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Anchade Fenre0tva mp Historia , = 4 f , eRe bE G Ti , \ pies, ‘ " gD nl Bebe ete le aoe ‘Andradas (MG) a3 de setembro de 1912; passou sua ern Pen 1S accra sire " entsou o gindsio em Ribcirdo Preto (SP), com prémios de primeiro Bee ic ke Tan Ce eet “examcs suplementares de psicologia, pedagogia didatica, Rag Bacharelou-se em teologia na Faculdade de Teologia Coot oesga leer ore a CoN Bre BCA koe cl eas Helena Valim pn te een RC foi pe rey Dr Ren ret hn eR Cn cas Escola Normal Oficial de Franca, em 1941. Em 1946, foi cleito pelo SC/IPB para reger a cadeira de Teologia Sistemdtica no SG Campinas, permanecendo af até 1966. Foi, af, bibliotecario, ET Berta eae Cm As ke poor eka Teller be ae _ Suiga ¢ Estados Unidos. Nomeado pelo SC/IPB como seu Bicone tCelog ‘oficial. Organizou o Arquivo Presbiteriano ¢ 0 Museu Presbiteriano, ca Per EEC ORME cc ER a MO a ryt Pe PC EE re a Rocce eC ee pafses; € membro da Academia de Letras de Sao Joao da BSTC ey Academia Campincira de Letras. Jubilou-sc em 1982, com um rico PTT akon ae Escreveu: Hist6ria da Igreja Presbiteriana do Brasil (2 volumes); O Apéstolo de Caldas; Galeria Evangélica, O Espiritismo — Uma Avaliaga4o; Que Diz a Biblia? Conhega Sua Fé; Conhega Sua Biblia; PN UCM oo ue eae ouesr CUcee oC Rec RIC Unidade; Uma Igreja Nascente ¢ Crescente; Apocalipse, Ontem ¢ Hoje; Que Sinais Haver4? A Graca da Liber- dade — O Dizimo Cristao; Judeu, Enig- ma da Historia; Bfblia, Enigma da Literatura; Caminhos Inescrutaveis; Paré- bolas de Hoje; Cristianismo Para OTe CREM tO ett tte) Cree Bec CaO tee set titer COO ae OTM atts} Brasil; Cristo, Enigma da Psicologia; ature ere oom Al) Me Crini tem Often _ tao Aberta; Daniel: Livro de Visdes ¢ de ss Ce CMe trac ren mtr td SCOR Se oc ee ate ee a Ce MEU Cam sie JULIO ANDRADE FERREIRA BIBLIOTECA PARTICULAR Pr. ESTEVAO DOMINGOS HISTORIA DA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL VOLUME I Direitos cedidos por “Luz Para 0 Caminho” a Casa Editora Presbiteriana.... --~ Diretoria Executiva:” ~~~ Diretor-Presidente: ‘Addy Félix de Carvalho Diretor-Editor: Valter Graciano Martins Diretor-Comercial: Edezildo Barros Corréa Revisao: Valter Graciano Martins Cremilda Alves Martins t Gecy Soares de Macedo Arte: Jader de Almeida Composigao: Zenaide Rissato dos Santos 2! Edicao 1992 — 3,000 exemplares CASA EDITORA PRESBITERIANA R. Miguel Teles Janior, 382/394 — Cambuci 01540 - Sao Paulo - SP Fone: (011) 270-7099 ¢ARAO E HUR SUSTENTAVAM-LHE AS MAOs...” (Ex 17.12) ntre os muitos que me sustentaram as maos, devo men cio nesta ae a colaboragao econémica da “World Alliance Reformed Churches”, ¢ 0 apoio moral do Supremo Concilio d Presbiteriana do Brasil que, desde 1942, tem renovado sua con pondo-me a frente da Comisséo do Histérico, possibilit organizacao do Arquivo Presbiteriano e a redagao deste livro. A todos os generosos colaboradores, que anos a fio olharam co simpatia este trabalho, minha gratidao. Dentre todos eles primeiro lugar, embora nao o tivesse conhecido pessoalmente, o Res Vicente Themudo Lessa, guardiao do passado presbiteriano. O leitor podera ter uma idéia de como esta é uma obra co lendo 0 dltimo capitulo, a que chamo “um hist6rico deste hist Ser4 um prefacio no fim do livro. Por ora, o melhor é mesmo ir a hist6ria que nos propomos Parte I ~O Pioneiro. 0 ica . Antecedentes . A Igreja-Mae . Reconhecimentos ... - . O Primeiro “Furlough” . Nova Sede Missionaria O Fim do Romance O Padre Protestante CRN AKHEYWNE Imprensa Evangélica Indice 10. Brotas, o Primeiro Nucleo do Interior ...----+----> 11. O Primeiro Presbitério 12. O Missionério Itinerante 13. Estratégia Missiondria . . . . 14, Chamberlain Entra para 0 Ministério 15, Na Esteira de Conceigao 16. O Campo de Sant’ana, 49 . . 17. Deus Encontrara Outro 18. Seminario Primitivo. - 19. “Seu Manto Caia Sobre Nés...” 20. Quatro Igrejas Pioneiras 21. Balanco do Primeiro Decénio Parte II 22. Migracoes dos Americanos do.Sulseuct-ionstaa ds onseae 23. A Nova Missao .--- + 24. Preparagao de um Pioneiro ». 61+ essere 25. O Colégio Internacional 15 SESRRESRES 53 62 65 69 REaRBaAD 100 105 109 112 us 26. Carreiras Efémeras 27. A Figura Lendaria das Estradas 28, Schneider vai para a Bahia 29, Os Frutos do Seminario. - + + 3), Travessa da Barteira”...-. ves + + oa 31. Escola Americana 32. Os Valentes de Davi v 33. O Padre José ¢ as Origens da Igrejacm Mogi-Mirim . . 149 SSBREE 34. Conceigao Agoniza 3&35. O Pioneiro do Nordeste g 36. Roteiro do Norte . . - - 37. Correspondéncia de Campinas ....----++++-> 160 38. O Outro Presbitério 39. Jornais Presbiterianos . . 40. “Foram-se de Nés...” 41, “A Barra do Evangelho” ......-+- ++ eee rere 42. Seminaristas sem Seminario 4k 43. Mais Noticias do Norte 44. Nova Geragao de Igrejas 45.O Ne6fito .... 46. Que Era Feito dos Pioneiros .........++-+-+-++- 47. Conceigao € Trasladado "2. s = os oe 48. Antonio Pedro ...... 49. Novos Pastores Brasileiros 50. Sociedade Brasileira de Tratados Evangélicos .....- 51. Educagioe Missio ........... 5 eee BREERESSSSEERSS 5.5.5 52. Templos Sem Aparéncia Exterior ...........-- 53. Colportores, os Vanguardeiros ..........-2-+-% 54. Perseguigdes Clericais do Tempo do Império .... . - + 55. Wardlaw em Fortaleza ..........0 spre bes A 231 3 57. Ocupagao de Sergipe ..... toe ole ole coma 236 58. Desdobramentos da Igreja-Mae . 