Você está na página 1de 10

HNV – SÍNTESE DAS AULAS

Esse documento representa apenas uma síntese das aulas dadas no semestre. O ideal para uma boa
porração de véspera seria o seguinte:
1. Síntese das aulas: ler e ter uma ideia geral, vai adiantar MUITO na hora de ler os capítulos;
2. Capítulos do comandante Willian: prestar mais atenção no que foi comentado em sala de aula
(decorar, essas coisas), de resto, ter uma ideia geral;
3. Resumo dos textos: ENTENDER OS CONCEITOS para articulá-los em resposta discursiva.

Rapaziada, HNV não é difícil, mas você tem que saber articular as ideias. Não adianta só ler e cuspir
tudo na prova. O mais importante é entender as relações:
1. Ah, essa batalha ocorreu porque essa tática não funcionou;
2. Ah, foi escolhida essa forma de propulsão porque essa outra é mais sensível;
3. Ah, esse navio foi essencial porque sustentava o armamento daquele outro navio.
AULA 1: A BATALHA NAVAL DO RIACHUELO

Decerto a Guerra do Paraguai tem o Brasil como protagonista. Trata-se de um conflito complexo e de
múltiplas interpretações. Para começar a entendê-lo, é preciso entender que o Rio da Prata é um rio de boca
larga, onde não se vê a outra margem. Subindo o Rio da Prata, chega-se ao Rio Uruguai e, subindo mais um
pouco, chega-se a uma divisão: para um lado corre o Rio Paraguai e, para o outro, corre o Rio Paraná.
É essencial entender o que o Brasil do século XIX intenciona nesse entorno:
1. O Brasil não pode aceitar que o Uruguai, a Argentina e o Paraguai se tornem um só país para manter
o princípio da balança de poder (numa região de muitos países com poder semelhante [Uruguai,
Argentina e Paraguai] e um expoente [Brasil]). Assim, o Brasil evita o surgimento de um segundo
gigante que pode vir a competir com ele na região;
2. O Brasil tem o objetivo de manter a livre navegação na Bacia do Prata, que representava uma via
de acesso importantíssima para alcançar a área do Centro-Oeste (Centro-Oeste é uma denominação
de hoje, à época essa área era chamada de Mato Grosso [porque era tudo mato]). Não havia estradas
e a área do Mato Grosso sustentava um mito de grande concentração de riqueza; o único acesso
era fluvial. Ou seja: a livre navegação na Bacia do Prata era pressuposto para a comunicação do
Rio de Janeiro com o Mato Grosso, na medida em que, pela terra, o caminho era permeado por
tribos indígenas e o próprio Pantanal, que trazia consigo uma série de doenças desconhecidas. Essa
é uma razão de natureza geoestratégica;
3. Em uma disputa corrente entre partidos políticos, o Brasil apoiava o Partido Colorado, em
contrapartida ao Partido Blanco. Manter um domínio nesse entorno estratégico possibilita
influenciar os partidos eleitos;
a. Em 1851, o Brasil confronta a Argentina: o presidente da Argentina foi deposto pelos
brasileiros, que colocam um representante do partido colorado. Ou seja: “nós, os brasileiros,
fizemos uma intervenção no país vizinho. Depusemos o presidente e colocamos, no lugar,
um dos nossos”.
b. Em 1864, o Brasil confronta o Uruguai. O Uruguai tinha um representante do Partido
Blanco. Nesse contexto, surgem embates envolvendo fronteiras: cruzamentos e conflitos
nas regiões fronteiriças. Como o Brasil tinha o objetivo de destituir o presidente uruguaio,
enviou missão diplomática para dar um ultimato: “ou vocês resolvem o problema das
fronteiras, ou nós depomos o presidente”. Como isso não resolveu, Tamandaré assume
papel de protagonista e faz um acordo com Venâncio Flores, um guerrilheiro. Venâncio
organizaria tropas para depor o presidente uruguaio e, em troca, assumiria a presidência,
em seguida. Tamandaré atua a partir dos meios navais, tendo em vista que não havia tropas
terrestres brasileiras para depor o presidente. Em abril de 1865, Venâncio Flores já era o
presidente do Uruguai.
i. Antes disso, o Paraguai (que tinha um líder do Partido Blanco) envia nota ao Brasil
dizendo que se o Uruguai fosse atacado, o Paraguai se sentiria também atacado e
começaria uma guerra contra o Brasil. Em 12 de novembro de 1864, o Paraguai
sequestra um navio brasileiro em frente a Assunção e saqueia todo o dinheiro que
nele havia, e o Brasil interpreta isso como uma declaração de guerra; nesse dia
começa a guerra entre o Brasil e o Paraguai (mas não a guerra da Tríplice aliança.
Quando utilizamos o termo “guerra do Paraguai”, jogamos toda a responsabilidade
para eles, como se nós não tivéssemos feito nada).

