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A LITURGIA DO TEMPO DO ADVENTO

1- O que é o Ano Litúrgico

O ciclo do Ano Litúrgico é o ritmo fundamental da vida de oração e de


celebração da fé dos Cristãos. Estudar o Ano Litúrgico é entrar no mistério do tempo,
em especial Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida.

O Ano Litúrgico é luni-solar (sol e lua), Páscoa ligada com a lua cheia e Natal
com a questão do sol (solstício de inverno) no hemisfério norte. Ele é santificado pelo
Mistério Pascal de Cristo e estruturado para ser celebrado, mediante o ordenamento da
liturgia cristã, em diversos tempos e festas; é marco temporal no qual se desenvolve o
único e fundamental conteúdo celebrativo da Igreja, que é o mistério de Cristo: sua vida,
morte e ressurreição, ápice da história da salvação. É preciso entender que apesar do
Ano Litúrgico acontecer dentro do “ano civil” ele não é um concorrente do mesmo,
porque Jesus Cristo entrou firme na história para fazer dela uma história de salvação.
Ele acompanha o ano civil, mas não depende dele.

A definição da Constituição Dogmática do Concílio Vaticano II sobre a liturgia


Sacrosanctum Concilium: é a celebração do mistério de Cristo e da obra da salvação ao
longo de um ano. Segundo Odo Casel, o Ano Litúrgico é o mistério de Cristo. Portanto
o Ano Litúrgico é uma realidade teológica.

Pode-se perceber claramente que o Ano Litúrgico não é uma idéia, um conceito
antropológico ou uma simples explicação de uma maneira diferente de viver o ciclo de
um ano, estas podem até constituir dimensões do mesmo, mas não pode defini-lo com
tal. Ele não é um calendário que colocamos na parede da sacristia ou na secretaria da
casa paroquial. O Ano Litúrgico é uma pessoa: Jesus Cristo. O tempo da liturgia é o
tempo de hoje onde se torna sagrada a presença de Deus nele, novamente se encarnando
sob novas formas e dimensões e o tornado vivo e eficaz no meio da humanidade. O Ano
Litúrgico é o mistério de Cristo celebrado e vivido na história da Igreja como
“memória”, “presença” e “profecia”.

2- Do ano Cósmico ao Ano Litúrgico

É preciso entender que o ano é o resultado de um fato astronômico, que pode ser
considerado em relação ao Sol ou em relação à Lua. Se levar em consideração o
movimento da Terra ao redor do Sol, teremos o chamado ano solar, composto por 365
dias, 5 horas e alguns minutos. Se considerarmos o crescer e o decrescer da luz da Lua
em movimento ao redor da Terra, no entanto, teremos o chamado ano lunar, que é a
soma de 12 lunações, isto, é, 12 meses.

A distinção do tempo em meses (grego: men = mês), também onde vigora o ano
solar, nos diz que a forma mais antiga de divisão do ano deve ser buscada no ano lunar
(grego: mene – lua). A própria divisão do mês entre os antigos romanos (divisão ainda
atual no calendário ocidental) em calendas (1º do mês), nonas (ano 7 do mês nos meses
de 31 dias; no 5 do mês nos meses de 30 dias) e idos (no 15 nos meses de 31 dias; no 13
dos meses de 30 dias) nos leva ao movimento lunar. As “nonas”, com efeito, ocorrem ao
cumprir-se do 1/4 de lua, e os “idos” ao cumprir-se do plenilúnio (2/4).
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3- Os nomes do Ano Litúrgico

Dentre tantos nomes tem-se usado outras denominações como: Ano cristão, Ano
do Senhor, Ano eclesiástico ou da Igreja e ciclo Litúrgico. No século XIX, Próspero
Guéranger é o primeiro a usar o nome Ano Litúrgico.

