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Diocese de Imperatriz

Paróquia Nossa Senhora da Assunção


Pastoral Litúrgica

“Preparai o caminho do Senhor” (Mc 1,3)


Tempo do Advento: teologia, história e celebração

AVE,

CHEIA
DE GRAÇA!
Senador La Rocque – MA
11 de outubro de 2008
Diocese de Imperatriz
Paróquia Nossa Senhora da Assunção
Pastoral Litúrgica

“Preparai o caminho do Senhor” (Mc 1,3)


Tempo do Advento: teologia, história e celebração

“Um menino nasceu para nós: um filho nos foi dado!” 1 Esta é a alegre notícia que a cada ano
recebemos no Natal do Senhor. Celebrando solenemente o mistério da Encarnação e da Manifestação do
Verbo de Deus – a festa admirável em que o céu e a terra trocam seus dons, pois o Criador do gênero
humano quis também fazer-se homem, nascendo de uma Virgem, para doar-nos sua própria divindade 2 –
ficamos cheios de júbilo e, unindo nossas vozes ao Coro dos Anjos, cantamos: “Glória a Deus nas alturas e
paz na terra aos homens por ele amados!”3
Assim como temos as cinco semanas da Quaresma para prepararmos a Páscoa, a Igreja nos
oferece as quatro semanas do Advento para prepararmos o Natal do Senhor. O Advento é, portanto, o tempo
em que, “vivendo a esperança, aguardamos a vinda do Cristo Salvador” 4. Nele preparamo-nos tanto para a
celebração litúrgica do Natal quanto para a vinda definitiva do Cristo.
A palavra ADVENTO (em latim “adventus”) significa “chegada, vinda; aniversário de uma
chegada, de uma vinda”5. Inicialmente a palavra “advento”, na liturgia, referia-se ao nascimento de Jesus
(sua primeira vinda/chegada) e também à comemoração do aniversário de seu nascimento. Depois passou a
definir o tempo de preparação para o Natal e, em seguida, a espera da parusia (a segunda vinda/chegada de
Jesus, já glorioso, no fim dos tempos).

1. Evolução do Tempo do Advento

Para compreendermos a origem do Advento é interessante relembrarmos como foi sendo


formado todo o Ano Litúrgico. Após a Ressurreição os cristãos reuniam-se a cada domingo para fazer
memória de tal evento, ouvindo a Palavra de Deus e celebrando a Fração do Pão, a Eucaristia, como sabemos
pelos Atos dos Apóstolos e pelas cartas do Novo Testamento. O domingo foi, durante bastante tempo, o
único dia de festa, no qual se celebrava a Ressurreição.
Depois de algum tempo os cristãos passaram a celebrar a memória anual do dia da Ressurreição
do Senhor, no domingo depois da Páscoa dos judeus. Em seguida formou-se um período de preparação para
o dia da Páscoa, a Quaresma.
Por volta do século IV começaram as celebrações do aniversário do nascimento do Messias. Em
Roma, a primeira vez que se tem notícia de tal celebração data do ano de 336. Nesta época, até o século VI,
formou-se também um período de preparação: o Advento.
O período de 17 a 24 de dezembro tornou-se uma preparação mais intensa para o Natal do
Senhor. Em alguns lugares os bispos chegaram a determinar que todos os cristãos deveriam participar da
Eucaristia todos os dias desde 17 de dezembro até 06 de janeiro (dia da Epifania).
A duração do Advento variou bastante ao longo dos séculos: seis, cinco e quatro domingos. A
tradição romana fixou, por fim, em quatro semanas a duração do tempo do Advento, mantendo os dias mais
próximos do Natal como um período especial dentro do Advento.