Nesse contexto, Tamandaré decreta o bloqueio do Rio Paraguai e manda o seu Chefe do Estado Maior,
Barroso, para realizar o bloqueio (DEZ64). Os paraguaios não tinham como realizar uma guerra com o Rio
Paraguai bloqueado, tendo em vista que esse representava a via de escoamento de pessoas e mercadorias (e
por isso, também, que foram erguidas as fortificações paraguaias no curso desse rio). Para combater esse
bloqueio, os paraguaios organizam uma esquadra que sai em MAI65, desce o rio e encontra a esquadra de
Barroso em 11 de junho de 1865 (um domingo).
É importante ressaltar que a batalha naval do Riachuelo não ocorre no Riachuelo, essa é apenas uma
denominação para o diminutivo de Rio: um Riachuelo é um “riozinho” e, nesse contexto, não apresenta grande
profundidade. A esquadra de Barroso encontrava-se atracada e a tripulação saiu para pegar lenha (lembrar que
os navios eram à vapor). A ideia da esquadra paraguaia era pegar a esquadra de Barroso de surpresa, em um
ataque às 4 da manhã, mas como na realidade as coisas dão errado, chegam as 9 ou 10 da manhã. Assim que
a esquadra brasileira avista a esquadra paraguaia, tocam o alarme (tiros de canhão) e içam as bandeiras de
comunicação (que pouca gente sabia interpretar, mal o comandante). Nesse momento há a primeira troca de
tiros, que não causa nenhuma avaria significante em ambas as esquadras. A esquadra paraguaia se retira a um
local próximo, as ilhas Palomeiras. Barroso tem duas opções a partir disso: ou ele finge que não tem nenhuma
esquadra paraguaia por perto, ou ele suspende e a enfrenta. Quando Barroso chega no local e vê que há uma
grande artilharia instalada e um baixo calado, seu navio para (no entanto, alguns navios de sua esquadra
continuam e são afundados). Barroso inicia uma manobra de guinada, que dura mais de hora. Após isso, a
esquadra de barroso investe contra a esquadra paraguaia e são afundados 4 navios paraguaios e 3 brasileiros.
Após isso, os navios paraguaios fogem para Assunção e os navios brasileiros falham em persegui-los. É
importante ressaltar que os navios brasileiros tinham porte bem maior, de navios oceânicos; e por isso tinham
muitos problemas com calado, coisa que os paraguaios não tinham.
Surge a necessidade de se responder uma pergunta: a Batalha Naval do Riachuelo é uma batalha
decisiva? Pode-se estruturar a resposta em pilares:
1. A vitória na batalha naval do Riachuelo foi a primeira vitória do Governo Imperial do Rio de
Janeiro, e a partir disso pode-se criar uma propaganda política em torno de uma suposta vitória, e
pode-se convencer a opinião pública a engajar na guerra;
2. Do ponto de vista tático, a batalha naval do Riachuelo, apesar de não ter destruído completamente
a esquadra paraguaia, a excluiu do restante da guerra;
3. Do ponto de vista estratégico, a batalha é decisiva porque Barroso manteve o seu bloqueio;
4. E do ponto de vista logístico, a batalha é decisiva porque, com a manutenção do bloqueio, o
Paraguai deixa de se comunicar com as suas tropas em terra no Mato Grosso e no Rio Grande do
Sul, sufocando-as.