4- O Ano A de Mateus

No Advento, primeira fase do período natalino, destacam-se as “utopias


messiânicas” do profeta Isaias (capítulos 2, 11 e 35), relacionadas com a esperança da
justiça que vem de Deus, não do jogo oportunista do poder político. Os evangelhos,
tomados de Mateus, têm como teor fundamental essa justiça que vem de Deus e que se
realiza no projeto divino de salvação, inaugurado nos tempos antigos e atestado pela
Sagrada Escritura, bem como na atuação ética do ser humano, guiada pela vontade de
Deus. Assim, as primeiras leituras (tomadas de Isaias) aparecem como projeção
escatológica daquilo que deve acontecer no ser humano mediante a conversão (cf.
sobretudo o 2º Domingo). Da interação de “utopia” e conversão brotam a alegria e a
esperança por causa da vinda do Cristo (3º Domingo) No 4º Domingo, ponto
culminante, tanto a leitura de Isaias quanto o correspondente Evangelho de Mateus
apontam para uma salvação personalizada: a salvação que vem de Deus não é uma
utopia “em geral”, mas a própria presença de Deus, manifestada em Seu Filho e
envolvendo os que pela conversão a Ele aderem. Esta primeira fase do Ciclo Natalino se
estica assim entre Isaias e Mateus: leva-nos a celebrar, com Mateus, o cumprimento da
esperança messiânica expressa em Isaias. Culmina na figura do Emanuel, Deus-
conosco, que nos traz a justiça de Deus e exige nossa participação na mesma (Isaias
7,10s; Mateus1,18s).

5- A Palavra de Deus no Ano A

Vamos nos concentrar no Lecionário Dominical. No ano A, o Evangelho de


Mateus mostra o cumprimento das promessas messiânicas anunciadas pelo profeta
Isaias.

Na sucessão dos evangelhos dos quatro domingos do Ano A, podemos descobrir


um caminho, que a partir do anúncio da vinda escatológica (primeiro domingo), passa
ao anúncio da vinda na História. (segundo domingo), situa-se na identificação de Jesus,
testemunhado pelas suas obras como “Aquele que deve vir” (terceiro domingo), e
culmina com o “anúncio” a José a respeito do Filho de Maria como Salvador e Deus-
conosco (quarto domingo). Pelas leituras da Missa, o Quarto Domingo do Advento
aparece como o Domingo dos Patriarcas do Primeiro Testamento e da Bem-Aventurada
Virgem Maria, na expectativa do Natal do Senhor.

No que diz respeito à primeira leitura projeta-se, a partir do Primeiro Domingo,


um itinerário de consciência progressiva do caráter salvífico da vinda d’Aquele que foi
prometido e que será reconhecido, no Quarto Domingo, em Jesus de Nazaré. Tudo isto
contribui para caracterizar num sentido jubiloso a expectativa. A caminhada, que a
segunda leitura convida a fazer nos domingos do Ano A, parece conduzir, através da
vigilância, da paciência, da aproximação das Escrituras e da assimilação dos seus
ensinamentos, ao reconhecimento, em Jesus, do Filho de Deus, e à “obediência à fé” do
Quarto Domingo.
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Os quatro domingos querem convidar à vigilância e á conversão, na espera


jubilosa e perseverante de uma vinda que, se for destruidora no tocante à injustiça e à
impiedade, será de salvação para quem crê. A vinda encontrou já uma das suas
primeiras realizações em Jesus: em Jesus e no seu acontecimento a salvação de Deus já
se tornou presente na História das pessoas, e no mistério litúrgico é tornada acessível ao
cristão que a celebra. Às atitudes da vigilância (primeiro domingo) e da conversão
(segundo domingo) junta-se o da alegria (já pela primeira vinda) e da espera confiante e
paciente (terceiro domingo).