59. Eduardo Carlos Pereira em Canetntg ‘ : ; i i ; : ei. go. A Caminho de Golds, 61, Campo ds Botigahi...,gitiiialaaAaai a 52.0 Svoeesor de Allthi Petdint aan an oii ay 63. A Evangelizagao do Parana ...... ; ‘ a io 64. Primeira Igreja Presbiteriana do Rio Grande ie sul wal 266 65. Composieae Social das Igrejas 268 66. Hindrio e Suas Primeiras Edigdes 1... .---05-5° 275 67. Missdes Nacionais .... +. 6. eee eee tes 281 68. O Sinodo 284 Parte III 69. Mudanga de Perfodo ... +--+ +08 rrr 291 70. As Decisoes do Sinodo 293 71. Presbitério de Pernambuco . 296 72. Presbitério do Rio de Janeiro +2) Mit. OR EOE HO 304 73. Presbitério de Sao Paulo 312 74. Presbitério de Minas . - - - - 322 75. Seminario, o Pomo da Disc6rdia 338 76. De “Escola Americana” a “Mackenzie College” «+--+ - 343, 71. Dificuldades Eclesidsticas - 352 78/A Morte do Veteram0si-1: 1s -saamasnsssae ai auaay 360 79, O Seminério em Friburgo «== 7" 7" " 369 80. O “Plano de AGaO” inne’ 371 81, Revolugées na Imprensa Presbiteriana 375 82. Instituto ‘Teol6gico) => Sanaa ae Pagan 381 83. A Questao Com 0 Mackenzie se Complica .- +--+ °° 384 84. A Segunda Igreja Presbiteriana de Sao Paulo ..----° pe 85. O Terceiro Sinodo 86.0 Seminario em sa 87.A Desconfianga do 88. A “Mogao Smith” 89. Metendo a Mao nos Bolsos 90. A Questao Missiondria io Paulo s Boards 91, A Questao Educativa ....0.c6:.-+ sO0R%, OUISINIG) gem ais 92. A Questo Magonica ¥ 93. O Presbiterianismo do Norte no Dobrar do Século + 94. Garanhuns, a Antioquia Pernambucana ...-....--- 95. O “Evangelista Sinddico” e o Campo Baianomits aaee 3 96. A Igreja-Mae Recebe um Grande Pastor ...-+++«-- 97. A Expanséo Rumo ao Leste de Minas ......-+-+.-- 98. Lavras, o Campo de Agao de Dr.Gammon ........ 99.O Campo do Rev. Boyle ...:.. 72. 990 ese 100. Raizes da Igreja Ui nida .. 101. Os Sustentadores dos Velhos canes obewe ohgaaas 102. Morrinhos, a Sido do Litoral Sul-Paulista ........ 103. Curitiba e 0 Avanco Para 0 Sul 104. Os Herdeiros de Conceigéo 105. Primeiras Turmas do Seminério do Sinodo ¢ 106. A Primeira Escola 107. “O Século” 108. O Seminario do Martinho 109. “O Puritano” Evangélicado Norte ......... 395 416 422 426 434 439 445 459 g88838 S11 BRSRRESRRE Nota a Segunda Edicao Tendo-se, ha anos, esgotado a primeira edigdo da Historia da Igreja Presbiteriana do Brasil, recebendo ao longo desse tempo intimeras solicitagdes em abono de sua reedi¢do, ndo obstante os tempos dificeis por que ora passamos para a execugdao de tarefa tao drdua e dispendiosa, a Diretoria Executiva desta Editora decidiu levar a cabo tal tarefa, arrostando os grande desafios e trazendo a lume, com alegria e gratiddo, esta obra tao preciosa, a qual custou ao Autor anos consumidos em pacientes pesquisas. Este é 0 ano em que o Autor, Rey. Juilio Andrade Ferreira, se faz octogendrio, e nada mais justo e nobre do que perpetrar o que este varao de Deus produziu ao longo de sua abengoada caminhada. Alids, ele escreve e descreve sobre tantos herdis da fé, que semearam incansavelmente a bendita semente do Evangetho da Eterna Salvacdo, que ele mesmo, cujas raizes se entrelagam com as daqueles, nos liames de tao linda histéria, sim, ele mesmo é deixado (de propésito?) em meio as penumbras causadas pelos protagonistas da presente histéria. Todavia, todos os leitores hao de saber que o Autor é parte integrante da imensa procisséo de servidores do Cordeiro, os quais foram conquistados para uma vida de lutas antes de alcangarem os umbrais e os dtrios do infinito universo do descanso etemo, e permanecerem ante a face do divino Redentor e Cabega da Igreja. os fazer uma edigdo que fizesse feliz: 0} coreg 00 Oa Naturalmente que falhas vdo ser encontradas, mas Plseiiogg e se produzisse 0 melhor. Além do mais, toda a do ea mente para que on Além ¢ eee Presbiteriana do Brasil merece que sua historia seja perpetrada de ira digna de seu grande nome. Uma palavra de reconhecimento deve-se registrar em atencado especial ao Rev. Celcino Gama, diretor executivo de Luz Para o Caminho, que, sendo detentor dos direitos autorais, cedidos pessoal- mente pelo Autor nos cedeu tais direitos e nos dew oO seu entusidstico apoio na publicagao desta segunda edigao. Obrigado, Rev. Celcino Gama! Que todos os seminaristas e estudiosos de nossa tao grandiosa Igreja se inspirem nas vidas de estrangeiros e nacionais, todos cidadaos da Jerusalém Celestial, cujo exemplo de abnegacao e amor a Cristo e sua obra nos estremece de comogdo, nestes tempos modemos, quando tudo parece mais facil, porém tudo se torna mais dificil! Que a Igreja se erga como nos velhos tempos! Entao o Senhor vira! A Ele, pois, o supremo conquistador da Igreja eleita, Rei dos reis e Senhor dos senhores, que viré para purificar e aperfeigoar sua Igreja e punir 0 mundo impio, sim, a Ele sejam o poder, a riqueza, a sabedoria, a forca, a honra, a gloria, o louvor, o dominio, as agdes de gracas, hoje e naquele grande dia em que a inumerdvel multidao dos redimidos se curvaré e 0 adoraré com um sé louvor e o servird como uma 6 Igreja no 1g céu ena nova terrra! Bendito seja para sempre o seu excelso Nome! mem. Tentam escrit man Entao teré inicio uma nova historia! Sao Paulo, maio de 1992 Valter Graciano Martins Editor Parte I PERIODO DE PENETRACAO (1859 a 1869) Da chegada de Simonton, pioneiro do Board de New York, até 4 chegada dos pioneiros do Committee de Nashville: Morton e Lane. 1.0 PIONEIRO Sexta-feira, 12 de agosto de 1859, 9 horas ¢ 30 minutos. cv npr nears ran ead cane eee ae abrigo do vento ¢ da maré. Belo lugar, que jamais vi. Pela beleza, sublimidade, seguranca, quer contra os ventos, quer contra as ondas, e pela possibilidade de defesa