A partir dessas 4 razões, pode-se afirmar que a batalha Naval do Riachuelo pode ser considerada uma
batalha decisiva. Mas, e aí? A guerra está ganha? Não, porque o Brasil teria muitas dificuldades para chegar a
Assunção por conta das fortalezas paraguaias e por conta do calado. Para safar isso, o Brasil adquire navios
de baixo calado, com couraça de ferro em volta do casco, e com torre giratória (porque se os canhões fossem
pelo través, para acertar um alvo seria necessário girar o navio em uma condição de calado extremamente
restrito). Lembrando ainda que os navios eram à vapor, e uma torre giratória e uma maquinaria mais complexa
exigiria maior manutenção; e a partir disso surge a necessidade de armazenar carvão, ter pessoal especializado.
Surge, em pleno teatro de guerra e dentro do território paraguaio, o Arsenal (em conjunto com os argentinos).
As operações contra as fortalezas começaram em 03 de setembro de 1866 e terminaram em 19 de
fevereiro de 1868. A fortaleza de Humaitá foi bombardeada por seis meses antes de uma vitória definitiva,
quando visconde de Inhaúma consegue realizar a passagem. É importante ressaltar que a ação era sempre
simultânea: um bombardeio acompanhado por um ataque terrestre.
Durante a tentativa de ultrapassagem da segunda fortaleza, as tropas em terra têm muita dificuldade
em ultrapassar os fossos e, por isso, batem em retirada. Nesse momento, os esforços da fortaleza se voltam
para a esquadra, que é superada (momentaneamente). Nesse ponto, a opinião pública é impactada e Tamandaré
é deposto, exonerado. Quem assume é o visconde de Inhaúma. Após ultrapassar a fortaleza de Humaitá, a
guerra é praticamente vencida, e Solano López foge em direção a cordilheira dos Andes. Após isso, quem
tanto Solano quanto Duque de Caxias se aposentam (ambos estavam muito velhinhos, nos seus 70 anos), e
quem assume as tropas terrestres brasileiras é o marido da princesa Isabel, que entende que paraguaio é raça
ruim e tem que morrer mesmo, começando assim uma grande crueldade (Solano enviava, inclusive, crianças
com bigodes falsos, que morrem aos montes).

AULA 2 – A TRANSIÇÃO DAS VELAS AO VAPOR

É importante, uma breve contextualização, antes de ir direto ao ponto. Imagine uma batalha de
Trafalgar, em 1805 e que, por conta de Mahan, tornou-se a principal batalha decisiva da história, e essa mesma
batalha de Trafalgar foi composta por navios de madeira e de propulsão à pano. Pode-se perceber que ainda
não existiam máquinas à vapor ou canhões no século XVII. A partir de Trafalgar, os navios mudaram
completamente devido ao surgimento da máquina à vapor. É possível entender a batalha de Trafalgar como
algo que extravasa o campo militar: a partir dela surgem representações que dialogam diretamente com a
política nos momentos posteriores (cometendo um anacronismo, é possível perceber o que Clausewitz dizia,
não é mesmo?).
Partindo agora para as máquinas à vapor. Esses navios nascem próximo a 1770 e são aperfeiçoados no
século XIX, ao passo que a partir de 1820 já existiam muitos navios à vapor. Os primeiros navios possuíam
pás laterais (como aqueles moinhos d’água) anexados ao costado e como meio de propulsão:

Pode-se traçar, então, uma série de vantagens e desvantagens do navio à vapor em relação ao navio à
vela:
1. Vantagens:
a. maior autonomia: o navio à vela era muito dependente do tempo, das condições climáticas e
afins; davam-se voltas e mais voltas buscando as correntes de vento e maré para chegar aos
destinos quistos, ou seja, para sair de A até B demoravam 30 dias. Com o navio à vapor, para
chegar a B, saindo de A, levavam 8 dias. Isso possibilitava percorrer uma maior distância nos
mesmos 30 dias que o navio à vela levava para chegar de A até B: nesse mesmo tempo, o navio
à vapor saía de A, passava por B, atracava em C e terminava sua jornada em D;
b. Maior velocidade e maior capacidade de manobra: era algo inédito não depender do vento,
tanto que a partir da máquina à vapor nasce o ETA: agora era possível precisar exatamente o
dia em que se chegaria a algum lugar, e a partir daí pode-se marcar reuniões, tirar férias (antes,
era preciso estar de pronto emprego; o navio saía quando ocorria uma janela no tempo).
2. Desvantagens:
a. Necessidade de armazéns de carvão;
b. Elevado risco de incêndio;
c. Elevação do custo: era preciso ter uma mão de obra especializada a bordo (maquinistas), bem
como era necessário ter sobressalentes a bordo.

Apesar de tudo isso, existia ainda outra discussão acerca do meio de propulsão. As pás laterais, apesar
de promoverem uma grande propulsão, possuíam uma série de deficiências, principalmente para navios de
guerra. Pode-se perceber uma série de vantagens e desvantagens da pá lateral em relação ao navio de propulsão
à vela:
1. Vantagens: propulsão muito maior;
2. Desvantagens: guinadas constantes (sempre que vinha uma onda pelo través, ela batia primeiro em
uma pá e depois na outra, o que provocava uma grande guinada da proa), as pás laterais eram alvo
constante de bombardeios e, como as pás eram uma grande estrutura, competiam pelo espaço que
poderia estar ocupado por canhões.

