mundial, sendo predominantemente em mulheres (90%)
(APA, 2013), se caracterizando como o terceiro transtorno mental mais comum no
sexo feminino (BJORK; AHLSTROM, 2008). Ademais, ao investigar o tópico em
questão, é possível contribuir com áreas científicas que buscam proporcionar às
mulheres uma visão crítica, auxiliando-as a libertação dos adoecimentos psíquicos
que as relações de dominação e poder podem ocasionar.
Diante disso, o objetivo do presente estudo foi compreender a experiência de
sofrimento atrelado à vivência de transtornos alimentares, mediante o relato de uma
influenciadora digital que assume como proposta de trabalho produzir conteúdo para
conscientização e crítica dos padrões idealizados do corpo feminino.
2 MÉTODO

2.1 Identificação pessoal


Jhenifer (nome fictício), 37 anos, do sexo feminino, casada, jornalista e
influenciadora digital, compartilha nas mídias sociais sua experiência corporal
perpassada pelo diagnóstico de anorexia nervosa e bulimia nervosa. Jhenifer
vivenciou desde muito nova a experiência da busca por enquadrar-se em um padrão,
relatando acreditar ter iniciado na infância. A experiência da exposição de seu corpo
foi precoce, durante a adolescência foi levada a participar de diversos concursos de
beleza, nos quais sentia-se em um julgamento público de sua aparência,
evidenciando a competição entre as mulheres e um imperativo estético que exaltava
a magreza extrema. Além disso, a imposição de um formato de existência era
claramente difundida, de forma que sua forma de agir, comportar-se e parecer-se
eram moldados por cursos de etiqueta, passarela e fotografia. Além disso, Jhenifer
contou com a presença de uma mãe que frequentava e transformou-se em uma
representante de grupos de emagrecimento, tornando-se uma pessoa que
constantemente expunha e cobrava comportamentos voltados para a manutenção de
um corpo magro. Diante disso, Jhenifer iniciou dietas aos doze anos, a restrição
alimentar levou-a à compulsão alimentar, refletindo em purgações e ocasionando
uma vivencia perpassada pelos transtornos alimentares perdurando por dezesseis
anos na vida da entrevistada.

