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‘Ai Marctto SoLon i CuAupia, PerRone-Mowsts | ELZa ANTONIA Pentiea Cuntia Bomeux Fervanoo MENezis DE AIMEIDA Gustavo Fertaz DF Campos Monaco Nisa Ranier Coordenadores Muzttiptos OLHaARES SOBRE O DirEITO HOMENAGEM AOs 80 ANOS DO Proressor Emerito Cetso Larer Vowume 2 Alberto do Amaral junior les Fulchiron Nadiade Araujo ‘AnaPaulaM daS.F-Castehano Isis Aparecida Conceigio Nina Ranieri Andréde Carvalho Ramos Joaquim Carlos Salgado Osmar Choi ‘Angela LimongiA. Alves José Augusto Fontoura Costa Pedro B. de Abreu Dalla José Levi M.do Amaral junior Pietro Webber Rafaela de Deus Lima Ricardo Henrique C.Salgado Roberto D. Machado Filho Rubens Ricupero Eduardo Tomasevicius Filho Luiz Edson Fachin Fabio Konder Comparato Marcelode A. Granato MarioG. Losano ‘Masato Ninomiya ‘Michelangelo Bovero ‘Murilo Gaspardo Wolfgang Heuer Editora Quartier Latin do Brasil ‘Sao Paulo, outono de 2022 Scanned with CamScanner “MOISES; ELZA SOLON; CLAUDIA PERRONE-MOISI AR ANIA PEREIRA CUNHA BOITEUX; FERNANDO MENEZES DE AN IPIDA, GUSTAVO FERRAZ DE CAMPOS MONACO; INA RANIERI (COORDENAGAO) ‘ARI MARCELO pla rsa Drie Mie er Per Emit Ce Lf -1O2 2022. Produ Joxe Ubitatan Ferraz Bueno Dingramao ‘Antonio Marcos Carlee Revitde rama Studio Quarter Capa ‘Aaderson dos Santos Pinto EDITORA QUARTIER LATINO BRASIL Ri {TOS RESERVADOS, Probid a repaso total ou paca, por qual- SumARio Apresentasio (Volume 2)... seemed Sosre os avrores, 13 Parte 1 Soctepape Puurat, Direrto Puurat, 19 1.A Duplicidade de nossos Ordenamentos Juridicos, 21 Fibio Konder Comparato 2. Interactions entre systémes ou ensembles ‘normatifs : Thypothése de la « dynamique de normes », 43 Hugues Fulciron 3, Reafirmando as Dimensées da Pluralidade Diante das Convulsées Globais, 61 Wolfgang Heuer 4, Multinormatividade e Pluralismo Juridico em Debate: Notas para Discussio, 77 Samuel Barbosa 5.0 Povoeo Vulgo sobre o Potencial Subversivo dos Populismos, 89 ‘Michelangelo Bovero 6, Muito Além da nao Discriminagio: Direito das ‘Mulheres, Equidade de Género e Cidadania, 109 Nina Ranieri Scanned with CamScanner Reman s NIE WONLEDEN Ps cp. shold Tes Hae Ss bine Ler der aE ©. jngt La, Morality, andthe Environ _Biume Munich: Heyne Verlag 2019, Sow Baosa 77 4 MULTINORMATIVIDADE E PLuRALISMO JuRIDICO em Desare: Notas para Discussio Saou Basson Como a raposa de Arquiloco/Isaiah Berlin, Celso Later sabe mui tas coisas, é0 homem de Estado, intelectual piblico, profesor e pesqui- sador. No ano do meu ingresso da graduacio em dieito na FDUSP em 1992, Lafer deu a aula inaugural para o perfolo do diurno sobre o plu- ralismo da tradigao liberal ~ guardei na memériaa forte impressio desta aula. Anos depois acompanhei a disciplina de filosofia do direito sob sua responsabilidade como ouvinte,jé que no meu ano da disciplina, Lafer estava afastado para ser ministro das Relagdes Exteriores. Em 2007, tive © privilégio de ingressar no Departamento de Filosofia e Teoria Geral (0 € privar do seu convivio, com um misto de humor, lucidez € >. Uma figura com tantas facetas pode inspirar diferentes pui- blicos. A mim,é 0 aluno ¢ interlocutor de Segismundo Spina, Antonio Candido ¢ Hannah Arendt que me fascina. O pesquisador que percor- re disciplinas, atento & historia e aberto a0 pensar. Para deixar minha singela homenagem,osclei entre apresentaralgo J concluido ou 0 comego de uma nova pesquisa. Escolho a segunda ps0. Apresento o inicio de um trabalho que desenvolvo no Mecila ~ ‘Maria Sibylla Merian Centre Convivi Latin America (ororw.meclanet)-Tata-se de um con Ine fangées de Estado de Lafer fi presdira Fapesp. Como tal foi wm in- centivador de redes de pesquisa do porte do Mecila. Scanned with CamScanner sm este marco de referéncia’ tividade sio sindnimos? 