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O CUMPRIMENTO ANTITÍPICO DAS FESTAS DO OUTONO

Por César B. Rien

Apocalipse 1:10, no aramaico, contém a expressão YOMÁ D'KHAD


B’SHÁBA (manuscrito Crawford, John Rylands Library of Manchester, na Inglaterra),
que traduzido é: "primeiro do sétimo". João não estava se referindo ao primeiro dia
da semana, como erradamente consta em algumas Bíblias, onde se faz traduzir
como domingo.

Tampouco se refere ao Dia do Juízo, como a tradução grega KURIAKE


HEMERA induz a pensar. Mas também não era o Sábado, como a tradução DIA DO
SENHOR pode induzir. Quem traduziu essa expressão aramaica para o grego não
tinha noção de como a estrutura literária do Apocalipse está totalmente montada
sobre o significado profético das Festas do Outono, porque são elas que apontam
para o 2º Advento do Redentor Jesus Cristo. Sir Isaac Newton estudou com profun-
didade o Apocalipse. Leiamos suas explicações:

“A Páscoa dos judeus estava relacionada ao Primeiro Advento de Cristo, e


as festas do sétimo mês ao Seu Segundo Advento. Como Seu Primeiro Advento
ocorreu antes desta Profecia ter sido dada, [o Apocalipse] faz alusão somente às
festas do sétimo mês.”
“No primeiro dia daquele mês, pela manhã, o Sumo Sacerdote preparava
as lâmpadas: e em alusão a isso, esta Profecia começa com uma visão de alguém à
semelhança do Filho do Homem vestindo o traje do Sumo Sacerdote, aparecendo
como se estivesse no meio de sete castiçais de ouro, ou no meio deles, preparando
as lâmpadas, que aparecem como uma vara de sete estrelas na sua mão direita: e
esta preparação foi executada através do envio de sete Epístolas aos Anjos ou
Bispos das sete Igrejas da Ásia, que nos tempos primitivos iluminavam o Templo ou
Igreja... Estas Epístolas contêm admoestações contra a aproximação da apostasia,
e por isso se relacionam aos tempos quando a apostasia começou a agir
fortemente, e antes que ela prevalecesse. Ela começou a agir durante os dias dos
Apóstolos, e devia continuar agindo até que o homem do pecado fosse revelado.” –
Sir Isaac Newton, http://ww.blueletter-bible.org/commentaries/comm_view.cfm?
AuthorID=11& contentID=3164&commInfo=10&topic=Daniel%20and%20Revelation

Dentro desse contexto, "primeiro do sétimo" é melhor traduzido como


sendo o 1º dia do 7º mês, que é o Dia das Trombetas (YOM TERUÁ). Ali, Jesus está
fazendo a demonstração a João de como o Dia das Trombetas se cumpre nEle,
motivo pelo qual Sua voz soa aos ouvidos de João como uma TROMBETA (Apo.
1:10 e 4:1). Não esqueçamos que os tipos proféticos das Festas do Senhor de Lev.
23 sempre apontam para o Messias de Israel (Jesus) e Sua Obra Salvífica. Assim,
então, ao aparecer em visão a João no DIA DAS TROMBETAS, o Senhor Jesus
está demonstrando para Seu Povo de que forma essa festa profética se cumpre
nEle. Esse é o cumprimento cristológico do Dia das Trombetas, porque o YOM
TERUÁ é a primeira das Festas do Outono. Desta forma, o Salvador ressurreto e
glorificado, tendo reassumido todas as prerrogativas de Sua Divindade, mostra-nos,
através do relato de João, que no Dia das Trombetas antitípico foi dado início ao
cumprimento do significado profético dessa festa prefigurativa. O YOM TERUÁ
inaugura o período do JUÍZO ESCATOLÓGICO, que vai do dia 1º do 7º mês
(TISHRI) até o dia 10 (YOM KIPUR) desse mesmo mês do calendário religioso
judaico. Assim, o Juízo é inaugurado no DIA DAS TROMBETAS e é consumado no
YOM KIPUR (DIA DA EXPIAÇÃO), quando será fechada a Porta da Graça.
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Isso não significa que o Juízo escatológico tenha acabado 10 dias após a
visão dada a João. Nada disso! Ali, na Ilha de Patmos, no Dia das Trombetas
daquele ano, foi inaugurado o início do período do Juízo escatológico. Por esse
motivo, o Apocalipse nos mostra a existência de SETE TROMBETAS que anunciam
a aproximação inexorável do DIA DO JUÍZO FINAL.

Como há um período de 7 meses entre a Páscoa e a Festa dos Taberná-


culos e como Deus ordenou a Moisés que fizesse soar a trombeta no início de cada
mês (lua nova), assim as SETE TROMBETAS do Apocalipse assinalam o período de
transição entre os eventos ocorridos por ocasião do 1º ADVENTO, na Primavera, e
os eventos que apontam para o 2º ADVENTO, prefigurados pelos tipos do Outono.
O 7º mês do Calendário Judaico anuncia o início do Outono no Hemisfério Norte.
Portanto, a sétima trombeta deve soar no 7º mês, sendo que o 1º dia desse mês é o
DIA DAS TROMBETAS. Leiamos o que Sir Isaac Newton afirma sobre isso:

"Então a sétima trombeta anuncia o Dia do Juízo." (in As Profecias do


Apocalipse e o Livro de Daniel - As Raízes do Código da Bíblia, 1ª Edição Integral
em Língua Portuguesa, Editora Pensamento, São Paulo, 2008, pág. 194.)

Esse grande cientista completou sua obra científica até os 24 anos de


idade, passando, após, a dedicar o restante de sua vida ao estudo de Daniel e
Apocalipse. Passados quase 2000 anos da visão em Patmos, estamos aguardando
a finalização desse período, que ocorrerá infalivelmente no Dia do Perdão (Dia da
Expiação), com o fechamento da Porta da Graça, dando início às 7 últimas pragas,
as quais representam a inauguração da execução da sentença desse Juízo sobre os
ímpios, por haverem rejeitado a Salvação pela Graça e a Justificação mediante a fé
em Cristo, comprados para nós pelo Sangue de Jesus. Leiamos, agora, a explicação
do Rabino André Chouraqui sobre o Dia da Expiação:

"Yom kipur, o Dia das Expiações, dez dias depois [do yom Teruá],
constitui o grande sabá do ano - um jejum austero que prefigura o Juízo de
Deus." (in Os Homens da Bíblia, Editora Schwarcz Ltda., RJ, 1990, p. 128).

