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CAPÍTULO 1
O oxigênio é o comburente mais facilmente encontrado na natureza. O oxigênio existe
NATUREZA DO FOGO
no ar atmosférico em uma quantidade aproximada de 21%. Normalmente, não ocorre chama
1.1 – A COMBUSTÃO quando a concentração de oxigênio no ar é inferior a 13%.
Há fogo quando há combustão, que é definida como uma reação química de oxidação, 1.1.3 – O Combustível
na qual uma substância combustível reage com o comburente, ativada pelo calor (elevação de É toda a substância capaz de queimar e alimentar a combustão (madeira, papel, pano,
temperatura), com desprendimento de energia luminosa, calor e gases combustíveis. estopa, tinta, alguns metais etc). É o elemento que serve de campo de propagação ao fogo.
1.1.1 – Tetraedro do fogo Dentre as diversas classificações que podemos atribuir aos combustíveis, interessam ao nosso
Para facilitar a compreensão, costuma-se representar os elementos básicos da estudo as seguintes:
combustão por um triângulo equilátero, conhecido por triângulo do fogo (Fig. 1.1). - Quanto ao estado físico:
Sólidos (carvão, madeira, pólvora etc.);
Líquidos (gasolina, álcool, éter, óleo de linhaça etc.); e
Gasosos (metano, etano, etileno, butano etc.).
- Quanto à volatilidade:
Voláteis - são os combustíveis que, nas condições normais de temperatura e pressão,
desprendem vapores capazes de se inflamarem (álcool, éter, benzina etc.) e
Não voláteis - são os combustíveis que desprendem vapores inflamáveis após
Fig. 1.1 - Triângulo do fogo aquecimento acima da temperatura ambiente (óleo combustível, óleos lubrificantes, óleo de
linhaça etc.), considerando as condições normais de pressão.
Considerada a afinidade química entre o combustível e o comburente como mais uma
- Quanto à presença do comburente:
condição para a existência do fenômeno da combustão, o triângulo do fogo evolui para o
Com comburente – combustível que possui em sua própria estrutura molecular o
tetraedro do fogo (Fig. 1.2), que representa a união dos quatro elementos essenciais do fogo,
comburente (pólvoras, cloratos, nitratos, celulóide e metais combustíveis, tais como: lítio,
a temperatura de ignição, o Combustível, o Comburente e a Reação Química em Cadeia.
zircônio, titânio etc.), neste caso a combustão poderá ocorrer em atmosfera com
concentrações de oxigênio inferiores a 13%; e
Sem comburente – não possui o comburente na sua estrutura molecular (madeira, papel,
tecidos etc.), há necessidade de ser alimentado por uma fonte de comburente.
A velocidade da queima de um combustível depende de sua capacidade de combinar
com oxigênio sob a ação do calor e da sua fragmentação (área de contato com o oxigênio).
a) Combustíveis Sólidos
A maioria dos combustíveis sólidos transformam-se em vapores e, então, reagem com o

Fig. 1.2 - Tetraedro do fogo oxigênio. Outros sólidos (ferro, parafina, cobre, bronze) primeiro transformam-se em líquidos,
e posteriormente em gases, para então se queimarem.
1.1.2 – O Comburente
Quanto maior a superfície exposta, mais rápido será o aquecimento do material e,
É todo elemento que, associando-se quimicamente ao combustível, é capaz de fazê-lo
consequentemente, o processo de combustão.
entrar em combustão.

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b) Combustíveis Líquidos
Os líquidos inflamáveis têm algumas propriedades físicas que dificultam a extinção do
calor, aumentando o perigo para os homens que combatem o fogo. Os líquidos assumem a
forma do recipiente que os contém. Se derramados, os líquidos tomam a forma do piso, fluem
e se acumulam nas partes mais baixas.
Tomando como base o peso da água, cujo litro pesa 1 quilograma, classificamos os
demais líquidos como mais leves ou mais pesados. É importante notar que a maioria dos Fig. 1.4 - Recipiente para armazenar gás
líquidos inflamáveis são mais leves que água e, portanto, flutuam sobre esta. Os líquidos
Para o gás queimar, há necessidade de que esteja em uma mistura ideal com o ar
combustíveis recebem identificações em seus recipientes (Fig.l.3). Outra propriedade a ser
atmosférico, e, portanto, se estiver numa concentração fora de determinados limites, não
considerada é a solubilidade do líquido, ou seja, sua capacidade de misturar-se à água.
queimará. Cada gás, ou vapor, tem seus limites próprios. Por exemplo, se num ambiente há
menos de 1,4% ou mais de 7,6% de vapor de gasolina, não haverá combustão, pois a
concentração de vapor de gasolina nesse local está fora do que se chama de mistura ideal, ou
limites de inflamabilidade; isto é, ou a concentração deste vapor é inferior ou é superior aos
limites de inflamabilidade.