O Papa Bento XVI fez, em 2006, uma bela reflexão sobre o sentido do Tempo
do Advento: “Façamos uma pequena reflexão: o texto bíblico não diz que ‘Deus veio’,
nem mesmo que ‘Deus virá’. Mas usa o verbo no presente: ‘Deus vem’. Se prestarmos
atenção, veremos que se trata de um presente contínuo, isto é, de uma ação que sempre
está acontecendo, aqui e agora, em qualquer momento. O verbo ‘vir’ se apresenta como
um verbo ‘teológico’ e ‘teologal’, porque diz algo que tem a ver com a própria natureza
de Deus. Anunciar que ‘Deus vem’ significa anunciar simplesmente a Deus mesmo,
através de uma de suas características essenciais e significativas: ‘Deus conosco’, ‘Deus
que vem’”. Podemos afirmar com toda a certeza: está vindo Aquele que sempre vem.

6- Orientações para celebrar bem o Tempo do Advento

Mais um final de ano se aproxima. Percebe-se claramente que a propaganda


comercial “natalina” começa a agitar por todo lado, prometendo muita alegria e
felicidade, ilusoriamente “embutidas” nos produtos de consumo.

De nossa parte, como comunidade cristã, iniciamos hoje nosso tempo de


preparação para o Natal. Chamamos esse tempo de Advento: tempo de espera, de
expectativa, de esperança. “Quando virá, Senhor, o dia?... Expectativa de que, afinal? A
Palavra de Deus proclamada no tempo do Advento vai nos dar a resposta.

No ciclo do Natal, fazemos memória da manifestação do Senhor Jesus em sua


encarnação e em nossa história atual, enquanto aguardamos a sua nova vinda. O ciclo
do Natal engloba o tempo do Advento, as festas do Natal e o tempo do Natal.

Com a celebração do Advento, iniciamos não só um novo tempo litúrgico, mas


também um “novo ano litúrgico.” Somos convocados a percorrer com Jesus Cristo um
itinerário pascal. Nesse caminho, passamos pela espera ardente do Advento da
definitiva vinda do Senhor, pela divinização, encarnação e manifestação do Filho de
Deus em nossa humanidade, celebrada no Natal e Epifania; pelo deserto da Quaresma;
pela paixão da cruz e a vitória da ressurreição; pelo fogo de Pentecostes. É a Páscoa de
Cristo na nossa páscoa e a nossa páscoa na Páscoa de Cristo; ou seja, a lenta e
perseverante identificação com o Cristo Jesus ao longo do tempo ou festa do Ano
Litúrgico revela, realça, manifesta, nomeia as experiências pascais (na vida pessoal,
comunitária, familiar e social...) feitas no dia a dia, à luz da Páscoa de Cristo.

O Tempo do Advento abre para a Igreja a grande celebração da manifestação do


Salvador em nossa humanidade. O Advento é um tempo de preparação para as festas
epifânicas; tem como tarefa preparar-nos para receber o Senhor que vem e se manifesta
a nós. Sendo assim, a manifestação do Senhor tem dois aspectos: a manifestação em
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nossa carne, que constitui sua primeira vinda; e a manifestação em glória e majestade no
final dos tempos, que constitui sua segunda vinda.

O Advento manifesta as duas fisionomias da vida do Senhor: nas duas primeiras


semanas, o “Advento Escatológico”, ou seja, sua vinda definitiva, e, nas duas últimas
semanas, o “Advento Natalício”, ou seja, sua primeira vinda – o Natal. “Abre as portas,
deixa entrar o rei da Glória. É o tempo, ele vem orientar a nossa História (Salmo 23).
Com o profeta Isaias e com João Batista, acolhemos o apelo à conversão para que seja
superadas todas as formas de dominação, exclusão e miséria, para que se realize uma
sociedade com liberdade e dignidade para todos. Com Maria, vivemos a alegria e a
confiança. “A Virgem, Mãe será, um Filho à luz dará. Seu nome, Emanuel: conosco
Deus do céu; o mal desprezará, o bem acolherá” (Salmo 147). Maria está presente
durante todo o tempo do Advento, de maneira especial no período no período final que
são os dias 17/12 ao 24/12. Também pode-se chamar este período de “semana santa do
Natal. Com José, o justo, não deixemos a dúvida dominar a nossa vida. A dúvida deve
ser vencida pela obediência da fé.