contra os ataques por mar e por terra, um porto assim € quase inconcebivel. A bafa se estende em volta, guardada por ilhas curiosamente Plasmadas, de rochas altas e s6lidas, como se fossem ovos com uma ou outra ponta a mostra. Em cumes aqui e ali, grimpam-se igrejas e alegres vivendas. Uma delas € mesmo como pombal no topo de campanario: de certo ter4 mais de duzentos metros de altura. A entrada da barra é de meia milha de largura: num dos lados ha ousado promontério e o Forte Santa Cruz, ali encravado, com pesados canhGes pelas encostas: noutra, a torre do Pao de Agicar, com mais de trezentos metros de altura, Estamos ainda no colo da grande enseada, aproveitando cada minuto, a olhar ora do lado do forte, ora do outro, a distancia de um tiro de pedra do Pao de Agicar. A agua é de tal profundidade que o cuidado do timoneiro nao ser o de evitar que o mastro transversal toque num ou noutro flanco. A cidade jaz a duas milhas de nés, em grande extensao de colinas altas e de montanhas.” “Ja me desfiz da indumentaria maritima: dei-a ao camareiro que me prestou bons servigos na viagem. Estou pronto para o desembar- que.” Trecho do “diario” de Simonton. Nesse mesmo 12 de agosto, 0 jovem de barba nazarena toma refeigao em casa do comerciante Wright, a quem trouxera apresentacao, estando a mesa a familia do cénsul Scott. Sprccis a culin4ria e, sobretudo, as laranjas, “como nunca provara iguais”. Boa prosa. Diz ele que ao desembarcar, quando vinha do navio, ainda no bote, a mistura de cores dera-lhe a impressao de _portos no Mediterraneo, segundo leituras feitas. Um dos sécios da firma Wright se propusera procurar-lhe acomodagao. sor i E assim se foi o dia. O primeiro missiondrio presbiteriano pisara 0 Brasil. po he pe T Simonton (AG, “Fournal” (Cépia da Igreja Presbiteriana do Rio) conforme data 16 Longe estava da metrépole de hoje o Rio de Janciro dos meadog do século dezenove. Regulamentos particulares do. porto cram tais que naviog estrangeiros tinham de ancorar a certa distancia da terra. Em yez da massa de arranha-céus da Esplanada, 0 morro do Castelo é que 14 estava com suas casinholas antiqiifssimas. Perto do cais, o “Hotel Pharoux”, de trés andares, ¢, além, a torre da Candelaria, mais alta que os maiores prédios de 4 a 5 andares, emergindo dentre os telhados escuros. O Largo do Pago (atual Praga 15) era o verdadeiro coragao da cidade. Dali partiam para bairros, entao considerados os mais distantes do Botafogo, das Laranjeiras, Ge Gamboa , as conducoes de aluguel ou coletivos, todas de tragao animal, Nada de Avenida Rio Branco, nem Presidente Vargas, nem Beira-Mar. ‘As mais notaveis ruas daquele tempo eram todas das mais estreitas — rua do Ouvidor, rua do Rosario — € as transversais —, rua da Quitanda e rua Direita (hoje 12 de Margo). Nesse amago urbano contemplava 0 estrangeiro, com surpresa, matalotagem em ombros de escravos, em originalissima orgia de cores. Ainda no més de agosto, a 31, diz Simonton ter feito culto a bordo do navio John Adams, falando a mais de duzentos ouvintes que o aguardavam e que nao tinham sempre oportunidade dessa. Combina- ram nova reuniao para dali a duas semanas. Conversou com o Dr. Kalley, 0 missiondrio escocés. Este ja fundara pequena igreja congregacional no bairro da Satide. Dr. Kalley achou oportuna a entrada do missiondrio norte-americano, pois teriam boa protecao de seu pats. Aconselha, nao obstante, um trabalho velado, método que lhe parece mais conveniente em pais catélico. Simonton nao compartilha das idéias de Kalley. Servira t aos patricios e gostara de assegurar a influéncia social deles. Mas sobretudo aos brasileiros, e sua confianga esta na protecao do Senhor. “Minha presenca aqui e meus propésitos nao podem ficar ocultos... Um tal Dr. Pacheco da Silva, interessado em aulas de hebraico, propoe ajuda-lo no estudo do portugués. Simonton, enquanto 4 aspectos pitorescos da vida brasileira, como a parada do sete setembro, mostra-se preocupado com 0 aprendizado Gb es Continua a pregar em navios: descobre familias de lingua ing! Praia Grande. DIKIGAGH a HEEE SEO an y _ do Passado™ 2. Kidder e Fletcher “O Brasil e os Brasileiros”; J. Rocha ‘Lembrancas 9 PIONBIRO e Conforta-se com as primeiras noticias de casa, “Senti-me como se a atmosfera do lar me envolvesse, quando li as cartas.” “Diffcil como 6 estar separado dos amigos, é mais duro ainda nao ter amigos crentes cujas oragoes nos acompanhem nas provagées ¢ nas alegrias da jornada, confortador, quando peo por mim, com fé vacilante, saber que outros, que sci serem povo de Deus, oram também com o mesmo propésito.” Prega na Satide, a Igreja de Kalley. Confessa nao ter sempre dominio completo quando fala ex-tempore. Ao dirigir os cultos, entre clementos de lingua inglesa, em terra ou em navios, nao h4 quem o ajude a cantar: aproveita-se, por isso, de partes da liturgia episcopal. Mr. G. convida-o a tomar em sua casa as refeigdes. Simonton aceita, agradecido, e aprecia 0 convivio dessa familia. Faz algumas excurses € namora a natureza brasileira. Entrementes, aprende a lingua. Dé aulas aos filhos do Sr. Eubank, para aprender com eles a lingua da terra. Ja é amigo da colénia de lingua inglesa, mas nao tem interesse em integrar-se nas suas preocupagoes temporais. Um tal Sr. A. ajuda-o também a pér-se em contato com gente de bons colégios. Quanto mais troca de aulas, melhor: até mesmo o Sr. Leao, Secretario da Instrugao, quer aprender inglés com cle. Pelo més de dezembro tem um ajuste de contas com o Dr. Kalley. Espalhara