2.2 Procedimentos e cuidados éticos

A etapa de entrevista deste estudo foi realizada por meio de uma entrevista
online cedida por uma influenciadora digital, realizada na plataforma de vídeo Google
Meet. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Faculdade de Psicologia da Fundação Presidente Antônio Carlos - FUPAC (Parecer
5.981.788). A participação da comunicadora foi voluntária e formalizada mediante a
assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
A discussão e reflexão teórica proposta foi construída através de um estudo
exploratório, justificando-se por seu objetivo de proporcionar uma maior familiaridade
com o problema, aperfeiçoando as ideias e tornando-o mais explícito (GIL, 2017).
Nesse sentido, a pesquisa estruturou-se segundo uma perspectiva qualitativa, na
medida em que se pretendeu compreender o fenômeno no contexto em que ocorre e
do qual faz parte, incluindo atravessamentos culturais, políticos, sociais e físicos,
abrangendo ainda os aspectos subjetivos, isto é, os significados atribuídos
individualmente diante da compreensão das situações e experiências do mundo
social (FIUZ et al., 2011).
A interpretação, discussão e compreensão do objeto em estudo deu-se com
amparo teórico da fenomenologia existencial, fomentando uma compreensão singular
do modo como o homem experiencia e dá sentido ao mundo, valorizando a maneira
idiossincrática de o indivíduo estar no mundo, interagir com ele, afetá-lo e ser afetado.
Sendo assim, diante do enquadre teórico proposto que compreende como fenômeno
tudo aquilo que se desvela ao sujeito, foi possível ir de encontro daquilo que se mostra
oculto à pesquisadora, objetivando não uma explicação causal, mas sim uma
compreensão (MARIUTTI et al., 2003).
A estratégia metodológica utilizada para elaborar o trabalho foi o estudo de
caso único, o qual permite o uso de instrumentos que favorecem a investigação do
tema com maior profundidade e detalhamento. De acordo com a literatura, o estudo
de caso caracteriza-se pelo estudo profundo e extenuante de um ou de poucos
objetos, proporcionando o seu conhecimento amplo, tarefa esta que não é
possibilitada por meio de outros tipos de delineamentos (GIL, 2009).
Nesta pesquisa foi utilizado como instrumento para a coleta de dados a
entrevista semiestruturada, gravada em áudio e posteriormente transcrita. Esse
modelo de entrevista privilegia a obtenção de informações através da fala individual,
permitindo o acesso às condições estruturais, as normas, símbolos e sistema de
valores expressos através de um porta-voz, isto é, um representante de determinado
grupo. Além disso, através da ferramenta selecionada o informante tem a
oportunidade de discorrer sobre suas experiências, a partir de um foco central
selecionado pelo pesquisador, ao mesmo tempo que possibilita respostas
espontâneas e livres do entrevistado (MINAYO,1994).
As questões norteadoras da entrevista semiestruturada foram: 1) De acordo
com sua percepção, quando você acredita que iniciou sua busca por um padrão
estético? E o que significava para você alcançá-lo? 2) Anteriormente, como era sua
relação com seu corpo? Você acredita que existiram influências para a sustentação
dessa forma de se perceber e relacionar-se consigo mesmo? 3) Quais foram as
implicações comportamentais, psicológicas e físicas diante da manutenção de uma
relação puramente estética com o corpo? 4) Você acredita que as mídias sociais
contemporâneas podem impactar a maneira como as mulheres se relacionam com o
próprio corpo e sua saúde mental? De que maneiras? 5) Qual o significado atual da
sua relação com o corpo e como foi possível estabelecê-la? 6) Como foi pra você
transformar um ambiente que aumenta, majoritariamente, o grau de insatisfação
corporal em um espaço de manifestação e conscientização do cuidado com a vida?
Qual o seu propósito? 7) Como você percebe o impacto da utilização das mídias
sociais contemporâneas diante do seu propósito?
Participou deste estudo de caso uma influenciadora digital que utiliza das redes
sociais como um ambiente de manifestação do cuidado com a vida e não somente
com a estética do corpo. A participante foi selecionada visto que sua história pessoal
perpassa a vivência de transtornos alimentares que impactaram sua saúde mental e
física. Desse modo, acredita-se que a participante apresenta uma oportunidade de
compreensão da implicação dos padrões estéticos à saúde da mulher, ademais
através do caso será possível a compreensão a respeito da ambivalência do uso das
redes sociais.
Para analisar os dados coletados na entrevista, utilizou-se a análise de
conteúdo que se caracteriza como uma coleção de técnicas de análise das
comunicações, com o propósito de alcançar por meio de procedimentos sistemáticos
e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores que possibilitem a
inferência de conhecimentos alusivos às condições de recepção e produção das
mesmas. Desse modo, através da análise de conteúdo objetivou-se a busca da
compreensão do pensamento do sujeito por meio do conteúdo expresso no texto, isto
é, fixa-se no conteúdo, sem fazer relações além deste, estabelecendo uma
concepção transparente de linguagem (BARDIN,1977).
O projeto de pesquisa contou com a avaliação do Comitê de Ética ligado ao
Centro Universitário Presidente Antônio Carlos (UNIPAC), que analisou os projetos
visando proteger os seres humanos sujeitos da pesquisa, especialmente da sua
integridade e dignidade. A participação da entrevistada foi voluntária e teve como
garantia a liberdade sem restrições de se recusar a participar, ou retirar seu
consentimento, em qualquer fase da pesquisa, sem que disso resultem quaisquer
tipos de consequências, além disso, o sigilo foi resguardado. A participante assinou o
Termo De Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), manifestando sua
concordância clara com a participação no estudo. Dentre os riscos pertinentes à
pesquisa, destaca-se o possível desconforto ao participar de uma entrevista que
rememora temas sensíveis vivenciados pela participante. Ademais, no que se refere
aos ganhos provenientes da participação na pesquisa salienta-se a contribuição
social e acadêmica acerca dos conhecimentos que serão gerados, possibilitando
futuros projetos de pesquisa e de intervenções relacionados ao tema.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Ser-mulher na era da técnica