2. Teologia do Tempo do Advento: a espera messiânica

“O Tempo do Advento possui dupla característica: sendo um tempo de preparação para as


solenidades do Natal, em que se comemora a primeira vinda do Filho de Deus entre os homens, é também
um tempo em que, por meio desta lembrança, voltam-se os corações para a expectativa da segunda vinda do

1
Is 9,6; cf. MISSAL ROMANO, Natal do Senhor, Missa do dia, Antífona de entrada.
2
Cf. MISSAL ROMANO, Natal do Senhor, Missa da noite, Sobre as oferendas; cf. LITURGIA DAS HORAS, Solenidade de Santa
Maria, Mãe de Deus, Vésperas, Antífona 1.
3
Cf. Lc 2,14; MISSAL ROMANO, Ordinário da Missa, Hino “Glória”.
4
MISSAL ROMANO, Ordinário da Missa, Embolismo.
5
NOCENT, Adrian. “O tempo da manifestação” In: AUGÉ, M. et al. O ano litúrgico: história, teologia e celebração. São Paulo:
Paulinas, 1991 (Anámnesis, 5). p. 202.
2
Cristo no fim dos tempos. Por este duplo motivo, o Tempo do Advento se apresenta como um tempo de
piedosa e alegre expectativa”6.
O Advento tem como principal característica, portanto, uma espiritualidade da expectativa, da
esperança. Ouvindo atentamente o anúncio dos profetas e de João Batista, toda a Igreja é chamada a ter as
mesmas disposições de Maria.
Diferente da Quaresma, o Advento não é tempo de penitência (o que não quer dizer que a
penitência não seja importante na preparação para o Natal!), mas sim tempo de alegre esperança. Durante o
Advento, de fato, não há motivos para ficar tristes ou abatidos. Ressoa em nossos ouvidos a palavra de
Paulo, que é tomada como antífona de entrada do III Domingo: “Alegrai-vos sempre no Senhor; eu repito,
alegrai-vos. O Senhor está próximo!”7. Como diz um canto:

“Que alegria que esperança,


aguardar Jesus que vem!
Renovemos nossas vidas,
confirmemos nossa fé!”

Durante o Advento devemos vivenciar a mística da gravidez. Assim como Maria trouxe no seu
ventre o Verbo Encarnado, vendo aproximar-se dia após dia a chegada do Salvador, toda a Igreja deve ficar
também “grávida” para trazer ao mundo a novidade do Reino de Deus.
Irmanados numa só fé e numa só esperança unimos nossas vozes no grito confiante: “Marana
tha”, “Vem, Senhor!”8. É o brado dos que vivem a espera messiânica, a espera da vinda do Messias, o Cristo,
que veio a primeira vez como homem, no ventre de Maria, e que virá novamente no dia derradeiro como
Senhor e Juiz da História.

3. Eucologia e Liturgia da Palavra no Tempo do Advento (Ciclo B)

A liturgia do Advento é uma das mais ricas do rito romano, tanto sob o aspecto eucológico (ou
seja, as orações: antífona de entrada, oração do dia, oração sobre as oferendas, prefácio, antífona de
comunhão, oração pós-comunhão) quanto sob o aspecto escriturístico (as leituras bíblicas e salmos). Todas
essas dimensões são profundamente marcadas pelos temas da vigilância, da espera e da alegria.
Com o Advento tem início também um novo Ano Litúrgico, que em 2008-2009 será do Ciclo B,
cuja principal característica é a leitura do evangelho de Marcos. Nos dois primeiros domingos do advento do
ciclo B o evangelho proclamado será segundo Marcos; no terceiro domingo o trecho proclamado é de João e
no quarto domingo de Lucas.
O tempo do Advento pode ser dividido em duas partes. Os dois primeiros domingos são o
advento escatológico (do grego “éskatos” = último; diz respeito aos últimos dias, ao fim dos tempos) e
preparam-nos para a parusia, o retorno, a segunda vinda (advento) do Senhor. Os dois últimos domingos (e
em especial os nove dias antes de 25 de dezembro) constituem o advento natalício, ou seja, uma preparação
imediata da comemoração do nascimento do Salvador, sua primeira vinda (advento).
Contudo, durante todo o Advento a Igreja nos chama a prepararmos a vinda do Senhor nos
dois sentidos: a vinda no sentido litúrgico-memorial, comemorando o nascimento de Jesus; a vinda no
sentido escatológico, aguardando o retorno glorioso do Messias.
Na verdade, toda celebração eucarística traz em si uma tensão escatológica: “Anunciamos,
Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!” 9. Em cada missa vivemos
esta tensão entre o JÁ e o AINDA NÃO: o Cristo já veio uma vez, o Cristo já está presente entre nós na
Eucaristia, o Reino de Deus já está entre nós, mas o tempo ainda não se consumou, o Cristo ainda não veio a
segunda e definitiva vez, o Reino ainda não está plenamente implantado. No Advento, entretanto, esta
dimensão torna-se mais clara pela proximidade da celebração do Natal.
O I Domingo do Advento traz a mensagem da vigilância. É preciso estar atentos, pois não
sabemos quando o Cristo retornará. A celebração é marcada pela confiança na vinda do Redentor. A antífona
de entrada nos apresenta esta certeza com as palavras do Salmo 24,1-3: “A vós, meu Deus, elevo a minha
alma. Confio em vós, que eu não seja envergonhado! Não se riam de mim meus inimigos, pois não será
desiludido quem em vós espera”. A antífona da comunhão faz memória também da confiança na bênção
divina que será concedida: “O Senhor dará a sua bênção, e nossa terra o seu fruto” 10. A oração do dia suplica o