este um escrito anénimo, lamentando que outro viesse ocupar a clareira j4 aberta para as plantagoes. Por que interferir em campo alheio? O Brasil, t4o vasto, teria tantos lugares que poderiam ser ocupados por quem quisesse espalhar a verdade de Deus... Simonton convida o Dr. Kalley a um encontro privado ¢ lamenta que o papel prejudicial e injusto a sua reputagao estivesse sendo espalhado viesse ao seu conhecimento por maos de terceiros. Como crentes guias espirituais, deviam lealdade um ao outro: estava convencido de que os dois trabalhos nao seriam prejudiciais um ao outro, pois que pretendia usar métodos diferentes. Kalley, depois de algumas horas de reflex4o, voltou atras procurando recolher os papéis distribuidos, e pediu a Simonton que lhe desse a mao € orassem juntos. “Foi um belo triunfo da graga.” Vem 0 natal nos trépicos. O primeir todas as gratas associagdes: da neve re anonimamente, ‘0 passado assim do arrepio a cobrindo a natureza ¢ do 18 IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL aconchego dos seus. Foi a capela inglesa com seus hospedeiros, 0 casal G., sempre tao agradavel. Vé escoarem-se as tltimas horas de 1859, grato porque “seu campo de trabalho” se delineia. Nao teve em 59 as indecis6es do ano anterior. O rumo estava tracado: as perspectivas eram excelentes, Aguarda a vinda da irma “Lille” e de seu cunhado Blackford, que a ele vao se aliar. A Providéncia 0 guiava. Ja era conhecido de muitos brasileiros, os passos com Kalley foram acertados, j4 caminha no dominio da lingua... Por que inquietar-se quanto ao futuro? O que precisa é obedecer. Passa a residir com o sr. Eubank, cujos filhos, seus alunos ¢ mestres, tomaram-se de amizade por ele, festejam-lhe 0 aniversario a 20 de janeiro. Apesar do calor que 0 obriga a subir a Tijuca e a Petrépolis, ¢ a febre amarela que o obriga a acompanhar alguns enterros, est ele contente. O cénsul Scott faz-lhe declaragoes formais de que zelara pela liberdade religiosa, e Kalley recebe cartas de advogados influentes, seus amigos, garantindo que tal liberdade ser garantida. Simonton registra crescente amizade pelo Dr. Kalley e reconhecimento do seu valor, como homem e como cristao. Recebe noticia de que a viagem de Blackford fora adiada. Mesmo antes do reforgo, importa prosseguir. “No ultimo domingo, dia 22, reuni uma escola dominical aqui em casa mesmo. Foi meu primeiro culto em portugués. As criangas do Sr. Eubank estavam todas. Também Amilia ¢ Marroquinas Knaak. A Biblia, um catecismo de historia sagrada e a Viagem do Peregrino, de Bunyan, foram nossos livros de texto.” Sabia portugués para fazer seu primeiro culto, mas Marroquinas deve ser certamente sua maneira de escrever Mariquinhas. Sao passados apenas 250 dias apés seu desembarque. a 3, Simonton “Journal” conforme data. 2. ANTECEDENTES Ashbel Green Simonton nascera em West Hanover, municipio de Dauphin, Pennsylvania, em 1833. Seu pai, 0 Dr. William, bom médico politico influente, morrera quando Simonton contava apenas treze anos. Dera-Ihe 0 nome de Ashbel Green em homenagem ao presidente do “Nassau Hall”, na esperanga de que algum dia viesse a ser como 0 Dr. Green. Sua mae, Martha Davis, filha do piedoso pastor Snodgrass, j4 tinha os filhos conduzidos na senda de educagao sadia e de firme piedade. Eram nove ao todo, dos quais cinco homens, sendo Ashbel o cagula. Fez curso primario em Harrisburg e, comegando os estudos secundarios af mesmo, foi termina-los no colégio de New Jersey. Nem bem formado em colégio, com 0 propésito de adquirir experiéncia no ensino, no trato das coisas, e mesmo com a expectativa de ver definida a sua voca¢ao, dirigiu-se ao sul. Inicia entao o diario, cujo registro é as vezes espacgado, mas que esta repleto de observagées interessantes, Norfolk, Petesburgo, Raleigh, Fayetteville, Columbia, Atlanta, Dacatur, Starkville... Em Starkville, Mississipi, fixou-se por algum tempo. Em janeiro de 1853 a julho de 54, ali esteve ele regendo escola: “Academy for boys.” Retrata com humor as ocorréncias do lugar e suas proprias reflexdes sobre a vida de jovem. Embora nao seja um crente no sentido pleno da palavra, é sensato e deseja acertar. Aprende muito no sul. Mas volta contente para o lar. “A escolha de uma profisséo € matéria importante © requer decisao. Nao tenho tido pressa, e, até agora, a tenho adiado: uma vez tomada a decisdo, fico a pensar se os motivos que me influenciaram seriam os melhores.” Embora amigos dissessem ter ele jeito para o ministério evangélico, nao pensa ser este o caso. Escolhe advocacia. Tentag6es serao inevitéveis, mas é uma carreira nobre. E atira-se ao estudo das leis. Prossegue seu didrio com observagoes finas sobre situagdes e Pessoas... as vezes viagem de recreio com colegas ou com irmaos. Namoros. Vé-se, contudo, através daquelas paginas, que é ele sensivel as impressées religiosas e sempre respeitoso para com as coisas santas. No dia 20 de janeiro de 1855, ao completar seu 22° aniversdrio, Propoe a si mesmo a pergunta, se a vida nao lhe tem sido muito sem IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL 20 propasito. A 10 de margo registra que um reavivament, sobretudo em New Jersey. O assunto religioso Predomina. Re cont que 0 caso merece atengao: ora ¢ 1é a Biblia. 