A Salvação é pela Graça, mediante a fé, mas o critério do Juízo são as


obras (1ª Ped. 1:17 e Apo. 22:12), porque elas revelam o caráter do crente (Ecl.
12:13-14). Por tal motivo, os que aceitam a Justificação pela Fé e a Redenção
Eterna são vistos no Apocalipse com vestiduras brancas, pois lavaram o caráter e o
alvejaram no Sangue do Cordeiro, ou seja, aceitaram a Graça dos efeitos salvíficos
do Sangue de Jesus derramado em favor deles na Cruz do Calvário (1ª João 1:7,
Heb. 9:14 e 10:22, Apo. 7;14 e 22:14), e foram aceitos como membros da Aliança.

Para eles, a Festa dos Tabernáculos (Apo. 7:9-15) representa a apropria-


ção do galardão que o Senhor Jesus lhes concederá como recompensa pela fideli-
dade à Aliança e pela obediência à Torá. Por isso eles são apontados no Apo-
calipse como "os que guardam os mandamentos de Deus e têm a Fé de Jesus"
(Apo. 14:12). Essa declaração do Apocalipse é a declaração de Justificação, porque
Justificar é declarar que o crente é aceito como membro da Aliança. Nessa festa é
celebrada a Remissão (=REDENÇÃO ETERNA), em cumprimento à ordenança da
Torá (Deu. 31:10 e 12). Leiamos uma interpretação teológica da menção que o
Profeta Zacarias faz a essa festa:
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"Zacarias 14:16-19 olha para uma celebração escatológica da Festa dos


Tabernáculos. Tempo virá quando todos os gentios se juntarão a Israel participando
neste festival e adorarão a Deus... Zacarias defende a idéia de que os gentios
têm que se identificar com Israel em sua libertação e peregrinação." (Garret,
Duane A., in Baker's Evangelical Dictionary of Biblical Theology, published by Baker
Book House Company, Grand Rapids, Michigan, USA. Topic: Feasts and Festivals of
Israel.)

Ora, todos cremos que Zacarias foi inspirado por Deus ao escrever seu
livro. Portanto, Zacarias está expressando a Vontade de Deus no sentido de que
nós gentios façamos como Israel e também celebremos a Festa dos Taberná-
culos em nossas congregações. A interpretação teológica, acima, está plena-
mente afinada com o fato de que antes do 2º Advento é essencial ocorrer a res-
tauração de todas as coisas (Atos 3:20-21). Paulo explica isso melhor em Rom. 11:
11-29. Esse plano está sendo sabotado pelo inimigo de Cristo, que leva os crentes a
imaginar que "tudo foi abolido na cruz", para contradizer a afirmação do próprio Je-
sus quando declarou:

"Não penseis que Eu vim abolir a Torá, não vim para abolir, mas para
cumprir. Em verdade vos digo que não passará um "i" ou um "til" da Torá até que
tudo se cumpra" . - Mat. 5:17-19.

A cena de triunfo sobre o mal está registrada em Apo. 7:9-15, onde a


multidão é vista com folhas de palmeiras nas mãos celebrando a Festa dos
Tabernáculos diante do Trono do Cordeiro (comparar com Lev. 23:40, no que se
refere ao uso das folhas de palmeiras). O cientista Sir Isaac Newton, mais uma vez,
vem para nos ajudar:

"Os sete dias dessa festa eram chamados a Festa dos Tabernáculos.
Nesse período, os filhos de Israel habitavam em tendas e se regozijavam com
folhas de palmeiras nas mãos. A isso alude a grande multidão (...) com palmas
nas mãos (Apo. 7:9) e que aparece depois de selados os 144 mil..." (op. cit., pág.
218).

E ainda:

"Pois a solenidade do grande Hosana era realizada pelos judeus no


sétimo e último dia da Festa dos Tabernáculos. Naquele dia, os judeus levavam
palmas nas mãos, cantando Hosana." (idem, pág. 191).

E mais:

"O Templo é o cenário das visões, e as visões no Templo (Santuário)


estão relacionadas às festas do sétimo mês, pois as festas dos judeus eram
tipologias das coisas por vir. A Páscoa referia-se à Primeira Vinda de Cristo, e as
festas do sétimo mês referem-se a Sua Segunda Vinda. Como Sua Primeira
Vinda ocorreu muito tempo antes desta profecia ter sido feita, há aqui [no Apocali-
pse] referências apenas às festas do sétimo mês." (ibidem, pág. 183/184).

Quem não se aprofunda em conhecer a Torá pensa que a afirmação de


que os salvos carregam palmas nas mãos se refere à flor palma. Isso é simplesmen-
te uma distorção do verdadeiro significado, porque as folhas de palmeira simbolizam
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a vitória final de Cristo e dos salvos, ao mesmo tempo que celebram a realeza de
YHWH.

Deste modo, o Apocalipse deixa muito claro que o cumprimento da


tipologia das Festas do Outono ainda vai se cumprir em nosso futuro. Ora, se ainda
não se cumpriu, como pode, então, ter sido abolido? A menção à palavra
Tabernáculo, em Apo. 7:15, dá prova do cumprimento escatológico dessa festa.
Então ela não foi abolida por Jesus, apesar da insistência de alguns.

Vemos, assim, que a função do Apocalipse é fazer a demonstração do


cumprimento antitípico da tipologia das Festas do Outono, porque são elas que
apontam para o Glorioso 2º Advento do Messias de Israel, o nosso amoroso e
bendito Salvador Jesus Cristo. Portanto, as Festas do Outono estão em plena
vigência para os cristãos e através do Profeta Zacarias o Senhor Jesus nos orienta a
observarmos essa festividade assim como Israel o faz.

Infelizmente, porém, preferimos ouvir explicações filosóficas para descul-


par nossa negligência em cumprir este mandamento de Deus, o qual o Senhor
Jesus não aboliu. Assim a obediência de nós requerida pelo Pai, como sinal de
nosso amor a Ele em resposta a Sua Graça Maravilhosa acaba ficando prejudicada,
como o inimigo gosta. É lamentável isso! Meditemos nessas impressionantes cenas
do Apocalipse. MARANATA!