A comunidade reunida é sinal da espera do Advento do Senhor. Dar atenção


especial aos ritos iniciais, cuja finalidade é de constituir a assembléia, formando o
Corpo vivo do Senhor. Fazer uma acolhida afetuosa às pessoas, reconhecendo em cada
uma delas a presença do Senhor que chega entre nós.

Como tempo especial de escuta e atenção à Palavra de Deus, dar destaque


especial a todo o rito da Palavra. Cuidar de preparar bem a proclamação dos vários
textos bíblicos, da homilia, do canto do salmo.

Escolher com cuidado os cantos de modo que a assembléia cante o mistério de


Cristo, celebrado neste tempo de espera vigilante. As equipes de canto não devem
colocar o seu gosto pessoal, é um direito da assembléia cantar o mistério celebrado. É
preciso entender que a equipe de canto faz parte da assembléia. O melhor instrumento
musical que temos é a nossa voz já dizia Santo Agostinho. É um direito da assembléia
saber quais são os cantos da celebração para que possa participar de maneira ativa e
consciente. É dever da equipe de canto ensinar a assembléia os cantos, ela tem o direito
de ter a letra dos cantos nas mãos. O Hinário Litúrgico I, da CNBB, oferece ótimas
sugestões, assim como o Ofício Divino das Comunidades, onde encontramos salmos,
hinos e refrões. Existe um CD publicado pela Paulus com as músicas do Hinário
adequadas pra este Ano A: o volume “Liturgia IV”.

Embora o Advento insista em nossa conversão, não tem aquele acentuado


caráter penitencial da Quaresma. A conversão consiste em prepararmos alegres e
rápidos, cheios de esperança, o caminho do Senhor que vem. O Diretório Litúrgico
indica a cor roxa própria do Tempo do Advento, o silêncio dos instrumentos musicais
quando não acompanham o canto, isto é, a música instrumental. Lembra-nos que é
período de recolhimento, de alegria discreta, de expectativa e preparação. No Terceiro
Domingo do Advento usa-se tradicionalmente o Róseo no lugar do roxo, porque
antigamente era um momento de pausa no jejum que se fazia rigorosamente em
preparação à festa do Natal. Não se canta o Hino de Louvor (a não ser nas solenidades e
festas, e em alguma celebração especial tais como Solenidade da Imaculada Conceição
e Festa de Nossa Senhora de Guadalupe); fica reservado para a noite de Natal, quando
juntamos nossa voz à dos anjos para dar glória a Deus pela salvação que realiza em
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nosso meio. Também não se canta o Te Deum, isto é, o canto de louvor a Deus após a
comunhão. O Aleluia..., no entanto, continua ressoando. Usar os instrumentos musicais
com moderação para não antecipar a alegria do Natal do Senhor.

Dentro desse clima de piedosa espera do Salvador, os instrumentos musicais


(órgãos, violão, teclado e outros) sejam usados com moderação, conveniente ao caráter
próprio deste tempo, de modo a não antecipar a plena alegria do Natal do Senhor. O
mesmo vale para as ornamentações com flores: discrição, comedimento, expressando o
tempo de espera por algo bom que vai chegar.

Nos dois primeiros domingos temos os prefácios I, IA, II, IIA. O prefácio I
contempla as duas vindas de Cristo. O prefácio IA, contempla Cristo como Senhor e
Juiz da História. Estes dois prefácios podem ser escolhidos nas Missas do Advento e
em todas as outras, desde o primeiro domingo até 16 de dezembro, exceto nas Missas
com prefácio próprio. O prefácio mais indicado para o Primeiro Domingo é o Advento I
que realça a primeira vinda de Cristo para nos abrir o caminho da salvação e nos coloca
em estado de “vigilância” para a segunda vinda de Cristo. O Prefácio II contempla as
duas esperas de Cristo pelos profetas e pela Virgem Maria e nos convida a alegrar com a
proximidade do Senhor. Este prefácio nos coloca em clima de preparação para o Natal.
É indicado nas Missas do Advento e em todas as outras, de 17 a 24 de dezembro, exceto
nas Missas com prefácio próprio. O Prefácio IIA contempla Maria, a nova Eva. Ela nos
devolve a graça que Eva por Eva tínhamos perdido. É indicado nas Missas do Advento e
em todas as outras, de 17 a 24 de dezembro, exceto nas Missas com prefácio próprio. O
Hinário Litúrgico I da CNBB, página 73, apresenta para este domingo a louvação, em
melodia popular, própria do Advento, muito apropriada para o eito de Ação de graças na
Celebração da Palavra.