LIMITES DE INFLAMABILIDADE
Fig l.3 - Recipiente para armazenar líquido inflamável Concentração
Combustíveis
Limite inferior Limite superior
Os líquidos derivados do petróleo (conhecidos como hidrocarbonetos) têm pouca
Metano 1,4% 7,6%
solubilidade, ao passo que líquidos como álcool, acetona (conhecidos como solventes polares)
Propano 5% 17%
têm grande solubilidade, isto é, podem ser diluídos até um ponto em que a mistura (solvente
Hidrogênio 4% 75%
polar + água) não seja inflamável. A volatilidade é a facilidade com que os líquidos liberam
Acetileno 2% 85%
vapores, e tem grande importância, porque quanto mais volátil for o líquido, maior a
Tabela 1.1 – Limites de inflamabilidade por combustível
possibilidade de haver fogo, ou mesmo explosão. Chamamos de voláteis os líquidos que
liberam vapores a temperaturas menores que 20° C.
d) Processos de Queima
c) Combustíveis Gasosos
O início da combustão requer a conversão do combustível para o estado gasoso, o que
Os gases não têm volume definido, tendendo, rapidamente, a ocupar todo o recipiente
se dará por aquecimento. Gases combustíveis são obtidos, a partir de combustíveis sólidos,
em que estão contidos. Os combustíveis gasosos são armazenados em recipientes, sob pressão
pela pirólise. Pirólise é a decomposição química de uma matéria ou substância através do
(Fig. 1.4). Se o peso do gás é menor que o do ar, o gás tende a subir e dissipar-se. Mas, se o
calor .
peso do gás é maior que o do ar, o gás permanece próximo ao solo e caminha na direção do
Como regra geral, os materiais combustíveis queimam no estado gasoso.
vento, obedecendo os contornos do terreno.
Submetidos ao calor, os sólidos e os líquidos combustíveis se transformam em gás
para se inflamarem. Como exceção e como casos raros, há o enxofre e os metais alcalinos
(potássio, cálcio, magnésio etc), que se queimam diretamente no estado sólido.

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e) Perigos da Radiação Eletromagnética ao Combustível (HERF – High-Energy Ponto de Combustão - é a temperatura do combustível, acima da qual ele desprende
Radio Frequency) gases em quantidade suficiente para serem inflamados por uma fonte externa de calor e
Uma mistura de vapor de combustível / ar acima do Limite Mínimo Explosão pode continuarem queimando, mesmo quando retirada esta fonte.
ser inflamada quando um campo de radio frequência de alta energia induz arco entre duas Ponto de Ignição - é a temperatura necessária para inflamar os gases que estejam se
superfícies de metal próximas. O incêndio causado por HERF é normalmente um risco nos desprendendo de um combustível, só com a presença do comburente.
casos de combustíveis com baixos pontos de ignição. Podem ser citados como exemplo, o 1.1.5 - Reação química em cadeia
risco decorrente de reabastecimento de gasolina em conveses abertos, ventilações de A reação em cadeia torna a queima auto-sustentável. O calor irradiado das chamas
combustíveis, entradas de combustíveis abertas ou combustíveis derramados em locais em atinge o combustível e este é decomposto em partículas menores, que se combinam com o
que transmissores de alta energia, como radares de busca estejam operando. oxigênio e queimam, irradiando outra vez calor para o combustível, formando um ciclo
Precauções como o controle de emissões eletromagnéticas e a restrição de algumas constante. O fogo age em um corpo, decompondo-o em partes cada vez menores.
transmissões devem ser normatizadas em procedimentos de segurança específicos, como por 1.1.6 - Intensidade da Combustão
exemplo, nos casos de abastecimentos em conveses abertos. É conhecido por intensidade da combustão o volume de chamas que se desprende de um
incêndio. Naturalmente, um palito de fósforo apresentará uma intensidade de combustão
1.1.4 - A temperatura muito menor do que uma pilha de lenha, devido à menor quantidade de combustível. Além da
Os vapores emanados de um combustível inflamam-se na presença do comburente, a quantidade de combustível, devemos, também, considerar a área superficial do combustível,
partir de determinada temperatura. porque a concentração da mistura combustível e ar (oxigênio) produzirá uma intensidade de
Temperatura - Grandeza termodinâmica intensiva, comum a todos os corpos que combustão maior ou menor em função dessa mistura. Assim, quanto maior a área superficial,
estão em equilíbrio térmico, que expressa a quantidade de calor existente num corpo ou no maior será a concentração da mistura ar/combustível e, em consequência, maior será a
ambiente (Fig. 1.5). intensidade da combustão.
A concentração do comburente é outro fator que devemos considerar quando um
incêndio está ocorrendo com pequena intensidade num ambiente confinado (onde a
concentração de oxigênio já atingiu níveis reduzidos) e uma porta é bruscamente aberta.
Subitamente, sob o impacto do aumento da concentração de oxigênio ambiente, o fogo se
reanima e aumenta de intensidade.
1.1.7 - Formas de combustão
As combustões podem ser classificadas conforme a sua velocidade em: completa,