Tais problemas foram resolvidos com a invenção do hélice, que coloca essa roda abaixo da linha
d’água. Vale relembrar que o primeiro navio à vapor brasileiro chega em 1847: a fragata Dom Afonso, que
Tamandaré vai buscar na Inglaterra.
Em outro viés de pensamento, surge a discussão que não tem a ver com a máquina à vapor, mas com
os canhões: a revolução industrial traz consigo a balística, o estudo dos movimentos parabólicos e de
precessão; nasce também a indústria química: com a balística pode-se saber exatamente qual parte do projetil
vai bater primeiro no alvo e, com isso, pode-se preencher essa parte com algum composto incendiário ou
explosivo. Surgem os canhões de alma raiada, pelos quais os projetis saem girando. Ou seja, a revolução
industrial trouxe consigo os canhões de alma raiada e os projetis incendiários.
Em detrimento das inovações trazidas pela revolução industrial, não era mais possível ter navios com
casco de madeira. Surge, então, a couraça: os navios passariam a ter chapas reforçando as obras mortas.
Reaparece o esporão, para atacar as obras vivas (que ainda eram de madeira, sem couraça para proteger). É
muito importante entender que, à altura, os cascos dos navios continuavam a ser de madeira; eles apenas
tinham chapas de ferro envolvendo as obras mortas de madeira.
Para entender toda essa evolução, vamos dar uma olhada nas seguintes batalhas:
1. Guerra da Crimeia (1853 – 1856): conflito russo-turco pelo controle do mar Negro e dos
Dardanelos. Aliaram-se os ingleses, franceses e turcos contra os russos, que queriam uma saída
para o Mediterrâneo (e para o Atlântico, por conseguinte), tendo em vista que a sua única outra
saída para o mar congelava durante o inverno. Dessa guerra, vamos ver as seguintes batalhas:
a. Batalha de Sinope (1853): Os canhões dos navios russos já possuíam projéteis explosivos,
que incendiaram os navios franceses e afundaram toda a força naval turca. A partir daí, viu-
se que não era mais possível fazer guerra com navios com casco de madeira;
b. Batalha de Kinburn (1855): os navios encouraçados (de madeira, mas com couraça
protegendo) franceses empregados suportaram os impactos da artilharia das fortalezas e,
ainda, silenciaram-nas. Pode-se dizer que, pela primeira vez na história, um navio venceu
um forte.
2. Guerra civil dos Estados Unidos (1861 – 1865):
a. Chesapeak Bay: sul transforma uma ex-fragata nortista (Merrimack) em um navio
encouraçado renomeado Virginia, com 10 canhões em casamata, proa em aríete (esporão)
e borda alta, que destruíu com facilidade os navios com casco de madeira do norte.
b. Chesapeak Bay: ainda nessa baía, surge o navio do norte da classe Monitor (o mesmo do
Monitor Parnaíba), com apenas 2 canhões em torre giratória, convés na linha d’água
(porque era, sobretudo, um navio fluvial). É importantíssimo entender que, por conta da
torre giratória, um canhão vale mais que 70 canhões de través (um navio com canhões de
través tem que manobrar para acertar a mira, ao passo que um navio com torre giratória
pode simplesmente mirar onde se quer sem precisar manobrar).
i. O navio Monitor (de madeira, com chapas de aço [couraça], uma torre giratória,
sem costado e operando na linha d’água) das EUA revolucionou e serviu de
parâmetro para o surgimento da classe Monitor em todo o mundo, classe essa
imprescindível para o avanço em meio as fortalezas na guerra da Tríplice Aliança.
3. Batalha Naval de Lissa (1866): um navio italiano afunda por conta de navio austríaco que tinha
esporão. Nessa batalha os navios fazem uma formatura em linha de frente (retomando à
antiguidade) justamente para acertar o fundo de madeira;
4. Guerra Russo-Japonesa (1904 – 1905): a partir desse momento, há uma competição entre a couraça
e o canhão, para ver qual se sobressai. Em 1880 surge o aço, mais leve e resistente que o ferro
(dispensa aquela couraça de 30 cm por uma mais fina e mais resistente). Nessa guerra, há a tentativa
de controle do Mar Amarelo (que divide os dois países). Os russos suspendem uma força naval
para combater os japoneses que sai pelo Atlântico, passa pelo cabo da Boa Esperança e chega ao
Japão. Como ao navios eram à vapor, no meio do caminho acaba o carvão e começam a surgir
diversas gambiarras. A viagem dura 10 meses até a batalha naval de Tsushima, onde os japoneses
vencem os russos. Essa batalha é a primeira onde os orientais vencem os ocidentais (e por muito)
e, por isso, mostra ao mundo que os orientais não são inferiores aos ocidentais. Essa batalha foi
também a maior desse tipo de navio: encouraçados completamente de aço, propulsão à vapor, torres
giratórias e canhões modernos. A partir dos estudos táticos dessa batalha, surge a necessidade de
navios com grande deslocamento, couraças de aço, canhões gigantes (com projetis do tamanho de
um ser humano). Após a batalha de Tsushima, surgem os navios Dreadnought, e nesse momento os
navios atingem seu apogeu como plataformas de canhões.

