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Síntese Das Aulas - HNV
Síntese Das Aulas - HNV
Esse documento representa apenas uma síntese das aulas dadas no semestre. O ideal para uma boa
porração de véspera seria o seguinte:
1. Síntese das aulas: ler e ter uma ideia geral, vai adiantar MUITO na hora de ler os capítulos;
2. Capítulos do comandante Willian: prestar mais atenção no que foi comentado em sala de aula
(decorar, essas coisas), de resto, ter uma ideia geral;
3. Resumo dos textos: ENTENDER OS CONCEITOS para articulá-los em resposta discursiva.
Rapaziada, HNV não é difícil, mas você tem que saber articular as ideias. Não adianta só ler e cuspir
tudo na prova. O mais importante é entender as relações:
1. Ah, essa batalha ocorreu porque essa tática não funcionou;
2. Ah, foi escolhida essa forma de propulsão porque essa outra é mais sensível;
3. Ah, esse navio foi essencial porque sustentava o armamento daquele outro navio.
AULA 1: A BATALHA NAVAL DO RIACHUELO
Decerto a Guerra do Paraguai tem o Brasil como protagonista. Trata-se de um conflito complexo e de
múltiplas interpretações. Para começar a entendê-lo, é preciso entender que o Rio da Prata é um rio de boca
larga, onde não se vê a outra margem. Subindo o Rio da Prata, chega-se ao Rio Uruguai e, subindo mais um
pouco, chega-se a uma divisão: para um lado corre o Rio Paraguai e, para o outro, corre o Rio Paraná.
É essencial entender o que o Brasil do século XIX intenciona nesse entorno:
1. O Brasil não pode aceitar que o Uruguai, a Argentina e o Paraguai se tornem um só país para manter
o princípio da balança de poder (numa região de muitos países com poder semelhante [Uruguai,
Argentina e Paraguai] e um expoente [Brasil]). Assim, o Brasil evita o surgimento de um segundo
gigante que pode vir a competir com ele na região;
2. O Brasil tem o objetivo de manter a livre navegação na Bacia do Prata, que representava uma via
de acesso importantíssima para alcançar a área do Centro-Oeste (Centro-Oeste é uma denominação
de hoje, à época essa área era chamada de Mato Grosso [porque era tudo mato]). Não havia estradas
e a área do Mato Grosso sustentava um mito de grande concentração de riqueza; o único acesso
era fluvial. Ou seja: a livre navegação na Bacia do Prata era pressuposto para a comunicação do
Rio de Janeiro com o Mato Grosso, na medida em que, pela terra, o caminho era permeado por
tribos indígenas e o próprio Pantanal, que trazia consigo uma série de doenças desconhecidas. Essa
é uma razão de natureza geoestratégica;
3. Em uma disputa corrente entre partidos políticos, o Brasil apoiava o Partido Colorado, em
contrapartida ao Partido Blanco. Manter um domínio nesse entorno estratégico possibilita
influenciar os partidos eleitos;
a. Em 1851, o Brasil confronta a Argentina: o presidente da Argentina foi deposto pelos
brasileiros, que colocam um representante do partido colorado. Ou seja: “nós, os brasileiros,
fizemos uma intervenção no país vizinho. Depusemos o presidente e colocamos, no lugar,
um dos nossos”.
b. Em 1864, o Brasil confronta o Uruguai. O Uruguai tinha um representante do Partido
Blanco. Nesse contexto, surgem embates envolvendo fronteiras: cruzamentos e conflitos
nas regiões fronteiriças. Como o Brasil tinha o objetivo de destituir o presidente uruguaio,
enviou missão diplomática para dar um ultimato: “ou vocês resolvem o problema das
fronteiras, ou nós depomos o presidente”. Como isso não resolveu, Tamandaré assume
papel de protagonista e faz um acordo com Venâncio Flores, um guerrilheiro. Venâncio
organizaria tropas para depor o presidente uruguaio e, em troca, assumiria a presidência,
em seguida. Tamandaré atua a partir dos meios navais, tendo em vista que não havia tropas
terrestres brasileiras para depor o presidente. Em abril de 1865, Venâncio Flores já era o
presidente do Uruguai.
i. Antes disso, o Paraguai (que tinha um líder do Partido Blanco) envia nota ao Brasil
dizendo que se o Uruguai fosse atacado, o Paraguai se sentiria também atacado e
começaria uma guerra contra o Brasil. Em 12 de novembro de 1864, o Paraguai
sequestra um navio brasileiro em frente a Assunção e saqueia todo o dinheiro que
nele havia, e o Brasil interpreta isso como uma declaração de guerra; nesse dia
começa a guerra entre o Brasil e o Paraguai (mas não a guerra da Tríplice aliança.