A OBEDIÊNCIA COMO RESPOSTA À GRAÇA DE DEUS

Nesta época de ciência e racionalidade, o homem se afasta cada vez mais


do seu Criador. A obediência a Deus tornou-se algo descartável. A incredulidade
aumenta dentro das igrejas cristãs. Porém, nos planos de Deus, a obediência
ainda é essencial. Para entendermos o assunto, primeiro precisamos entender a
Aliança. Para esse fim, vou transcrever a explicação de um estudioso cristão:

“Deus fez seis Alianças com o Homem: a Aliança Noética, a Abraâmica, a


Mosaica, a Israelita, a Davídica e a Renovada. E nenhuma das Alianças prévias foi
cumprida em nós, contudo, Deus ordenou que Seu povo guardasse Suas Alianças,
e cada Aliança tinha seus benefícios peculiares. Na Aliança Noética, por exemplo,
Deus prometeu ao homem que Ele não destruiria a Terra novamente (Gen. 9:9). Na
Abraâmica, Deus prometeu a Abraão uma Aliança Eterna – uma terra específica
(Gen. 15:18), a terra de Israel da qual Ele mesmo fixou as fronteiras. Na Aliança
Mosaica (Êxo. 19:5), Deus deu ao Seu povo, Israel, a Torá na qual Ele escreveu as
fronteiras éticas. Na quarta Aliança (Deu. 28-30), Deus advertiu Israel sobre as
bênçãos e maldições que emergem da Aliança Mosaica. Na Aliança Davídica, a
quinta Aliança, Deus prometeu ao Rei Davi um Reino Eterno sob o governo do Rei
Yeshua (Jesus).
...
“A estratégia de Deus é restaurar o Jardim do Éden com um ‘segundo
Adão’, o Noivo que se casa com uma ‘segunda Eva’ – sua Noiva... Os dois reinarão
como Rei e Rainha sobre um Reino Eterno, um reino sediado numa terra onde a
Sua ordem moral agora governa suprema. A Aliança Noética fornece a segurança
dentro daquela ordem. Como sua Noiva, nós já não devemos nos interessar pela
destruição futura, a auto-aniquilação. A Aliança de Noé está agora em vigor sobre a
Terra. Não há mais medo de o homem destruir seu vizinho. O que os políticos
não puderam
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oferecer (paz na Terra) a Aliança Renovada oferece e cumpre. A Aliança Abraâmica


dá ao Rei e à Rainha uma terra. A Aliança Israelita oferece as bênçãos da paz e da
prosperidade. A Aliança Mosaica fornece as fronteiras morais do Seu Reino
com a lei e a ordem. E, finalmente, a Aliança Davídica promete ao Rei e à Rainha
um Reino que desta vez é eterno, porque nunca passará.”
...
... As bênçãos e benefícios anteriores não podem ser espiritualizados. A
natureza destas Alianças restauradas não permitirá isso. Jesus Cristo morreu na
cruz para restaurar estas cinco Alianças. E os benefícios das Alianças são tanto
temporais quanto espirituais.
...
De acordo com Jeremias 31:31-37, Heb. 10:16,17 e Romanos 11, como
crentes em Jesus Cristo, nós nos tornamos ‘cidadãos de Israel’ enxertados na
árvore judaica de Romanos 11. Novamente – esta não é uma Aliança ‘nova’. É um
compêndio das cinco Alianças anteriores.
Porém, é nova no sentido de uma coisa que é completamente desconhe-
cida. Jesus Cristo, fazendo morada no crente, não só instrui o crente relativamente à
Torá, mas Ele cumpre essas instruções no crente. Ele ordena, e então provê o
poder para ser cumprido o mandamento.” (Lynn Ridenhour, in Entrando na Aliança
Renovada, no site http://www.greaterthings.com/Ridenhour).

A Aliança, então, é o casamento entre Deus e Seu Povo, enquanto que a


Torá é o contrato de casamento. Agora precisamos entender melhor o que é Torá.
Para isso, citarei outro teólogo cristão:

“Nunca foi pretendido que a relação de Israel com Deus fosse uma
questão privada entre eles e Deus. Israel foi chamado para morar naquele mundo
maior de tal modo que as pessoas fora da comunidade da fé pudessem ver como a
comunidade [de Deus] vivia sua vida transformada, e ver naquele estilo de vida o
caráter do Deus para o qual Israel estava respondendo. A Torá vivida como uma
resposta à Graça Divina era o testemunho de Israel para o mundo de um Deus que
estava disposto a entrar em relacionamento pessoal com os seres humanos.
“Então, o legislar de Israel era de um tipo diferente do que simplesmente
fazer leis. O fazer leis de Israel era uma aplicação dinâmica da Torá numa comuni-
dade de fé viva que responde a um Deus Vivo... A Torá de YHWH era o fundamento
do fazer lei, uma manifestação de Sua Graça; a Torá era a resposta de Israel
àquela Graça.
...
“A comunidade tinha que ensinar a Torá; quer dizer tinha que ensinar às
pessoas, especialmente às crianças, a história da formação da comunidade
por um Deus amoroso, para prover princípios e valores...
...
“Um coração voltado para Deus vai procurar aprender Torá como a
influência orientadora de Deus, a Luz de Deus brilhará no caminho da vida, e a voz
de Deus será ouvida...” (Dennis Bratcher, in Torá como Santificação: A “Lei” do
Velho Testamento como Resposta à Graça Divina, Um Estudo Apresentado à
Trigésima Reunião Anual da Sociedade Teológica Wesleyana, Dayton, Ohio, 5 de
novembro de 1994).

Com essas duas citações, nos foi possível perceber a relação direta que
existe entre a Aliança e a Torá (Rom. 1:5 e 16:26). Precisamos, agora, encontrar na
Bíblia o fundamento para crer que a Aliança não seria revogada ou abolida:
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“As obras das Suas mãos são verdade e juízo; fiéis todos os seus precei-
tos. Permanecem firmes para todo o sempre; instituídos em verdade e retidão. En-
viou ao Seu povo a Redenção; estabeleceu para sempre a Sua Aliança; santo e
tremendo é o Seu Nome. O temor do Senhor é o princípio da sabedoria; bom enten-
dimento têm todos os que lhe obedecem...” – Sal. 111:7-10.