14 douie, , pe Princeton, interesse desta ordem 0 alcangara, mas cle julgava to, nm pior do que antes. Agora, porém, seu interesse era profundo, 3. a qualquer razio emocional, mas porque compreenden que 4. , definir-se, Expds, mesmo em puiblico, seu propdsito. “Nao é im on sentimento que se requer de um pecador para ser salvo,” “Persery. a até que a luz se faga no meu caminho.” E dia a dia teconhex Jealmente, que a insensibilidade de seu coragado permanece. Fy nde Observa. Ora. Lé os “Ensaios” de Foster. Ainda a 14 de abril, ape. reuniao semanal de oragao, diz que compreende 0 Evangelho, mas » ‘ © sente. Quer devotar-se a Deus, ao seu servigo, mas... 3 de maio. “Na terga-feira o conselho da Igreja reuniu-se com que queriam professar. Vinte e dois ao todo...” Simonton é desse nimero. Embora vacilante, diz entrar para Igreja para que a sua fé se confirme e possa se fortalecer. Para conhecer o Senhor é preciso segui-lo. Ante a pergunta do Sr. Weir, se nao gostaria de ser pregador, reconhece que o fato de ter sii consagrado ao ministério, por ocasiao do batismo, exerce sobre ele impressiva influéncia. Professa a 6 de maio e assume os vyotos feilos pelos pais. “O servigo do Senhor seré meu supremo alvo de vida.” dia 20 desse més tem sua primeira liao de hebraico, pois nio &™ divida de que entraré para o Seminario de Princeton, ¢ os professor 14 julgam que © contato com essa lingua Ihe sera util, Inics a segura preparacdo, cursando 0 Seminario de Prince\o" Impée-se disciplina corporal, mental e espiritual. Seu programa ¢ che Um sermao do Dr. Hodge, a 14 de outubro, o faz pensar seriaments <" campos missiondrios, No mesmo més, ap6s reunido de or Pela segunda vez esteve presente, declara a si proprio que 0 tem m que terd de decidir-se quanto ao trabalho missionario. O imps!" Serd fazer a vontade do Senhor, Meses depois, ouvindo «ello! da Nova Zelandia, as lutas ¢ as vitorias entre °*""" por soled — dessa empresa. A gloriosa Ca se : instrumentalidade are Kes Ghee fs dado ver temps de prone nto Euteria arn mpo da promessa, nao 1 tomado -” “Submeter-me-ei A sua vontade jo a que pores a Em férias, faz viagem de colportagem ao “middle-west”. Voltando a Princeton, est4 quase decidido a oferecer-se ao Board de Missées. Maravilha-se também, aps as férias, de que Iinguas como hebraico, frabe ou cognatas sejam bem aprendidas ¢ melhor desaprendidas (goten and forgoten).* Ja no fim do curso fere o joclho, quando fazia exercicio no “ginasium”. Depois de semana, 0 Dr. Pancoast prescreve séria operagao para que nao fique, pelo resto da vida, defeituoso. Considera, nesse perfodo, mais seriamente a vocagao missionaria. Em virtude de entrevista com o Dr. J. Leighton Wilson, um dos secretérios do “Board of Foreign Missions”, sua atengao é seriamente voltada para Bogota, como seu campo de trabalho, Corresponde-se com o Dr. Horace Pratt, missionArio ja estabelecido naquela cidade. Muitas igrejas em que pregara disputavam-lhe os servigos na patria. Mesmo um de seus professores procurou dissuadi-lo de ir ao estrangeiro: sua carreira como pregador, dizia, garantir-Ihe-ia lugar preeminente. Nada, porém, 0 demove. Obtido o consentimento da velha mae, candidata-se como missiondrio perante 0 Board, em novembro de 58, mencionando o Brasil como “o campo de sua preferéncia”. O Board, em dezembro, respondeu-lhe favoravelmente, com a condigao de remové-lo, caso as condigées no Brasil nao estivesssem maduras para 0 estabelecimento do campo missionario. Faz est4gio com o Rev. W. H. Foot, em Romney, Va., com vista experiéncia pastoral. As igrejas da regiao pedem-lhe formalmente que reconsidere a decisao de partir. Queriam-no como pastor. Simonton considera que a decisao é definitiva. Vai a Nova York e poe-se a estudar portugués. E ordenado pelo Presbitério de Carlisle, a 14 de abril de 1859. O sermao que pregou, sobre “P: 4 MacedGnia foi publicado no “Presbyterian Magazine”. Seu tio, o Rev. W. Snodgra: fez a parénese. “Por conselho do Dr. J. Leighton Wilson, visitou o Western Seminary, em Alleghany, Pa., para conhecer o Sr, Alexander L. Blackford, que acabara de ser ordenado ¢ fora também aceito como missionério para o Brasil.” Alguns dias de convivio alicergaram sélida 4, Simonton “Journal” conforme data, 22 IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL amizade. Blackford tornou-se seu cunhado, ¢ veio, depois, efetivamente Para 6 mesmo setor missionaério.” Sua mae ¢ Joao, seu mano, acompanharam-no até Baltimore. No “Banshee”, navio marcante, oraram com ele, na cabine em que viajaria Era 18 de junho de 1859, Da estada de franceses ¢ de holandeses no Brasil, nos tempos coloniais, nenhum trago de protestantismo restara. O catolicismo romano, que aqui estivera muito tempo isolado do mundo, assumira caracteristicas nao combativas. O povo simples, supersticioso ¢ ignorante, apresentava reservas de sinccridade. Uma vez introduzidas no Brasil as Escrituras, ¢ isto s6 no século 19, encontraram terreno propicio ao florecimento da fé. O clero nao era abundante, nem sempre levava a sério seus deveres religiosos, ¢, constituido de elementos nacionais, envolvia-se nao raro na politica. Se nao ajudava a espiritualidade do povo, também nao exercia a opressao que mais tarde veio a exercer. O romanismo do século 19 nao estava alerta. Tudo era seu. Salvo excegdes, nao houve, a principio, sérias oposigdes a disseminagao da Biblia. A influéncia mag6nica, a que muitos padres tinham servido, era a favor da liberdade de consciéncia. Feij6 pregou o celibato e desejou a “vinda de irmaos Mor4vios para que se dedicassem a educar nossos indigenas”. Em virtude de tratado comercial com a Inglaterra, desde 1810 era facuitada aos estrangeiros a construgao de suas capelas, contudo “sem formas exteriores de templos”. Ingleses