É necessário fazer do Advento um tempo de aprofundar e melhorar nossas


relações na família, na comunidade, na vizinhança, como sinal visível da chegada do
Reino entre nós.

O tempo do Advento é marcado de grande riqueza espiritual, alimentando a


esperança dos cristãos. Para aproveitar bem toda sua riqueza, convém que se cuide com
o maior carinho de todos os detalhes externos deste tempo (cantos, espaço litúrgico, os
diferentes enfoques das leituras e das orações, principalmente dos Prefácios).

Para este tempo, é costume decorar o local da celebração com uma Coroa de
Advento (ou “coroa de luzes de Advento”). Trata-se de um suporte em forma circular,
revestido de ramagem verde amarrada (adornada) com uma fita colorida. Na coroa se
colocam quatro velas. Pode-se colocar a coroa junto ao altar ou próximo ao ambão
(mesa de onde se proclama a Palavra). Mas não deve “roubar a cena” do altar e da mesa
da Palavra! As velas vão sendo acesas, gradativamente, nas quatro semanas do Advento:
no primeiro domingo, uma; no segundo domingo, duas; no terceiro, três, e no quarto,
todas. No segundo domingo do Advento a primeira vela deve estar acesa deste o início
da celebração. Após a saudação do presidente acende-se a segunda vela e assim também
nos outros domingos. Estão presentes na coroa três simbologias significativas: a luz
como salvação, o verde como a vida que esperamos, a forma arredondada como símbolo
da eternidade. Ela expressa muito bem (como o fazem as leituras, as orações e os
cantos) a espera de Cristo como Luz e Vida para todos.
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As quatro velas que progressivamente vão sendo acesas, retoma o costume


judaico de celebrar a vinda da luz na humanidade dispersa pelos quatro pontos cardeais,
mostrando que Jesus veio para todos os povos. Portanto as velas recordam que Jesus
Cristo é a luz do mundo. Nos quatro domingos do Advento as velas acesas convidam-
nos a uma atitude crescente de vigilância, de prontidão e abertura ao Salvador que vem,
e marcam o ritmo de espera deste tempo. Nós o aguardamos acordados e vamos a Ele
com lâmpadas acesas. É preciso estar sempre acordados. Em cada domingo, acendemos
uma vela. Com a aproximação do Natal cresce, portanto, a luz na coroa.

Observação: evidentemente a Coroa do Advento perde sua força simbólica se já


nela antecipamos o Natal, seja através de um material que não seja folhas verdes
naturais, seja por enfeites e decorações de muitas cores brilhantes que lembrariam,
antes, o brilho da plena luz do Natal do que a alegre espera do Senhor, cuja vinda
esperamos no Natal e no fim da nossa vida e da história. Não podemos queimar etapas,
isto é, atropelar o Advento para celebrar o Natal antes do tempo. Nunca usar na Coroa
folhas verdes artificiais ou material seco. Evitar a todo custo colocar bolas da árvore de
Natal ou outros enfeites natalinos na Coroa, senão vira coroa de Natal e não Coroa do
Advento.

O tempo do Advento é próprio para um bom “balanço” da caminhada cristã,


pessoal, familiar e comunitária, em direção ao reino definitivo. Por isso, trata-se de um
tempo muito adequado para a celebração do sacramento da Penitência. As equipes de
liturgia devem organizar neste sentido a celebração.