Neste texto bíblico Deus faz uma ligação teológica entre a Redenção, a
Aliança, os mandamentos (preceitos) e a obediência. Quais são os mandamentos a
que se refere o Salmo 111? Com certeza não são apenas os Dez Mandamentos,
porque a Aliança produziu um contrato, a Torá, e a Torá não contém apenas Dez
Mandamentos. Certamente estão incluídos aí os mandamentos de Deus para serem
observadas as Festas Anuais, porque a Redenção passada ocorreu pela libertação
de Israel do cativeiro do Egito na Páscoa. A Redenção presente, que é a libertação
do cativeiro sob o pecado foi trazida a nós por Cristo na Páscoa. Porém, a
Redenção futura, conforme o Apocalipse, ocorrerá em cumprimento dos tipos
proféticos das Festas do Outono porque são elas que apontam para o 2ª ADVENTO.
Se a Redenção passada foi a libertação do cativeiro físico e a Redenção presente é
a libertação do cativeiro espiritual ao pecado, então o que é a Redenção futura? A
Redenção futura é a libertação do cativeiro da morte, quando, então, todos
receberemos a Vida Eterna por ocasião do 2º Avento do Messias Jesus (1ª Cor.
15:26 e 50-54).

Embora a função sacrifical das festas anuais tenha sido cumprida em


definitivo por Cristo na cruz do Calvário e, embora a função profética das Festas da
Primavera tenha sido cumprida quando o tipo encontrou o antítipo em Cristo, a
função memorial dessas festas não foi abolida. Como o Apocalipse nos mostra que
o 2ª ADVENTO vai se cumprir no futuro, então, a função profética e a função
memorial das Festas do Outono ainda estão em vigência para a igreja hoje.

A obediência às ordenanças da Torá é requerida por Deus como sen-


do aquilo que Ele quer de nós em resposta a Sua Graça Maravilhosa. Então não
basta guardar apenas os Dez Mandamentos ou o Sábado, “ porque qualquer que
guardar toda a Torá, e tropeçar em um só ponto, torna-se culpado de todos“ (Tiago
2:10).

Essa é a fidelidade à Aliança requerida por Deus de Sua igreja, a qual


somos nós mesmos e não uma instituição denominacional registrada em cartório e
autorizada pelo governo a existir e a funcionar em todo o território nacional. A igreja
somos nós, os seres humanos individuais que aceitamos a Cristo como nosso
Salvador pessoal. Nós é quem devemos ser fiéis à Aliança e praticar as ordenanças
da Torá, mesmo que a instituição não seja fiel à Aliança. Isso inclui, é claro, celebrar
a função memorial das festas anuais, porque a função memorial é estatuto
perpétuo (Deu. 6:20-25; Êxo. 12:13-14; Lev. 23:41), assim como o Sábado (Êxo.
31:16). Isso é consequência de Deus ser sempre coerente consigo mesmo, como
ensinam as Escrituras:

“Porque Eu, o Senhor, não mudo; por isso vós, ó filhos de Jacó, não sois
consumidos.” – Mal. 3:6.

“Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai
das luzes, em quem não há variação nem sombra de mudança.” - Tia.1:17.
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“Não violarei a Minha Aliança, nem modificarei o que os Meus lábios


proferiram.” - Sal.89:34.

Leiamos outra explicação teológica sobre a Aliança:

“Não se trata de nova no sentido de outra, diferente, como uma


leitura apressada do texto pode dar a entender. Não há modificação da Aliança
firmada por Deus com os pais (entendendo-se aqui que o texto se refere à Aliança
do Sinai, pela mediação de Moisés); ela nem sequer é chamada de antiga. Trata-se
da mesma Aliança, única, eterna, fruto da iniciativa da Graça de Deus. Não se
altera sua base, que é o Amor salvador e perdoador de Deus. Nem se altera Seu
conteúdo: trata-se das mesmas leis, da mesma Torá, expressão da Vontade de
Deus, que não muda.” (Rev. Paulo Severino da Silva Filho, in Uma Nova Aliança –
Meditação sobre Jeremias 31:31-34. Seminário Teológico Presbiteriano Reverendo
Ashbel Green Simonton).

Aos poucos, alguns teólogos corajosos estão afirmando que Jesus não
extinguiu a Aliança de Deus com Seu povo, para fazer algo novo ou diferente. Não!
Jesus não veio abolir, porque Ele veio para cumprir e para dar maior luz sobre a
Aliança para que Seu povo não pereça por falta de conhecimento.

Para aumentar nosso conhecimento, a fim de não perecermos por falta


dele, devemos conhecer o sentido de “justificação” do ponto de vista bíblico. O
conceito de “justificação” de que falo é diferente do conceito de Lutero e que se
espalhou por todas as denominações cristãs. Leiamos a opinião de outro teólogo
cristão:

“A ‘justiça’ divina (que é a fidelidade de Deus à Aliança) enfaticamente não


é a mesma ‘justiça’ que seres humanos têm quando são declarados membros da
Aliança... Na corte de justiça hebraica, o juiz não dá, não concede, não imputa nem
transfere ‘sua própria justiça’ ao réu. Isso significaria que se considerou que o juiz
conduziu o caso imparcialmente, de acordo com a lei, puniu o pecado e vindicou os
inocentes indefesos. ‘Justificação’, é claro, não significa nada disso. ‘Justiça’ não é
uma qualidade ou substância que pode ser assim passada ou transferida do juiz pa-
ra o réu. A justiça do juiz é o próprio caráter, status e atividade do juiz e demonstra-
da nessas várias coisas. A justiça dos réus é o status que eles possuem quando a
corte se decidiu em seu favor. Nada mais, nada menos. Quando traduzimos estas
categorias forenses de volta em seu contexto teológico, o da Aliança, o ponto per-
manece fundamental: fidelidade Divina à Aliança não é a mesma coisa que a par-
ticipação [do homem] na Aliança. O fato da mesma palavra (dikaiosyne) ser usada
para ambas as idéias indica o relacionamento recíproco e próximo entre elas, não
sua igualdade.
...
“Justificação” não é, para Paulo, “como as pessoas entram na aliança”,
mas a declaração de que certas pessoas já estão dentro da aliança. É a doutrina
que diz (cf. Gl 2:16-21 com Rm 14:1-15:13) que aqueles que acreditam no evange-
lho cristão pertencem, juntos, à mesma mesa. É a base para a unidade da igreja,
ultrapassando barreiras raciais, pelo que Paulo lutou tão duramente.” (N. T. Wright,
in Romanos e a Teologia de Paulo, originalmente publicado em Pauline Theology,
Volume III, ed. David M. Hay & E. Elizabeth Johnson, 1995, 30-67, Minneapolis: For-
tress).
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A partir desse conceito, então, podemos perceber que o Tribunal de Deus


deve passar uma sentença favorável a nosso respeito. E essa sentença deve ser
expressada de forma a ficar evidente que somos fiéis na obediência a todos os
preceitos da Torá, que é o contrato da Aliança. Leiamos o que Moisés pede a Israel:

“Estes, pois, são os mandamentos, os estatutos e os juízos que mandou o


Senhor teu Deus se te ensinassem, para que cumprisses na terra a que passas a
possuir; para que temas ao Senhor teu Deus, e guardes todos os seus estatutos e
mandamentos, que eu te ordeno, tu e teu filho, e o filho de teu filho, todos os dias da
tua vida...”
“Será por nós justiça, quando tivermos cuidado de cumprir todos es-
tes mandamentos perante o Senhor nosso Deus, como nos tem ordenado.” – Deu.
6:1, 2 e 25.

Eis, aí, o motivo de Paulo haver falado sobre a necessidade de obediência


antes de falar sobre a justificação pela fé (Rom. 1:5), e também logo após haver
falado sobre ela, antes de concluir a carta aos crentes de Roma (Rom. 16:26). A
obediência é essencial para que o Tribunal de Deus nos dê uma sentença favorável,
declarando que fomos aceitos para participar da Aliança com Deus. E onde na Bíblia
posso encontrar essa declaração? Leiamos a Palavra do Senhor:

“Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os mandamen-


tos de Deus [porque praticam a Torá] e têm a fé de Jesus.” – Apo. 14:12.

Portanto, o Apocalipse não está falando apenas dos Dez Mandamentos ou


daqueles que só guardam o Sábado, “porque qualquer que guardar toda a Torá, e
tropeçar em um só ponto, torna-se culpado de todos“ (Tiago 2:10).

Nosso Sumo Sacerdote e Mediador Jesus Cristo não pode mentir. Então,
Ele não dará uma sentença favorável de participantes da Aliança para aqueles
que odeiam a Torá e não querem obedecer a todos os preceitos que Jesus não
aboliu na Cruz do Calvário. Isso porque a obediência é requerida por Deus como
sendo nossa resposta a Ele por Se haver revelado a nós e por nos haver concedido
Sua Graça e tão Grandiosa Redenção (Rom. 1:5 e 16:26).

Agora, leiamos a opinião dos teólogos adventistas que prepararam a Lição


da Escola Sabatina do 1º trimestre de 1989:

“Quando o Senhor organizou a Israel como nação, no Sinai, Ele não so-
mente lhes entregou o Sábado, mas proveu também vários dias religiosos no siste-
ma cerimonial para manter bem vívidos na memória deles os Seus atos salvífi-
cos na história passada desse povo. Ao mesmo tempo, esses ritos prefigurariam a
salvação definitiva por meio do Messias vindouro.” – Levítico e Vida, 1989, pág. 82.

“Apocalipse 7:9 e 10 apresenta o Povo de Deus celebrando a Festa dos


Tabernáculos no Santuário Celestial, diante do Trono de Deus. Eles têm folhas de
palmeiras nas mãos – uma prática muito comum durante a celebração dessa
festa. Louvam a Deus pela maior de todas as bênçãos: a Salvação Eterna (verso
10)... e eles podem celebrar a vitória do Cordeiro sobre as forças do mal.” –
Hardinge, Leslie & Holbrook, Frank. Levítico e Vida, Lição da Escola Sabatina nº
373, 1º trimestre de 1989, pág. 91.
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O que o Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia tem a dizer sobre


isso?

“No Dia da Expiação, o povo devia afligir sua alma. Na Festa dos
Tabernáculos, devia regozijar-se. Era a ocasião mais feliz do ano... Neste sentido,
representava profeticamente o momento quando se realizará a grande colheita
do Povo de Deus...” – Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, Tomo I, pág.
820.

E o que Ellen White tem a dizer sobre isso?

“A Festa dos Tabernáculos não era apenas comemorativa, mas, também,


típica. Não somente apontava para a peregrinação no deserto, mas, como festa da
ceifa, celebrava a colheita dos frutos da terra, e indicava... o Grande Dia da
Colheita Final, em que o Senhor da seara enviará os Seus ceifeiros a ajuntar o joio
em feixes para o fogo, e a colher o trigo para o Seu Celeiro.” - Patriarcas e Profetas,
pág. 579.

“Em cada época há novo desenvolvimento da Verdade, uma mensagem


de Deus para essa geração.” – Parábolas de Jesus, pág. 127.

“Bom seria que o Povo de Deus na atualidade tivesse uma Festa dos
Tabernáculos – uma jubilosa comemoração das bênçãos de Deus a eles. Assim
como os filhos de Israel celebravam o livramento que Deus operara a seus pais, e
sua miraculosa preservação por parte dEle durante suas jornadas depois de saírem
do Egito, devemos nós com gratidão recordar-nos dos vários meios que Ele
ideou para nos tirar do mundo, e das trevas do erro, para a preciosa Luz de Sua
Graça e Verdade.” – Patriarcas e Profetas, págs. 540 e 541.

O que está faltando, agora? Agora está faltando coragem para ensinar ao
Povo de Deus que não basta guardar os Dez Mandamentos e o Sábado. Também é
preciso guardar os outros itens da Aliança que não foram abolidos. E esses itens
estão todos registrados na Torá de Deus. Inclusive a necessidade de guardar a
Festas do Senhor de Lev. 23, excetuando-se os sacrifícios de animais, que na
Epístola aos Hebreus é demonstrado terem sido substituídos por um sacrifício mais
perfeito cujo efeito é eterno e suficiente, não necessitando ser repetido diariamente,
como eram os sacrifícios de animais. Aqueles sacrifícios não tinham poder para
purificar do pecado as nossas consciências, enquanto que o perfeito e eficaz Sacri-
fício oferecido por Cristo, sim, tem poder para purificar nossas consciências de todo
o pecado. Amém!