1, 0 pLURALISMO DO pLURALISMO JURIDICO vo engano,o termo “plu Salvo engi? fa dos marcos da estatalidade podem sere trados pela primeica vez em Santi Romano (Lordinamento giurid (Seinecke, 2018)" nora em sociedade colonise p6s-colonais sobre 0 ative su costo com o dieito dos colonizadores acurnularam, tio desde nos anos 1920 (vg. Malinowski, sem usar a categoria) foram eolocados soba categoria de pluralismo juridico nos anos de 19 reratura oi designada no importante balango de Sally Engle N legal pluralism’. Desde fins dos anos 1970, oe ses curopeus, EUA, A luralism’” (Merry, 1988: ia” do conceito alcanga o direito t cional (Teubner, 1996) e global (Berman, 2009). estudo de so do passado sob este enfoque hi si smo turdio, passando por const 1 aimpérios do passado, a categoria teve ralismo juridico” e Seu us0 expresso pal Sw Ba0~79 também una pluralidade de disciplinas envolvidas no del ogi, sociologia e historia, mas também a teoria do di ‘Tamanaba, Roughan). A fortuna da categoria nfo se restringe so co- nnhecimento te6rico, mas tem sido empregada em politicas ena mobili- Jago do direito por movimentossocis (Boaventura de Sousa Santos) Variadas distingdes foram propostas para dar orientagbes neste de- bate ramificado." Weak pluralism” para ordensjuridicas (vg nativas dis- tintas do direito estatal, mas reconhecidas por este; “strong ph para a competi de diferentes ordensjuridicas (stata ndo~esta $ursdictional pluralism” para denotaro fendmeno de “forum shopping’; “normative pluralism” para mapear os efeitos de ordens normativas sem se comprometer com a definigdo de juidicidade. (Guevara-Gil, 2009; ‘Twining, 2010). 2. PLURALISMO JURIDICO: “PANLEGALISM” OU “SOBREINCLUSAO” ‘Um saldo aprecidvel da literatura variada sobre pluralismo juridi- co foi o de questionar a identificagao do dircito com o direito estatal. 0 10 de sociedades anteriores & era das Revolugées, das codificagdes «edo fendmeno massivo da positivagio é melhor descrito com a catego- ria do pluralismo juridico; conhecé-lo sob uma perspectiva “estadualista” gera distorges de monta; direito candnico, natural, municipal, feu- dal, comercial, corporativo, imperial nao sfo estatais (Hespanha, 2012). Por sua vez, em um contexto de estatalidade, codificacio ¢ positivagio, a pretensio de exclusividade da validade do dircito estatal é desafada por outras ordens jurfdicas, nativas, informais e formais independentes do Estado (Ehrlich, dentre outros). A territorializagio ¢ nacionalizayio do direito nao elimina a diversidade interna de ordens juriicas. A pre~ tensio de monopélio da violéncia legitima, a centralizasio de insti werno para criare aplicar leis nio suprimem ordens jurdicas dade, reconhecidas ou nao pelo Estado, criadas por priticas garantidas por diferentes expedientes (tradigio interesse, ne- geciagao, violencia). Scanned with CamScanner Peres ites S dco De NaUsPAA DSSS 20 ‘bo- Mumsnet Seu Buns 81 “Tamanaha retine sob a rubrica de ‘pluralismo jucidico abst dias a8 ofertas te6ricas, oriundas da sociologia, antropologia ¢ dircito, que buscam conccito rites estataléjuridica. A estatalidade forn ro, Se esta condigao deixa de ser gui uma ondem juridica ndo-estatal d ica? O tisco € uma inflagio de o: : sito t, Sua pol com a ambigdo das teorizagées que buscam apresentar este cri jdentificagao do direito. Ocritério existe, nem toda ordem normativaé sério é contingente e € dado pelos nativos, pelos pa conjuntura, sio 0s participantes que distinguem o juridico do 0 juridico estatal do juridico nao-estata.O critéio é*folk”, ince law is ultimately a folk concept, folk legal pluralism identifies law by asking what people in a collectively