É interessante entender a evolução dos navios:


1. Gloire (França – 1859): de madeira com couraça, blindado. De propulsão mista, à vapor e à vela
(porque nem sempre se tinha carvão), velocidade de 13 nós e canhões de 66 libras (raiados e de
projetis incendiários);
2. Warrior (Inglaterra – 1860): Casco de ferro, convés de canhões, tem hélice e duas chaminés,
máquinas à vapor e propulsão mista.
3. Virginia (EUA – 1862): blindado, 10 canhões em casamata, esporão e borda alta; propulsão à vapor;
4. Monitor (EUA – 1862): de madeira com chapas de aço, uma torre giratória com 2 canhões, sem
costado e operando na linha d’água;
5. HMS Captain (Inglaterra – 1869): propulsão mista, navio encouraçado (todo de ferro), duas torres
giratórias com canhões modernos e projetis incendiários.

É essencial entender que, desde os anos de 1850, até os anos de 1870 ou 1880, ou navios eram
chamados de couraçados ou encouraçados e eram de madeira com couraças; a partir de 1880 ou 1890, os
navios se chamam somente encouraçados e são completamente de ferro ou aço.

AULA 3 – A 1ª GUERRA MUNDIAL

O foco maior das aulas das guerras mundiais é focar nas batalhas e nos contextos por trás dos planos.
Acerca das batalhas, vamos tentar entender também como elas afetaram os ideias de batalha naval nos
momentos posteriores. Antes de qualquer coisa, é essencial ter em mente se a guerra é lógica (natural, uma
coisa acontece naturalmente após outra) ou consequência (fruto de decisões políticas e humanas): a guerra é
consequência; não podemos tratar o que ocorre durante as guerras como natural. Em um primeiro momento,
vamos contextualizar os momentos que precederam a guerra na geopolítica dos impérios participantes:
1. Império Britânico:
a. Já possuía uma grande presença em todos os oceanos, tanto militar (Marinha de Guerra)
quando econômica (Marinha Mercante, rotas comerciais estabelecidas);
b. À altura, o Império Britânico controlava vários choke points ao longo dos oceanos;
c. Na logica do imperialismo e colonialismo, o Império Britânico possuí algumas colônias
produtoras de carvão, o que gera suficiência energética;
d. Há uma tentativa de controle das rotas comerciais, entende-se que o Império Britânico é
descontínuo, sendo ligado através da Marinha;
i. Acerca da questão da conquista das colônias, o imperialismo era essencial porque,
nos países colonizados, era possível recolher insumos básicos e revendê-los
industrializados, onde se arrecadava por meio de tributos e impostos e, depois,
podia-se investir na industrialização, na própria Marinha etc.
e. As maiores preocupações do Império Britânico eram manter as suas vias marítimas abertas,
e manter um equilíbrio de poder entre as nações europeias, evitando tanto a expansão alemã
quanto a política do revanchismo da França (para recuperar as províncias tomadas pela
Prússia na guerra franco-prussiana, ou vingar-se pela mesma);
2. Império Alemão:
a. Ainda na lógica do imperialismo, que era tido como condição essencial para a
industrialização, a Alemanha precisava desenvolver sua Base Industrial de Defesa, mas
quase todos os territórios já haviam sido colonizados. Sendo assim, a Alemanha teria que
tomar os territórios dos vizinhos (por exemplo, as colônias francesas);
b. A Alemanha tinha, também, como objetivo, manter um equilíbrio de poder na Europa,
evitando uma aliança forte entre o Reino Unido e a França;
i. Para conquistar ambos os objetivos, a Alemanha teria que desenvolver uma Marinha
de Guerra, que não existia à época.

Agora, vamos passar para as causas da 1ª Guerra Mundial. Não se pode estabelecer uma única causa
para a guerra. Não foi somente o assassinado do arquiduque austríaco Francisco Fernando. Além de que a
guerra tenha sido uma combinação da competição econômica, das rivalidades imperialistas e do nacionalismo
extremado, pode-se sumariar no seguinte:
1. Interesse do Reino Unido e da França em manter a hegemonia imperialista, não deixando que a
Alemanha entre no jogo;
2. Militarização da diplomacia germânica;
3. Crença no pan-eslavismo (união dos povos eslavos nos Bálcãs) por parte da Rússia;
4. Projeto revanchista da França;
5. Interesse inglês e alemão em dominar os despojos dos otomanos;
6. Luta nacionalista dos sérvios contra a Áustria.