Quando utilizamos o termo “guerra do Paraguai”, jogamos toda a responsabilidade
para eles, como se nós não tivéssemos feito nada).
Nesse contexto, Tamandaré decreta o bloqueio do Rio Paraguai e manda o seu Chefe do Estado Maior,
Barroso, para realizar o bloqueio (DEZ64). Os paraguaios não tinham como realizar uma guerra com o Rio
Paraguai bloqueado, tendo em vista que esse representava a via de escoamento de pessoas e mercadorias (e
por isso, também, que foram erguidas as fortificações paraguaias no curso desse rio). Para combater esse
bloqueio, os paraguaios organizam uma esquadra que sai em MAI65, desce o rio e encontra a esquadra de
Barroso em 11 de junho de 1865 (um domingo).
É importante ressaltar que a batalha naval do Riachuelo não ocorre no Riachuelo, essa é apenas uma
denominação para o diminutivo de Rio: um Riachuelo é um “riozinho” e, nesse contexto, não apresenta grande
profundidade. A esquadra de Barroso encontrava-se atracada e a tripulação saiu para pegar lenha (lembrar que
os navios eram à vapor). A ideia da esquadra paraguaia era pegar a esquadra de Barroso de surpresa, em um
ataque às 4 da manhã, mas como na realidade as coisas dão errado, chegam as 9 ou 10 da manhã. Assim que
a esquadra brasileira avista a esquadra paraguaia, tocam o alarme (tiros de canhão) e içam as bandeiras de
comunicação (que pouca gente sabia interpretar, mal o comandante). Nesse momento há a primeira troca de
tiros, que não causa nenhuma avaria significante em ambas as esquadras. A esquadra paraguaia se retira a um
local próximo, as ilhas Palomeiras. Barroso tem duas opções a partir disso: ou ele finge que não tem nenhuma
esquadra paraguaia por perto, ou ele suspende e a enfrenta. Quando Barroso chega no local e vê que há uma
grande artilharia instalada e um baixo calado, seu navio para (no entanto, alguns navios de sua esquadra
continuam e são afundados). Barroso inicia uma manobra de guinada, que dura mais de hora. Após isso, a
esquadra de barroso investe contra a esquadra paraguaia e são afundados 4 navios paraguaios e 3 brasileiros.
Após isso, os navios paraguaios fogem para Assunção e os navios brasileiros falham em persegui-los. É
importante ressaltar que os navios brasileiros tinham porte bem maior, de navios oceânicos; e por isso tinham
muitos problemas com calado, coisa que os paraguaios não tinham.
Surge a necessidade de se responder uma pergunta: a Batalha Naval do Riachuelo é uma batalha
decisiva? Pode-se estruturar a resposta em pilares:
1. A vitória na batalha naval do Riachuelo foi a primeira vitória do Governo Imperial do Rio de
Janeiro, e a partir disso pode-se criar uma propaganda política em torno de uma suposta vitória, e
pode-se convencer a opinião pública a engajar na guerra;
2. Do ponto de vista tático, a batalha naval do Riachuelo, apesar de não ter destruído completamente
a esquadra paraguaia, a excluiu do restante da guerra;
3. Do ponto de vista estratégico, a batalha é decisiva porque Barroso manteve o seu bloqueio;
4. E do ponto de vista logístico, a batalha é decisiva porque, com a manutenção do bloqueio, o
Paraguai deixa de se comunicar com as suas tropas em terra no Mato Grosso e no Rio Grande do
Sul, sufocando-as.
A partir dessas 4 razões, pode-se afirmar que a batalha Naval do Riachuelo pode ser considerada uma
batalha decisiva. Mas, e aí? A guerra está ganha? Não, porque o Brasil teria muitas dificuldades para chegar a
Assunção por conta das fortalezas paraguaias e por conta do calado. Para safar isso, o Brasil adquire navios
de baixo calado, com couraça de ferro em volta do casco, e com torre giratória (porque se os canhões fossem
pelo través, para acertar um alvo seria necessário girar o navio em uma condição de calado extremamente
restrito). Lembrando ainda que os navios eram à vapor, e uma torre giratória e uma maquinaria mais complexa
exigiria maior manutenção; e a partir disso surge a necessidade de armazenar carvão, ter pessoal especializado.