6
Normas universais sobre o ano litúrgico e o calendário – NALC, n. 39.
7
Fl 4,4-5.
8
Cf. 1 Cor 16,22.
9
MISSAL ROMANO, Orações eucarísticas, Aclamação anamnética.
10
Sl 84,13.
3
“ardente desejo de possuir o reino celeste” e convida a ir com as nossas boas obras ao encontro do Senhor
que vem para que possamos receber a recompensa eterna. A oração sobre as oferendas pede que os dons
oferecidos, o pão e o vinho, expressão da fé da comunidade, tornem-se “prêmio da redenção eterna”. A
oração depois da comunhão, por sua vez, chama os fiéis a, alimentados pelo Sacramento, “amar desde agora o
que é do céu e, caminhando entre as coisas que passam, abraçar as que não passam”.
As leituras do I Domingo acentuam a importância da vigilância. É esta a advertência de Jesus no
evangelho: “Vigiai, portanto, pois não sabeis quando o senhor da casa volta... Não aconteça que, vindo de
repente, vos encontre dormindo. O que vos digo, digo a todos: Vigiai!” (Mc 13,35-37). A carta de Paulo aos
coríntios chama os fiéis à confiança e à esperança: “não tendes falta de nenhum dom, vós que aguardais a
revelação de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Cor 1,7). O texto de Isaías, por fim, apresenta o desejo messiânico
do povo de Israel: “Que bom, se abrisses o céu e descesses!” (Is 63,19).
O II Domingo do Advento nos convida a preparar os caminhos do Senhor. O profeta Isaías, na 1ª
leitura, e João Batista, no evangelho, fazem o chamado: abri uma estrada no deserto para o Senhor, que todo
vale seja aterrado e toda montanha rebaixada, para aplainar o caminho acidentado e endireitar o caminho
tortuoso, pois lá vem o Senhor nosso Deus (cf. Is 40,3-4.10; Mc 1,2-4). A carta de Pedro confirma a
comunidade na espera do Dia de Deus: ele não demora, pois o seu tempo é diferente do nosso e ele virá de
surpresa como o ladrão. Quando o Senhor manifestar-se haverão novos céus e nova terra (cf. 2 Pd 3,8-14).
A eucologia do II Domingo anuncia que o Senhor já está perto: “Povo de Sião, o Senhor vem
para salvar as nações! E, na alegria do vosso coração, soará majestosa a sua voz” ( antífona de entrada, cf. Is
30,19.30); “Levanta-te, Jerusalém, põe-te no alto e vê: vem a ti a alegria do teu Deus” (antífona de comunhão, cf.
Br 5,5;4,36). A oração do dia pede a graça de não deixar-se desviar do encontro com o Senhor pelas atividades
no mundo. A oração sobre as oferendas, diante da miséria dos méritos humanos, pede o auxílio da
misericórdia divina. A oração depois da comunhão, por fim, suplica que, pela participação na Eucaristia, os
fiéis aprendam a verdadeira justiça, para que julguem “com sabedoria os valores terrenos“ e coloquem suas
“esperanças nos bens eternos”.
Os prefácios destinados aos domingos e dias de semana do chamado advento escatológico têm
como temática o retorno glorioso do Senhor. O Prefácio do Advento I fala das duas vindas de Cristo:
“Revestido de nossa fragilidade, ele veio a primeira vez para realizar seu eterno plano de amor e abrir-nos o
caminho da salvação. Revestido de sua glória, ele virá uma segunda vez para conceder-nos em plenitude os
bens prometidos que hoje, vigilantes, esperamos”. Este prefácio alinha-se à temática do I Domingo: “Vigiai”!
O Prefácio do Advento IA (“Cristo, Senhor e Juiz da História”) diz ao Pai: “Vós preferistes
ocultar o dia e a hora em que Cristo, vosso Filho, Senhor e Juiz da História, aparecerá nas nuvens do céu,
revestido de poder e majestade. Naquele tremendo e glorioso dia, passará o mundo presente e surgirá novo
céu e nova terra. Agora e em todos os tempos, ele vem ao nosso encontro, presente em cada pessoa humana,
para que o acolhamos na fé e o testemunhemos na caridade, enquanto esperamos a feliz realização de seu
Reino”. A temática deste prefácio, por sua vez, alinha-se com a eucologia e as leituras do II Domingo, em
que Pedro nos fala dos “novos céus e nova terra”.
O III Domingo do Advento tem uma característica própria. É domingo da alegria: o Messias
aproxima-se, a salvação está próxima. A antífona de entrada conclama os fiéis a esta alegria: “Alegrai-vos
sempre no Senhor. De novo eu vos digo: alegrai-vos! O Senhor está perto” (Fl 4,4.5) 11. A antífona da comunhão
anuncia também a proximidade da vinda do Senhor: “Dizei aos tímidos: coragem, não temais; eis que chega
o nosso Deus, ele mesmo vai salvar-nos” (cf. Is 35,4). A oração do dia pede pelo povo que espera o natal do
Senhor, para que seja repleto da alegria e do júbilo pela redenção que se aproxima. A oração sobre as oferendas
pede que a sagrada liturgia realize nos fiéis as maravilhas da salvação. A oração depois da comunhão implora a
purificação dos pecados em vista da celebração das festas que se avizinham.
As leituras do III Domingo do Advento proclamam o motivo da alegria: o Cristo está entre nós,
os tempos messiânicos já começaram. É João Batista que, dando testemunho do Cristo, de quem ele não é
digno de desatar as correias das sandálias, diz: “entre vós está presente alguém que vós não conheceis” (Jo
1,26). É o Messias, o Ungido, sobre quem repousa o Espírito do Senhor, que anunciará o tempo da graça, o
jubileu da libertação (cf. Is 61,1-2.10-11). Neste domingo o salmo responsorial é o Magnificat, o Cântico de
Maria, que, sob o impulso do Espírito Santo, exulta de alegria no Senhor (cf. Lc 1,46-55). A carta de Paulo aos
tessalonicenses fortalece o convite da antífona de entrada: “Estai sempre alegres” (1 Ts 5,16).
O IV Domingo do Tempo do Advento celebra o mistério da Encarnação do Verbo de Deus. A
antífona de entrada apresenta o desejo ardente pela vinda do Messias: “Céus, deixai cair o orvalho, nuvens,
chovei o justo; abra-se a terra, e brote o Salvador!” (Is 45,8). A antífona da comunhão faz memória do anúncio
dos profetas: “A Virgem conceberá e dará à luz um filho; e ele será chamado «Deus-conosco»” (Is 7,14). A
oração do dia pede o derramamento da graça divina nos corações dos fiéis, que conheceram o mistério da

