a infância, todos vivemos a experiência das famigeradas decla-
I\ I mações que tínhamos de decorar e recitar diante da turma inteira. I \l I Y Como é que já não nos lembramos disso, ao passo que ainda sabemos atabuadd'!como ajudar o seu filho a estudar as lições? como é que um estudante pode melhorar a sua memorização ao preparar-se para os exames? o que fazemos quando temos de fixar um novo número de telefone? Empregamos a mesma memória quando somos capazesde dizer como dar um nó na gravata ou quem é o atual presidente da República? Para fornecer elementos de resposta a estas diferentes perguntas, convém, num primeiro momento, definir o que é a memória antes de abordar e desenvolver os diferentes registos dela.
A MEMÓRIA E SEUS DIFERENTES REGISTOS
Na linguagem corrente, a memória é frequentemente associada a uma <<aprendizagem de cor), uma espécie de memorização literal de uma informação que é preciso fixar num determinado momento, com vista à sua eventual restituição posterior. Nem sequer será uma questão de reduzir a memória a uma mera aprend izagemde cor, a um simples registo passivo de informações que deverão ser restituídas num determinado momento. Quatro processos estão subjacentes ao trabalho da memória: aperce- ção,a codificação, o armazenamento e arecuperação. E decerto trivial sublinhar que a informação a memori zar deve ser previamente percebida por um ou outro sentido (em geral, visão ou audição). A informação assim captada é depois codificada (i.e., organizada), com vista ao seu armazenamento durante um período mais ou menos longo. A duração do armazenamento leva a distinguir a memória de curto prazo e a memó- ria de longo prazo. Enfim, a informação deve poder ser recuperada no momento pretendido. Se a sua recuperação se efetuar, em geral, numa fração de segundos, pode ser por vezes mais ou menos fácil (fenómeno da palavra na ponta da língua...). 122 A PSICOLOGIA
Embora as queixas das pessoas se reportem essencialmente às difi-
culdades de recuperação da informação, pode sublinhar-se, desdejá, que as dificuldades ligadas ao funcionamento da memória podem siiuar-se num destes níveis.
Os três registos mnemónicos
Importa falar em memória ou memórias? Logo em 196g, Richard c. Atkinson e Richard M. Shiffrin8s propuseram a distinção entre três registos mnemónicos: o registo de informação sensorial, a memória de curto prazo e a memória de longo prazo. uma metáfora frequentemente utilizadapara ilustrar essas noções é a analogia entre a memória e o funcionamento de um computador: a memória de longo prazo corresponderá ao disco duro do computador, enquanto a memória de curto prazo serâ a unidade central, a memória-tampão8e.
Registos Memória Memória
lnput sensoriais de curto prazo de longo prazo ambiental Memória de tra Registo da memória Visual temporária permanente Mecanismos Auditivo de controlo: estratégias TátiI Output
Os três registos da memóriaeo
O registo de informação sensoriul
o registo de informação sensorial corresponde à consciência figaz de informações captadas por uma das nossas modalidades sensoriais. Imaginemos que olhamos diretamente em frente e fechamos os olhos. constataremos então que a imagem assim captadapersiste durante alguns milésimos de segundo antes de desaparecer completamente. A manuten- ção da informação é não só breve (da ordem de alguns milissegundos), mas também está em bruto, ou seja, não foi tratadanem analisada. No 88 "Human memory: A proposed system and its control processes,,, in K. W. Spence and J. T. Spence (eds.), The psychology of Learning and Motivation: Advances in Research and Theory, vol. 2, pp. 89-195, Nova Iorque: Academic press ^^ Em informática, 8e [N.T.]. emprega-se o termo buffer (disposrtivo ou ërea uti]|,Lad,a para armazenar dados temporariamente) [N. T.]. e0 cf. Robert J. sternberg, Manuel cle psychologie cognitive. Du laboratoire à la vie quotidienne, trad. em francês de Alain Brossard, Bruxelas: De Boeck, 2007. A MEIUóRIA I23
entanto, só uma parte da informação será selecionada para uma codifi_
cação mais elaborada ao nível da memória de curto prazo.
