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Fundação de Nova York: a história dos 23

brasileiros que participaram da sua fundação


por Simone Tagliani

Milhares de turistas brasileiros vão à Nova York todos os anos e nem


imaginam que a história do nosso país possui ligações com a história da
fundação desta cidade e com a triste saga dos judeus em busca de um novo
mundo para viver em paz, com liberdade religiosa.

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Nova York é uma das maiores e mais bonitas cidades do mundo, visitada
por milhares de turistas todos os anos. Quem a conhece sabe o quanto ela é cosmopolita, revelando
uma incrível mistura de culturas que a torna completamente especial! Aliás, existe uma comunidade
muito grande de brasileiros que habita este município. Mas você sabia que o Brasil também esteve
envolvido na história da fundação dessa metrópole? Exatamente! Continue lendo para saber mais!

Nova York hoje – imagem de Visite os USA

A triste história dos judeus pelo mundo


Sim, em Nova York vivem muitos brasileiros. Mas essa cidade também possui uma grande
comunidade judaica, a maior depois de Tel Aviv, em Israel. Descendentes dessa cultura religiosa
monoteísta somariam cerca de 2 milhões na região. Visitando o cemitério da comunidade, é possível
encontrar lápides antigas de famílias com sobrenomes como Cardoso, Seixas e Fonseca. Estes seriam
representantes dos 23 judeus saídos do Brasil que chegaram à grande colônia britânica no ano de 1654.
Mas é claro que essa história não começa por aí!

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Imagem O cemitério judeus Nova York – imagem de


Brazilian Times

No período da Inquisição Europeia, por volta de


1500, muitos judeus viviam em Portugal e na
Espanha. A perseguição dos cristãos a esse povo
aumentava cada vez mais e muitos decidiram
atravessar o oceano em busca de um novo mundo
para viver em paz. Os judeus eram grandes
navegadores e a coroa viu vantagem nisto, pensando
na colonização das suas terras. E à eles foram, então, prometidas terras no nordeste brasileiro, em troca
de que se converterem ao catolicismo – coisa que eles jamais fizeram, claro.

Inquisição Europa – imagem de Youtube

Chegada dos judeus ao Brasil

Em 1630, 67 navios holandeses chegaram à


costa brasileira – mais precisamente na
região do litoral de Pernambuco – em busca
de açúcar e pau-brasil – um acordo feito com
a Coroa Portuguesa. Os holandeses
trouxeram consigo centenas de judeus que
eram especialistas no refino de açúcar e
fluentes em português, por terem morado em Portugal. Nessa época, até mesmo os brasileiros ficaram
animados, vendo neste acontecimento a possibilidade de uma maior liberdade religiosa na Colônia.

Enquanto esses judeus passaram a moraram no Brasil, a cidade de Recife foi redesenhada. A sabedoria
desse povo ajudou no planejamento de canais, drenos, palácios, diques e jardins. O problema é que a
Coroa Portuguesa continuava pressionando para que eles assumissem uma nova religião, a católica.
Depois de 24 anos, Portugal retomou totalmente o controle de Pernambuco e deu um ultimato aos
judeus para que saíssem do território em um prazo de 4 meses, ou teriam que lidar com a Inquisição.
No pavor, muitos seguiram rumo ao sertão, outros preferiram entrar em barcos e fugir.

judeus no Brasil – imagem de Genera

A ida dos judeus brasileiros para Nova York


“Muitos de nós foram mortos, outros pereceram à
míngua; Sobramos poucos, mesmo assim, expostos
às humilhações. Os que estavam habituados a
comer à mesa de ouro, davam-se felizes por um
pedaço de pão seco e bolorento, num ambiente
agitado.”

– relato do rabino Isaac Aboab da Fonseca na


época da expulsão dos judeus de Pernambuco.

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Não demorou muito para os judeus que ainda viviam no território de Pernambuco, no ano de 1654,
resolvessem escapar de vez da pressão portuguesa. A maioria preferiu seguir pelo mar, indo em
direção às Antilhas, que eram dominadas pelos holandeses. Mas teve aqueles que preferiram voltar os
seus navios para Amsterdã.

Piratas – imagem de Colégio Web

A viagem seria longa e no meio do caminho


eles ainda encontraram um bando de piratas
que destruíram a sua embarcação. Muitos
morreram. Já os 23 sobreviventes – duas
viúvas, 4 casais e 13 crianças – foram
resgatados por uma embarcação francesa que
determinou que os levaria até a ilha mais
próxima. Quando chegaram à Jamaica
entenderam que poderiam ser julgados pela Inquisição. Então, eles continuaram no navio até o seu
destino final, que ironicamente era a Nova Amsterdã, hoje conhecida como Nova York.

Nova York antiga – imagem de Viajento

Chegada dos judeus em Nova York

Os 23 judeus brasileiros que chegaram a Nova


York estavam livres da inquisição, mas não foram
recebidos muito bem. O governo local não queria
que eles desembarcassem do navio. Mas um
acordo comercial foi feito com os bens dos judeus
– incluindo algumas mudas de pau-brasil -, que
foram leiloados para que eles pudessem ficar sob a
condição de não manter qualquer tipo de negócio
ou praticar cultos judaicos na cidade – fora que
não haveria nenhum auxílio financeiro.

A situação desses 23 judeus só começou a mudar depois que muitos outros judeus vindos da Europa e
até da Jamaica, fugidos da Inquisição, passaram a desembarcar em Nova Amsterdã. Em 1664, quando
a cidade já estava dominada pelos ingleses, eles já tiveram a permissão de ter a sua primeira sinagoga.
Com o tempo, também abriram as suas próprias empresas – muitas ligadas às atividades da Companhia
das Índias Ocidentais. Seus descendentes foram se multiplicando e ajudaram a povoar a região,
posteriormente se espalhando pelo resto dos Estados Unidos.

Sinagoga Nova York – imagem de Pinterest

Os descendentes diretos ou indiretos desses


judeus brasileiros teriam, portanto, uma
grande importância para a história de Nova
York. Um deles seria Benjamin Mendes,
nascido no ano de 1748, fundador da Bolsa
de Nova York. A presença dos judeus
também está evidente em outros símbolos
desta cidade, como na Estátua da Liberdade
– mas este é um tema para outro artigo.

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