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CAPÍTULO VI

A Memória

a infância, todos vivemos a experiência das famigeradas decla-


I\ I mações que tínhamos de decorar e recitar diante da turma inteira.
I \l
I Y Como é que já não nos lembramos disso, ao passo que ainda
sabemos atabuadd'!como ajudar o seu filho a estudar as lições? como é
que um estudante pode melhorar a sua memorização ao preparar-se para
os exames? o que fazemos quando temos de fixar um novo número de
telefone? Empregamos a mesma memória quando somos capazesde dizer
como dar um nó na gravata ou quem é o atual presidente da República?
Para fornecer elementos de resposta a estas diferentes perguntas,
convém, num primeiro momento, definir o que é a memória antes de
abordar e desenvolver os diferentes registos dela.

A MEMÓRIA E SEUS DIFERENTES REGISTOS


Na linguagem corrente, a memória é frequentemente associada a uma
<<aprendizagem de cor), uma espécie de memorização literal de uma
informação que é preciso fixar num determinado momento, com vista
à sua eventual restituição posterior. Nem sequer será uma questão de
reduzir a memória a uma mera aprend izagemde cor, a um simples registo
passivo de informações que deverão ser restituídas num determinado
momento.
Quatro processos estão subjacentes ao trabalho da memória: aperce-
ção,a codificação, o armazenamento e arecuperação. E decerto trivial
sublinhar que a informação a memori zar deve ser previamente percebida
por um ou outro sentido (em geral, visão ou audição). A informação
assim captada é depois codificada (i.e., organizada), com vista ao seu
armazenamento durante um período mais ou menos longo. A duração do
armazenamento leva a distinguir a memória de curto prazo e a memó-
ria de longo prazo. Enfim, a informação deve poder ser recuperada no
momento pretendido. Se a sua recuperação se efetuar, em geral, numa
fração de segundos, pode ser por vezes mais ou menos fácil (fenómeno
da palavra na ponta da língua...).
122 A PSICOLOGIA

Embora as queixas das pessoas se reportem essencialmente às difi-


culdades de recuperação da informação, pode sublinhar-se, desdejá, que
as dificuldades ligadas ao funcionamento da memória podem siiuar-se
num destes níveis.

Os três registos mnemónicos


Importa falar em memória ou memórias? Logo em 196g, Richard c.
Atkinson e Richard M. Shiffrin8s propuseram a distinção entre três
registos mnemónicos: o registo de informação sensorial, a memória de
curto prazo e a memória de longo prazo.
uma metáfora frequentemente utilizadapara ilustrar essas noções é a
analogia entre a memória e o funcionamento de um computador: a memória
de longo prazo corresponderá ao disco duro do computador, enquanto
a memória de curto prazo serâ a unidade central, a memória-tampão8e.

Registos Memória Memória


lnput sensoriais de curto prazo de longo prazo
ambiental Memória de tra Registo da memória
Visual temporária permanente
Mecanismos
Auditivo de controlo:
estratégias
TátiI
Output

Os três registos da memóriaeo

O registo de informação sensoriul


o registo de informação sensorial corresponde à consciência figaz
de informações captadas por uma das nossas modalidades sensoriais.
Imaginemos que olhamos diretamente em frente e fechamos os olhos.
constataremos então que a imagem assim captadapersiste durante alguns
milésimos de segundo antes de desaparecer completamente. A manuten-
ção da informação é não só breve (da ordem de alguns milissegundos),
mas também está em bruto, ou seja, não foi tratadanem analisada. No
88 "Human memory: A proposed system and its control processes,,, in K. W. Spence
and J. T. Spence (eds.), The psychology of Learning and Motivation: Advances
in
Research and Theory, vol. 2, pp. 89-195, Nova Iorque: Academic press
^^ Em informática,
8e [N.T.].
emprega-se o termo buffer (disposrtivo ou ërea uti]|,Lad,a para
armazenar dados temporariamente) [N. T.].
e0 cf. Robert J. sternberg, Manuel cle psychologie cognitive. Du laboratoire à la vie
quotidienne, trad. em francês de Alain Brossard, Bruxelas: De Boeck, 2007.
A MEIUóRIA I23

entanto, só uma parte da informação será selecionada para uma codifi_


cação mais elaborada ao nível da memória de curto prazo.

