O Ano Litúrgico é luni-solar (sol e lua), Páscoa ligada com a lua cheia e Natal
com a questão do sol (solstício de inverno) no hemisfério norte. Ele é santificado pelo
Mistério Pascal de Cristo e estruturado para ser celebrado, mediante o ordenamento da
liturgia cristã, em diversos tempos e festas; é marco temporal no qual se desenvolve o
único e fundamental conteúdo celebrativo da Igreja, que é o mistério de Cristo: sua vida,
morte e ressurreição, ápice da história da salvação. É preciso entender que apesar do
Ano Litúrgico acontecer dentro do “ano civil” ele não é um concorrente do mesmo,
porque Jesus Cristo entrou firme na história para fazer dela uma história de salvação.
Ele acompanha o ano civil, mas não depende dele.
Pode-se perceber claramente que o Ano Litúrgico não é uma idéia, um conceito
antropológico ou uma simples explicação de uma maneira diferente de viver o ciclo de
um ano, estas podem até constituir dimensões do mesmo, mas não pode defini-lo com
tal. Ele não é um calendário que colocamos na parede da sacristia ou na secretaria da
casa paroquial. O Ano Litúrgico é uma pessoa: Jesus Cristo. O tempo da liturgia é o
tempo de hoje onde se torna sagrada a presença de Deus nele, novamente se encarnando
sob novas formas e dimensões e o tornado vivo e eficaz no meio da humanidade. O Ano
Litúrgico é o mistério de Cristo celebrado e vivido na história da Igreja como
“memória”, “presença” e “profecia”.
É preciso entender que o ano é o resultado de um fato astronômico, que pode ser
considerado em relação ao Sol ou em relação à Lua. Se levar em consideração o
movimento da Terra ao redor do Sol, teremos o chamado ano solar, composto por 365
dias, 5 horas e alguns minutos. Se considerarmos o crescer e o decrescer da luz da Lua
em movimento ao redor da Terra, no entanto, teremos o chamado ano lunar, que é a
soma de 12 lunações, isto, é, 12 meses.
A distinção do tempo em meses (grego: men = mês), também onde vigora o ano
solar, nos diz que a forma mais antiga de divisão do ano deve ser buscada no ano lunar
(grego: mene – lua). A própria divisão do mês entre os antigos romanos (divisão ainda
atual no calendário ocidental) em calendas (1º do mês), nonas (ano 7 do mês nos meses
de 31 dias; no 5 do mês nos meses de 30 dias) e idos (no 15 nos meses de 31 dias; no 13
dos meses de 30 dias) nos leva ao movimento lunar. As “nonas”, com efeito, ocorrem ao
cumprir-se do 1/4 de lua, e os “idos” ao cumprir-se do plenilúnio (2/4).
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Dentre tantos nomes tem-se usado outras denominações como: Ano cristão, Ano
do Senhor, Ano eclesiástico ou da Igreja e ciclo Litúrgico. No século XIX, Próspero
Guéranger é o primeiro a usar o nome Ano Litúrgico.
4- O Ano A de Mateus
O Papa Bento XVI fez, em 2006, uma bela reflexão sobre o sentido do Tempo
do Advento: “Façamos uma pequena reflexão: o texto bíblico não diz que ‘Deus veio’,
nem mesmo que ‘Deus virá’. Mas usa o verbo no presente: ‘Deus vem’. Se prestarmos
atenção, veremos que se trata de um presente contínuo, isto é, de uma ação que sempre
está acontecendo, aqui e agora, em qualquer momento. O verbo ‘vir’ se apresenta como
um verbo ‘teológico’ e ‘teologal’, porque diz algo que tem a ver com a própria natureza
de Deus. Anunciar que ‘Deus vem’ significa anunciar simplesmente a Deus mesmo,
através de uma de suas características essenciais e significativas: ‘Deus conosco’, ‘Deus
que vem’”. Podemos afirmar com toda a certeza: está vindo Aquele que sempre vem.
nossa carne, que constitui sua primeira vinda; e a manifestação em glória e majestade no
final dos tempos, que constitui sua segunda vinda.
nosso meio. Também não se canta o Te Deum, isto é, o canto de louvor a Deus após a
comunhão. O Aleluia..., no entanto, continua ressoando. Usar os instrumentos musicais
com moderação para não antecipar a alegria do Natal do Senhor.