Nesta dinâmica de preparação, muitas comunidades gostam de celebrar também


a reconciliação, o “perdão e a penitência”, como sinal de conversão e mudança para
uma vida nova. É sempre necessário que uma equipe prepare com carinho estas
celebrações, levando em conta o tempo litúrgico do Advento para a escolha dos textos
bíblicos, cantos, orações e símbolos.

“Antes do Natal, muita gente quer se confessar para estar preparada para a festa
do Natal de nosso Senhor. Sabemos que, quando a pessoa tem consciência de pecado
grave, deve recorrer à confissão individual para se reconciliar com Deus e com a Igreja
e, assim, poder participar dos sacramentos. É preciso pensar nisso com muito carinho e
organizar o tempo necessário, seja para confissões individuais, seja para as celebrações
comunitárias nas quais estão inseridas as confissões e absolvições individuais. Existe
também a possibilidade de confissão e absolvição coletivas, em casos excepcionais e de
grave necessidade, a serem definidos pelo bispo diocesano” (Carta Apostólica de João
Paulo II sob forma de ‘Motu Próprio’, A Misericórdia de Deus; sobre alguns aspectos
da celebração do sacramento da penitência. São Paulo, Paulinas, (Coleção a Voz do
Papa, 182).

A celebração de reconciliação e de penitência que ajuda as comunidades no


caminho de conversão. É importante que se faça uma celebração antes do atendimento
individual para que todos possam perceber o apelo de Deus.

Assumir como gesto litúrgico a participação da mulher principalmente a partir


do dia 17 de dezembro ou do 3º Domingo do Advento, nos diversos ministérios
litúrgicos e acolher as mulheres grávidas por meio de algum serviço que elas exerçam.
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No Quarto Domingo do Advento, convidar uma mulher grávida para aceder a quarta
vela da Coroa do Advento.

Descobrir, através do Advento o Mistério de Cristo em cada página da Escritura.


Alimentando-nos da esperança profética de Isaias, no seu contundente anúncio de
expectativa no futuro e de que Deus cumpre as suas promessas. Buscamos a atitude
austera, humilde e simples de João Batista, o qual tem a missão de preparar os caminhos
do Senhor. Acreditamos, com Zacarias e Isabel, nas promessas de Deus; deixando-nos
fecundar, como Maria, pela Palavra; e acolhemos o Senhor no mais íntimo de nossa
vida. A leitura e meditação da Palavra de Deus conduzem-nos dia a dia na experiência
do resplandecer da luz do Sol nascente que nos visita.

Perceber como a Maria coopera no mistério da redenção, aceitando ser a mãe do


Filho de Deus. O Filho de Deus entra no mundo como “nascido de mulher”. Ela une o
Salvador ao ser humano. O Advento, principalmente a partir do dia 17 de dezembro,
insere Maria na vivência e celebração do Mistério Pascal. Como fazer que Maria seja
inserida na celebração do Advento? No final da celebração, cantar um hino mariano.
Celebrar bem as duas festas marianas que ocorrem no Advento: dia 8 Imaculada
Conceição e dia 12, Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira principal da América
Latina.
O melhor da festa é esperar por ela, diz um ditado popular. A espera e a
preparação de um acontecimento são, do ponto de vista humano, tão importante quanto
o evento. Daí a necessidade de fazermos uma avaliação do que significa e de como
vivenciamos o tempo do Advento em nossas comunidades. Seria oportuno se as equipes
de liturgia, ao prepararem as celebrações desse tempo, pudessem se fazer a seguinte
questão: que importância damos ao tempo do Advento?