Surge, em pleno teatro de guerra e dentro do território paraguaio, o Arsenal (em conjunto com os argentinos).
As operações contra as fortalezas começaram em 03 de setembro de 1866 e terminaram em 19 de
fevereiro de 1868. A fortaleza de Humaitá foi bombardeada por seis meses antes de uma vitória definitiva,
quando visconde de Inhaúma consegue realizar a passagem. É importante ressaltar que a ação era sempre
simultânea: um bombardeio acompanhado por um ataque terrestre.
Durante a tentativa de ultrapassagem da segunda fortaleza, as tropas em terra têm muita dificuldade
em ultrapassar os fossos e, por isso, batem em retirada. Nesse momento, os esforços da fortaleza se voltam
para a esquadra, que é superada (momentaneamente). Nesse ponto, a opinião pública é impactada e Tamandaré
é deposto, exonerado. Quem assume é o visconde de Inhaúma. Após ultrapassar a fortaleza de Humaitá, a
guerra é praticamente vencida, e Solano López foge em direção a cordilheira dos Andes. Após isso, quem
tanto Solano quanto Duque de Caxias se aposentam (ambos estavam muito velhinhos, nos seus 70 anos), e
quem assume as tropas terrestres brasileiras é o marido da princesa Isabel, que entende que paraguaio é raça
ruim e tem que morrer mesmo, começando assim uma grande crueldade (Solano enviava, inclusive, crianças
com bigodes falsos, que morrem aos montes).
É importante, uma breve contextualização, antes de ir direto ao ponto. Imagine uma batalha de
Trafalgar, em 1805 e que, por conta de Mahan, tornou-se a principal batalha decisiva da história, e essa mesma
batalha de Trafalgar foi composta por navios de madeira e de propulsão à pano. Pode-se perceber que ainda
não existiam máquinas à vapor ou canhões no século XVII. A partir de Trafalgar, os navios mudaram
completamente devido ao surgimento da máquina à vapor. É possível entender a batalha de Trafalgar como
algo que extravasa o campo militar: a partir dela surgem representações que dialogam diretamente com a
política nos momentos posteriores (cometendo um anacronismo, é possível perceber o que Clausewitz dizia,
não é mesmo?).
Partindo agora para as máquinas à vapor. Esses navios nascem próximo a 1770 e são aperfeiçoados no
século XIX, ao passo que a partir de 1820 já existiam muitos navios à vapor. Os primeiros navios possuíam
pás laterais (como aqueles moinhos d’água) anexados ao costado e como meio de propulsão:
Pode-se traçar, então, uma série de vantagens e desvantagens do navio à vapor em relação ao navio à
vela:
1. Vantagens:
a. maior autonomia: o navio à vela era muito dependente do tempo, das condições climáticas e
afins; davam-se voltas e mais voltas buscando as correntes de vento e maré para chegar aos
destinos quistos, ou seja, para sair de A até B demoravam 30 dias. Com o navio à vapor, para
chegar a B, saindo de A, levavam 8 dias. Isso possibilitava percorrer uma maior distância nos
mesmos 30 dias que o navio à vela levava para chegar de A até B: nesse mesmo tempo, o navio
à vapor saía de A, passava por B, atracava em C e terminava sua jornada em D;
b. Maior velocidade e maior capacidade de manobra: era algo inédito não depender do vento,
tanto que a partir da máquina à vapor nasce o ETA: agora era possível precisar exatamente o
dia em que se chegaria a algum lugar, e a partir daí pode-se marcar reuniões, tirar férias (antes,
era preciso estar de pronto emprego; o navio saía quando ocorria uma janela no tempo).
2. Desvantagens:
a. Necessidade de armazéns de carvão;
b. Elevado risco de incêndio;
c. Elevação do custo: era preciso ter uma mão de obra especializada a bordo (maquinistas), bem
como era necessário ter sobressalentes a bordo.