Nos dois primeiros domingos temos os prefácios I, IA, II, IIA. O prefácio I
contempla as duas vindas de Cristo. O prefácio IA, contempla Cristo como Senhor e
Juiz da História. Estes dois prefácios podem ser escolhidos nas Missas do Advento e
em todas as outras, desde o primeiro domingo até 16 de dezembro, exceto nas Missas
com prefácio próprio. O prefácio mais indicado para o Primeiro Domingo é o Advento I
que realça a primeira vinda de Cristo para nos abrir o caminho da salvação e nos coloca
em estado de “vigilância” para a segunda vinda de Cristo. O Prefácio II contempla as
duas esperas de Cristo pelos profetas e pela Virgem Maria e nos convida a alegrar com a
proximidade do Senhor. Este prefácio nos coloca em clima de preparação para o Natal.
É indicado nas Missas do Advento e em todas as outras, de 17 a 24 de dezembro, exceto
nas Missas com prefácio próprio. O Prefácio IIA contempla Maria, a nova Eva. Ela nos
devolve a graça que Eva por Eva tínhamos perdido. É indicado nas Missas do Advento e
em todas as outras, de 17 a 24 de dezembro, exceto nas Missas com prefácio próprio. O
Hinário Litúrgico I da CNBB, página 73, apresenta para este domingo a louvação, em
melodia popular, própria do Advento, muito apropriada para o eito de Ação de graças na
Celebração da Palavra.
Para este tempo, é costume decorar o local da celebração com uma Coroa de
Advento (ou “coroa de luzes de Advento”). Trata-se de um suporte em forma circular,
revestido de ramagem verde amarrada (adornada) com uma fita colorida. Na coroa se
colocam quatro velas. Pode-se colocar a coroa junto ao altar ou próximo ao ambão
(mesa de onde se proclama a Palavra). Mas não deve “roubar a cena” do altar e da mesa
da Palavra! As velas vão sendo acesas, gradativamente, nas quatro semanas do Advento:
no primeiro domingo, uma; no segundo domingo, duas; no terceiro, três, e no quarto,
todas. No segundo domingo do Advento a primeira vela deve estar acesa deste o início
da celebração. Após a saudação do presidente acende-se a segunda vela e assim também
nos outros domingos. Estão presentes na coroa três simbologias significativas: a luz
como salvação, o verde como a vida que esperamos, a forma arredondada como símbolo
da eternidade. Ela expressa muito bem (como o fazem as leituras, as orações e os
cantos) a espera de Cristo como Luz e Vida para todos.
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“Antes do Natal, muita gente quer se confessar para estar preparada para a festa
do Natal de nosso Senhor. Sabemos que, quando a pessoa tem consciência de pecado
grave, deve recorrer à confissão individual para se reconciliar com Deus e com a Igreja
e, assim, poder participar dos sacramentos. É preciso pensar nisso com muito carinho e
organizar o tempo necessário, seja para confissões individuais, seja para as celebrações
comunitárias nas quais estão inseridas as confissões e absolvições individuais. Existe
também a possibilidade de confissão e absolvição coletivas, em casos excepcionais e de
grave necessidade, a serem definidos pelo bispo diocesano” (Carta Apostólica de João
Paulo II sob forma de ‘Motu Próprio’, A Misericórdia de Deus; sobre alguns aspectos
da celebração do sacramento da penitência. São Paulo, Paulinas, (Coleção a Voz do
Papa, 182).
No Quarto Domingo do Advento, convidar uma mulher grávida para aceder a quarta
vela da Coroa do Advento.
Vale aqui também lembrar o que escreve o liturgista Frei José Ariovaldo da
Silva, na revista Mundo e Missão, de dezembro de 2004: “Atualmente, muitas
comunidades eclesiais, influenciadas pela onda consumista por ocasião das festas
natalinas e de final de ano, estão assumindo o costume de enfeitar suas igrejas já bem
antes de o Natal chegar. Em pleno tempo do Advento, que é um tempo de piedosa
espera e alegre expectativa, já ornamentam suas igrejas com flores, pisca-piscas, árvores
de Natal e outros motivos natalinos, como já se fosse Natal. Posso dar uma sugestão?
Não sejam tão apressadas. Não entrem na onda dos símbolos consumistas da nossa
sociedade. Evitem enfeitar a igreja com motivos natalinos durante o Advento. Deixem o
Advento ser Advento e o Natal ser Natal. Enfeites natalinos dentro da igreja, só quando
o Natal chegar. Então, a festa com certeza será melhor. Sobretudo se houver na
comunidade uma boa preparação espiritual”. Precisamos silenciar o nosso coração e
contemplar a beleza da espera do Advento, contemplar também a figura de Maria
grávida e esperar com calma e sem atropelamentos o Natal do Senhor.
que atropela tudo. Será que a onda consumista tem mais força do que a espiritualidade
do Advento-Natal?