11
O texto dessa antífona em latim é: Gaudete in Domino semper, iterum dico, gaudete! Dominus enim prope est. Por isso este domingo
é chamado de “Gaudete”, o Domingo da Alegria.
4
Encarnação pelo anúncio do Anjo, para que possam chegar à glória da ressurreição pela paixão e cruz do
Salvador. A oração sobre as oferendas suplica que o mesmo Espírito que santificou o ventre de Maria na
Encarnação santifique as oferendas apresentadas no altar. A oração depois da comunhão pede que aumente o
fervor dos fiéis que participaram da Eucaristia à medida que se aproxima a festa da salvação.
As leituras do IV Domingo prosseguem com a mesma temática da eucologia, a Encarnação do
Verbo. A primeira leitura apresenta a promessa feita a Davi: suscitarei um filho teu e confirmarei sua
realeza, tua casa permanecerá sempre diante de mim (cf. 2Sm 7, 1-5.8.12.14.16). O evangelho apresenta o
cumprimento da profecia: o Verbo de Deus irá encarnar-se no seio da Virgem Maria, descendente da Casa de
Davi, representante dos pobres de Israel, será chamado Jesus (Ieshua, em hebraico/aramaico = “Deus Salva”)
e receberá o trono de Davi, governando sobre a casa de Jacó (cf. Lc 1,26-38). A carta de Paulo aos romanos
fala do segredo messiânico revelado a todos os povos em Jesus: o mistério, guardado em sigilo por Deus
desde sempre, foi manifestado para que todos sejam conduzidos à fé (cf. Rm 16,25-27).
Para o segundo período do Advento, o advento natalício, são propostos outros dois prefácios,
cuja temática alinha-se com a preparação para o Natal do Senhor. O Prefácio do Advento II celebra a dupla
espera de Cristo: “Predito por todos os profetas, esperado com amor de mãe pela Virgem Maria, Jesus foi
anunciado e mostrado presente no mundo por São João Batista. O próprio Senhor nos dá a alegria de
entramos agora no mistério de seu Natal, para que sua chegada nos encontre vigilantes na oração e
celebrando seus louvores”. O Prefácio do Advento IIA comemora Maria, a nova Eva: “Do antigo adversário
veio a desgraça, mas do seio virginal da Filha de Sião germinou aquele que nos alimenta com o pão do céu e
garante para todo o gênero humano a salvação e a paz. Em Maria, é-nos dada de novo a graça que por Eva
tínhamos perdido. Em Maria, mãe de todos os seres humanos, a maternidade, livre do pecado e da morte, se
abre para uma nova vida. Se grande era a nossa culpa, bem maior se apresenta a divina misericórdia em
Jesus Cristo, nosso Salvador”. Enquanto o Prefácio II ajusta-se com a liturgia do III Domingo, que celebra a
alegria da espera do Salvador, o prefácio IIA alinha-se com a eucologia e as leituras do IV domingo, que
comemora a Encarnação do Verbo em Maria.