Também não é mais necessário ir a Jerusalém, para celebrar as Festas do


Senhor. Quando o Profeta Zacarias explicou que os povos e nações deviam ir até
Jerusalém para celebrar a Festa dos Tabernáculos (Zac. 14:16-19), ainda existia o
Templo terrestre. Agora, porém, não existe mais o Templo terrestre, porque ele foi
substituído pelo Santuário Celestial, onde Jesus ministra em nosso favor como Su-
mo Sacerdote duma ordem sacerdotal superior à ordem de Arão, que é a ordem as-
cerdotal de Melquisedeque. Portanto, devemos celebrar as Festas do Senhor em
nossas próprias congregações.
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AS FESTAS PROFÉTICAS E A IGREJA DE CRISTO

Primeiramente, vamos esclarecer sobre o uso de diferentes palavras no


grego para significar Lei. Na verdade, todas essas palavras significam a mesma
coisa: Torá. A tradução do grego para idiomas modernos é que traduziu Torá como
lei. Mas vamos às palavras: NOMOS = TORÁ, flexionada em NOMOI, é o plural
(leis), flexionada em NOMOU = da TORÁ (da lei), flexionada em NOMON = a TORÁ
(a lei). Ex.: UPO NOMON = sob a TORÁ (sob a lei). Na verdade, a Bíblia não faz
distinção entre Lei Cerimonial, Leis Civis, Leis Dietéticas, Leis Morais. Tudo fica
subentendido dentro da palavra TORÁ.

Por quê a TORÁ foi dada a Israel? Para ensinar o Povo de Deus a como
fazer para manter um relacionamento com Ele. Deus havia libertado Seu Povo da
escravidão no Egito unicamente por Sua Graça. O povo não havia feito absoluta-
mente nada para merecer isso. A TORÁ, então, tem a finalidade de ensinar ao povo
como responder de forma jovial e voluntária a essa Graça Maravilhosa. E a obediên-
cia aos preceitos e a fidelidade à Aliança eram as formas de como o povo devia
retribuir em amor ao seu Libertador, e de como manter e sustentar esse relaciona-
mento. E deviam fazer tudo isso sem esculpir nenhuma imagem desse Deus Único.

Quem fez, então, a distinção entre lei e lei? Certamente foram os teólogos
que fizeram essa distinção, unicamente para fins didáticos, porque na Bíblia não
existe essa distinção. Por quê a Bíblia não faz essa distinção? Porque o Novo Testa-
mento não tem a finalidade de abolir a Torá, nem os livros sapienciais (Salmos, Pro-
vérbios, Eclesiastes), nem veio para abolir os livros dos profetas. Na verdade, os
Apóstolos de Cristo são totalmente dependentes do Antigo Testamento para trans-
mitir para nós o ensino de como praticar corretamente a Torá. O próprio Jesus
nunca deixou de usar a Torá e os Salmos e os Profetas em Seus ensinos.

Precisamos remover de nossa mente a idéia errada de que Jesus veio


para destruir o Antigo Testamento e para inventar algo novo. Ele nunca fez isso. Se
Jesus tivesse abolido o Antigo Testamento ou a Torá, os Apóstolos não poderiam
usar esses textos para embasar o ensino à igreja. O Evangelho que deve ser pre-
gado a todas as nações é chamado de Evangelho Eterno, no Apocalipse (Apo. 14:
6). Então, esse Evangelho Eterno não é algo que foi inventado por Jesus ou que
surgiu a partir do 1º Advento. O Evangelho Eterno é algo que existe desde antes da
fundação do Mundo, quando o Filho e o Pai esboçaram o Plano da Salvação, anteci-
pando-se à queda do homem, antes de Adão ser criado. Esse Evangelho já estava
esboçado na TORÁ (Gên. 15:6; Lev. 19:18 e 34; Deu. 11:1; Deu. 10:16-19).

O que havia sido predito por Jeremias (Jer. 31:31-33) era a necessidade
de uma Aliança Renovada. Não era, portanto, uma “outra” Aliança, mas a mesma,
apenas que Renovada em Jesus, o Messias de Israel. Por que renová-la? Porque o
Povo de Deus falhou em cumprir sua parte nos quesitos da Aliança. O povo se
desviou de Deus para a idolatria, a misericórdia foi removida da prática religiosa e
esta tornou-se mera formalidade com rituais que perderam seu verdadeiro signifi-
cado. Ora, quando o povo falhou em cumprir os termos da Aliança foi o mesmo que
rejeitarem a Deus, porque a Aliança é o casamento entre Deus e Seu Povo e a Torá
é contrato desse casamento. Esse casamento desgastou-se devido à infidelidade do
povo, e o relacionamento entre o povo e Deus simplesmente deixou de ser aquilo
para o qual Deus os havia chamado. Contudo, Deus sempre permaneceu, permane-
ce e permanecerá fiel a Sua Aliança. Deus, mesmo prevendo tudo isso, prometeu
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através de Jeremias que Ele traria uma Aliança Renovada para resgatar o relaciona-
mento que se havia deteriorado e perdido. Deus sempre toma a iniciativa, porque o
ser humano nunca compreende os profundos propósitos de Deus, a ponto de im-
pedir que os demais povos e nações conhecessem esse Deus Vivo e Sua intenção
de abençoar e salvar todos os povos.

Essa intenção foi dada por meio dos profetas, mas os sacerdotes e o povo
não conseguiam mais perceber esse santo propósito. Portanto, era necessário um-
dar a forma de relacionamento. Assim como a lua nova é a mesma lua e não outra,
a Aliança Renovada não é outra, mas a mesma, porém, renovada. Então, a mesma
TORÁ permanece e as leis ainda são as mesmas. O que seria novo nessa Aliança
Renovada? A novidade seria a mudança na forma de relacionamento.

Até o 1º Advento, a forma de relacionamento necessitava que o pecador


confessasse seus pecados sobre a cabeça de um cordeiro e o apresentasse ao
sacerdote humano para ser oferecido em holocausto. Essa era a forma de relaciona-
mento que se havia deteriorado e que precisava ser mudada. Havia necessidade
não mais de muitos sacerdotes humanos e mortais, mas de um único Mediador Di-
vino-humano e Imortal; não mais sacrifícios ineficazes de animais, porque não po-
diam purificar a consciência, mas, sim, de um Único e Perfeito Sacrifício; não mais
de um santuário terrestre, mas, sim, de um Santuário Celestial.

