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Santa Missa

Seus aspectos gerais, seu sentido espiritual e


benefícios para a Fé Católica

  Frei Vinícius Lemos Freitas, OFMcap


‘’Pois o homem, criatura de Deus que é, depende
Dele completamente; a sua dependência deve-a
reconhecer e manifestar. Pela reverência interior
reconhece a soberania de Deus sobre a sua alma,
fazendo, por exemplo, os atos de fé, esperança e
caridade; é o culto interior. Pelo louvor e serviço
manifesta os sentimentos de sujeição por meio de
sinais sensíveis; é o culto exterior.’’
‘’O homem não está sozinho na terra: existem
os outros homens; as criaturas irracionais,
vivas e inanimadas. Estes devem auxiliá-lo na
consecução do seu fim; devem ter como ação
comum, servir à divina Majestade.’’
Este serviço comum de todas as criaturas é
serviço de Deus, é liturgia, na acepção mais
lata, embora imprópria, porquanto inclui todos
os deveres do homem.
Para começo de conversa: o que é
Liturgia?

De onde vem seu nome? Temos 4 definições: 1) Uma função pública; 2)
Um encargo na comunidade (por exemplo, o cuidado dos pobres); 3) Uma
função pública sagrada (Antigo Testamento); 4) A Missa em si, o sacrifício
do Novo Testamento.

Sua essência se define: Liturgia é o culto da Igreja. Isso expressa no culto
interior, o rito em si, que expressa a virtude da religião (Santo Tomás
define: uma virtude moral que inclina o homem a dar a Deus o culto
devido como primeiro princípio de todas as coisas); expressa o culto
exterior em ser uma celebração pública e social, nas pessoas que ocupam
funções sagradas (sacerdotes) e nos vasos sagrados (cálice, patenas,
alfaias e etc…).
A origem da Liturgia

Ela tem sua origem com o próprio Cristo, quando na véspera de sua Paixão,
disse a primeira missa com os seus discípulos. Ainda assim, ensinou em suas
pregações o Pai-Nosso, fez os milagres da multiplicação dos pães e dos peixes.
Dessa forma, fica bem claro quando Nosso Senhor Jesus Cristos nos diz: Fazei
isso em memória de mim.
Pergunta: Se Jesus assim instituiu uma liturgia, porque tantas alterações?


Resposta: Pelo poder outorgado a Pedro puderam ser sancionadas formas
legítimas de celebrar a Eucaristia de formas diversas, tudo isso, sem retirar o que
há de principal, como foi dito acima. O que ligares sobre a terra, será ligado no
céu; o que desligares sobre a terra, será desligado também no céu. (Mt 16,19)

A liturgia, portanto, é de origem divina, parte direta e parte indireta; deve ser
tratada com muito respeito.
O objeto da Liturgia
Objeto Primário: Deus


- ‘’O louvor à Santíssima Trindade, ora a Deus Pai, ora a Deus Filho,
ora ao Espírito Santo é que se presta o culto explicitamente. Pela
doxologia: ‘Glória ao Pai, e ao Filho e ao Espírito Santo’, é glorificada
muitas vezes durante o dia a Santíssima Trindade. Nas orações da
Missa, a petição na maioria das vezes se dirige a Deus Pai: Deus todo
poderoso… A Deus Filho são consagradas as festas mais solenes do
ano eclesiástico: Natal, Páscoa, Corpo de Cristo e etc… O Espírito
Santo é invocado frequentemente, por exemplo, na oração Eucarística:
Mandai Vosso Espírito Santo… É este o culto de adoração (latria).
O objeto da Liturgia

Objeto Secundário: a) o culto dos Santos,
especialmente, a Virgem Maria.

b) o culto dos objetos: aqueles que tem relação com
Cristo e sua obra de Redenção, as relíquias da Cruz, o
próprio crucifixo; as relíquias e imagens dos santos.

c) o culto de pessoas ainda vivas e de coisas sagradas:
respeito ao sacerdote, aos vasos sagrados, à própria
assembleia em si.
Os sujeitos da Liturgia

Jesus Cristo é o primeiro sujeito da Liturgia: sua morte na Cruz foi
o sacrifício perfeito a Deus, ele foi sacerdote e vítima. É ele que
realiza todas as ações litúrgicas.

O sacerdote é o secundo sujeito da Liturgia: através do sacramento
da Ordem que recebeu, tem o poder de agir na ‘’pessoa de Cristo’’. A
santidade pessoal do sacerdote não influi em nada na operação dos
sacramentos.