4. Celebrar a Liturgia do Advento

O Tempo do Advento, como os demais “tempos fortes” da Liturgia romana (Quaresma, Páscoa
e Natal), tem algumas características que lhe são próprias, distinguindo-o dos demais. A primeira
característica que notamos nas celebrações é, provavelmente, a cor litúrgica. O Missal Romano12 determina
que no tempo do Advento a cor utilizada é o roxo, sendo que no Domingo Gaudete (III Domingo) é permitido
utilizar o cor-de-rosa. O roxo no Advento tem um significado diferente em relação à Quaresma: o Advento é
tempo de austeridade, despojamento e expectativa, enquanto a Quaresma é tempo principalmente de
penitência. O róseo no III Domingo acentua a mensagem da alegria: o Senhor está próximo.
No tempo do Advento as flores podem ser utilizadas, mas com tal moderação que não
antecipem a alegria do Natal. O Advento perderia muito de seu sentido se houvessem tantos ou mais
arranjos florais que no Tempo do Natal. Para ressaltar a proximidade da alegria pela vinda do Messias, no III
Domingo podem ser utilizados mais arranjos de flores do que nos demais dias do Advento.
Outra característica notada neste tempo é a presença da Coroa do Advento no espaço litúrgico.
A Coroa do Advento é composta de quatro velas 13 dispostas em círculo. A cada domingo uma vela é acesa.
Retoma-se, de certa forma, a tradição judaica do “Chanuká” (Festa das Luzes, em comemoração à dedicação
do Templo depois da profanação pelos invasores, cf. 1Mac 4,36-61 e 2Mac 1–2), em que um candelabro de
nove braços (chamado de Chanuká ou menorá de Chanuká) é aceso gradualmente durante oito dias (o nono
braço serve para acender os demais).
A iluminação progressiva da Coroa do Advento mostra que à medida que o Natal se aproxima
cresce também a alegria e a esperança do povo. Devemos ter em vista a primeira leitura da Missa da noite do
Natal: “O povo que andava na escuridão viu uma grande luz, para os que habitavam as sombras da morte
uma luz resplandeceu” (Is 9,1). A luz que chega aos poucos é o Messias, o sol nascente, sol da justiça que nos
veio visitar (cf. Lc 1,78-79; Ml 3,20).
Em algumas comunidades introduziu-se o costume de, além da Coroa do Advento, acender
também um candelabro de nove braços durante a novena do Natal (15 a 23 de dezembro).
A outra característica é o presépio, a representação do nascimento de Jesus. O presépio pode ser
montado de uma vez só na véspera do Natal ou ser montado aos poucos a partir do dia 17 de dezembro (ou
do início da novena) ou ainda a partir do III Domingo do Advento. Contudo, não se deve colocar a imagem
do Menino Jesus antes da noite de Natal.