Havia uma outra novidade nessa Aliança Renovada. O pecador arrepen-


dido receberia a ação santificadora do Espírito Santo para purificar sua consciência,
bem como para escrever a Torá de Deus não mais em pedra, couro ou papel, mas
nas mentes e corações das pessoas que decidissem tornar-se parte do Povo de
Deus (Eze. 36:26-27). Israel ainda é a oliveira verdadeira, e os gentios que aceitam
a Jesus como seu Mediador e Redentor pessoal passam a ser enxertados nessa
oliveira (Rom. 11:17-21). Deus nunca rejeitou os judeus, porque Ele é sempre fiel a
Sua Aliança (Sal. 89:34; Rom. 11:26-29).

Assim, então, a partir do Advento do Messias de Israel, Jesus Cristo tor-


nou-Se Sacerdote e Sacrifício ao mesmo tempo, porque já havia sido nomeado pelo
Pai como Mediador e Sumo Sacerdote, não da ordem sacerdotal humana e pecado-
ra de Arão, mas segundo a ordem sacerdotal prefigurada por Melquisedeque. Por
esse motivo, a Bíblia não contém a genealogia de Melquisedeque, nem registra sua
morte, para que ele não tendo início e nem fim pudesse prefigurar o Eterno Sumo
Sacerdote Jesus. Após a Ressurreição, Jesus foi entronizado no Santuário Celestial,
onde exerce Seu Ministério Sumo Sacerdotal, vivendo sempre para interceder por
nós. Cada vez que um pecador se arrepende e confessa seus pecados, Jesus o co-
bre com Sua Graça Salvadora e o Justifica diante da Lei (Torá), concedendo-lhe o
perdão, a purificação da consciência, a renovação da vida e concede-lhe o Espírito
Santo para que o arrependido abomine o mal e deseje uma vida de pureza e
santidade, espelhando-se sempre no Mestre Jesus, que disse:

“Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor;


assim como também eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e no Seu
amor permaneço...” – João 15:10.

Deste modo, a Aliança Renovada produziu uma nova forma de relaciona-


mento para anular todas as falhas do Povo de Deus no passado, para que nunca
mais o povo quebrasse a Aliança como seus pais fizeram. Agora podemos ter con-
fiança em nosso Sumo Sacerdote e Mediador Jesus, porque o Espírito Santo nos
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assiste em obedecer aos mandamentos para não quebrarmos a Aliança. Porém, se
alguém pecar, “temos advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo” (1ª João 2:1-2).
Desta forma é possível, então, manter a mesma TORÁ, os mesmos mandamentos,
estatutos e juízos, sem a necessidade de voltarmos ao sacrifício de animais, porque
a Aliança permanece a mesma, tendo, apenas, sido Renovada em Cristo Jesus.

Por consequência, as Festas Proféticas de Levíticos 23 também não


foram abolidas e ainda devem ser observadas. Não basta, apenas, observar o
Sábado e imaginar que está cumprida a obrigação para com a Torá (Lei). Há um
propósito divino insondável na observância dessas santas Festas do Senhor. Isso
ficou muito evidente no cumprimento antitípico das Festas da Primavera, quando
elas se cumpriram no 1º ADVENTO. Jesus foi sacrificado no dia e hora em que o
cordeiro pascal era sacrificado, permaneceu na tumba durante o 1º dia dos pães
ázimos, ressuscitou no DIA DAS PRIMÍCIAS e concedeu a Plenitude do Espírito no
DIA DE PENTECOSTES. Ora, se o Apocalipse nos mostra que as Festas do Outono
serão cumpridas no futuro, então essas festas não foram abolidas e estão em plena
vigência para a era dos gentios (Apo. 7:9-15). O Profeta Zacarias nos mostra
claramente que é a Vontade de Deus que os povos gentílicos celebrem a Festa dos
Tabernáculos (Zac. 14:16-19). A ordenança para assim fazermos está na TORÁ
(Deu. 31:10 e 12).

Não mais é preciso ir a Jerusalém, como diz o profeta. Na ocasião em que


a profecia foi dada a Zacarias ainda existia o Templo terrestre, e era, então,
importante os gentios irem a Jerusalém. Contudo, agora que não há mais um templo
terrestre, e, sim, um Santuário Celestial, podemos celebrar as Festas do Senhor em
nossa própria congregação. Até mesmo as Festas da Primavera devem ser celebra-
das. Vejamos o porquê.

Para fins didáticos, diremos que as festas têm várias funções importantes:
a função sacrifical, a função profética, a função memorial, a função espiritual
(relacionamento com o Criador e Mantenedor da vida), a função social (congraça-
mento fraterno entre os membros da Aliança, para fortalecimento mútuo dos laços
de camaradagem), etc. Por ocasião do 1º ADVENTO, a função sacrifical foi cumpri-
da por Cristo de forma perfeita e única, não havendo mais a necessidade de ofe-
rendas infindáveis de animais em holocausto. Essa função foi cumprida definiti-
vamente de uma vez por todas, para todas as festas, para o Sábado e para o sacri-
fício contínuo. O sacrifício de Jesus foi perfeito e suficiente para todos. Leiamos o
seguinte comentário:

“O sangue derramado quando as oblações eram oferecidas apontava ao


sacrifício do Cordeiro de Deus. Todas as ofertas típicas tiveram nEle o seu cumpri-
mento.” (Parábolas de Jesus, pág. 126).

E, ainda:

“A lei ritual, com seus sacrifícios e ordenanças, devia ser cumprida pelos
hebreus até que o tipo encontrasse o antítipo, na morte de Cristo, o Cordeiro de
Deus que tira o pecado do mundo. Então cessariam todas as ofertas sacrificais.
Foi esta a lei que Cristo ‘tirou do meio de nós, cravando-a na cruz.’ Colossenses
2:14.” (Patriarcas e Profetas, pág. 379).

Também foi cumprida a função profética das FESTAS DA PRIMAVERA.


Essas festas, agora, não são mais profecias, nunca mais irão cumprir-se novamente
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no futuro, porque a tipologia que elas continham apontava para CRISTO e foram
plenamente consumadas em Seu 1º ADVENTO. Porém, a FUNÇÃO MEMORIAL
não foi abolida e nunca será extinta, porque ela é estatuto perpétuo. A função me-
morial da Páscoa estava ligada aos eventos do Êxodo do Egito somente. A partir de
Jesus a função memorial da Páscoa foi ampliada, para abranger os eventos relativos
à REDENÇÃO da raça humana no que se refere à escravidão ao pecado. Na ceia
pascal, Jesus mesmo ordenou: “fazei isto em MEMÓRIA DE MIM.” E o Apóstolo
Paulo acrescentou:

“Todas as vezes, pois, que comeis desse pão e bebeis desse cálice anun-
ciais a morte do Senhor, até que Ele venha.” (1ª Cor. 11:26).