Ds memória de curto prazo à memória de trahalho
- de armazena- - A memória de curto pr'Zo corresponde a um registo mento temporário da inforrnação cuja capacidade (denominada ((exten- são de memória>) é limitada. A capacidade da memória de curto prazo é classicamente avaliada com a ajuda de uma prova de extensão que consiste em apresentar (visual ou auditivamente) a um indivíduo uma lista de unidades não relacionadas (palavras, algarismos, imagens...) e pedir-lhe que recorde o máximo de unidades fixadas. O número médio de unidades que um adulto e capaz de recordar imediatamente após uma só apresentação e7Ì2. A constância deste resultado levou George Armitage Millerer a propor a famosa formulação <o número máryicol,+2>> como uma espécie de piscadela de olho às <<sete maravilhas do Mundo>>, aos <sete dias da semana)) e às <<sete notas musicais>>. O tamanho da extensão de memória aumenta com a idade (duas unidades aos 2-3 anos, cinco unidades aos 7 anos, sete unidades a partir dos 15-16 anos), mas igualmente em função do grau de familiaridade dos itens a memorizar. Ficou assim demonstrado que a extensão da memó- ria de crianças pequenas pode revelar-se superior à dos adultos se lhes pedirem que memorizem informações familiares (como, por exemplo, personagens de desenhos animados). É possível facilitar a lembrança, agrupando os itens (chunking). Será, assim mais fácil recordar-se por ordem e após uma única apresentação uma sequência de algarismos como 0695000398, organizando-a em cinco unidades, i.e., em 06.95.00.03.98. Outro facto classicamente observado concerne à influência da posi- ção das informações. Parece assim que as informações situadas tanto no início como no fim da lista são sistematicamente as mais recordadas por comparação com os itens colocados no meio. O efeito da posição dos itens na lista - classificado como efeito de primazia, por um lado, e efeito de recência, por outro - pode ser expli- cado por dois mecanismos: a interferência e/ou o estabelecimento de um contexto. Assim, o efeito deprimaziaexplica-se pelo facto de cada nova atividade se efetuar num novo contexto cujas primeiras experiências são particularmente distintivas. O efeito de recência explicar-se-á da mesma forma, pois as últimas informações são quase automaticamente distintivas. 9l "The Magical Number Seven, Plus or Minus Two: Some Limits on Our Capacity for Processing Information", Psychological Review,vol.63,n." 2, pp. 81-97, março de 1956 [N. T.]. t4EMóRIA 123 ^ entanto' só uma parte da informação será selecion adaparauma codifi- cação mais elaborada ao nível da memória de curto prazo.
Da memória de curto prazo à memória de trabalho
- A memória de curto prazo corresponde a um registo de armazena- mento temporário da informação cuja capacidade (denominada (exten_ são de memória>) é limitada. A capacidade da memória de curto prazo é classicamente avaliada com a ajuda de uma prova de extensão que consiste em apresentar (visual ou auditivamente) a um indivíduo uma lista de unidades não relacionadas (palavras, algarismos, imagens...) e pedir-lhe que recorde o máximo de unidades fixadas. o númà médio de unidades que um adulto e capaz de recordar imediatamente após uma só apresentação e 7+2. A constância deste resultado levou Geoige Armitage Millerer a propor a famosa formulação <<o número mâgico 7+2>> como uma espécie de piscadela de olho às <sete maravilhas do Mundo>, aos <<sete dias da semana)) e às <<sete notas musicais>>. o tamanho da extensão de memória aumenta com a idade (duas unidades aos 23 anos, cinco unidades aos 7 apos, sete unidades a partir dos l5-16 anos), mas iguarmente em função do grau de familiaridade dos itens a memorizar. Ficou assim demonstrado qu, u extensão da memó- ria de crianças pequenas pode revelar-se superior à dos adultos se lhes pedirem que memorizem informações familiares (como, por exemplo, personagens de desenhos animados). E possível facilitar a lembrança, agrupando os itens (chunking). serit assim mais fácil recordar-se por ordem e após uma úniàa apresãntação uma sequência de algarismos como 069500039g, organiiando-a em cinco unidades, i.e., em 06.95.00.03.9g. outro facto classicamente observado concerne à influência da posi- ção das informações. parece assim que as informações situadas tanto no início como no fim da lista são sistematicamente as mais recordadas por comparação com os itens colocados no meio. o efeito da posição dos itens na lista - classificado como efeito de primazia, por um lado, e efeito de recência, por outro _ pode ser expli_ cado por dois mecanismos: a interferência e/ou o estabelecimento de um contexto. Assim, o efeito de primaziaexplica-se pelo facto de cada nova atividade se efetuar num novo contexto cujas primeiras experiências são particularmente distintivas. o efeito de recência explicar-se-á da mesma forma, pois as últimas informações são quase automaticamente distintivas. 9l "The Magical Number Seven, plus or Minus Two: some Limits on our capacity for Processing Information", psychological Review,vol.63,n." 2,pp.g1_92,rnu.ço de 1956 [N. T.].