Partindo do pressuposto teórico da fenomenologia existencial para construção


da análise da história de adoecimento de Jhenifer, é válido ressaltar que a
corporeidade refere-se a uma das características existenciais do Dasein, haja vista
que, é através do corpo que o Dasein é no mundo enquanto ser corporal. Dessa
forma, a patologia pode ser considerada como uma limitação em torno da
corporeidade (Teixeira, 2006).
O corpo é o meio de acesso ao mundo e o indivíduo compreendido como ser
lançado em um mundo onde convive, na maior parte do tempo, com outros Dasein.
Ter um corpo é também se abrir e ser constituído pelo meio onde se está inserido,
dessa forma o ser-no-mundo torna-se ser-com-o-outro (Merleau-Ponty, 1999).
Diante da ascensão capitalista presente no cenário contemporâneo percebe-
se a instauração da glorificação e supervalorização do corpo, sendo nesta conjuntura
visto como mercadoria. Por meio dos inúmeros instrumentos de comunicação,
tecnologia e publicidade o homem-consumidor passa a dominar o corpo, sendo este
portanto, passível de modelação, modificações, expandido ou emagrecido de acordo
com os imperativos de mundo, que por sua vez, são compreendidos, no senso
comum, como maneiras de promoção ao bem-estar e a saúde. Entretanto, na
realidade, se apresentam como modos de reforçar o sistema capitalista que visa a
produção e o consumo (MICHELAZZO, 2003).
Tendo em vista que o imperativo da beleza, por vezes, serve a um sistema
mercadológico, sempre há uma nova oferta para alcançar o padrão estético. Percebe-
se ainda que o imperativo citado, em sua maioria, atinge as mulheres, haja vista que,
para elas são direcionados a maioria dos anúncios e propagandas, tornando assim a
beleza um produto rentável e criando a falsa sensação de que alcançar o padrão irreal
é uma questão de escolha individual (BRAGA, 2016).
Em consonância com Heidegger (2008), o sistema capitalista que intervém,
explora e esgota recursos, consiste em um desdobramento da essência da técnica,
demarcando o modo de exploração e controle contemporâneo. Dessa forma, o modo
de estar no mundo e de relacionar-se são determinados, tendo em si o sentido
impessoal ‘do que todo mundo faz’. Diante disso, experiencia-se a segurança de
entregar-se em um modo de ser e comportar-se dado em seu horizonte histórico, haja
vista que, a técnica reduz o espaço para desvelamento do ser, estreitando as
possibilidades de mundo e produzindo determinações ao Dasein em relação ao que
ser e como ser (FEIJOO; DHEIN, 2014).
Diante da entrevista realizada, foi possível perceber no discurso de Jhenifer
como o significado de alcançar um “corpo perfeito” estava alicerçado a um desejo
socialmente construído e perpassado por uma narrativa repleta de direcionamentos
que reiteram a existência de um caminho “certo” para o alcance da felicidade e do
sucesso:
É adequação, é você estar dentro do que a sociedade considera como ideal.
Com essa ideia da estética magra, de você ter alguém que vai te amar, isso
vai te trazer felicidade, isso vai te trazer tudo o que você precisar, dinheiro,
amor, admiração, sucesso, né? Isso é vendido de uma forma tão forte, a
gente é bombardeado o tempo todo com essas imagens de ‘A magra,
sucesso’ tudo isso, né? Os comerciais de TV, comerciais de beleza, tudo,
tudo, tudo.

A partir do modo como Jhenifer aponta sua compreensão, é possível perceber


como ao estipular um percurso definitivo, a técnica a distrai de sua condição de
abertura, oferecendo-a respostas acabadas, substituindo-a em sua função de cuidado
com a existência (CASANOVA, 2006).
Portanto, ao considerarmos as condições supracitadas, na era da técnica
existe uma maior prevalência do acirramento do modo de ser impessoal. Ao relatar
como se relacionava com seu próprio corpo, Jhenifer destaca em sua fala uma
vivência inautêntica: É uma relação onde o meu corpo não era eu. Isso eu acho que
era o mais louco, tinha uma dissociação assim, na verdade, nem eu era eu.
O relato de Jhenifer evidencia o fato de que ao ser lançada em um mundo onde
desde o nascimento o indivíduo é coagido e convocado para ser um qualquer dos
outros, aprende-se um modo inautêntico de ser que indica a falta de consciência sobre
si. Nesse âmbito, acaba-se por não distinguir as maneiras de pensar e agir que lhe
são próprias. Desse modo, a decadência do ser é provocada, haja vista que, a partir
do momento em que o ser passa a se posicionar fora do sentido que lhe é mais
próprio, passa a vivenciar sua existência de modo impessoal (CRITELLI, 1996).
Nas palavras de Heidegger (1996, p.179), “[n]este espaçamento constitutivo
do ser-com reside, porém, o fato de o Dasein, enquanto convivência cotidiana, estar
sob a tutela dos outros. Não é ele próprio que é, os outros tomam-lhe o ser”. Nesse
aspecto, é possível compreender como as determinações e o estreitamento de
possibilidades causadas pela era da técnica tornam-se umas das mediadoras no
processo de constituição da impessoalização do dasein.
O imperativo imprescindível presente no transtorno relacionado à alimentação
volta-se ao “ser magra”, relacionando-se ainda com os ideais que o cercam como ‘ser
magra significa ser amada’, ‘ser magra é ser bonita’, ‘ser magra trará sucesso’, dentre
outros que são amplamente difundidos. Dessa forma, percebe-se que esses
imperativos tornam-se tramas que se entrelaçam de um modo que podem acabar por
limitar os modos-de-ser (DORR, 2015).
Sendo assim, as patologias são compreendidas como uma modulação do
existir, nas quais o modo de ser-saudável está perturbado, implicando em uma perda
de liberdade para a realização da corporeidade. Considerando que o Dasein é um
ser-no-mundo pode-se pensar nos transtornos existenciais relacionados à
alimentação como associados a uma limitação em torno da corporeidade
(CARDINALLI, 2004).
Jhenifer, desde de muito nova percebeu no impessoal, o imperativo de que seu
corpo era inadequado:

Iniciou na infância, né? Como a maioria das mulheres, acredito. A gente,


infelizmente, vive numa sociedade onde isso está muito presente o tempo
todo, né? E tive como umas das grandes influências a minha mãe. Comer
certinho, comer saudável, manter o peso, manter um corpo magro, era uma
medida de sucesso dentro da minha casa.