O Sábado tem algumas funções semelhantes, porém o Santo Sábado não


cumpre a função memorial de cada festa, porque o Sábado é um Memorial da Cria-
ção e da Redenção, mas não é um memorial dos outros eventos do Plano da Re-
denção que são representados pelas demais Festas do Senhor. Tanto é verdade
que o Sábado não extinguiu a função memorial da Páscoa, que Paulo reforçou a
necessidade de celebração da Páscoa em memória do sacrifício de Jesus, ATÉ
QUE ELE VENHA. Assim é que cada festa deve cumprir sozinha sua própria função
memorial, devendo ser celebradas sempre no seu próprio TEMPO DETERMINADO
(Lev. 23:4).

O Novo Testamento contém muitas evidências de que a Igreja Primitiva


celebrava as Festas do Senhor. Por exemplo, muitos anos após a morte, ressurrei-
ção e ascenção de CRISTO o Apóstolo Paulo celebrava essas festas (ex.: Pentecos-
tes, em Atos 20:6 e 16; 1ª Cor. 16:8). Em Atos 27:9, estando ele em alto mar, men-
cionou a passagem do Yom Kipur (Dia do Perdão/Expiação). Ali consta apenas a pa-
lavra jejum, porém, a única festa religiosa judaica que obriga ao jejum é o Yom
Kipur. A Bíblia de Jerusalém contém o seguinte comentário de rodapé:

“e) Outro nome da festa da Expiação, único dia de jejum prescrito pela
Lei [Torá] (Lev. 16:29-31). Celebrava-se em setembro, perto do equinócio do outono
europeu.” - A Bíblia de Jerusalém. Nova edição, revista, Ed. Paulinas, SP, 1985.

Em 1ª Cor. 5:7-8, Paulo ordena que os crentes celebrem a Páscoa:

“Lançai fora o velho fermento para que sejais nova massa, como sois de
fato sem fermento. Pois, também Cristo, nosso Cordeiro Pascal, foi imolado. Por
isso celebremos a festa…”

Pena que a maioria das denominações espiritualiza tudo e usa a filosofia


greco-romana para interpretar isso como sendo uma alusão à Santa Ceia, em qual-
quer dia, e não à Páscoa judaica. Quem for bem intencionado, conseguirá perceber
que se trata da Páscoa judaica.

Além de Paulo, também há menção às festas na Epístola de Judas:

“Estes homens são como rochas submersas, em vossas festas de frater-


nidade…” (Judas 12).

Novamente, aqui, precisamos ler com sinceridade de coração e perceber


que não se trata apenas da Páscoa, mas de todas as Festas do Senhor (Lev. 23).
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Os Apóstolos de Cristo obedeciam à Torá e celebravam todas as festas
proféticas, porque nem Jesus nem eles cogitavam de abolir essas celebrações. Je-
sus não aboliu o Sábado, mas também não aboliu as Festas do Senhor.
Leiamos o seguinte comentário sobre o concílio de Atos 15:

“Ali deviam eles encontrar-se com delegados das diversas igrejas e com
os que viessem para assistir às festas anuais.” (História da Redenção, pág. 305).

Cego é quem não quer ver. Este comentário reconhece que os crentes da
Igreja Primitiva celebravam as festas anuais de Levíticos 23. A novidade da Aliança
Renovada é que não mais necessitamos sacrificar animais, porque Jesus ofereceu
um sacrifício perfeito e suficiente, nem precisamos ir até Jerusalém para celebrar as
festas, porque não há mais um templo terrestre e, sim, um Santuário Celestial.

Aprendamos um pouco mais com Sir Isaac Newton:

“Os assuntos da igreja começam a ser considerados na abertura do quinto


selo… Então, ela é representada por uma mulher no Santuário Celestial, vestida
com o Sol da Justiça, com a lua das cerimônias judaicas sob seus pés e sobre
sua cabeça uma coroa com doze estrelas relativas aos doze Apóstolos e às doze
tribos de Israel. Quando ela voou do Santuário para o deserto, deixou no Santuário o
restante da sua semente, os que guardam os Mandamentos de Deus e têm o Tes-
temunho de Jesus Cristo. Antes de seu vôo ela representava a verdadeira igreja pri-
mitiva de Deus, para depois degenerar como Oolá e Oolibá…” (in As Profecias do
Apocalipse e o Livro de Daniel – As Raízes do Código da Bíblia, 1ª Edição Integral
em Língua Portuguesa, Editora Pensamento, São Paulo, 2008).

A igreja primitiva da qual o cientista fala é a Igreja Apostólica. É importante


notar que a lua sob os pés da mulher representa todo o cerimonial judaico, que é re-
gido, claro, pelo calendário judaico. Nesse calendário, os meses são iniciados na lua
nova. Na Torá, em Lev. 23, Moisés relacionou as festas proféticas, que contêm a
tipologia prefigurativa do Plano da Redenção. Ele afirma que elas são “festas do Se-
nhor”, e devem ser celebradas no seu tempo determinado (v. 4). Se a mulher re-
presenta a igreja e a lua representa o calendário cerimonial judaico, então isso sig-
nifica que a igreja precisa estar embasada nesse calendário para ser reconhecida
como o Povo do Altíssimo, “os que guardam os Mandamentos de Deus e têm a fé
de Jesus” (Apo. 14:12).

O cumprimento da tipologia das Festas da Primavera, no 1º Advento, dá


prova irrefutável de que essas festas são, na verdade, a agenda do Santuário
Celestial. É por meio das festas proféticas que Jesus nos revela cada passo im-
portante do Seu Plano da Redenção, que Ele vai desdobrando de forma progressiva
em cada geração, para que mais e mais verdades sejam compreendidas e ensi-
nadas ao Seu Povo, para que eles não pereçam por falta de conhecimento. Amém!

Imaginem só o que seria de nós se os Apóstolos de Cristo desprezassem


a Aliança, não obedecessem aos estatutos, não celebrassem as festas e não esti-
vessem todos reunidos no mesmo lugar para receber a Plenitude do Espírito Santo
no Dia de Pentecostes! A igreja, simplesmente, não existiria e o Evangelho não teria
sido levado aos gentios na Era Apostólica! Meditemos sobre isso!

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