O fiel é o terceiro sujeito da Liturgia: pelo batismo cada fiel é
incorporado no sacerdócio de Cristo, não em um caráter sacramental,
como o da Ordem, mas como ofertas vivas diante do altar de Deus.
As excelências da Liturgia

1. É a magnífica glorificação de Deus: tudo proclama a glória do Senhor,
como diz o salmista: ‘’os céus proclamam a glória do Senhor e o firmamento
a obra de suas mãos’’(Salmo 18 (19)). A Igreja imita os Santos no céu, dá
glória ao Altíssimo e chama ao serviço Dele toda criatura.

2. É fonte da Fé Católica: Nela está contida a tradição católica. Nela está
aplicada a lex orandi, lex credendi. As palavras que estão contidas na
Celebração, não só da Missa, mas dos sacramentos em geral, contém
fórmulas, orações e hinos que deduzem a Fé Católica.

3. É meio de santificação: nela se exprime a fonte inexaurível das graça
santificante e atual. A liturgia é escola de todas as virtudes pela leitura
contínua da Escritura, da vida dos Santos, da memória da vida, paixão,
morte e ressurreição do Senhor; tudo isso contido nos tempos e dias
litúrgicos.
As partes da Santa Missa

Liturgia da Palavra: As ●Liturgia Eucarística: A
leituras, a homilia e a apresentação do pão e do
oração universal. vinho, a ação de graças
consecratória e a comunhão.
Ambas as liturgias constituem
um só e mesmo culto, com
efeito, a Eucaristia contém a
mesa da Palavra de Deus e a
do Corpo do Senhor
O Ano/Tempo Litúrgico

Para início de conversa, não podemos compreender o
tempo como apenas uma sucessão de eventos. Como
assim? 

"Deus criou tudo começando pelo tempo". A criação do
tempo demonstra uma passagem das trevas à luz, do nada
para 'ALGO'. Isto é, o tempo. 

Para melhor compreender o ano litúrgico, podemos usar a
Luz como ponto central. Por isso a Páscoa, a Ressurreição
de Nosso Senhor Jesus Cristo, expressa a centralidade do
ano litúrgico.
O Ano/Tempo Litúrgico

Todavia, os povos antigos viam o tempo como uma corrupção,
nesse caso seria o tempo Chronos. A sucessão de eventos nessa
'cronologia' era a 'decadência' do homem.

Mas nem por isso deixamos de ver a ação de Deus, como quando
ele chama Noé, Abraão, Moisés, os Profetas e outros justos,
homens e mulheres, no Antigo Testamento.

É com Cristo, com os EVENTOS de sua Encarnação e
Ressurreição que o Chronos é inundado pela graça. Esse tempo
inundado pela graça é chamado de Kairós, é o tempo de merecer,
de expandir as fronteiras do Reino dos Céus, o tempo da graça,
tempo da Igreja.
O Ano/Tempo Litúrgico

A Ressurreição é o marco memorável, pois é
histórico, único, irrepetível e atual. Permanece
na História como o ato Salvador e redentor
singular de toda humanidade.

Por isso a Páscoa ocupa o lugar central no Ano
litúrgico. São nas celebrações contidas nesse
tempo que atingimos o ápice de nossa Fé.
DIANTE DISSO...
O ciclo do Advento e Natal

 Marca o início do tempo litúrgico com o Advento sendo a preparação
para o Natal.

É o tempo caracterizado pela espera de Nosso Senhor Jesus Cristo e do
povo que clama: VEM SENHOR JESUS! Concretizando-se com o
''Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade'',
cantado pelos anjos e pastores.
O Advento possui um caráter mais escatológico marcando a segunda

vinda de Cristo, como ele mesmo disse: "Acontecerá como nos dias de
Ló: comiam e bebiam, compravam e vendiam, plantavam e construíam.
Mas no dia em que Ló saiu de Sodoma, Deus fez chover fogo e enxofre do
céu e fez morrer todos. O mesmo acontecerá no dia em que o Filho do
Homem for revelado".
O ciclo do Advento e Natal

 Já o Natal celebra o Cristo no meio de nós. Ele se encarnou, assumiu a
carne, nasceu de uma mulher, para viver no meio de nós. 