e alemaes as haviam construido em 1823 e 1837, respectivamente; mas, imigrantes que eram, nao se empenhavam em fazer conhecida e aceita sua fé. Muito mais significativa para a evangelizagao do pais tinha sido a atuagao de sociedades biblicas, a Britanica e a Americana, que, fundadas no princfpio do século 19, nao tardavam em enviar exemplares das Escrituras ao Brasil. Para isso valiam-se “especialmente dos bons oficios de comerciantes em viagem, os quais colocavam A disposigao de quem as desejasse (deixando-as mesmo, algumas vezes, pura © simplesmente abertas nas alfandegas), Os metodistas de Tennesse promoveram a vinda do Rey, Foutain Pitts em 1835, Fez pouco mais que inspegdes. Logo depois aqui aportou o Rev. J, Spaulding, o qual chegou 5. Wilson (Joseph) “The Presbyterian Historical Almanach”, 1868 (Colegao Boanerges) ANTECEDENTES 2 te ANT) BNIES ae anne a fundar escolas. Nao ficou, porém, no Brasil, Daniel Kidder, primeiro, ¢ depois James Fletcher exerceram a fungao de agentes de Sociedades Biblicas. Até 1854, essas duas sociedades biblicas haviam distribuido 4,000 exemplares das turas; Nos cinco anos seguintes distribufram 20.000, Em 1855 viera 0 médico escocés, Robert R. Kaley, ja perseguido na Ilha da Madcira, onde exercera grande atividade evangelistica Kalley fundou no Brasil a primeira Igreja de cunho missionério ¢ de cardter estavel. Até hoje cla existe no Rio de Janciro, Fluminense. E a Igreja Evangél A chegada de Simonton, ja hé quatro anos Kalley desenvolvia sua atividade evangelistica, Convidara trés familias de madcirenses - Gama, Jardim e Fernandes - a virem dos Estados Unidos, onde se haviam refugiado, para cooperarem com cle. Chegaram cerca de um ano apés Kalley. Dois de seus crentes, William Pitt, vindo da Inglaterra em 1855, e Esher, também de famflia estrangeira, fundaram uma escola em 1857, Os demais davam parte do tempo a colportagem, por conta de Kalley, e parte ao trabalho ordinario, no arsenal da Marinha. Em 1858, a 11 de julho, Kalley recebera Pedro Nolasco de Andrade, 0 1° professo, primicias da Igreja Fluminense. Damas ilustres, como Gabricla Augusta Carneiro Leao e Dona Henriqucta Soares de Couto, haviam sido recebidas a Igreja no inicio do ano de 1859. Kalley, pelas atividades profissionais, pelos cultos, pela colportagem de seus auxiliares, pela publicagao de artigos e tradugdes no “Correio Mercantil”, j4 despertara a atengao do clero que contestava a legitimidade de sua propaganda. A oposicao chegara ao ponto de exigir que deixasse a clinica. Ele fez exame e revalidou seu diploma. O Niincio Apostélico dissera ser necessério “tapar a boca do Inglés”. Valera-se da propria legacao inglesa; Kalley, porém, além da legislacao do diploma, tomara pareceres, por escrito, de trés grandes jurisconsultos, sobre a liberdade religiosa. Kalley alcanga a vit6ria, dando-se 0 governo por satisfeito com suas explicagdes. A legagao inglesa precisava dar satisfagdes ao Ministro do Exterior do Brasil, Sr. Paranhos. Kalley j4 ia conseguindo ganhar terreno. 6. Kidder e Fletcher “O Brasil ¢ os Brasileiros”, Comp. Edit. Nacional, 1941. Lessa (Temudo) “Annaes da 1? Igreja Presbiteriana de S. Paulo”. Rocha (Jodo) “Lembrangas do Passado. Leonard (E.G.) "O Protestantismo Brasileiro" (Revista de Hist6ria da Universidade de S. Paulo, 1951-52). IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL Simonton chegara, pois, em hora plena de oportunidade. O Brasil Se abria ao Evangelho, Ao candidatar-se como missiondrio do Board de New York, haquele 25 de novembro de 1858, dissera 0 pioneiro presbiteriano: iz mengao do Brasil como o campo para o qual me sinto mais profundamente interessado, mas deixei ao Board a decisao final do meu destino.” Tempo de penetragio. O Brasil estava pronto para ouvir o Evangelho; estava, porém, ainda por ouvir 0 Evangelho. 3. A IGREJA-MAE No comego do ano de 1860, mesmo apés seu primeiro culto em portugués, sob a expectativa da chegada de Blackford, a fase da vida de Simonton é ainda de conveniente preparacao: “Outra semana de estudo sossegado.” Nao fago mais do que preparar-me. Sinto-me as vezes impaciente com minha inutilidade ¢ quase invejoso dos pastores que, na patria, domingo a domingo, tém multiddes a ouvi-los. “Monticello”, 0 pequeno navio a vela em que Blackford e Lille, a irma de Simonton, partiram de Baltimore, em fins de abril, nao chegara até meados de julho, ¢ dele nao havia noticias. Sabia-se apenas que fora surpreendido por tremenda tempestade. As esperancas de Simonton, na cooperagao de cunhado ¢ no carinho da irma, iam sendo consumidas dia a dia. Nem mesmo dos Estados Unidos ou da Inglaterra sabiam do paradeiro do Monticello. Dizia Simonton nao estar desesperado, pela miscric6rdia do Senhor.