Diante do relato, percebe-se o início precoce da presença dos imperativos do


mundo na vida de Jhenifer, estreitando sua existência em torno da questão do corpo,
em especial da magreza, desenvolvendo alguns dos transtornos existenciais
relacionados à alimentação, bulimia nervosa e anorexia nervosa. Além disso, é
possível identificar em sua relação familiar algo demarcado na literatura, isto é, a
bulimia é permeada por configurações familiares que evidenciam a presença de uma
mãe firme e, por vezes, intrusiva. Jhenifer aponta que a relação da mãe com o próprio
corpo, entendendo o emagrecimento e a manutenção da forma magra como medida
de sucesso influenciou em sua relação com seu próprio corpo (MOURA et al., 2015).
Ao esclarecer sobre a influência percebida, Jhenifer relata sobre o percurso
profissional de sua mãe que, ao participar de um grupo de emagrecimento percebeu,
segundo a entrevistada, uma oportunidade de emancipação financeira e de enxergar-
se enquanto capaz frente a uma nova possibilidade de trabalho que significava uma
mudança importante em sua vida. Entretanto, Jhenifer cita como isso ressoou em sua
vida:

Isso levou ela a ser uma pessoa que falava muito nesse tema e que era muito
preocupada com isso. Então assim, eles tinham a metodologia deles, era de
comer de cinco em cinco horas e não comer entre as refeições, e aí era meio
que uma coisa assim de: ‘olha como eu sou forte, olha como eu suporto’.
Tipo ‘não, não, eu não como nada entre as refeições’, e isso era uma medida
de sucesso na minha casa. Tudo isso aconteceu ao mesmo tempo, ali na
minha pré-adolescência. Mais tarde, eu fui entender essa relação da minha
mãe com o corpo dela e como tinha me afetado, então acho que foi um fator
também muito importante no desenvolvimento do transtorno alimentar.

Em outra fala de Jhenifer é possível perceber de uma forma ainda mais nítida
como a entrevistada significou todos esses acontecimentos ao longo de sua pré-
adolescência:

Lembro de ter escrito, sei lá pra escola, na aula de redação onde eu tinha
que escrever uma história de sucesso, e eu escrevi a história da minha mãe,
da aluna que emagreceu e virou professora. Então assim, por mais que na
minha casa até fosse valorizado o estudo, enfim, a inteligência e o esforço,
os afetos são muito fortes quando a gente fala da estética.

É válido salientar que, cada Dasein compreenderá os imperativos de uma


forma singular e em geral estes são assumidos e não são postos em questão. De
acordo com a literatura as psicopatologias se relacionam com a realização de
escolhas não autênticas. Dessa forma, o Dasein existe sob uma dependência das
expectativas do mundo e o impessoal, por meio da imposição midiática e da família,
funciona como uma pressão para o Dasein manter-se no modo impróprio de existir
(TEIXEIRA, 2006).
Vale ressaltar que, é possível perceber no relato de Jhenifer que mesmo ao
passar dos anos e da superação do transtorno alimentar, o imperativo estético segue
vigente em sua vida de outras formas:

Se eu passar algumas horas olhando o TikTok e olhando o Instagram, vendo


muito vídeo, eu começo a encontrar um monte de coisas que eu acho que
está errado na minha casa, em mim, no cabelo, no meu corpo, na decoração,
no jeito que eu lavo a roupa.

Jhenifer relata ainda sobre a necessidade percebida por ela, por vezes, de ter
consigo um observador externo que a alerte quando sua relação com o corpo tende
a dar indícios da época quando vivenciava os transtornos alimentares:

Até hoje é uma coisa que, obviamente, já é muito diferente, né? Mas que às
vezes eu me pego fazendo. Assim, por exemplo, eu tenho que prestar muita
atenção pra, tipo se eu erro, sei lá, se eu faço uma coisa que eu não gostaria
de ter feito, não deveria ter feito assim. É de falar: ‘mas que burra que eu sou
sabe’ e o meu marido, ele pega muito mais isso do que eu, assim eu, porque
às vezes, eu falo no automático, e ele fala: “Para... porque você tá falando
isso? Você não é burra, é um erro normal, acontece”. Mas é uma coisa que
as vezes, eu ainda preciso de uma voz externa, um observador externo para
me olhar e falar, porque essa relação foi assim durante mais da metade da
minha vida.

Portanto, observa-se que a questão corporal perpassada pelo desejo a


magreza não é mais um ideal que aprisiona seu modo-de-estar-no-mundo, entretanto
os imperativos do mundo impessoal da era da técnica, em partes, seguem pautando
seu modo-de-ser mesmo diante da assunção de uma responsabilização autêntica
pelo existir.