Apesar de tudo isso, existia ainda outra discussão acerca do meio de propulsão. As pás laterais, apesar
de promoverem uma grande propulsão, possuíam uma série de deficiências, principalmente para navios de
guerra. Pode-se perceber uma série de vantagens e desvantagens da pá lateral em relação ao navio de propulsão
à vela:
1. Vantagens: propulsão muito maior;
2. Desvantagens: guinadas constantes (sempre que vinha uma onda pelo través, ela batia primeiro em
uma pá e depois na outra, o que provocava uma grande guinada da proa), as pás laterais eram alvo
constante de bombardeios e, como as pás eram uma grande estrutura, competiam pelo espaço que
poderia estar ocupado por canhões.
Tais problemas foram resolvidos com a invenção do hélice, que coloca essa roda abaixo da linha
d’água. Vale relembrar que o primeiro navio à vapor brasileiro chega em 1847: a fragata Dom Afonso, que
Tamandaré vai buscar na Inglaterra.
Em outro viés de pensamento, surge a discussão que não tem a ver com a máquina à vapor, mas com
os canhões: a revolução industrial traz consigo a balística, o estudo dos movimentos parabólicos e de
precessão; nasce também a indústria química: com a balística pode-se saber exatamente qual parte do projetil
vai bater primeiro no alvo e, com isso, pode-se preencher essa parte com algum composto incendiário ou
explosivo. Surgem os canhões de alma raiada, pelos quais os projetis saem girando. Ou seja, a revolução
industrial trouxe consigo os canhões de alma raiada e os projetis incendiários.
Em detrimento das inovações trazidas pela revolução industrial, não era mais possível ter navios com
casco de madeira. Surge, então, a couraça: os navios passariam a ter chapas reforçando as obras mortas.
Reaparece o esporão, para atacar as obras vivas (que ainda eram de madeira, sem couraça para proteger). É
muito importante entender que, à altura, os cascos dos navios continuavam a ser de madeira; eles apenas
tinham chapas de ferro envolvendo as obras mortas de madeira.
Para entender toda essa evolução, vamos dar uma olhada nas seguintes batalhas:
1. Guerra da Crimeia (1853 – 1856): conflito russo-turco pelo controle do mar Negro e dos
Dardanelos. Aliaram-se os ingleses, franceses e turcos contra os russos, que queriam uma saída
para o Mediterrâneo (e para o Atlântico, por conseguinte), tendo em vista que a sua única outra
saída para o mar congelava durante o inverno. Dessa guerra, vamos ver as seguintes batalhas:
a. Batalha de Sinope (1853): Os canhões dos navios russos já possuíam projéteis explosivos,
que incendiaram os navios franceses e afundaram toda a força naval turca. A partir daí, viu-
se que não era mais possível fazer guerra com navios com casco de madeira;
b. Batalha de Kinburn (1855): os navios encouraçados (de madeira, mas com couraça
protegendo) franceses empregados suportaram os impactos da artilharia das fortalezas e,
ainda, silenciaram-nas. Pode-se dizer que, pela primeira vez na história, um navio venceu
um forte.
2. Guerra civil dos Estados Unidos (1861 – 1865):
a. Chesapeak Bay: sul transforma uma ex-fragata nortista (Merrimack) em um navio
encouraçado renomeado Virginia, com 10 canhões em casamata, proa em aríete (esporão)
e borda alta, que destruíu com facilidade os navios com casco de madeira do norte.
b. Chesapeak Bay: ainda nessa baía, surge o navio do norte da classe Monitor (o mesmo do
Monitor Parnaíba), com apenas 2 canhões em torre giratória, convés na linha d’água
(porque era, sobretudo, um navio fluvial). É importantíssimo entender que, por conta da
torre giratória, um canhão vale mais que 70 canhões de través (um navio com canhões de
través tem que manobrar para acertar a mira, ao passo que um navio com torre giratória
pode simplesmente mirar onde se quer sem precisar manobrar).
i. O navio Monitor (de madeira, com chapas de aço [couraça], uma torre giratória,
sem costado e operando na linha d’água) das EUA revolucionou e serviu de
parâmetro para o surgimento da classe Monitor em todo o mundo, classe essa
imprescindível para o avanço em meio as fortalezas na guerra da Tríplice Aliança.