® Blackford conta-nos depois a histéria de sua aventura. “Levantamos ferro, quinta-feira a tarde, a 26 de abril, e na altura de 28 graus de latitude fomos tomados por tempestade do Golfo Stream. Todos estavam acordes em que nunca tinham visto coisa semelhante. Prosseguiu a tormenta sem arrefecer até a noite da terga-feira seguinte. Durante esse tempo estive tao atacado de ndusea que mal podia 7. Simonton “Journal”, conforme data. 8. Simonton “Journal”, conforme data. AIGREJA-MAE 25 iu mover-me, A Sra. Blackford, que nao passara bem antes, res! melhor, No sbado, as ondas subiam tao alto que cobriram 0 navio todo muitas vezes, ¢ 0 barco estalava ¢ gemia como sc estivesse para ser reduzido a pedagos. Agua entrava pela cabine, pelos corredores © até pela jancla, de modo que dentro tudo estava saturado de Agua. Camas € roupas estavam molhadas, sem qualquer possibilidade de tomar providéncias, desde sdbado até terga .” Muitos ficaram doentes; houve mortos, Nao se tinha a minima idéia de onde a embarcagao se encontrava. A provisao quase se perdeu toda. Vinte © cinco dias depois da partida de Baltimore, conseguimos atingir Bridgtown, na Ilha Barbados.” De Blackford, diz Kolb que era nascido no condado de Jefferson, Ohio, U. S. A., a6 de janeiro de 1829. Filho de pais muito piedosos, passou na fazenda destes sua infancia toda, freqiientando escola da vizinhanga. Estudou no “College” de Washington, Pennsylvania. Formado em 1856, passou ao “Western Theological Seminary”, em Alleghany, formou-se em 59 e apresentou-se ao Board. Wilson 0 colocou em contato com Simonton, do que resultou casar-se ele com Elizabeth, irma do pioneiro." Foi mais seguro esse final de 1860. Mal Blackford podia se expressar em portugués, ¢ certamente expressava-se ainda mal, ¢ Simonton resolve viajar. Faz 0 primeiro roteiro de reconhecimento no interior. A 30 de dezembro de 1860 escreve do “Hotel da Itélia”, em Sao Paulo. Prega em inglés em casa de Robert Sharp. “E agradavel pregar a quem quer ouvir, ¢ estas ocasides tém sido um balsamo para a minha alma. Mas, que € feito do povo brasileiro, ainda ignorante do Evangelho, a quem tenho sido enviado? Enquanto nao lhe declarar minha mensagem, nao terei descanso.” “Estou envergonhado do pou- co que tenho feito.” Sabendo que ha imigrantes no interior, especialmente ingleses ¢ alemaes, Simonton tem desejo de procuré-los. Serao, talvez, cabega-de- ponte para a desejada penetracao. A 20 de janeiro, de 61, visita familia alema em Sorocaba, ¢ dali viaja para Itapetininga com um tal Dr. Reinward. A 12 de fevereiro esta em Itu. Hospeda-se com Major Pinheiro Iris, “liberal exaltado”. Tem discussao amigavel com o Padre Francisco. Vai ao sitio de J. M. C., onde se demora. A familia se mostra peewee 9, Landes (Philip) “Ashbel Green Simonton”, conforme datas. 10. Almanaque de “O Puritano” pags.38, 39. 26 IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL, extremamente amiga, mas “h4 tanta sujeira no ambiente, porcos, galinhas, caes, vacas, cavalos e mulas, com o arrastar de criangas, brancas © pretas, pelo chao batido, que ¢ dificil apreciar sua hospitalidade”, “Sou um objeto de curiosidade ¢ recebido com todas as honras de padre.” Volta a Sorocaba para buscar um caixote de Biblias. Providencia agentes para venda da Escritura: um tal Abreu; também Marciano da Silva. O “vigario” (sic) se mostra disposto a nos ajudar na distribuicao da Biblia... se 0 bispo permitir. Simonton hospeda-se com 0 Barao de Piracicaba, “ excelente homem” (grafa - Perececaba). De novo em Itu, fica sabendo, pela correspondéncia que lhe fora reenviada do Rio, que estourara a guerra civil em sua patria. No més de margo est4 em Campinas. Em maio, no Rio. Durante 0 tempo todo da’ viagem, 0 pionciro arde de impaciéncia, vendo as condigées do povo. Pagina do diario, em Santa Teresa, Rio, a 17 de junho de 1861: “Muito tempo se passou sem uma anotacao. Algumas datas e acontecimentos devo registrar.” “Ao regressar da viagem, um problema se levantou entre nés: 0 de decidir da localizacgao definitiva da Missao. Sr. Blackford estava pela nossa transferéncia para Sao Paulo. Imaginava que eu poderia abrir trabalho ali, e cle gastaria maior parte de seu tempo Viajando como colportor. O Rio seria abandonado até hora mais oportuna. Creio ser este um exagero sobre a importancia relativa de Sao Paulo, e nao creio que devamos abandonar campo amplo por outro mais restrito. Quanto ao trabalho, cuja responsabilidade de pesar em grande parte sobre mim nos préximos tempos, estou disposto a Prosseguir nele, pelo menos até expressa declaracao da vontade do Board.” “No dia 1° de maio aluguei casa na rua Nova de Ouvidor n° Bivc comecei a dar aulas duas vezes por semana, em inglés ¢ portugués, como recurso para ter contato com os brasileiros, e assim poder trazé-los a classe biblica no domingo. Essa classe, nés a tivemos pela primeira vez a 19 de maio as 3 horas da tarde. Foi com algum temor que esperei a hora. Havia dois presentes, e pareciam interessados. Comecei 0 estudo no evangelho de Mateus. No domingo seguinte havia trés; no terceiro, mais; ¢ no quarto, fiquei surpreendido de ver a sala cheia de homens e mulheres. Era um quadro jubiloso o ver tantos brasileiros AIGREJA-MAE 21 ansiosos para receber instrugdo religiosa. A vista do desejo de mais instrugao, iniciei na quinta-feira Gltima um culto semanal a noite, a0 qual sete pessoas compareceram. E com profundo gozo e gratidao que vejo abrirem-se as portas a minha pregagao do Evangelho.” Em novembro: “Qs cultos regulares, as quintas e domingos, continuaram, embora 9 auditério nao esteja crescendo. O nimero varia de trés a vinte, mas 0 mais comum é de scis a dez. HA trés deles que estao muito interessados. Cardoso vai dando grandes esperangas, dando mesmo quase certeza de que é um homem convertido. Sua compreensao da Biblia e seu entusiasmo, sua perspicdcia de consciéncia e a reforma de vida sao provas da operagao do poder divino que transforma o coragao. Carvalho, o ‘ferreiro’, é atencioso ¢ aparentemente de espirito muito simples. Quao fundas sao as impress6es no seu fi timo nao sou capaz de dizer. A esposa prometeu assistir aos cultos quando tiver roupa que sirva. O rapaz, que ultimamente comegou a assistir, parece que € aplicado © que esta convencido da