3.2 Do corpo expurgado ao corpo cuidado

Para a maioria das pessoas, seu valor pessoal resulta da maneira como
compreendem o seu desempenho em diversas áreas que consideram importantes.
Entretanto, no caso particular dos indivíduos que vivenciam os transtornos
alimentares, o sucesso em outras áreas é menosprezado (FAIRBURN, 1985),
Jhenifer relata:

Se tudo tivesse mal, mas eu conseguisse ficar magra, eu ficava bem. Sabe,
era assim: “Ah, o resto eu resolvo”, mas se as duas estivessem ruins e ainda
por cima eu tivesse engordando, aí era: “Eu sou um lixo mesmo! Nossa, não
presto para nada. Nossa, eu não consigo, nem pra isso eu não presto, nem
pra controlar minha boca”.
Desse modo, é possível perceber que as diversas áreas da vida de Jhenifer
eram desvalorizadas em detrimento de uma autoavaliação pessoal que tinha como
base a capacidade de controlar os comportamentos relacionados à manutenção do
corpo magro e de uma dieta restritiva. Ademais, é possível perceber no relato de
Jhenifer a tentativa da busca de um controle e uma interpretação de saúde advinda da
era da técnica: Já que eu não posso controlar nada, o meu corpo eu posso controlar,
eu vou fazer o que eu posso que é: “Eu vou ficar magra”.
Na sociedade contemporânea a compreensão de saúde se dá por uma
interpretação associada à ideia de adequação social. Além disso, percebe-se na
atualidade uma emergência que afirma o modo calculante do projeto de vida. O
indivíduo calcula, mede, domina e determina, não refletindo sobre o sentido
estabelecido a tudo que existe no mundo (DANTES et al., 2013).
Além disso, diante da fala de Jhenifer é possível perceber o uso da
possibilidade de modelar o corpo, diante da impossibilidade de controlar os outros
aspectos que a atravessavam. Tais ilusões de controle limitam a condição do indivíduo
em modos de abertura, isto é, na condição de estar aberto às possibilidades de ser.
Dessa forma, o impessoal desponta como fonte de facilitação e familiarização.
O ser vê-se desobrigado do peso de sua própria existência. Todavia, embora o mundo
ofereça tutela à vida e às decisões, o indivíduo é sempre responsável pela sua própria
existência. Portanto, o impessoal uniformiza as relações de forma fechada e
simplificada, sendo que a surpresa e o estranhamento não encontram espaço,
concedendo a ideia de que algo “é de todo mundo”, mas que ao mesmo tempo “não é
ninguém” (DANTES et al., 2013).
Ao longo da entrevista Jhenifer expôs como era a relação que ela mantinha
com o próprio corpo e os inúmeros sofrimentos vivenciados:

Acho que era uma relação abusiva, né? Me levava a tomar atitudes
autodestrutivas e nocivas. Eu fui uma pessoa que, além do transtorno
alimentar e de assim, de privar muito meu corpo, de tomar muito diurético,
laxante, tudo isso, né? Enfim, meu corpo estava todo descompensado. Sem
vitaminas, fiquei sem menstruar por mais de 2 anos, eu também usei muitas
drogas na adolescência, né? Então assim, eu levei o meu corpo muito ao
extremo. Eu comecei a perceber que não bastava, eu achava que eu queria
chegar naquele corpo, aí eu cheguei naquele corpo, e aí, tipo, eu não estava
feliz. Eu estava mais insegura ainda.

A bulimia nervosa possui como característica o desejo irresistível pela comida


e uma preocupação persistente que leva o sujeito a tentar neutralizar os efeitos do
ganho de peso gerado pelo consumo dos alimentos. São empenhados
comportamentos compensatórios, como os vômitos auto-induzidos, uso de laxantes,
jejuns e exercícios excessivos (APA, 2003). Jhenifer, utilizava-se de inúmeros métodos
de compensação, sendo eles purgativos ou não. A utilização desses meios rápidos e
eficazes para a manutenção ou perda de peso evidencia características da atualidade,
onde busca-se uma resolução instantânea para as insatisfações.
Além disso, Jhenifer relata como percebia a possibilidade de perder o corpo
que ela tentava manter: A possibilidade de perder aquele corpo era aterrorizante,
então, eu ficava assim, muito brava e eu virava um furacão de raiva se eu não
conseguisse ir para a academia, por exemplo, era algo insalubre, insustentável. O
medo intenso de engordar é uma característica da anorexia nervosa e provoca
perturbações na forma de vivenciar o peso, levando o sujeito a desenvolver ideias
intrusivas sobre a imposição de um baixo limiar de peso para si (APA, 2003).
Diante de todas as situações limites as quais Jhenifer expôs seu corpo, a
entrevistada aponta:

Olha, tudo que eu passei e eu não morri e sinceramente, eu não sei como,
eu levei o meu corpo muito ao extremo. Então, uma coisa que eu penso é,
caraca, tipo, a gente é feito para sobreviver, sabe? Assim como esse corpo
deu conta de tudo que eu fiz com ele, sabe, assim como ele aguentou firme
lá, até que eu conseguisse melhorar e me tratar.