3. Batalha Naval de Lissa (1866): um navio italiano afunda por conta de navio austríaco que tinha
esporão. Nessa batalha os navios fazem uma formatura em linha de frente (retomando à
antiguidade) justamente para acertar o fundo de madeira;
4. Guerra Russo-Japonesa (1904 – 1905): a partir desse momento, há uma competição entre a couraça
e o canhão, para ver qual se sobressai. Em 1880 surge o aço, mais leve e resistente que o ferro
(dispensa aquela couraça de 30 cm por uma mais fina e mais resistente). Nessa guerra, há a tentativa
de controle do Mar Amarelo (que divide os dois países). Os russos suspendem uma força naval
para combater os japoneses que sai pelo Atlântico, passa pelo cabo da Boa Esperança e chega ao
Japão. Como ao navios eram à vapor, no meio do caminho acaba o carvão e começam a surgir
diversas gambiarras. A viagem dura 10 meses até a batalha naval de Tsushima, onde os japoneses
vencem os russos. Essa batalha é a primeira onde os orientais vencem os ocidentais (e por muito)
e, por isso, mostra ao mundo que os orientais não são inferiores aos ocidentais. Essa batalha foi
também a maior desse tipo de navio: encouraçados completamente de aço, propulsão à vapor, torres
giratórias e canhões modernos. A partir dos estudos táticos dessa batalha, surge a necessidade de
navios com grande deslocamento, couraças de aço, canhões gigantes (com projetis do tamanho de
um ser humano). Após a batalha de Tsushima, surgem os navios Dreadnought, e nesse momento os
navios atingem seu apogeu como plataformas de canhões.
É essencial entender que, desde os anos de 1850, até os anos de 1870 ou 1880, ou navios eram
chamados de couraçados ou encouraçados e eram de madeira com couraças; a partir de 1880 ou 1890, os
navios se chamam somente encouraçados e são completamente de ferro ou aço.
O foco maior das aulas das guerras mundiais é focar nas batalhas e nos contextos por trás dos planos.
Acerca das batalhas, vamos tentar entender também como elas afetaram os ideias de batalha naval nos
momentos posteriores. Antes de qualquer coisa, é essencial ter em mente se a guerra é lógica (natural, uma
coisa acontece naturalmente após outra) ou consequência (fruto de decisões políticas e humanas): a guerra é
consequência; não podemos tratar o que ocorre durante as guerras como natural. Em um primeiro momento,
vamos contextualizar os momentos que precederam a guerra na geopolítica dos impérios participantes:
1. Império Britânico:
a. Já possuía uma grande presença em todos os oceanos, tanto militar (Marinha de Guerra)
quando econômica (Marinha Mercante, rotas comerciais estabelecidas);
b. À altura, o Império Britânico controlava vários choke points ao longo dos oceanos;
c. Na logica do imperialismo e colonialismo, o Império Britânico possuí algumas colônias
produtoras de carvão, o que gera suficiência energética;
d. Há uma tentativa de controle das rotas comerciais, entende-se que o Império Britânico é
descontínuo, sendo ligado através da Marinha;
i. Acerca da questão da conquista das colônias, o imperialismo era essencial porque,
nos países colonizados, era possível recolher insumos básicos e revendê-los
industrializados, onde se arrecadava por meio de tributos e impostos e, depois,
podia-se investir na industrialização, na própria Marinha etc.
e. As maiores preocupações do Império Britânico eram manter as suas vias marítimas abertas,
e manter um equilíbrio de poder entre as nações europeias, evitando tanto a expansão alemã
quanto a política do revanchismo da França (para recuperar as províncias tomadas pela
Prússia na guerra franco-prussiana, ou vingar-se pela mesma);
2. Império Alemão:
a. Ainda na lógica do imperialismo, que era tido como condição essencial para a
industrialização, a Alemanha precisava desenvolver sua Base Industrial de Defesa, mas
quase todos os territórios já haviam sido colonizados. Sendo assim, a Alemanha teria que
tomar os territórios dos vizinhos (por exemplo, as colônias francesas);
b. A Alemanha tinha, também, como objetivo, manter um equilíbrio de poder na Europa,
evitando uma aliança forte entre o Reino Unido e a França;
i. Para conquistar ambos os objetivos, a Alemanha teria que desenvolver uma Marinha
de Guerra, que não existia à época.
