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Quadragesimo anno é uma carta encíclica do Papa Pio XI, de 15 de maio de 1931,

sobre a restauração e aperfeiçoamento da ordem social em conformidade com a Lei


Evangélica no XL aniversário da Encíclica de Leão XIII "Rerum Novarum".

Foi escrita como uma resposta à Grande Depressão de 1929, pede por uma ordem social
e econômica baseada na justiça social e no princípio da subsidiaridade.

Conteúdo

O Papa Pio XI dá uma grande importância na sua encíclica à restauração do princípio


dirigente da economia baseado na unidade do corpo social. Esta unidade não pode
basear-se na luta de classes, como a ordem econômica não deve deixar-se à livre
concorrência de forças, que cai facilmente no esquecimento de seu próprio caráter social
e moral.

Considera o livre mercado, em princípio, benéfico, mas não se pode deixá-lo a governar
o mundo e o mundo não deve ser governado apenas pela economia, como mostra a dura
experiência dos trabalhadores, nem tampouco pode converter-se numa ditadura
econômica que se rege por si mesma ou como um fim em si mesma.

A encíclica, no seu texto, reitera a condenação do comunismo já anteriormente feita


pelo documentos pontifícios que a precederam e condena também o socialismo
inclusive o chamado "socialismo moderado" que critica duramente, considerando-o
também incompatível com a prática e a fé cristã.

Com efeito ali é dito: E se este erro, como todos os mais, encerra algo de verdade, o
que os Sumos Pontífices nunca negaram, funda-se contudo numa própria concepção da
sociedade humana, diametralmente oposta à verdadeira doutrina católica. Socialismo
religioso, socialismo católico são termos contraditórios : ninguém pode ser ao mesmo
tempo bom católico e verdadeiro socialista.

A caridade e a justiça social devem ser a alma da nova ordem, defendida e tutelada pela
autoridade pública. Também são necessárias as institucionais internacionais para uma
boa organização da sociedade.

O texto ataca, através de uma análise lúcida, real e muito forte, a acumulação de poder e
de recursos nas mãos de uns poucos, que os manejam à vontade. Esta realidade tem
como conseqüência três tipos de luta: a luta pela hegemonia econômica, por apropriar-
se do poder político e entre os diferentes estados.

Com referência ao capitalismo a encíclica critica com dureza a livre concorrência do


mercado, especialmente coma mistura e confusão entre o estado e a economia com o
esquecimento do bem comum e da justiça. São funestos tanto o "nacionalismo ou
imperialismo econômico" como o "internacionalismo" do dinheiro, que só tem pátria
em si mesmo.

A isto chama de "despotismo econômico": É coisa manifesta, como nos nossos tempos
não só se amontoam riquezas, mas acumula-se um poder imenso e um verdadeiro
despotismo económico nas mãos de poucos, que as mais das vezes não são senhores,
mas simples depositários e administradores de capitais alheios, com que negoceiam a
seu talante. Este despotismo torna-se intolerável naqueles que, tendo nas suas mãos o
dinheiro, são também senhores absolutos do crédito e por isso dispõem do sangue de
que vive toda a economia, e manipulam de tal maneira a alma da mesma, que não pode
respirar sem sua licença.

Princípios e propostas

Propõe-se levar à prática os princípios da recta razão e da filosofia social cristã sobre o
capital de trabalho e sua mútua coordenação. É necessário evitar tanto o individualismo
como o colectivismo, ponderar com equidade e rigor o carácter individual e social do
trabalho, regular as relações económicas conforme as leis de justiça comutativa, com
ajudas da caridade cristã e submeter o livre mercado à autoridade pública sempre que
seja esta última o garante da justiça social dentro de uma ordem sã para todos.

Todas as propostas da encíclica se centram no regresso à doutrina evangélica, e defende


a sua intemporal validade.

Algumas propostas mais concretas são:

 Reforma ajustada de la economia à razão iluminada por la caridade cristã.


 Colaboração mútua e harmoniosa de todas as actividades humanas na sociedade.
 Reconstrução do plano divino para todos os homens.
 O enriquecimento é lícito sempre que não menospreze os direitos alheios.
 "Lei da temperança cristã" contra os apegos desordenados, que são uma afronta
aos pobres, e que se baseia em “buscar primeiro o reino de Deus e sua justiça".
 Lei da Caridade: muito mais ampla que a pura justiça.
 Igualdade radical de todos os homens na mesma família de filhos de Deus,
encarnado no filho de um carpinteiro, para potenciar mútuo amor entre ricos e
pobres.

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