É válido salientar que, ainda que diante de um mundo que parece estar
garantido pelo controle técnico, a angústia emerge e através dela a possibilidade de
ser autêntico surge. Dessa forma, a existência se constrói diante do horizonte de
possibilidades que se mostra ao homem, evidenciando que todo homem é um projeto
de vir-a-ser. Diante disso, é possível perceber que Jhenifer busca atribuir um novo
sentido a sua relação com o corpo, compreendendo que a relação anteriormente
mantida tornava-se insustentável, no sentido em que ao destruir seu corpo, destruía
sua própria existência. A vista disso, Jhenifer aponta como foi seu processo de
ressignificação:

Foi um longo processo, passar a me respeitar como pessoa completa


independente do meu corpo, não ter mais aquela relação de ódio foi um
processo longo e com ajuda de dez anos de terapia, porque daí eu comecei
a ver o meu corpo como parte de mim e não aquela coisa separada. Foi bem
pouco a pouco, várias etapas, para chegar a entender, de conseguir olhar
pra mim e para os meus erros e falar: “Putz, calma lá, não precisa ser
perfeita”. Então hoje eu trato meu corpo com respeito, eu tento fazer na
medida do possível, tudo que eu posso para que ele seja o mais saudável
possível e sem restrições.

Diante da angústia é possibilitado ao homem uma abertura na ampliação do


horizonte de sentido, na medida em que rompe com suas referências de sentido
anteriores, proporcionando a tomada de consciência de que está sempre aberto às
possibilidades de ser e aproximando-o da possibilidade de introdução de novos
significados, refletindo em uma relação mais livre com o mundo. Desse modo, a
angústia torna-se uma disposição mobilizadora (BRAGA; FARINHA, 2017). Portanto,
é possível pensar que talvez Jhenifer estivesse no modo impessoal e, apropriando-se
dessa sua condição, construindo e começando a habitar seu corpo, possa ter se
aproximado, em um dado momento, das maneiras de pensar e agir que lhe são
próprias. Sendo assim, Jhenifer conseguiu enxergar e abrir novas possibilidades de
existir diante de seu corpo e do mundo.
O Dasein é como um projeto próprio, isto é, responsável por suas escolhas,
afirmando, dessa forma, seu dever de ser enquanto existente no mundo, sendo assim,
poder ser. Nessa perspectiva, a vida pode ser compreendida como criação de sentidos
e os acontecimentos que alteram o projeto, responsabilidade dos indivíduos. Jhenifer,
ao abrir novas possibilidades de existir diante do mundo e de seu corpo deu novos
significados a sua existência, viabilizando novas formas de enfrentar seus sofrimentos
(BRAGA; FARINHA, 2017). Diante disso, a entrevistada percebeu a possibilidade de
compartilhar nas redes sociais suas reflexões e vivências em relação ao seu
tratamento referente aos transtornos alimentares:

Foi outro processo orgânico, eu nunca tinha pensado em criar o perfil para
falar disso, aquele era o meu perfil pessoal e o que aconteceu foi que durante
o meu processo de terapia foram surgindo reflexões e eu comecei a falar,
sem nenhuma intenção a não ser parar de viver sozinha com isso, e aí eu
recebi muitas mensagens de pessoas falando que se identificavam e que
também passavam por isso.

A tomada de consciência de que outras pessoas talvez possuam


características comportamentais, conflitos ou problemas similares relaciona-se a um
fator terapêutico, Jhenifer expõem:

Então, assim, coisas que eu achava que eram muito minhas, que eu achava
que era bizarro e que eu era muito louca, e que eu era muito bizarra, você
começa a falar com outras pessoas e percebe que as pessoas fazem igual.
Descobri que não é que você está sendo super bizarra, me fez muito bem.
Eu também comecei a tratar isso de uma forma natural e contar para as
pessoas como era.

Diante da fala de Jhenifer, é possível perceber que compartilhar suas


experiências e perceber a identificação de seu público facilitou o rompimento do
isolamento vivido. A sensação provocada por perceber outras pessoas em estados
similares é de alívio, podendo ainda reduzir os estigmas sociais, propiciando
acolhimento entre os pares (SCORSOLINI et al., 2010).
Perante o discurso da entrevistada, é possível perceber que além de sentir-se
amparada frente a identificação das mulheres que acompanhavam suas publicações,
a entrevistada mobilizou-se diante da possibilidade de exercer cuidado para os outros:

Eu recebo mensagens diárias de pessoas que foram procurar ajuda. Ainda


se tem um tabu sobre esse assunto, tem muita vergonha relacionada a isso.
Então a partir do momento que eu estava bem, eu passei a naturalizar os
sintomas, do que é um transtorno alimentar, de que tem tratamento e é o que
eu acho que tem mais impacto nas pessoas.