verdade ¢ da importdncia de uma religiao espiritual.” Na vigilia de 61 para 62: “Nao hd senao o que é bom recordar quando penso na maneira por que Deus me dirigiu neste ano. O que me diz respeito pessoalmente pode resumir-se em gragas recebidas de Deus € deficiéncia no cumprimento de deveres de minha parte. Além mesmo de simples expectativas, foi-me dado trabalhar diretamente na proclamagdo do Evangelho ao povo deste pais. A providéncia de Deus me levou pelos caminhos direitos, fazendo planos os lugares Asperos € dando forma ao que era inexpressivo € vago. HA um ano, ou menos, mal podia eu saber como caminhar rumo 4 evangelizagao dos brasileiros; agora nao somente instruo um circulo crescente de pessoas, mas me desvaneco ante a persuaso de que os primeiros frutos estao maduros. Na minha fraquesa, nao esperava que meu ensino, tao deficiente, fosse de tal modo honrado. x Jubiloso e grato ergo meu Ebenézer, memorial & bondade fidelidade de Deus, meu Salvador. A Ele toda gloria, pois a Ele __pertence de direito. Nele est a fortaleza e todo soberano recurso." Dias depois, a 14 de janeiro: -. 3 28 IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL “Uma semana de oragéo se passou. Confio em que 0 povo de Deus por toda parte erga ferventes saplicas pelo derramamento do Espirito Santo, para que o Reino de Cristo se estabelega na terra nestes tempos diffceis, Expliquei aos que me ouvem em portugués que convinha observar a semana de oragd0, € a impressao causada pareccu-me ter sido excelente.” Vejamos como o pionciro narra a formagao da ie Igreja Presbitcriana do Brasil, quando, na modéstia das primeiras Profissdes de f€, recebidas em companhia de Schneider, mi iondrio recém-chegado, 0 seu coragao se sente pequeno para conter a gratidao que o inunda. “No sdbado, celebramos a Santa Ceia, e recebi por profissao de fé a Henry E. Milford ¢ a Cardoso Camilo de Jesus. Foi uma hora de gozo fntimo. Antes mesmo do que eu esperava. Deus me deu os primeiros frutos de nossa missao. Sinto-me grato, mas julgo que devia estar mais ainda. O culto de comunhao foi dirigido por Schneider e por mim, em inglés e em portugués. O Sr. Cardoso, a seu proprio pedido e de acordo com 0 que nds mesmos, depois de muito pensar ¢ hesitar, tinhamos achado melhor, foi batizado. Seu exame foi julgado mais do que satisfat6rio por Schneider e por mim, ¢ nao nos deixou divida alguma com respcito a realidade de sua conversao.” Diz Trajano que o Sr. Henrique E. Milford “era natural da cidade de New York, nos Estados Unidos, e veio para o Brasil como agente da Singer e Cia. Apesar de ter nascido no scio da Igreja Episcopal, era incrédulo e adverso a todo sistema de religido, mas pela convivéncia com 0 Rey. Simonton, ele se converteu e se tornou um crente fervoroso, prestando depois relevantes servigos a causa do Evangelho. Este irmao era alto, simpatico, tinha perto de 40 anos quando fez sua profissao de fé. “O Sr. Camilo Cardoso de Jesus, que mais tarde mudou o nome para Camilo José Cardoso, era natural da cidade do Porto, em Portugal; professou com a idade de 36 anos; era robusto, corajoso e enérgico; tinha exercido a profissdo de foguista a bordo dos vapores que navegavam para os portos do Norte.” Fixando sua residéncia nesta Capital, comegou a estudar a lingua inglesa com o Rev. Simonton, e por este meio veio ao conhecimento do Evangelho e aceitou as doutrinas de 11. imonton “Journal”, conforme data. _AIGREIA-MAE igs 9 Jesus Cristo. Foi cle o primeiro didcono que se clegeu nesta igreja, € este cargo ele conservou até morrer. “Foi também 0 primeiro empregado que teve 0 depésito de livros religiosos da Igreja Presbiteriana.”!” Infelizmente teve que haver com a “sessao” da Igreja, ‘© conselho de ent, mais de uma vez. Além de E. Milford e Camilo Cardoso de Jesus, depois Camilo José Cardoso, foram entrando para a igreja outros elementos, a principio quase s6 estrangeiros: José Maria Ferreira e sua mulher Euldlia Candida, cujo casamento 0 préprio Simonton fizera, pondo termo a uma vida irregular; Robert Duncan, escocés, batizado na infancia, e que vivera nos Estados Unidos, sempre envolvido em lides mercantis; Francisco José da Costa, portugués de 50 anos, que perdera sua fortuna... O primeiro brasileiro referido, que concluo ter sido © primeiro presbiteriano propriamente brasileiro, foi Serafim Pinto Ribeiro, que fez profissdo a 22 de junho de 1862. Dele diz o registro: “Tem 22 anos, carpinteiro e negociante, tem instrucdo rudimentar. E grave, diligente, sincero no temperamento e no comportamento. Por dezoito meses possuiu a Biblia, até certo ponto, com indiferenga ¢ oposic¢ao. Ha uns quatro meses, porém, conversando com o Sr. Bernardino, ¢ talvez alguns outros irmaos, sua mente se despertou a uma busca mais cuidadosa e mais honesta da verdade. Cedo se convenceu do erro de seu antigo credo, destruiu as imagens, atirando-as no canal. Comegou a freqiientar as reunides na casa do Sr. Bernardino, na Satide, e minhas pregacoes na rua Nova do Ouvidor. Seu exame foi muito satisfat6rio, mostrando apreensao correta da verdade, sincero amor para com 0 Salvador e clara mudanga de coragao. Pediu para ser batizado, dizendo que fora batizado na fé id6latra ¢ que desejava ser batizado na fé em Cristo.” Estava formada a primeira Igreja Presbiteriana do Brasil. Até hoje existente. E a Igreja do Rio. Ao seu redor, por todos os estados do Brasil, numerosas filhas estao espalhadas. jue de “O Puritano” pags.7,8, 9.

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