 Esse tempo litúrgico tem dois caracteres: 1. A encarnação do Verbo:
com a celebração de seu nascimento vemos o Cristo pobre, escondido,
mas que está no meio de nós; apenas os homens de ''boa vontade'', ou
seja, de Fé que podem contemplá-lo e glorificá-lo; aqui podemos
destacar a vida do homem junto de Deus. 2. A manifestação ou epifania:
É a manifestação do Senhor aos magos, que nos convida a corresponder
o chamado de Deus, manifestado pela estrela, que nos guia pelo
caminho oposto de Herodes.
O ciclo da Quaresma e Páscoa

 Este ciclo é o principal de todo o ano litúrgico. Primeiro nos ocupamos
com a nossa conversão com o convite do Senhor feito na quarta de
Cinzas: ''rasgai o vosso coração e não as vestes''. O coração rasgado é o
coração que pode realmente contemplar o Cristo ressuscitado.

 Neste ciclo a Igreja reserva as principais celebrações da liturgia,
começando na quarta-feira de cinzas e terminando em Pentecostes. Este
ciclo, assim como todo ano litúrgico, tem seu ápice na Semana Santa
que começa no domingo de Ramos e encerra na "Vigília das Vigílias", a
Vigília Pascal.

 O tempo quaresmal é marcado pela penitência, pelo silêncio e pela
preparação dos catecúmenos que receberão os primeiros sacramentos no
dia da Vigília Pascal. 
O ciclo da Quaresma e Páscoa

 A penitência quaresmal é marcada pelo convite da Igreja do Jejum, esmola e
oração. Estes três gestos são a imitação perfeita das lições que tiramos das
tentações de Jesus no deserto Mateus 4,1-11. Vale dizer que a Quaresma
começa na quarta de cinzas e termina antes da Missa da Ceia do Senhor  e os
domingos não contam como ''dias quaresmais''.

 A Semana Santa é a grande semana. Depois de ficarmos com Nosso Senhor
no deserto, entramos com ele em Jerusalém; dessa forma, o domingo de
Ramos marca o início da Santa Semana.

 A coroação desta semana é chamada de Tríduo Pascal, que se inicia na
Missa da Ceia e terminando na Vigília Pascal. A Semana Santa se
destaca pelo silêncio, pela meditação da Paixão de Cristo(Domingo de
Ramos), pela Instuição da Eucaristia(Ceia do Senhor), a morte de Cristo
(Sexta-feira Santa) e a Ressurreição(Sábado de Aleluia).
O ciclo da Quaresma e Páscoa

 Chegando o Tempo Pascal somos tomados pela alegria do grande
Aleluia anunciado já na Vigília Pascal, de fato, Cristo Ressucitou. E
nós com ele!

 A Páscoa inicia com a oitava, oito dias que prolongam a alegria da
ressurreição, começa no domingo de Páscoa e termina na Véspera do
''Domingo da Misericórdia". Este tempo é marcado de grande alegria,
sempre cantando o Aleluia na recordação da ressurreição de Cristo, que
é nosso motivo de salvação e júbilo.

 Dessa forma, a Igreja celebra os cinquenta dias da manifestação do
Ressuscitado que prepara sua Igreja nascente para receber o Espírito no
dia de Pentecostes.
O ciclo do Tempo Comum

 Aqui a Igreja celebra a plenitude do Mistério de Cristo, sempre dando
destaque aos domingos. Este tempo não é menos importante porquê
recebe o nome de Comum, mas é "Comum" pois somos convidados a
viver no cotidiano a Salvação que nos foi dada por Cristo, Nosso
Senhor.

 Este tempo ainda se destaca pela constante celebração da memória
dos santos e também de algumas celebrações importantes,
como Corpus Christi, por exemplo. 

 Além do mais contemplamos as maravilhas de Cristo em seu
ministério público e somos convidados a corresponder todas as suas
ações, especialmente aquelas orientações do Sermão da
Montanha Mateus 5.
CONSIDERAÇÕES FINAIS


Catecismo da Igreja Católica – 1359. A Eucaristia,
sacramento da nossa salvação realizada por Cristo na cruz, é
também um sacrifício de louvor em acção de graças pela obra
da criação. No sacrifício eucarístico, toda a criação, amada
por Deus, é apresentada ao Pai, através da morte e
ressurreição de Cristo. Por Cristo, a Igreja pode oferecer o
sacrifício de louvor em acção de graças por tudo o que Deus
fez de bom, belo e justo, na criação e na humanidade.
PERGUNTAS?
REFERÊNCIAS

REUS, João B. Curso de Liturgia. 1. ed. São Paulo, Cultor


de livros, 2018
PAGGIOSSI, Michel. Entrarei no Altar de Deus Volume II.
2. ed. São Paulo, Cultor de livros; 2015
MARIN, Royo. Teologia da Perfeição Cristã. 1. ed. São
Paulo; Magnificat, 2020
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. 3ª. ed. Petrópolis:
Vozes; São Paulo: Paulinas, Loyola, Ave-Maria, 2006.

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