O projeto de vida espelha as relações com o mundo circundante, seja nos


espaços sociais ou perante ao mundo próprio e, ao compartilhar experiências,
objetivos e projetos em seu contexto sociocultural, o homem é chamado a construir
sua própria história vivencial. Dessa forma, mesmo que perante a uma sociedade
permeada pelo individualismo, é possível perceber que, muitas das vezes, as
projeções de futuro que permeiam o projeto de vida trazem a presença de outros,
traduzindo as possibilidades do existir humano em sociedade, contexto em que o
projeto é visto de modo adaptável diante das transformações vivenciadas de âmbito
coletivo e individual (FROTA; BIÃO, 2011). Portanto, observa-se que Jhenifer ao
alterar a forma de relacionar-se com o próprio corpo e passar a exercer um cuidado
para si, mobilizou seu projeto de vida, vislumbrando a possibilidade de utilizar as
mídias sociais como um veículo de promoção do cuidado com o outro, onde o espaço
virtual foi utilizado para o discurso reflexivo e responsável sobre a relação com um
corpo real, auxiliando no rompimento das amarras dos direcionamentos sociais que
certamente se tornam mais eficazes quando se desenrolam coletivamente.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante de uma sociedade em que o lugar do corpo se remodela em


consonância com o contexto histórico vivenciado, concebe-se o corpo como uma
construção social e refletor de tramas e sentidos culturais. A ascensão industrial e
capitalista propiciaram avanços tecnológicos e viabilizaram alterações corporais
constantes, haja vista que, o corpo ideal apresenta-se como resultado disponível em
cada época e associa-se a uma necessidade de consumo que se ampara na
sensação de pertencimento e bem estar. Dessa forma, a indústria cultural direciona
os indivíduos aos seus interesses de consumo, trazendo a ilusão de estar
concedendo-os desejos.
Amparado em uma perspectiva fenomenológica existencial, é possível
compreender que o modo de viver contemporâneo apresenta-se de acordo com um
modo técnico e capitalista, estimulando a dicotomia entre o ser e a aparência. E nesse
contexto, o corpo feminino passa a ser concebido como um objeto manipulável e
socialmente naturalizado por uma ótica de corpo sem corporeidade, onde sua
dimensão é normatizada, um formato de existência é imposto e suas escolhas
refletem um “eu” encapsulado. Sendo assim, a mulher é direcionada através da
pressão estética ao descontentamento com o próprio corpo, desvelando a
possibilidade do surgimento dos transtornos alimentares, haja vista que, estes
possuem correlação direta com as utopias impostas pelos imperativos estéticos.
A vista disso, a pesquisa buscou posicionar o leitor o mais próximo possível do
fenômeno dos transtornos alimentares, objetivando apreender aquilo que se mostrou
na experiência da participante do estudo.
É perceptível que o imperativo da beleza feminina ditado pelo impessoal
perpassa uma narrativa que reitera a existência de um percurso definitivo, podendo
ocasionar uma restrição de sentidos, onde a mulher passa a acreditar que a beleza
relaciona-se somente com a aparência maciçamente veiculada. Diante de um
caminho com respostas acabadas, a técnica prevalece e o modo de ser impessoal
desponta substituindo-a no cuidado com a própria existência e evidenciando um
aprisionamento do modo-de-ser autêntico.
Diante do projeto de fabricação de si mesma, Jhenifer buscava ser reconhecida
como bonita e bem-sucedida por meio da busca pelo corpo magro. Percebe-se que
foi necessário que a participante interviesse na forma natural de seu corpo para
enquadrar-se nos ditames do impessoal, levando-a a estreitar a sua existência em
torno da questão do corpo magro e a desenvolver transtornos existenciais
relacionados à alimentação. Além disso, observou-se na entrevistada a
desvalorização das inúmeras áreas da vida em detrimento de uma autoavaliação
baseada na capacidade de manter um corpo padronizado, confirmando os achados
presentes na literatura.
Foi possível identificar as ilusões propiciadas pela tentativa de modelar o
corpo diante da impossibilidade de controlar outros aspectos que a atravessavam,
limitando-a à sua condição de estar aberta às possibilidades de ser. Entretanto, diante
aos inúmeros sofrimentos vivenciados, a angústia despontou como disposição
mobilizadora, proporcionando a tomada de consciência de estar sempre aberta às
possibilidades, aproximando-a da possibilidade de introdução de novos significados.
Diante da apropriação de sua condição de estar no modo impessoal, a
entrevistada aproximou-se em um dado momento das maneiras de pensar e agir que
lhe são mais próprias, enxergando novas possibilidades de existir diante de seu corpo
e do mundo, produzindo novos significados a sua existência. Dessa forma, a
entrevistada percebeu a possibilidade de compartilhar nas redes sociais suas
reflexões e vivências em relação ao seu tratamento referente aos transtornos
alimentares.
Por fim, observou-se que ao alterar a forma de relacionar-se com o próprio
corpo e passar a exercer cuidado para si, a entrevistada mobilizou seu projeto de
vida, vislumbrando a possibilidade de utilizar as mídias sociais como um veículo de
promoção do cuidado com o outro, onde o espaço virtual passou a ser utilizado para
o discurso reflexivo e responsável sobre a relação com um corpo real. Sendo assim,
através da pesquisa foi possível demonstrar quais as consequências associadas à
busca de uma imagem pré-determinada imposta e validada culturalmente para
atender aos padrões estéticos e como tais exigências podem trazer sofrimento para
as mulheres.
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7 ANEXO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO


Título da Pesquisa: Impactos da pressão estética na saúde mental da mulher
Pesquisador Responsável: Prof. Júlia Loren dos Santos Rodrigues – Tel.: (31) 991326627
Pesquisador Auxiliar: Jéssica Cristina Rodrigues – Tel.: (31) 982120047
Instituição Responsável: Centro Universitário Presidente Antônio Carlos (UNIPAC)
Contato: Prof. Júlia Loren – Curso de Psicologia – UNIPAC Conselheiro Lafaiete.
Rodovia MG 482, Km 3, Conselheiro Lafaiete – MG, CEP 36402-115. Tel.: (31) 3769-4000
Comitê de ética: Esse projeto de pesquisa foi avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética ligado ao Centro
Universitário Presidente Antônio Carlos (UNIPAC), que analisa os projetos de pesquisa desenvolvidos por seus
alunos e professores, visando a proteger os seres humanos sujeitos da pesquisa, especialmente na defesa da sua
integridade e dignidade.
Endereço: Rodovia MG 338, Km 12 - Colônia Rodrigo Silva, Reitoria, Sala 01 – Barbacena, CEP 36201-143
E-mail para contato: cep_barbacena@unipac.br
Telefone: (32) 3339-4994 - Atendimento de segunda a sexta-feira de 15h às 19h.
Prezada,
Convidamos você para esta pesquisa que pretende compreender como os padrões estéticos vigentes, alicerçados
ao uso das mídias sociais e mediados pelos influenciadores digitais, impactam a saúde mental da mulher. Tais
informações podem ser úteis para possibilitar futuros projetos de pesquisa e de intervenção relacionados ao tema.
Gostaríamos de convidá-lo(a) a participar dessa pesquisa através de uma entrevista semiestruturada que será
gravada e, posteriormente, analisada pela equipe de pesquisa. O tempo médio de duração da participação é
estimado em uma hora. Afirmamos que em todas as etapas da pesquisa será garantida a confidencialidade dos
seus dados. Está-lhe garantida também a liberdade sem restrições de se recusar a participar ou retirar o seu
consentimento, em qualquer fase da pesquisa, sem que disso resultem quaisquer tipos de consequências.
Entendemos que a pesquisa pode produzir alguns riscos como desconforto ao rememorar temas sensíveis
vivenciados por você. Todavia, salientamos que todos os cuidados serão realizados para que você não tenha
quaisquer prejuízos em decorrência da participação. Caso ocorra algum inconveniente em decorrência da sua
participação, estaremos à disposição para auxiliá-lo na resolução e/ou reparação, incluindo para isso a oferta de
atendimento psicológico gratuito por um profissional diferente daquele que conduziu a pesquisa. Os dados obtidos
com essa entrevista serão utilizados exclusivamente para os fins desta pesquisa e elaboração de projetos de
intervenção vinculados ao Curso de Psicologia da UNIPAC de Conselheiro Lafaiete. Todos os produtos gerados
por essa entrevista (áudios e transcrições) ficarão armazenados por um período mínimo de 02 anos, sob inteira
responsabilidade do professor responsável por essa pesquisa. As transcrições e arquivos contendo as gravações
serão destruídos após esse período. Informamos também que a sua participação tem caráter voluntário e não
resultará em qualquer tipo de ressarcimento ou remuneração.
Eu ______________________________________________________(nome do participante), RG
__________________________, Órgão Emissor ________, declaro ter COMPREENDIDO as informações
prestadas neste Termo, DECIDO conceder a entrevista solicitada e AUTORIZO sua utilização no Projeto de
Pesquisa intitulado “Impactos da pressão estética na saúde mental da mulher ”.

Estando de acordo, assinam o presente Termo de Consentimento em 2 (duas) vias.

__________________________________ ______________________________________
Participante Pesquisador Auxiliar
______________________________________
Pesquisador Responsável
Conselheiro Lafaiete/MG, ________ de ____________________________ de 2023.

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