Fig. 1.5 - Pontos de temperatura incompleta, espontânea e explosão. Dois elementos são preponderantes na velocidade da
combustão: o comburente e o combustível; o calor entra no processo para decompor o
Temperatura de Ignição - é a temperatura necessária para que a reação química ocorra combustível. A velocidade da combustão variará de acordo com a porcentagem do oxigênio
entre o combustível e o comburente, produzindo gases capazes de entrarem em combustão. no ambiente e as características físicas e químicas do combustível.
Ponto de Fulgor - é a temperatura mínima na qual um combustível desprende gases a) Combustão Completa
suficientes para serem inflamados por uma fonte externa de calor, mas não em quantidade É aquela em que a queima produz calor e chamas e se processa em ambiente rico em
suficiente para manter a combustão. A chama aparece, porém logo se extingue, não mantendo oxigênio.
a combustão.
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b) Combustão Incompleta Exemplos: - PVC ........................................... CO e Ácido Cloridrico (HCI).


É aquela em que a queima produz calor e pouca ou nenhuma chama, em ambiente - Isopor e outros plásticos ........... CO.
pobre em oxigênio. - Poliuretano ................................ CO e Gás Cianídrico (HCN).
c) Combustão Espontânea Riscos dos Produtos da Combustão:
Certos materiais orgânicos, em determinadas circunstâncias, podem, por si só, entrar em CO2 - em alta concentração provoca asfixia.
Combustão. Entre as substâncias mais suscetíveis de combustão espontânea destacam-se os CO - venenoso, podendo provocar morte.
tecidos impregnados de óleo, os vernizes, os pós metálicos, o sisal, a madeira e a serragem. Gás cianídrico - altamente venenoso, provoca morte.
Os materiais fibrosos tornam-se particularmente perigosos quando impregnados com óleos 1.2 – MÉTODOS DE TRANSMISSÃO DE CALOR
animais ou vegetais. Embora seja um fenômeno pouco falado, a combustão espontânea é mais Há três métodos de transmissão de calor: Irradiação, Condução e Convecção. O estudo
comum do que se poderia pensar. desses métodos permite a visualização de vários fenômenos peculiares aos incêndios,
Ocorre também na mistura de determinadas substâncias químicas, quando a combinação principalmente no que diz respeito a sua propagação.
gera calor e libera gases em quantidade suficiente para iniciar combustão, como, por exemplo, 1.2.1- Irradiação
água e sódio. É a transmissão de calor que se processa sem a necessidade de continuidade molecular
d) Explosão entre a fonte calorífica e o corpo que recebe calor. É a transmissão de calor que acompanha
É a queima de gases (ou partículas sólidas), em altíssima velocidade, em locais geralmente a emissão de luz. Ondas de calor irradiam em todas as direções, a não ser se
confinados, com grande liberação de energia e deslocamento de ar. Combustíveis líquidos, bloqueadas, e atingem os objetos, aquecendo-os (Fig. 1.7). O caso típico de calor radiante é o
acima da temperatura de fulgor, liberam gases que podem explodir (num ambiente fechado) calor do Sol.
na presença de uma fonte de calor (Fig. 1.6).