recognize and treat through the diritto, prawo,. cesiraesuficente, como di ma ordem normativa nao-ju ju é 0 que sem sendo chamado de Croce, 2017) e “sobreinclusio” (Tamanaha, 2021 Regio duas propostas para despistar sem resolver o dil Boaventura de Sousa Santos, nfo védificuldades com o pane; “Temay be asked: why should these competing or complements ‘of social ordering be designated as law and nor rather as does not ass instead accepts that conventionally recognized manifestations of law vary and change over time in connection with surrounding. social, cultural, economic, political, technological, and ecological circumstances.” (Tamanaha, 2021: 176). Perguntar aos participantes 0 que identificado como direito? A so- lusio do dilema seria, por exemplo, Malinowski perguntar o que os r- gonautas de Trobriand consideram ser o dircito? Ora, para os nativos poderem responder isso, eles precisam entender o que Malinowski quer saber. Da mesma forma, é de pouca ajuda um historiador investigar as ocorréncias de “ius”, “nomos”... nas fontes. Por que ele escolheu estas pa- lavras e no outras? O que est pressuposto em um ¢ outro caso € de~ terminada concepedo (ainda que proviséria) do direito. A investigagio da concepgio “folk” é importante, mas pressupe alguma concepgio do diteito, (cf. Himma, 2004) A meu ver,o “folk pluralism’ ndo resolve o dilema. O problema no apenas empirico (observar ou interpretar fontes) para saber/pesquisar “strong legal pluralism’, em 2006 (p. 63) defendeu que a palavra “la {ose abandonada e que “plural ico” fosse reconceituado pluralism” ou ‘pluralism in social cont ‘Tamanaha, 2021: 191). concentrar no estudo de ordens normativas? 3- PLURALISMO JURIDIC ABSTRATO E “FOLK” va de enfrentar o dilema vem de Tamanaha (2021) fatério de uma das alternat Scanned with CamScanner eee so Puuso 00" -_eitos/eoncepy6es (dos natives eda nas presupoe conceit ‘O problema é empiric e conceitual. jntesprete). 4, IMPORTA A PERGUNTA SOBRE ANATUREZA DO pireito? ean and cannot be called ‘as isso nfo confunde aan satura do pl de demarcagio. ppossivel adotar concepgdes difere ja dis a depender dos fins da pesquisa, sia dee al fazer escolh tual eee ‘olhas conceituais. *quisa empitica, Abstrato e folk nao sio alternati Swan Bano 83 Colocando em termos gerais, minha motivagio é a pesquisa histé- sjea (América Portuguesa na Epoca Moderna) e comparada (com re~ jo do direito posterior do constitucionalismo e liberalismo; e com contemporiineo). Consciente das distorgdes da perspectiva cestadualista (Hespanha; Duve), acompanho com maior in- peesse as ofertas conceituais disponiveisa fim de realizar escolha pro- JJatvas (assim espero) para identificaro direito etematizar sua relagdes ‘com outras ordens normativas. Em razio da minha formagio, acompanho de perto a literatura de tcoria do direito analitica e p6s-analitica que costuma estar ausente do ‘bate. Hart, Raz, Marmor, Shapiro parecem trazer pouco & discuss, ‘io é evidente se pode haver um debate produtivo entre histéria d reito ¢ teoria analitica do direito, E mais razodvel esperar de teorias do ito que dialogam com a constelasio do “Law and..."eabertas& em- pitia, como é0 caso das propostas de “general jurisprudence” de Twining ¢ do proprio Tamanaha. Gostaria, no entanto, de invesir neste debate. do direito enfrentou enfaticamente a questdo do con- to ¢ da natureza do direito. Questdes conceituais cent que foram recalcadas sem sucesso pela lite- ico, foram abordadas analiticamente por esta ntificar uma ordem relagdo ao nosso d para a pesquisa empitica, to? Qual a diferensa pritica do direito? Nio quero sugerir que esta literatura fornega o graal para solucio~ nara questéo da demarcago do direito. Nao desconhego = diferensa de sresses € métodos entre a tcoria analitica ea histéria do direito (¢ so- i O modo como a teoria analitica formula € desenvolve as questdes sio diferentes da pesquisa empitica. Estas ofer- tas precisam ser traduzidas para serem produtivas. Seja como for, gostaria de assinalar uma movimenta¢io no campo, ie,impulsos internos i teoria do diteito para buscar contatointerdisc nar (Del Mar/Lobban, 2016; Del Mar, 2018). E de fora,o engejamento coma discussao de teoria analitica do direito. Assinalo, como exemplo, Scanned with CamScanner a formulagio & rp cia ( the nature of law as; reendente. A quest - rentes circulos de produto de saber normativo serve para questionar a focalizacio nag fontes do direito (legislagi0, doutrina, d para mape- idades imp is € 0 saber associado que is localizadas. O projeto tem langado mio de algumas ofertas conceituais ¢ testado sta produtividade: conceito pra- xeoldgico de norma, comunidades epistémicas,saberimplicto, radugzo, Se vejo corretamente, 0 projeto tem afinidade com impulsos mais a normatividade e, principalmente, da produgio do conhecimento? nor- iativo (seus circulos, media, modos de argumentar). Em outras palavras, 0 conceito de multinormatividade enfoca 0 problema das ordens normativas dentro dos marcos da produsio de co- mento normativo. A suposigao é que normas condensam conhe- cimento, dependem de conhecimento para serem formuladas, precisam ser conhecidas; seguir normas é uma pritica assentada no conhecimen- to explicito e implicito (incorporado), © mesmo pode ser dito da apli- cagio de normas. Como projeto em curso, trata-se de uma agenda que carece de de~ talhamento ¢ de comprovacio da sua fecundidade na pesquisa, mas jé conta com resultados promissores (Duve/Danwerth, 2020). Aprov de impulsos oriundos da sociologia das convengGes, da histéria d ia como historia do conhecimento (Daston, 2017, Renn, 2014). Guarda 3 jamente “conhecimento” e “saber” para traduzir knowledge/ Scanned with CamScanner Yr. paspcom Dane Noms DsciEst0 rues) {36-Marmossoon J Femanda Piri (2013): 0 dreito ng jo esolugao de controversias, rules & ‘conhecimento (chamade ido d cas de suas nor norma no exividade/regt i is com rege primaras ¢secundi ‘A agenda da mulinormat gto do dieito. Nio se apresenta como uma invest nto ou abandono da questo? do debate do pluralismo juridico colocs (eabre a natureza do direto) que no podem eta para pluralismo rifico mais recente que coloca enfaticams Sen Brom -B7 petstaMatsymiian,Pilotophicl Anais and Hise nan Legal Though: Der Marks Tomlin Chnpbe ror emis ti : Ofte eens Dann Ono els) Kreuk oft Prgmatic Ly re mg i ere edn Gide Mis al aaa John. What Legal Parlin owna of Leg John The Hes of Sociology of Law and its Rel e206. tu Ci) Armando. Apantes obec pli gin Di sae , Plural in: Died Compl tim 24,1986, 1 Law and to Sociology in With Ou rte epee ee ia Ang tnio Manuel. Pluralism Juridico ¢ Direito Demecritito, Lisboa, 2016. ion nh Einar Do Philp an Sslgy MA No Een air "Analysis of the Concept of Law. Oxford Journal of Lega Studies 2 me umanas um dilogo com o pensamento de a ig Pensumento de Hsnnah mneentons: From Language to Law, Princeton, 2009 Legal Pluralism. Laws amd Soity Revie, 22,5.869-696. roce, Mariano (2017), A Pluralism of Legal Plraism, Oxford ickson Poon Schol of Lavo Lepal Studies Rssarch Paper Sera, Reshtigesbicht, 22: 52-60, 2014, Roberts, Simon. Against Legal Pluralism: some reflections on the contemporary enlargement ‘of the legal domain, journal of Legal Plralsm, 42, 1998, \- Legal Pluralism Expleined: ‘Teubner, Ginther. A Bukowina Global s ‘Teansnacional. Input, 14(33): 9-31, 2003, Scanned with CamScanner

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