Acerca da estrutura naval britânica e alemã, podemos comentar o seguinte:


1. Estrutura naval britânica:
a. Primeiramente, é essencial entender que, na Marinha Britânica e durante as vésperas da
primeira guerra, havia duas correntes de pensamento sobre estratégia, tática, logística e
meios navais, decorrentes de uma evolução tecnológica: acerca dos navios à vela e dos
navios à vapor. Para solucionar esse problema, o Almirante John Fisher cria duas
instituições de ensino naval: uma direcionada aos “velhas guardas” que tiveram experiência
com os navios à vela (como se fosse uma EGN nossa), e outra direcionada a vanguarda, à
juventude da Marinha, em prol do aprendizado dos navios à vapor (semelhante à nossa EN);
b. Foram mantidas as 4 esquadras britânicas no Mediterrâneo, Atlântico, Norte e Extremo
Oriente;
c. Desenvolveu-se um novo navio tipo: Dreadnought (o apogeu dos navios como plataformas
de canhões, de tonelagem gigantesca). Esse navio foi pensado segundo os seguintes
conceitos: dissuasão (porque representava uma ameaça extrema), e batalha decisiva. Além
disso, derivado do pensamento fordista, houve significativa mudança no processo de
construção dos navios da Royal Navy, que passaram a ser construídos em escala, em linha
de montagem.
2. Estrutura naval alemã:
a. Antes de qualquer coisa, foi preciso institucionalizar a Marinha Imperial, que não existia.
O primeiro passo foi criar um EMA para impedir a subordinação da Marinha ao Exército;
b. Foi preciso desenvolver uma BID para a construção de submarinos, para se libertar da
dependência externa; além disso, para criar uma esquadra de alto-mar com encouraçados.
Foi preciso se atentar para a capacitação do pessoal, tendo em vista que tanto os submarinos,
quanto a esquadra, eram algo “inédito”.

Sabendo disso, é necessário entender que a guerra por terra, decorrente de uma grande movimentação
de efetivo onde nenhum dos lados se sobressaiu, foi paralisada: o efetivo se manteve nas trincheiras. Qual a
consequência disso? A guerra saiu pelo mar; no entanto, não se podia empregar batalha decisiva porque as
forças navais eram equivalentes, e numa batalha decisiva, restariam poucos ou quase nenhum meio para ambos
os lados. A imprensa britânica espera, e força a opinião pública a esperar, uma batalha decisiva, que está fora
de questão; além disso, o Exército alemão também espera uma batalha decisiva por parte da Marinha. Os
cruzadores alemães, espalhados pelo globo, seguiam atacando as linhas de suprimento britânicas, e a solução
encontrada pela Royal Navy foi um bloqueio naval à distância através de patrulha em conjunto com minagem.
A resposta alemã se deu com o seguinte pensamento: “ah, se eles, os britânicos, montaram um bloqueio
esperando nossa esquadra, nós deixaremos os navios no porto, em condição pronto-emprego; dessa forma, os
britânicos não poderão deixar de realizar o bloqueio”. Ou seja, a estratégia alemã se deu pela esquadra em
potência.
Em algum momento, no entanto e por conta do bloqueio realizado, foi necessário suspender. Isso se
deu por ocasião da batalha da Jutlândia. A esquadra em potência alemã efetivamente suspendeu e prosseguiu
numa tentativa de corte do T no bloqueio da Royal Navy, para prosseguir com o disparo da bateria principal
alemã ou com o ataque torpédico. O que ocorre, no entanto, foi uma inconclusão: a batalha termina com 14
navios afundados e 6 mil baixas por parte do Reino Unido, e com 11 navios afundados e 2,5 mil baixas por
parte da Alemanha. Ou seja, foi uma vitória tática alemã, que se sobressaiu militarmente e teve menos baixas
e meios afundados; e uma vitória estratégica britânica, que manteve o seu bloqueio do mar do norte.
Quais foram as consequências da primeira guerra?
1. Consequências políticas e econômicas:
a. Revanchismo francês no tratado de Versalhes, e humilhação da Alemanha;
b. Fracasso da Liga das Nações como instância internacional;
c. Consolidação do regime e movimento comunista soviético;
d. Ascensão e consolidação da ideologia do nazifascismo;
e. Crise de representatividade do regime da democracia liberal.
2. Consequências militares e navais:
a. Rearmamento naval e militar alemão;
b. Expansão militar japonesa na Ásia;
c. Desestruturação militar e naval soviética;
d. Preponderância estratégica do navio-aeródromo sob os encouraçados;
e. Eclosão da Segunda Guerra Mundial.