Vale aqui também lembrar o que escreve o liturgista Frei José Ariovaldo da
Silva, na revista Mundo e Missão, de dezembro de 2004: “Atualmente, muitas
comunidades eclesiais, influenciadas pela onda consumista por ocasião das festas
natalinas e de final de ano, estão assumindo o costume de enfeitar suas igrejas já bem
antes de o Natal chegar. Em pleno tempo do Advento, que é um tempo de piedosa
espera e alegre expectativa, já ornamentam suas igrejas com flores, pisca-piscas, árvores
de Natal e outros motivos natalinos, como já se fosse Natal. Posso dar uma sugestão?
Não sejam tão apressadas. Não entrem na onda dos símbolos consumistas da nossa
sociedade. Evitem enfeitar a igreja com motivos natalinos durante o Advento. Deixem o
Advento ser Advento e o Natal ser Natal. Enfeites natalinos dentro da igreja, só quando
o Natal chegar. Então, a festa com certeza será melhor. Sobretudo se houver na
comunidade uma boa preparação espiritual”. Precisamos silenciar o nosso coração e
contemplar a beleza da espera do Advento, contemplar também a figura de Maria
grávida e esperar com calma e sem atropelamentos o Natal do Senhor.

Na metade do mês de setembro de 2016, o comércio colocou enfeites natalinos e


montou o presépio nas lojas. Muitas paróquias e capelas, totalmente influenciadas pelo
comércio, colocaram enfeites natalinos e armaram presépios já na 33ª Semana do
Tempo Comum. No ano de 2012, em muitas paróquias iniciaram a novena em
preparação para o Natal já na 31ª Semana do Tempo Comum não esperando a chegada
do Advento, argumentado que é preciso ganhar tempo... É preciso uma urgente
espiritualidade do Advento e também ter senso crítico frente a essa onda consumista
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que atropela tudo. Será que a onda consumista tem mais força do que a espiritualidade
do Advento-Natal?

Como muitas comunidades já armam o presépio no primeiro domingo do


Advento e colocam o Menino Jesus no presépio. A esse respeito Frei José Ariovaldo da
Silva disse num curso diocesano: “Então no Advento já é Natal. Para que então
Advento? Qual a diferença entre Advento e tempo do Natal? Na composição do Ano
Litúrgico, tem que aprender a marcar as diferenças de tempo para tempo, não misturar
as coisas, portanto. Nós brasileiros temos a mania de misturar as coisas. Acho que é por
causa das feijoadas que comemos...” Seria muito significativo armar o presépio a partir
do 3º Domingo do Advento, onde iniciamos a preparação direta para o Natal.

É preciso tomar o cuidado de não abortar o Advento ou de celebrá-lo


superficialmente. Esse cuidado nos levará a não antecipar o Natal, seja fazendo
celebrações natalinas antes do previsto, seja usando ritos próprios da festa. Se nós
cantamos ”Noite Feliz” no dia 15 de dezembro, o que iremos cantar na noite do dia 24
para 25? Mas também não podemos celebrar o Advento como se Cristo ainda não
tivesse nascido. A longa noite da espera terminou. O mundo já foi redimido, embora a
história da salvação continue...

É importante lembrarmos às comunidades a Coleta Campanha para a


Evangelização, que é realizada no 3º Domingo do Advento, mostrando que “Jesus está
no meio de nós” na partilha. A Campanha para a Evangelização é, na Igreja do Brasil,
uma resposta firme e significativa de todos aqueles que acreditam e assumem a
responsabilidade evangelizadora. A Boa-Nova da salvação deve chegar a todos os
cantos de nosso país: das grandes cidades às pequenas aldeias, das periferias às
comunidades rurais, alcançando as crianças, os jovens, os adultos, os ricos e os pobres,
de modo especial a todos aqueles que sofrem. Nossa generosidade seja uma oferta viva
ao Cristo, que por nós se encarnou no ventre da Virgem Maria.

Revitalizar na Igreja, através do Advento, o espírito missionário de anúncio do


Messias a todos os povos e a consciência de ser sinal concreto de esperança. Desafia-
nos a um amor concreto por todos, preferencialmente pelos pobres, através de práticas
solidárias e ações sócio-transformadoras.

Pe. Benedito Mazeti

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