12
Cf. Instrução Geral sobre o Missal Romano – IGMR, n. 308.
13
As velas podem ser todas brancas, todas amarelas, todas roxas ou então três roxas e uma cor-de-rosa ou ainda uma roxa, uma
verde, uma vermelha e uma branca.
5
Em algumas comunidades monta-se também uma árvore de natal. Deve-se, contudo, ter
atenção à orientação dada pela CNBB: “é importante deixar que o advento seja advento, saber esperar. Não é
bom antecipar o natal utilizando enfeites, músicas, cantos e outros elementos próprios do Natal” 14. Por isso,
se a comunidade resolver montar a árvore de natal durante o Advento, que ela seja montada aos poucos –
assim como a luz da Coroa do Advento aumenta progressivamente.
É importante lembrar que a comunidade deve tomar cuidado para não sobrecarregar o espaço
litúrgico com símbolos, enfeites, arranjos e outras coisas. O espaço para a celebração litúrgica deve ter
apenas o essencial, para não desviar o olhar da assembléia do mistério celebrado.

PARA APROFUNDAR...

O presépio – como o vemos habitualmente – conheceu variadas expressões artísticas (pintura, escultura,
mosaico, etc.). Como se sabe, seu primeiro idealizador foi S. Francisco de Assis, que organizou um presépio vivo em
Greccio. A iniciativa foi não só imediatamente adotada pelos franciscanos, mas se difundiu rapidamente por toda parte.
É forçoso no entanto reconhecer que se, como tal, o presépio ajuda a compreender de modo imediato a realidade da
natureza humana de Cristo, distorce um tanto o significado pascal do Natal, festa da vitória do Cristo-Sol sobre as
trevas, concentrando a piedade popular sobretudo na pobreza de Jesus e no seu rebaixamento na natureza humana.
Permanece contudo um interessante instrumento pastoral e catequético, embora se deva estar atento para que esta
catequese seja completa e correta e não esqueça a dimensão pascal do evento do nascimento de Cristo.
A árvore de Natal, considerada muitas vezes um emblema pagão ou paganizante, parece que teve, nos
países nórdicos, uma origem cristã. Ao que parece, deve relacionar-se com a festa de Adão e Eva celebrada na Alemanha
no dia 24 de dezembro. Era considerada como a árvore do paraíso e frutos simbólicos pendiam de seus ramos. Mais
tarde, no seu topo será fixada uma estrela. Com freqüência, sob a árvore é construído um pequeno presépio querendo
mostrar desta forma a ligação entre a árvore, como reconstrução do paraíso, e o mistério da Páscoa, já celebrado no
Natal.15

5. Novena do Natal

Os dias de 17 a 24 de dezembro constituem uma preparação especial para o Natal do Senhor no


Missal Romano e na Liturgia das Horas. Na devoção popular a esses sete dias foram acrescentados mais
dois, de forma a constituir uma novena.
A CNBB propõe para este ano uma novena inspirada no Ofício Divino das Comunidades –
ODC. O ODC é uma adaptação popular da Liturgia das Horas realizada no Brasil. Assim como a Liturgia
das Horas, o ODC apresenta para a oração da tarde (vésperas) uma antífona especial que acompanha o
Cântico de Maria para cada dia da novena. São chamadas de “Antífonas do Ó”, porque iniciam com esta
aclamação. Às sete antífonas da Liturgia das Horas, o ODC acrescentou mais duas para os dias 15 e 16 de
dezembro:

15 de dezembro: Ó Mistério: escondido há séculos nos céus, aos fiéis foste um dia revelado, e dos cegos
os olhos recobrados, já se firmam do coxo os passos seus, faz o pobre escutar a voz de Deus, vem, levanta do chão os
humilhados.
16 de dezembro: Ó Libertação: pelo Espírito Santo consagrado Boa nova trouxeste aos oprimidos,
confortaste os corações sofridos, os cativos por ti serão livrados, vem, liberta este povo acorrentado e o tempo da dor seja
esquecido.
17 de dezembro: Ó Sabedoria: Tu saíste da boca do mais alto, os confins do universo atingiste, tu com
força e ternura dirigiste este mundo por ti todo ordenado, vem mostrar o caminho consagrado da prudência, que ao justo
um dia abriste.
18 de dezembro: Ó Senhor, ó Adonai: de Israel, do teu povo és o guia, numa fogueira a Moisés te
revelaste, no Sinai a teus servos entregaste uma lei cheia de sabedoria, vem trazer a teu povo alforria, libertar com teu
braço os que amaste.
19 de dezembro: Ó Raiz de Jessé: estandarte bem alto levantado, um sinal para todas as nações, frente a
ti ficam mudos os barões, clama o povo e só quer ser escutado, vem, Senhor, libertar o escravizado, não demores, escuta
as orações.

14
CNBB, Novena de Natal 2008, Edições da CNBB, p. 4.
15
NOCENT, Adrian. “O tempo da manifestação” In: AUGÉ, M. et al. O ano litúrgico: história, teologia e celebração. São Paulo:
Paulinas, 1991 (Anámnesis, 5). p. 191.
6
20 de dezembro: Ó Chave de Davi: és o cetro da casa de Davi, tu, que abres e ninguém pode fechar, tu
que fechas e abrir quem poderá?... Vem depressa esta raça acudir. Algemado, quem vai poder sair, se na sombra da
morte é seu lugar?
21 de dezembro: Ó Sol do Oriente: és o Sol da Justiça que desponta, resplendor de uma luz que não se
apaga, quem habita nas trevas te aguarda, quem do cego pecado está na sombra, quem da morte adormece, leva em
conta, vem, Senhor, essa escuridão faz clara.
22 de dezembro: Ó Rei das Nações: Desejado dos povos, Rei das gentes, tu ajuntas em ti, Pedra
Angular, inimigos tu vens apaziguar, vem salvar este Povo tão dormente, pois do barro formaste o nosso ente, vem,
Senhor, e não tardes, vem salvar.
23 de dezembro: Ó Emanuel: Deus-conosco, o Rei Legislador, esperança de todas as nações, desejado de
todos os corações, és dos pobres maior Libertador, finalmente salvar-nos vem, Senhor, ó Deus nosso, ouve as nossas
rogações.

A novena tem como roteiro a chegada, um refrão meditativo, o acendimento da vela, o canto de
abertura, a recordação da vida, o hino, o salmo com sua oração, a leitura bíblica, a meditação e partilha da
Palavra, o responsório, o Cântico de Maria com a sua antífona do Ó, as preces, o Pai-Nosso, a oração e a
bênção final.

6. Cantar o Advento do Senhor

“No início do ano litúrgico, ao longo de quatro semanas, a Igreja entoa um canto de vigilante,
amorosa e alegre espera da vinda do Senhor, o Príncipe da Paz, o Emanuel, Deus-conosco. Este canto, antes
entoado pelos profetas, João Batista e Maria continua ressoando no seio da Igreja que clama: ‘Vem, Senhor,
nos salvar. Vem, sem demora, nos dar a paz’.”16
O Advento é tempo de guardar as forças para explodir de alegria no Natal. Por isso, não se
canta o “Glória” nas missas do Advento. O “Glória” é o canto de louvor entoado pelos anjos no nascimento
do Salvador (cf. Lc 2,14) e por isso será reservado para a Noite de Natal.
Ao contrário da Quaresma, no Advento o Aleluia pode ser entoado na aclamação ao
Evangelho e em outros momentos. Os outros cantos assumem um tom mais lento, acompanhando a alegre
expectativa messiânica. Para destacar isso é bom utilizar menos instrumentos musicais (apesar de seu uso
não ser limitado como na Quaresma) e dar mais espaço ao silêncio orante.
No Domingo da Alegria (III do Advento) as músicas podem ser mais festivas e também podem
ser utilizados mais instrumentos – tomando cuidado, porém, para não antecipar demais a alegria do Natal.
O “Glória”, mesmo neste domingo, não pode ser cantado.

Laersio da Silva Machado


Seminarista do propedêutico

16
CNBB. Guia Litúrgico-Pastoral. 2 ed. Brasília: Edições da CNBB. p. 86.
7

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