Ds memória de curto prazo à memória de trahalho


- de armazena-
- A memória de curto pr'Zo corresponde a um registo
mento temporário da inforrnação cuja capacidade (denominada ((exten-
são de memória>) é limitada. A capacidade da memória de curto prazo
é classicamente avaliada com a ajuda de uma prova de extensão que
consiste em apresentar (visual ou auditivamente) a um indivíduo uma
lista de unidades não relacionadas (palavras, algarismos, imagens...) e
pedir-lhe que recorde o máximo de unidades fixadas. O número médio
de unidades que um adulto e capaz de recordar imediatamente após
uma só apresentação e7Ì2. A constância deste resultado levou George
Armitage Millerer a propor a famosa formulação <o número máryicol,+2>>
como uma espécie de piscadela de olho às <<sete maravilhas do Mundo>>,
aos <sete dias da semana)) e às <<sete notas musicais>>.
O tamanho da extensão de memória aumenta com a idade (duas
unidades aos 2-3 anos, cinco unidades aos 7 anos, sete unidades a partir
dos 15-16 anos), mas igualmente em função do grau de familiaridade dos
itens a memorizar. Ficou assim demonstrado que a extensão da memó-
ria de crianças pequenas pode revelar-se superior à dos adultos se lhes
pedirem que memorizem informações familiares (como, por exemplo,
personagens de desenhos animados).
É possível facilitar a lembrança, agrupando os itens (chunking). Será,
assim mais fácil recordar-se por ordem e após uma única apresentação
uma sequência de algarismos como 0695000398, organizando-a em
cinco unidades, i.e., em 06.95.00.03.98.
Outro facto classicamente observado concerne à influência da posi-
ção das informações. Parece assim que as informações situadas tanto
no início como no fim da lista são sistematicamente as mais recordadas
por comparação com os itens colocados no meio.
O efeito da posição dos itens na lista - classificado como efeito de
primazia, por um lado, e efeito de recência, por outro - pode ser expli-
cado por dois mecanismos: a interferência e/ou o estabelecimento de um
contexto. Assim, o efeito deprimaziaexplica-se pelo facto de cada nova
atividade se efetuar num novo contexto cujas primeiras experiências são
particularmente distintivas. O efeito de recência explicar-se-á da mesma
forma, pois as últimas informações são quase automaticamente distintivas.
9l
"The Magical Number Seven, Plus or Minus Two: Some Limits on Our Capacity
for Processing Information", Psychological Review,vol.63,n." 2, pp. 81-97, março
de 1956 [N. T.].
t4EMóRIA 123
^
entanto' só uma parte da informação será selecion adaparauma
codifi-
cação mais elaborada ao nível da memória de curto prazo.

Da memória de curto prazo à memória de trabalho


- A memória de curto prazo corresponde a um registo de armazena-
mento temporário da informação cuja capacidade (denominada (exten_
são de memória>) é limitada. A capacidade da memória
de curto prazo
é classicamente avaliada com a ajuda de uma prova
de extensão que
consiste em apresentar (visual ou auditivamente) a um
indivíduo uma
lista de unidades não relacionadas (palavras, algarismos,
imagens...) e
pedir-lhe que recorde o máximo de unidades fixadas.
o númà médio
de unidades que um adulto e capaz de recordar imediatamente
após
uma só apresentação e 7+2. A constância deste resultado
levou Geoige
Armitage Millerer a propor a famosa formulação <<o número
mâgico 7+2>>
como uma espécie de piscadela de olho às <sete maravilhas
do Mundo>,
aos <<sete dias da semana)) e às <<sete notas musicais>>.
o tamanho da extensão de memória aumenta com a idade (duas
unidades aos 23 anos, cinco unidades aos 7 apos, sete unidades
a partir
dos l5-16 anos), mas iguarmente em função do grau de familiaridade
dos
itens a memorizar. Ficou assim demonstrado qu, u extensão
da memó-
ria de crianças pequenas pode revelar-se superior à dos adultos
se lhes
pedirem que memorizem informações familiares (como, por
exemplo,
personagens de desenhos animados).
E possível facilitar a lembrança, agrupando os itens (chunking).
serit
assim mais fácil recordar-se por ordem e após uma úniàa
apresãntação
uma sequência de algarismos como 069500039g, organiiando-a
em
cinco unidades, i.e., em 06.95.00.03.9g.
outro facto classicamente observado concerne à influência da posi-
ção das informações. parece assim que as informações situadas tanto
no início como no fim da lista são sistematicamente as mais
recordadas
por comparação com os itens colocados no meio.
o efeito da posição dos itens na lista - classificado como efeito de
primazia, por um lado, e efeito de recência, por outro _ pode
ser expli_
cado por dois mecanismos: a interferência e/ou o estabelecimento
de um
contexto. Assim, o efeito de primaziaexplica-se pelo facto
de cada nova
atividade se efetuar num novo contexto cujas primeiras experiências
são
particularmente distintivas. o efeito de recência explicar-se-á
da mesma
forma, pois as últimas informações são quase automaticamente
distintivas.
9l
"The Magical Number Seven, plus or Minus Two: some Limits
on our capacity
for Processing Information", psychological Review,vol.63,n." 2,pp.g1_92,rnu.ço
de 1956 [N. T.].

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