AULA 4 – A 2ª GUERRA MUNDIAL

A aula de 2ª Guerra Mundial foi dividida em 2 segmentos: a Batalha do Atlântico e a Campanha do


Pacífico.
1. A Batalha do Atlântico:
a. Antes de tudo, é importante contextualizar. A Alemanha empregava a “guerra relâmpago”:
blindados e infantaria extremamente ágeis, que atacam de surpresa e rapidamente,
acompanhados de um forte apoio aéreo. A partir dessa guerra relâmpago, a Alemanha domina
grande parte da Europa ocidental. Da Europa oriental, apenas faltava o domínio da União
Soviética (que sustentava um pacto de não agressão com a Alemanha. Esse pacto de não
agressão pode ser justificado porque a Alemanha não queria ser invadida pelo exército
vermelho soviético, para se concentrar apenas no fronte ocidental [França e Reino Unido], e
porque Stalin matara todos os generais de seu estado maior, que eram da oposição [Lenistas],
ficando vulnerável).
b. Em um segundo momento, a Alemanha domina a França por batalha terrestre, e o próximo
passo lógico (e não natural) seria o desembarque anfíbio no Reino Unido, que requere um
prévio domínio do espaço aéreo. Como a Alemanha não possuía força de superfície para
exercer um bloqueio do Reino Unido, trava-se a batalha aérea da Inglaterra. No entanto, a
Royal Air Force se mostra superior à Luftwaffe alemã. Essa situação, de impossibilidade de
um desembarque anfíbio alemão no Reino Unido por conta da cobertura aérea inglesa, acarreta
uma paralisia estratégica.
c. Comentando sobre a estrutura e cenário estratégico naval, temos que:
i. A Estratégia Britânica se dava pelo sistema de comboios, o Reino Unido possuía uma
grande frota militar e mercante, um elevado número de comandantes, mecânicos, praças
e práticos habilitados; e um parque fabril que conseguia suprir perdas com grande
rapidez;
ii. A Estratégia Alemã se dava pela guerra de corso, a partir do momento em que a
Alemanha conquista o litoral norueguês e francês (utilizando os seus parques
industriais), e tem tecnologia própria com capacidade para operar equipamentos
submersos por muitas horas em alto-mar.
d. Traçando um panorama da situação, temos que o Atlântico era por onde os EUA e o Reino
Unido realizavam grande parte das suas transações comerciais. Os EUA exportavam para o
Reino Unido, e o Reino Unido importava matéria prima das suas colônias, condição para que
o parque industrial inglês funcionasse. Isso significa que a nação que tivesse o domínio do
Atlântico conseguiria sufocar o crescimento econômico e militar dos EUA e do Reino Unido.
e. Após perder, em uma tentativa de batalha decisiva com seus poucos encouraçados, a Marinha
Imperial Alemã tenta algo diferente: uma guerra de corso aos moldes da 1ª Guerra mundial,
com a diferença de que, na 1ª Guerra Mundial, os submarinos navegavam solitários e
afundavam dois mercantes por vez; já na nova tática alemã, os submarinos alemãs passam a
fazer ataques em massa e concentrados, em comboios. Essa tática ficou conhecida como “tática
das matilhas”.
f. Em resposta à tática alemã da 1ª Guerra Mundial (dos submarinos solitários), os comboios
norte-americanos adotaram a seguinte formação: Fragatas nas pontas, uma fila grande de
mercantes com algumas convertas no meio, e alguns mercantes armados (eram cerca de 60
mercantes). A tática da matilha se sobressaiu ao comboio norte-americano com a seguinte
formação: 4 grupos de 6 submarinos, 2 grupos de cada lado da fila de mercantes, e 3 submarinos
de cada lado, bem próximos à fila de comboios, acompanhando em silêncio; em um mesmo
minuto, todos os submarinos alvejam o comboio ao mesmo tempo. É importante ressaltar que
as matilhas faziam os seus ataques no “Black Pit”, um espaço do Atlântico que, devido a
autonomia limitada dos aviões, não possuía cobertura aérea inglesa ou americana.
g. Se não houvesse resposta aliada à tática das matilhas, o Reino Unido seria sufocado em poucos
meses. Surge a seguinte pergunta: “como as matilhas são mantidas em auto mar por tanto
tempo, no Black Pit?” e a resposta é a seguinte: foram criados submarinos de apoio logístico
(pautando-se nas ideias de Corbet), que providenciavam sobressalentes, combustível, alimento