Agora, vamos passar para as causas da 1ª Guerra Mundial. Não se pode estabelecer uma única causa
para a guerra. Não foi somente o assassinado do arquiduque austríaco Francisco Fernando. Além de que a
guerra tenha sido uma combinação da competição econômica, das rivalidades imperialistas e do nacionalismo
extremado, pode-se sumariar no seguinte:
1. Interesse do Reino Unido e da França em manter a hegemonia imperialista, não deixando que a
Alemanha entre no jogo;
2. Militarização da diplomacia germânica;
3. Crença no pan-eslavismo (união dos povos eslavos nos Bálcãs) por parte da Rússia;
4. Projeto revanchista da França;
5. Interesse inglês e alemão em dominar os despojos dos otomanos;
6. Luta nacionalista dos sérvios contra a Áustria.
Sabendo disso, é necessário entender que a guerra por terra, decorrente de uma grande movimentação
de efetivo onde nenhum dos lados se sobressaiu, foi paralisada: o efetivo se manteve nas trincheiras. Qual a
consequência disso? A guerra saiu pelo mar; no entanto, não se podia empregar batalha decisiva porque as
forças navais eram equivalentes, e numa batalha decisiva, restariam poucos ou quase nenhum meio para ambos
os lados. A imprensa britânica espera, e força a opinião pública a esperar, uma batalha decisiva, que está fora
de questão; além disso, o Exército alemão também espera uma batalha decisiva por parte da Marinha. Os
cruzadores alemães, espalhados pelo globo, seguiam atacando as linhas de suprimento britânicas, e a solução
encontrada pela Royal Navy foi um bloqueio naval à distância através de patrulha em conjunto com minagem.
A resposta alemã se deu com o seguinte pensamento: “ah, se eles, os britânicos, montaram um bloqueio
esperando nossa esquadra, nós deixaremos os navios no porto, em condição pronto-emprego; dessa forma, os
britânicos não poderão deixar de realizar o bloqueio”. Ou seja, a estratégia alemã se deu pela esquadra em
potência.
Em algum momento, no entanto e por conta do bloqueio realizado, foi necessário suspender. Isso se
deu por ocasião da batalha da Jutlândia. A esquadra em potência alemã efetivamente suspendeu e prosseguiu
numa tentativa de corte do T no bloqueio da Royal Navy, para prosseguir com o disparo da bateria principal
alemã ou com o ataque torpédico. O que ocorre, no entanto, foi uma inconclusão: a batalha termina com 14
navios afundados e 6 mil baixas por parte do Reino Unido, e com 11 navios afundados e 2,5 mil baixas por
parte da Alemanha. Ou seja, foi uma vitória tática alemã, que se sobressaiu militarmente e teve menos baixas
e meios afundados; e uma vitória estratégica britânica, que manteve o seu bloqueio do mar do norte.
Quais foram as consequências da primeira guerra?
1. Consequências políticas e econômicas:
a. Revanchismo francês no tratado de Versalhes, e humilhação da Alemanha;
b. Fracasso da Liga das Nações como instância internacional;
c. Consolidação do regime e movimento comunista soviético;
d. Ascensão e consolidação da ideologia do nazifascismo;
e. Crise de representatividade do regime da democracia liberal.
2. Consequências militares e navais:
a. Rearmamento naval e militar alemão;
b. Expansão militar japonesa na Ásia;
c. Desestruturação militar e naval soviética;
d. Preponderância estratégica do navio-aeródromo sob os encouraçados;
e. Eclosão da Segunda Guerra Mundial.
Assim, o avanço dos EUA se deu ilha após ilha, isolando, diplomática e politicamente, o Japão cada vez
mais. Dessa forma, também, reduziram-se as distâncias no teatro de operações do Pacífico.
O final da guerra se deu da seguinte forma:
1. Na Europa: em 7 de maio, o marechal Alfred Jodl assinou a rendição incondicional perante
representantes da União Soviética, Estados Unidos e Reino Unido;
2. No Pacífico: em 2 de setembro, na cidade de Tóquio e a bordo do USS Missouri, o ministro do Japão
Mamoru Shigemitsu assinou a rendição incondicional do Japão. Cabe o seguinte questionamento:
porque os EUA não jogaram a bomba nuclear em Tóquio, capital do Japão? Porque, se assim fosse,
com quem seria discutida a rendição? O Japão se fragmentaria e seria necessária a invasão efetiva do
território japonês. Não se pode eliminar a liderança de um país a dominar.