Fig. 1.7 – Irradiação


Fig. 1.6 - Explosão e líquido inflamável
1.2.2 - Condução
1.1.8 - Produtos da combustão
É a transmissão de calor que se faz de molécula para molécula, por contato físico,
Quando duas substâncias reagem entre si, se transformam em outras substâncias.
através de um movimento vibratório que as anima e permite a comunicação de uma para outra
Estes produtos finais resultantes da combustão, que dependerão do tipo do combustível,
(Fig. 1.8).
normalmente são: Gás Carbônico (CO2, Monóxido de Carbono (CO), fuligem, cinzas, vapor
d'água, mais calor e energia luminosa.
Dependendo do combustível poderemos ter vários outros produtos, inclusive tóxicos ou
Irritantes.

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atingindo muitos andares acima de onde está ocorrendo o incêndio, especialmente onde
houver portas ou janelas abertas que permitam a passagem da coluna ascendente de gases
aquecidos. A legislação que rege a construção civil determina que as escadas internas, de
acesso aos pavimentos de um prédio, sejam isoladas por portas à prova de fogo, de forma a
evitar tais efeitos.
Nos navios, essas correntes de convecção ocorrem através dos dutos de ventilação que,
por esse motivo, devem ter suas válvulas de interceptação fechadas nas seções que atravessam
a área incendiada. Muitas vezes, devido à falta dessa providência, incêndios aparentemente
Fig. 1.8 - Condução através de dutos inexplicáveis, longe do foco principal, poderão se formar e inutilizar todo o trabalho de
extinção realizado no compartimento no qual o fogo se originou.
As anteparas e pisos que limitam os compartimentos incendiados atingem temperaturas 1.3 - ELETRICIDADE ESTÁTICA
que ultrapassam a de ignição da maioria dos materiais encontrados a bordo. É por isto que, Eletricidade estática é o acúmulo de potencial elétrico de um corpo em relação a outro,
quando ocorre um incêndio em um compartimento, devem ser inspecionados imediatamente geralmente em relação à terra. Forma-se, na grande maioria dos casos, por atrito, sendo
os compartimentos adjacentes, principalmente os que ficam acima. Todo material existente praticamente impossível de ser eliminada. A providência que pode ser tomada é impedir o seu
nesses compartimentos deve ser retirado ou afastado das anteparas, ao mesmo tempo em que acúmulo antes que atinja potenciais perigosos (capazes de fazer produzir uma faísca),
estas devem ser resfriadas, visto que a própria tinta que as reveste se inflama com facilidade. aterrando-se o equipamento a ela sujeito, isto é, ligando-se a carcaça do equipamento à terra,
1.2.3 - Convecção por meio de um condutor. Quase todos os equipamentos estão sujeitos a atrito e, portanto, à
formação de eletricidade estática. A faísca da descarga elétrica, somada à presença de
combustíveis ou misturas explosivas nas proximidades, poderá ocasionar uma combustão. Por
isso, no transporte e manuseio de líquidos voláteis deverão ser tomados cuidados específicos.
Antigamente, os caminhões-tanque transportadores de líquidos inflamáveis levavam
correntes na parte traseira que, ao se arrastarem pelo chão, descarregavam a eletricidade
estática formada. Modernamente, não se usam mais tais correntes. Antes de ser iniciada a
faina de carga ou descarga do líquido, o chassi do caminhão é ligado à terra por um fio
metálico. As mangueiras que descarregam líquidos e gases combustíveis devem ser dotadas
Fig. 1.9 – Convecção
de bocal metálico que, por sua vez, deve ser conectado eletricamente ao tanque receptor, antes
É o método de transmissão de calor característico dos líquidos e gases. Consiste na de ser iniciada a descarga. Evita-se, assim, que a eletricidade estática gerada pelo atrito do

formação de correntes ascendentes no seio da massa fluida, devido ao fenômeno da dilatação fluido com a mangueira possa originar uma centelha entre o bocal e o tanque.
e consequente perda de densidade da porção de fluido mais próxima da fonte calorífica (Fig.
1.9). Porções mais frias ocupam o lugar próximo à fonte calorífica, antes ocupado pelas
porções que subiram, formando-se assim o regime contínuo das correntes de convecção.
Quanto ao aspecto da propagação de incêndios, a convecção pode ser responsável pelo
alastramento de incêndios a compartimentos bastante distantes do local de origem do fogo.
Em edifícios, este fenômeno se dá através dos poços dos elevadores ou vãos de escadas,
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