e até pessoal; eram 20 submarinos logísticos para 200 submarinos das matilhas.
h. Como os aliados resolvem, então, o problema das matilhas? Surgem os navios aeródromos
leves, cujos aviões fazem cobertura aérea enquanto os mercantes soltam cargas de
profundidade. Com isso, além de solucionar a guerra de corso alemã, viabiliza transporte de
tropas para o desembarque do dia D para, em última instância, impedir que o Exército Vermelho
Soviético invada a Europa e implante sua ideologia.
i. São algumas razões para a vitória dos aliados no Atlântico:
i. Melhoria rápida de arsenal tecnológico naval e aéreo;
ii. Manutenção, mesmo difícil, das rotas de suprimento abertas;
iii. Souberam construir uma aliança político-militar confiável entre as forças armadas de
diversos países;
iv. Souberam aproveitar o complexo industrial-militar dos EUA na produção de navios
escoltas, navios mercantes e aviões com grande autonomia.
2. A Campanha do Pacífico:
Traçando, primeiramente, um panorama sobre a importância estratégica do pacífico, temos que no início
do século XX, era por ali que os EUA abasteciam países da Oceania e do leste asiático com petróleo. Também
era por ali que os japoneses importavam matérias primas para seu parque industrial e mercado consumidor.
Isso significa que quem controlasse essa área poderia sufocar a nação adversária (EUA x Japão).
Pode-se elencar dois momentos importantes para os japoneses: Pearl Harbor, onde o navio americano
Arizona é afundado, e a batalha de Midway, onde o Japão perde diversos pilotos aeronavais de elite.
Traçando um breve comentário sobre a estratégia japonesa, o seu objetivo era controlar os campos de
petróleo malaio-filipinos, usar a mão de obra chinesa no esforço de expansão territorial, impedir o avanço das
tropas coloniais terrestres britânicas na Índia, e conter as forças navais dos estadunidenses no Havaí.
O Japão enfrentou, no entanto, falta de coesão do seu alto comando devido às desavenças entre Exército e
Marinha, o que levou os japoneses a lutarem em 4 teatros de operações diferentes: Sudoeste do Pacífico,
Pacífico central, Sudeste asiático e Extremo Oriente; ou seja, as tropas japonesas estão extremamente
espalhadas, e isso tem seu lado bom (impede o emprego de uma batalha decisiva pelos aliados) e ruim (gera
uma estrutura extremamente esticada para suprir logisticamente).
Com isso em mente, podemos entender a estratégia dos EUA. Apesar do ataque de Pearl Harbor, o Estado
Maior dos EUA soube manter as alianças político-militares com seus aliados tradicionais, e fazer pactos
estratégicos e logísticos com adversários ideológicos (como as guerrilhas comunistas). Esses pactos e alianças
possibilitaram uma estratégia norte-americana de uso de ataques aeronavais e de operações anfíbias. Isso era
possível porque os EUA tinham, com as alianças, muitas bases logísticas em diversas ilhas; surge a logística
móvel, a logística do “monta e desmonta”: os aviões, sobressalentes e equipamentos iam desmontados, nos
navios, de forma a caberem mais unidades, a serem montadas nos destinos. O procedure da dominação das
ilhas do Pacífico se dava da seguinte forma:
1. Primeiro era construída uma pista de pouso rudimentar;
2. Após isso, um caís rudimentar era construído;
3. Por fim, eram construídos os galpões para a remontagem.

Assim, o avanço dos EUA se deu ilha após ilha, isolando, diplomática e politicamente, o Japão cada vez
mais. Dessa forma, também, reduziram-se as distâncias no teatro de operações do Pacífico.
O final da guerra se deu da seguinte forma:
1. Na Europa: em 7 de maio, o marechal Alfred Jodl assinou a rendição incondicional perante
representantes da União Soviética, Estados Unidos e Reino Unido;
2. No Pacífico: em 2 de setembro, na cidade de Tóquio e a bordo do USS Missouri, o ministro do Japão
Mamoru Shigemitsu assinou a rendição incondicional do Japão. Cabe o seguinte questionamento:
porque os EUA não jogaram a bomba nuclear em Tóquio, capital do Japão? Porque, se assim fosse,
com quem seria discutida a rendição? O Japão se fragmentaria e seria necessária a invasão efetiva do
território japonês. Não se pode eliminar a liderança de um país a dominar.

Você também pode gostar